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LIÇÃO Nº 5 – COMO LER AS ESCRITURAS

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da Bibliologia, analisaremos hoje a necessidade da leitura da Bíblia e como ela deve ser feita.

– É necessário ler a Bíblia, e lê-la corretamente.

I – A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DEVOCIONAL DA BÍBLIA

– A Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus e a principal fonte de revelação da vontade de Deus para com o homem. Se queremos ter uma vida de comunhão com Deus, faz-se mister que saibamos qual é a vontade de Deus para com o homem e esta vontade está estampada na Palavra de Deus.

Para acessar o apêndice nº 01 – Versões das Escrituras – Clique aqui

– Com efeito, Deus é a verdade (Jr.10:10) e a Sua Palavra é a verdade (Jo.17:17), prova de que a Palavra é a principal e completa revelação do Senhor à humanidade (Hb.1:1; Ap.19:13).

– Ponto fundamental para conhecermos o caráter e a vontade de Deus, portanto, é conhecer a Sua Palavra e, por este motivo, Jesus sempre demonstrou que Seu ministério nada mais era senão o cumprimento das Escrituras (Mt.5:17,18; Jo.5:39; Lc.24:44-47), bem como que ensinar a Palavra era, ao lado da pregação do Evangelho, o principal e exclusivo trabalho dos apóstolos na igreja primitiva (At.6:2,4).

– O salmista alerta que a felicidade do homem está em ter prazer na lei do Senhor de dia e de noite (Sl.1:1,2) e, desde o tempo de Moisés, é dito que o segredo da própria vida espiritual é o fato de termos conhecimento e praticarmos, dia-a-dia, a Palavra do Senhor (Dt.6:1-9).

– Lamentavelmente, ao contrário de todas estas passagens das Escrituras que determinam a meditação contínua e incessante na Palavra do Senhor, poucos são aqueles que, dizendo-se crentes em Cristo, dedicam-se ao estudo e à leitura da Bíblia Sagrada.

– Certo pastor afirmou que, para não causar mais vergonha e decepção entre alunos de cursos teológicos, deixou de fazer uma pergunta com a qual iniciava seu curso no início do ano em todas as escolas de teologia em que já lecionou.

Perguntava o pastor se alguém ali, que por se interessar em estudar a Palavra de Deus mais profundamente, havia se matriculado num curso de teologia, havia lido a Bíblia inteiramente ao menos uma vez e, para sua decepção, ano após ano, este número nunca superava parcelas ínfimas da classe.

Assim, se entre pessoas que, teoricamente, dão valor ao estudo da Palavra de Deus, eram tão poucos os que leram a Bíblia toda pelo menos uma vez na vida, que dirá no restante do meio do povo de Deus?

– Aliás, para nossa tristeza, soubemos de uma pesquisa na Universidade de São Paulo em que se está observando que o Brasil é o único país onde o analfabetismo funcional está aumentando entre os evangélicos. Analfabetismo funcional é aquele estado em que as pessoas, embora saibam ler e escrever, são incapazes de entender e compreender o que leem.

Tradicionalmente, os evangélicos, em todo o mundo, são as pessoas que menor índice de analfabetismo funcional têm, porque, desde cedo, são convidados a ler e meditar na Bíblia Sagrada e, portanto, desafiados a entender e compreender o que está escrito.

– No entanto, de dez anos para cá, este índice tem aumentado no Brasil e a referida pesquisa está chegando à conclusão que isto se deve ao pouco uso que os evangélicos brasileiros estão fazendo da Bíblia Sagrada, que não está mais sendo lida pelos crentes.

Que triste realidade a ser denunciada por pessoas que nem mesmo crentes são! Despertemos, pois a falta da leitura bíblica é a principal arma que o inimigo usa para a destruição do povo de Deus (Os.4:6).

– Aliás, não se sabe de onde (cremos nós que do meio das hostes espirituais da maldade…), surgiu a crença de que o estudo da Palavra de Deus é um obstáculo à atuação do Espírito Santo ou de demonstração do poder de Deus, motivo pelo qual, principalmente no meio dos crentes pentecostais, desenvolveu-se a ideia de que “a letra mata” e de que o crente não deve estudar a Palavra de Deus, porque “o Espírito Santo dará a palavra necessária no momento certo”, ensinamentos que não têm qualquer respaldo bíblico e que devem ser afastados.

– A Bíblia afirma-nos que o Espírito Santo nos fará lembrar da Palavra do Senhor (Jo.14:26). Como se poderá lembrar o que não se aprendeu, o que não se leu?

Outrossim, mesmo uma pessoa indouta como era Pedro, em sua última mensagem à igreja, como uma recomendação que nunca deveria ser esquecida pelos crentes de todos os tempos, é bem claro ao afirmar que devemos crescer “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (I Pe.3:18), mostrando, assim, a necessidade de meditarmos e refletirmos na Palavra do Senhor, como, aliás, fazia o próprio Pedro em relação às cartas de Paulo (I Pe.3:15).

– Se não meditarmos na Palavra do Senhor, se não buscarmos conhecer a Deus em Sua Palavra, corremos o sério risco de virmos a ser destruídos espiritualmente, assim como ocorreu com o povo do reino do norte (Os.4:6).

Aliás, o próprio Jesus nos ensinou, na prática, que a principal e única arma com que podemos vencer as tentações é a Palavra de Deus (Mt.4:1-11). Inobstante, muitos são os que, descuidadamente, têm usado suas bíblias apenas como adereço quando vão aos cultos (pois nem mesmo as leem durante eles), desperdiçando uma oportunidade rica e preciosa que o Senhor lhes tem dado para melhor conhecerem a Deus e desfrutarem de uma intimidade, de uma verdadeira comunhão com o Mestre.

