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LIÇÃO Nº 5 – JESUS ESCOLHE SEUS DISCÍPULOS

    lição 05

 Ser discípulo de Jesus é crer n’Ele e seguir-Lhe as pisadas.   

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INTRODUÇÃO

  – Na sequência do estudo do Evangelho segundo Lucas, analisaremos o conceito de discípulo de Cristo Jesus neste Evangelho.

– Ser discípulo de Jesus é crer n’Ele e seguir-Lhe as pisadas.

I –  O CONTEÚDO DA MENSAGEM DO MINISTÉRIO TERRENO DE JESUS

 – Na sequência do estudo do Evangelho segundo Lucas, nosso comentarista propõe que analisemos o conceito de discípulo no terceiro evangelho.

– Sabemos que ser “discípulo” é ser aprendiz, é ser aluno, pois é isto que significa a palavra discípulo. O seguidor de Cristo é, sobretudo, um “discípulo”, alguém que está sempre a aprender de Jesus, que é o Mestre por excelência (Mt.23:8,10). A propósito, se houve um título que Jesus jamais recusou foi o de Mestre (Jo.13:13).

– Não é à toa que, no relato dos Evangelhos, Jesus apareça mais ensinando do que pregando, a nos mostrar que seguir a Cristo é um contínuo aprendizado, pois somente aprendendo d’Ele encontraremos descanso para as nossas almas (Mt.11:29).

– Jesus disse que nenhum discípulo é superior ao seu mestre e que somente seremos perfeitos se nos amoldarmos ao Mestre (Lc.6:40), se nos conformarmos à imagem de Deus, que é Cristo (Rm.8:29; II Co.4:4; Cl.1:15; Hb.1:3).

– Portanto, a vida espiritual é um contínuo aprendizado, no qual nós nos transformamos pela renovação do nosso entendimento, para que possamos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:2), e, fazendo a vontade de Deus, podermos desfrutar da vida eterna, pois só quem faz a vontade do Senhor permanece para sempre (I Jo.2:17).

– Aprender de Jesus é, pois, indispensável para que tenhamos crescimento espiritual, cheguemos à estatura de Cristo, a varão perfeito (Ef.4:13), é condição “sine qua non” para que atinjamos a glorificação, ou seja, para que estejamos em condição de ser arrebatados e vivermos com Cristo para todo sempre.

– Por isso é importantíssimo que saibamos o que Jesus tem a nos ensinar, qual o objetivo de Seu ministério terreno, pois, sendo Seus aprendizes, somos os continuadores da pregação do Seu Evangelho e necessitamos, grandemente, de nos amoldar ao Seu exemplo, algo que Lucas bem nos demonstra, já que foi aquele escolhido pelo Espírito Santo para nos mostrar Jesus como o homem perfeito, como o padrão que devemos seguir em nossa peregrinação terrena.

– Por isso, é fundamental que nós saibamos qual é o conteúdo do ministério terreno de Cristo, para que possamos dar a ele continuidade, e isto o evangelista Lucas nos mostra logo após ter narrado a tentação de Jesus.

– Logo após a narrativa da tentação de Jesus, Lucas nos informa que o Senhor, pela virtude do Espírito, voltou para a Galileia, iniciando, então, o Seu ministério, tendo logo ganhado fama por todas as terras em derredor (Lc.4:14).

– Mais uma vez, o médico amado esclarece que toda a ação de Jesus era feita pela virtude do Espírito Santo, algo que voltaria a enfatizar no livro de Atos. Seus discípulos, também, devem agir pela virtude do Espírito, devem ter o poder do Espírito Santo, sem o que não poderão jamais dar continuidade à obra iniciada pelo Senhor Jesus.

– Jesus ensinava nas sinagogas e por todos era louvado (Lc.4:15), a mostrar que o ministério de Cristo era, sobretudo, de ensino, e Seus discípulos precisam, pois, também ensinar, mas, para ensinar, temos de aprender. Jesus é a própria Sabedoria e nós precisamos, pois, aprender com Ele.

– Em seguida, o evangelista narra a visita que o Senhor faz a Nazaré, quando já estava famoso em virtude de sua pregação na Galileia, ocasião em que pregou na sinagoga, mostrando qual era o conteúdo de Seu ministério, algo fundamental para que saibamos o que deve aprender o discípulo de Cristo Jesus.

– Em Nazaré, aldeia onde fora criado, o Senhor Jesus entra, num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e se levantou para ler as Escrituras, certamente porque foi convidado a tanto pelo presidente (Lc.4:16).

– Já nesta narrativa de Lucas, temos muito a aprender. Por primeiro, que Jesus era uma pessoa inserida na sociedade de Sua época, indo à sinagoga no dia de sábado, tendo este costume. Se quisermos dar prosseguimento à obra de Cristo, temos de ser pessoas que estão inseridas na sociedade, que compartilha da vida social, não pessoas que estejam alheia ao convívio, que se mantenham como monges enclausurados nas quatro paredes dos templos.

– Precisamos estar inseridos na vida social, sem que isto signifique compartilhar do pecado e da corrupção que existem no mundo. O Senhor disse que somos “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt.5:13-16) e não é possível que sal e luz tenham efeito a menos que estejam inseridos seja na comida, seja no meio das trevas, sendo, porém, distintos tanto do alimento quanto da escuridão.

– Jesus levantou-se para ler as Escrituras porque foi convidado a fazê-lo. Certamente, sua fama tinha chegado a Nazaré e aquele povo estava surpreso em saber que aquele carpinteiro estava a trazer a pregação do Evangelho, que estava a dizer que era o Cristo. Sua escolha mostra que o povo via n’Ele uma pessoa idônea e santa, apta para ler as Escrituras.

