LIÇÃO Nº 5 – CRISTO É SUPERIOR A ARÃO E À ORDEM LEVÍTICA
Jesus é maior que Arão e que o sacerdócio levítico.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos parte da perícope que abarca os capítulos 4:13 até 6:20, mais precisamente Hb.4:13-5:10.
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– Jesus é maior que Arão e que o sacerdócio levítico.
I – A INSTITUIÇÃO DO SACERDÓCIO LEVÍTICO
– Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos parte da perícope, ou seja, uma passagem bíblica que contém um assunto completo, que vai do capítulo 4:13 até o final do capítulo 6, que trata da superioridade de Cristo em relação a Arão e ao sacerdócio levítico.
– Na continuidade de seu argumento com relação à supremacia de Jesus Cristo e, particularmente, de sua superioridade em relação à lei mosaica, que os crentes judeus destinatários da carta estavam tentados a voltar a observar, depois de ter mostrado que Jesus é superior a Moisés e a Josué,
o escritor aos hebreus passa a mostrar a superioridade de Cristo em relação a Arão, o primeiro sumo sacerdote e o ancestral de todos os sacerdotes, já que os sacerdotes israelitas necessariamente tinham de pertencer à família de Arão (Ex.28:1).
– É importante observar que, na presente lição, traçaremos os argumentos desta perícope sem nos adentrarmos no sacerdócio de Cristo, que é um sacerdócio especial, que será o tema da lição 7, visto que o escritor aos hebreus o desenvolverá amiúde. Limitemo-nos, pois, a este aspecto para que não tenhamos uma desnecessária repetição de assuntos durante o trimestre.
– Antes de analisarmos a superioridade de Cristo em relação a Arão, é oportuno que lembremos as circunstâncias que deram origem ao chamado de Arão e de sua família, enfim, porque e como surgiu o sacerdócio levítico.
– Quando o Senhor chamou Moisés para que este fosse libertar o povo, este ofereceu resistência ao chamado, apresentando uma série de dificuldades.
Uma delas foi a alegação de que era ele “pesado de boca”, ou seja, sem eloquência, até porque, após quarenta anos cuidando das ovelhas de seu sogro Jetro, tinha Moisés perdido a fluência no idioma egípcio bem como os próprios modos palacianos em que fora criado (Ex.4:10).
– Em resposta a mais esta desculpa apresentada por Moisés, desculpa, aliás, que provocou a ira divina, o Senhor escolhe Arão para ser “a boca de Moisés” (Ex.4:14).
De pronto, então, vemos que Arão é inserido na história sagrada em virtude de uma desculpa de Moisés, para servir como se fosse de um “estepe”, de um substituto ante a resistência daquele que fora chamado para liderar o processo de libertação, o que é algo extremamente relevante, pois, desde o início, Arão será uma espécie de “remédio”, de “solução provisória”, de um “paliativo”.
– Não se deve, porém, negligenciar o fato de que Arão foi diretamente escolhido pelo Senhor, que o mandou ir ao encontro de seu irmão Moisés no deserto (Ex.4:27), tendo sido ele o primeiro israelita a saber das promessas divinas de libertação e do chamado de Moisés.
– No Egito, foi Arão que introduziu Moisés aos anciãos do povo, passando, desde então, a exercer as funções de “intérprete” de Moisés, de “boca de Moisés”,
o é algo importante de observar, pois o papel de Arão era o de ser um interlocutor entre Moisés e Israel e entre Moisés e Faraó (Ex.7:1,2), o que o credenciaria para exercer o sacerdócio, que nada mais é que uma função de interlocução, de intermediação, de intercessão entre Deus e o povo.
– O nome “Arão” é de significado controverso entre os biblistas. Jerônimo achava que seu significado era “monte de força”, enquanto que outros entendem ser “montanhista, serrano” ou, ainda, “brilhante, iluminador”.
Tais significados mostram que Arão exerceu um papel de intermediário, de esclarecedor da vontade do povo, de comunicador, pois, como “serrano e montanhista”, fazia a ligação entre o “alto” e o “baixo”, enquanto que como “brilhante, iluminador”, era quem deveria levar as petições do povo, “esclarecer” a vontade do homem diante de Deus.
– Durante o processo da libertação de Israel do Egito, Arão sempre esteve ao lado de Moisés, tanto que, de modo interessante, é ele quem vai executar as ações para que ocorram as três primeiras pragas, o que, para os rabinos judeus,
foi um meio pelo qual o Senhor evitou que Moisés se mostrasse ingrato, já que tinha sido beneficiado tanto pelas águas do Nilo (de onde foi resgatado pela filha de Faraó) quanto pela terra (quando matou o egípcio e o escondeu).
– Arão, desta maneira, desde o início, ocupou uma posição de destaque no povo de Israel. Entretanto, o Senhor havia escolhido todo o povo de Israel para ser Sua nação sacerdotal (Ex.19:6), de forma que o sacerdócio de Arão não era o objetivo primeiro do Senhor.
Tanto assim é que, na promulgação da lei, quem exerce a função sacerdotal são mancebos dentre os filhos de Israel, de todas as tribos, pois são eles que oferecem sacrifícios, dos quais se extraiu o sangue que foi espargido sobre o povo, que representou o sangue do concerto firmado entre Deus e Israel no monte Sinai (Ex.24:8).