– O resultado é que, cedo, são sufocados pelo adversário de nossas almas, quando não levados por ventos de doutrinas, exatamente porque não se encontram alicerçados na rocha, que é Cristo, a Palavra de Deus (Jo.1:1; Ap.19:13).

II – O QUE É LEITURA DEVOCIONAL DA BÍBLIA

– Vista a necessidade e importância da leitura da Bíblia Sagrada, é importante verificarmos, por primeiro, que nossa leitura primeira do texto bíblico deve ser “devocional”, pois, se a Bíblia é a Palavra de Deus, temos de lê-la com esta consciência, sabendo que ela é a verdade e que precisamos ter dela conhecimento.

– A leitura devocional é a leitura com devoção e “devoção”, diz-nos o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “apego sincero e fervoroso a Deus, sob uma forma litúrgica ou por práticas regulares privadas; sentimento religioso, piedade”.

Vemos, portanto, que a leitura dita “devocional” é uma leitura que se faz com apego, com sinceridade, com fervor a Deus, de modo regular e que está sempre caracterizado e confirmado com a prática.

– A leitura devocional é, portanto, em primeiro lugar, uma leitura “com apego”, ou seja, uma leitura em que o leitor está envolvido, interessado em aprender com o que está lendo.

A leitura devocional, portanto, é uma leitura em que todo o ser do leitor está orientado e dirigido para o texto que se vai ler.

– Não se trata, portanto, de uma simples “passada de olhos” no texto, de uma leitura em que os olhos leem algo, mas a mente está em outro lugar, com sua atenção em outras coisas.

Quantas vezes não vemos, em meio a leitura de um texto bíblico nas igrejas locais, pessoas com as Bíblias abertas mas que estão com sua atenção voltada para o movimento à sua volta?

Efetivamente, esta leitura não é uma leitura devocional, pois não há apego, não há envolvimento da mente e do sentimento do indivíduo com o que se está a ler.

– Não é por outro motivo que, no texto sagrado, a palavra utilizada para a leitura devocional da Bíblia é

“meditar”, como se vê, por exemplo, em Js.1:8, onde o próprio Senhor, ao orientar Josué, após a morte de Moisés, manda que o novo líder de Israel meditasse no livro da lei de dia e de noite.

Ora, o livro da lei, àquela altura, era tudo quanto havia das Escrituras Sagradas e, ao determinar que Josué, para que tivesse êxito em sua missão, não apartasse da sua boca a lei e nela meditasse de dia e de noite, o Senhor estava determinando que Josué não cessasse de refletir, pensar longamente, ocupar-se daquilo que estava escrito no livro.

– “Meditar” é, precisamente, dizem-nos os lexicógrafos (aqueles que escrevem dicionários), o ato de “refletir, pensar longamente, ocupar-se, estudar, praticar e fazer”.

A leitura devocional, portanto, é muito mais do que um simples passar de olhos, mas é uma leitura que é acompanhada de um pensamento longo, de uma reflexão, de um envolvimento mental contínuo com aquilo que está escrito, pensamento longo e reflexão que levam a uma tomada de atitudes, a modos de viver.

OBS: A palavra hebraica empregada para “meditar” é “hagah” (הגה), cujo significado é “refletir, gemer, resmungar, ponderar, planejar, maquinar”.

“…Hagah representa algo tranqüilo, diferente do sentido de ‘meditação’ enquanto exercício mental. No pensamento hebraico, meditar nas Escrituras é repeti-las calmamente em som suave e baixo, abandonando interiormente as distrações exteriores.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Palavra-chave: medita. Sl.1:2, p.537).

– Esta meditação, conforme determinada por Deus a Josué, era uma meditação contínua. A expressão bíblica é “de dia e de noite”, ou seja, a qualquer hora do dia, a qualquer momento, em outras palavras, sempre.

Assim como há um mandamento bíblico para orarmos ininterruptamente, também existe uma determinação do Senhor para que jamais deixemos de pensar e de refletir sobre as Escrituras Sagradas. O salmista diz que meditava todo o dia (Sl.119:97). Mas por que deveria Josué meditar de dia e de noite no livro da lei? O próprio

Deus responde: “para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito, porque então farás prosperar o teu caminho e então prudentemente te conduzirás” (Js.1:8). Estas palavras, a propósito, são repetidas pelo salmista (Sl.1).

– A leitura devocional da Bíblia, por ser feita com apego, isto é, com meditação, com envolvimento mental e longa reflexão a respeito do que é lido, produz em cada leitor o cuidado necessário para que pratiquemos as ações corretas, para que ajamos segundo a vontade de Deus, que está expressa no texto sagrado, a fim de que tenhamos uma vida espiritual bem sucedida e que adquiramos a prudência, que é nada mais, nada menos que a ciência do Santo (Pv.9:10).

Para que sejamos vitoriosos nas lutas diárias que temos na vida com Cristo nesta Terra, para que saibamos o que o Senhor Jesus, que é o Santo, quer de cada um de nós, é indispensável, são palavras do próprio Deus, que estejamos a meditar de dia e de noite na Palavra do Senhor.

– Por isso, temos visto, notadamente nestes últimos dias, tantos crentes que têm fracassado na fé, que têm se desviado dos caminhos do Senhor, que têm agido fora dos ditames estabelecidos por Deus em Sua Palavra, bem como agido imprudentemente e tido grandes derrotas espirituais em suas vidas.

