LIÇÃO Nº 6 – A MORDOMIA DA ADORAÇÃO
A adoração a Deus é o gesto concreto de nosso reconhecimento de que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive de nosso ser.
INTRODUÇÃO
– A adoração é o ato pelo qual o homem reconhece que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive do adorador.
– A adoração, embora envolva o culto formal a Deus numa igreja, não se confunde com esta prática, pois é algo que deve estar presente em todas as ações do ser humano,
tanto que Jesus nos ensinou que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e em verdade(Jo.4:23), ou seja, em todo o tempo, independentemente de local ou ocasião.
I – MORDOMIA DE ADORAÇÃO A DEUS
– A primeira vez que a palavra “adorar” aparece na Bíblia é em Gn.22:5, quando Abraão avisa seus servos que iria ao monte Moriá, juntamente com Isaque, para adorar e, depois, voltaria, com o seu filho, até o pé do monte, onde os servos deveriam esperar.
Entretanto, não é esta a primeira vez que vemos um homem adorando a Deus nas Escrituras, ainda que a palavra não estivesse registrada antes no texto sagrado.
Com efeito, o primeiro casal tinha um momento peculiar com Deus na viração do dia (Gn.3:8), um instante em que se dirigiam a Deus e a Ele prestavam contas por tudo que tinham feito durante o dia.
Era um momento em que se reconhecia a soberania divina e em que o homem se dedicava a um encontro mais íntimo com o seu Senhor.
– Após a queda do homem, apesar da impossibilidade de uma comunhão com Deus, pois o pecado fez uma divisão entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:14),
o primeiro casal ensinou a seus filhos que havia a necessidade de se render a Deus um tributo, um louvor, de reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas e que, portanto, devemos dar a Ele satisfação e Lhe render graças.
Por isso, vemos Caim e Abel apresentando ofertas a Deus, numa atitude nítida de adoração a Deus (Gn.4:3,4).
Podemos observar nesta passagem algumas características da adoração, no limiar da história humana, a saber:
a) A adoração é uma prática que acompanha a própria existência do homem – Como vimos, o primeiro casal tinha um instante diário de adoração e, diante desta prática, havia ensinado seus filhos a procederem da mesma maneira. O homem, portanto, foi feito para adorar a Deus.
b) A adoração é necessária, mas espontânea – A adoração é uma atividade que era considerada necessária por parte da primeira família, tanto que Caim, mesmo não estando interiormente disposto a fazê-lo, não ousou negar-se a oferecer algo a Deus, pois tinha consciência da necessidade deste gesto.
Embora necessária, a adoração é espontânea, tem de partir do homem.
Não confundamos a adoração com a sujeição, que é o ato pelo qual Deus, por Sua soberania, imporá, num tempo por Ele determinado, Seu senhorio sobre todos os seres, através de Cristo Jesus (I Co.15:27,28; Ef.1:22; Hb.2:8).Isto é sujeição, não adoração.
c) A adoração consiste de atos externos – A adoração é demonstrada através de gestos concretos, visíveis por todos os demais homens. Caim trouxe uma oferta de vegetais, enquanto Abel sacrificou animais.
d) A adoração também se faz no interior do homem – Embora se manifeste por atos exteriores, a adoração começa no homem interior, é uma atitude que tem seu nascimento no espírito, que é a parte do homem que mantém o canal com Deus. Por isso, a oferta de Abel foi aceita, mas não a de Caim.
e) A adoração é acompanhada e observada por Deus – A disposição para a adoração partiu do homem, mas foi atentamente observada pelo Senhor.
Quando nos dispomos a adorar a Deus, jamais nos esqueçamos de que o Senhor a tudo está observando e conhece quais são nossas intenções e os nossos atos, tanto que aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim.
f) A adoração permite uma comunicação entre Deus e o homem – Mediante a adoração, Deus aceita, ou não, o gesto do homem, mas é através dela que Deus Se manifesta ao homem, mesmo àquele que não teve aceita a sua oferta, de modo que se estabelece o necessário relacionamento entre Deus e o homem.
