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LIÇÃO Nº 5 – O LAMENTO DE JÓ


No seu lamento, Jó jamais atribui a Deus culpa alguma.

INTRODUÇÃO

– Jó era homem e, como tal, lamenta a sua situação.

– No seu lamento, porém, jamais o patriarca atribuiu a Deus culpa alguma.

I – JÓ AMALDIÇOA O DIA EM QUE NASCEU

Nesta lição, continuando a estudar o livro de Jó, observaremos a conduta de Jó não só no início da parte propriamente poética mas durante a própria evolução dos debates com seus amigos, pois encontramos um Jó que, apesar de não atribuir a Deus falta alguma, queixa-se de sua situação, o que não é difícil de entender, porquanto estava a sofrer terrivelmente sem que o soubesse porque.

– O principal traço que vemos nas queixas de Jó é o profundo desânimo e falta de qualquer perspectiva na sua existência diante da prova que está a sofrer.

Jó passa a ser um pessimista e, embora entenda que o justo tem sua recompensa, não vê como possa ser possível o prosseguimento de sua vida na Terra.

– Ao observarmos a sequência de discursos levados a efeito por Jó e seus amigos, notaremos que o patriarca irá apresentar queixas diante de Deus, numa clara demonstração de que era grande o seu desânimo e o seu sofrimento.

Entretanto, apesar de todas as suas queixas, Jó jamais pecou ou atribuiu a Deus falta alguma, ainda que tivesse revelado uma autoestima um pouco pronunciada, aquele quê de autossuficiência que deveria ser removido de sua vida para que pudesse melhorar ainda mais diante de Deus.

– Jó encontrava-se já um certo tempo sofrendo da cruel enfermidade que lhe fora imposta pelo adversário, sendo certo que a notícia de sua tragédia já havia se espalhado pelo mundo então conhecido.

Três amigos seus vão visitá-lo e o quadro era de tanta desolação que, durante sete dias, os amigos nada fizeram a não ser chorar, ante o estado lamentável e grotesco em que se encontrava o patriarca (Jó 2:11-13). Se os amigos de Jó assim se sentiram ao ver o patriarca, como não estaria o próprio patriarca?

– Há situações na vida das pessoas que estão sofrendo em que o silêncio e a contemplação parecem ser a primeira atitude a ser tomada antes que possamos consolar ou tentar confortar alguém. A própria Palavra de Deus ensina-nos que “há tempo para estar calado” (Ec.3:7).

– Quando estivermos para acudir e ajudar alguém, devemos, sempre, ter o discernimento para que não saiamos a falar desenfreadamente em momento inadequado. “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv.25:11).

– Jó, após esta semana de silêncio e de lamentação, exterioriza todo o seu desânimo e toda a sua miséria, amaldiçoando o próprio dia do seu nascimento, a sua própria existência.

– Verificamos que o patriarca não se revolta contra Deus por causa da sua situação. Antes, havia adorado ao Senhor e reconhecido a Sua soberania, mas, diante de tanta dor, começa a questionar a sua própria existência: por que teria sido permitido que nascesse, já que lhe estava reservado tamanho sofrimento?

Por que, então, fora uma bênção para os seus pais (cf.Sl.127:3), por que viera a existir se seu fim era tão trágico e cruel?

Percebemos que Jó não via sentido na sua existência, mas não se levanta contra Deus por ter existido. O que o patriarca quer é entender o que está se passando, entender a própria razão da existência humana.

OBS: ” Jó ficara solitário, humilhado e sofrendo dores. Seu sofrimento maior era o sentimento de que Deus o abandonara.

(1) No seu discurso (vv.2-26), Jó disse a Deus exatamente como se sentia. Começou maldizendo o dia em que nasceu e sua vida de sofrimento, mas note-se que em tudo isso Jó não blasfemou contra Deus. Seu lamento era uma expressão de dor e desolação, mas não uma expressão de revolta contra Deus.

(2) Sempre é melhor para o crente levar ao Senhor em oração suas dúvidas e sentimentos sinceros.

Nunca é errado levarmos a Deus nossas aflições e angústias, a fim de invocarmos a sua compaixão. O próprio Jesus Cristo perguntou a Deus; ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste ? ‘( Mt.27:46; cf. Jr.20:14-18; Lm.3:1-18).” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. a Jó 3:1, p.771-5).