Tudo isto tem acontecido porque tais pessoas não têm meditado de dia e de noite na Palavra do Senhor. Não leem a Bíblia e se a leem, não meditam naquilo que está escrito, fazem tão somente uma “passada de olhos”, que não é o que determina o Senhor para que alcancemos o sucesso e a vitória espirituais.

– É interessante notar que certos costumes de outrora, que, infelizmente, têm sido abandonados na atualidade, são práticas que representaram uma forma de se atender ao mandamento bíblico.

Assim, por exemplo, há algumas décadas atrás, era rotineiro, absolutamente comum que todos os alunos da Escola Bíblica Dominical recitassem o texto áureo de cor.

Durante toda a semana, desde as crianças até os idosos, todos se empenhavam a guardar na memória o texto áureo, normalmente um versículo bíblico que sintetizava todo o assunto da lição.

Neste ato de memorização, notadamente para as crianças e jovens, estava uma forma simples e de grande utilidade para a meditação exigida pela Bíblia.

Estes versículos, uma vez decorados, ficam indelevelmente registrados na mente das pessoas, de modo a que o Espírito Santo possa lembrar tais palavras quando isto se fizer necessário na vida diária de cada um deles.

Além do mais, ao se buscar decorar o versículo, durante toda a semana a pessoa ficava envolvida com a Palavra de Deus, podendo, assim, atender à meditação determinada pelo Senhor para os Seus servos.

– Na atualidade, em vez de ocupar a mente em versículos bíblicos ou no texto sagrado que é lido, as pessoas têm suas mentes ocupadas com um sem-número de coisas, muitas delas que desagradam profundamente o Senhor.

Quantos não são as pessoas que estão envolvidas com conversas fúteis nas redes sociais, com os jogos eletrônicos, com as vidas virtuais em mundos virtuais, com programas de televisão, enfim, com entretenimentos mil que, muitas vezes, estão a propagandear e a disseminar o pecado e a incentivar e estimular tudo aquilo que não agrada a Deus? Será que podemos repetir as palavras do salmista no Sl.119:78?

– As pessoas, na vida agitada que levam, dizem não ter como “meditar” na Bíblia Sagrada, não terem tempo para refletir sobre o texto sagrado, mas têm tempo para ficar horas a fio diante de um computador ou de uma televisão vendo e participando de coisas que não agradam a Deus ou que são, simplesmente, inúteis para o seu crescimento espiritual.

O problema é o tempo ou a falta de apego às coisas de Deus? O problema é o tempo ou a falta de amor a Deus (Sl.119:97)?

– A leitura devocional, porém, não é apenas uma leitura com apego, mas, também, uma leitura sincera, ou seja, uma leitura em que se procura, de coração, sem preconceitos, saber qual a vontade de Deus para as nossas vidas (Sl.119:15).

– Muitos até se dedicam a uma leitura cuidadosa do texto sagrado, passam o tempo pensando no texto bíblico, refletindo sobre ele, procurando entender o seu significado. No entanto, não fazem uma leitura sincera, mas, bem ao contrário, estão a buscar textos que justifiquem o seu modo de viver, a sua forma própria de querer se relacionar com Deus.

Assim, enquanto deveriam ler a Bíblia para saber o que Deus está a querer de cada um de nós, buscam o texto sagrado única e exclusivamente para justificar o seu procedimento, a sua vida independente de Deus, a sua própria iniquidade.

– Nos dias em que vivemos, muitos são os que, tendo comichão nos ouvidos, buscam doutores que estão de acordo com os seus pecados e não com o texto sagrado (II Tm.4:3,4).

São pessoas que distorcem a verdade das Escrituras a fim de agradar os pecadores, de dar-lhes a impressão de que a forma pecaminosa que estão a viver não irá lhes privar da graça de Deus. São pessoas imbuídas de espíritos enganadores e de doutrinas de demônios (I Tm.4:1), que levarão após si muitos que, tanto quanto eles, estão a preferir o pecado à verdade (II Pe.2:1,2).

– A leitura devocional da Bíblia é uma leitura sincera, ou seja, uma leitura em que se busca compreender o que está escrito e se adotar aquilo que está escrito, sabendo que a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e que, portanto, é a própria expressão do Senhor, de forma que não temos de adaptar a Bíblia à nossa maneira de viver, mas, bem ao contrário, adaptar o nosso modo de viver à Bíblia.

Uma leitura sincera do texto sagrado é sempre uma leitura que incomoda o leitor, que faz com que ele veja as suas imperfeições, as suas mazelas e que, portanto, gera uma vontade de mudança, de maior santificação, de maior aproximação com Deus.

– Não é por outro motivo que a Palavra de Deus tem, entre seus símbolos mais proeminentes, o da água. A água tem a purificação, a limpeza como uma de suas principais finalidades e Jesus nos ensinou que somos limpos pela Sua Palavra (Jo.15:3).

O crescimento espiritual está vinculado a esta limpeza da Palavra. Em Sua oração sacerdotal, o Senhor fez questão de frisar que a santificação vem pela Palavra (Jo.17:17), bem como, no encontro com Nicodemos, disse que a entrada no reino de Deus depende de nascermos da água e do Espírito (Jo.3:5).

– Tais expressões do Senhor Jesus mostram-nos, com grande clareza, que a salvação depende de nossa conformidade com a Palavra de Deus.