Através da adoração, o homem tem condições de entender que o pecado é o responsável pela ruptura da comunhão entre o ser humano e o seu Criador.
g) A adoração, para que seja aceita por Deus, exige um ato de fé e uma prévia justificação dos pecados – A Bíblia afirma-nos que Abel era uma pessoa dotada de fé e de justiça (Mt.23:35; Hb.11:4), enquanto que Caim era do maligno (I Jo.3:12).
Reside, então, aí a razão por que a adoração de Abel foi aceita e não a de Caim. Para que possamos adorar a Deus, devemos ter fé, pois sem ela é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6).
Tendo fé, poderemos ser justificados diante de Deus, passando a ter paz com ele (Rm.5:1) e, deste modo, livres do pecado, poderemos ser aceitáveis diante do Senhor.
Como diz conhecido cântico, “em altar quebrado, não se oferece sacrifício a Deus”. (cfr. I Rs.18:30).
– A palavra “adoração” vem do latim “ad orare”, que significa “para ser feito com a boca”, ou seja, “beijar”.
Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antiguidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade de alguém.
Assim, “adorar” é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a seu senhorio e a sua superioridade.
Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas vidas.
Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um rotundo absurdo (Mt.4:10).
– Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente, o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras.
Em hebraico, temos a palavra “sahah” (ָשָחה), que tem o significado de “curvar-se, prostrar-se , agachar-se, cair, suplicar humildemente, prestar reverência, adorar.
Este verbo é usado para designar o curvar-se perante um monarca ou um superior, prestando-lhe reverência (Gn.43:28)…” (Bíblia de Estudos Palavras-Chave, Dicionário do Antigo Testamento, n. 7812, p.1956).
Em grego, a palavra “proskyneo” (προσκυνέω), cujo significado é
“…beijar, como um cão lambendo a mão de seu dono; adular ou agachar-se, i.e., (literal ou figurado) prostrar-se em homenagem (apresentar reverência a, adorar)…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, n. 4352, pp.2377-8).
– Como se percebe, sempre há a ideia de homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a Deus.
É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala “beijai o Filho”.
– Em seguida, vemos que uma das características que temos da descendência piedosa de Sete, estava, precisamente, no fato de que era esta linha de descendentes que adorava a Deus.
A Bíblia informa-nos que, após o nascimento de Enos, o filho primogênito de Sete, passou-se a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, Deus passou a ser buscado, a ser procurado, a ser reverenciado.
O fato de esta linha de descendentes adorar a Deus, buscar reconhecer a sua autoridade, era o grande diferencial entre eles e os descendentes de Caim, a ponto de a Bíblia a eles se referir como sendo os “filhos de Deus” (Gn.6:2).
Deus sempre irá manter um relacionamento de pai para filho com aqueles que O adorarem!
– Esta invocação ao nome do Senhor será uma constante na vida dos grandes homens de Deus, dos homens que eram agradáveis a Deus.
Noé, Abraão, Isaque e Jacó são exemplos de pessoas que, sendo agradáveis a Deus, têm, em suas vidas, o registro de construção de altares a Deus.
Ora, a construção de um altar para que nele se fizessem sacrifícios a Deus, é uma demonstração de que estes homens eram adoradores do Senhor, tanto que a palavra “adorar”, como vimos, é registrada, pela primeira vez nas Escrituras, mencionada pelo próprio Abraão.
– Quando libertou o Seu povo do Egito, Deus instituiu, através da lei, uma série de ritos e cerimônias que deveriam materializar, tornar visível a adoração de Israel a Deus.
Entretanto, é bom que deixemos claro, a adoração não se circunscrevia a aspectos meramente externos ou formais.