” Com maldição (vs.3-13) e lamento (vs 14-26), Jó derrama uma torrente de dor e amargura, percebendo-se alvo da ira de Deus. Anseia por descanso interior.

Ele não amaldiçoa a Deus, conforme Satanás queria que fizesse. Porém, Jó amaldiçoa a sua concepção e o seu nascimento. Esta explosão de Jó também pode ser estendida como um apelo para que os seus amigos se interessassem e tivessem simpatia por ele.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, com. Jó 3.2-26, p.512).

– No início da queixa de Jó, percebemos, logo de início, que a existência do ser humano inicia-se com a concepção.

Ao amaldiçoar este dia, o patriarca fala da sua concepção (Jó 3:3), de forma que verificamos que, para Jó, um homem que agradava a Deus, o homem já é um ser humano com a sua concepção, o que mostra, claramente, que o aborto é um assassinato diante de Deus e dos Seus verdadeiros e sinceros servos.

– Jó, em seu desalento e desânimo, desejou que o dia de sua concepção jamais tivesse existido. É uma reação natural de quem está desanimado o desejo da morte, o desejo do fim da existência, pois não vê perspectiva alguma no futuro e o passado somente lhe traz dor e amargura.

É uma reação própria do ser humano, mas que decorre da tentativa de querermos entender os desígnios divinos e de buscar raciocinar como se fôssemos o próprio Deus.

– Esta postura de tentar compreender a Deus é um laço que pode nos levar à depressão e ao total desânimo, como levou o patriarca Jó.

Devemos fugir deste laço e buscarmos ter o comportamento que o próprio Jesus ensinou-nos a observar: “…o que Eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois…” (Jo.13:7b). Somente assim, poderemos manter esperança e ânimo, atitudes que são indispensáveis para que possamos vencer o mundo (Jo.16:33).

OBS: “…Desejar morrer para nós que estamos em Cristo, para nós que estamos livres do pecado, é o efeito e evidência da graça, mas desejar morrer apenas para nós podermos ser liberados dos problemas desta vida, tem cheiro de corrupção.

É nossa sabedoria e dever fazer melhor do que isto, seja viver ou morrer; e então viver para o Senhor, morrer para o Senhor, e em ambos os casos ser dEle (Rm.14:8)…” (Matthew HENRY. Comentário Bíblico Conciso- Jó 3 – www. goodrules,net/samericano.htm) (tradução nossa)

– Jó, completamente desfigurado e sentindo-se abandonado por todos, inclusive por Deus, embora mantivesse reconhecendo Sua soberania, passou a desejar que a sua existência pudesse ser eliminada do universo, pois Deus, poderoso como é, bem poderia apagar o dia da sua concepção ou de seu nascimento.

– Jó não via sentido algum na sua existência, pois, apesar de ter tido um bom testemunho diante de Deus, estava, agora, em situação extremamente lamentável e, certamente, os seus amigos, que ali estavam, iam questionar a sua própria situação.

– Jó era uma pessoa que conhecia a Deus e a Seu modo de agir e, portanto, ao receber a visita de amigos que, como ele, dedicavam-se a assuntos relativos à divindade, sabia que seria questionado pelo seu proceder e pelo seu modo de agir e não podia compreender porque tudo aquilo lhe viera ao encontro.

Jamais devemos ter a presunção de querermos entender a Deus e a Seus desígnios (Is.55:8,9), pois Ele é Deus e nós, meros homens (Sl.9:20).

OBS: “…Jó era como um homem que tinha perdido seu caminho e que não tinha perspectiva alguma de escape, esperança de tempos melhores.

Mas certamente que ele estava de posse de um mau quadro para a morte já que se encontrava tão desgostoso para a vida.

Que seja nosso cuidado constante estarmos prontos para um outro mundo, e então deixe para o Senhor ordenar nossa remoção para lá quando Ele tiver vontade.

A graça ensina-nos no meio dos maiores confortos da vida a desejar a morte e no meio das maiores cruzes a desejar a vida.

O caminho de Jó estava escondido; ele não sabia o porquê de Deus ter contendido com ele. O aflito e tentado cristão sabe algo desta aflição; quando ele tem estado olhando demasiadamente para as coisas que se vêem, algum castigo do Seu Pai celestial lhe dará o gosto deste desgosto da vida, e um relance das regiões escuras do desespero.

