LIÇÃO Nº 6 – A PECAMINOSIDADE HUMANA E SUA RESTAURAÇÃO A DEUS
CREMOS
(…)
- Na pecaminosidade do homem, que o destituiu da glória de Deus e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo podem restaurá-lo a Deus (Rm;3:23; At.3:19).
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INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da Declaração de Fé da CGADB, analisaremos hoje o item 5, que cuida, a um só tempo, de duas doutrinas bíblicas, a doutrina do homem e a doutrina do pecado, ainda anunciando a doutrina da salvação, que será tratada no item seguinte da Declaração de Fé.
– O pecado surgiu do mau uso da liberdade de escolha dado por Deus tanto a homens quanto a anjos.
Ao querer ter uma vida independente de Deus, o querubim ungido fez surgir o primeiro pecado (Ez.28:15). Também, ao ter o mesmo desejo, o primeiro casal fez ingressar o pecado na humanidade (Gn.3; Rm.5:12).
I – A ORIGEM DO HOMEM
– A Bíblia traz ensino a respeito do homem, pois, como temos visto ao longo deste trimestre, é a revelação divina ao homem.
Destarte, não só fala a Bíblia do seu autor, que é Deus, como também nos ensina a respeito do homem, o destinatário desta mensagem. O ensino bíblico a respeito do homem, aliás, é o mais autorizado, pois se trata da revelação da parte de quem criou o homem e nada melhor do que o autor para falar a respeito de sua obra.
Não surpreende, portanto, que os homens, ao tentarem explicar quem são, tenham chegado à conclusão do filósofo e médico francês Alexis Carrel (1873-1944, Prêmio Nobel de Medicina de 1912) que, ao escrever a respeito do assunto, acabou intitulando seu livro de “O que é o homem, esse desconhecido”.
Realmente, sem a revelação divina, não há como sabermos quem é o homem, mesmo que tenhamos conquistado o Prêmio Nobel, visto que só Deus, que fez o homem, tem condições de nos revelar quem é esta criatura que Ele, com tanto zelo, fez surgir.
– Com respeito a este ponto, a Bíblia é clara ao mostrar que o homem foi criado por Deus e de forma singular.
O homem foi criado ao término do sexto dia da criação, como nos relatam as Escrituras, e de modo diferente dos demais seres até então criados sobre a face da Terra.
Enquanto os seres foram criados pelo poder da Palavra (Gn.1:11,14, 20 e 24), com relação ao ser humano, houve uma deliberação da Trindade para que o homem fosse criado, criação esta, aliás, que é pormenorizada no capítulo 2 de Gênesis, onde vemos o próprio Deus tomando a iniciativa de criar o homem, a demonstrar que seria um ser distinto dos demais.
– Esta diferença entre o homem e os demais seres é suficiente para afastarmos toda e qualquer possibilidade de que o homem seja fruto de uma evolução dos demais seres, como se passou a defender, notadamente a partir do século XIX, no meio científico e filosófico.
A evolução, que, ao contrário do que se pensa, não teve origem no pensamento de Charles Darwin, mas, sim, do autodidata Herbert Spencer, também um inglês como Darwin, parte do pressuposto de que todos os seres tiveram a mesma origem em seres mais simples.
No entanto, a narrativa bíblica mostra-nos que o homem é distinto dos demais seres, que seu processo de criação foi diferente e, mais, que sua estrutura seria completamente diversa, vez que foi criado “à imagem e semelhança de Deus” (Gn.1:26,27), feito para dominar os demais seres criados sobre a face da Terra.
Por isso o salmista, ao indagar quem é o homem, diz que se trata de um ser feito pouco menor do que os anjos, mas acima de toda a criação terrena (Sl.8:5,6).
– A origem do homem, como se verifica, portanto, está em Deus, que não só tomou a deliberação de criar o homem, como Se incumbiu pessoalmente desta atividade, tanto que, ao longo das Escrituras, mais de uma vez Se compara à figura do artesão, do oleiro em relação ao vaso (Is.29:16; 64:8; Jr.18:6; Lm.4:2; Rm.9:21), com isto demonstrando como Se empenhou pessoalmente para que o homem fosse criado, o que não ocorreu com os demais seres criados na face da Terra.
– Além de haver um empenho pessoal e especial de Deus para a criação do homem, o que já seria suficiente para demonstrar o seu valor para com Deus, a Bíblia nos ensina que o homem foi feito “à imagem e semelhança de Deus”, ou seja, além de ter tido cuidado peculiar na sua criação, o homem ainda porta em si algo que os demais seres não têm, ou seja, “a imagem e semelhança de Deus”.
O homem, na sua estrutura, na sua forma de ser, reproduz a própria Divindade, reflete a Divindade, é um verdadeiro espelho que mostra Deus a todos quantos veem o homem.
Esta é a principal razão pela qual temos de reconhecer que a pessoa humana é portadora de uma dignidade em si mesma, a tão decantada e louvada “dignidade da pessoa humana”, erigida hoje como o máximo valor ético da humanidade e que tem sua existência no fato de que o homem foi feito por Deus à sua imagem e semelhança.
Não fosse isso, não teria o homem dignidade alguma e é por isso mesmo que, apesar de tão louvada e aclamada, tal dignidade nunca é respeitada na sociedade e no mundo em que vivemos, já que este mundo e sociedade rejeitam Deus, a fonte da dignidade do homem.
– Quando falamos em “imagem e semelhança de Deus”, devemos entender que o homem é reflexo da Divindade, ou seja, não é a Divindade nem pode chegar a ela.
A Bíblia é clara ao nos mostrar que o homem, um ser mortal, foi feito, dentro da ordem estabelecida por Deus, abaixo dos anjos e acima de toda a criação terrena (Gn.1:26; Sl.8:5,6).
É esta a sua posição na ordem divina e, por isso, sem qualquer sentido os ensinos, tão populares nos nossos dias (inclusive no meio evangélico…) de que o homem pode se tornar Deus ou, quando menos, um “pequeno deus”.
Deus é Deus e o homem, homem. Há promessa de que nos tornaremos semelhantes a Cristo glorificado (I Jo.3:2), mas jamais se fala em igualdade ou divinização do ser humano, pois isto seria alteração daquilo que Deus criou e, como sabemos, Deus não muda (Tg.1:17).
– Quando falamos em “imagem e semelhança de Deus”, devemos entender que o homem foi criado por Deus de forma a que, quando o contemplamos, nos lembramos de Deus.
Por isso, o homem foi dotado de moralidade, tem a eternidade no seu coração, é um ser tricotômico, foi criado em perfeição, é um ser inteligente, dotado de livre-arbítrio e feito dominador sobre a criação terrena.
– O primeiro aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é a moralidade do homem.
Assim como Deus, o homem foi criado com a capacidade de entender o que é o bem e o que é o mal.