Havia toda uma série de regras e normas para que se trazer ofertas e sacrifícios a Deus, para a realização de festividades ao Senhor,
mas Deus sempre tinha um vívido interesse de que o Seu povo não O adorasse apenas formalmente, de modo exterior e superficial, mas, bem ao contrário, que a adoração fosse nascida no espírito de cada israelita.
– Tanto assim é que, ao contrário do que se costuma dizer (principalmente entre os romanistas), o primeiro mandamento não é adorar a Deus sobre todas as coisas, mas, sim, a amar a Deus sobre todas as coisas (Mt.22:37), pois,
para que haja uma verdadeira adoração, como nos mostrou o episódio de Caim e de Abel, é preciso, antes de mais nada, amar a Deus, pois só quando O amamos, fazemos o que Ele nos manda (Jo.15:14).
Tanto assim é que Deus exige de Seu povo a obediência (Dt.32:46; Is.58:5,6), não realização de cerimônias ou rituais.
O nosso Deus é o mesmo e muitos têm se iludido achando que Deus Se agrada se cumprirmos tão somente os deveres litúrgicos, ou seja,
se rendermos a Deus um culto formal em alguma igreja. Deus quer de nós, fundamentalmente, sinceridade e obediência à Sua Palavra, pois o obedecer é melhor do que o sacrificar (I Sm.15:22).
– Na nossa dispensação, não é diferente. Agora que Deus atua livremente, através do Espírito Santo, no interior de cada crente, temos uma adoração independente de locais ou rituais,
uma adoração em espírito e em verdade, uma adoração de verdadeiros adoradores (Jo.4:24), que adoram a Deus a todo instante e mediante a sua própria vida, pois é uma adoração que vem do íntimo do ser humano, mediante uma convicção de que, em Cristo, somos filhos de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:.1,9,14-17).
– Por isso mesmo, nossa Declaração de Fé assim afirma: “CREMOS, professamos e ensinamos que a adoração é serviço sagrado, culto, reverência a Deus por aquilo que Ele é e por Suas obras:
‘Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás’ (Mt.4:10).…” (cap. XV, p.143).
II – RAZÕES PARA A ADORAÇÃO
– Como temos visto, a adoração a Deus é algo que faz parte da própria natureza do ser humano, é uma característica que acompanha o homem desde a sua feitura.
O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus.
A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.
Tem-se, pois, que a adoração é um elemento fundamental na própria doutrina da mordomia, portanto.
– O primeiro motivo, portanto, para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o Criador de tudo, inclusive do próprio homem.
Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração.
Todo homem é apresentado a Deus como sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador.
Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).
– O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia do ser humano.
Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8).
Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário (Jo.15:13).
Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.
– O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou.
Deus não somente amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo.
Em Cristo, temos novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus (Rm.5:1; Ef.2:13,14).
Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era possível ao homem pecador (Hb.10:19-22).
Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5).
Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém (Ap.21:2-4).
– O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas.
A missão principal dos servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados (Mc.1:14,15).
Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto só será possível mediante a visibilidade da adoração.
Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós (Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18).
Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o “mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar.”
– O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual do crente depende da sua vida de adoração.
A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual.
Se não avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo.
Por isso, o escritor da epístola aos Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7).
– Sendo a vida espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo o tempo,
mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando (Jo.4:23).
– O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque confiamos n’Ele. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto,
para que possamos adorar a Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam.
Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao Se dirigir às pessoas que O ouviam, fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.
– O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se amarmos a Deus poderemos adorá-l’O.
Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado, queremos estar, constantemente, na sua companhia.
Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua adoração a Ele.
A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: ” o meu amado é meu e eu sou dele” (Ct.2:16a).
III- ASPECTOS DA ADORAÇÃO CRISTÃ
– Como temos visto, a adoração é uma característica que acompanha o ser humano desde o início da sua existência.
O homem foi feito para adorar a Deus. Entretanto, com a entrada do pecado no mundo através do primeiro casal, esta característica do homem ficou obscurecida, sensivelmente abalada, a ponto de, já na primeira geração da humanidade após a expulsão do Éden, contemplarmos alguém que não adorou perfeitamente ao Senhor, a saber, Caim.