Nem há alguma ajuda até que Deus lhe restaure as alegrias da salvação. Abençoado seja Deus, a terra está cheia da Sua bondade, embora cheia da maldade do homem. Esta vida pode ser feita tolerável se nós cumprimos nosso dever.

Nós esperamos por misericórdia eterna, se de boa vontade recebemos Cristo como nosso Salvador.…” (Matthew HENRY. Comentário Bíblico Conciso – Jó 3 – www.goodrules.,net/samericano.htm) (tradução nossa)

– Jó, além de lamentar sua própria concepção, também questiona o seu nascimento (Jó 3:11), o instante em que sua mãe deu-lhe a luz, numa clara distinção, uma vez mais, entre um instante e outro, a comprovar que o homem existe desde a concepção, não sendo o feto, como o defendem os abortistas, uma simples parte do organismo da mãe. Jó é bem claro ao dizer que teria desejado morrer ao nascer, ou seja, que ele já era um ser humano no instante em que sua mãe deu-lhe a luz.

– Jó pede, também, a Deus, o Senhor do tempo, que eliminasse este dia, que ele fosse como que um aborto, pois melhor lhe teria sido esta situação do que a que estava passando agora.

É importante salientar que esta expressão de Jó jamais pode ser considerada um apoio ao aborto, pois o texto bíblico é claro em mostrar que se trata de uma queixa e lamento de Jó, portanto de uma expressão que não tem o amparo divino e, mais, o próprio patriarca desejou ter sido um aborto natural, uma morte determinada por Deus, que é o único que pode decidir sobre a vida humana, pois é Seu exclusivo dono (I Sm.2:6).

Mais uma vez, portanto, vemos o patriarca demonstrar que um servo que agrada a Deus abomina e jamais tolera a ideia do aborto.

– Além deste aspecto relevante da teologia de Jó, percebemos, também, que o patriarca, ao amaldiçoar estes dois dias (o da sua concepção e o de seu nascimento), pede a Deus que não tivesse cuidado deles nem resplandecesse Ele a Sua luz sobre eles (Jó 3:4).

Ora, isto mostra, claramente, que o patriarca era um homem que cria em um Deus que participa e intervém na Sua criação, um Deus vivo, um Deus que está interessado em ajudar o homem, um Deus ativo, não um Deus inerte e que deixa as coisas acontecerem automática e mecanicamente.

– Neste ponto, pois, Jó revela-se um “teísta”, ou seja, alguém que crê num Deus “que trabalha por quem nele espera” (Is.64:4).

Apesar de seu desânimo, o patriarca ainda não havia perdido a fé em Deus nem deixado de reconhecer que Deus é um ser soberano, que pode intervir na Sua criação, a ponto de, em sua queixa, pedir que Deus eliminasse, lá no passado, a sua própria existência.

Será que temos agido com a convicção do patriarca de que Deus pode intervir nas coisas a nosso favor?

Eis um dos motivos pelos quais entendemos que Jó pode ser visto como um desanimado e alguém sem perspectivas de continuidade de existência nesta vida, mas jamais possa ser rotulado de desesperado ou desesperançado.

– Jó, em seu questionamento, não via motivos para ter sido fonte de alegria para seus pais, seus familiares e para a própria sociedade, se agora estava ali servindo de motivo para lamentação e perplexidade dos seus semelhantes.

Queria ele que toda a alegria causada pela sua existência, agora apenas uma imagem da memória, fossem dissipadas, assim como sua existência (Jó 3:7).

– Jó, neste particular, entretanto, revelava aquele quê de autossuficiência. Já que não mais desfrutava da alegria, queria que a alegria que sua existência havia proporcionado outrora fosse igualmente desaparecida. Não podemos desejar tais coisas.

Embora não possamos viver de lembranças e do que passou (II Co.5:17; Fl.3:13), nem por isso devemos desejar que as coisas boas que decorreram de nosso passado sejam igualmente eliminadas e não venham a dar resultados para outros.

Agir deste modo é ser egoísta, é estar propenso à autossuficiência, à egolatria, precisamente o traço de personalidade que deveria ser removido do interior do patriarca, como, aliás, bem dissertou a respeito o “príncipe dos pregadores”, o britânico Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), em seu sermão “Satanás observando os santos”, cujo trecho foi traduzido por nós e colocado no esboço da lição 3.

