LIÇÃO Nº 5 – A UNIDADE DA RAÇA HUMANA
A humanidade tem um só ancestral, somos todos irmãos.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo sobre o homem, veremos que a humanidade é única.
– A humanidade tem um só ancestral, somos todos irmãos.
I – A HUMANIDADE TEM APENAS UM ANCESTRAL
– Na sequência do estudo da doutrina bíblica do homem, analisaremos hoje a unidade da raça humana.
– Quando contemplamos os bilhões de seres humanos que habitam a face da Terra no presente momento ( a população estimada do mundo em abril de 2019 era de 7,7 bilhões de pessoas),
observamos que outros tantos bilhões já devem ter povoado a Terra desde a criação do homem e ao verificarmos que não há dois seres humanos iguais ou idênticos, como demonstram as técnicas de identificação, parece mesmo difícil entender que a humanidade tenha alguma unidade.
– Aliás, a tônica desses nossos tempos trabalhosos é a insistência exatamente no contrário.
Em vez de se falar em unidade da humanidade, há uma apologia da diversidade.
É costumeiro defender-se a “diversidade cultural”, a “diversidade sexual” e tantas outras coisas que fazem parecer que todos nós somos diferentes uns dos outros e que estas diferenças precisam ser realçadas, respeitadas e mantidas.
– Ao mesmo tempo, entretanto, há uma forte tendência no sentido da “uniformização” de técnicas, condutas e procedimentos, que têm a nítida finalidade de estabelecer um rígido controle sobre todos os homens, com a defesa de um “governo mundial” ou, pelo menos, de uma “estrutura global”.
É a defesa do “globalismo” que, em meio a este discurso das diferenças, quer impor um “modus vivendi” que, não sem razão,
procura aniquilar a diversidade de pensamento e a liberdade de expressão, tendo sido nítido este movimento, por exemplo, na verdadeira cruzada que se está a fazer para inibir a liberdade de expressão nas redes sociais.
– Tem-se, assim, um nítido movimento pendular entre a unidade e a diversidade, entre a igualdade e a diferença, criando paradoxos e dilemas que somente se podem bem esclarecer se bem entendermos o significado de unidade e diversidade entre os seres humanos,
o que somente é bem compreendido quando vamos à Bíblia Sagrada, onde Deus nos revela como fez a humanidade.
– Esta problemática há pouco anunciada, conquanto esteja se aguçando em nossos dias, em que a facilidade de comunicação faz com que se sintam e percebam estas diferenças e este “espírito de uniformização”, não é, entretanto, qualquer novidade,
sendo um dos temas com que se ocupa a mente humana desde os primórdios da história, até porque é propósito divino que o homem mesmo procure entender o que está à sua volta (Ec.1:13).
– Prova disso é que, levado ao Areópago, o local onde se reuniam os sábios da Grécia Antiga, em Atenas, Grécia que é o berço da filosofia, o apóstolo Paulo não deixou de cuidar desta questão,
fazendo todos aqueles filósofos saber que “de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar, ainda que não está longe de nós” (At.17:26,27).
– O apóstolo Paulo alude aqui à narrativa bíblica da criação, onde fica patente que o Senhor formou o primeiro homem do pó da terra, soprando em suas narinas e lhe dando fôlego de vida, fazendo-o alma vivente (Gn.2:7).
A origem do homem, portanto, deu-se a partir de um primeiro indivíduo, de onde vieram todos os outros, inclusive a mulher, que foi tirada da costela deste primeiro homem (Gn.2:21-23).
– Esta circunstância, de pronto, já anuncia que toda a humanidade se encontra unida, pois todos provêm de um só ancestral, Adão,
a nos indicar, portanto, que todos os seres humanos têm a mesma origem, estão unidos, não passam de proliferação de um mesmo espécime, espécime este cuidadosamente formado por Deus que, ao contrário das demais criaturas terrenas, fez questão de moldar este ser.
Bem afirma a parte final do item 2 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus quando diz que o Criador do Universo criou
“…de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo”.
– De um só fez Deus toda a geração dos homens, temos todos a mesma raiz, a mesma origem.
Tanto assim é que, para provar a humanidade de Jesus, as Escrituras demonstram esta ligação de Cristo com este ancestral, como vemos claramente na Sua genealogia de Lc.3:23-3.
