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LIÇÃO Nº 5 – O CUIDADO COM AQUILO QUE FALAMOS

Lição 05

A sabedoria divina ensina-nos a controlar a nossa língua.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro dos Provérbios, estudaremos hoje o que o Senhor nos ensina a respeito do controle do nosso falar.

– A sabedoria divina ensina-nos a controlar a nossa língua.

I – O PAPEL DA LINGUAGEM NO SER HUMANO

– Dando sequência ao estudo do livro de Provérbios, hoje trataremos de um tema que abundantemente se vê neste livro, referente ao cuidado que devemos ter com o nosso falar. Vários são os provérbios que bem demonstram como o sábio e o tolo são conhecidos pelo seu falar.

– Antes de tratarmos dos “conselhos divinos” a respeito deste importante aspecto da vida sobre a face da Terra, vamos fazer uma sucinta, brevíssima análise a respeito do papel que a linguagem exerce no ser humano, no papel que o próprio Deus reservou ao falar na própria humanidade.

– Quando Deus criou o homem, fê-lo um ser inteligente, e, para mostrar ao homem que ele era um ser racional, mandou que ele desse nome aos animais (Gn.2:19,20). Neste gesto, o Senhor mostra-nos que a linguagem, a capacidade de criar palavras e de elaborar um discurso é a principal manifestação da inteligência, da racionalidade humana.

– A palavra revela-se, assim, o meio principal pelo qual o homem dá demonstração de sua racionalidade, de sua especificidade em relação a todas as demais criaturas terrenas, pois, por ser capaz de criar palavras, de manifestar seu raciocínio por intermédio do falar, mostra sua condição de coroa da criação terrena e de um ser diferenciado.

– Por isso mesmo, embora os demais seres também tenham rudimentos de expressão e de comunicação entre si, nenhum deles consegue, de forma alguma, elaborar um idioma como o homem, criar palavras, fazer com que haja concatenação de ideias e transmissão daquilo que está em seu interior (pensamentos, desejos, sentimentos) para o mundo exterior, pois é isto que a língua realiza, faz com que aquilo que era interno se torne “comum”, conhecido de todos. – Não é difícil entender, portanto, porque, nas Escrituras Sagradas, as expressões “boca”, “lábios” e “língua” se refiram a esta mente do homem, a seu raciocínio, a sua conformação interior que se exterioriza, como meio de expressão do que está no seu íntimo, daquilo que lhe é essencial, que a mesma Bíblia Sagrada chama de “coração” e “rins”.

– O falar do homem é, portanto, a manifestação da sua própria individualidade, é a exposição daquilo que ele é verdadeiramente no íntimo, é a revelação daquilo que está no chamado “homem do lado de dentro”. As palavras de alguém, portanto, refletem o seu estado interior, a sua essencialidade, o seu caráter.

– Parece-nos que os antigos gregos tinham também esta noção, na medida em que se utilizavam de uma mesma palavra, “logos”, para expressar tanto a razão, tanto o raciocínio, quanto a própria palavra, o próprio discurso. “Logos” em grego tanto significa “razão”, “raciocínio” (daí, por exemplo, a palavra “lógica”), como, também, “palavra”, “discurso” (daí, por exemplo, “diálogo”, “monólogo”), a demonstrar que, na verdade, é através da linguagem que nó expressamos a razão, que os diferencia dos demais seres criados sobre a face da Terra.
– Quando Deus mandou que Adão desse nome aos animais, também fez mostrar ao homem que ele era superior às demais criaturas terrenas, pois o ato de dar nome é um ato que indica autoridade, supremacia. Bem sabemos que esta superioridade era somente em relação aos demais seres criados sobre a face da Terra, não significava, em absoluto, uma independência, uma autonomia em relação ao Criador.

– Todavia, por ter sido enganado pelo diabo e acreditado poder viver sem Deus, o primeiro casal pecou e, ao cair em pecado, teve também um desvirtuamento em relação ao uso da linguagem, que passou a ser empregada para o mal, para uma vã tentativa de se construir uma vida independente de Deus.

– O resultado disso é que a língua, que era uma expressão do domínio do homem sobre a criação terrena, passou a ser um instrumento de escravidão do homem em relação ao pecado e ao mal. O homem perdeu o controle da língua, sendo dominado por ela, na verdade, sua língua passou a ser uma manifestação do domínio do pecado sobre o homem.

– É neste sentido, aliás, que devemos entender o estudo de Tiago, o irmão do Senhor, a respeito da língua, na conhecida passagem de Tg.3:1-12. Tiago, que o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da CGADB, costuma chamar de “doutor em língua”, é bem claro ao nos ensinar que a língua, apesar de ser um pequeno membro do corpo, é de dificílimo controle, sendo que, quem consegue dominá-la, é “varão perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg.3:2).

– O Senhor Jesus, mesmo, salientou este aspecto do falar na vida do ser humano, ao dizer que o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca (Mt.15:11), precisamente porque o que sai da boca é aquilo que procede do coração, a fala é a exteriorização de tudo quanto está em nosso íntimo (Mt.15:17-20).