– Arão e seus filhos, entretanto, estavam entre aqueles que subiram ao monte Sinai para confirmar o pacto com uma refeição sagrada (Ex.21:9-11), a mostrar a sua proeminência já nesta oportunidade, mas ainda como auxiliar do líder, tanto que a chefia do povo ficou sob sua responsabilidade e a de Hur, enquanto Moisés ficava com o Senhor no monte (Ex.24:14).
– É, precisamente, neste momento histórico, que teremos um deslize de Arão, visto que, diante da demora de Moisés em retornar, o povo acabou por induzi-lo a construir o bezerro de ouro, na quebra dos dois primeiros mandamentos da lei apenas quarenta dias após a sua promulgação (Ex.32:1-6).
Arão, além de ter fabricado o ídolo, ainda edificou um altar a ele, conclamando o povo a realizar “a festa ao Senhor”.
– A tradição judaica diz que Arão foi levado a tal ato porque, quando o povo vem ao encontro dele e de Hur para que se fizessem outros deuses que os conduzissem a Canaã (Ex.32:1), a isto se opôs fortemente Hur que, por causa disto, teria sido morto pelo povo e, diante disto, Arão, temendo a morte, teria decidido atender ao povo.
OBS: “…E vários sábios ofereceram interpretações do versículo: “Porque o ímpio gloria-se do desejo da sua alma, bendiz ao avarento e blasfema do Senhor.” (Sl.10:3), discordam da explicação do rabino Tanḥum bar Ḥanilai.
Como o rabino Tanḥum bar Ḥanilai diz: Este versículo foi afirmado apenas no que diz respeito ao incidente do Bezerro de Ouro, como se afirma:
“E Arão viu isso, e ele construiu [vayyiven] um altar [mizbe’aḥ] diante dele … e disse: “Amanhã será uma festa ao Senhor” (Ex.32:5).
O que Arão viu? O rabino Binyamin Bar Yefet diz o que Rabi Elazar diz:
“Ele viu Hur, que havia sido designado junto com Aarão por Moisés para liderar o povo durante a ausência de Moisés (ver Ex.24:14), morto diante dele, já que ele havia protestado contra o plano de fazer um bezerro e foi assassinado pelo povo como consequência de tal protesto.
O versículo, portanto, não é interpretado como: Arão construiu um altar diante do bezerro, mas, sim: Ele percebeu [vayyaven] o assassinato [mizavuaḥ] diante de seus próprios olhos e, então, convocou uma festa…” (TALMUDE DA BABILÔNIA. Tratado Sanhredin 7-a. Disponívelem: https://www.sefaria.org/Sanhedrin.7a.3?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 16 nov. 2017) (tradução Google adaptada por nós de texsto em inglês).
– Quando Moisés retorna ao arraial e se enfurece, quem vem interceder pelo povo é o próprio Arão (Ex.32:21-24), tendo sido o próprio Arão que mandou que o povo se despisse e, portanto, se humilhasse diante de tamanho pecado.
Logo em seguida, foram os levitas que se se dispuseram a ficar “do lado do Senhor”, tendo, inclusive, executado todos os que haviam liderado a prática daquele pecado (Ex.32:25-29).
– Diante da quebra dos dois primeiros mandamentos pelo povo de Israel, ficaram eles sem a dignidade para serem o “povo sacerdotal” do Senhor, de sorte que o Senhor, como já havia dito a Moisés no monte, escolheu a Arão e a seus filhos para que servissem de sacerdotes, como também a tribo de Levi para que fosse a “tribo sacerdotal” (Ex.28:1-3; Nm.3:1-13).
– Nota-se, portanto, que, uma vez mais, Arão aparece como um “remédio”, uma “solução provisória”, um “paliativo”, visto que é escolhido para ser o sumo sacerdote e sua família para exercer o sacerdócio em virtude da quebra da lei por parte do povo e da indignidade decorrente de poder ser o “povo sacerdotal” naquele instante, como era o desejo do Senhor, desejo este que se concretizará tão somente no reino milenar de Cristo.
– E há, ainda, um fator agravante, qual seja, a de que a pessoa escolhida para exercer o sacerdócio era alguém que havia falhado no próprio episódio do bezerro de ouro.
Com efeito, Arão foi quem construiu o bezerro de ouro, edificou o altar e conclamou o povo para “a festa ao Senhor”. Como, então, apesar disto, é Arão escolhido para tão nobre função?
– Apesar de ter falhado grandemente, o fato é que Arão não participou desta “festa ao Senhor”, como também, intercedeu pelo povo, reconhecendo sua “inclinação ao mal”, tendo, ademais, levado o povo a se humilhar, a demonstrar arrependimento pelo que havia feito, num nível tal que sua tribo foi a única que se dispôs a ficar “do lado do Senhor”.
– Arão, assim, demonstrou ter se arrependido do que havia feito, bem como ter demonstrado compaixão pelo povo, levando-os, inclusive, ao arrependimento.
Tal capacidade de intercessão, compaixão e disposição a levar ao arrependimento o credenciaram para o sacerdócio.