 Era resultado de Seu testemunho. Afinal de contas, durante os vinte e cinco anos em que viveu em Nazaré, o Senhor jamais dera motivo de escândalo, era um homem piedoso e temente a Deus.

OBS: “…’A liberdade da sinagoga’ pressupunha que qualquer pessoa considerada idônea pelo dirigente (ou pelos dirigentes) da sinagoga tinha o privilégio e era estimulada a pronunciar o sermão. Cf. Atos 13.15.…” (HENDRIKSEN, William. Trad. de Valter Graciano Martins. Lucas, v.1, p.341).

– Aprendemos, com isto, que, para sermos discípulos de Cristo, devemos igualmente ser piedosos e tementes a Deus, sermos reconhecidos como “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeçamos como astros no mundo” (Fp.2:15). Sermos vistos como “diferentes” de toda a podridão que existe neste mundo, como Abraão, que era chamado de “o hebreu”, ou seja, “aquele que é do outro lado do rio”, aquele que é o diferente (Gn.14:13).

– Jesus recebe o livro de Isaías, que era o mais longo rolo das Escrituras hebraicas (o livro de Salmos era dividido em cinco rolos, o que faz do livro de Isaías o maior dos rolos existentes na sinagoga) e é dito que Ele achou onde estava escrito (Lc.4:17). Temos aqui uma outra lição importante para aprender com Jesus: precisamos ter domínio do conteúdo das Escrituras, precisamos conhecer a Palavra de Deus.

– O trecho lido pelo Senhor Jesus na sinagoga de Nazaré é o capítulo 61 do livro do profeta Isaías, onde o profeta falava a respeito do Messias e de Sua missão, que Seus discípulos devem continuar.

– Por primeiro, Jesus apresenta-Se como o Ungido, o Messias, o Cristo, pois diz que “o Espírito do Senhor é sobre Mim, pois Me ungiu”.

Jesus é o Cristo, o Messias, Aquele que veio restabelecer a amizade entre Deus e o homem. Ser discípulo de Jesus é, portanto, reconhecer que Ele é o Messias, que Ele é o único Mediador entre Deus e os homens (I Tm.2:5; Hb.8:6; 9:15; 12:24), mediador de uma nova aliança firmada sobre o Seu sangue, que tirou o pecado do mundo.

– Vivemos dias em que muitos que cristãos se dizem ser já não pensam que Jesus seja o Cristo. Como assim? São pessoas que relativizam a obra salvífica do Senhor Jesus, que tomam três caminhos extremamente perigosos e que devem ser descartados.

– Por primeiro, acham que a mediação de Cristo é insuficiente e, por isso, criam outros “medianeiros”, outros “intermediários” para terem comunhão com Deus, sejam “santos”, seja Maria, sejam “pais espirituais”. Devemos aprender única e exclusivamente de Cristo, Aquele que foi ungido pelo Espírito Santo para evangelizar.

– Por segundo, acham que a mediação de Cristo numa nova aliança deva ser complementada pela antiga aliança. São os judaizantes, que recorrem à lei como um inadmissível critério para obtenção da salvação. Por isso, estão a querer restaurar o velho concerto, retomando os preceitos da lei tais como a guarda dos sábados, a celebração de festividades judaicas, a retomada do cerimonial da lei.

– Por terceiro, acham que a mediação de Cristo não é exclusiva, que há “outros meios de salvação”, adotando uma linha muito similar à doutrina da Nova Era, sendo, na verdade, arautos do “espírito do Anticristo”, linha esta que adota o ecumenismo e que confunde “diálogo inter-religioso” com comunhão com quem não vê a Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador.

– Jesus disse que havia sido ungido para “evangelizar os pobres”. Jesus veio pregar o Evangelho, Evangelho que Marcos denomina de “Evangelho do reino de Deus” (Mc.1:14), cuja mensagem é “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15).

– Jesus veio dizer ao mundo que se cumpriu a promessa dada no Éden ao primeiro casal que “da semente da mulher” viria um que restabeleceria a comunhão entre Deus e os homens, comunhão esta que, porém, exige o arrependimento dos pecados. Deus veio ao encontro do homem e o homem, para ter comunhão com Deus, precisa se arrepender dos seus pecados, deles pedir perdão e, crendo em Cristo, passar a obedecer a Deus.

– Jesus veio evangelizar “os pobres”, ou seja, aqueles que reconhecem que são dependentes de Deus, que precisam de Deus, que não são autossuficientes. Aqui não se trata de pobreza financeira, de uma classe social, como entendeu equivocadamente a teologia da libertação, mas, sim, daqueles que sabem que precisam de Deus, no sentido mesmo que encontram no Sl.40:17.

Como ensina William Hendriksen: “…A palavra grega traduzida para ‘pobres’ ocorre também nas Beatitudes (Mt 5.3; Lc 6.20). O Orador em Isaías estava pensando nos desamparados, naqueles que tinham consciência dessa condição. Isaías 66.2 fornece um bom comentário: ‘O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra’.…(op.cit., v.1, p.343).

– Jesus veio para curar os quebrantados do coração, ou seja, aqueles que se abrem para Deus, que nascem de novo, que rompem com o pecado e aceitam se submeter a Deus. O salmista já dizia que 0 Senhor está perto daqueles que têm o coração quebrantado (Sl.34:18) e que Deus não despreza a um coração quebrantado (Sl.51:17). Jesus veio curar os quebrantados do coração, veio dar saúde espiritual àqueles que se arrependem de seus pecados.