– Também já vimos que, quando Deus Se revelou plenamente ao homem, na pessoa de Jesus Cristo (Hb.1:13), pudemos contemplar a própria glória de Deus (Jo.1:14) e,
a partir de então, a adoração a Deus atingiu uma dimensão nunca antes vista, pois Deus passou a habitar no próprio homem, através do Espírito Santo (Jo.14:17),
tornando a cada homem que aceite a salvação na pessoa de Cristo Jesus um templo do Espírito Santo (I Co.6:19).
Desta maneira, como Jesus disse à mulher samaritana, passamos a ser templos ambulantes, a ser adoradores do Pai em espírito e em verdade, não dependendo mais de locais prédeterminados para adoração, mas sendo pedras vivas do edifício de Deus (I Pe.2:5).
– A vida de um crente, portanto, a partir da consumação de obra de Cristo, passou a ser um altar, uma vida de adoração.
A adoração está presente em todos os atos da vida do crente, tanto que, por verem as obras de um cristão, os homens acabam por glorificar o nome de Deus, algo que, no passado, na antiga aliança, somente ocorria quando o povo se dirigia até o templo de Jerusalém.
– Devemos ter esta consciência de que a nossa vida é a base de toda a nossa adoração. Adorar a Deus significa servi-l’O a todo instante, a todo momento.
Conhecida música popular brasileira afirma que ” qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa” e isto é uma grande realidade.
Há pessoas que, dizendo-se cristãs, preocupam-se em ter uma vida de adoração apenas nas quatro paredes do templo de sua igreja local, esquecendo-se totalmente de que devem ser templos do Espírito Santo.
– A adoração a Deus envolve estes momentos de culto a Deus, de devoção coletiva, como também os instantes de devoção individual, na nossa oração diária, na leitura da Palavra de Deus, mas a devoção é apenas um dos aspectos da adoração cristã, que vai muito além de tudo isto.
Seremos verdadeiros adoradores de Deus se pudermos exclamar como Paulo: não sou mais eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl.2:20).
– Nossa Declaração de Fé tanto afirma que há uma adoração pública e coletiva, quando
“…Reunimo-nos como corpo de Cristo para a adoração pública ao Deus Trino. Jesus prometeu :’onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles’ (Mt.18:20).
A adoração pública é a atividade de glorificar a Deus em coletiva e serve também para comunhão [I Jo.1:7], despertamento [I Ts.5:11], exortação [Cl.3:16] e edificação da Igreja [I Co.14:26]…” (cap. XV, n.1, p.144), como também uma adoração individual:
“…Nós adoramos a Deus como crentes individualmente em todo o tempo: ’a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem’ (Jo.4:23).
Ensinamos que a verdadeira adoração é aquela que nasce no coração e é expressa com obediência à vontade de Deus, sendo percebida pelo testemunho individual que glorifica ao Senhor da Igreja [Mt.5:16; Tg.3:13]…” (cap.XV. n.2, p.144).
– O primeiro aspecto da adoração cristã, portanto, é a nossa vida prática, são as nossas ações, os nossos gestos no dia-a-dia, no cotidiano. Como temos vivido?
Temos realizado boas obras, de modo que as pessoas, ao verem o nosso porte, glorifiquem a Deus que está nos céus, como nos determina Jesus em Mt.5:16?
Nossas ações são movidas por amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança, que é o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22)?
Jesus disse que conheceríamos as pessoas pelos seus frutos, não pelas suas palavras ou aparências (Mt.7:16,20).
– O servo de Deus é reconhecido não pelo que fala, mas pelo que vive (Mt.7:22-27).
Mantemos uma vida de integridade diante de Deus, tendo, em todo o tempo, uma vida de santificação contínua na presença do Senhor? Temos nossas vestes limpas e óleo sobre a nossa cabeça? (Ec.9:8).