Deus conhece o coração do homem (I Sm.16:7) e, por isso mesmo, antes mesmo que ocorresse o episódio do bezerro de ouro, já havia dito a Moisés que Arão e seus filhos seriam escolhidos para o sacerdócio.
– O sacerdócio levítico, portanto, já nasce sob o signo da fraqueza humana, da sua natureza pecaminosa.
Como se isto fosse pouco, logo após a instituição do sacerdócio, dois dos quatro filhos de Arão, Nadabe e Abiú, são mortos pelo Senhor porque ofereceram fogo estranho ao Senhor (Lv.10:1,2), sem falar que o próprio Arão não pôde entrar na Terra Prometida por ter tentado ao Senhor nas águas de Massá e Meribá (Nm.20:12,13), dois episódios em que o Senhor demonstra não ter este sacerdócio condições de santificar de forma plena o nome de Deus diante do povo (Lv.10:3; Nm.20:12).
II – A SUPERIORIDADE DE CRISTO EM RELAÇÃO A ARÃO
– Vistas as circunstâncias em que se deu a instituição do sacerdócio levítico e a sua própria condição espiritual, passemos a analisar parte da perícope em que o escritor aos hebreus vai demonstrar aos destinatários da sua carta a superioridade de Cristo em relação a Arão e ao sacerdócio levítico.
– O autor começa dizendo que Jesus, Filho de Deus, é um grande sumo sacerdote, que penetrou nos céus e que isto é motivo para que retenhamos firmemente a nossa confissão (Hb.4:14).
OBS: “…Ao nome do Filho de Deus, já mencionado pelo autor, pertence essa majestade que nos impele ao temor e à obediência. No entanto, se não divisássemos nada mais em Cristo, nossas consciências não ficariam pacificadas.
Quem dentre nós não se espantaria à vista do Filho de Deus, especialmente quando lembramos de nossa própria condição e nossos pecados vêm à nossa mente?
Além disso, poderia haver outro obstáculo para os judeus, visto que estavam habituados ao sacerdócio levítico. Nele vimos um singular mortal escolhido dentre todos os demais, que entrava no santo dos santos, para reconciliar seus irmãos com Deus, através de suas orações.
É algo incomensurável que o media- dor, que pode desviar a ira divina contra nós, seja ele mesmo um de nós.
Essa atração poderia ter enganado os judeus, perpetuando seu apego ao sacerdócio levítico, se o apóstolo não o antecipasse e não tivesse mostrado que o Filho de Deus não só excedeu em glória, mas que também estava investido de semelhante benevolência e compaixão para conosco.…” (CALVINO, João. Hebreus. Trad. de Válter Graciano Martins, p.111).
– Já havia sido dito, quando da demonstração da superioridade de Jesus em relação a Moisés, que Cristo era o “sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb.3:1), querendo com isto lembrar aos crentes judeus de que, quando eles foram salvos, foram pelo simples fato de terem reconhecido que Jesus é o Salvador e que Ele pode, realmente, perdoar os nossos pecados. Como diz o apóstolo João: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (I Jo.1:9).
– Somente somos salvos porque cremos no coração de que Deus ressuscitou a Jesus Cristo dos mortos e confessarmos nossos pecados a Jesus com a nossa boca.
Ao crermos que Deus ressuscitou Jesus dos mortos, cremos que Jesus morreu e que Sua morte foi aceita como preço pelo resgate da humanidade e que, portanto, o sangue de Cristo tem poder para perdoar os pecados.
Ao confessarmos com a boca os nossos pecados, exteriorizamos o que está em nosso coração (pois a boca sempre fala daquilo que o coração está cheio – Mt.12:34; Lc.6:45), reconhecendo que somos pecadores e que somente Jesus pode nos perdoar, pois só Ele pagou o preço de nossas iniquidades, só Ele tirou o pecado do mundo (Jo.1:29).
– Ser salvo, portanto, implica em reconhecermos que Jesus é o nosso grande sumo sacerdote, pois foi Ele quem ofereceu o sacrifício perfeito que nos permite obter o perdão dos pecados.
– O escritor aos hebreus faz questão de chamar Jesus de “grande sumo sacerdote”, para mostrar que Ele é superior a Arão, que apenas é chamado nas Escrituras de “sumo sacerdote”.
Como se isto fosse pouco, faz-se questão de dizer que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que se tenha a precisa noção de que estamos a tratar de um sumo sacerdote que é divino e, portanto, que não tem as fraquezas próprias do sacerdócio levítico, cujo primeiro sumo sacerdote, conforme já tivemos ocasião de verificar, era um pecador, ainda que tenha se arrependido de seu pecado antes de ter sido guindado ao sacerdócio.
OBS: “…O termo “sacerdote” ou “sumo sacerdote” tinha se tornado genérico e comum, tanto em seu aspecto religioso como cultural. Porém, o título aplicado a Cristo sugere uma forma nova e sem igual.
O propósito desta epístola do começo ao fim é mostrar a superioridade de Cristo sobre tudo e sobre todos, como sendo um sumo sacerdote todo especial, que veio para satisfazer todas as necessidades tanto terrenas como espirituais.
Ele era perfeito e santificado tanto em seu caráter como em seu ser (Lc 1.35). Ele é um grande sumo sacerdote porque substituiu qualquer ordem ou casta sacerdotal da terra, não havendo mais necessidade de sumos sacerdotes.