Ao contrário do que muitos pensam, não foi quando o primeiro casal pecou que ele passou a saber o que era o bem e o que era o mal.
Desde quando criado, o homem já sabia o que era o bem e o que era o mal, tanto que o Senhor lhe disse para que não comesse do fruto da “árvore da ciência do bem e do mal” (Gn.2:16,17), prova de que o homem foi devidamente orientado, antes mesmo de pecar, o que era o bem e o que era o mal.
Ao pecar, o homem experimentou o mal, mal que somente conhecia de modo intelectual e não vivencial, mal do qual não poderia, por si só, livrar-se, motivo por que Deus não permitiu que tomasse da árvore da vida (Gn.3:22).
– O segundo aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é a eternidade.
O homem, como toda criatura, não é eterna, pois teve um princípio de existência. Entretanto, embora fosse mortal, o homem foi feito para existir para sempre.
Ele é eviterno, ou seja, tem princípio, mas não tem fim de existência. A mortalidade do homem não significa que ele venha a cessar de existir, mas significa que ele pode ficar eternamente separado de Deus, algo que o Senhor fez questão de salientar quando lhe deu a ordem de não comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17).
Por ser eviterno, o homem tem a eternidade em seu coração, posta pelo próprio Deus (Ec.3:11-ARA). Eis o motivo por que o homem não aceita a ideia do fim da existência, seja em que cultura, seja em que época, seja em que lugar do mundo for.
– O terceiro aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é a tricotomia do homem.
Assim como Deus é triúno, o homem também foi constituído de uma unidade trina, a saber, corpo, alma e espírito (I Ts.5:23), como veremos infra.
Esta tricotomia é uma peculiaridade do ser humano, que o distingue de todos os demais seres criados (inclusive dos anjos), tanto que as Escrituras, para demonstrar que Jesus realmente Se humanizou, fez questão de mostrar que Cristo teve corpo (Hb.10:5), alma (Mt.26:38) e espírito (Lc.23:46).
– O quarto aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é a criação em perfeição.
O homem foi criado perfeito por Deus.
Ao comtemplar toda a Sua criação, inclusive o ser humano, o Senhor considerou que tudo quanto havia feito era muito bom (Gn.1:31). Deus fez o homem reto, sem pecado ou qualquer falha (Ec.7:29).
Infelizmente, o homem, a exemplo do diabo e dos anjos maus, pecou e, por causa disto, perdeu esta perfeição inicial, que, entretanto, pode vir a ser recuperada, em virtude do plano de Deus para a salvação da humanidade, que faz com que o homem se torne um “novo homem”, que era o homem perfeito do início (Cl.3:10);.
Não é por acaso que Jesus, o protótipo deste homem perfeito, é chamado de “o último Adão” (I Co.15:45), porque, em verdade, trata-se do homem primordial, daquele que havia saído das mãos do Criador.
– O quinto aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é a inteligência.
O homem foi feito dotado de razão, de capacidade de pensar e de ser criativo. O filósofo grego Aristóteles, ao definir o homem, disse que ele era “o animal racional” e a racionalidade humana é outro elemento que embaraça os evolucionistas de plantão, porquanto nada há, nos demais seres criados sobre a face da Terra, qualquer elemento que possa ser considerado como racional como vemos no ser humano.
Este traço peculiar do ser humano, em relação aos demais seres terrenos, é observado no episódio em que Deus manda ao homem que desse nome aos animais (Gn.2:19,20), circunstância em que vemos como Deus quis mostrar ao homem que ele podia pensar e ser criativo, circunstância em que vemos que, ao contrário do que muitos desavisados defendem hoje em dia, o Senhor tem prazer em ver o homem pensando e adquirindo conhecimentos, pois foi para isto que Deus o fez racional.
Tanto assim é que Deus diz que os homens são “cooperadores de Deus” (I Co.3:9), prova de que o homem tem capacidade criativa, a ponto de poder colaborar com o Senhor.
– O sexto aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é o livre-arbítrio.
Deus fez o homem com o livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher entre o bem e o mal, característica que aproxima o homem não só de Deus mas também dos anjos. O homem pode optar entre servir a Deus, obedecer-Lhe ou não, como se vê claramente de Gn.2:16,17.
Repousa aí, também, a moralidade humana e a consequente responsabilidade do homem pelos seus atos, motivo por que todo ser humano tem de prestar contas diante de Deus, como nos mostram as Escrituras ao relatar os julgamentos pelos quais os homens passarão (igreja – tribunal de Cristo- Rm.14:10; II Co.5:10; demais seres humanos – juízo do trono branco – Ap.20:11-15).
– O sétimo aspecto da “imagem e semelhança de Deus” é o domínio que o homem tem sobre a criação terrena.
Ao dominar sobre os demais seres criados existentes sobre a face da Terra, domínio este a título de “mordomia” e não de “senhorio”, o homem reflete a própria soberania divina sobre todas as coisas.
O homem é o único ser que tem a capacidade de alterar e modificar a natureza terrena, o que é indubitável demonstração da veracidade do que a Bíblia fala a respeito de sua condição em relação às demais criaturas terrenas.
É, assim, imagem da supremacia divina sobre tudo e sobre todos. Infelizmente, o pecado fez com que este poder humano também fosse distorcido e o que temos presenciado é que, em virtude desta capacidade, o homem está colocando em risco a própria sobrevivência do planeta.
- A TRICOTOMIA DO SER HUMANO: UM DOS ASPECTOS DA IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
– De pronto, devemos considerar que, entre os estudiosos da Bíblia, existem duas correntes de pensamento a respeito do modo de ser do homem. Alguns entendem que o homem é composto de duas partes, uma material, a que chamam de corpo e outra, imaterial, a que chamam de “alma”.
Esta forma de pensar é a doutrina adotada oficialmente pela Igreja Romana e que encontra ressonância entre alguns segmentos ditos evangélicos ou protestantes. A esta linha de pensamento denomina-se “dicotomia”.
OBS: “…O mistério da vida é desconcertante, e mais do que nunca quando uma análise da parte imaterial do homem é empreendida. (…).
Quando se refere ao “homem interior”, a Bíblia emprega vários termos – alma, espírito, coração, carne, mente – e a questão que surge é se esses elementos são separados e devem existir um separado do outro, ou se eles são funções ou modos de expressão e um ego.(…).
A questão que se levanta a essa altura, que tem ocupado e dividido os teólogos de todas as gerações, é a seguinte:
é o homem um ser dicotômico – duas partes, material e imaterial, com a suposição de que a alma e espírito são a mesma coisa –
ou se ele é um ser tricotômico – corpo, alma e espírito ?…” ( CHAFER, Lewis S. Teologia sistemática, t.1, v.2, p.585-6).