– Nos dias em que vivemos, dias da iminência do arrebatamento da Igreja, vemos, como nunca, como o inimigo de nossas almas tem se utilizado da linguagem para perverter os homens, para mantê-los alheios à verdade, que é Cristo Jesus (Jo.14:6).

– Desde os estudos filosófico-científicos, até a manipulação deslavada dos meios de comunicação de massa, há todo um movimento para fazer crer ao homem que a linguagem é autônoma em relação à realidade, que ela pode, por si só, empreender uma verdade, que ela se basta. Assim, por meio do uso das palavras, tenta-se construir um mundo de ilusão e onde reinam a paz, a harmonia e a bondade (veja-se a “síndrome do politicamente correto” que campeia em nosso mundo na atualidade), tudo com o fim de manter o homem na mentira de que pode viver sem Deus e sem salvação.

– Ao mesmo tempo em que se constrói esta ilusão de uma linguagem desprendida da realidade e que se basta por si só, também se verifica, ante o aumento da imoralidade, o relaxamento da linguagem, a invasão da obscenidade e do chulo na comunicação, inclusive entre os que crentes se dizem ser, sem falar na verdadeira imbelicilização da própria comunicação, que beira, mesmo, a irracionalidade. Este é o triste nível em que se encontra a humanidade perdida e iludida pelo adversário.

– Contra todo este estado de coisas, levanta-se o Senhor que, querendo, como quer, salvar o homem e ensiná-lo a como saber viver sobre a face da Terra, conhecendo a grande importância deste dom que nos deu, que foi o de expressar uma linguagem racional, ter deixado, notadamente no livro de Provérbios, lições preciosas sobre o cuidado que temos de ter ao falar.

II – A BOCA COMO EXTERIORIZAÇÃO DO CORAÇÃO

– Salomão fala, pela vez primeira, na “boca”, ao dizer que “o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento” (Pv.2:6). De pronto, o sábio rei nos ensina que a boca é, como já dissemos supra, o instrumento pelo qual se exterioriza o nosso raciocínio, o nosso íntimo. A “boca de Deus” traz-nos o entendimento e o conhecimento necessários para que saibamos viver sobre a face da Terra e, por isso, a “nossa boca” deve refletir este aprendizado que temos do Senhor.

– Jamais teremos uma “boca sábia”, portanto, se não aprendermos com o Senhor, se não nos debruçarmos sobre a Sua Palavra, se não estivermos em constante diálogo com Ele na oração. Assim como somente aprendemos o idioma humano que falamos por estarmos constantemente ouvindo os nossos pais e as pessoas que conosco convivem falarem, assim somente teremos o “falar de Deus” se constantemente estivermos a ouvi-l’O, a atentar para as Suas palavras, se não nos apartarmos das palavras da Sua boca (Pv.4:5).

– Por isso, quando o proverbista manda que devemos guardar o nosso coração, pois é dele que procedem as saídas da vida (Pv.4:23), complementa este conselho com o de desviarmos a tortuosidade da boca e de alongarmos de nós a perversidade dos lábios (Pv.4:24), pois somente quem tem um coração guardado em Deus poderá ter uma boca reta, lábios que não sejam perversos. Como diz o proverbista: “O coração do sábio instrui a sua boca e acrescenta doutrina aos seus lábios” (Pv.16:23).

– A boca perversa é característica do “homem de Belial” (Pv.6:12), ou seja, do homem iníquo, do homem maligno. O pecado no coração do homem faz com que a sua boca seja torta, perversa.

– A sabedoria, ao revés, profere coisas excelentes, seus lábios abrem-se para a equidade, sua boca profere a verdade e seus lábios abominam a impiedade, todas as suas palavras são em justiça e nelas não há coisa tortuosa nem perversa (Pv.8:6-8).

– Assim, quando estamos em comunhão com Deus, quando desejamos aprender d’Ele, automaticamente, ao adquirirmos a sabedoria que vem do alto, nós manifestaremos isto através do nosso falar, que não será iníquo, nem mentiroso, mas será verdadeiro e justo. “O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino” (Pv.16:21).

– Ora, quem foi encontrado no mundo de tal modo que não se achou engano algum em Sua boca? Somente o Senhor Jesus, que sendo a própria sabedoria (I Co.1:30), viveu sobre esta Terra sem que jamais se encontrasse qualquer coisa iníqua ou perversa em Sua boca (Is.53:9), boca de onde saíam tão somente palavras de graça (Lc.4:22).

– Este é, pois, o modelo que devemos seguir, o modelo que deve ser aprendido com o próprio Senhor, pois a sabedoria, como temos visto neste trimestre, é adquirida, é resultado de um aprendizado com o próprio Deus. Daí porque Salomão nos diz que “a língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia” (Pv.15:2), indicando-nos que quem segue o modelo de Cristo tem uma língua que manifesta o próprio Cristo, Aquele que foi feito por nós sabedoria de Deus.