– Como discípulos de Jesus, por primeiro, devemos ter este coração quebrantado, devemos, antes de mais nada, aceitarmos ser curados pelo Senhor Jesus e, depois, levarmos esta mensagem aos homens, para que eles se arrependam dos seus pecados e aceitem ser reconstruídos por Cristo.

– Jesus veio para dar liberdade aos cativos e esta libertação é a libertação do pecado (Jo.8:34-36). É a luz que veio dar vista aos cegos (Jo.1:9; 8:12; 12:46), que veio anunciar o ano aceitável do Senhor, ou seja, o tempo da dispensação da graça, o tempo em que Deus abre a oportunidade de salvação para todos os homens indistintamente.

– É este o conteúdo da mensagem do ministério de Jesus Cristo, que deve ser aprendido e anunciado pelos Seus discípulos. Jesus, após ler o livro, disse que aquela profecia se cumpria naquela data e todos se admiraram das Suas palavras de graça, mas, mesmo assim, foi ele rejeitado pelos nazaritas, pois o Senhor disse que não faria ali os sinais que fizera em Cafarnaum e, como resultado disto, foi expulso da sinagoga, tentando, mesmo, precipitá-lo em um monte da cidade, mas, milagrosamente, saiu do meio deles e retornou a Cafarnaum, onde fixara residência (Lc.4:23-32).

– A rejeição de Jesus em Nazaré é outra lição que aprendemos com o Senhor a respeito do significado de ser discípulo de Cristo. O próprio Senhor disse que se o mundo aborreceu o Mestre, certamente há de rejeitar também os discípulos (Jo.15:18-25).

O discípulo de Cristo deve entender que será odiado pelo mundo sem causa. Aprender de Jesus tem um preço a pagar, não é sem razão que o Senhor Jesus, ao revelar o grande mistério da Igreja, de imediato Se referiu às portas do inferno que se levantariam contra ela (Mt.16:18).

– Lucas, ao narrar a rejeição de Jesus em Nazaré, antecipa a rejeição que o mundo teria em relação aos discípulos de Cristo.

II – A ESCOLHA DOS PRIMEIROS DISCÍPULOS DE JESUS  

– Dentro do propósito que nos é trazido pelo comentarista, após termos visto qual é a mensagem de Cristo, qual é a mensagem que temos de aprender do Senhor para dar continuidade à Sua bora e os efeitos da transmissão desta mensagem, vejamos como Lucas relata a escolha dos discípulos.

– Lucas, no início do seu capítulo 5, narra que a multidão apertava Jesus para ouvir a Palavra de Deus, estando junto ao lago de Genezaré. Vemos aqui a extrema necessidade que o povo tinha de ouvir a Palavra de Deus e de que, como após quatro séculos de silêncio profético, havia verdadeira fome de ouvir a voz de Deus através deste “novo profeta”.

– Jesus, então, pede emprestado o barco de um pescador, chamado Simão, para servir de púlpito para o Mestre e, dali, ensinou o povo. Jesus dava prioridade a ensinar o povo. Como diz Matthew Henry: “…O povo se congregava em torno dele (este é o significado da palavra); eles demonstravam respeito pela sua pregação(…)o seu objetivo e levar – nem tanto os poderosos – mas muitos filhos a Deus.

Foi predito a respeito do Senhor Jesus que o povo o seguiria. Cristo era um pregador popular; e embora Ele fosse capaz – aos doze anos – de disputar com os doutores, Ele escolheu – aos trinta – pregar para a multidão dos populares.

Veja como o povo apreciava uma boa pregação, embora debaixo de todas as desvantagens externas: eles apertavam para ouvir a Palavra de Deus. Eles puderam perceber que era a Palavra de Deus, pelo poder e pelas evidências divinas que a acompanhavam, e então ambicionavam ouvi-la.…” (Comentário bíblico completo – Novo Testamento – Mateus a João. Trad de Degmar Ribas Júnior, p.555).

– Depois do ensino, mandou que Simão fosse ao mar alto e lançasse as redes para pescar, isto depois de uma noite de trabalho infrutífero, pois Simão e os outros pescadores estavam lavando as redes quando Jesus lhe pedira “emprestado” o barco.

Apesar da ordem inusitada, Simão obedeceu e o resultado foi uma pesca maravilhosa, sendo apanhados muitos peixes, que quase levaram o barco a pique. Simão, então, prostrou-se diante de Jesus e se reconheceu um homem pecador, assim como Tiago e João, filhos de Zebedeu ficaram impressionados com aquele episódio. Jesus, então, os chamou para serem “pescadores de homens” e estes três, prontamente, deixaram tudo e O seguiram (Lc.5:4-11).

– Lucas mostra-nos que, para ser discípulo de Cristo, é necessário que nos reconheçamos como pecadores, reconhecimento este que resulta de um encontro particular e pessoal com o Senhor Jesus. Não é possível querermos aprender de Jesus se não reconhecermos que somos pecadores, que não merecemos a presença de Jesus em nós.

– Pedro se prostrou diante de Jesus, reconhecendo, assim, a Sua divindade. Precisamos, a exemplo de Pedro, reconhecer a nossa miserável condição de pecadores e adorarmos a Cristo, reconhecendo a Sua divindade. Pedro, porém, havia pedido que o Senhor Se ausentasse dele, pois não sabia, ainda, que Jesus viera para nos levar ao encontro de Deus, não para nos condenar, mas, sim, para nos salvar (Jo.3:17).

