LIÇÃO Nº 5 – APOSTASIA, FIDELIDADE E DILIGÊNCIA NO MINISTÉRIO
O salvo em Cristo Jesus deve estar atento à realidade da apostasia dos últimos dias e permanecer fiel e diligente no seu serviço ao Senhor.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo, analisaremos o seu quarto capítulo.
– O salvo em Cristo Jesus deve estar atento à realidade da apostasia dos últimos dias e permanecer fiel e diligente no seu serviço ao Senhor.
I – A APOSTASIA
– A palavra “apostasia” é grega, composta de “apo”, preposição que dá a ideia de deslocamento de um ponto de partida, de afastamento e “stasis”, que significa “posição”. Assim, “apostasia” é o deslocamento de uma posição, a saída de um lugar, o distanciamento de um local.
No Novo Testamento, encontramos esta palavra em At.21:21, em II Ts.2:3 e o verbo a ela correspondente em Hb.3:12. Na versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta), encontramos esta palavra em Js.22:22 e II Cr.29:19. Na Versão Almeida Revista e Corrigida e na Edição Contemporânea de Almeida, a palavra “apostasia” é encontrada em três versículos (Jr.8:5, Ez.23:21 e II Ts.2:3).
– A.S. Wood, um dos colaboradores do Novo Dicionário da Bíblia de J.D. Douglas, afirmou que “…no grego clássico, o vocábulo grego apostasia é um termo técnico para revolta ou defecção política…” (Apostasia. In: op.cit., v.1, p.95), enquanto que, para os judeus, diz-nos Nathan Ausubel, a apostasia era tida “…como o mais grave de todos os pecados que o judeu ameaçado podia cometer…”, motivo pelo qual “…embora já fosse terrível como instrumento de excomunhão entre os judeus, nos dias dos Minim (as seitas heréticas da Judéia que provavelmente incluíam os primeiros cristãos), o cherem [a excomunhão, observação nossa] cresceu em severidade e em frequência de aplicação na Idade Média, quando a perseguição aos judeus e os esforços para convertê-los ao cristianismo tornaram-se mais intensos. O menor desvio das idéias tradicionais ou das práticas era imediatamente considerado pelos líderes religiosos e comunais como passível de levar à apostasia…” (AUSUBEL, Nathan. Excomunhão. In: JUDAICA, v.5, p.282).
– Percebemos, portanto, que a apostasia está relacionada com uma atitude de mudança de comportamento, de afastamento de valores supremos, de crenças fundamentais que uma pessoa possuía e que a fazia viver numa determinada comunidade.
Trata-se de uma considerável modificação de suas crenças e de seus princípios, uma alteração profunda no seu interior, em que a pessoa deixa as coisas mais caras e preciosas que tinha no seu universo de crenças, sentimentos e valores, para rejeitar tudo aquilo de forma voluntária e consciente.
Assim, para os gregos, quando alguém se revoltava contra o governo de sua cidade, quando abandonava o grupo político a que pertencia, tinha-se a apostasia. Para os judeus, quando a pessoa abandonava a Torá, deixava de servir ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, também praticava apostasia.
– Ora, este gesto da apostasia representa, entre os cristãos, igualmente, a rejeição voluntária e deliberada da fé em Jesus Cristo. A apostasia é, como afirma a Bíblia de Estudo Pentecostal, a “…decaída, deserção, rebelião, abandono, retirada ou afastar-se daquilo a que antes se estava ligado. Apostatar significa cortar o relacionamento salvífico com Cristo, ou apartar-se da união vital com Ele e da verdadeira fé n’Ele(…).
Sendo assim, a apostasia individual é possível somente para quem já experimentou a salvação, a regeneração e a renovação pelo Espírito Santo (cf. Lc.8.13; Hb.6:4,5); não é a simples negação das doutrinas do NT pelos inconversos dentro da igreja visível.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. A apostasia pessoal (estudo doutrinário), p.1903).
É “…o abandono deliberado da crença na fé cristã(…) por alguém que dizia seguir essa fé…”(R.N. CHAMPLIN. Apostasia. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.237), ), “…o abandono total da fé ou da religião de uma pessoa; abandono do credo e renúncia das obrigações religiosas…” (Lewis Sperry CHAFER. Teologia sistemática. t.4, v.7, p.27).
OBS: O Código de Direito Canônico da Igreja Romana define, no seu cânon 751 o que vem a ser apostasia, diferenciando-a da heresia e do cisma, definições que, por seu caráter apropriado, merecem ser aqui reproduzidas: “ Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou de comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.”
No mesmo sentido, o Corão, livro sagrado dos muçulmanos, afirma que “…Haverá alguém mais iníquo do que quem desmente e desdenha os versículos de Deus? Infligiremos o pior castigo àqueles que desdenharem os Nossos versículos, bem como àqueles que se tiverem afastado deles.…” (6:157), demonstrando, assim, que o apóstata é aquele que se afasta deliberadamente da crença anteriormente assumida.
– Deste modo, pelo que podemos verificar, a apostasia é um fenômeno que atinge apenas os crentes sinceros e autênticos, ou seja, para que haja apostasia, é preciso que alguém que tenha alcançado a salvação, rejeite deliberada e voluntariamente a fé em Jesus Cristo a partir de um determinado instante de sua vida espiritual.