– Segundo a dicotomia, o homem seria formado apenas de corpo e alma, sendo que alma e espírito seriam a mesma coisa. Esta postura, entretanto, embora tenha encontrado muitos adeptos, não é a que melhor se apresenta na Bíblia Sagrada.
Embora haja trechos das Escrituras em que há uma consideração da alma e do espírito como sendo uma só parte do homem, tais passagens devem ser compreendidas tão somente como trechos que dizem respeito à parte imaterial do homem, parte esta que, muito adequadamente, é denominada por Paulo de “homem interior” (Ef.3:16).
Alma e espírito têm algumas semelhanças, mas isto não quer dizer que sejam a mesma coisa, mas, ao revés, é um indicativo de que são partes distintas do homem.
– Pelo que se percebe da história da Igreja, o pensamento dicotômico ingressou na teologia como resultado da grande influência que a filosofia grega exerceu nos primeiros estudiosos que desenvolveram a doutrina dicotômica.
A maior parte dos primeiros teólogos que defenderam esta linha de pensamento eram oriundos da filosofia neoplatônica, ou seja, de uma corrente filosófica que se desenvolveu a partir do século III d.C., exatamente no período em que o Cristianismo alcançava um grande crescimento, inclusive entre as elites sociais e intelectuais do Império Romano.
– Os filósofos neoplatônicos baseavam seus pensamentos na filosofia de Platão, filósofo grego que viveu no século III a.C., que entendia que o homem era composto de corpo e de alma.
Há, inclusive, quem ache que Platão tenha sido, de alguma forma, influenciado em seu pensamento por crenças hinduístas, em especial as referentes à reencarnação e à pré-existência da alma.
Para Platão, o homem seria constituído de duas partes: o corpo e a alma.
O corpo seria a parte física do homem e, como tal, desprezada por Platão, que via na matéria um mal em si, a fonte de toda a imperfeição humana; já a alma, imortal, seria a parte imaterial do homem, ou seja, a parte sem matéria, que seria a reprodução de um mundo verdadeiro, o chamado “mundo das ideias”.
– Os filósofos neoplatônicos, dos quais o mais conhecido foi Plotino (205-270), desenvolveram este pensamento de Platão e passaram a considerar que a alma seria a imagem, o reflexo de uma ideia primeira, o chamado Uno ou Um, que não teve dificuldade de ser identificado, pelos filósofos que se converteram ao Cristianismo, a Deus.
OBS: “…O Um de Platão, ou seja, o princípio da unidade, nas formas ou ideias mais elevadas(…) acabou equivalente a um Deus transcendental.
Esse Deus transcendental relacionar-se-ia com o mundo mediante uma série de intermediários, os quais se derivariam do Um através do princípio da emanação.
Isso posto, a realidade seria uma espécie de série gradativa de seres que, partindo o Um imaterial terminaria na matéria.
O homem participaria, até certo grau, do divino, embora esteja preso à matéria.(…). A matéria, considerada por si mesma, é irreal. Ela é apenas uma espécie de epifenômeno do real.
A matéria é o limite e a barreira contra a qual a Alma que emana se estilhaça em grande multiplicidade e diferenciações.
A alma seria anfíbia, podendo viver para baixo, nos mundos inferiores da matéria, antes de, finalmente, tornar-se material; ou, então, viver para cima, retornando à sua Fonte originária(…). O processo da salvação ou restauração começaria pela rejeição do que é mundano e material(…).
Muitas reencarnações supririam o teatro de ações onde os homens se debatem. Pode-se dizer, pois, que Plotino foi o pai do misticismo ocidental, calcado em muito sobre ideias orientais.
Mas, visto que Plotino tanto se estribava em Platão, talvez seja correto dizer que Platão é que foi o verdadeiro pai do misticismo ocidental…” (CHAMPLIN, R.N. Neoplatonismo. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.4, p.484-5).
– Percebemos, portanto, que a concepção de que o homem seja formado de corpo e de alma é resultado da incorporação de pensamentos que são alheios às Escrituras, advindos da filosofia grega e, já pela origem, são pensamentos que não podem ser considerados como sendo genuinamente bíblicos.
Agostinho, Guilherme de Ockham e Tomás de Aquino foram pensadores cristãos grandemente influenciados por esta filosofia e seus escritos e ensinamentos acabaram por adotar a dicotomia, entendendo que o homem fosse apenas corpo e alma.
– Entretanto, quando verificamos as Escrituras, vemos que a Bíblia distingue no homem três partes, a saber: espírito, alma e corpo.
Segundo a corrente de pensamento dita tricotômica, a alma e o espírito são partes distintas, diferentes do homem, não se confundindo, portanto. Textos bíblicos indicam que alma não é o mesmo que espírito.
Em I Ts.5:23, é dito que o homem todo é composto de “todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Em Hb.4:12, lemos que ” a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito…”. Quando vemos o homem modelar das Escrituras, ou seja, Jesus, observamos que a Bíblia diz que Ele possuía corpo (Jo.19:38), alma (Mt.26:38) e espírito (Lc.23:46).
– Além das Escrituras revelarem que há uma distinção entre alma e espírito, ou seja, que não são a mesma coisa, ainda que possam ter algumas semelhanças e sejam inseparáveis, como veremos adiante (o que explica a existência de textos em que as palavras “alma” e “espírito” correspondem a “homem interior”), temos que tal interpretação é a que melhor se coaduna com o relato bíblico da criação, pois é dito que Deus fez o homem à Sua imagem e semelhança (Gn.1:26,27).
Ora, se o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, deve ter a mesma estrutura da divindade e sabemos que Deus é uma triunidade (Pai, Filho e Espírito Santo, cfr. Mt.28:19), de forma que o homem, também, deve ser uma triunidade.
– A posição tricotômica, ademais, é a única que explica e conforma a estrutura humana para a sua posição estabelecida por Deus para o homem na terra, como temos aprendido neste estudo da doutrina da mordomia. Sendo uma triunidade, explica-se tranquilamente a posição de mordomo que o ser humano tem na criação da terra.
Enquanto administrador, o homem tem de se relacionar com o seu Senhor (e, para tanto, é dotado de espírito), consigo mesmo (e, para tanto, é dotado de alma) e com as demais coisas criadas na terra, colocadas sob sua autoridade (e, para tanto, é dotado de corpo).
A linha de pensamento dicotômica, além de partir de uma concepção pessimista em relação à matéria, como se ela fosse algo de mau (pensamento desmentido pelas Escrituras, como vemos em Gn.1:31), não explica este relacionamento do homem com Deus e esta posição diferenciada do homem em relação às demais criaturas terrenas.
OBS: “…Muitos evangélicos modernos têm defendido a posição da tricotomia. A asseveração de C.I. Scofield é tão boa quanto outra. Diz ele:’ O homem é uma trindade.