– Quem teme a Deus aborrece a boca perversa (Pv.8:13), pois a boca perversa faz parte do mal que deve todo servo do Senhor aborrecer. A boca perversa nada mais é que a exteriorização da soberba, da arrogância e do mau caminho que se trilha por causa desta negação de submissão a Deus. É tão somente a manifestação de uma recusa de aprender do Senhor, ou seja, uma demonstração de impiedade, de falta de entendimento. Por isso, o proverbista afirma que “na boca do tolo está a vara da soberba, mas os lábios do sábio preservá-lo-ão” (Pv.14:3).

– Ora, se do coração é que procedem as saídas da vida e devemos guardá-lo para que tenhamos vida, quando não o guardamos e caímos no pecado, somos dominados pelo maligno, tem-se que a boca perversa, a boca do ímpio não é fonte de vida, mas, sim, de morte.

– Salomão deixa isto bem claro em diversos provérbios, onde mostra que a violência cobre a boca dos ímpios (Pv.10:6,11), expressão que nos indica, dentro do método do paralelismo hebraico, que a boca dos ímpios gera maldições como também a morte, pois, ao mesmo tempo em que “a violência cobre a boca dos ímpios”, “bênçãos há sobre a cabeça do justo” e “a boca do justo é manancial de vida”.

– Em Pv.10:6, a Septuaginta traduziu a expressão “a violência cobre a boca dos ímpios” como “um luto prematuro fecha a boca dos ímpios”, a indicar que a boca dos ímpios chama a morte, faz com que se morra mais cedo. Esta morte não envolve apenas a morte física, mas, principalmente, a morte espiritual. Faz-se até nos lembrar do dito popular de que “o peixe morre pela boca”. Quantos não têm findado a sua existência terrena pelo mau uso das palavras, pelo mau uso de sua boca? Pensemos nisto!

– Muitos, também, por causa de mau uso da boca, chamam para si maldições, vivem sem a bênção de Deus, porque o mau uso das palavras faz com que causem males para si mesmos e para outras pessoas.

– Devemos, aqui, porém, tomar cuidado com este ensino bíblico, que tem sido extremamente distorcido na atualidade. O proverbista ensina-nos que o mau uso das palavras faz com que deixemos de ser abençoados, que chamemos sobre nós maldições, mas isto, em absoluto, significa que a Bíblia Sagrada esteja a ensinar que há “poder nas palavras” no sentido místico e mágico, que vem de ensinamentos falsos, notadamente na teologia da confissão positiva.

– As palavras que proferimos não têm poder mágico algum, não valem por si sós. Como já dissemos supra, não podemos compartilhar do ensino falso e satânico de que a linguagem está desprendida da realidade, que ela gera, por si só, uma realidade autônoma e que basta por si só.

– Lamentavelmente, existem pessoas que cristãs se dizem ser a ensinar por aí que devemos ter cuidado com as nossas palavras porque elas “geram” “maldições”. Assim, se dissermos algo de ruim, este algo acontecerá, pois “há poder nas palavras”.

– Entretanto, como temos visto neste estudo, a boca fala aquilo que há no coração, não há uma independência entre o nosso falar e o nosso íntimo, como nos disse o Senhor Jesus. Desta forma, quando falamos algo de ruim, algo de perverso, isto reflete o que já está em nosso coração. A exteriorização desta impiedade pelas palavras apenas demonstra o que há de errado em nosso interior e é o pecado que nos traz a morte, a iniquidade que nos traz a maldição, a falta da bênção divina.

– A exteriorização pela boca daquilo que não presta, daquilo que não tem a bênção de Deus não é algo dissociado do pecado que domina o ímpio, que o escraviza. Não resta dúvida de que a palavra, por ser uma expressão de nossa razão, de nossa mente, pode, sim, persuadir, levar a certos comportamentos, criar certas situações que, estando alheias ao Senhor, sempre serão impregnadas do cheiro de morte que possui o que é pecaminoso.

– No entanto, não podemos, de forma alguma, crer que o uso de uma palavra faz com que , magicamente, se tenham certas consequências. Não somos feiticeiros, nem cremos em “mantras” ou “palavras mágicas”. Não é dizendo “abracadabra” que iremos conseguir a cura de uma doença ou enfermidade. A palavra, por si só, não tem poder e não podemos crer numa coisa como esta, que nada mais é que ensino relacionado ao misticismo e à Nova Era. OBS: A própria expressão “abacadraba”, segundo alguns estudiosos, significa “irei criando enquanto falo”, a mostrar, portanto, como se está diante de uma atitude de soberba, de vida independente de Deus, quando o homem pensa “ser Deus”. Tomemos cuidado com isso!

– Muitas pessoas hoje, embora sedizentes cristãos, estão crendo que “há poder nas palavras” e que, por isso, não devem pronunciar isto ou aquilo, porque senão isto irá acontecer. Amados irmãos, não creiamos nisto, isto não tem base bíblica alguma! A boca fala do que está cheio o coração e devemos, portanto, ter, sim, cuidado ao falar, mas este cuidado deve refletir uma vida de comunhão com Deus, um coração puro, um cuidado em nossa manutenção da fé em Cristo Jesus.