– Desejou o patriarca, também, na sua lamentação, que pudessem amaldiçoar o seu dia e a sua existência os amaldiçoadores profissionais, ou seja, aqueles que vivem de maldições e de práticas malignas, aqueles que estão dispostos a evocar o mal (Jó 3:8).

– Neste seu gesto, também, o patriarca mostra que tinha plena consciência de que todos os amaldiçoadores e todos os praticantes de tais atitudes não tinham acesso à sua vida. Se o tivessem, Jó não estaria desejando que lhes fosse dado acesso, como agora diz em sua queixa.

– O servo de Deus precisa ter esta mesma convicção do patriarca e não temer os amaldiçoadores, sejam eles magos, feiticeiros, médiuns ou quaisquer outros agentes satânicos, muito em voga em nossos dias. Lembremo-nos da promessa de Deus para Israel, que é plenamente aplicável à Igreja (cf. I Jo.5:28): “…contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel…”(Nm.23:23a).

– Desde o primórdio de nossa existência, Deus está pronto e disposto a nos guardar e a nos livrar do mal. Assim faz até quando adquirirmos a consciência, quando, então, isto dependerá do exercício de nossa vontade.

Se, porém, aceitarmos o Senhor como Senhor e Salvador de nossas vidas, estaremos protegidos e nada nos fará dano algum (Lc.10:19).

– Se Jó nos traz a realidade de que estamos debaixo da proteção divina contra o mal, também nos deixa claro que há, sim, o ocultismo e que é real e verdadeira a invocação do mal por parte daqueles que se dispõem a adorar o diabo e seus anjos.

O próprio versículo de que estamos tratando (Jó 3:8) possui outra tradução na qual é explícita esta circunstância, como podemos ver na

NAA (“…amaldiçoem-na aqueles que sabem amaldiçoar o dia e sabem instigar o Leviatã…), na

NVI (“…amaldiçoam os dias e são capazes de atiçar o leviatã…” ), na

ARA (“…que sabem amaldiçoar o dia e excitar o monstro marinho…”),  na

Edição Pastoral (“…os que maldizem o dia, os que sabem despertar Leviatã…”) e na

Versão de Antônio Pereira de Figueiredo (“…aqueles que amaldiçoam o dia e os que estão prontos a suscitar a leviatã…”).

Assim sendo, as forças do mal podem, mesmo, ser invocadas e esta realidade precisa estar presente para os servos de Deus.

– Por causa disso, devemos dar mais atenção aos estudos e advertências de diversos servos do Senhor quanto ao mal que representam certos tipos de ritmos musicais e certas práticas que, tendo sua origem em evocações do maligno, pouco a pouco estão ganhando espaço nas igrejas, em atitudes altamente danosas à saúde espiritual do povo de Deus, bem como a exposição de nossas crianças e jovens a símbolos do ocultismo presentes na mídia.

OBS: “…Não se deixe enganar. As crianças de alguma forma estão expostas aos princípios do mal e aos símbolos do ocultismo, expressos em palavras e imagens de jogos aparentemente inofensivos.

Elas sofrem esse tipo de influência até mesmo no percurso da formação acadêmica, por intermédio de livros didáticos, paradidáticos, métodos e técnicas que facilitam a aprendizagem e favorecem desde o letramento até a capacidade de pesquisa científica.

Ao conciliar características, valores e ações de personagens e desenhos animados com a feitiçaria, o Inimigo alcança seus objetivos e engana tanto a pais quanto a filhos.

A Bíblia se refere a isso como as ciladas do Diabo (Ef.6.11).…” (Laudicéia B. da SILVA. Ameaças do pós-modernismo. Ensinador Cristão, ano 4, nº 13 – jan/mar. 2003, p.31).

– Em seu lamento, Jó observa a morte como um repouso, um descanso, algo que nivela a todos os homens, indistintamente, independentemente de sua riqueza ou posição social.

Sem dúvida, a morte é um fator que demonstra a intrínseca igualdade de todos os seres humanos, uma das provas de que, para Deus, não há acepção de pessoas.

Como diz o escritor aos Hebreus, “…aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo.” (Hb.9:27).

Se os homens tivessem bem presente esta realidade, certamente que suas condutas seriam bem diferentes com relação a Deus e à eternidade.

Tanto um príncipe como um natimorto são iguais, diz o patriarca, diante da morte. Jó, no desânimo, não vê outra saída para o término de seu sofrimento senão a morte (Jó 20-22). É esta a nítida posição de quem perdeu perspectiva nesta existência.