– O segundo aspecto da adoração cristã envolve a devoção a Deus. Qual é a nossa vida devocional? Temos um relacionamento espiritual com o Senhor?
Dedicamos parte do nosso dia para termos um contacto mais intenso e profundo com Deus? Oramos sem cessar?(I Ts.5:17) Jejuamos?(Mt.6:16-18) Meditamos na Palavra de Deus de dia e de noite ?(Sl.1:2).
– É importante observar que a devoção a Deus é, em primeiro lugar, uma atividade individual.
O salmista diz que é bem-aventurado o homem que meditar na Palavra do Senhor.
Jesus afirma que a vida de oração deve ser individual, devemos entrar em o nosso aposento e, em segredo, clamarmos a Deus. Ele próprio nos deu este exemplo em mais de uma oportunidade (Mt.14:23; Lc.22:41).
Com relação ao jejum, é também, em primeiro lugar, uma ação individual, imperceptível aos olhos dos demais.
– Depois de uma atividade individual, a devoção deve ser algo existente no seio da família, o grupo social mais íntimo do homem.
Abraão, pelo que podemos observar, era um homem que fazia com que todos os seus servos adorassem ao seu Deus, tendo os mesmos propósitos e os mesmos ideais (Gn.14:14; 22:5).
Josué podia dizer que servia com sua casa a Deus, porque tinha uma vida devocional familiar (Js.24:15).
A vida ministerial de Timóteo só foi possível graças ao lastro que lhe proporcionou a vida devocional que teve em sua família, ainda que seu pai não fosse judeu (II Tm.3:14,15).
– Um lar onde não haja um momento devocional, o chamado “culto doméstico”, é, sem dúvida alguma, um alvo fácil e predileto do inimigo de nossas almas.
Uma família que adora a Deus é o cordão de três dobras, que não pode ser facilmente desfeito (Ec.4:12).
Esta terceira dobra é, precisamente, o relacionamento existente entre os fundadores do lar (o casal) e o Senhor Deus, algo que é construído pela existência de uma adoração a Deus no seio familiar.
– Após as dimensões individual e familiar, temos a devoção na igreja local. A
igreja, como o próprio nome diz, é a ” reunião daqueles que foram tirados para fora”, ou seja,
a reunião daqueles que saíram do mundo e do domínio do pecado, que foram resgatados do lamaçal do pecado por Jesus e cujos pés foram colocados na rocha eterna (Sl.40:2).
Não é possível uma vida devocional sem que haja a reunião na igreja local.
– A igreja local, a reunião dos crentes em Cristo, é algo necessário e indispensável para que tenhamos uma vida espiritual completa e de acordo com os padrões bíblicos.
A igreja local não é uma criação humana, mas uma determinação divina.
Desde o momento que Jesus subiu aos céus, determinou que Seus discípulos ficassem reunidos num mesmo lugar, para que pudessem desfrutar de uma maior intimidade com o Senhor (Lc.24:49; At.2:1).
– Percebamos que o revestimento do poder, o batismo com o Espírito Santo somente foi recebido por aqueles que se mantiveram reunidos no mesmo lugar, debaixo do governo instituído por Deus, na época, do governo dos apóstolos (At.1:15,26).
Foram mais de quinhentos crentes os que ouviram do Senhor a promessa do Espírito (I Co.15:16), mas apenas quase cento e vinte alcançaram a sua realização (At.1:15), porque só estes se mantiveram reunidos em adoração a Deus.
– O crescimento espiritual do crente depende do convívio na igreja local, da devoção coletiva. Embora seja importante que sejam mantidos grupos de oração, grupos de estudo, nada substitui o modelo bíblico da igreja local.
As “células”, tão em voga nos nossos dias, não podem substituir as igrejas locais, pois, nem muito menos têm qualquer chance de sobrevivência espiritual os chamados “desigrejados”, cada vez mais numerosos em nossos dias.