– O mesmo se diga com relação às boas palavras, que também não têm o condão de, por si só, trazer bênçãos ou benefícios. Quando o proverbista afirma que a mulher virtuosa “abre a boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua” (Pv.31:26), não está a dizer que o simples falar desta mulher é suficiente para que haja o bem sobre todos que a cercam, mas, sim, que, por ela ter um coração sábio, por ela ter comunhão com Deus, o seu falar, assim como o seu fazer produzem e querem o bem dos outros. Daí porque Salomão ter dito que “uma língua saudável é árvore de vida, mas a perversidade nela quebranta o espírito” (Pv.15:4).

– A boca do ímpio chama a morte, traz o “luto prematuro”, porque é a exteriorização de uma vida pecaminosa, de uma vida sem Deus, de uma vida de recusa à sabedoria e a consequência disto é que o homem passa a fazer tão somente o que deseja o inimigo de nossas almas, cujo trabalho é o de matar, roubar e destruir (Jo.10:10) e, sendo assim, a boca será poderoso instrumento para que o maligno consiga o seu intento. Não há, portanto, nenhuma circunstância de um “poder maligno”, de um “poder de maldição” inerente às próprias palavras que venhamos a utilizar.

– É por isso que o proverbista afirma que “os sábios escondem a sabedoria, mas a boca do tolo é uma destruição” (Pv.10:14), a nos mostrar que, quando não temos comunhão com Deus, através de nossas próprias palavras construímos a nossa própria destruição, não porque as palavras tenham um poder destrutivo por si só, mas porque elas exteriorizam um comportamento, uma conduta de quem está a ser dominado pelo “imperador da morte” (Hb.2:14). Como diz Salomão: “A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios, um laço para a sua alma” (Pv.18:7).

– “Os lábios do tolo entram na contenda, e a sua boca brada por açoites” (Pv.18:6), ou seja, a pecaminosidade exteriorizada pela boca daquele que não quer aprender de Deus faz com que ele se envolva em contendas, em dissensões, em conflitos que podem arrebatar-lhe a vida ou lhe trazer castigos e repreensões por parte da sociedade.

– Em outro provérbio, Salomão nos ensina que “a boca do justo produz sabedoria em abundância, mas a língua da perversidade será desarraigada” (Pv.10:31), a nos indicar, portanto, que o resultado da exteriorização de um ser dominado pelo pecado é o de ter cessada, de forma breve, a existência, porquanto a língua perversa não subsistirá, pois não produz sabedoria, mas tão somente “um luto prematuro”.

– Além de destruir a si mesmo, a boca do ímpio ainda danifica o próximo (Pv.11:9), como também causa o mal para toda a sociedade (Pv.11:11). A boca do ímpio, dominada pela maldade, é utilizada para causar mal ao próximo, pois se está aqui diante do egoísmo, do individualismo, quando o homem não pensa senão fazer o mal, e o faz inclusive através do falar, gerando males para pessoas determinadas e para toda a população: “o homem vão cava o mal, e nos seus lábios se acha como que um fogo ardente” (Pv.16:27).

– As palavras dos ímpios são para armarem ciladas ao sangue (Pv.12:6), têm em vista apenas a morte e a destruição do próximo, bem diferente do que faz a boca dos retos, que buscam tão somente libertar os homens do domínio do mal e do pecado. Salomão afirma que “o homem violento persuade o seu companheiro e guia-o por caminho não bom. Fecha os olhos para imaginar perversidades, mordendo os lábios, efetua o mal” (Pv.16:29,30).

– Por isso, Lemuel manda que abramos a nossa boca a favor do mudo, pelo direito de todos que se acham em desolação (Pv.31:8), como também para julgar retamente e fazer justiça aos pobres e aos necessitados (Pv.31:9), porque, tendo aprendido de Deus, poderemos levar aos outros a sabedoria divina, seremos instrumentos para que os homens conheçam o amor e a salvação provenientes do Senhor. “Águas profundas são as palavras da boca do homem, e ribeiro transbordante é a fonte da sabedoria” (Pv.18:4). “Nas palavras da boca do sábio, há favor, mas os lábios do tolo o devoram” (Ec.10:12).

– Mas é importante observar que uma boca reta, que manifesta um coração sábio, que tem aprendido com o Senhor, não só traz bênçãos para o seu possuidor, como também traz o agrado de Deus para a pessoa. “Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio; e exultarão os meus rins, quanto os teus lábios falarem coisas retas” (Pv.23:15,16), isto é, quando falamos coisas que edificam a nós mesmos e às outras pessoas, o Senhor Se alegra com nosso proceder, o que nos traz e a todos que nos circundam ainda maiores bênçãos, haja vista o que ocorreu quando Deus Se agradou com o sacrifício de gratidão de Noé (Gn.8:20-22), ato que representou a imunidade de toda a Terra voltar a ser destruída por um dilúvio.