– Por isso, não têm razão alguma aqueles que querem compatibilizar a teoria evolucionista com as Escrituras, como tem procurado fazer a Igreja Romana, com a assertiva de que houve, sim, uma evolução desde o “big bang” até o instante em que surgiu o primeiro espécime humano, este, sim,
que teria recebido sobrenaturalmente de Deus a sua parte imaterial, a sua alma (até porque os romanistas são dicotomistas, ou seja, creem que haja apenas corpo e alma) e, a partir daí, então, passado a existir o homem.
– Tal pensamento, entretanto, não se coaduna com o ensino da Bíblia Sagrada, que diz que “de um só fez a geração de todos os homens”.
Se a evolução se deu, como admitem os romanistas, como explicar a criação da mulher?
Teria o homem sido fruto de uma evolução e a mulher, de um ato sobrenatural?
Onde estaria a igualdade essencial de ambos, que é demonstrada claramente nas Escrituras?
– Somos todos fruto de um só espécime, que foi sobrenatural e imediatamente criado por Deus, a mostrar, pois, que nenhum homem é melhor do que outro, têm todos a mesma origem, a mesma estrutura, o mesmo papel.
– Todos nós somos, portanto, efeito desta multiplicação determinada pelo próprio Deus ao primeiro casal, casal este que resultou de uma clonagem feita por Deus do primeiro homem.
As Escrituras são claras ao afirmar que a mulher provém do varão (I Co.11:8) e que, depois de Adão, todos os varões provêm de mulher (I Co.11:12), inclusive o próprio Jesus (Gl.4:4), que, por ter sido gerado por obra e graça do Espírito Santo, é chamado de “último Adão” (I Co.15:45).
– Para que não se tenha uma visão de que tal entendimento seria “religioso”, “fanático”, ou algo similar, é oportuno aqui demonstrar que a própria ciência já constatou que toda a humanidade está unida geneticamente:
“Estudo liderado pelos pesquisadores Mark Stoeckle e David Thaler, da Universidade de Basel, na Suíça, sugere que todos os humanos modernos são descendentes de um casal que viveu entre 100 mil e 200 mil anos atrás.
Os cientistas utilizaram no estudo o DNA mitocondrial de 5 milhões de animais de mais de 100 mil espécies, incluindo humanos.
O DNA mitocondrial é passado de geração em geração da mãe para seus descendentes.
Por isso, foi possível encontrar semelhanças genéticas e levantar a hipótese de que existiu um casal que originou todas as pessoas.
A análise desse código genético sugere que 9 em cada 10 espécies têm como origem apenas um par de indivíduos.
No caso dos humanos, os dois indivíduos ancestrais teriam sobrevivido a uma catástrofe natural que quase dizimou a vida na Terra.
A pesquisa conclui que 90% das espécies surgiram na mesma época, há 250 mil anos, e coloca em dúvida os padrões da evolução humana.
“Os humanos colocam tanta ênfase nas diferenças individuais e de grupo, que talvez devêssemos passar mais tempo em perceber como nos parecemos um com o outro e com o resto do reino animal”, disse Mark Stoeckle ao site britânico Daily Mail.…”
(MARQUES, Pablo. Todos os seres humanos descendem de um único casal, sugere estudo. Disponível em: https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/todos-os-sereshumanos-descendem-de-um-unico-casal-sugere-estudo-11122018 Acesso em 13 nov. 2019).
– Assim, a própria ciência, ainda que insista em dizer que não crê na “história de Adão e Eva” (como é o caso dos cientistas que apresentaram o estudo mencionado, segundo a própria matéria faz questão de ressaltar),
não tem como fugir à realidade dos fatos e, por isso, temos que a humanidade forma uma unidade do ponto-de-vista genético.
II – A HUMANIDADE TEM UMA MESMA NATUREZA
– Se somos geneticamente unidos, porque temos um mesmo ancestral, é evidente que também temos uma mesma natureza, já que viemos todos de Adão.
A estrutura tricotômica estabelecida por /Deus a Adão foi transmitida a todos os seres humanos, sem qualquer distinção, já que temos todos a mesma origem.