– Na devoção coletiva, o povo de Deus, reunido, tem condições de se aperfeiçoar, pois é nesta reunião que os dons espirituais se manifestam (I Co.14:12,19), bem como é na igreja local que se exercem os dons ministeriais (Ef.4:11-16).
Também, nas reuniões da igreja local, temos a presença de nosso Senhor, que assim nos prometeu (Mt.18:20).
Por isso, é fundamental que estejamos sempre presentes nas reuniões da igreja local, para que desfrutemos da presença do Senhor e possamos completar a nossa adoração ao Senhor.
– Na dispensação da graça, como vimos, a adoração é feita em espírito e em verdade, de tal maneira que, com exceção do batismo nas águas e da Ceia do Senhor, não há atos fixos e cerimoniais rígidos na vida devocional coletiva da igreja.
– Em assim sendo, devemos aceitar uma certa liberdade no modo de adoração ao Senhor, vez que não há padrões rígidos e fixos após a vinda do Senhor a este mundo. Daí porque as Escrituras dizerem que onde há o Espírito de Deus, aí há liberdade (II Co.3:17).
– Contudo, a liberdade na adoração a Deus não significa, em absoluto, que não haja quaisquer regras ou parâmetros na devoção coletiva, na liturgia, que é o nome que os teólogos dão a esta ordem de culto a Deus na igreja local.
Liberdade, biblicamente falando, é algo que é feito debaixo da submissão da autoridade divina, algo que tem responsabilidade, não uma autonomia diante de Deus, muito menos uma libertinagem.
Nosso Deus é um Deus de ordem e de decência e, como tal, a devoção coletiva deve observar estes parâmetros de nosso Senhor ((I Co.14:40).
– Nossa Declaração de Fé, aliás, afirma: “…Essa adoração pública é realizada com ordem e decência para que os descrentes reconheçam a presença de Deus no culto [I Co.14:25,33,40] e para que somente Deus seja adorado no culto da Igreja [Mt.4:10]…” (cap.XV, n.1, p.144).
– A Bíblia afirma que, quando a igreja se reúne, deve haver, na devoção coletiva salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo com o propósito de edificação (I Co.14:20). Vejamos, pois, cada um destes momentos que deve haver na devoção coletiva a Deus.
– O primeiro ponto que deve existir numa vida devocional coletiva é o salmo, ou seja, o louvor.
Quando Paulo se refere a salmo, está se referindo ao louvor, pois o salmo era a forma pela qual os judeus louvavam ao Senhor, já que os Salmos eram o hinário oficial de Israel.
Desde os tempos do Antigo Testamento, nas cerimônias e celebrações coletivas de adoração a Deus, estava presente um momento de louvor e de cântico.
As Escrituras ensinam-nos, em diversas partes, que tudo quanto tem fôlego deve louvar ao Senhor (Sl.150:6).
O ministério do louvor é o único ministério que perdurará após a glorificação dos salvos, pois os anjos não cessam de louvar a Deus e estaremos com o Senhor para sempre, louvando-O.
Deste modo, é indispensável que a liturgia incorpore momentos de louvor na vida devocional coletiva.
– Entretanto, o louvor, como bem demonstra a Bíblia, é um sacrifício pacífico que se faz ao Senhor nesta dispensação (Hb.13:15).
Sendo assim, há critérios que devem ser observados quanto ao louvor que deve ser entoado pela igreja ou na igreja por ocasião de nossas reuniões devocionais.
O louvor deve ser o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor (Hb.13:15), ou seja, o louvor é o resultado de uma vida de confissão a Deus, de uma vida de arrependimento dos pecados, de uma vida diferente daquela que é vivida pelos homens que não têm a salvação.
– Sendo assim, o louvor não pode ser igual nem tampouco semelhante à música que é seguida e observada pelo mundo sem Deus e sem salvação.
O louvor a ser entoado deve ter respaldo bíblico, não só com relação à letra, mas, e principalmente, com respeito à melodia e harmonia.