Que a alma e o espírito humanos não são idênticos se comprova pelos fatos de que são divisíveis (ver Hb.4:12) e que alma e espírito são claramente distinguidos quando do sepultamento e da ressurreição do corpo.
É sepultado o corpo natural (no grego, ‘soma psuchikon’, ‘corpo animado’) e é ressuscitado corpo espiritual (no grego, ‘soma pneumatikon’, ‘corpo espiritual’), conforme se lê em I Co.15:44.
Portanto, asseverar-se que não há diferença entre alma e espírito é dizer que não há diferença entre o corpo mortal e o corpo ressurreto.…” ( CHAMPLIN, R.N. Dicotomia, tricotomia. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.148)
– Quando observamos o relato bíblico da criação, de imediato se percebe que o homem foi criado de forma distinta dos demais seres criados na Terra.
Enquanto que os demais seres foram criados tão somente pela palavra do Senhor, o homem foi objeto de cuidado especial, tendo Deus deixado bem claro que o ser humano seria um ser diferente, pois seria feito à imagem e semelhança de Deus e que, além disso, seria constituído como superior em relação aos demais.
A expressão divina de Gn.1:27 encerra, portanto, todos estes elementos, seja o de uma estrutura diversa e distinta dos demais seres, seja a condição de superior aos demais.
– É por este motivo que não se pode considerar que a estrutura do homem seja idêntica a dos demais seres criados na Terra, como querem pretender as teorias evolucionistas que dominaram as ciências biológicas a partir do século XIX, com as obras de Lamarck e de Darwin, pois há uma distinção fundamental entre os homens e os demais seres.
Todos os seres criados na Terra, com exceção do homem, são guiados pelo instinto e, se são dotados de alguma inteligência, esta se dá e se revela apenas por força do adestramento, da repetição, sem qualquer consciência, como ocorre com os primatas ou com outros seres, ao passo que o homem é totalmente diferente, tendo a capacidade de inferir, de criação, de novos conhecimentos além dos que foram aprendidos e absorvidos pela repetição e observação.
Daí porque ser erro manifesto querer-se confundir a alma dos animais com a alma humana, como quando se aplica um texto bíblico como o de Gn.9:4 ao ser humano.
– No relato da criação do homem, portanto, a Bíblia já nos informa que o homem seria um ser diferenciado e, realmente, dos seres criados na Terra, o homem é o único que é tricotômico, que é triúno, que é dotado de espírito, alma e corpo.
Esta estrutura é a única que explica porque o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, bem assim como teria capacidade de dominar sobre os demais seres.
– Esta estrutura, ademais, era própria tanto do homem, quanto da mulher. Deus, ao anunciar a criação do homem, fê-lo também distinto dos seres celestiais, pois, se os anjos eram, também, dotados de moralidade e de consciência, não eram capazes de se reproduzir (cfr. Mc.12:25).
O homem, entretanto, foi criado para que se multiplicasse, para que se reproduzisse e, por isso, Deus o criou sexuado (Gn.1:27,28).
Assim, tanto o homem quanto a mulher têm a mesma estrutura tricotômica, não sendo senão um triste resquício cultural decorrente da cegueira espiritual causada pelo pecado o entendimento de certos estudiosos das Escrituras, ainda na época da lei judaica, que colocavam em dúvida o fato de a mulher ser, ou não, dotada de alma e de espírito.
– É interessante observar, a propósito, que tanto na criação do macho, quanto da fêmea, Deus foi cuidadoso e operou distintamente com relação aos demais seres criados na Terra.
Para criar o homem, Deus procedeu diferentemente do restante da criação, soprando nas narinas do homem formado mas ainda sem vida, enquanto que, no tocante à mulher, Deus fez cair profundo sono sobre Adão e, então, fez a primeira clonagem de que se tem conhecido na história da humanidade.
Nada fez pelo simples poder de Sua Palavra, para demonstrar Seu cuidado e o papel preponderante que estava reservando ao ser humano na Sua criação sobre a Terra.
– A narrativa bíblica da criação do homem é desenvolvida em dois instantes nas Escrituras: de forma sucinta, no capítulo 1 do livro do Gênesis, em meio a narração da criação de todas as coisas e, depois, de forma pormenorizada no capítulo 2.
Esta repetição tem sido alvo de muitas conjecturas e pensamentos entre os estudiosos da Bíblia, mas quer nos parecer que razão têm aqueles que indicam aí mais um fator demonstrativo do valor do homem para Deus, de sua superioridade perante todas as demais criaturas terrenas, bem como um próprio indicador de que queria Deus que ficasse bem patente à humanidade, a quem se dirigem as Escrituras, que nós temos um lugar especial reservado na ordem estabelecida pelo Senhor.
Todas as vezes que Deus repete algo por duas vezes é porque quer que tal fato seja notório, isto é, seja conhecido de todos (cfr.Sl.62:11).
– O relato da criação, portanto, revela que, tanto o homem como a mulher, foram criados com propósitos certos e determinados, que deveriam ser perseguidos por estas criaturas distintas e superiores criadas sobre a face da Terra.
Deus fez o homem e a mulher para dominar sobre as criaturas terrenas e para serem, por assim dizer, o elo de ligação entre o Criador e a criação. Homem e mulher deveriam cuidar da criação, administrá-la e , de forma livre e espontânea, amar a Deus, obedecer-Lhe e desfrutar de uma íntima comunhão com seu Criador.
Era este o propósito divino estabelecido quando da criação do ser humano. O homem, portanto, não seria jamais dono de si, mas existiria para fazer a vontade d’Aquele que o criou.
III – HOMEM – UM SER SIMULTANEAMENTE MATERIAL E IMATERIAL
– Na segunda narrativa a respeito da criação do homem, no capítulo 2 do livro do Gênesis, a Bíblia mostra como se deu esta criação.
Já na primeira narrativa, ficou evidenciado que o homem era diferente dos demais seres criados na Terra, porque havia sido feito à imagem e semelhança de Deus e com autoridade e domínio sobre os demais seres.
As Escrituras, assim, revelam, claramente, já ao introduzir o homem na ordem cósmica, que era ele um ser distinto.
– No capítulo 2, entretanto, a narrativa bíblica é mais explícita, é mais pormenorizada, trazendo informações a respeito desta diferença, desta distinção que já havia sido indicada no capítulo 1.
– Inicia-se a narrativa mediante uma expressão nova, que até então não havia surgido na narrativa da criação.
Afirma-se que Deus formou o homem do pó da terra. Esta expressão é a tradução do original hebraico “yatsar” (יצר ), que quer dizer dar a forma de um vaso por parte de um oleiro, verbo que é reproduzido em textos como Is.29:16 e Jr.18:4.