Nele, o conceito sumo sacerdotal acha plena concretização, pois Ele não é apenas um entre muitos, como foram os sacerdotes levíticos, ou um dentre uma longa sucessão de sumos sacerdotes. Ele é o fim e o cumprimento dessa sucessão.…” (SILVA, Severino Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus preparou para você, Pp.77-8).
– Reside aqui, aliás, uma grande distinção entre Jesus e Arão. Assim como Arão, Jesus é um sumo sacerdote compassivo.
Embora seja Deus, conquanto esteja numa posição infinitamente superior à nossa, Ele não deixa de entender as nossas fraquezas, tendo-as, inclusive, vivenciado cada uma delas, de forma visível aos homens para que eles não tenham qualquer dúvida de que podem ser socorridos por Ele, já que em tudo foi tentado, sem jamais ter pecado (Hb.4:15).
Enquanto Arão foi vencido pelo pecado, Jesus sobre o pecado foi vencedor, demonstrando que Seu socorro é mais do que eficiente.
OBS: “…Apesar de Ele ser tão grande, e estar tão acima de nós, mesmo assim Ele é muito bondoso, e está ternamente preocupado conosco.
Ele se sente tocado pela aflição das nossas enfermidades de tal maneira como nenhum outro consegue; pois Ele mesmo foi provado com todas as aflições e problemas que são circunstanciais à nossa natureza no seu estado caído; e isso não somente para que Ele fosse capaz de reparar completamente as nossas falhas, mas para se condoer por nós.…( HENRY, Matthew. Comentário completo: Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.773).
– “…Todo o teor do argumento do apóstolo consiste em que o mesmo deve ser considerado à luz do contexto do significado da fé, porque ele não discute a natureza de Cristo em si mesma, mas de Sua natureza como Ele Se nos revela.
Ele toma semelhança no sentido daquela parte de nossa natureza pela qual significa que Cristo Se vestiu de nossos sentimentos mais do que de nossa carne, não só para revelar-nos ser Ele genuinamente homem, mas para aprender,
através da própria experiência, a socorrer-nos em nossa miséria, e não porque, como Filho de Deus, necessitasse de tal instrução, mas porque só assim poderíamos compreender a preocupação que Ele nutre por nossa salvação.
Sempre que labutarmos sob as fragilidades de nossa carne, tenhamos em mente que o Filho de Deus as vivenciou também, para que nos encorajemos por Seu poder, no caso de nos sentirmos esmagados por elas.…” (CALVINO, João.op.cit., p.112).
– “…todos os sumos sacerdotes estiveram sob a lei. Eles tiveram que confessar sua própria ignorância, eles tinham que admitir seus próprios erros e andanças, e, portanto, poderiam ter mais paciência com os outros.
Nosso Senhor Jesus Cristo não teve ignorância nem pecado, mas Ele Se tornou tão completamente um com o Seu povo, osso dos nossos ossos e carne da nossa carne, para que pudesse ter compaixão sobre nós, ignorantes e fora do caminho, como somos.
Vocês estão angustiados, meus irmãos e irmãs, porque sentem sua própria ignorância? Vocês choram porque se desviaram?
Você não precisam ir com raiva até Cristo; vocês devem se aproximar de um que será muito gentil em sua direção.
Venham com ousadia até Ele, confessem, então, sua loucura, e esperem o perdão que Ele está esperando para conceder.…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de Hb.5. Disponível em: https://www.spurgeongems.org/vols46-48/chs2689.pdf , p.7) (tradução Google adaptada por nós de texto em inglês).
– Eis o motivo pelo qual o escritor aos hebreus conclama seus leitores a que chegassem com confiança diante do trono da graça, pois, diante do sumo sacerdote que temos, Cristo Jesus, não temos que ter receio algum de não alcançarmos a misericórdia e a graça divinas, pois Jesus já venceu o pecado e nos deu acesso ao Senhor, de modo que sempre seremos ajudados em tempo oportuno (Hb.4:16).
– Neste passo, ademais, vemos mais uma distinção importante entre Jesus e Arão. Arão não tinha como dar acesso ao “lugar da misericórdia”, que era o “santo dos santos”, o local mais sagrado do tabernáculo, ao qual, inclusive, o próprio sumo sacerdote só podia entrar uma vez ao ano, no dia da expiação, não sem antes oferecer sacrifício por si próprio e pelo povo. Havia um véu que separava o lugar santo, que sempre era frequentado pelos sacerdotes, e o lugar santíssimo. Todavia, Jesus, ao morrer, fez com que se rasgasse este véu (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45) e, assim, pudéssemos ter agora acesso à presença de Deus.
OBS: “…”Vamos chegar com confiança”, diz ele, “para receber essa misericórdia que pedimos”.
Essa misericórdia é a munificência; é um presente real:
“E, para encontrar a ajuda de sua graça, quando lhe perguntamos sobre isso”.
Ele está certo em dizer:
“Quando perguntamos sobre isso”. Aborda-O agora; Ele lhe dará graça e piedade, porque você chegará a tempo.