Sem que leiamos a Bíblia e conformemos nossa vida ao que ali consta como sendo a vontade do Senhor, jamais alcançaremos a salvação de nossas vidas, visto que é indispensável que sigamos a santificação, sem o que jamais veremos o Senhor (Hb.12:14).

– Isto significa que, se negligenciarmos na leitura sincera da Bíblia Sagrada, aquela leitura em que temos por objetivo saber como Deus quer que vivamos e não uma justificativa para o modo como estamos vivendo, estaremos trilhando o caminho da perdição, o caminho espaçoso da porta larga, onde tudo é permitido, mas cujo fim é a eterna separação de Deus (Mt.7:13).

– Temos de ler a Bíblia com humildade, crendo que ela é a Palavra de Deus e que temos de lê-la para aprender a viver conforme a vontade de Deus e não para justificarmos os nossos pensamentos, os nossos conceitos.

Temos de ler as Escrituras sem “pré-conceitos”, ou seja, sem achar isto ou aquilo, mas com o propósito de descobrirmos o que Deus quer de nós, que o que está escrito é a verdade e não temos de questioná-la, mas vivê-la, aplicá-la a nossos passos, a nossas ações, a nossos pensamentos, a nossa vida, enfim.

– Da mesma maneira, ao ouvirmos ou lermos algum ensino das Escrituras, alguma pregação, alguma profecia ou revelação é imperioso que tudo julguemos à luz da Bíblia, como fizeram os judeus convertidos de Bereia, que, por tal atitude, fomos chamados de mais nobres (At.17:11). O texto sagrado deve ter proeminência sobre tudo o mais.

Por isso, um dos principais motes da Reforma Protestante, um dos mais importantes movimentos de avivamento espiritual da Cristandade, era “Sola Scriptura”, ou seja, “Só a Escritura”. Nada, nenhuma tradição milenar ou pensamento genial pode se sobrepor ao que está contido na Bíblia.

– A leitura devocional não é apenas uma leitura com apego e sincera, mas uma leitura fervorosa. Isto nos fala de que a leitura da Palavra de Deus, embora tenha de se utilizar do intelecto, tem de ser uma leitura espiritual, pois todo crente tem de ter a mente de Cristo (I Co.2:16).

– A Bíblia é a Palavra de Deus. Embora tenha sido escrita por seres humanos, estes homens de Deus escreveram o que escreveram porque foram inspirados pelo Espírito Santo (II Pe.1:21).

Assim, temos que as Escrituras são a própria expressão do Espírito Santo aos homens. Ora, por mais que Deus tenha procurado Se fazer conhecido dos homens, descendo até o nível insignificante da humanidade, para Se fazer compreendido, não podemos deixar de considerar que o texto bíblico é um texto divino e que não há como se discernir as coisas de Deus senão pelo Espírito de Deus (I Co.2:11). Desta maneira, não há como se compreender a Bíblia senão pelo Espírito Santo.

– A leitura devocional da Bíblia, portanto, tem de ser uma leitura espiritual, ou seja, uma leitura que seja dirigida e guiada pelo Espírito de Deus.

Muitos leem a Bíblia com total envolvimento mental, intelectual, buscam sinceramente saber o significado próprio do texto, mas, lamentavelmente, não passam da superficialidade, se é que realmente a atingem, porque não fazem uma leitura fervorosa, uma leitura espiritual.

– Assim como os céus estão elevados em relação à Terra, assim também os pensamentos de Deus são mais altos que os pensamentos humanos (Is.55:8,9).

Não há, portanto, como entender e compreender a Bíblia Sagrada a não ser pelo Espírito Santo, porque a mente humana, por si só, é incapaz de atingir a sublimidade a profundidade das realidades divinas.

O apóstolo Paulo bem o diz ao adorar ao Senhor com um hino no término do capítulo 11 da epístola aos romanos (Rm.11:33-36).

Ali o apóstolo mostra que as riquezas, a sabedoria e a ciência de Deus são muito profundas e não há como sondar os Seus juízos e de investigar os Seus caminhos. Ninguém poderá compreender os desígnios divinos, a menos que o próprio Espírito Santo, que penetra todas as coisas referentes a Deus, no-lo faça compreender (I Co.2:10).

– Por isso, a tentativa que se fez, com a chamada “crítica bíblica” ou “criticismo bíblico”, de se tentar compreender a Bíblia Sagrada exclusivamente à luz da razão humana, de se “enquadrar” o texto bíblico nos critérios racionais do homem, acabou gerando a chamada “teologia liberal”, que nada mais é que uma demonstração de incredulidade e de arrogância do homem em relação a Deus, que faz com que tais “teólogos” e “críticos” sejam postos na mesma condenação dos ateus, constante tanto do Sl.13:1 quanto do Sl. 53:1.

– Para Deus, por terem se esquecido da insignificância da razão humana e da absoluta necessidade de se ler a Bíblia com fervor, espiritualmente, com o Espírito Santo, tais pessoas não passam de ignorantes, de néscias, visto que nada sabem a respeito das realidades eternas.

Quando assim lemos a Bíblia, temos a mesma sensação do salmista, que, ao meditar na Palavra, sentiu acender-se um fogo em si, o fogo do Espírito Santo (Sl.39:3)!

– A leitura espiritual ou fervorosa da Bíblia, é bom deixarmos claro, nada tem que ver com as “leituras espiritualizadas” que muitos estão a fazer na atualidade, em evidente deturpação do sentido bíblico.