Devemos fazer distinção entre o santo e o profano (Ez.22:26;44:23), pois este é um dever de todo sacerdote (e cada um de nós é um sacerdote diante de Deus – I Pe.2:9).
– O louvor é fruto daqueles que demonstram não estar conformados com o mundo (Rm.12:2).
Como, então, poderemos demonstrar que estamos adorando a Deus, usando o fermento velho? (I Co.5:7,8).
É lamentável que estejamos numa época em que a música profana tem invadido completamente as nossas igrejas e ocupado o lugar dos nossos hinos sacros.
A Bíblia fala que o verdadeiro culto devocional coletivo a Deus se faz com salmos, ou seja, com hinos inspirados, santos e distintos das demais músicas, das músicas mundanas e profanas.
– É interessante, também, observar que, embora o salmo seja uma parte importante e indispensável da devoção coletiva, não é a que deve ocupar a maior parte do tempo da reunião.
A Bíblia mostra-nos que Jesus dedicou apenas uma pequena parte do culto de instituição da ceia para o louvor (Mt.26:30), hino, aliás, que,
entendem muitos estudiosos da Bíblia Sagrada, seja o salmo 116 (ou seja, Jesus cantou um cântico selecionado, um cântico sacro, um cântico do hinário oficial de Israel).
O louvor é importante, mas é apenas um instante de preparação para o momento principal da reunião, que é a exposição da Palavra de Deus.
– Hoje em dia, infelizmente, devido ao grande número de grupos musicais na igreja, sem se falar naqueles que preferem cantar individualmente, não raras vezes, três quartos do tempo da reunião são dedicados ao louvor, o que tem causado grande prejuízo espiritual ao povo de Deus.
O alimento do homem é a Palavra de Deus e o excesso de louvores tem contribuído para o raquitismo espiritual da igreja nos nossos dias.
Precisamos voltar aos tempos passados, onde se ouviam até três mensagens numa reunião.
– O segundo ponto que deve estar presente numa reunião é a oração que, no texto mencionado por Paulo, é denominada de revelação, de língua e de interpretação.
É indispensável que a igreja, reunida, busque a Deus em oração, para que tenhamos uma verdadeira adoração e a presença de Deus se faça sentir no meio dos crentes.
Cada crente deve, assim que chegar à igreja, buscar a face do Senhor, orar para que o nome do Senhor seja glorificado na reunião.
Nos dias antigos (e, atualmente, em outras denominações, que são tão criticadas por pontos secundários, mas que, neste aspecto, são muito mais reverentes e superiores a nós), o povo de Deus, ao chegar à casa do Senhor, dobrava seus joelhos e, numa atitude de reverência, seguindo o que determina a Bíblia Sagrada (Ec.5:1), orava ao Senhor até o início da reunião.
– Hoje em dia, estarrecidos, observamos que os crentes aproveitam este período para falar da vida alheia, rever os amigos, marcar encontros, entabular negócios e tantas outras coisas, menos para buscar a Deus.
Acham que o culto começa no momento da oração inicial, quando, na verdade, não vimos à igreja para assistir a um culto, mas para prestarmos o nosso culto a Deus, juntamente com os demais cristãos, naquele local.
O culto na igreja começa quando ali chegamos e devemos aproveitar o nosso tempo para orar e buscar a presença de Deus.
As reuniões não têm sido mais proveitosas espiritualmente para os crentes exatamente porque não há este propósito de orarmos ao Senhor desde o instante de nossa chegada à igreja local.
– Além deste momento de oração antes do início da devoção coletiva, deve haver alguns momentos de oração durante a reunião, onde são publicadas as necessidades dos santos à igreja local, para um intercessão, bem assim comunicados os agradecimentos pelas bênçãos recebidas.
Também este é o momento adequado para que se proceda a eventuais unções com óleo, que devem ser feitas exclusivamente sobre membros da igreja enfermos, que é a hipótese bíblica para unção na nova aliança (Tg.5:14).