Quando se fala em apostasia, portanto, não se está a falar de pessoas que nunca creram em Jesus, ainda que tenham “nome” de cristãos, mas de pessoas que, tendo crido em Jesus sinceramente e tenham aceitado a Jesus como seu Senhor e Salvador, passam a se distanciar paulatinamente do Caminho e, num determinado momento, de modo voluntário, consciente e deliberado, abandonam o “caminho estreito”, renegam o seu Senhor e passam a viver totalmente separados de Cristo.
– A apostasia é a rejeição de Jesus por quem uma vez já alcançou a salvação por intermédio dEle. É o gesto de um salvo que, por diversas razões (e nós analisaremos as principais neste estudo), abandona Jesus em troca de coisas de somenos importância, deixando-se iludir pela sua própria concupiscência.
Esta concupiscência faz nascer no crente apóstata um coração de incredulidade e infiel, que o faz se apartar do Deus vivo (cfr. Hb.3:12). São pessoas que endureceram os seus corações para Deus pelo engano do pecado (Hb.3:13).
– Esta triste e lamentável realidade é apontada como uma das características que seriam vividas nos últimos tempos. No final da dispensação da graça, perto do arrebatamento da Igreja e da manifestação do Anticristo, haverá a apostasia. Paulo, ao escrever a segunda carta aos tessalonicenses, fala disto, ao dizer que Jesus não virá antes que ocorra a apostasia (II Ts.2:3).
A apostasia dos últimos tempos é um sinal do término da nossa dispensação, é um prenúncio da volta de Cristo. Por isso, quando verificamos a situação de apostasia que grassa sobre a Igreja nos nossos dias, não devemos nos assustar, “…porque é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo…” (Lc.21:9b).
– É exatamente esta a realidade que o Espírito Santo revelou a Paulo e que o apóstolo dá a conhecer a seu filho na fé Timóteo. Depois de ter falado a respeito dos requisitos para a separação de obreiros e de ter lembrado que a Igreja tem como cabeça a Cristo Jesus, o apóstolo revela a Timóteo que, nos últimos tempos, alguns apostatariam da fé.
– De pronto, vemos que a expressão do apóstolo mostra claramente que ele era guiado pelo Espírito Santo. O Espírito Santo revela as coisas futuras para que os salvos não sejam confundidos com os acontecimentos. Como afirma Tomás de Aquino: “…prediz o Espírito Santo algo futuro: porque a Ele pertence revelar os mistérios.
‘…[Ele] anunciará o que há de vir’ (Jo.16:13). Assim pois o Espírito prenuncia as coisas futuras que estavam secretas no coração do Pai.…” (Comentários da Primeira Carta de Paulo a Timóteo. Leitura 1 – I Tm.4:1-5. Cit. de I Tm.4:1-5. N.12. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Após ter mencionado o “mistério da piedade”, que é o próprio Cristo, Paulo, como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry, fala do“…mistério da iniquidade resumido: O Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé; quer ele se refira ao Espírito do Antigo Testamento, ou ao Espírito nos profetas do Novo Testamento, ou a ambos.
As profecias referentes ao anticristo, bem como as profecias referentes a Cristo, vieram do Espírito. O Espírito nos dois falou expressamente de uma apostasia geral da fé em Cristo e da adoração pura em Deus.
Isso deveria ocorrer nos últimos tempos, durante a dispensação cristã, porque esses são chamados de últimos dias; nas épocas seguintes da Igreja, porque o mistério da iniquidade agora começou a agir.…” (Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.693) (destaques originais).
– A revelação do Espírito Santo ao apóstolo Paulo é a de que, nos últimos tempos, haveria a apostasia, ou seja, alguns salvos em Cristo Jesus abandonariam a fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, a doutrinas de demônios.
– Estes “espíritos enganadores” de que fala o apóstolo não são demônios que se encontram em locais onde o diabo é adorado ou onde haja invocação de espíritos malignos. Não, não e não! Estes “espíritos enganadores” manifestam-se entre os próprios cristãos, pois só nas igrejas locais é que existem verdadeiros servos de Cristo que poderão apostatar da fé.
Aqueles que invocam demônios não podem apostatar da fé simplesmente porque nunca tiveram fé, são incrédulos. Desta maneira, portanto, vemos que os espíritos enganadores atuam entre os servos de Cristo, procurando fazê-los abandonar a fé.
– Vemos a grande importância que tem o trabalho dos pastores em impedir que se ensine outra doutrina, a própria razão de ser da missão de Timóteo na igreja de Éfeso. Os pastores, ao impedir os falsos ensinos, cerceia a ação destes “espíritos enganadores” que levarão falsos mestres a ensinar “doutrinas de demônios”, que resultará na apostasia de alguns cristãos.
– Vivemos estes “últimos tempos” previstos pelo Espírito Santo ao apóstolo Paulo, pois estes “últimos tempos” nada mais são que os dias finais da dispensação da graça, os dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja.
– Neste tempo em que vivemos, “espíritos enganadores” estão agindo como nunca, usando de falsos mestres para que ensinem “doutrinas de demônios”, levando muitos a se afastarem da fé. Paulo já dissera a Timóteo a respeito do “mistério da piedade”, a respeito de Cristo Jesus, que é quem devemos anunciar nas igrejas locais.
Tudo quanto se desvie da pregação do Evangelho, da pregação de Cristo e Este crucificado (I Co.2:2), nada mais é do que “doutrina de demônios”, que tem por objetivo simplesmente fazer com as que as ovelhas de Cristo saiam do caminho que conduz à salvação e passem a trilhar novamente o caminho largo e espaçoso que conduz à perdição (Mt.7:13,14).