Mas se você vier hoje, é inútil; sua chegada é inconveniente; você não pode mais percorrer o trono da graça. Você pode aparecer diante deste trono, que é ocupado pelo dispensador soberano das graças, mas uma vez que os tempos são realizados, este é o seu juiz, que está diante de você! “Levante-se, meu Deus”, diz o salmista, “e venha e julgue a terra” (Salmo 82:8)
Digamos novamente com o apóstolo:
“Aproximemo-nos com confiança”, isto é, sem nos repreender ao fazê-lo, sem hesitação; porque aquele que tem algo para se censurar, não pode se apresentar com confiança.
É por isso que é dito em outro lugar:
“Ouvi sua oração feita oportunamente, e eu ajudei você no dia da salvação”. (Is. 49:8) Pois, se aqueles que pecam, depois de receber o batismo, têm o recurso da penitência, este é um dom de graça: não acreditem, porque você ouviu que Jesus é um sumo sacerdote, que Ele permanece de pé;
São Paulo diz que Ele Se senta, embora o sacerdote normalmente não Se sente, mas fique de pé. Você vê que, se Ele foi feito sumo sacerdote, não é um dom da natureza, mas um dom de graça, um efeito de Seu abatimento voluntário e Sua humildade.
Digamos, ainda há tempo: vamos abordá-l’O com confiança e perguntar. Temos apenas para Lhe oferecer nossa fé; Ele nos concederá tudo.
Aqui está o momento de generosidade; não nos desesperamos de nós mesmos. Será hora de desesperar, quando o corredor será fechado, quando o rei entrará para ver aqueles que estão sentados no banquete, quando os patriarcas receberem em seu seio aqueles que são dignos.
Mas hoje não é a hora do desespero. O teatro ainda está lá; ainda é o momento da luta, a palma ainda é incerta.…” (CRISÓSTOMO, João. Sobre Hebreus. Homilia 7 – Apressemo-nos, então, a entrar no repouso, do temor de que algum de nós caia numa desobediência similar. Cit. Hb.4:14-5:10. n.702. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 16 nov. 2017) (tradução Google adaptada por nós de texto em francês).
– “…Este é o lugar onde todo aquele que ali chega arrependido, encontra o favor de Deus. Por esta razão somos exortados a nos aproximar deste trono com inteira confiança.
O trono que está aqui em foco é o trono de Deus, o centro de Sua glória, poder, majestade e julgamento.
Mas agora, especialmente aqui, é mencionando como fonte de graça e de misericórdia, por intermédio da obra de seu Filho bendito, que está agora assentado ao lado do Pai (Ap 3.21) assegurando-nos estas bênçãos.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.79).
– Jesus, como sumo sacerdote, permite-nos o acesso a este “lugar da misericórdia” e temos aqui mais um elemento que demonstra sua superioridade em relação a Arão, que não tinha, ele próprio, tal acesso e, portanto, não poderia oferecê-lo a qualquer outro.
– Jesus “penetrou nos céus” e, portanto, pode nos angariar acesso direito ao trono divino. Não há mais qualquer divisão entre nós e Deus, temos “livre acesso ao santo dos santos” (Hb.10:19-22).
“…A grandeza do nosso sumo sacerdote é estabelecida:
- Pelo fato de Ele ter passado para os céus. O sumo sacerdote sob a lei, uma vez por ano, desaparecia da vista do povo pelo véu, para dentro do Santo dos Santos, onde estavam os símbolos sagrados da presença de Deus; mas Cristo passou de uma vez por todas para os céus, para assumir o governo de tudo sobre si, para enviar o Espírito a preparar um lugar para o seu povo e a fazer intercessão por eles.
Cristo executou uma parte do seu sacerdócio na terra, ao morrer por nós; a outra, Ele executa no céu, ao defender a causa e apresentar as ofertas do seu povo…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.773).
– “…Esse tempo oportuno se refere ao tempo de nossa vocação, segundo a passagem de Isaías [49.8], a qual Paulo aplica à pregação do evangelho [II Co.6:2]: “Eis agora o tempo sobremodo oportuno…” O apóstolo se refere àquele dia em que Deus fala conosco.
Se Deus nos fala hoje, e prorrogamos nosso ouvir para amanhã, a morte nos visitará à noite, quando o que nos é possível agora não nos será mais possível, e inutilmente bateremos em uma porta fechada.…” (CALVINO, João. op.cit., p.116).
– O escritor aos hebreus, então, passa a explicar o papel do sumo sacerdote, que, tomado entre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que oferecesse dons e sacrifícios pelos pecados, podendo, assim, compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados, ate porque ele estava rodeado de fraqueza.
Era, por isso, que tinha o dever de fazer, tanto por si mesmo, quanto que pelo povo, oferta pelos pecados (Hb.5:1-3).
– Por isso mesmo, como já vimos, o Senhor havia escolhido Arão e seus descendentes para o sacerdócio, pois ele revelou esta capacidade de se colocar a favor do povo quando do episódio do bezerro de ouro, compreendendo a sua “inclinação para o mal”, da qual, inclusive, era participante, já que fora ele o construtor do ídolo, tendo levado, então, o povo a se arrepender e a se humilhar do mal cometido, buscando, assim, impedir a destruição da nação diante de tão grande pecado.