– Por isso, o proverbista afirma que “o que ama a pureza do coração e tem graça nos seus lábios terá por seu amigo o rei”(Pv.22:11), a nos indicar, pois, que a posse de uma boca reta e sábia faz com que tenhamos a amizade divina, sejamos como Abraão, amigos de Deus (Is.41:8). Isto nos mostra, aliás, que todo servo de Cristo tem de ter, necessariamente, uma língua reta (Jo.15:15). Será que nosso falar nos faz amigos do Senhor? Pensemos nisto!

III – O COMEDIMENTO NO FALAR

– Somente teremos um falar sábio, reto e justo se nosso coração for sábio, reto e justo, ou seja, se tivermos comunhão com o Senhor, se estivermos sempre a aprender d’Ele.

– No entanto, conforme já vimos, é através do falar que se consubstancia o domínio do homem sobre a criação terrena, que ele exterioriza a sua supremacia sobre os demais seres e, portanto, o falar é algo que tem de estar sob integral controle do Espírito Santo em nós, para que não sejamos tomados pela soberba, pela vaidade.

– Por isso, ao mesmo tempo em que as Escrituras Sagradas nos mostram a extrema necessidade de termos um coração puro, pois a boca é exteriorização deste coração, também nos exorta a que controlemos o nosso falar, não nos deixemos levar pela soberba e vaidade e, em razão disto, venhamos a proferir palavras que não correspondam à pureza do nosso íntimo.

– Por isso, além de nos indicar a correlação que existe entre boca e coração, Provérbios também nos aconselha a que sejam comedidos no falar, comedimento este que é tanto quantitativo como qualitativo.

– Como o próprio Salomão dirá no livro de sua velhice, o Eclesiastes, “há tempo de estar calado e tempo de falar” (Ec.3:7b). Nem sempre o que deve ser falado, que é legítimo e fruto de um coração puro, é para ser falado num determinado instante, num certo momento. Temos de saber o tempo de falar, pois o pronunciamento não é em si bom ou mau, mas pode ser extremamente maléfico, ainda que seja verdadeiro.

– “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv.25:11). “O homem se alegra na resposta da sua boca, e a palavra, a seu tempo, quão boa é! (Pv.15:23). O primeiro ensino a respeito do comedimento do falar é, portanto, a oportunidade do falar. Devemos ter a divina orientação para sabermos quando falar e quando ficarmos calados. Que Deus nos ajude!

– Mas o comedimento no falar não se reduz apenas à sua oportunidade. A sabedoria divina também nos alerta que devemos saber quanto falar. Não podemos falar tudo todas as vezes. O muito falar, o falar em demasia é sinal de estultícia, é demonstração de falta de sabedoria.

– Diz o proverbista que “o que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios tem perturbação” (Pv.13:3). Nem tudo que é pensado deve ser dito, devemos ter prudência, cautela, para apenas falarmos aquilo que edifica, que traz bem ao próximo, que promove o bem-estar daqueles que nos circundam.

– Temos um exemplo disso no encontro de Acabe com Elias na vinha de Nabote. O rei, ao ver o seu desafeto, logo foi dizendo: “Já me achaste, inimigo meu?” (I Rs.21:20). O profeta, sendo um homem de Deus, não respondeu à provocação do monarca, limitando-se a responder: “Achei-te, porquanto já te vendeste para fazeres o que é mau aos olhos do Senhor”. Elias não entrou no mérito se era, ou não, inimigo do rei Acabe, se isto era certo ou errado. Se o fizesse, iniciaria uma contenda que não é uma atitude digna de um servo do Senhor e desviaria a própria razão de ser de sua ida até a vinha de Nabote.

– O servo do Senhor tem de ser objetivo, claro e conciso em suas palavras, não se deixando levar pela multidão das palavras, pelo muito dizer que nada representa. O próprio Senhor Jesus disse que, mesmo quando estamos falando com Deus, não devemos fazer vãs repetições como os gentios, prova de que o muito falar nada traz de benefício a quem age deste modo (Mt.6:7).

– Para controlarmos o quanto devemos falar é absolutamente necessário que estejamos debaixo do controle do Espírito Santo, que não nos deixemos levar pela nossa mente, pelo nosso ego, mas que saibamos exatamente o que devemos falar, contendo-nos para que não multipliquemos inutilmente as palavras, que somente nos trarão perturbação.

– Cuidado especial neste ponto devem ter aqueles que são usados por Deus nos chamados dons espirituais de elocução e no dom ministerial da profecia. Quantos que não têm comprometido seus ministérios e sua reputação porque falam mais do que Deus tem ordenado, seja nas mensagens proféticas, seja nas exposições da Palavra do Senhor. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– “O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos ímpios derrama em abundância coisas más” (Pv.15:28). O servo do Senhor pensa antes de falar, reflete sobre o que há de dizer para que não faça de suas palavras algo que possa danificar o próximo, que possa trazer-lhe prejuízo. O ímpio, ao revés, não tem “papas na língua”, mas, ao contrário, fala tudo que lhe vem à mente, pois é, por natureza, uma pessoa que não sabe conter a sua ira, a sua natureza carnal, alguém que é dominado pelos seus instintos. Não nos esqueçamos da lição de Salomão: “Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv.10:19). “Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há de um tolo do que dele” (Pv.29:20). “O que guarda a boca e a língua guarda das angústias a sua alma” (Pv.21:23).”