A própria Eva é descrita por Adão como “osso dos seus ossos, carne de sua carne”, daí porque ter sido chamada “varoa”, “porque do varão foi tomado” (Gn.2:23).
– Também não é por outro motivo que, tendo Adão caído, todos os seus descendentes tenham sido gerados à sua imagem e semelhança (Gn.5:3), sendo interessante que tal circunstância tenha sido explicitada quando se fala da geração de Sete,
o filho que Deus deu em lugar do justo Abel (Gn.4:25), Sete que, igualmente, mostrou ser um homem justo, já que foi o primeiro a invocar o nome do Senhor, fazendo-o depois que teve seu filho Enos (Gn.4:26).
– As Escrituras, ao indicar que Sete era “imagem e semelhança de Adão”, mostra-nos, com absoluta clareza, que toda a humanidade tinha a mesma natureza, natureza esta que, lamentavelmente,
era a natureza pecaminosa, a natureza decaída, que fazia com que houvesse uma inimizade entre o homem e o seu Criador.
– O texto sagrado, assim, mostra que não só Caim, o primeiro homicida, o homem que saiu da presença do Senhor, era decaído,
mas também Sete que, embora tenha iniciado a invocação do nome do Senhor e feito surgir uma linhagem piedosa, era tão pecador quanto Caim, pois ambos descendiam de Adão.
– Esta verdade bíblica está muito bem enunciada no item 5 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, que diz que cremos “na pecaminosidade do homem,
que o destituiu da glória de Deus e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo podem restaurá-lo a Deus (Rm.3:23; At.3:19)”.
– O apóstolo Paulo fala desta realidade ao afirmar que por um homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram (Rm.5:12).
– Davi também teve a revelação desta triste realidade, que também aponta a unidade da humanidade, ao dizer que em iniquidade ele foi formado e em pecado lhe concebeu sua mãe (Sl.51:5),
circunstância que não tem relação alguma, como alguns andam dizendo por aí, com eventual relacionamento adulterino que teria dado origem a Davi,
mas que reflete a própria realidade de toda a raça humana, qual seja, a de que somos gerados com a natureza pecaminosa que herdamos de nossos primeiros pais.
– A humanidade tem uma mesma natureza e, por causa disto, está toda ela irremediavelmente perdida, porquanto, diante da entrada do pecado na raça humana, está toda a geração de homens condenada à perdição, porque não tem como se livrar do pecado que a domina.
– Esta unidade da humanidade explica porque não havia como o homem salvar-se a si mesmo e como foi absolutamente necessário que Deus Se fizesse homem a fim de poder trazer ao homem a libertação do pecado.
– Também se compreende porque tem tido o inimigo de nossas almas o cuidado de tentar criar ideias que busquem negar esta unidade da humanidade, gerando crenças, doutrinas e teorias que procuram convencer as pessoas de que os homens têm diferentes origens,
que não há uma unidade, pois, assim pensando, terá o homem maiores dificuldades de reconhecer a pecaminosidade de toda a raça humana e a necessidade de uma salvação que venha da parte de Deus e, com isto,
entender corretamente que o único e suficiente Salvador é Deus feito homem, ou seja, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Esta mesma natureza de todos os homens, ainda que claramente anunciada nas Escrituras Sagradas, e desde o Antigo Testamento, foi obnubilada, como já se disse, por crenças e doutrinas que buscavam negar esta unidade e trazer diferença de natureza entre os seres humanos.
– Assim, por exemplo, Aristóteles chegou a defender ideias como as de que a alma do escravo era diferente da alma do senhor,
ou mesmo que as mulheres nem sequer alma tinham, para não falar na própria doutrina hinduísta que relaciona a casta a que pertence a pessoa a sua suposta evolução espiritual.
– Nem mesmo os judeus escaparam desta armadilha. Com efeito, o povo de Israel achava-se privilegiado em relação às demais nações por serem filhos de Abraão, conceito que foi duramente combatido seja por João Batista, seja pelo próprio Jesus (Mt.3:9; Jo.8:37-40).