OBS: “…Como esse sumo sacerdote precisa estar qualificado (v. 2). 1. Precisa ser alguém que possa se compadecer de dois tipos de pessoas:
(1) Dos ignorantes, ou daqueles que são culpados de pecados de ignorância.
Ele precisa ser alguém que no seu coração consiga ter compaixão deles, e que interceda diante de Deus por eles, alguém que esteja disposto a instruir os que estão embotados no seu entendimento.
(2) Dos errados, ou dos que estão fora do caminho da verdade, da responsabilidade e da felicidade; precisa ser alguém que tenha ternura suficiente para conduzi-los de volta dos atalhos do erro, do pecado e da miséria para o caminho certo; isso vai exigir grande paciência e a compaixão de Deus.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.775).
– O autor faz questão de lembrar que, embora seja inferior a Cristo, Arão ocupava uma posição de honra e, mais do que isto, uma posição que somente um chamado por Deus poderia ocupar (Sl.105:26; Hb.5:4).
Isto nos mostra a importância que devemos dar ao chamado divino para o exercício de qualquer função na Igreja do Senhor.
OBS: “…Flávio Josefo nos informa que a honra sacerdotal era tão elevada, que até mesmo Moisés a desejou para si, dizendo:
‘…eu confesso que, se essa escolha tivesse dependido de mim, eu teria podido desejar essa honra, que porque todos os homens são naturalmente levados a desejar incumbência tão honrosa, quer porque vós não ignorais quantas dificuldades e trabalhos sofri por vosso bem e da república;
mas Deus mesmo, que destinava Arão, há muito tempo, para esse sagrado ministério, conhecendo-o como o mais justo dentre vós, o mais digno de ser honrado, deu-lhe seu voto e julgou em seu favor…’ (Antiguidades Judaicas III,9,120. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.75).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., pp.83-4).
– Israel fora um povo escolhido por Deus e somente o Senhor poderia chamar as pessoas para as funções específicas naquele povo. Somente Arão e seus filhos poderiam exercer o sacerdócio.
Na Igreja, o povo de Deus da atualidade, não é diferente: somente os que forem chamados por Deus podem exercer cada função existente no corpo de Cristo. Quem exerce função para o qual não é chamado, constitui-se em verdadeira “célula cancerosa” no corpo de Cristo e terá de ser extirpado. Lembremos sempre disto!
OBS: “…Ainda que isso fosse expresso à luz do presente caso, todavia é legítimo extrair daqui um princípio geral, a saber:
que não se deve estabelecer na Igreja nenhuma forma de governo segundo o critério humano, senão que os homens devem atentar bem para a ordenação divina; e, ainda mais, devemos seguir um procedimento de eleição preestabelecido, para que ninguém procure satisfazer seus próprios desejos.
Ambos esses pontos têm de ser cuidadosamente observados. O apóstolo está falando aqui não só de pessoas, mas também de ofício.
Ele nega, repito, que seja legítimo e santo qualquer ofício inventado pela vontade humana, sem o respaldo da autoridade divina. De acordo com a promessa de Deus de governar sua Igreja, assim ele reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem e forma de sua ad- ministração.…” (CALVINO, João. op.cit., p.122) (destaques originais).
– Jesus também foi escolhido para exercer este sumo sacerdócio, escolha esta que se deu antes mesmo da fundação do mundo.
Ele foi escolhido para ser tanto o sacerdote quanto a vítima do sacrifício (Ef.1:4; I Pe.1:19,20; Ap.13:8). Jesus não Se arrogou o sumo sacerdócio, mas foi a isto comissionado pelo Pai.
– Neste momento, o autor introduz um argumento que será desenvolvido mais adiante, qual seja, a de que Jesus é sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque (Hb.5:6),
uma ordem superior a de Arão que, conforme já vimos, foi instituída depois do fracasso espiritual de Israel que não pôde ser a “nação sacerdotal” almejada pelo Senhor naquele instante diante de sua imaturidade espiritual, que a fez, quarenta dias após a entrega da lei, entrega esta que já era uma demonstração de debilidade do povo israelita, ter quebrado logo os dois primeiros mandamentos com o episódio do bezerro de ouro.
– “…E para que não se acredite que o sacerdócio de Cristo seja semelhante ao da lei antiga, distingue-o em duas coisas:
primeiro, em relação à dignidade, porque é um sacerdócio eterno; uma vez que, por figura, era temporário e, portanto, não é perpétuo, mas transitório, em sobrevindo o figurado.
Mas o sacerdócio de Cristo é eterno, porque é de verdade, e a verdade é eterna. Da mesma forma, a vítima que é oferecida lá tem a virtude de introduzir na vida eterna. Outrossim, dura para sempre.
Em segundo lugar, distingue-o pelo rito, porque havia animais oferecidos; aqui pão e vinho; é por isso que diz:
“de acordo com a ordem de Melquisedeque”, o que será explicado abaixo.…” (AQUINO, Tomás. Comentário aos hebreus. Trad. J.L.M. Cit. Hb.4:14-5:10. n.18. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 16 nov. 2017) (tradução Google adaptada por nós de texto em espanhol).
– Jesus foi escolhido diretamente para o sumo sacerdócio, não como um “paliativo”, uma “solução provisória”, um “remédio”, como fora Arão. Muito pelo contrário, o próprio Pai o constitui para tal função ainda antes que o mundo existisse.