Também, neste momento, deve-se abrir oportunidade aos irmãos que queiram testemunhar das maravilhas que o Senhor tem feito em suas vidas.
– A parte mais importante da devoção coletiva, entretanto, é a que diz respeito à exposição da Palavra de Deus.
A explanação da Palavra é uma necessidade imensa do povo de Deus e um dos principais motivos para a sua reunião coletiva.
Se existe a igreja local, se existe este grupo com o devido governo constituído pelo Senhor, é, precisamente, para que haja o ensino da Palavra de Deus, tarefa primordial do ministério na casa do Senhor (cfr. At.6:2,4).
– Esta é a parte referente à doutrina mencionada por Paulo em I Co.14:26, o que deve ser gotejado incessantemente sobre a igreja (Dt.32:2).
Doutrina é a exposição da Palavra do Senhor, do evangelho, dos ensinos de Deus para o homem, não se confundindo com usos e costumes.
Eis a razão por que é requisito indispensável para a separação de alguém para o ministério a sua capacidade de ensinar as Escrituras (I Tm.3:2).
– Nossas reuniões devocionais devem dar prioridade à exposição da Palavra do Senhor com, no mínimo, duas pregações ao longo da reunião.
Antes do término da reunião, deve haver uma mensagem final de convite aos pecadores para que aceitem a Cristo como Salvador, o nosso conhecido “apelo”, que nunca deve faltar numa reunião devocional coletiva da igreja local, pois nosso objetivo primordial é ganhar almas para Jesus.
Infelizmente, muitos, por incrível que pareça, têm eliminado esta parte do culto, fazendo com que tenhamos sérias dúvidas de que tenham, ainda, consciência de que uma reunião devocional não é um mero ajuntamento social.
– Também faz parte da devoção coletiva a parte referente à contribuição financeira para o sustento da obra do Senhor.
As ofertas e os dízimos são parte de nossa devoção a Deus, de nosso compromisso com a pregação do Evangelho, são parte integrante e indissociável da nossa adoração.
Não obstante, temos aqui apenas uma parte do culto devocional, que deve ser conduzida com moderação e devida explicação de seus objetivos aos ouvintes da Palavra de Deus, buscando-se,
diante do mercantilismo reinante no mundo religioso dos nossos dias, haver um devido esclarecimento e, inclusive, relevando-se que se trata de uma obrigação dos crentes, não extensiva àqueles que estejam visitando a comunidade.
– A devoção coletiva, seguindo esta ordem, será, certamente, agradável ao Senhor, que Se fará presente e proporcionará não somente o aperfeiçoamento espiritual dos crentes reunidos, mas também ocasionará a salvação de vidas preciosas para o reino de Deus.
– Quaisquer atividades que fujam desta principiologia bíblica, que sirvam apenas para entretenimento ou para a satisfação de necessidades carnais, que não trazem quaisquer edificações, devem ser evitadas e, muitas vezes, repudiadas pelos verdadeiros e genuínos servos de Deus.
Muitas e inúmeras têm sido as aberrações que se têm visto nestes dias de apostasia espiritual e não podemos jamais nos apartar dos parâmetros estatuídos pelo Senhor: o que não servir para edificação espiritual, jamais deve ser tolerado ou admitido no culto.
– Nossa Declaração de Fé bem resume tudo o quanto se disse até aqui:
“…Nossa liturgia é simples e pentecostal, conforme o modelo do Novo Testamento: ‘Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação.
Faça-se tudo para edificação’ (I Co.14:26). Ela consiste em oração, louvor, leitura bíblica, exposição das Escrituras Sagradas ou testemunho e contribuição financeira, ou seja, ofertas e dízimos.
Entendemos que a adoração está incompleta na falta de pelo menos um desses elementos, exceto se as circunstâncias forem desfavoráveis ou contrárias.…” (cap. XV, n.3, p.145).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4284-licao-6-a-mordomia-da-adoracao-i