– Em tempos mais recentes, não foram poucos os que, supostamente baseados em dados cientificamente obtidos, defenderam a superioridade de raças ou nacionalidades sobre outras, como se deu seja no nazismo, que cria na superioridade da “raça ariana”, seja no “apartheid”, que,
implantado durante décadas na África do Sul e no Zimbabwe (quando ainda se chamava Rodésia), cria na superioridade da raça branca e, com relação a este último,
querendo apresentar justificativas bíblicas que não têm qualquer fundamento, procurando extrair da maldição a Canaã (Gn.9:25,26) base bíblica para tal ideologia racista.
– O racismo é um comportamento completamente vedado pelas Escrituras.
Quando vamos ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, encontramos as seguintes definições de “racismo”:
“conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias;
doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras;
preconceito extremo contra indivíduos pertencentes a grupos ou etnias diferentes, geralmente consideradas inferiores cf. discriminação social e, por analogia, atitude de hostilidade em relação a determinada categoria de pessoas”.
– Todos estes conceitos de racismo mostram que a doutrina bíblica é antirracista, não admitindo, em absoluto, um comportamento deste jaez.
Por primeiro, por terem todos os seres humanos a mesma origem, a mesma ancestralidade, não há como defender que haja “hierarquia entre as raças, entre as etnias”.
Todos são pecadores, todos foram destituídos da glória de Deus (Rm.3:23).
– Alguém poderia objetar esta afirmação, dizendo que Deus escolheu Israel para ser a “Sua propriedade peculiar dentre todos os povos” (Ex.19:5) e de que a Igreja é “geração eleita, sacerdócio real, nação santa” (I Pe.2:9) e que, portanto, haveria, sim, uma “hierarquia” entre os seres humanos, por causa de etnia (caso de Israel) ou condição espiritual (Igreja).
– No entanto, quando o Senhor escolheu Israel para ser a “Sua propriedade peculiar dentre todos os povos”, fê-lo porque todas as demais nações O haviam rejeitado no episódio da torre de Babel,
haviam se rebelado contra Ele (Gn.11:1-6) e o Senhor precisou, então, formar uma nova nação (Gn.12:1,2) para que, através dela, pudesse salvar a todos os homens.
– Israel foi escolhido não por ser “melhor”, mas para ser o “reino sacerdotal e povo santo” (Ex.19:6), para interceder a favor das demais nações e levá-las até Deus.
E, como Deus escolhe as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são (I Co.1:28), formou uma nação, que era a menor e menos poderosa de todas (Dt.1:10; 4:38; 7:7; 9:1; 10:22; 11:23), para tal mister.
– Tanto assim é que o Senhor determinou aos israelitas que sempre tratassem os estrangeiros com respeito e consideração, porque eles haviam sido estrangeiros na terra do Egito (Ex.12:49; 20:10; 23:9; Lv.19:10,33; 23:22; 24:22; Nm.15:15,29; Dt.10:18), até porque,
no instante mesmo em que Deus propôs que Israel fosse Sua propriedade peculiar dentre todos os povos, fez questão de dizer que a toda a terra era Sua (Ex.19:5).
– Com relação à Igreja, a sua própria composição mostra que não há qualquer racismo.
Nos céus, para onde irá este povo adquirido pelo preço do sangue do Cordeiro, será encontrado um povo de toda tribo, língua, povo e nação (Ap.5:9),
a retratar que a Igreja nada mais é que a própria demonstração desta unidade da humanidade e de como Deus ama a todos os seres humanos igualmente, sem qualquer distinção.
– A segunda definição de racismo fala que é racismo toda doutrina ou sistema político que defenda a ideia de que uma raça tem o direito de dominar as demais,
doutrina ou sistema político que, necessariamente, será antibíblico, já que a Bíblia diz exatamente o contrário, ou seja, de que todos os homens são pecadores e foram destituídos da glória de Deus, independentemente da raça que pertençam, não havendo aqui direito algum de uma raça sobre a outra.
– A maldição de Canaã, feita por Noé, segundo a qual os descendentes deste seu neto, filho de Cam, que havia desonrado o seu pai (Gn.10:20-26), em hipótese alguma justifica uma “superioridade da raça branca”, como defenderam alguns que elaboraram a doutrina do “apartheid”, que vigorou durante algumas décadas na África do Sul e no Zimbabwe.
– Por primeiro, cumpre observar que se tratou de uma atitude de Noé que o texto bíblico não diz ter sido movida por Deus, mas pelo próprio patriarca.