O texto bíblico deve ser entendido espiritualmente, pois se trata de um texto inspirado pelo Espírito Santo, mas o que está escrito deve ser entendido, num primeiro momento, no seu sentido literal. Não podemos deixar de crer no que diz o texto sagrado e cometer o equívoco de que tudo o que está na Bíblia é simbólico, alegórico.

Agir desta maneira não é fazer uma “leitura espiritual”, mas, sim, reduzir o texto bíblico a um conto de fadas, a uma mitologia qualquer, o que é inadmissível. Muito pelo contrário, a Bíblia faz questão de se distinguir destas histórias surgidas da imaginação humana (II Tm.4:4; II Pe.1:16).

– A leitura espiritual da Bíblia faz com que sejamos dominados pelo Espírito Santo e, como resultado disto, passamos a fazer a obra de Deus, a pregar com ousadia a Palavra do Senhor, cumprindo, assim, um dos principais objetivos do derramamento do Espírito sobre a Igreja.

A meditação fervorosa da Palavra gera palavras em nossa boca que são agradáveis ao Senhor e que divulgam os Seus feitos – Sl.19:14; 49:3; 77:12.

– A leitura devocional deve ser feita, também, de modo regular. Disse o dicionarista que “devoção” é “dedicação sob uma forma litúrgica”. Sabemos que “liturgia” é o conjunto de práticas de um determinado rito, as formalidades que se fazem numa determinada cerimônia religiosa.

– A leitura devocional exige uma certa solenidade, não é algo que seja feito de qualquer maneira, de qualquer jeito.

Não somos adeptos do formalismo que, quase sempre, esconde um vazio espiritual, como os fariseus dos dias de Jesus.

Não somos daqueles que, como os mais escrupulosos religiosos, estabelecem um sem-número de regras e de mandamentos para que se tenha a leitura do texto sagrado.

Os livros de orações, os missais, os breviários, enfim, todos os livros que, ao longo da história da Igreja, têm surgido buscando disciplinar a leitura das Escrituras nada mais são que expressão deste vazio espiritual, que não leva a lugar algum.

– No entanto, se somos contrários ao formalismo, à religiosidade externa e vazia de Deus, também não podemos concordar com uma leitura devocional das Escrituras que seja displicente.

Aliás, a leitura devocional, como se observa, é uma leitura que tem uma determinada “liturgia”, ou seja, que tem uma certa formalidade, uma solenidade. Em última instância, é uma leitura que deve ser feita com “reverência”.

“Reverência” é a “veneração pelo que se considera sagrado ou se apresenta como tal”, “respeito profundo por alguém ou algo, em função das virtudes, qualidades que possui ou parece possuir; consideração, deferência”.

– Ora, como temos visto, a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, ou seja, é o próprio Deus que Se comunica conosco, é a expressão da vontade do Senhor para o homem, a Sua revelação à humanidade. Jesus, mesmo, foi identificado com a Palavra, visto que é o Verbo (Jo.1:1; Ap.19:13).

Se Jesus é a própria Palavra, a ponto de a Bíblia ter como assunto o Senhor (Jo.5:39), vemos que, no céu, o Senhor é digno de toda honra, de todo louvor (Ap.5:12).

Também lemos que o Senhor foi exaltado acima de todo o nome (Fp.2:9-11), o que explica porque a Palavra foi posta acima do próprio nome de Deus (Sl.138:2). Se, pois, Deus tem em alta conta a Sua Palavra, como podemos ter um comportamento que não seja de reverência em relação a ela?

– Ao lermos o texto bíblico, devemos considerá-lo como um texto sagrado, ou seja, como a própria expressão de Deus, que é santo (Lv.11:44; 19:2; 20:7; I Pe.1:16).

Desta maneira, é indispensável que nossa leitura seja uma leitura com reverência, já que reverência é o respeito devido àquilo que é santo.

A própria Bíblia diz que Deus deve ser grandemente reverenciado na assembleia dos santos (Sl.89:7) e que devemos servir a Deus com reverência e piedade (Hb.12:28), bem como determinou que Seu santuário fosse reverenciado (Lv.19:30). Não há, pois, como deixar de ser reverente em nosso relacionamento com Deus.

– Sendo assim, como admitir, por exemplo, que a leitura da Palavra nas reuniões das igrejas locais seja feita em meio a conversas paralelas, a um total descaso por parte dos presentes?

Como admitir que a leitura devocional seja feita em meio a conversas com terceiros, pessoalmente ou por meio de telefone ou webcams, como temos presenciado? Como permitir que pessoas leiam suas Bíblias prestando atenção a tudo que está a sua volta? É isto reverência?

III – O EXEMPLO DA LEITURA DEVOCIONAL NO AVIVAMENTO DOS DIAS DE ESDRAS

– Ao contrário, quando lemos a respeito da leitura da lei por parte de Esdras para o povo (Ed.8:1-12), vemos que a leitura reverente tem algumas características vem diversas do que hoje contemplamos em muitos lugares.

Senão vejamos.

– Em primeiro lugar, o povo todo se ajuntou como se fosse um só homem na praça diante da porta das águas (olha, uma vez mais, a água representando a Palavra de Deus).

Todos saíram de suas cidades, de seus lares e se dirigiram até Jerusalém com o propósito de ouvirem a Palavra de Deus, que seria lida pelo homem de Deus. Existe esta disposição nos que se dirigem aos templos na atualidade?

Há este propósito de ouvir Deus falar através da Sua Palavra que, por ser a verdade, por ser provada ao longo dos séculos (Sl.18:30), não gera qualquer dúvida? Entretanto, muitos, em vez de ficarem com os mananciais de águas vivas providenciados pelo Senhor, a exemplo do povo de Judá, abandonam-nos e cavam cisternas rotas para si, como revelações, profetadas etc. etc.(Jr.2:13).