– Jesus chama aqueles pescadores para serem “pescadores de homens”. O discípulo de Cristo precisa ter esta consciência de que deve ser preparado por Cristo para ganhar almas para o reino de Deus. Ser discípulo de Cristo é ser Sua testemunha (At.1:8) e a testemunha é uma prova, é alguém que comprova algum fato. Ser discípulo de Cristo é ser a prova de que Jesus veio, efetivamente, trazer a libertação do pecado, a comunhão com Deus.

– Lucas, então, narra a chamada de Levi, o publicano (Lc.5:27-32). O simples fato de Levi (que é Mateus), ser um publicano, já mostra que Jesus não faz acepção de pessoas, chama a todos e quer que tido tipo de pessoa O siga e d’Ele aprenda.

Os publicanos eram execrados pela sociedade judaica, considerados traidores da Pátria, uma vez que trabalhavam para os dominadores romanos, sendo agentes da grande exploração e da opressão sofrida pelos judeus. Não raras vezes, ademais, os publicanos eram corruptos e se enriqueciam ilicitamente.

– Jesus viu Levi assentado na recebedoria e lhe disse para que ele O seguisse. Levi deixou tudo, levantou-se e O seguiu. Algum tempo depois, Levi fez um grande banquete em sua casa, convidando para ele seus colegas de trabalho.

Jesus foi também a este banquete, o que causou a censura dos escribas e fariseus, tendo, então, o Senhor dito a eles que os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão enfermos, tendo dito que tinha vindo chamar não os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento (Lc.5:27-32).

– Na chamada de Levi, aprendemos que o Senhor Jesus chama os discípulos para transformá-los, para curá-los, para mudar o seu caráter. Levi era um publicano e, além da censura social, também não deveria ter bom comportamento, mas, ao seguir a Cristo, tem prazer em chamar seus antigos colegas de trabalho para conhecerem a Jesus. Ser discípulo de Cristo é estar pronto a mudar de caráter e a levar Jesus a todos que com ele conviviam antes de seu chamado. Temos feito isto?

– Mas Lucas faz questão também de relatar a escolha dos “doze”, daqueles que seriam mais próximos a Cristo e responsáveis pelo lançamento dos fundamentos de Sua obra e de Sua igreja após o término de Seu ministério terreno.

 Lucas conta-nos que Jesus subiu ao monte para orar e passou a noite em oração a Deus e, quando já era dia, chamou a Si os Seus discípulos e escolheu doze deles, a quem deu também o nome de apóstolos (Lc.6:12,13).

– Jesus não escolheu aleatoriamente, nem por um capricho Seu. Pelo contrário, passou a noite em oração, para que, pelo Espírito Santo e em perfeita unidade com o Pai, fizesse a escolha daqueles que ficaram à frente da Igreja, que seriam Seus “representantes autorizados”. Ao nomear estes “doze” de “apóstolos”, ou seja, “enviados”.

 “…’Enviados’ de um rei eram considerados como o rei em pessoa, a ponto de que as ofensas feiras a eles eram consideras como ofensas feitas ao próprio rei, como fica claro no episódio entre Davi e o rei Hanum, que desonrou os enviados de Davi para consolá-lo acerca da morte de seu pai(…) (II Sm.10:1-6)…( LOPES, Augustus Nicodemus. Apóstolos: a verdade bíblica sobre o apostolado, p.29).

– Aprendemos nesta passagem que nem todos os discípulos têm a mesma função. Jesus tomou estes doze dentre os Seus discípulos, prova de que havia outros discípulos que não foram escolhidos para ser “apóstolos”. Assim, o discipulado de Cristo envolve várias áreas e várias tarefas, algo que o apóstolo Paulo haveria de dizer ser “o corpo de Cristo”, a nos mostrar que devemos sempre seguir a Cristo na Igreja, pois ada um tem uma determinada função e cada um depende do outro para que a obra de Deus seja executada.

III – O CARÁTER E A MISSÃO DOS DISCÍPULOS DE JESUS  

– Após termos visto como Lucas relata a escolha de Seus discípulos, devemos agora ver o que os discípulos representavam para o Senhor Jesus e qual a missão que lhes confiou segundo o médico amado.

– É elucidativo que, após ter mencionado a escolha dos doze apóstolos, Lucas registre o chamado “sermão da planície”, que é o correspondente lucano do “sermão do monte” de Mateus, assim chamado porque o evangelista diz que Jesus parou num lugar plano, onde passou a ensinar, embora a multidão que viera para aquele lugar estivesse interessada em ter a cura de suas enfermidades físicas (Lc.6:17-19).

– Ora, este sermão da planície traz a síntese de toda a doutrina de Cristo, a nos ensinar que, para ser discípulo de Jesus, devemos parar com Jesus “no lugar plano” para ouvir os Seus ensinos, para aprendermos d’Ele.

Temos de “parar com o Senhor”, termos um instante para, longe do corre-corre de nossas vidas, ouvirmos a Sua voz e apreendermos o conteúdo de Seu ensino, de Sua doutrina.

– Lucas diz que o Senhor Jesus levantou os olhos para os Seus discípulos e passou a lhes ensinar (Lc.6:19). Esta expressão do evangelista mostra que Jesus quer ter um contato direto conosco, quer nos mostrar o caminho que devemos seguir.

– Neste sermão, Jesus mostra qual deve ser o caráter de Seus discípulos que, por serem Seus discípulos, são bem-aventurados, ou seja, mais do que felizes.

– A primeira bem-aventurança, ou seja, a primeira característica dos discípulos de Cristo é a de ser pobre (Lc.6:20), ou seja, ser dependente de Deus, ser alguém que reconhece a sua pequenez e a sua necessidade de Jesus. O discípulo deve ser humilde, deve reconhecer a sua miséria e abandonar a autossuficiência e o orgulho que são propostos por Satanás.