– Não nos iludamos. Os “espíritos enganadores” estão atuando no meio das igrejas locais, utilizando-se de pessoas que têm aparência de cristãos, embora não o sejam, pois, como nos ensina o Senhor Jesus, os falsos profetas vêm até nós vestidos como ovelhas mas, interiormente, são lobos devoradores (Mt.7:15).
– William Hendriksen afirma que “…tais doutrinas são [incorporadas] em [as] declarações hipócritas (literalmente, com hipocrisia) de quem fala mentiras.
Assim como Satanás fez uso de uma serpente para enganar Eva, e isso por meio de uma declaração hipócrita (Gn.3:1-5; estava escondendo seu verdadeiro objetivo; porquanto pretendia levar Eva a um nível superior de glória, para que pudesse ser ‘como Deus’, seu verdadeiro propósito era destronar Deus e tomar ele mesmo o trono para si), assim esses espíritos sedutores ou demônios fazem uso de homens que falam mentiras, e que falam piedosa e fluentemente com o fim de esconder sua própria arrogância e imoralidade.…” (Comentário I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p. 183) (destaques originais).
– Vemos, portanto, que tais “doutrinas de demônios” podem ser identificadas por aqueles que são homens espirituais (pois estes, tendo a mente de Cristo, tudo discernem — I Co.2:14-16), mediante o confronto de seus ensinos com a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17).
Somente a verdade pode desmascarar a mentira e, portanto, é imperioso que haja prioridade ao ensino da sã doutrina nas igrejas locais para que os falsos mestres sejam descobertos e reprovados, impedindo-se, deste modo, que a apostasia grasse em cada igreja local.
– Os agentes dos “espíritos enganadores” são hipócritas, ou seja, aparentam ser o que não são, pois, como já dissemos supra, são lobos devoradores no interior e ovelhas no exterior, pessoas que não têm qualquer temor de Deus, pois suas consciências estão cauterizadas, ou seja, vivem em tal nível de engano que não mais ouvem a voz de Deus que foi posta no interior de cada pessoa.
– Por isso, é imperioso que não nos deixemos levar pela aparência, mas devemos julgar segundo a reta justiça, ou seja, segundo a Palavra de Deus (Jo.7:24). Em nossos dias, onde a mídia exerce grande influência, somos levados a crer naquilo que vemos e ouvimos, sem que procedamos a uma investigação.
Não podemos dizer que este ou aquele é um homem de Deus sem que convivemos com ele, pois, se apenas nos deixarmos levar pelo que aparece, poderemos estar sendo influenciados por um falso mestre, por um agente de um “espírito enganador”.
Uma das características do verdadeiro e genuíno servo de Deus é a de ser um investigador, a de ser um pesquisador, alguém que procurará sempre saber a origem e a vida de quem prega a Palavra de Deus (Sl.10:4).
– Além de investigar a própria vida daquele que está a pregar e ensinar a Palavra de Deus, o verdadeiro e genuíno servo de Deus fará um confronto entre o que é ensinado e a Bíblia Sagrada, agindo como os judeus de Bereia, num comportamento que as próprias Escrituras dizem ser excelente (At.17:11).
– Paulo, em sua orientação a Timóteo, traz algumas dicas a respeito de tais “doutrinas de demônios”, características que não são exaustivas, mas exemplificativas, ou seja, o apóstolo dá exemplos de falsos ensinos, que não esgotam as hipóteses que poderiam surgir nos últimos tempos.
– O primeiro ensino falso que o apóstolo menciona é o que proíbe o casamento e que ordena a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças.
– Estes falsos ensinos mencionados por Paulo são os que procuram criar restrições e proibições que não foram, em absoluto, estabelecidas na Palavra de Deus. São ensinos que procuram fazer com as que as pessoas sejam “mais santas” do que o patamar de santidade estatuído pelo Senhor. São ensinos que querem que os homens sejam “mais realistas do que o rei”.
– Hendriksen bem afirma que tais ensinos partem de um falso pressuposto, a saber: “…Tudo que é físico ou sensual contamina.” (op.cit., p.184). Tem-se aqui a ideia de que o corpo e o físico é algo mau, doutrina esta que nada tem que ver com a Bíblia Sagrada, porquanto o corpo foi criado por Deus, assim como todo o mundo material, de sorte que não tem cabimento achar-se que isto seja um mal, já que tudo o que Deus fez foi muito bom (Gn.1:31).
– É sempre uma doutrina de demônio o ensino que proíbe fazer aquilo que Deus não proibiu, que procura privar alguém daquilo que Deus criou para que desfrutemos.
Neste sentido, qualquer doutrina que proíba alguém de se casar, por ver no relacionamento conjugal um “pecado”, é, nitidamente, uma doutrina demoníaca, um falso ensino, que serve tão somente para afastar alguém da fé em Cristo. Não raras vezes, aliás, estas “privações”, este “excesso de santidade” acaba redundando na mais completa perversão, pois este é mesmo o objetivo do maligno.
– Como diz o apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios, todas as coisas são lícitas aos servos de Cristo Jesus, desde que nenhuma destas coisas possa dominá-lo (I Co.6:12), de modo que querer proibir aquilo que o próprio Deus criou para deleite dos homens é uma doutrina de demônio cujo único objetivo é afastar o cristão da sua fé.