– Uma vez juntos, o povo pediu a Esdras que trouxesse o livro da lei do Senhor para que ele fosse lido ao povo. Havia um desejo do povo para ouvir a Palavra, para que houvesse a leitura da Palavra.

Naquele tempo, a grande e esmagadora maioria do povo não tinha livros, nem mesmo sabia ler o hebraico, língua que nem sequer era mais falada pelo povo, mas havia sede para que ela fosse lida em voz alta, para que pudessem participar desta leitura.

Hoje em dia, com todo mundo quase sendo alfabetizado e, não raro, com mais de uma Bíblia em casa, há este interesse em se ler a Palavra? Há reuniões para leitura conjunta da Palavra, notadamente nos lares? É que não há tempo, porque o dia só tem 24 horas e horas a fio são gastas na internet, na televisão etc. etc.

– É interessante observar que a leitura feita por Esdras foi feita a homens, mulheres e entendidos (Ne.8:2).

Ninguém estava excluído da leitura da Palavra. Ela era destinada tanto a homens quanto a mulheres e até mesmo os entendidos, ou seja, os que tinham conhecimento e estudo da Palavra, escribas tão hábeis como

Esdras, também queriam ouvir a Palavra. Que lição para os dias de hoje, onde os “sabichões” acham que não precisam mais aprender a Palavra de Deus (tem se tornado costume obreiros não virem à EBD, como se a EBD fosse apenas discipulado para novos convertidos…).

– Quando fazemos uma leitura devocional da Bíblia, ela é revestida da humildade, pois temos de saber quem ninguém poderá jamais compreender o Senhor em toda a sua plenitude, e, por isso, temos de estudar as Escrituras sempre ou, como ensinam os rabinos judeus, até o momento da morte, pois, ainda que alguém aprendesse tudo a respeito da Bíblia, deveria continuar estudando para não esquecer o que tivesse aprendido. Os mestres surgem da meditação na Palavra de Deus (Sl.119:99).

OBS: É oportuno verificar que nem mesmo as crianças estavam dispensadas da leitura da Palavra, que a lei de Moisés havia determinado que ocorresse de sete em sete anos – Dt.31:9-13. Parece mesmo, pelo contexto, que um dos públicos-alvo desta leitura eram precisamente as crianças que não estivessem tendo uma regular educação doutrinária nos lares por parte de seus pais.

– Este interesse em ler a Palavra de Deus era um interesse que não se constituía num desejo momentâneo ou passageiro, num “fogo de palha”, para se utilizar uma linguagem popular.

O texto diz que o povo estava atento ao livro da lei e que ficaram ali durante toda a manhã, desde a alva, isto é, por volta das seis horas da manhã até o meio-dia ouvindo a leitura da Palavra.

O povo todo prestava atenção, não havia o “mercado de peixe” que se encontra em algumas congregações na atualidade quando se lê a Bíblia, nem tampouco se olhava para o relógio com impaciência e pressa, como também se vê atualmente.

Pelo contrário, o povo tinha prazer em ler a Palavra (leitura que era feita mediante participação na leitura em voz alta de Esdras). A atenção demonstrava a reverência que havia no povo, reverência que também se manifestou por dois outros fatos mencionados no texto, a saber (Ne.8:4,5):

a) foi construído um púlpito de madeira para Esdras com o fim específico de ele ler o livro da lei – criou-se um local destacado para a leitura da Palavra, denotando a importância que o povo dava a esta leitura (será, por isso, que, atualmente, em muitas igrejas locais, o púlpito não é mais para a pregação e a leitura das

Escrituras, para que ali fiquem “grupos de louvores” e “bandas musicais”, numa prova indelével que se está a menosprezar as Escrituras?…).

b) todo o povo ficou de pé quando Esdras abriu o livro para o ler – este gesto de o povo se levantar representava, na cultura judaica, o reconhecimento de que a lei era a mestra do povo, era a fonte de sua instrução (levantava-se diante de um mestre). O povo, assim, reconhecia a necessidade de aprender de Deus na Sua Palavra.

– A leitura devocional da Bíblia é uma forma de adoração a Deus. Neste mesmo texto que nos serve de base para a análise da reverência que se deve ter na leitura das Escrituras, vemos que Esdras louvou ao Senhor, sendo seguido pelo povo que, então, puseram seu rosto no pó e adoraram a Deus.

Quando lemos a Bíblia com reverência, fazemo-lo com o espírito contrito, com profundo reconhecimento do senhorio de Deus sobre nossas vidas e de Sua majestade e glória. Não é, portanto, estranho que, em meio à leitura, ou ao seu término, estejamos a chorar, a louvar e a bendizer o Senhor.

– A leitura devocional da Bíblia, também, gera a sensação de nossa insignificância e da nossa imperfeição. Com efeito, como nos ensina o apóstolo Tiago, quando lemos a Bíblia, estamos diante de um espelho que nos revela como somos, sem quaisquer subterfúgios humanos, sem quaisquer considerações ilusórias do nosso ego (Tg.1:22-25).

– A Bíblia, como é a verdade, mostra precisamente como somos, o que temos feito que tem agradado a Deus e o que temos feito que tem desagradado ao Senhor.

Por isso, muitos, que endurecem seu coração para Deus, fogem do texto sagrado, não querem dele saber, porque ele os está condenando em sua vã maneira de viver.