– A segunda característica é a de ser faminto (fls.21), ou seja, a de ter fome da Palavra de Deus, de ter prazer em se alimentar espiritualmente, em se nutrir das Sagradas Escrituras.

– A terceira característica é a de ser um chorão (Lc.6:21), ou seja, alguém que não folgue com a injustiça e a maldade que existem no mundo, que lamente a presença do pecado e do mal e que se aflija por este estado espiritual trágico em que vive a humanidade.

– A quarta característica é o ódio do mundo contra o discípulo por causa do Filho do homem (Lc.6:22), o que reforça, uma vez mais, o que já dissemos antes, que a nossa condição de discípulos de Jesus faz com que sejamos odiados pelo mundo, perseguidos e tidos como maus.

– Jesus, então, diz aos discípulos que eles deveriam amar os seus inimigos, bendizer os que os maldizem e orar pelos que os caluniam, fazendo sempre aos homens o que quisessem que os homens fizessem por eles (Lc.6:27-31).

– Jesus mostra, ainda, aos Seus discípulos que eles deveriam ser perfeitos como o seu mestre (Lc.6:40), pondo-se, assim, como exemplo a ser seguido, como o padrão a ser observado.

– Vemos, assim, que o aprendizado do discípulo de Cristo é contínuo e ininterrupto. Ser igual ao Senhor é um limite a ser sempre buscado, embora não seja jamais atingível, motivo por que vemos a extrema necessidade que tem o discípulo de Jesus de ser devidamente treinado e cada dia mais aperfeiçoado. Por isso, não se pode permitir o que existem em muitas igrejas locais na atualidade, a saber, um total desprezo e menosprezo pelo estudo doutrinário, a começar pela Escola Bíblica Dominical.

– O discípulo de Cristo deve ser alguém que faça o que Jesus diz (Lc.6:46), de modo que ser discípulo de Jesus não é apenas ter conhecimento teórico, mas ter, também, uma prática de acordo com os ensinamentos.

Este treinamento do discípulo de Cristo não envolve apenas um desenvolvimento intelectual, mas uma mudança de vida, que o faça cada vez mais parecido com Jesus, até porque quem ouve e não pratica é como o homem que edifica sem alicerces e que tem grande ruína quando sobrevém a corrente com ímpeto (Lc.6:48,49).

– Este discípulo que assim proceder ganhará tanta intimidade com o Senhor, que passará a fazer parte da família d’Ele. Com efeito, Lucas faz questão de relatar o episódio que envolveu Jesus e Seus familiares (Lc.8:19-21), quando o Senhor chamou de “Minha mãe e Meus irmãos aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a executam”.

– Aprender de Jesus é, portanto, não só ouvir as Suas Palavras mas as pôr em prática, criando, assim, laços firmes com o Senhor Jesus, pertencendo à “família de Deus” (Ef.2:19).

– Exatamente por isso, o discípulo não é chamado apenas para ouvir, mas pôr em prática o que ouviu e aprendeu. Lucas, então, diz que Jesus convocou os doze e lhes deu virtude e poder sobre todos os demônios e para curarem enfermidades, tendo-os enviado para pregar o reino de Deus e a curar os enfermos (Lc.9:1,2).

– É oportuno observar que os discípulos somente foram enviados depois que haviam ficado um tempo na companhia de Jesus aprendendo com Ele. Como diz Matthew Henry: “…agora o Senhor enviou os seus doze discípulos a outras terras, e neste momento já estavam muito bem instruídos sobre a natureza da presente dispensação, sendo capazes de instruir outros e entregar a eles o que haviam recebido do Senhor.…” (op.cit., p.585).

– Nosso Deus é um Deus de ordem e não de confusão (I Co.14:33), de modo que jamais admite que a Sua obra seja feita de improviso, sem a devida preparação. Ao longo de todas as Escrituras, vemos o Senhor pacientemente preparando aqueles que chama para a Sua obra, como é o caso, entre outros, de Moisés, Davi e Paulo.

Querer confundir o preparo com “formalismo” ou “frieza espiritual” é algo totalmente sem respaldo bíblico e que somente tem o objetivo de justificar a preguiça e leniência de alguns.

– Notamos, portanto, que os discípulos não devem apenas “ouvir os ensinos de Jesus”, mas, também, deveriam fazer um “estágio”, pondo em prática aquilo que haviam aprendido.

– Lucas deixa-nos bem claro que os discípulos (e não somente os doze, porque, no capítulo dez também envia “outros setenta” – Lc.10:1) tinham como missão fazer a mesma obra que Jesus estava a realizar.

– Por primeiro, foi necessário que o Senhor lhes desse virtude e poder. Ser discípulo de Jesus exige que tenhamos dois pontos principais: a meditação na Palavra de Deus e a busca do poder de Deus.

– Ser discípulo de Cristo é, em primeiro lugar, ouvir atentamente à Sua Palavra. Cristo diz que os Seus discípulos são aqueles que ouvem a Sua Palavra e a praticam e, portanto, necessário se faz ouvir a Palavra de Deus. Não há como ser discípulo de Jesus se não se estiver permanentemente ouvindo os ensinos do Senhor, ensinos estes que se encontram na Bíblia Sagrada, que é a testemunha de Jesus (Jo.5:39).

– É preocupante, pois, vermos hoje pessoas que cristãs se dizem ser e que não leem as Escrituras, não participam de quaisquer reuniões de ensino em suas igrejas locais, notadamente a Escola Bíblica Dominical. Se não ouvem a Palavra de Deus, como podem querer ser consideradas como discípulos de Cristo?