O relato bíblico, portanto, faz questão de nos revelar que Deus não tirou o homem, nesta parte, do nada, como fez com os demais seres, mas, bem ao contrário, utilizou-se de algo já existente, ou seja, o pó da terra, o barro, a argila, para dele fazer parte do homem.
Feito para dominar sobre os demais seres, o homem foi feito, em parte, de algo já existente na criação, para que não se esquecesse de sua condição de criatura, para que não se vangloriasse e se achasse superior aos demais seres.
Do pó da terra foi feita uma parte do homem, parte esta que passou a ser conhecida como a sua parte física, ou seja, a parte que vem da natureza (“physis” – φυσις – em grego quer dizer natureza), como a sua parte material, isto é, a parte que vem da matéria, e o pó da terra, tem demonstrado a química, é uma substância que possui praticamente todos os elementos encontrados na natureza.
OBS: “…O pó em forma de limo da terra, ou argila, conforme dizem algumas versões bíblicas, é formado por diversas substâncias orgânicas que fazem parte da constituição do corpo humano.
Este pó não se refere simplesmente a algum boneco feito de barro, como os humanos fazem, para significar ou representar alguma coisa.
Devemos entender, acima de tudo, que se trata da integração de substâncias ainda hoje encontradas na formação do corpo físico humano.
Estão presentes em tal variedade que, através de novas pesquisas, a ciência ainda consegue descobrir novas substâncias nos corpos físicos, substâncias estas, muitas vezes, capazes de determinar a hereditariedade de certos indivíduos ou coisas semelhantes.
O Criador não precisou sujar as mãos de barro, como faz qualquer oleiro de nossos dias, juntando água e amassando o barro, para fazer um boneco.
O Senhor formou pelo poder e força de Sua Palavra, ou quiçá só por Seu pensamento. Toda a composição que Ele desejou, as substâncias incluídas como parte do corpo humano para formá-lo com características diferentes dos outros animais, toda ela foi feita pelo Seu poder.…” (SILVA, Osmar J. da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.42-3).
– Aquele que domina é feito, em parte, daquilo de que é constituído o dominado. Esta figura é uma expressão que deve causar nossa reflexão, pois jamais devemos nos esquecer que aquele que é colocado acima de outros jamais deve se esquecer que é constituído do mesmo material dos outros, jamais deve se esquecer de que é um igual em relação aos demais, ainda que esteja numa posição de destaque.
O ministério de Jesus é profícuo e exitoso, “porque assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos.” (Hb.2:11).
Muito dos erros e desastres que vemos em lideranças e autoridades decorre, precisamente, da falta de consciência de que, em essência, somos iguais e que jamais devemos nos esquecer desta realidade.
– Esta parte material do homem é o corpo, que foi tomado do pó da terra e que, com o pecado, foi determinado que a este pó da terra tornasse (Gn.3:19).
O corpo é separado do restante do homem, por ocasião da morte, que é, por isso, chamada de morte física, ou seja, a separação da parte natural da parte sobrenatural do homem.
O corpo que agora temos é um corpo natural, submetido às regras da natureza, frágil e débil, visto que veio do pó da terra, mas não é algo danoso ou que cause, por si só, o mal, pois, sendo fruto da natureza, é algo bom, como nos anuncia a Palavra de Deus (Gn.1:31).
Tanto assim é que a palavra “homem”(adam), em hebraico, é derivada da palavra “terra” (adamah).
OBS: É oportuno aqui observar que a relação entre o corpo do homem e o pó da terra é uma ideia recorrente em diversos povos e culturas, a indicar que esta ideia original, evidentemente transmitida pelo primeiro casal a seus descendentes, não foi apagada totalmente da memória dos povos.
Assim, se formos observar a mitologia grega a respeito da criação de todas as coisas, veremos que o poeta Hesíodo nos traz uma narrativa muito semelhante à bíblica, fazendo questão, ainda, de dizer que ao pó da terra teria sido adicionada água a fim de se formar a argila.
– Mas o trecho bíblico prossegue, dizendo que, feita a parte material do homem, “…Deus soprou em seus narizes o fôlego de vida; e o homem foi feito alma vivente”(Gn.2:7), ou seja, criou a parte imaterial do homem, constituída da alma e do espírito.
Este é o aspecto totalmente diverso entre o homem e os demais seres vivos criados na Terra.
O homem é dotado de uma parte imaterial, que o faz sobrenatural, ou seja, que o coloca acima da natureza e que lhe permite dominar sobre ela.
Esta parte imaterial, resultado do sopro de Deus, é o que Paulo denomina de “homem interior”, porque é a parte do homem que não aparece aos nossos olhos, parte do homem que as Escrituras identificam figurativamente como “mente”(v.g., Rm.7:25), “coração”(v.g., Pv.4:23) e “rins” (v.g., Ap.2:23).
– O fôlego de vida soprado por Deus não é o ar que conhecemos, mas a própria vida dada ao homem, a própria imagem e semelhança de Deus.
Deus é imagem e semelhança de Deus exatamente porque Deus lhe imprimiu algo de Sua essência, algo que veio diretamente d’Ele, ao contrário do restante da criação, que foi feito a partir da vontade divina expressa por Sua Palavra.
– Apesar de reconhecermos que há vários estudiosos que consideram que a expressão “alma vivente” de Gn.2:7 quer significar tão somente que o homem passou a existir enquanto ser vivo após este soprar de Deus, não podemos deixar de considerar que a expressão deva ser entendida como sendo a indicação de que o homem passou a ter uma parte imaterial, passou a ser dotado de uma substância imaterial ( o “homem interior”).
Entende-se que, ao tempo de Moisés, os judeus não tinham, ainda, uma noção de uma parte imaterial do homem e que o Pentateuco não mostra qualquer ideia a respeito da tricotomia (ou mesmo dicotomia) do homem.
Entretanto, devemos observar que o texto bíblico é objeto de revelação divina e que é indiferente se o autor do escrito tinha a exata noção da amplitude e da profundidade do texto que escreveu.
O fato é que a Palavra é de Deus e, como tal, esta expressão quer, mesmo, indicar ao homem que há, nele, uma parte imaterial, uma parte sobrenatural, que não se confunde com o seu corpo, dado que, ao longo da história de Israel, passou a ser compreendida na gradual revelação divina.
– Ao se dizer que o homem foi feito “alma vivente”, está sendo dito que o homem é uma alma que tem vida, ou seja, é uma alma que está em comunhão com Deus, pois vida, aqui, não é uma mera existência, mas é uma demonstração de existência de uma comunhão entre Deus e a Sua criatura.
Deus soprou nos narizes do homem e ele foi feito “alma vivente”, ou seja, surgiu deste sopro uma alma e esta alma tinha consciência de que vinha de Deus e estava ligada a Ele.