– Aquilo que Deus criou para os homens para seu desfrute e deleite deve ser aproveitado pelos homens, que, entretanto, devem fazê-lo com ações de graças, ou seja, todo o desfrute deve ser feito de modo a que, através da sua utilização, estejamos sendo gratos a Deus. Tudo deve ser feito para glória e honra ao nome do Senhor. Sempre que desfrutarmos daquilo que Deus nos propicia de modo a que este desfrute seja um louvor a Deus, estaremos legitimamente usando daquilo que Deus nos proporcionou. Temos agido assim?
– E como fazer uso legítimo daquilo que Deus nos deixa à disposição? Paulo nos diz claramente: pela Palavra de Deus e pela oração.
Toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Se vivemos em santidade, e os principais meios de santificação são a Palavra de Deus e a oração, tudo que fizermos será para glória e honra ao nome do Senhor. Santifiquemo-nos e tudo quanto fizermos nesta peregrinação terrena será uma ação de graças a Deus e, vivendo assim, jamais cairemos nas armadilhas dos falsos mestres e não apostataremos da fé.
II – A FIDELIDADE E DILIGÊNCIA NO MINISTÉRIO
– Depois de ter trazido a revelação do Espírito Santo a respeito da apostasia dos últimos tempos, Paulo diz a Timóteo que ele seria um bom ministro de Cristo se propusesse aquelas coisas aos irmãos, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tinha seguido.
– Que coisas seriam aquelas? “…O dever de Timóteo é advertir os irmãos do perigo por vir. Ele deve realçar qual será o produto de determinados erros que em sua forma inicial ainda agora estavam se manifestando, mas que, quanto a seu desenvolvimento, ainda pertenciam ao futuro.
Ele deve deixar bem evidente para os líderes e para o povo de Éfeso e suas adjacências o que Espírito revelara claramente quanto à natureza e falsidade que se aproximava e quanto à forma de combatê-la.(…) Timóteo deve submeter essas coisas aos irmãos, ou seja, deve colocar um sólido fundamento sob seus pés.…” (HENDRIKSEN, Wiiliam, op.cit., p. 187) (destaques originais).
– É absolutamente indispensável que os ministros, para serem bons ministros de Jesus Cristo, devem sempre advertir os membros da igreja local a respeito dos perigos dos falsos ensinos, do perigo da apostasia. Devem ensinar a verdadeira doutrina, não podem descuidar do ensino da Palavra de Deus, agindo profilaticamente para impedir que a apostasia tenha espaço e lugar na porção do rebanho do Senhor que está sob seus cuidados.
– Lamentavelmente, nos dias em que vivemos, muitos não podem ser considerados “bons ministros de Jesus Cristo”, porque negligenciam o ensino da Palavra de Deus, permitindo que os cultos sejam ocupados com tudo menos a genuína pregação do Evangelho, sendo que muitos nem sequer frequentam as Escolas Bíblicas Dominicais, dando um exemplo de menosprezo pelo aprendizado das Escrituras que é, então, seguido por muitos.
– Paulo volta a dizer a Timóteo que ele poderia ensinar a sã doutrina porque ele próprio havia sido “criado com as palavras da fé e de boa doutrina que tens seguido” (I Tm.4:6).
Não há como ensinar o que não se aprendeu e daí vermos a importância do requisito de ser “apto para ensinar” para que alguém seja separado ao ministério.
Ninguém poderá ser um bom ministro de Jesus Cristo se não tiver tido um amadurecimento espiritual através do aprendizado das Escrituras Sagradas, aprendizado que não deve ser entendido apenas no sentido intelectual, mas, sim, um aprendizado comprovado por uma vida que seja verdadeiramente pautada pela obediência à Palavra de Deus. Timóteo não só fora criado, mas seguia a sã doutrina!
– “…Observe: 1. Os próprios ministros têm necessidade de crescer no conhecimento de Cristo e na sua doutrina: eles precisam ser criados com as palavras da fé. 2. A melhor maneira para os ministros crescerem no conhecimento e na fé é despertar nos irmãos a lembrança; enquanto ensinamos aos outros, ensinamos a nós mesmos. 3.
As pessoas que os ministros ensinam são irmãos e devem ser tratados como tais. Porque os ministros não são senhores da herança de Deus.…” (HENRY. Matthew. op.cit, p. 695).
“…Se ele [Timóteo, observação nossa] quiser continuar sendo um ministro qualificado de Jesus Cristo, então deve ser constantemente nutrido por (ou ‘em’) este tipo de alimento. Um ministro que negligencia o estudo de sua Bíblia, e a doutrina baseada nela, atrofia seus poderes pelo desuso.…” (HENDRIKSEN, William, op.cit., p.188) (destaque original).
“…E é bom ministro aquele que segue a intenção do seu Senhor…” (AQUINO, Tomás de. Comentário à Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo. Trad. castelhana do texto latino por J.I.M. Cit. I Tm.4:6-11, n. 13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Para ser um bom ministro de Jesus Cristo, ensina o apóstolo dos gentios, é preciso “rejeitar as fábulas profanas e de velhas”, bem como “exercitar-se a si mesmo em piedade”. Mais uma vez, Paulo manda que Timóteo, ele mesmo, não aceite as fábulas, as invencionices que estavam sendo pregadas por alguns em Éfeso.
O bom ministro não só ensina, mas, antes de ensinar, deve fazer o que irá ensinar, seguindo, assim, o próprio Mestre (Mt.23:8), que, antes de ensinar, fez aquilo que ensinou (At.1:1).