– Mas não basta apenas ouvir a Palavra. Torna-se indispensável que a pratique, ou seja, que o aprendizado se demonstre através de uma vida que esteja de acordo com a Palavra, através de um comportamento que demonstre ter a Palavra produzido uma mudança na maneira de viver.

Não é por outro motivo que o Senhor Jesus disse que “ o homem bom do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca” (Lc.6:45) e que só pode ser Seus discípulo aquele que faz o que Ele diz (Lc.6:46). Ouvir a Palavra e não a praticar é se candidatar a ter uma grande ruína na sua vida (Lc.6:48,49).

– Mas não basta ouvir e praticar a Palavra de Deus. O discípulo de Jesus, para poder realizar a missão que lhe é confiada, precisa receber a virtude e o poder de Jesus. Só se é autêntica testemunha de Cristo se se tem o poder e a virtude recebida diretamente de Jesus. Jesus deu poder e virtude aos discípulos, para que eles pudessem expulsar os demônios e curar os enfermos.

– Os sinais seguem os que creem (Mc.16:17) e Jesus convocou os doze para que fossem pregar o Evangelho e confirmassem esta Palavra com expulsão de demônios e cura de enfermos (Cf. Mc.16:20).

– O discípulo de Jesus precisa estar revestido de poder, precisa buscar o poder de Deus. Temos de nos preparar tanto intelectual, quanto moral e espiritualmente. Não podemos cumprir nossa missão se não conhecermos a Palavra de Deus e se ela não produzir em nós mudança de comportamento, mas temos, também, de ter a virtude e o poder de Cristo para realizar sinais, prodígios e maravilhas.

– Jesus disse que erramos quando não conhecemos as Escrituras nem o poder de Deus (Mt.22:29; Mc.12:24). O discípulo de Jesus precisa ter o poder de Deus e, para recebê-lo, torna-se indispensável que, a exemplo de Jesus, tenha uma vida de oração e de jejum, para que os céus estejam abertos sobre ele (Lc.6:21) e tenha poder de resistir e vencer as hostes espirituais da maldade (Lc.4:1,2).

– Lucas dá-nos uma antecipação daquilo que seria a missão dos discípulos de Cristo. Neste “estágio”, os discípulos deveriam apenas pregar para os judeus, mas, após a Sua morte, ressurreição e ascensão, deveriam fazê-lo a partir de Jerusalém mas até os confins da terra (At.1:8), o que foi feito efetivamente, como narra o médico amado no livro de Atos, livro, por sinal, que não tem um “amém”, a nos mostrar que a obra prossegue até o arrebatamento da Igreja.

– É preocupante vermos, pois, em nossos dias, que muitos que cristãos se dizem ser não busquem o poder de Deus, não frequentem reuniões de oração em suas igrejas locais, igrejas estas, aliás, que têm diminuído sensivelmente, em suas programações, reuniões deste tipo.

Não vemos mais tantas vigílias, como antigamente, e as que se realizam (não consideramos aqui sequer as “minivigílias” que se criaram…) têm muito pouco tempo de efetiva oração. Estão a rarear os batismos com o Espírito Santo e os dons espirituais, havendo cada vez mais a substituição do real poder de Deus por manifestações de frenesi e de histeria, que nada mais são que manifestações carnais, que nada têm que ver com o Espírito de Deus.

– O poder e a virtude foram dados por Jesus, tanto aos doze (Lc.9:1), como aos setenta (Lc.10:9), poder este que tinha por objetivo expulsar os demônios e curar os enfermos. É Jesus quem cura e quem liberta, devendo Seus discípulos ter intimidade com Ele para receberem tal poder e o colocarem em prática.

– A missão dos discípulos deve ser exercida com outro importante ingrediente: a fé em Jesus. O Senhor disse, tanto aos doze quanto aos setenta, que não deveriam levar com eles para o caminho nem bordões, nem alforjes, nem pão, nem dinheiro, nem que tivessem dois vestidos (Lc.9:3; 10:4), expressões que nos mostram que os discípulos deveriam confiar única e exclusivamente no Senhor e não levar nada além do absolutamente necessário para realizar a obra.

– O discípulo de Jesus é alguém que reconhece Sua dependência do Mestre e que somente se utiliza do absolutamente necessário nesta vida para realizá-la, que não procura “complementar” com algo seu aquilo que vem da parte de Deus.

OBS: “.Então o Mestre diz aos Doze que nessa viagem (compare com Lc.22.36) não devem levar nada além do absolutamente necessário.…” (HENDRIKSEN, William. Lucas, v.1, p.630).

– O discípulo de Jesus deve, ainda, saber que sua missão será realizada em ambiente hostil, que é o mundo, que está no maligno (I Jo.5:19). O Senhor foi claríssimo ao mostrar aos setenta que eles eram enviados como “cordeiros no meio de lobos” (Lc.10:3).

Apesar de sua sublime missão e do poder recebido, o discípulo de Cristo deve saber que será hostilizado, que não será bem recebido em seu trabalho e serviço para Deus.

– É preocupante vermos hoje pessoas que cristãs se dizem querer ser “celebridades”, alcançar “popularidade” no mundo, quando, na verdade, somos verdadeiros cordeiros no meio de lobos, pessoas que serão odiadas quando exercerem seu ministério, exatamente como o seu Mestre e Senhor.

Não nos esqueçamos de que não é característica do discípulo de Jesus ser bem falado e aceito pelo mundo, pois esta é uma credencial própria dos falsos profetas (Lc.6:26).