Retém as suas palavras o que possui o conhecimento, e o homem de entendimento é de precioso espírito” (Pv.17:27). OBS: Esta prudência ao falar é bem explicitada nestes parágrafos do Catecismo da Igreja Romana, que reproduzimos, por sua biblicidade: “O direito à comunicação da verdade não é incondicional. Cada um deve conformar sua vida com o preceito evangélico do amor fraterno. Este requer, nas situações concretas, que se avalie se é conveniente ou não revelar a verdade àquele que a pede.

A caridade e o respeito à verdade devem ditar a resposta a todo pedido de informação ou de comunicação. O bem e a segurança do outro, o respeito à vida privada, o bem comum são razões suficientes para se calar aquilo que não deve ser conhecido ou para se usar uma linguagem discreta. O dever de evitar o escândalo impõe muitas vezes uma estrita discrição. Ninguém é obrigado a revelar a verdade a quem não tem o direito de conhecê-la.” (§§ 2488 e 2489 CIC).

– Quantos sedizentes cristãos não se orgulham até de “não levarem desaforo para casa”? Quantos que, em situações difíceis, não reagem com calúnias, difamações, ofensas, xingamentos e outras características totalmente alheias a um verdadeiro e genuíno servo de Deus? Não estamos aqui a dizer que todos devem se calar quando injuriados, atacados, pois não há uma lei bíblica do silêncio. Mas, queridos e amados irmãos, há, sim, o exemplo de Jesus que, quando injuriado, jamais injuriava; quando padecia, não ameaçava e cujas pisadas devemos seguir (I Pe.2:23).

– Já dissemos que há tempo de estar calado e tempo de falar, mas, na dúvida, na falta de oportunidade para uma orientação divina, devemos sempre preferir o calar ao falar. Salomão nos mostra que “até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios, por sábio” (Pv.17:28), a nos indicar que o silêncio tem um alto valor e que é sempre melhor que o falar, caso não tenhamos a orientação divina para um pronunciamento.

– Dissemos que não há uma “lei bíblica do silêncio”, mas, em uma situação, a Bíblia manda que nos calemos, a saber, quando tivermos agido de modo louco ou quando imaginamos o mal. Nesta situação, diante da verificação de que deixamos que o velho homem tivesse uma nova oportunidade em nosso interior, devemos nos calar, “pôr a mão na boca”. É o que nos ensina o sábio Salomão: “Se procedeste loucamente, elevando-te, e se imaginaste o mal, põe a mão na boca” (Pv.30:32).

– Esta “imaginação do mal”, este procedimento louco é, entre outras coisas, qualquer atitude que visa prejudicar o próximo, como nos dá conta o seguinte provérbio: “O que despreza o seu próximo é falto de sabedoria, mas o homem de entendimento cala-se” (Pv.11:12). Assim, quando o falar tiver a possibilidade de produzir mal a alguém, devemos ficar calados.

– Mas o comedimento das palavras não está apenas na oportunidade do tempo ou na sua quantidade, mas, também, na qualidade. Devemos sempre falar de modo adequado, de forma branda, para que as palavras proferidas não venham a causar a ira daqueles que estão à nossa volta. Como diz o proverbista: ”A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv.15:1).

– O falar do servo de Deus não pode ser ríspido, ofensivo, duro, mas tem de ser brando, ou seja, delicado, educado, civilizado, ainda que estejamos a falar assuntos difíceis e que compreendam uma exortação e uma repreensão. Quando não cuidamos do modo de falar, provocaremos a ira do próximo, o que em nada contribuirá para a sua correção ou mudança de conduta.

– A palavra do servo de Deus deve ser remédio para quem está doente e não um instrumento para aumentar a ferida. “Há alguns cujas palavras são como pontas de espada, mas a língua dos sábios é saúde” (Pv.12:18). “Favo de mel são as palavras suaves: doces para a alma e saúde para os ossos” (Pv.16:24).

– A resposta branda é capaz de “pôr água na fogueira”, de apaziguar os ambientes mais tensos e belicosos. Como servos de Cristo Jesus, temos de ser pacificadores (Mt.5:9) e uma importante arma para a obtenção da paz, para a solução de conflitos é a brandura no falar.

– Neste particular, aliás, cumpre aqui se referir à disciplina no lar, pois os pais são ordenados pelo Senhor a “não provocar a ira a seus filhos” (Ef.6:4), prova de que jamais poderão, em suas admoestações e pronunciamentos, agir de forma a humilhar e a ofender seus filhos, pois o resultado disto será apenas revolta e ira, já que a “palavra dura suscita a ira”. Somente “a doçura dos lábios aumentará o ensino” (Pv.16:21b).