– Não basta que o ministro pregue aos crentes na igreja local que não se pode dar ouvidos a ensinos que estão “além do que está escrito” (I Co.4:6), mas é necessário que ele próprio não viva de acordo com ensinos e preceitos que não se encontram nas Escrituras Sagradas. Ele de ver o exemplo dos fiéis (I Tm.4:12), jamais acolhendo em sua vida qualquer doutrina ou ensinamento que não tenha base bíblica.
– Causa espécie para alguns a expressão “de velhas” de que trata o apóstolo. Segundo Hendriksen, estes falsos ensinos “…não passam de sandice e pertencem à categoria de superstições disparatadas que velhas senis costumam esforçar-se por imprimir em seus vizinhos ou em seus netos.…” (op.cit., p.189).
– Mas, além de rejeitar as fábulas, o bom ministro de Cristo Jesus deve, também, exercitar-se a si mesmo em piedade, ou seja, ele precisa ter ele próprio uma vida piedosa, ser um “cristão prático” e não teórico.
Precisa ser alguém que não só se alimenta da Palavra de Deus, mas que também tenha vida de oração e de jejum, que busque a presença de Deus e seja um veículo de manifestação do poder de Deus, através da realização de sinais, prodígios e maravilhas, através da recepção de dons espirituais.
– Não é por outro motivo que o ministro tem de ser alguém que tenha sido revestido de poder, como bem exigem as denominações pentecostais. O ministro tem de ser alguém que se exercite em piedade, que seja alguém que viva na prática o Evangelho, não um intelectual, alguém que tenha domínio teórico da Palavra de Deus tão somente.
– É evidente que o ministro de Jesus Cristo tem de ter conhecimento das Escrituras Sagradas, tenha o devido preparo intelectual para poder ensinar os membros da igreja local, mas só isto não basta.
Ele próprio precisa ter uma vida piedosa, ele próprio precisa ser alguém que busca incessante conhecer as Escrituras e o poder de Deus e, quando dizemos aqui conhecer, não é no sentido grego do termo, ou seja, de domínio intelectual, mas no sentido hebraico de envolvimento e intimidade.
O bom ministro de Jesus Cristo tem uma vida de intimidade com o Senhor. Paulo podia exigir isto de Timóteo, porque ele era um homem extremamente piedoso, que tinha grande intimidade com o Senhor, a ponto de, algumas linhas antes, ter revelado a seu filho na fé uma revelação clara que o Espírito Santo lhe tinha dado.
– É lamentável observarmos, em nossos dias, que muitos queiram ser considerados bons ministros de Jesus Cristo pela posição eclesiástica que ocupam, pela bajulação das lideranças, pelo número de construções que efetuou, pela arrecadação financeira que conseguem nas igrejas locais onde são responsáveis, pelos movimentos que provocam entre a membresia.
Um bom ministro de Jesus Cristo é reconhecido pela vida piedosa que leva, pela intimidade que tem com o seu Senhor. Lembremo-nos sempre disto, amados irmãos!
– Paulo, então, diz a Timóteo que ele deveria buscar, com prioridade, o exercício da piedade, pois isto é absolutamente necessário para que alguém seja um bom ministro de Jesus Cristo. Não deve o ministro se ater às coisas materiais, não deve se preocupar demasiadamente com as coisas passageiras deste mundo. O apóstolo diz que “o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir” (I Tm.4:8).
– Muitos se utilizam deste texto para atacar aqueles que se preocupam com a saúde física, fazendo exercícios, indo a academias, praticando esportes. Trata-se, evidentemente, de uma aberração hermenêutica. Não é à toa, aliás, que os pastores sejam hoje uma das classes que mais sofrem de enfermidades cardíacas e outras decorrentes do sedentarismo…
– É evidente, máxime nos dias em que vivemos em que as comodidades tecnológicas têm levado a um preocupante sedentarismo, que devamos praticar exercícios físicos que são indispensáveis para uma boa saúde física. Nosso corpo precisa se exercitar e sem tal exercício teremos sérios problemas de saúde e um ministro de Cristo Jesus doente e enfermo jamais poderá cumprir a contento as tarefas que lhe são cometidas pelo Senhor.
– O que Paulo está a dizer a Timóteo aqui, que tinha pai grego (At.16:1) e que, naturalmente, fora criado numa cultura que privilegiava o físico e o corporal, haja vista os atletas que disputavam os Jogos Olímpicos, é que a prioridade na vida não deve ser a busca de uma glória terrena (como obtinham os vencedores das Olimpíadas), em a busca de um corpo perfeito, mas, sim, o que importava era a busca das coisas divinas, que são eternas, valendo tanto para a vida presente quanto para a vida futura.
OBS: “…Exercita-te a ti mesmo em piedade, isto é, dedique-se à religião prática. Esses que desejam ser piedosos precisam exercitar-se na piedade. Ela requer constante exercício. O motivo é tirado do ganho da piedade; o exercício corporal para pouco aproveita, ou por pouco tempo.
A abstinência de carnes e do casamento, e coisas semelhantes, embora entendidas como ato de mortificação e abnegação, na verdade traz pouco proveito. Que proveito teremos se mortificarmos o corpo e não mortificarmos o pecado?…( HENRY, Matthew. op.cit., p. 695).
– Não são poucas as igrejas locais, na atualidade, que estão a privilegiar o efêmero, o terreno, aquilo que é passageiro, que é próprio deste mundo.