 OBS: Como diz Charles Spurgeon: “…“…’Indefeso, inofensivo, no meio daqueles que devorariam vocês se Eu não os tivesse enviado. Seria imprudência prosseguir nesta causa, mas Eu vos envio e Aquele que manda Seus cordeiros no meio dos lobos irá tomar contas deles’.

E tenho frequentemente feitos vocês lembrarem que os cordeiros e as ovelhas são indefesos e, no entanto, apesar de tudo, há mais ovelhas no mundo do que lobos. E embora pareça que os lobos devorarão rapidamente as ovelhas, os lobos foram extirpados da maioria dos países e as ovelhas aind são estimadas — e o serão até o fim…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de Lc.10:1-22 :anexo ao sermão Os ministros escolhidos do Senhor, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols37-39/chs2319.pdf Acesso em 26 fev. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

– Apesar da hostilidade do ambiente, os discípulos deveriam ter um comportamento exemplar, permanecendo na casa em que fossem acolhidos, indicando, assim, não só estabilidade, mas uma perfeita identificação de onde estariam para que pudessem ser procurados e encontrados.

– O discípulo de Cristo deve demonstrar estabilidade, deve ter um comportamento social que lhe confira dignidade e crédito, sem qualquer intuito explorador, tanto que deveria “comer e beber o que eles tiverem” (Lc.10:7).

– O discípulo de Cristo deve, pois, ser uma pessoa transparente, que não queira se destacar das pessoas entre as quais convive, mas que tenha empatia com o povo, que não se queira diferençar socialmente daqueles que estão à sua volta.

– O discípulo de Cristo, porém, deve, ao lado da mensagem da vinda do reino de Deus, anunciar, também, o juízo divino sobre aqueles que rejeitarem a mensagem do Evangelho, tanto que deveriam, profeticamente, nas cidades em que fossem rejeitados, dizer que a rejeição não se dava a eles mas ao próprio Cristo e que haveria mais tolerância para Sodoma no juízo do que para a cidade que os havia rejeitado (Lc.10:10-12).

– A mensagem do reino de Deus é uma mensagem de salvação, de chamamento ao arrependimento dos pecados, mas é também uma mensagem que não oculta a ira de Deus que vier sobre aqueles que crerem no Evangelho.

É preocupante vermos muitos omitindo esta parte do Evangelho nos dias de hoje, pregando um “evangelho light”, um “evangelho genérico”, que está longe de ser o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).

– O discípulo de Cristo é um legítimo representante de Jesus, pois ouvi-lo é ouvir a Cristo, rejeitá-lo é rejeitar a Cristo (L.10:16). Para isto, o discípulo deve ser parecido com Cristo, ser um “outro Cristo”, um verdadeiro espelho da glória do Senhor (II Co.3:18), alguém que, em sua vida e ministério faça refletir a imagem de Cristo aos seus ouvintes. Será que temos chegado a este estágio, amados irmãos?

IV – AS ATITUDES PARA SER UM DISCÍPULO DE JESUS  

– Por fim, cabe-nos ver o que Jesus diz a respeito das atitudes que deve ter quem deseja ser Seu discípulo. Jesus disse a uma grande multidão que quem for a Ele deve aborrecer pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs, bem como a sua própria vida, sem o que não pode ser considerado Seu discípulo (Lc.14:25).

– Devemos bem compreender esta afirmação, para que não se entenda que o discípulo de Jesus deva abandonar os seus familiares, deles se separar.

– O que Jesus está a nos ensinar é que ninguém pode ser discípulo de Cristo se não puser a Jesus como a sua prioridade, como o objetivo de sua vida, como a razão de ser da sua existência. Ninguém é discípulo de Cristo se antepõe a Jesus valores terrenos, se não entende que deva buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

OBS: “…é evidente que o sentido de odiar na passagem de Lucas é amar menos. Em todas as coisas, Cristo deve ter sempre a primazia (Cl 1.18).…” (HENDRIKSEN, William. Lucas, v.2, p.275).

– O discípulo de Jesus é aquele que ama a Deus sobre todas as coisas, que é o primeiro e grande mandamento (Mt.22:37) e que, portanto, vê a vida à luz de nosso serviço ao Senhor.

– Por isso, o discípulo deve aborrecer a sua própria vida, o que, à evidência, não significa tirar a própria vida ou não querer viver, mas compreender que a vida é um dom de Deus e que somente tem sentido quando ela for vivida na vontade de Deus.

  OBS: “…Um homem não pode ser discípulo de Cristo a menos que aborreça seu pai, sua mãe, e sua própria vida. Ele não será sincero, constante e perseverante, a menos que ame mais a Cristo do que qualquer coisa neste mundo. Ele deverá estar disposto a deixar aquilo que pode e deve deixar, desde que este tipo de sacrifício possa ser um motivo de glorificação ao Senhor Jesus Cristo (assim como os mártires, que não amaram as suas vidas, mas foram fiéis até à morte).… (HENRY, Matthew, op.cit., p.646).

– O discípulo de Jesus é alguém que não mais vive, mas que vive a vida na vida da fé do Filho de Deus (Gl.2:20). Assim como Jesus entregou a Sua vida para fazer a vontade do Pai, que era a Sua própria sobrevivência (Jo.4:34), o discípulo deve, também, ter como razão de viver fazer a vontade de Cristo, em detrimento da própria vontade, que deve ser “crucificada com Cristo”.

– O discípulo de Jesus tem de renunciar a si mesmo (Mt.16:24; Lc.14:33), deve negar a si mesmo (Mc.8:34; Lc.9:23). O “eu” de cada ser humano é a sua natureza pecaminosa, é a sua carne. Ora, para que possamos seguir a Jesus, faz-se necessário que deixemos de lado a nossa natureza pecaminosa, que não queiramos ser iguais a Deus, que não queiramos viver independentemente de Deus, que rejeitemos a proposta satânica acolhida pelo primeiro casal (Gn.3:5).