– E, obedientemente, sem jamais pecar, o Senhor exerceu esta função. Ele orou, diz o escritor aos hebreus, a demonstrar que sempre intercedeu pelos homens. “…Orar ‘como’ Jesus deve ser o verdadeiro exemplo a ser seguido pelos cristãos em qualquer tempo e lugar.
Orar é um dever e uma necessidade, sendo Jesus o nosso modelo por excelência!
Ele nasceu orando (Hb 10.5,7),
viveu orando (Hb 7.5),
morreu orando (Lc 23.46) e
continua orando (Rm 8.34; Hb 7.25).
Ele nos ensinou, dizendo: “Orai…” (Lc 23.40). Muitas destas orações do Senhor eram acompanhadas de “grande clamor e lágrimas”, o que mostra quebrantamento e uma intensidade tanto física como espiritual.
Sempre que orava, Jesus sabia que o Pai lhe ouvia, conforme Ele mesmo afirma: ‘Eu bem sei que sempre me ouves…’ (Jo 11.42).
Aqui Ele também ‘… foi ouvido quanto ao que temia’. Em tudo Cristo nos deu o exemplo, especialmente na oração. Ele estava sempre orando.
Orou por si mesmo, orou pelos seus discípulos e orou por nós, que ainda nem sequer existíamos (Jo 17.1,9,20).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.84).
– “…Seu ato era oferecer orações e súplicas, isto é, um sacrifício espiritual, que Cristo ofereceu.
E as orações são ditas, isto é, petições (Tg.5); súplicas, por outro lado, para o que considera a humildade daquele que ora, como as genuflexões. “Ele prostrou o Seu rosto em terra orando” (Mt.26:39).
A quem? “A Ele, isto é, a Deus Pai, que poderia salvá-l’O da morte”. Isso ele poderia fazer de duas maneiras: uma, então ele não morreria (Mt. 26); de outro, de modo que, já morto. ressuscitasse (Sl. 16; 41). A este sacrifício espiritual, ordena-se o sacerdócio de Cristo. Então concorda com o mencionado acima: “oferece dons …” (Sl. 50, Os.14).
A eficácia é mostrada pelo caminho da oração, pois, para aquele que ora, duas coisas são necessárias: um fervoroso carinho e um gemido doloroso; dois requisitos aludidos no Salmo 38: “Senhor, diante de mim é todo o meu desejo, e meu gemido não está escondido de você”.
E também Cristo orou: “com um grande grito”, isto é, com a intenção mais eficaz: “e entrando em agonia, orou mais por muito tempo” (Lc. 22:43); e clamando ele disse:
“Pai, em Tuas mãos, entrego Meu espírito” (Lc. 23); “e lágrimas”, para as quais o Apóstolo expressa o grito interno daquele que ora.
Isso não é lido no Evangelho, mas é provável que, assim como Ele derramou lágrimas na ressurreição de Lázaro, então Ele as derramou em Sua paixão; pois muitas coisas que Ele fez não foram escritas; mas Ele não chorou por Si mesmo, mas por nós,
para quem foi o benefício de Sua paixão; pois, para Si, Sua paixão fez com que merecesse a exaltação (Fp.2); pelo que “Ele foi ouvido em vista de Sua reverência”, isto é, a que para com Deus tinha acima de todos os homens (Is.11).…” (AQUINO , Tomás de. ibid.).
– Como afirma Tomás de Aquino, o autor aos hebreus faz alusão à oração de Jesus no Getsêmane, onde Cristo iniciou o Seu sacrifício, pois ali Nosso Senhor sacrificou a Sua vontade, dando início propriamente à Sua paixão, ao Seu sofrimento por nós.
Isto demonstra a grande intensidade do sacerdócio de Cristo, que Se entregou por nós, algo que jamais um sacerdote da lei poderia fazer.
OBS: “…Ele orou com lágrimas, dando assim testemunho da suprema angústia de seu espírito. Por lágrimas e forte clamor, a intenção do apóstolo é expressar a intensidade de sua tristeza, em consonância com o costume normal de fazer algo mediante sinais.
Não tenho dúvida de que ele está falando da oração contida nos evangelhos: ‘Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice’ [Mt 26.39].
E também daquela outra oração: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ [Mt 27.46].
No segundo dos casos mencionados nos Evangelhos, há um forte clamor. Enquanto que no primeiro não é possível crer que seus olhos hajam secado, já que na imensidão de sua agonia grossas gotas de sangue emanavam de todo seu corpo.
É verdade que ele se achava reduzido a uma condição extrema. Achando-se oprimido por dores reais, deveras orava ardentemente ao Pai para que fosse socorrido.…” (Calvino, João. op.cit., p.127).
– A propósito, quando da morte de Nadabe e Abiú, não foi sequer permitido que Arão lamentasse pelos filhos mortos ou Itamar e Eleazar pelos seus irmãos falecidos (Lv.10:6), o que se tornou uma regra para todo sumo sacerdote (Lv.21:10-12), a indicar um nítido limite que existia na compaixão deste sacerdócio, o que não ocorreu com o sacerdócio de Jesus.
OBS: “…Se Cristo fosse intocável por qualquer dor, então nenhuma consolação, provinda de seus sofrimentos, nos atingiria.