– É bom que expliquemos que isto não significa, em absoluto, que a Bíblia Sagrada recomenda apenas o “falar doce e manso” no sentido de não haver qualquer pronunciamento que seja de repreensão ou de correção, como, infelizmente, muitos estão a advogar em nossos dias, defendendo uma “tolerância excessiva”, uma completa “omissão” no falar a verdade, no repreender.
– Salomão adverte que “o que repreende ao homem achará depois mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua” (Pv.28:23), a mostrar que devemos, sim, se realmente amamos o próximo, repreendê-lo, adverti-lo, a fim de que mude um comportamento que lhe seja maléfico, que esteja lhe levando à destruição.

– As Escrituras abominam a bajulação, a adulação, a concordância com tudo o que alguém faz, precisamente para se ter deste alguém uma vantagem, uma simpatia que possa proporcionar algum benefício ao adulador. Diz o proverbista que “a língua falsa aborrece aquele a quem ela tem maravilhado, e a boca lisonjeira opera a ruína” (Pv.26:28), de forma que não podemos nos omitir em corrigir aqueles que estão à nossa volta, para que não sejamos operadores de sua ruína e, assim, da mesma maneira que o profeta Ezequiel, culpados de tal fracasso (Ez.33:1-9).

III – EVITANDO PECAR COM A LÍNGUA

– Resta-nos, ainda, tratar dos conselhos do proverbista com relação aos pecados que podem ser praticados com a língua, este pequeno membro indomável que pode nos levar para a perdição eterna.

– O primeiro pecado que é cometido com a língua é a mentira, este terrível pecado que tem como pai o próprio adversário (Jo.8:44) e que tem sido tão “tolerado” em nossos dias, pois muitos se esquecem que nada nos faz tão semelhantes a Satanás do que mentir, pois, quando o fazemos, estamos a agir de modo próprio ao diabo. Por isso, diz-nos Salomão que “o justo aborrece a palavra de mentira, mas o ímpio é abominável e se confunde” (Pv.13:5).

– A mentira é quase que totalmente praticada por intermédio do falar e, em virtude disto, devemos estar bem atentos para não permitir que nosso falar seja impregnado desta grave ofensa ao Senhor. Salomão afirma que a língua mentirosa é algo que aborrece o Senhor (Pv.6:16,17).”Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR, mas os que agem fielmente são o seu deleite” (Pv.12:22).

– Quanto mentimos, recusamos a eternidade que o Senhor nos oferece, visto que os que amam e cometem a mentira ficarão do lado de fora da cidade celestial (Ap.22:14,15), sendo de se verificar que a mentira é um pecado tão terrível que é o único desta lista que abrange tanto os seus amantes quanto os seus praticantes, a nos mostrar quão abrangente é este pecado.

– Mentir é recusar a verdade, é iludir-se com o que não é real, é crer nesta suposta autonomia da linguagem em relação às coisas. Quem entrega sua língua à mentira, renuncia à eternidade posta à disposição por Deus, pois “o lábio de verdade ficará para sempre, mas a língua mentirosa dura só um momento” (Pv.12:19). Nesta recusa da eternidade, ficamos submetidos à temporalidade e é por isso que o dito popular afirma que “a mentira tem pernas curtas”.

– Ter uma vida baseada na mentira é se submeter a uma ilusão que é temporária e que, mais cedo, mais tarde, irá nos pôr em situações assaz embaraçosas e que, muitas vezes, produzirá consequências nefastas. Como diz o sábio rei israelita: “Suave é ao homem o pão da mentira, mas, depois, a sua boca se encherá de pedrinhas de areia” (Pv.20:17).

– Quem já teve a experiência de ter areia em sua boca, sabe o incômodo que isto provoca na pessoa, que, por mais que se esforce, sempre terá ainda alguns grãos a perturbar-lhe. Pois bem, a mentira gera esta mesma consequência. O alívio ou vantagem imediatos gerados por ela serão sempre seguidos por um incômodo que parece que nunca terá fim.

– Uma situação específica de mentira que é particularmente recriminada no livro de Provérbios diz respeito ao falso testemunho, que, inclusive, é um dos dez mandamentos basilares da lei de Moisés (Ex.20:16; Dt.5:20). O falso testemunho é visto pelo proverbista como uma autoilusão, um autoengano que deve ser repudiado ao máximo: “Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo; por que enganarias com os teus lábios?” (Pv.24:28).

– Não é por outro motivo que o sábio Agur pede a Deus que dele afaste a palavra mentirosa (Pv.30:8), pois isto, certamente, representará a vitória sobre o pecado e a chegada até a glorificação.