OBS: “…O que, pois, deve fazer uma pessoa para que seja considerada um verdadeiro discípulo? Bem, se ela quiser vir após mim, diz Jesus, então que primeiro se negue; isto é, que diga de uma vez por todas Não ao seu velho eu, o eu como se acha separado da graça regeneradora.

Uma pessoa que se nega renuncia toda a confiança no que ela mesma é por natureza e depende, para a salvação, tão-somente de Deus. Afasta-se decepcionada não só com os pensamentos e hábitos que são claramente pecaminosos, mas inclusive com a confiança nas ideias “religiosas” – por exemplo, farisaicas – que não podem harmonizar-se com a confiança em Cristo.

Veja 2 Coríntios 10.5. Deve dispor-se a dizer com Paulo: “As coisas que para mim eram lucro, agora as considero perda por amor a Cristo …” Veja Filipenses 3.7-11.…” (HENDRIKSEN, William. Lucas, v.1, p.662).

– O discípulo de Jesus tem de levar a sua cruz (Lc.14:27), ou seja, tem de assumir as suas responsabilidades e cumprir o propósito estabelecido por Deus a ele. A cruz era o objetivo fixado pelo Pai a Cristo. Era o itinerário traçado pelo Pai a Cristo, para isto Ele havia vindo ao mundo (Jo.12:27).

– Levar a cruz significa, ainda, fazer o devido cálculo a respeito do que deve ser feito e como deve se comportar. O próprio Senhor disse que ninguém começa a edificar sem que antes fazer as contas dos gastos para que não sofrer o escárnio dos outros, como também um rei não faz uma guerra sem antes verificar se tem condições de vencer o inimigo para que não seja derrotado e, portanto, antes de iniciar uma guerra temerária, procura fazer a paz com o seu adversário.

– Como ensina Matthew Henry: “…Aqueles que pretendem edificar esta torre devem se sentar e fazer as contas dos gastos. Eles devem considerar que isto lhes custará a mortificação de seus pecados, até mesmo das suas luxúrias mais queridas; isto lhes custará uma vida de renúncia e vigilância, e uma série constante de deveres santos; isto pode, talvez, lhes custar a sua reputação entre os homens, seus bens e liberdade, e tudo que lhes é caro neste mundo, até mesmo a própria vida.

E mesmo que nos custe tudo isso, o que é isso em comparação com o custo que o Senhor Jesus Cristo pagou para comprar as vantagens da fé para nós, que as recebemos sem dinheiro e sem preço?…” (op.cit, p.647).

 Ou, ainda, “…Quando idealizamos ser discípulos de Cristo, somos como um homem que vai para a guerra, e, assim, deve considerar os riscos envolvidos nesta decisão, e as dificuldades que deverão ser enfrentadas, w. 31,32.

Um rei que declara guerra contra um príncipe vizinho considera se ele tem forças para sair ao seu encontro; se não, ele colocará de lado os seus pensamentos de guerra. Note bem: [1] O estado de um cristão neste mundo é um estado militar.

Não é a vida cristã uma batalha? Temos muitas situações em nosso caminho, que devem ser disputadas a golpes de espada; devemos lutar a cada passo que damos, pois os nossos inimigos espirituais são incansáveis em sua oposição…” (ibid.).

– “…O que Jesus pede é uma devoção de todo o coração, uma lealdade a toda prova, uma negação completa de si mesmo, de seu tempo, de seu dinheiro, de suas possessões terrenas, de seus talentos etc., à disposição de Cristo.…”(HENDRIKSEN, William. Lucas, v.2, p.277).

– Não se pode ser discípulo de Jesus se não se abre mão de sua própria vontade em favor da vontade de Cristo. Não se pode ser discípulo de Cristo se não se entende que se deva ficar à disposição do Mestre, inteiramente dedicado ao Senhor, o que, à evidência, não significa sair da vida em sociedade, mas, bem ao contrário, servir a Deus NO mundo.

– Por isso mesmo, o Senhor Jesus considera Seus discípulos como sal, ou seja, alguém que está no meio dos demais homens, assim como o sal é posto no meio dos alimentos, a fim de ser capaz de “adubar” os alimentos.

Como afirma Hendriksen: “…Jesus esteve enfatizando que seus Seguidores devem devotar-se- Lhe de todo o coração. Não devem ser meros discípulos nominais. Devem ser sal genuíno, sal que ainda não perdeu seu sabor.…” (op.cit, p.278).

– Ser discípulo de Cristo, portanto, é estar no mundo, mas não sendo do mundo, vivendo em comunhão com o Senhor e, por estarem em comunhão, receberem a Palavra de Deus, que deverá ser anunciada aos homens, tendo a garantia de que serão livres do mal e, santificados pela própria Palavra, possam prosseguir a obra de Jesus, sendo por Ele enviados, a fim de que se tornem um com o Senhor e, nesta unidade, possam fazer Jesus conhecido pelo mundo e, cumprindo este objetivo, venham a viver eternamente com o Senhor onde Ele está por ter vencido o pecado e o mundo, como o Senhor deixa bem claro em Sua oração sacerdotal (Jo.17).

– Temos sido discípulos de Jesus? Temos estado em comunhão com o Senhor? Temos negado a nós mesmos e levado nossa cruz? Temos sido as da terra e luz do mundo? Temos feito Jesus conhecido do mundo? Que as respostas sejam afirmativas, pela graça e misericórdia do Senhor. Amém!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

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