Por segundo, é uma consequência da própria embriaguez do patriarca, sendo mais uma lição sobre os males do uso da bebida alcoólica do que ensinamento sobre raças.
– Não bastasse isso, o fato é que se teve aqui apenas uma antecipação, quiçá profética, da submissão dos cananeus a Israel, por causa da vida devassa que passaram a ter ao longo das gerações, seguindo o mau exemplo de seu pai Cam.
Israel recebeu a terra de Canaã por herança e a incumbência de destruir os habitantes primitivos, todos descendentes de Canaã, não porque fosse um povo “superior” (e vejam que os israelitas nem sequer eram os “brancos europeus” da doutrina do “apartiheid”…),
mas porque, como propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos, deveriam ser instrumentos para a execução do juízo divino sobre aqueles povos iníquos e pecadores (Gn.15:16; Dt.7:1-11).
– Tanto assim é que o próprio Deus fez questão de deixar claro a Israel que, se eles fossem infiéis como haviam sido os cananeus, teriam, também, o mesmo triste destino (Dt.28:15-68),
o que efetivamente ocorreu, seja nos cativeiros logo após o fracasso da monarquia, seja após a rejeição de Jesus, gerando a diáspora que somente haveria de iniciar seu término com o restabelecimento do Estado de Israel em 1948.
– O terceiro conceito de racismo é o do preconceito extremo contra grupos ou etnias diferentes, geralmente consideradas inferiores, como era o caso que havia entre judeus e samaritanos (Jo.4:9), como também entre judeus e gentios.
A conduta de Jesus em relação a isto já nos mostra como tal comportamento também não tem o menor cabimento entre os que cristãos se dizem ser.
– Jesus jamais foi preconceituoso, tendo se dirigido a todos quantos os costumes e tradições faziam com que fossem excluídos e marginalizados na sociedade judaica, que, por ser guiada pela lei de Moisés, era a que possuía o menor grau de preconceito entre todos os povos antigos. Jesus jamais excluiu alguém por conta da sua etnia, ou do seu sexo, ou ainda, por causa de sua condição social. Assim devemos nos portar, nós que nos dizemos Seus discípulos.
– Como diz o apóstolo João, Jesus é a propiciação pelos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2), tendo mandado que o Evangelho fosse pregado por todo o mundo a toda a criatura (Mc.16:15)
e que devemos ser Suas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra (At.1:8).
III – A ORIGEM E A NATUREZA DA DIVERSIDADE EXISTENTE NA HUMANIDADE
– Verificado que a humanidade é uma unidade, tanto do ponto-de-vista genético quanto do próprio ponto-devista espiritual, como explicar, então, a diversidade existente e como nos comportar diante dela?
– Desde quando o homem foi criado, foi determinado a ele que enchesse a Terra (Gn.1:28), o que se daria mediante a multiplicação. Tal ordem foi repetida após o dilúvio para Noé e sua família (Gn.9:1).
– A família de Noé começou a cumprir esta ordem divina, multiplicando-se, mas já na terceira geração, resolveram descumprir a ordem de encher a terra, capitaneados por Ninrode, neto de Noé, que se fez líder deles,
negando-se a sair da terra de Sinar e querendo ali construir uma torre, como símbolo de sua decisão e como verdadeira afronta ao Senhor (Gn.11:1-4).
– Em virtude desta rebeldia generalizada e total, já que ninguém se dispôs a cumprir a ordem divina, o Senhor confundiu as línguas de todos, obrigando-os a se espalhar pela face da Terra, já que, sem comunicação, é impossível a comunhão (Gn.11:7-9).
– Ora, em virtude do próprio dilúvio, houve uma mudança climática importante na face da Terra, passando a haver as estações do ano e os diferentes climas (Gn.8:22).
Assim, ao haver o espalhamento dos homens sobre a face da Terra, com o seu consequente povoamento, os seres humanos, que passaram a ter línguas diferentes, também vieram a ter maneiras de viver diferenciadas, tendo de se adaptar às diferentes regiões em que passaram a habitar.
– Assim, surgiram as diversas nações, ou seja, conjuntos de pessoas que ocupando um determinado território, ou não, têm a mesma origem, língua, religião ou raça, ou seja, possuem os mesmos costumes, a mesma cultura, entendida cultura como o modo de viver estabelecido por este mesmo agrupamento humano.