Os esforços de muitas igrejas locais, hoje em dia, estão voltados para momentos de confraternização, para o entretenimento, para a emoção, para o divertimento, enquanto que as coisas eternas, a busca do reino de Deus e de sua justiça, a busca do poder de Deus tem sido deixada para um segundo plano.
Como se não bastasse isso, as falsas teologias que hoje têm ocupado os púlpitos, em sua esmagadora maioria, pregam um Evangelho do imediato, do bem-estar nesta vida, pouco se preocupando com a cidade celestial que nos aguarda, com a eternidade. Lembremos das palavras de Paulo: “o exercício corporal para pouco aproveita”!
– Paulo diz que trabalhava e lutava para que as igrejas locais procurassem ter uma vida piedosa, que tivessem esperança no Deus vivo, que é o salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis (I Tm.4:10).
Já aos filipenses, Paulo tinha dito que o alvo de sua vida era o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, a cidade que está nos céus, donde esperava o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o Seu corpo glorioso (Fp.3:14-21).
– O bom ministro de Jesus Cristo indica à membresia da igreja local a eternidade, o verdadeiro alvo do cristão que é o céu. O bom ministro de Jesus jamais pode negligenciar em dar prioridade às “coisas de cima” (Cl.3:1), lembrando sempre aos crentes que eles ressuscitaram com Cristo e, por isso, estão mortos para este mundo, vivendo para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm.6:11).
– O bom ministro de Jesus Cristo deve sempre dizer à membresia da igreja local que o primordial é a salvação e, por isso, a igreja local deve pregar o Evangelho para ganhar almas para o reino de Deus e deve se santificar para conservar esta salvação até o dia da glorificação.
O bom ministro de Jesus Cristo jamais deve se esquecer de alertar a porção do rebanho do Senhor que está sob sua responsabilidade que devemos vigiar para não entrar em tentação e, assim, estar preparados para o arrebatamento da Igreja. Jesus está às portas e isto tem de ser sempre lembrado pelo bom ministro de Jesus Cristo.
– Um dos sinais da apostasia espiritual que vivemos em nossos dias é, precisamente, o desaparecimento de tais mensagens em nossos púlpitos.
Muitos de prega sobre a vida terrena, sobre bênçãos terrenas, muito se incentiva e se estimula a que se tenha bem-estar neste mundo, pouco se falando sobre salvação, sobre arrependimento de pecados, sobre santificação e, menos ainda, sobre a iminência do arrebatamento da Igreja.
Um bom ministro de Jesus Cristo não age desta maneira, mas, ao revés, deixa em segundo plano as coisas desta vida, para falar daquilo que realmente importa para nossa vida espiritual.
– “…A piedade é a virtude pela qual com a pátria e os pais exercitamos o ofício da benevolência, como a religião, pela qual damos a Deus o culto devido. Pois a piedade diz certa inclinação por afeto a seu princípio; e princípio da geração é o pai e a pátria.
Por isso é necessário que o homem para com eles seja benévolo. E Pai de todos é Deus. ‘…e se Eu sou Pai, onde está minha honra?…’ (Ml.1:6).
Por isso o nome de piedade derivou-se ao culto a Deus, como diz Agostinho. Donde ‘eussbeia’ é o mesmo que piedade.’Olha, a verdadeira sabedoria consiste na piedade’ (Jó 28:28). Quanto à piedade terrena pertencem a piedade que o homem seja benévolo com seus compatriotas; mas, quanto à piedade cristã é mister que o homem o seja com todos, porque todos somos da mesma pátria.
Por isso, a piedade se toma pela misericórdia. Assim, pois, quando se diz: ‘dá-te ao exercício da piedade’ pode entender-se que se refere ao culto a Deus e à prática das obras de misericórdia, A Glosa diz: á piedade, isto é, ao culto ao Deus Todo-Poderoso e às obras de misericórdia.
E diz: exercita-te, não faça, porque exercício diz presteza, e isto precisamente porque o que se exercita não faz com mais ligeireza, deleite e estabilidade. ‘Cultiva com esmero teu campo’ (Pv.24:27).… (AQUINO, Tomás de. op.cit.. Cit. I Tm.4:6-11, n.13, Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Para que tivesse bom êxito em sua missão, Timóteo, apesar de sua pouca idade, deveria ser o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé e na pureza.
Timóteo deveria demonstrar, por seu testemunho diante dos membros da igreja local, a sua maturidade espiritual que sua mocidade não revelava.
OBS: “…a doutrina da piedade consiste em duas coisas, a saber: o que se há de fazer e crer. Quanto ao primeiro, se se tem autoridade, não só se deve instruir, mas também mandar. Por isso, diz; ‘manda estas coisas’. ‘Repreende com toda a autoridade’ (Tt.2:15).
Quanto à segunda, diz: e ensina-as.’ Ensinai todas as nações’…” (AQUINO, Tomás de. op.cit. Cit. I Tm.4:12-16, n.14. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Temos aqui um precioso ensinamento: não é pela idade cronológica que podemos dizer se alguém pode, ou não, liderar uma igreja local.
Nos dias hodiernos, vemos dois grandes extremos no meio do povo de Deus: uns privilegiam os idosos, os mais velhos, impedindo que os jovens assumam posições no ministério, tolhendo os mais jovens; outros, no afã de se sintonizarem com a sociedade, deixam de lado os mais velhos, privilegiando os jovens, pondo-os em posições de destaque no ministério.