– O mesmo Agur ensina-nos que, para que não sejamos achados mentirosos, devemos manter uma atitude de absoluta fidelidade com a Palavra de Deus, nada lhe acrescentando, a fim de que não seja repreendido pelo próprio Senhor (Pv.30:6). Devemos agir como o apóstolo Paulo, que disse que jamais deveríamos ir além do que está escrito (I Co.4:6), algo que, lamentavelmente, muitos em nossos dias não estão a imitar…

– Como se não bastasse tudo o que já se disse a respeito da mentira, temos que ela causa também a própria perturbação da ordem social, o próprio alvoroçar do governo. Com sua experiência de governante, Salomão nos traz uma preciosa lição ao dizer que “o governador que dá atenção às palavras mentirosas achará que todos os seus servos são ímpios” (Pv.29:12). OBS: “A mentira (por ser uma violação da virtude da veracidade) é uma verdadeira violência feita ao outro porque o fere em sua capacidade de conhecer, que é a condição de todo juízo e de decisão. Contém em germe a divisão dos espíritos e todos os males que ela suscita. A mentira é funesta para toda a sociedade; mina a confiança entre os homens e rompe o tecido das relações sociais.” (§ 2486 CIC).

– Aquele que governa, que está à frente de alguma responsabilidade de mando precisa ter discernimento espiritual para distinguir a verdade da mentira, sem o que não conseguirá se manter no governo, não terá como ter o mínimo de confiança que é indispensável para o desempenho de sua tarefa de comando. Quando é permitido à mentira ter livre curso nestas esferas, está-se sentenciando a autoridade à máxima desvalorização, a um completo ambiente de desmando e de incompetência.

– Dar crédito a toda e qualquer palavra, sem qualquer investigação, é atitude própria de quem é simples, ou seja, de quem é falto de entendimento (Pv.14:5). Por isso, sejamos seletivos e prudentes quando ouvimos.

– Mas não é apenas pela mentira que podemos pecar com a língua. Há um outro pecado que tem passado quase que imperceptível em nossos dias é que grande mal causa não só a quem o comete mas as vítimas de seu cometimento. É o pecado da maledicência, o “falar mal de alguém”, o “maldizer”.

– O proverbista é claríssimo ao afirmar que “As palavras do maldizente são doces bocados que descem para o mais interior do ventre” (Pv.18:8-ARA;26:22-ARC), a nos mostrar que o “veneno” lançado contra o próximo, o dizer mal de alguém afeta aquele próprio que proferiu tais palavras. Se se consegue prejudicar alguém, talvez até lhe tirando a vida por conta deste maldizer, o fato é que o maldizente arranja para si a morte espiritual, que é muito mais grave.

– Quando falamos mal de alguém estamos a nos pôr no lugar de Deus, pois nos constituímos como juízes e legisladores das pessoas de quem falamos (Tg.4:11,12), de forma que isto é extremamente grave e traz uma sentença de morte a quem assim procede. Como podemos querer nos pôr no lugar de Deus e não ficar sem castigo? Pensemos nisto!

– “O que anda maldizendo descobre o segredo; pelo que, com o que afaga com seus lábios, não te entremetas” (Pv.20:19). Devemos manter distância do maldizente, do fofoqueiro (a ARA traduz “maldizente” por “mexeriqueiro”), porque ele acaba nos desnudando aos olhos de todos, acaba revelando a nossa intimidade, motivo pelo qual devemos nos afastar deste tipo de gente, que tanto mal trará a nós. Nunca se esqueça, “aquele que traz, também leva”.

– Por fim, o último pecado que podemos cometer com a nossa língua é o pecado da soberba, do orgulho. Salomão é preciso ao afirmar que “louve-te o estranho, e não a tua boca, o estrangeiro, e não os teus lábios” (Pv.27:2). Vivemos dias em que o individualismo e o egoísmo têm feito com que busquemos nos afirmar diante das pessoas, fazendo propaganda de nós mesmos, enaltecendo a nós mesmos.

– Quão comum é que alguém diga que é crente, que é cristão, que é um homem de Deus, um profeta de Deus, um servo exemplar, um homem de oração, um homem de jejum etc. etc. etc. Não somos nós quem devemos dar testemunho de nós mesmos, mas, sim, os outros, os demais. Nunca nos esqueçamos que o nome de “cristão” foi dado aos crentes de Antioquia pelos incrédulos e não por eles mesmos (At.11:26).

– Como diz um conhecido dito popular, “quem é não precisa dizer que é, quem não é, sempre afirma ser”. Não nos enganemos com falsos discursos, próprios de quem não reconhece a soberania divina (Rm.1:21), mas saibamos ficar quietos quanto ao nosso testemunho, para que, a exemplo de Jó, ele seja dado pelo próprio Deus.

– O verdadeiro e genuíno servo de Deus deve evitar todas estas coisas, pois revestidos do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade, deve deixar a mentira e seguir a verdade cada um com seu próximo (Ef.4:24), como também deixar toda a malícia e todo o engano, fingimentos, invejas e murmurações (I Pe.2:1). Temos feito isto? OBS: É o que lembra, a propósito, o Catecismo da Igreja Romana, que, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “Os discípulos de Cristo “revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade” (Ef 4,24). “Livres da mentira” (Ef 4,25), devem “rejeitar toda maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia, de inveja c maledicência” (l Pd 2,1).” (§ 2475).

– Diante de tudo quanto estudamos a respeito da língua no livro de Provérbios, será que temos sido cuidadosos com o que falamos? Amém!.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/4T2013_L5_caramuru.pdf

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