Todavia, ao contrário de muitos que não adoram a Deus, que não estão dispostos a obedecer-Lhe, que, quando chegam a este ponto, suicidam-se, o patriarca deseja a morte, mas a pede a Quem de direito, ao único e Todo-Poderoso, o Senhor exclusivo da vida humana. Mais uma expressão que revela que o verdadeiro e sincero servo de Deus, mesmo queixoso, prima pela excelência da vida!

OBS: “…Observe como Jó descreve o repouso da sepultura; lá os maus cessam de sofrer. Quando os perseguidores morrem, eles não podem mais perseguir. Lá os exaustos estão em descanso; na sepultura eles descansam de todos os seus trabalhos.

É um descanso do pecado, da tentação, do conflito , das lamentações e dos trabalhos ficar na presença e no gozo do Senhor.

Lá os crentes descansam em Jesus, não somente isto, mas enquanto nós confiamos no Senhor Jesus e nEle confiamos, nós aqui mesmo encontramos descanso para nossas almas, ainda que no mundo tenhamos tribulação.…” (Matthew HENRY. Comentário Bíblico Conciso – Jó 3 – www. goodrules.,net/samericano.htm) (tradução nossa).

– A expressão de Jó pode dar a entender que a morte seria um estado de inconsciência, um sono profundo, uma suspensão da existência, já que o patriarca fala em “repouso”.

Contudo, aqui também, o patriarca traz-nos importantes lições sobre a verdade bíblica da morte. A morte é um repouso, sim, é um descanso, mas não uma suspensão da existência.

O patriarca deseja a morte porque ela lhe será o fim de perturbação (Jó 3:17). Como se não bastasse isso, o patriarca afirma que, ao ser achada a morte, há alegria, exultação e saltos (Jó 3:22).

Como entender, então, que, com a morte, a alma ficaria inconsciente até o dia da ressurreição, como defendem algumas seitas e heresias, já que seu encontro é motivo para alegria de quem a buscava ?

OBS: “…O conceito de sepultura para Jó era o de um lugar de repouso. Não a considerava como extinção, mas como um lugar de contínua existência pessoal (vv.13.19…).” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. a Jó 3.13, p.775)

– A morte como solução para o mundo é uma expressão de uma filosofia que é denominada de “pessimismo”, cujo principal nome foi o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860).

Segundo este filósofo, ” a vontade de existir, de viver, de lutar, de prosseguir somente produz a tristeza e fomenta todos os males que vemos no mundo, com sues imensos e insensatos sofrimentos “(Cf. R.N. CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.119). Somente na “morte eterna”, encontrar-se-ia o sossego.

Todavia, esta filosofia parte do pressuposto de que a “Vontade cósmica”, que é como Deus é denominado pelo filósofo, é insana, é loucura.

Embora, naturalmente, não compartilhemos deste pensamento deste filósofo (cuja vida é uma clara demonstração de que suas idéias advêm de um homem sem Deus e sem salvação), seu sistema filosófico mostra-nos, de uma forma bem adequada, que desejar a morte como solução para os problemas que surgem na nossa vida é, simultaneamente, colocar em xeque a própria ordem divina sobre todas as coisas.

Pedir a Deus a morte é o mesmo que dizer que Deus agiu sem motivo e sem razão ao nos dar a vida, o que, à evidência, é algo que não faz sentido na mente de alguém que considera a Deus como o Senhor de todo o universo.

OBS: “…Esse poema, como é natural, desnuda as deficiências humanas do pensamento e da compreensão.

Não contempla nenhuma esperança para além do sepulcro; atribui a Deus o mal, sendo fraco quanto a causas secundárias.

Deus estava em Seu céu, mas as coisas definitivamente não estavam certas neste mundo. O capítulo 3 de Jó é uma expressão eloquente de pessimismo.…”(CHAMPLIN, R.N.. O Antigo Testamento Interpretado, v.3, p.1879).

– Devemos, porém, verificar que a simples percepção e compreensão da morte não gera um “pessimismo” por si só.

Com efeito, a realidade da morte e da pequena duração de nossas vidas é um fator importante para que sejamos fiéis servos do Senhor, sabendo que a vida neste mundo é uma ilusão e que está reservada a morte e uma dimensão eterna aos homens.