– Verificamos, portanto, que a diversidade existente entre as nações, que podemos denominar de diversidade cultural, é fruto de uma ação divina de confusão das línguas,
que obrigou os homens a se espalhar pela face da Terra e, diante de tal espalhamento e havendo a necessidade de adaptação a diferentes climas, lugares, vegetação, relevo e outros fatores naturais, deu origem a diversas culturas, a diversas maneiras de viver.
– Observemos que, caso os homens não tivessem desobedecido a Deus e resolvido encher a Terra, mesmo assim, ainda que a língua permanecesse a mesma, haveria diferenças culturais,
diante da diversidade geográfica e natural já apontada e que era decorrência das mudanças advindas com o dilúvio.
– Portanto, esta diversidade em nada altera a unidade da humanidade. Bem pelo contrário, é ela uma demonstração de que ela resulta de uma ação divina sobre toda a humanidade, a comunidade pós-diluviana que resolveu se rebelar contra o Senhor, contra o seu Criador, que,
desta maneira, aplicou um juízo a todos indistintamente, a reforçar que, para Deus, todos os homens representam uma unidade.
– A diversidade cultural não é obstáculo algum à manifestação do amor de Deus.
É dito que Deus amou o mundo, ou seja, a todos, e, por este amor, mandou o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo.3:16).
– Mesmo nas profecias messiânicas que, a princípio, poderiam alguns imaginar que se destinavam apenas a Israel, é prometida a salvação a todas as nações.
Assim, por exemplo, em Is.49:1-7, o chamado “segundo cântico do Servo Sofredor”, o Messias é apresentado como Aquele que deveria ser ouvido pelas “ilhas” e pelos “povos de longe” e Aquele que, em virtude até da rejeição de Israel, daria luz para os gentios, levando a salvação até a extremidade da Terra.
– O apóstolo Paulo, ao escrever a carta aos romanos, que é um verdadeiro tratado sobre a salvação, escrita para uma igreja que era composta tanto de judeus quanto de gentios,
faz questão de afirmar que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiramente do judeu, mas também depois do gentio (Rm.1:16), mostrando que o amor de Deus supera a diversidade cultural.
– A resistência cultural é sempre um grande obstáculo à pregação do Evangelho e isto deve ser levado em conta pelos evangelizadores.
Verdade é que trataremos disto numa lição futura, mas, desde já, é importante levarmos em consideração que há uma unidade na humanidade e, portanto, não podem estas divisões causadas pela própria história humana serem empecilhos para que se obtenha a salvação das almas.
– Não nos esqueçamos de que os cristãos que, entendendo isto, passaram a pregar o Evangelho aos gentios, num instante em que ele só era pregado aos judeus, tiveram a bênção e a ajuda divinas para tal desiderato (At.11:19-21), t
endo os apóstolos tido a compreensão desta realidade e mandado para Antioquia Barnabé, que era um judeu de Chipre e, portanto, alguém que tinha tanto o conhecimento da cultura judaica (pois era levita – At.4:36), quanto da cultura grega, sensibilidade que o próprio Barnabé teve ao chamar para o discipulado daquela gente Paulo, que também era um judeu conhecedor da cultura grega, já que era natural de Tarso (At.22:3).
– Além da diversidade cultural, existe, na humanidade, uma diversidade de sexo, vez que, já na criação, Deus fez macho e fêmea (Gn.1:27),
sendo certo de que, com o pecado, passou a existir uma relação assimétrica entre homens e mulheres, com o domínio do homem sobre a mulher (Gn.3:16).
– Este domínio do homem sobre a mulher não é resultado da natureza, pois homem e mulher são iguais diante de Deus, mas consequência de ter sido a mulher o veículo pelo qual o pecado acabou ingressando no mundo, tendo ela levado o homem a pecar com ela.
– Esta situação de injustiça é, portanto, sequela do pecado e, como tal, não gera qualquer direito de dominação, sendo um fato que o Senhor relata e anuncia e que teria de ser visto como uma prova da pecaminosidade humana e da necessidade da salvação.