Preferem os “louvorzões”, as “danças proféticas”, o “agito”, enfim, tudo aquilo que não permita que haja a leitura e exposição da Bíblia Sagrada, a fim de não sentirem que estão em pecado. Entretanto, mal sabem eles que de nada adiantará tais evasivas, pois, no último dia, a Palavra dita pelo Senhor os há de julgar (Jo.12:47,48)

IV – O MÉTODO CORRETO DA LEITURA DAS ESCRITURAS

– Esta postura “devocional” das Escrituras é fundamental para que tenhamos o correto entendimento do texto sagrado.

Sem que tenhamos uma leitura com apego, sincera, humilde, espiritual e reverente, não temos como compreender a Bíblia Sagrada, porquanto se trata de uma tarefa espiritual, pois precisamos ser homens espirituais para que tenhamos a mente de Cristo, sem a qual jamais conseguiremos entender a Palavra de Deus (I Co.2:9-16).

– No entanto, ao lado desta indispensável postura espiritual, há de se adotarem também algumas regras racionais, pois somos dotados de razão e o homem é corpo, alma e espírito (I Ts.5:23).

É preciso termos um método para que não venhamos a ter uma compreensão distorcida das Escrituras, até porque, ainda espiritualmente falando, há um nítido interesse do inimigo de nossas almas para que não venhamos a compreender ou, então, venhamos a ter um entendimento distorcido das Escrituras.

– Temos, então, as chamadas regras da “hermenêutica bíblica”. Mas o que é isto? “…Hermenêutica é o estudo das leis e princípios de interpretação das Escrituras. Noutras palavras: é a busca dos sentidos do texto. O termo deriva de um verbo grego que significa interpretar, e aparece no original em Jo. 1:38,41,42;

Hb.7:2. Ela procura responder à pergunta: o que significa o texto? “…A aplicação dos resultados da Hermenêutica é a Exegese. A Hermenêutica expõe os resultados; a Exegese aplica-os.

O termo exegese significa literalmente expor, aplicar, comentar.…” (GILBERTO, Antonio. Manual da Escola Dominical. 5. ed. aumentada e melhorada, p.54) (itálicos originais).

– “…A Hermenêutica é a ciência tanto bíblica quanto secular que se ocupa dos métodos e técnicas de interpretação. É, basicamente, o estudo da compreensão de textos…” (BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. 21ª impressão. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.11).

– Sendo as Escrituras a Palavra de Deus, a revelação de Deus ao homem, um todo completo e que não pode ser nem aumentado, nem diminuído, tem-se, naturalmente, que a primeira regra que temos para entender corretamente o texto é a de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia, ou seja, o significado do texto devemos obter na própria Bíblia.

– A Bíblia é uma unidade e, deste modo, temos sempre que entender o texto bíblico em relação a outros textos, pois a Bíblia é uma revelação progressiva de Deus, que encontra sua culminância na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é o próprio Deus Se revelando ao homem.

– Devemos partir, portanto, do próprio texto bíblico para o entendermos. Veja que foi assim que Felipe agiu com o eunuco etíope (At.8:35) ou os levitas e sacerdotes na explicação do texto na já aludida leitura da lei nos dias de Esdras e Neemias (Ne.8:8).

– Na leitura do texto, portanto, devemos, além de ter a postura espiritual já mencionada, procurar conhecer o vernáculo, ou seja, saber o significado das palavras do texto e, para tanto, sempre é bom termos à mão um dicionário. Sempre que possível, comparar o texto lido com o de outras versões bíblicas.

– Quem quiser ter um aprofundamento do significado das palavras, o que é necessário para quem tenciona pregar ou fazer estudos bíblicos a partir do referido texto, pode também consultar os vocabulários existentes que trazem o significado dos termos bíblicos nas línguas originais (grego, hebraico e aramaico).

– Nesta mesma regra, de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia, devemos observar o que o texto bíblico diz no seu contexto, jamais isolando um versículo, pois, como se costuma dizer, “o texto sem o contexto é um pretexto”.

– Para sabermos o significado do texto é preciso saber o “contexto”, ou seja, qual o assunto que se está tratando, qual é a natureza do texto (é uma narrativa, é uma mensagem profética, é um poema, é uma explanação doutrinária?), o que vem antes e o que vem depois do texto, para quem ele é dirigido, quem está falando, quem o escreveu, em que época foi escrito, em que circunstância foi escrito.

– Não devemos nos esquecer que as divisões do texto bíblico, feitas para facilitar nossa leitura, não são inspiradas e que, portanto, nem sempre os títulos dos editores correspondem a uma perfeita delimitação do que deve ser lido (as chamadas “perícopes”, que são aquelas passagens que tratam de um assunto), nem tampouco os capítulos e versículos.

– Ainda dentro da ideia do contexto, devemos verificar outros textos bíblicos que tratem do mesmo assunto, do mesmo tema e, para isso, muito nos ajudam as “referências bíblicas” ou “concordâncias bíblicas”, que, contudo, também são ferramentas não inspiradas, de modo que devemos ter cuidado ao manuseá-las, já que, por vezes, elas nos remetem a textos que têm as mesmas palavras, o que não signifique que tratem do mesmo assunto ou tema.

OBS: “…Cabe aqui um alerta. As Concordâncias Bíblicas (erradamente chamadas Chaves Bíblicas) só fornecem referências ou paralelismos

verbais. O mesmo ocorre com as referências marginais de certas edições da Bíblia (Bíblia com referências).

Muitos estudantes novatos têm cometido graves erros de ensino, por se basearem apenas em referências verbais, muitas vezes.