– Em ambos os casos, há um profundo equívoco por parte das lideranças. O apóstolo diz a Timóteo que, embora fosse ele jovem em idade, tinha ele a devida maturidade espiritual. O critério a ser utilizado, portanto, não é o critério cronológico, a idade de alguém, mas, sim, a maturidade espiritual.
Não se deve privilegiar nem velhos, nem jovens na obra de Deus, mas, sim, deve-se dar lugar àqueles que são espiritualmente maduros, que têm condições de ensinar a sã doutrina, porque não só a conhecem, mas a vivem no dia-a-dia de suas vidas.
– Por isso, Timóteo deveria demonstrar esta maturidade espiritual, manifestando uma vida espiritual exemplar diante dos crentes de Éfeso, pois, assim, suplantaria todo o preconceito existente em virtude da sua pouca idade, da sua mocidade.
– Por primeiro, Timóteo deveria ser exemplo dos fiéis na palavra. Aqui Paulo está a se referir a respeito da linguagem, do falar. O ministro deve ter um falar puro, um falar moderado, deve ser alguém cuja língua é completamente dominada pelo Espírito Santo.
Como é triste vermos, em nossos dias, ministros que não só utilizam linguagem chula e vulgar, como também são murmuradores, fofoqueiros e anda a falar mal das pessoas. Que Deus nos guarde de obreiros assim!
– Por segundo, Timóteo deveria ser exemplo dos fiéis no trato. Aqui Paulo está a se referir a respeito do tratamento das pessoas, da maneira como se tratavam as mais diferentes pessoas que compunham a membresia da igreja local. O ministro deve ser alguém que saiba tratar bem as pessoas, que seja educado e sociável.
É absolutamente inadmissível que tenhamos obreiros que não cumprimentam as pessoas, que procuram se distanciar delas, principalmente as mais humildes e que não lhes podem oferecer qualquer vantagem material.
O ministro de Cristo Jesus deve agir como agia o seu Senhor que, em Sua peregrinação terrena, sempre estava tratando bem principalmente os necessitados, os excluídos da sociedade. Seus próprio inimigos atestavam que Ele Se fazia acompanhar deste tipo de gente (Mt.9:10-13), sendo repreendidos pelo Senhor que disse que são os doentes que precisam de médicos e não os sãos.
O ministro de Cristo Jesus deve saber tratar bem as pessoas, notadamente aquelas que são consideradas indignas pela sociedade.
– Por terceiro, Timóteo deveria ser exemplo dos fiéis na caridade, ou seja, no amor, entendido aquilo como o amor divino. Como ninguém, o ministro de Cristo Jesus deve ser alguém que revele a todos que o amor de Deus está derramado em seu coração pelo Espírito Santo (Rm.5:5).
O ministro deve mostrar, em sua conduta, que ele tem amor a Deus, sendo obediente à Palavra, como também que tem amor ao próximo, fazendo sempre bem a todos os homens, procurando, sempre, o bem-estar de todos. Amor, lembremos, não é apenas um sentimento, mas, sobretudo, um comportamento, uma conduta.
– Por quarto, Timóteo deveria ser exemplo dos fiéis no espírito, ou seja, na inclinação espiritual, na adoração espiritual. O ministro de Jesus Cristo deve ser uma referência para a vida espiritual da membresia da igreja local.
Deve mostrar-se um homem espiritual, que sabe bem discernir as coisas do Espírito, que seja alguém devotado à oração, à meditação nas Escrituras, à reverência com as coisas de Deus, alguém que possua ou busque incessantemente os dons espirituais.
Não é por outro motivo que o ministro deve ser alguém que tenha sido batizado com o Espírito Santo, que é o primeiro degrau desta intimidade espiritual com o Senhor depois da salvação.
– Por quinto, Timóteo deveria ser exemplo dos fiéis na fé, ou seja, nesse dom de Deus que nos vem por intermédio da Palavra de Deus (Rm.10:17).
O ministro de Cristo Jesus é o primeiro que tem de mostrar, na igreja local, ter fé em Deus, confiar n’Ele. Ele deve estimular a fé nos membros e, para isto, ele próprio precisar viver a vida que vive na fé do Filho de Deus (Gl.2:20). Dizia o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012) que o obreiro tem de ser “um leão no púlpito”, alguém que demonstre aos seus ouvintes alguém que confia em Deus e não se deixa abalar pelas adversidades da vida.
– Por sexto, Timóteo deveria ser exemplo dos fiéis na pureza, ou seja, deve ser uma referência na santificação. O ministro de Cristo Jesus deve ser alguém que se desvia do mal, que foge da aparência do mal, que se esforça, como ninguém, para ter uma vida de santificação, de separação do pecado.
O ministro, aliás, por estar em posição de eminência no meio do povo de Deus, deve ter um cuidado redobrado para não causar escândalos, para não ser motivo de tropeço dos demais irmãos.
– Timóteo deveria, ademais, persistir em ler, exortar e ensinar até que Paulo fosse, o que significava que Timóteo deveria persistir em ler, exortar e ensinar ininterruptamente, já que Paulo nunca mais iria a Éfeso (At.20:25).
O obreiro nunca deve parar de estudar as Escrituras como também ler outros livros até o final de seu ministério, servindo o próprio apóstolo de exemplo (II Tm.4:13). Somente adquirindo conhecimentos é que pode o ministro de Jesus Cristo exortar e ensinar os fiéis.