– Assim, ao mesmo tempo em que a mulher é inferiorizada socialmente por causa do pecado, tanto ela quanto o homem são alvo do amor divino, recebendo ambos túnicas para se vestirem (Gn.3:21),
como o Senhor indicando que a mulher também seria o veículo pelo qual viria a salvação, já que o Salvador é apontado como “semente da mulher” (Gn.3:15).
– Deus, assim, não faz qualquer diferenciação entre homem e mulher, tendo a todos em igual consideração, pois, como diz as Escrituras, “nem o varão é sem a mulher, nem a mulher, sem o varão, no Senhor” (I Co.11:11).
– O Evangelho, uma vez mais, não faz qualquer diferenciação, tendo o Senhor Jesus tratado as mulheres dignamente, sem qualquer preconceito, o que causou até espécie entre Seus discípulos, como, por exemplo, no episódio da mulher samaritana (Jo.4:27), sendo certo que,
desde o ministério público do Senhor e, ao longo de toda a história da Igreja, foi sempre marcante a presença feminina entre os cristãos (Lc.8:1-3; Rm.16:1,3,6,12,13,15), como, aliás,
apresenta um importante estudo sobre o crescimento do Cristianismo feito pelo sociólogo norte-americano Rodney William Stark (1934- ).
A questão relativa à sexualidade humana será, porém, tratada em lição específica, detendo-nos aqui apenas no aspecto que não há discriminação sexual para o Senhor.
– Outra diversidade criada na humanidade diz respeito à posição social.
Não há sociedade onde não haja ricos e pobres, governantes e governados, integrados e marginalizados e tal distinção leva a situações de flagrante injustiça, até porque é esta mais uma das consequências da entrada do pecado no mundo.
– Tal diversidade perdurará durante toda a história humana, pois o próprio Senhor Jesus disse que sempre haverá pobres (Jo.12:8),
mas isto também não permite entender que não haja unidade na humanidade, como alguns que procuram ver nesta distinção uma própria diferença de essência, pois, como já dito supra,
houve tentativas de justificativa da existência de senhores e escravos mediante a explicação de que haveria almas diferentes de um e de outro.
OBS: Eis o que diz Aristóteles, em seu livro Política:
“…Mas faz a natureza ou não de um homem um escravo? É justa e útil a escravidão ou é contra a natureza? É isto que devemos examinar agora.
(…) Assim, em toda parte onde se observa a mesma distância que há entre a alma e o corpo, entre o homem e o animal, existem as mesmas relações; isto é,
todos os que não têm nada melhor para nos oferecer do que o uso de seus corpos e de seus membros são condenados pela natureza à escravidão.
Para eles, é melhor servirem do que serem entregues a si mesmos. Numa palavra, é naturalmente escravo aquele que tem tão pouca alma e poucos meios que resolve depender de outrem.
Tais são os que só têm instinto, vale dizer, que percebem muito bem a razão nos outros, mas que não fazem por si mesmos uso dela.
Toda a diferença entre eles e os animais é que estes não participam de modo algum da razão, nem mesmo têm o sentimento dela e só obedecem a suas sensações.
Ademais, o uso dos escravos e dos animais é mais ou menos o mesmo e tiram-se deles os mesmos serviços para as necessidades da vida.
A natureza, por assim dizer, imprimiu a liberdade e a servidão até nos hábitos corporais.
Vemos corpos robustos talhados especialmente para carregar fardos e outros usos igualmente necessários; outros, pelo contrário, mais disciplinados,
mas também mais esguios e incapazes de tais trabalhos, são bons apenas para a vida política, isto é, para os exercícios da paz e da guerra.
Ocorre muitas vezes, porém, o contrário: brutos têm a forma exterior da liberdade e outros, sem aparentar, só têm a alma de livre.
Limitando-nos aos aspectos materiais, como no caso das estátuas dos deuses, não hesitamos em acreditar que os indivíduos inferiores devem ser submissos.
Se isto é verdade quando se trata do corpo, por mais forte razão devemos di-lo da alma; mas a beleza de um não é tão fácil de discernir quanto a da outra.
Não pretendemos agora estabelecer nada além de que, pelas leis da natureza, há homens feitos para a liberdade e outros para a servidão, os quais, tanto por justiça quanto por interesse, convém que sirvam.