Ora, só pelo fato da mesma palavra se repetida no assunto em estudo, não quer dizer que sempre se trate da mesma coisa. Cuidado, pois!…” (GILBERTO, Antonio. Manual da Escola Dominical. 5. ed. aumentada e melhorada, p.55).

– Só então, depois de termos visto o texto bíblico e suas correlações, é que devemos atentar para os comentários bíblicos, para as chamadas “bíblias anotadas” ou “bíblias de estudo”, a fim de que fortifiquemos o nosso entendimento, mas sem nos deixarmos influenciar pelos pensamentos humanos, ainda que de respeitáveis eruditos das Escrituras, porquanto devemos partir da Bíblia e não das ideias humanas para que entendamos o texto sagrado.

– A segunda regra da hermenêutica bíblica é a chamada “regra do sentido literal”, ou seja, devemos sempre preferir a significação literal do texto, ou seja, o primeiro sentido do texto é aquele que advém do próprio significado das palavras ali presentes.

– A Bíblia é a verdade e, portanto, o que está escrito corresponde ao que Deus quer efetivamente transmitir para a humanidade. Verdade é que não devemos confundir o sentido literal do texto com a linguagem literal. Por vezes, o texto bíblico adota uma linguagem figurada, ou seja, o texto, em si mesmo, apresenta uma característica de figura, de alegoria, como, por exemplo, via de regra, os textos poéticos e proféticos.

OBS: “…É abundante a linguagem figurada na Bíblia. Suas mais importantes formas são os tipos, os símbolos, as metáforas e as parábolas…” (GILBERTO, Antonio, op.cit., p.55).

– Neste ponto, aliás, é extremamente importante que tenhamos conhecimento das “figuras de linguagem”, ou seja, “…recursos linguísticos empregados pelo literato para expressar de modo concreto suas ideais, evocando algum tipo de imagem real, comparação, ou de correspondência entre as palavras e o pensamento…” (BENTHO, Esdras Costa. op.cit., p.307).

– Assim, por exemplo, não podemos entender que Davi, todas as noites, nadava em sua cama, por causa de suas lágrimas (Sl.6:6), mas que temos aí um “exagero literário”, uma figura de linguagem chamada “hipérbole”, para demonstrar que havia um contínuo sofrimento por parte do rei salmodiador.

– Entretanto, a presença de linguagem figurada na Bíblia não permite, porém, que se tome um caminho extremamente perigoso que é a de considerar que a Bíblia é apenas uma “alegoria”, um “conjunto de mitos”, que transmite apenas “verdades religiosas”, como também que se façam, como já se disse supra, “leituras espiritualizadas”, completamente alheias à realidade e ao próprio conjunto do restante das Escrituras.

– Há de se ter, sobretudo, como ensina o pastor Antonio Gilberto, “bom senso”, ou seja, “…o uso da razão — a mais alta faculdade com que Deus dotou o homem. A Bíblia foi-nos dada por Deus não só para ocupar o nosso coração, mas também o nosso raciocínio (Hb.8:10; 10:16).

Na Bíblia, não há lugar para contrassensos. Ao encontrarmos um texto difícil, apresentando discrepância, incoerência, injustiça, algo chocante, não pensemos logo que há erro. É preciso ter sempre em mente a analogia geral das Escrituras…” (op.cit., p.55).

– A terceira regra da hermenêutica é a do “objetivo do livro” ou “o objetivo da passagem”, que tem a ver com o gênero literário do texto, ou seja, com que finalidade foi escrito este livro ou esta passagem? É ele um livro ou passagem histórica, que pretende contar fatos?

É um livro ou passagem poética, que pretende expressar sentimentos? É um livro ou passagem de sabedoria, que pretende trazer ensinamentos, explanações?

É um livro ou passagem profética, que traz mensagens, por vezes, visões e/ou sonhos dados por Deus a alguém? Sabendo o objetivo do texto, teremos condição de saber o que Deus quis revelar e, assim, não ir além do que está escrito (Cf. I Co.4:6).

– A quarta regra da hermenêutica é a do “contexto histórico-cultural” em que se procura entender o texto a partir do momento em que foi escrito, das circunstâncias em que foi escrito e do ambiente cultural e histórico vivido naquele tempo.

Faz-se necessário saber dos costumes e do modo de vida existente ao tempo da produção do texto, sem o que não teremos a perfeita noção do que foi escrito.

– É verdade que o texto bíblico é a Palavra de Deus e esta palavra permanece para sempre (I Pe.1:25), é atemporal, pois Deus está acima do tempo, é eterno (Is.40:28), mas o texto foi escrito por um homem que escreveu segundo a realidade do seu tempo, realidade esta que, no mais das vezes, é completamente diversa da nossa realidade presente e, portanto, para se entender exatamente o que foi escrito, temos de ter conhecimento da época e da cultura do escritor.

– Assim, não há como ter uma exata e completa compreensão do primeiro milagre de Jesus, a transformação da água em vinho (Jo.2:1-12) ou da parábola das dez virgens (Mt.25:1-12) sem ter conhecimento de como eram as festas de casamento nos dias de Nosso Senhor e Salvador.

– Assim agindo, certamente superaremos todas as dificuldades racionais para o entendimento das Escrituras e, bem a entendendo, poderemos aplicá-la e, deste modo, nos santificar (Cf. Jo.17:17) e nos habilitar para encontrar com o Senhor nos ares no dia do arrebatamento da Igreja, pois sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7007-licao-5-como-ler-as-escrituras-i

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