Esta realidade faz que sejamos humildes e, assim, aceitemos o senhorio de Deus sobre nossas vidas. Esta compreensão da morte faz-nos vigorosos e ativos na obediência ao Senhor, uma reação totalmente contrária ao pessimismo, que gera uma paralisia no ser humano, uma inércia que, em tudo, não convém ao servo do Senhor.

Não é por outro motivo que Jesus recomenda-nos a termos “bom ânimo”(Jo.16:33), pois, sem esta animação, não poderemos vencer o mal. O desânimo é uma grande cilada do adversário, pois, se pararmos na vida espiritual, certamente retrocederemos e, talvez, se não vigiarmos, podemos até perder a salvação.

OBS: “…Como o judeu de tradição não discutia com Deus sobre a justiça da morte, mas se curvava à sua inexorabilidade como expressão da vontade divina, deixar a vida pela porta de ‘saída’- a morte – era menos assustador para ele do que se poderia deduzir ao presenciar as desinibidas manifestações de emoção que cercavam essa partida.

A morte não aprecia ao judeu um espectro aterrador. Ao contrário, ela vinha para apaziguar toda a dor e a tristeza, para confortar e completar(…).

Essa submissão infantil, porém realista, do judeu às limitações do seu corpo, foi expressa de forma muito eloqüente por Job, o ‘homem aflito’ de Deus.

Nos momentos de aflição, murmurava: ‘O Senhor deu, e o Senhor tomou; abençoado seja o nome do Senhor !’

Assim, por quase vinte e cinco séculos, desde a época de Job, essas palavras hebraicas de conciliação entre uma vida agitada e uma morte inescrutável têm sido repetidas à beira do túmulo cada vez que um judeu é sepultado.…” (Nathan AUSUBEL. Morte. In: A Judaica, v.6, p.583).

No Talmude está escrito: “Rabi Levitas, de Iavne, diz: Sê muitíssimo humilde de espírito, pois o destino do homem é servir de alimento aos vermes.” (Pirke Avot 4,4).”

No comentário desta máxima ética judaica, assim se expressa Irving M. Bunim : “…Toda a existência humana humana precária, carregada de vulnerabilidade.

E o corpo em que habita o espírito, esse corpo que o homem exige de forma tão vã, esperando chamar a atenção e receber uma recompensa, está destinado a desfazer-se na terra e converter-se em alimento de larvas e vermes.

Que direito pode ter o ser humano de ser tão arrogante e vaidoso ?(…). Tenhamos presentes estas palavras de Rabi Levitas e será mais fácil para sermos humildes, tolerantes e caridosos na convivência com os demais(…).

Os sonhos de infância, os anseios da juventude, as ambições de antanho – as esperanças de todo nosso passado – não nos conduzem à realização interior.

Inevitavelmente, a expectativa supera a realidade. Então, se todas nossas esperanças acabam nos trazendo desilusão e desapontamento, por que sermos tão orgulhosos e ocupados com a própria ambição e importância ? (…).

Uma coisa deve ser óbvia: Se Rabi Levitas acrescentou estas palavras como o motivo para ser humilde, ele quer dizer uma humildade sincera, que os outros reconhecerão, e não algo fingido, fruto da própria ilusão.…” (Irving M. BUNIM. A ética do Sinai, p.215).

O poder de paralisia do pessimismo é bem demonstrado nesta passagem de um dos mais famosos artigos do líder comunista Antonio Gramsci, que mostra como até os ateus entendem que o pessimismo é arma de inércia:

“…(é momento – observação nossa) de fazer um exame de consciência, um exame do pouquíssimo que tenhamos feito e do imenso trabalho que ainda deveremos desenvolver, contribuindo especialmente para dissipar esta obscura e grave onda de pessimismo que oprime os militantes mais qualificados e responsáveis e que representa um grande perigo,

a maior força do momento atual, pelas conseqüências de passividade política, de torpor intelectual e de ceticismo em relação ao futuro…”(GRAMSCI. Antonio. Contra o pessimismo. L’ordine nuovo, 15 marzo 1924. www.antoniogramsci.com/pessimismo.htm). (tradução e destaques nossos)

– Jó, também, em sua queixa, não concebe porque Deus oculta dos Seus servos o desenvolvimento de suas vidas. “Por que se dá a luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu ?” (Jó 3:23).