Temos, então, as duas instâncias do homem interior: a alma, que é a sede dos sentimentos e do entendimento; o espírito, que é a sede da consciência da existência de uma relação de dependência do homem em relação a Deus.
É neste sentido que podemos, aqui, reproduzir o ensino de C.A. Auberlen, mencionado por Lewis Chafer: “corpo, alma e espírito não são nada além da base real dos três elementos do ser humano, consciência do mundo (corpo, observação nossa), autoconsciência (alma, observação nossa) e consciência de Deus (espírito, observação nossa)” (CHAFER, Lewis S. Teologia sistemática, t.1, v.2, p.592).
OBS: “…Em nenhum outro ser, seja ele dotado de corpo animal, ou seja um ser angelical, ouviu-se dizer que Deus soprou sobre ele, dando-lhe o fôlego de vida.
Foi esse fôlego de vida que tornou o homem um ser capaz de raciocinar, empregar a razão, memorizar, possuir consciência, tornando-se semelhante ao Senhor.
O corpo humano é, sem dúvida, a mais bela obra-prima do Criador. O que o faz belo é a vida intelectual e espiritual que permite a participação da própria vida de Deus.(…).
Com o sopro divino, o homem recebeu vida para sempre, mas pela desobediência perdeu esse direito de vida eterna. Jesus veio para nos dar vida eterna(…).
Para alcançar a vida eterna que Deus soprou sobre Adão no Éden, é preciso que a mentalidade humana volte a ser como o Criador a fez quando soprou sobre o homem. Jesus fez isto sobre Seus discípulos, ao soprar sobre eles(…).
Ao pecar, o ser humano perdeu o espírito de vida eterna e sobre ele caiu a condenação da morte; para reverter este quadro, é preciso que ele se volte para Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, o único caminho, verdade e vida e receba a presença do Senhor, tornando-se templo do Espírito Santo.
A palavra ‘espírito’, no original, significa pneuma, vento, sopro. Esta é a grande diferença entre os seres humanos e os animais.
Os animais não receberam o sopro, vento, espírito e, por isso, não têm entendimento como o homem.”(SILVA, Osmar J. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.41-2).
– Vemos, além disto, que o homem é mero objeto da ação de Deus, pois é dito que foi quem Deus tanto que formou o homem, como também que o fez alma vivente.
Em ambas as expressões bíblicas, o homem é apresentado apenas como tendo sido o resultado da ação divina.
É em virtude desta situação que o homem não pode, em hipótese alguma, arrogar-se o direito de ser proprietário de si mesmo, que pode achar que seja “dono de seu nariz” (aliás, é interessante notar esta expressão do linguajar popular em nossa língua, porquanto ela reflete bem o engano deste pensamento, pois a Bíblia, textualmente, diz que foi Deus quem formou o nariz do homem e, neste nariz, soprou o fôlego de vida, ou seja, o homem não é mesmo dono do seu nariz).
Esta realidade é a razão de ser de toda a doutrina da mordomia e, em especial da mordomia cristã em relação a nós mesmos.
– A alma é a sede dos pensamentos e dos sentimentos do homem, a sede da sua personalidade, da sua individualidade, a parte do homem que tem consciência de si mesmo.
Já o espírito é a parte do homem que faz a relação dele com Deus, é a sede da consciência, daquele instrumento que nos permite discernir o certo do errado, é o elo de ligação entre Deus e o homem, a instância em que tomamos consciência da existência e da soberania de Deus.
IV – O PROPÓSITO DIVINO PARA O HOMEM
– Deus criou o homem com o propósito de torná-lo a criatura mais feliz da Terra, felicidade esta que seria o resultado da convivência voluntária e eterna com o seu Criador, com o seu Deus, que é amor.
Deus fez o homem para desfrutar de intimidade e de comunhão com este ser, tão moral quanto Ele, inteligente, perfeito e que, de livre e espontânea vontade, desejou com Ele habitar para todo o sempre.
OBS: A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América bem retrata esta encruzilhada do gênero humano, ao afirmar que “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”
Infelizmente, no seguimento da Declaração, entende-se que cabe aos governos o atendimento a estes direitos, sendo certo, porém, que, embora os homens possam cooperar para que se atinja a felicidade, esta somente advém quando recorremos ao Senhor (Sl.65:4; 144:15).
– O homem, capaz de discernir quem é, de onde veio e qual o seu papel, teria um eterno aprendizado com o Senhor, adorando-O e O servindo, sendo seu “mordomo” na Terra, tendo gozo e alegria sempiternos.
Por isso, o Senhor fez questão de mostrar ao homem de suas capacidades e habilidades, de lhe propor a obediência e fidelidade e de, diariamente, com ele compartilhar a Sua sabedoria e instrução.
– No entanto, o homem fez mau uso de seu livre-arbítrio, deixou-se seduzir pelo desejo de independência, de autossuficiência, de querer ser igual a Deus e, assim como o inimigo de nossas almas, enveredou pelo caminho do pecado, perdendo, assim, a comunhão com Deus, a Sua sabedoria, a Sua companhia.
Lançado fora do jardim, teve de conviver com a sua natureza pecaminosa, que o domina, com a adversidade da natureza e com a sua própria existência efêmera sobre a face da Terra.
– Porém, desde o instante em que Deus sentenciou o homem, mostrou-lhe que tudo não estava perdido, que Deus não abandonara o Seu projeto de fazer o homem feliz e, por isso, propiciaria um meio para que o homem retornasse a conviver com Deus, pudesse voltar a ser feliz, pois, como se lê em Ap.21:3,4, o desejo de Deus continua a ser o de habitar com os homens para todo o sempre, fazendo-os felizes.
– A Bíblia, portanto, fala-nos do grande valor que Deus dá ao homem e do importante papel que a ele reservou. Enquanto o inimigo de nossas almas avilta a figura do homem, despreza-a e tenta destruí-la, Deus dá grande valor ao homem e deseja dignificá-lo, pô-lo de volta no lugar de onde quis sair por livre e espontânea vontade.
O homem deve, sim, adorar a Deus, glorificá-l’O, pois sabe, como nenhum outro ser sobre a face da Terra, pela sua inteligência, quem é Deus e o lugar que Ele ocupa na ordem divina, mas esta glorificação é resultado, é efeito, é consequência da felicidade que Deus quer dar ao homem.
– O homem, deve, sim, dominar a criação sobre a face da Terra, cuidar deste planeta, pois é esta a tarefa que Deus lhe deu, mas o faz não por obrigação ou por medo da ira divina, mas porque esta é uma forma de agradecer ao Senhor pela felicidade que Deus lhe dá.
– O homem foi feito para ser feliz e a felicidade somente é alcançada quando o homem ocupa o lugar que Deus lhe reservou, qual seja, o de mordomo, o de servo especial na criação terrena, o de alguém que quer e precisa desfrutar da comunhão e da eternidade de Deus para todo o sempre.