Mas quando ouvimos que ele igualmente suportou as mais amargas agonias em seu espírito, torna-se evidente sua semelhança conosco.…” (CALVINO, João. op.cit., p.127).
– Mas, se se faz alusão à oração do Getsêmane, como pode o escritor aos hebreus dizer que Cristo foi ouvido no que temia, se Seu pedido foi rejeitado pelo Pai e teve o Senhor de tomar o cálice que Lhe estava preparado? … De que forma foi Cristo ouvido naquilo que ele temia, quando enfrentamos aquela morte da qual ele tanto se esquivava?
Minha resposta é que devemos atentar para aquilo que constituía Seu temor. Por que Ele tremia diante da morte, senão porque via nela a maldição divina, e o fato de que Deus era contra a soma total da culpabilidade humana, e contra os próprios poderes das trevas?
Daí seu temor e ansiedade, já que o juízo divino é de tudo o que mais terrifica. Então Ele obteve o que desejava, uma vez que emergiu das dores da morte como Vencedor, foi sustentado pela mão salvífica do Pai e, após um breve conflito, granjeou gloriosa vitória sobre Satanás, o pecado e os poderes do inferno…” (CALVINO, João. op.cit., p.129).
– “…Cristo “…foi ouvido quanto ao que temia”. Como? Pois Ele foi ouvido por consolos presentes em Suas agonias, e ao ser levado através da morte, e libertado dela pela ressurreição gloriosa: Ele foi ouvido quanto ao que temia.
Ele tinha uma percepção tremenda da ira de Deus, do peso do pecado. Sua natureza humana estava disposta a afundar debaixo dessa pesada carga, e teria afundado, tivesse Ele sido completamente abandonado nos aspectos da ajuda e do conforto de Deus; mas Ele foi ouvido nisso, Ele foi apoiado nas agonias da morte.
Ele foi carregado através da morte; e não há real libertação da morte a não ser carregado através dela.
Podemos ter muitas recuperações de enfermidades, mas nunca estamos a salvo da morte até que sejamos bem conduzidos através dela.
E os que são assim salvos da morte serão completamente libertados no final por meio de uma gloriosa ressurreição, da qual a ressurreição de Cristo foi a garantia e os primeiros frutos.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.776).
– Em sendo verdadeira a tradição judaica, da qual os destinatários da carta certamente tinham conhecimento, temos aqui um outro elemento que torna o sacerdócio de Cristo superior ao de Arão. Arão, por temer a morte, acabou pecando, submetendo-se à vontade do povo, fabricando o bezerro de ouro, edificando um altar a ele e convocando o povo para uma festa ao Senhor, enquanto que o Senhor Jesus, mesmo sabendo que iria morrer, aceitou morrer em favor dos homens, edificando um altar a Deus, para nele Se sacrificar, para que, pela ressurreição, chamasse o povo para um verdadeira festa ao Senhor, que ocorrerá quando do arrebatamento da Igreja.
– Jesus foi obediente e obediente até a morte (Fp.2:8), ao passo que Arão, tendo sido guindado ao sumo sacerdócio após ter praticado um ato de desobediência, do qual se arrependeu e levou as pessoas a se arrepender, tornou a tentar a Deus, no episódio das águas de Massá e Meribá, juntamente com Moisés e, por isso, foi impedido de ingressar na Terra Prometida (Nm.20:10-13. 20:22-28).
– Por ter sido obediente até a morte, Jesus ressuscitou e agora vive para todo o sempre (Ap.1:18), motivo pelo qual Seu sacerdócio é eterno.
Arão, por sua vez, por ter voltado a desobedecer ao Senhor, não só foi impedido de ingressar na Terra Prometida, como também teve de passar a outro o seu sacerdócio, ao seu filho Eleazar, demonstrando, assim, que seu sacerdócio era temporário.
– O sacerdócio de Cristo venceu a morte e, por isso mesmo, é Cristo “a causa de eterna salvação para todos os que Lhe obedecem” (Hb.5:9), enquanto que o sacerdócio de Arão não teve o condão de trazer salvação aos obedientes, mas tão somente conseguia adiar a punição dos ignorantes e errados até que viesse um sacrifício que pudesse trazer a efetiva salvação do pecado.
– “…O autor sagrado apresenta Cristo como sendo a ‘causa’ e o ‘efeito’ da salvação da pessoa humana.
Isto é, Ele é o motivo e o meio pelo qual o homem pode se chegar a Deus. O leitor deve observar bem que a ‘causa’ aqui é Cristo. Ele veio a ser a causa de eterna salvação.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.87).
– “…Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imitá-la. O apóstolo subentende que os frutos dela não vêm a qualquer um, senão somente àqueles que são obedientes.
Ao dizer isso, ele nos recomenda a fé, pois nem ele nem Seus benefícios se tornam nossos, a não ser na medida em que os recebemos, a ele e a Seus benefícios, por meio da fé.…” (CALVINO, João. op.cit., p.132).
– Por isso, o autor aos hebreus mostra que a ordem do sacerdócio de Cristo era superior ao sacerdócio levítico, chamando tal ordem de “ordem de Melquisedeque”, o que se dispõe a explicar posteriormente.
Ev. Caramuru Afonso Francisco