No entanto, é fácil ver que a opinião contrária não seria inteiramente desprovida de razão.…” (Livro I, pp.14/16).
– Outros, como os hindus, defendem que a posição social reflete um estágio de evolução espiritual, tanto que a sociedade indiana é, até hoje, regida pelas castas, ou seja,
grupos estanques, que não permitem qualquer mobilidade, pois se acredita que alguém, ao nascer numa determinada casta, ali está por ser este o seu atual estágio espiritual, o que será somente alterado na próxima “reencarnação”.
– Nada disso, porém, é o que ensina a Bíblia Sagrada, ao mostrar que, embora seja necessário o princípio da autoridade e a existência de um governo, nenhum homem, seja escravo, seja livre, seja governante, seja governado, tem uma estrutura ou um valor diferente diante de Deus.
Prova disso é que, quando da redenção por Cristo, todos são “irmãos” (Lc.22:32; Jo.21:23; At.1:6) , porque todos se constituem em “filhos de Deus” e buscam ser “conformes à imagem do Filho” (Rm.8:29).
– Tanto assim é que, na Igreja, este povo constituído pelos que foram libertos do pecado, a unidade é realçada, pois, como diz o apóstolo Paulo, quando nos despimos do velho homem, com os seus feitos,
e nos vestimos do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem d’Aquele que o criou, não há grego, judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre, mas Cristo é tudo em todos (Cl.3:9-11).
– Vê-se, pois, com grande preocupação o comportamento de alguns que fazem diferenciação das pessoas por causa de sua posição social ou por causa de sua situação econômico-financeira, o que foi duramente repreendido pelo irmão do Senhor e pastor da igreja em Jerusalém, Tiago (Tg.2:1-9).
– Temos aqui, aliás, neste ensino de Tiago, uma importantíssima lição de qual deve ser a nossa conduta ante a diversidade existente na humanidade, mas diante da realidade da unidade da raça humana.
Devemos respeitar as diferenças, entendê-las, mas jamais, por causa delas, agir com acepção, ou seja, agir com parcialidade, com preconceito, ou seja, ter um determinado comportamento única e exclusivamente porque tal pessoa é deste ou daquele jeito.
– Não podemos negar que há diferenças entre as pessoas, pois não há duas pessoas idênticas ou iguais entre si.
Assim, não se podem fazer generalizações ou se criar estereótipos, ou seja, conceitos previamente determinados a respeito de um determinado grupo.
Isto seria julgar segundo a aparência e não segundo a reta justiça, o que foi explicitamente vedado por Nosso Senhor e Salvador (Jo.7:24).
– Temos de reconhecer a individualidade de cada pessoa, suas peculiaridades e, à luz da sã doutrina, efetuar o devido julgamento, quando necessário e cabível.
Isto não deixa de ser discriminação, que nada mais é que “faculdade de discriminar, distinguir, discernimento; ação ou efeito de separar, segregar, pôr à parte”.
– Assim, é evidente que devemos tratar cada pessoa segundo a sua condição, as suas características, as suas propriedades.
Todos são diferentes entre si e o tratamento a ser dado a alguém deve levar em conta a sua individualidade. Isto é o que se denomina de “discriminação justa”.
– Coisa diversa, porém, é, com base em estereótipos, ideias preconcebidas, tratar alguém de modo injusto, por conta da sua condição.
Temos aqui a chamada “discriminação injusta”, que é a acepção tratada por Tiago, um comportamento que é diametralmente oposto ao Deus, que as Escrituras não cansam de dizer que jamais faz acepção de pessoas (Dt.10:17; II Cr.19:7; At.10:34; Rm.2:11; Ef.6:9; I Pe.1:17).
– Todos os homens são irmãos, todos têm a dignidade de “imagem e semelhança de Deus” e como tal devem ser tratados, com amor, consideração e respeito.
As diferenças existem e devem ser levadas em conta e jamais poderemos menosprezar, desprezar ou atingir a dignidade de alguém por conta de sua condição.
– Assim, nosso critério de julgamento nunca deve ser a pessoa ou a sua condição, mas, sim, a sua conduta à luz da verdade, que é a Palavra de Deus (Jo.17:17).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4884-licao-5-a-unidade-da-raca-humana-i