Assim fazendo, o homem cumprirá o seu objetivo e terá, de fato, a dignidade que Deus lhe concedeu. Para isto, precisa obedecer a Deus e ser a Ele fiel.
– Tanto é o propósito de Deus ao homem que ele seja feliz que, por diversas vezes, nas Escrituras, encontramos a identificação do homem fiel a Deus e em comunhão com seu Criador como sendo “bem-aventurado”, ou seja, o homem mais do que feliz, que é recebedor do favor divino, que é repleto de satisfação e de bênçãos, sendo este, aliás, o significado das duas palavras que as versões em língua portuguesa traduzem por “bem-aventurado”, o hebraico “ ‘esher”(אשרי ) e o grego “makários” (μακάριος).
– As Escrituras contêm muitas “bem-aventuranças” e seu tratamento neste estudo o tornaria demasiado longo e fora do propósito inicial de estudarmos as linhas gerais da “doutrina do homem” (Antropologia Teológica).
Entretanto, é interessante observar que, nas versões em língua portuguesa, a primeira vez em que aparece o termo “bem-aventurado” é em Dt.33:29, quando Moisés a emprega para se referir ao povo de Israel, que assim é chamado por ter sido salvo pelo Senhor e ter a Deus como escudo de socorro e espada da alteza.
A bem-aventurança, portanto, como se vê é o resultado da salvação, do estabelecimento de comunhão entre Deus e o homem, “in casu”, de toda uma nação que aceitara fazer uma aliança com Deus.
– Não é à toa, pois, que o salmista afirma que a bem-aventurança se encontra no fato de se afastar do pecado e de seguir a instrução divina contida nas Escrituras (Sl.1:1,2;112:1; Pv.29:18; Is.56:2; Ap.1:3; 22:7), bem como no fato de se terem tido os pecados perdoados e não sofrer a imputação da maldade por parte de Deus (Sl.32:1,2; Rm.4:6,8). Bem-aventurado é o homem que confia no Senhor, que põe a sua fé nEle (Sl.34:8; 40:4; 84:12).
– Uma outra demonstração de bem-aventurança é compartilhar do mesmo valor que Deus dá aos homens, ou seja, reconhecer em cada ser humano um próximo que deve ser amado e valorizado.
Quando o homem possui este mesmo sentimento divino, prova de que se encontra em comunhão com o Senhor, também é bem-aventurado (Sl.41:1; Pv.14:21).
– Por isso, quando Jesus quis identificar os Seus discípulos, disse que eles eram “bem-aventurados” (Mt.5:2-11).
Esta “bem-aventurança”, ademais, é bem diferente da felicidade terrena, que, como vivenciou o patriarca Jó, é passageira como a nuvem (Jó 30:15).
A propósito, a palavra “felicidade”, em Jó, única vez em que ela aparece na Versão Almeida Revista e Corrigida, é tradução do hebraico “yashuw’ah”, cujo significado é “prosperidade”, “bem-estar”.
OBS: Tal distinção faz-nos recordar antiga música popular brasileira que dizia que “felicidade não existe, o que existe, na vida, são momentos felizes”. Tal afirmação é uma realidade, pois a verdadeira felicidade só se obtém mediante a comunhão com Deus.
– A fonte da “bem-aventurança” está no temor ao Senhor, na obediência a Ele, na submissão a Deus. Somente assim o homem atingirá o objetivo para o qual foi criado (Sl.65:4; 89:15; 128:1,2; Pv.28:14; Mt.11:6; Lc.12:43).
– Ao ser “bem-aventurado”, o homem torna-se “imagem e semelhança de Deus” sem qualquer distorção, visto que Deus é “bem-aventurado” (I Tm.1:12;6:15), pois uma das características daqueles que alcançarão a glória sempiterna com Deus é a “bem-aventurança” (Lc.14:15). Estamos prontos para ser felizes?
– “CREMOS, professamos e ensinamos que o homem é uma criação de Deus: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7).
A palavra “homem” no relato da criação em Gênesis 1 e 2 é adam, que aparece depois como nome próprio do primeiro homem. O ser humano foi criado macho e fêmea:
“E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn.1:27).
Trata-se de um ser inteligente e que foi capaz de dar nome aos animais; feito à semelhança de Deus: “os homens, feitos à semelhança de Deus” (Tg.3:9); um pouco menor do que os anjos; coroado de honra e de glória e dotado por Deus de livre-arbítrio, ou seja, com liberdade de escolher entre o bem e o mal.
Mediante a graça, essa escolha continua mesmo depois da queda no Éden: “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo.7:17).
Mais de uma vez, Israel teve a liberdade de escolha quando foi chamado por Deus. Podemos afirmar que nenhuma outra criatura foi feita como o homem, que é considerado a coroa da criação.
Adão é o primeiro homem, e dele e Eva veio toda a geração dos seres humanos que vivem sobre o planeta Terra”. (Início do Capítulo VII – Sobre o homem da Declaração de Fé da CGADB).
V – A ORIGEM DO PECADO
– A palavra “pecado” surge, pela vez primeira, nas Escrituras, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Gn.4:7, onde o Senhor adverte Caim de que ele deveria dominar sobre o pecado, sob pena de ser dominado por ele.
Tem-se, pois, a dura realidade advinda da queda do primeiro casal, que fez com que os homens passassem a viver o estigma do pecado, a ter uma constante luta contra ele.
– No entanto, quando vemos a narrativa bíblica da Criação, vemos que Deus não havia criado o pecado.
Em Gn.1 e 2, vemos que Deus criou todas as coisas, nos céus e na terra, mas que tudo quanto havia criado era bom, muito bom (Gn.1:31). Como, então, explicar que tenha vindo a existir o pecado e o mal?
É esta, sem dúvida, uma das principais questões que devem ser enfrentadas pelo estudioso das Escrituras. Se Deus fez tudo bom, como é que existe o mal?
– Esta questão teológica e filosófica, conhecida como “o problema do mal”, é, sem dúvida, o primeiro ponto a ser enfrentado pela doutrina do pecado.
O pecado é algo mal, é algo que nos separa de Deus (Is.59:2). Como, então, entender o seu aparecimento, se tudo o que Dez fez foi bom?
– Devemos observar que Deus, ao criar todos os seres, dotou alguns deles de livre-arbítrio, ou seja, da liberdade de escolher entre o bem e o mal. Deus é bom (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19) e, por isso, tudo quanto criou é bom (Gn.1:31), mas, ao criar os anjos e os homens, dotou-os do poder de escolher entre servir ou não servir a Deus.