” Por que antes do meu pão vem o meu suspiro, e os meus gemidos se derramam, como água ? “( Jó 3:24).

Jó quer saber porque Deus ocultou todo o seu sofrimento e para que estava sofrendo tanto. Ter servido a Deus fielmente havia-lhe levado a este estado miserável.

Por que, então, ter Deus o feito existir ?

Por que Deus havia decidido ter um servo chamado Jó ?

É este o questionamento do patriarca que se achava no direito de ter acesso a todos os segredos e propósitos de Deus.

Apesar de sincero, reto, temente a Deus e de se desviar do mal, apesar de ser o homem mais excelente da Terra em seu tempo (e de todos os tempos, um dos mais excelentes, como se verifica de Ez.14:14), Jó continuava sendo um simples homem, era apenas servo, não o Senhor.

Por isso, todo este questionamento era-lhe absolutamente impertinente, como Deus haveria de comprovar quando tivesse cumprido totalmente o Seu propósito na vida do patriarca.

Será que o(a) irmão(ã) também tem recheado a sua vida de porquês ?

Será que suas indagações têm sido tais que não há quem possa lhe consolar ou lhe trazer palavras do Senhor ?

Veja o exemplo do patriarca Jó, cuja estatura espiritual, certamente, é bem maior que a sua (como é bem maior que a nossa) e verifique se não será melhor aprendermos com Jesus e seguirmos o Seu sábio e importante conselho dado a Pedro, antes que sejamos levados, como Jó, para o redemoinho, para ali entendermos que não devemos saber o porquê, mas tão somente adorar e obedecer.

II – O QUE ACONTECERIA SE A PETIÇÃO DE JÓ FOSSE OUVIDA

– Deus é o Senhor e, portanto, cabe a ele, e não a nós, determinar quais as petições nossas que devem ser atendidas, ou não.

Em virtude nossa natureza pecaminosa e de nossas inclinações, somos propensos a pedir visando apenas o nosso interesse e, mesmo assim, o interesse imediato.

Como o Senhor nos ama e sabe qual é a nossa estrutura (Sl.103:14), conhecendo-nos mais do que nós mesmos, pois foi Ele quem nos fez e nos observa desde a nossa elaboração (Sl.139:15,16).

Assim, somente Deus sabe o que é o melhor para cada um dos Seus servos e é por este motivo que não atende a todos os nossos desejos.

– O verdadeiro servo do Senhor tem noção disto e não fica querendo a sua vontade prevaleça, mas, em seus pedidos a Deus, sempre tem consciência desta realidade e, por isso, como Jesus nos ensinou, devemos sempre orar para que Deus faça a Sua vontade em nossas vidas (Mt.6:10).

É quando temos o mesmo sentimento do Senhor que passamos a desejar o mesmo que Ele e é nesta circunstância que se cumpre em nós o que se diz em Jo.14:13,14, texto tão citado pelos pregadores da prosperidade, mas que, em absoluto,

representa uma submissão divina a nossos caprichos ou desejos, mas, antes, um texto que confirma que devemos nos submeter à vontade do Senhor e que, quando tivermos com Ele comunhão, a vontade de Deus será a nossa e, assim, seremos instrumento da vontade de Deus neste mundo.

Se Deus concedesse o que pedia o patriarca Jó, jamais teríamos este exemplo de adoração, jamais teríamos a oportunidade de observar esta verdadeira ‘mensagem para os adoradores de Deus’, não poderíamos contemplar, séculos e milênios depois, esta triunfante vitória de um servo de Deus sobre o adversário e sobre o mal jamais teria ocorrido.

Como afirmou Charles Spurgeon, jamais teríamos notícia de um servo como Jó para ser exemplo a ser seguido caso o pedido do patriarca fosse atendido. Jó não deveria ser apenas um homem conhecido de Uz ou de seus vizinhos, mas de todo o mundo e em todas as épocas.

Deus tinha outro destino para Jó, muito melhor do que ele jamais imaginara. Assim, tenhamos sempre a certeza de que Deus é “poderoso para fazer muito mais abundantemente além daquilo que pedimos e pensamos” (Ef.3:20), mas que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto”(Rm.8:28).

Tendo este sentimento, certamente poderemos ter a convicção de que”… em todas estas coisas somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou” (Rm.8:37).

 Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5883-licao-5-o-lamento-de-jo-i

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