– Este é um dado particularmente preocupante no Brasil, que, segundo estudos realizados na Universidade de São Paulo, é o único país do mundo onde o índice de analfabetismo funcional aumentou, nas últimas décadas, entre os evangélicos.
Não é de se surpreender que isto esteja a ocorrer, já que, segundo o professor Olavo de Carvalho, no Brasil, “…cinquenta por cento dos formandos das universidades são comprovadamente analfabetos funcionais…” (O comunismo dos imbecis. Disponível em http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15830-o-comunismo-dos-imbecis.html Acesso em 18 maio 2015), sendo resultado do projeto anticristão de poder que nos governa desde 2003, mas que desde a década de 1960 se instalava em nosso sistema educacional para destruí-lo e fazer valer a mais plena e completa ignorância.
– Esta mentalidade antiestudo tem influenciado tragicamente as igrejas locais e os ministros não persistem em ler, não se debruçam sobre as Escrituras Sagradas e outros livros, a fim de poderem eficaz e eficientemente ensinarem os membros das igrejas locais.
Há, hoje, infelizmente, um anti-intelectualismo notadamente entre os pentecostais, que deve ser combatido, pois este é um ardil de Satanás para poder introduzir, como tem introduzido, seus espírito enganadores com suas doutrinas de demônios que têm levado muitos à apostasia espiritual.
– Paulo é claríssimo a Timóteo: persiste em ler, exortar e ensinar. Sem que se leia, não se poderá exortar nem tampouco ensinar os crentes. É indispensável que deixemos os rudimentos e nos aprofundemos na Palavra de Deus!
– Timóteo, sendo persistente em ler, exortar e ensinar, não menosprezaria nem desprezaria a chamada divina. Observemos, amados irmãos, que Timóteo não era ministro porque havia estudado, porque havia feito um curso de teologia, frequentado um seminário teológico.
Não, não e não! Timóteo era ministro porque fora chamado por Deus para esta obra e isto havia sido revelado por profecia e, em cumprimento à vontade de Deus, fora aquela jovem separado para o ministério pela imposição das mãos do presbitério.
– No entanto, a chamada, embora seja indispensável, não era suficiente. Timóteo tinha de honrar esta chamada por Deus com o devido preparo, um preparo tanto teórico, quanto prático.
Deveria ser exemplo dos fiéis, como também deveria ser um incansável estudante das Escrituras. Só assim ele poderia ensinar tanto nas suas preleções, como através de sua conduta, de seu comportamento.
O ministro de Jesus Cristo é alguém equilibrado, que tanto se esmera na leitura e na apreensão intelectual, como também vive aquilo que aprende intelectualmente, sendo uma referência a seguir.
– Paulo podia falar isto a Timóteo, pois ele era um erudito nas Escrituras, como também um exemplo de comportamento, tanto que podia dizer para ser imitado, pois imitava a Cristo (I Co.11:1). Será que podemos falar o mesmo, amados irmãos?
– William Hendriksen vê nesta passagem uma exigência de Paulo para que Timóteo cuidasse para que a igreja local tivesse sempre, em suas reuniões, a leitura pública das Escrituras, a exortação (ou seja, a advertência, o conselho e o encorajamento) e o ensino.
O ministro de Jesus Cristo não pode permitir que os ajuntamentos da igreja local tenham o seu tempo ocupado com outras coisas que não estas que devem ser prioritárias, sem o que a missão do ministério pastoral não se cumprirá. Nossos cultos têm prioridade para a leitura da Palavra de Deus e, diante desta leitura, para conselhos, advertências e ensino do texto bíblico? Pensemos nisto!
– Agindo desta maneira, o ministro de Jesus Cristo transmite à membresia da igreja local o próprio aproveitamento que teve por ter uma vida pessoal que é envolvida com as coisas espirituais.
Ao levar a igreja local ao mesmo nível de prioridades de sua vida pessoal, o ministro manifesta toda a sua piedade à igreja local, constituindo-se, pois, numa referência que, certamente, será seguida por muitos. Era isto que o saudoso pastor Anselmo Silvestre queria dizer quando afirmava que “o fogo tem de começar pelo altar”.
– Por isso, Paulo insiste que Timóteo deveria cuidar dele mesmo e da doutrina, perseverando nas coisas que o apóstolo havia dito, porque fazendo isso não somente se salvaria como aos que o ouviam.
– O ministro precisa, em primeiro lugar, cuidar de si próprio, e este cuidado envolve não apenas a vida espiritual, mas também a vida física. O obreiro deve ser alguém que tenha uma vida regrada não só no aspecto espiritual, mas também no aspecto secular, pois é nesta dimensão da vida terrena que se apresentará como um homem fiel diante dos homens.
– De nada adianta o ministro se empenhar em cuidar da igreja local se não cuida de si mesmo, se não procura ter uma vida espiritual acima da mediocridade, se não procura ter uma vida secular recomendável e exemplar. O ministro de Jesus Cristo precisa primeiro fazer para só depois ensinar, seguindo, assim, as pisadas deixadas por seu Senhor e Salvador.
– Se o ministro assim proceder, certamente não só estará cuidando da sua própria salvação, pois a salvação é individual, como também será um instrumento de Deus, como dom ministerial que é, para o aperfeiçoamento dos santos, um estímulo e incentivo para que os membros da igreja local alcancem o estágio final da salvação: a glorificação.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2015_L5_caramuru.pdf