– Vemos isto nitidamente na narrativa bíblica da criação do homem. Após ter posto o homem no jardim que formara no Éden, Deus disse ao homem que ele estava autorizado a comer de todas as árvores do jardim, menos da árvore da ciência do bem e do mal, pois, no dia em que comesse daquela árvore, certamente ele morreria (Gn.2:16,17).
Vemos, portanto, que o mal já existia como uma possibilidade para o homem, mesmo antes que pecasse. Como ser moral que era, o homem já foi feito sabendo o que era o bem e o que era o mal.
O bem era obedecer a Deus, servir-lO, observar as Suas regras. O mal seria desobedecer a Deus, servir a si próprio, não observar as regras divinas.
– Quando Deus assim Se dirigiu ao homem, certamente já ocorrera o início do pecado na ordem cósmica, pois o pecado não surgiu com o homem, mas, sim, com o querubim ungido.
A narrativa bíblica mostra-nos que, num determinado instante no passado remoto, o querubim ungido, que estava estabelecido num lugar que a Bíblia denomina de monte santo de Deus (Ez.28:14), tendo, também, liberdade de escolha, quis, desejou ser maior do que Deus (Is.14:13,14) e, neste seu desejo, nesta sua vontade, transgrediu as regras divinas, desobedeceu a Deus e quis servir a si próprio, motivo por que nasceu o pecado, foi achada iniquidade no seu interior (Ez.28:16).
O pecado aparecia na ordem cósmica, a possibilidade de pecar, que já fora criada por Deus quando concedeu o livre-arbítrio aos anjos, tornava-se uma triste realidade.
– É por isso que o profeta Isaías, em texto que intriga a muitos, diz que “Deus criou o mal” (Is.45:7), expressão cujo significado é de que Deus, como é o Criador de todas as coisas, não poderia deixar de ser fonte do mal e do pecado, sob pena de ter sido possível a criação de algo no universo que não tenha sua origem em Deus.
Mas como Deus, que é bom, pode ter vindo a criar o mal? Porque Deus fez a anjos e a homens com o livre-arbítrio, com a liberdade de escolher entre servi-lO, ou não.
Assim, estes seres, ao serem criados, tinham a possibilidade de desobedecer a Deus e, portanto, o pecado já existia como uma possibilidade.
Enquanto possibilidade, o mal, portanto, tem sua base no livre-arbítrio, que é obra divina, mas, enquanto realidade, o pecado não é algo que possa ser atribuído a Deus, senão a vontade do pecador.
– E é possível não pecar? Evidentemente que é. Os anjos que se mantiveram fiéis ao Senhor, mostraram que o seu livre-arbítrio não os impediu de rejeitarem o pecado e aceitarem servir a Deus, opção única e imutável, ante a circunstância de os anjos viverem a dimensão eterna.
Jesus também é o exemplo de que o homem pode não pecar, vez que criado em retidão (Ec.7:29). Desde quando adquiriu a consciência, escolheu o bem e não o mal (Is.7:15), tendo assim perseverado até o fim, jamais tendo pecado (Hb.4:15).
Por isso, tem autoridade moral para nos incentivar a seguir o Seu exemplo, lembrando-nos que devemos ter bom ânimo, pois, assim como Ele venceu o mundo, também o podemos fazer (Jo.16:33). Aleluia!
– Embora tendo se originado no interior do querubim ungido que, consigo, levou a terça parte dos seres angelicais, contaminando-os com este mal (Ap.12:4), o pecado somente entrou na humanidade por meio do primeiro casal (Rm.5:12).
O pecado, embora tenha se originado no universo no interior do diabo, não é algo que o diabo possa transmitir para nós, como muitos erroneamente pensam. O pecado é algo que é gerado no interior de cada ser pecador(Tg.1:13,14), daí porque cada um terá de dar conta do seu pecado diante de Deus (Ap.20:12).
– Muitos, inadvertidamente, quando falam em pecado, atribuem-no exclusivamente ao inimigo de nossas almas, dizendo que todo pecado provém dele, que ele é o culpado de todo o pecado que se comete aqui e ali, por este ou aquele.
Nada mais falso e nada mais contrário às Escrituras Sagradas! O pecado, sem dúvida alguma, apareceu no universo no adversário, quando este, ainda querubim ungido, intentou ser maior do que Deus.
Neste instante, foi achada iniquidade nele e ele pecou, sendo imediatamente expulso dos céus. Seu desejo foi repetido em um terço dos seres angelicais que, influenciados por ele, também pecaram.
Mas, observemos, o pecado destes anjos, que se tornaram os anjos maus, não era o pecado do diabo, mas, sim, o pecado de cada um deles, tanto que o apóstolo Judas menciona que os anjos maus não guardaram o seu principado, tendo deixado a sua própria habitação (Jd.6), ou seja, tomaram eles próprios uma decisão sua, individual, que não pode ser imputada ao diabo ou a quem quer que seja.
Os anjos maus pecaram, ao querer seguir o querubim ungido, mas cada um praticou o seu pecado, no interior de cada um se achou iniquidade.
– Quando alguém peca, peca não porque o diabo pecou e o contaminou, mas porque decidiu deliberada e voluntariamente desobedecer a Deus, não mais servi-l’O nem observar os Seus mandamentos.
Peca-se porque se deixa engodar e se atrair pela própria concupiscência, pela sua própria cobiça.
Cada pecador gera, em si mesmo, o seu pecado, torna a possibilidade advinda do fato de Deus tê-lo criado com o livre-arbítrio em uma realidade e, por isso mesmo, cada um é responsável pelo seu pecado.
Fosse o pecado responsabilidade do diabo, Deus seria injusto ao condenar os pecadores à morte eterna, pois eles não seriam responsáveis pelos males cometidos e, sim, unicamente Satanás.
Não é o que, porém, ocorre. Cada um peca quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência, cada um é individualmente responsável pelo seu pecar.
– Com relação aos homens não foi diferente. O relato da queda do primeiro casal, que se encontra no capítulo 3 do livro do Gênesis, mostra-nos, com absoluta clareza, que o primeiro casal pecou porque o quis, porque se deixou atrair e se engodar pela própria concupiscência.
Verdade é que o diabo tentou a mulher, mas o que o diabo faz é tão somente isto mesmo: tentar, arriscar uma tentativa. O homem peca, porém, porque cede à tentação, ou seja, crê nas palavras do tentador, obedece às ordens do tentador, deseja escapar ao senhorio de Deus.
Assim, não é o diabo quem peca, pois ele tão somente tenta, vez que pecar já pecou lá no passado remoto.
Quem peca é quem cede à tentação. Por isso, Jesus, na Sua oração dominical, faz um pedido ao Pai para que não nos induzas à tentação (Mt.6:13), sabendo que se não formos conduzidos a uma situação de tentação, teremos mais possibilidade de não pecar.
VI – O CAMINHO PARA O PECADO
– No relato bíblico da queda do primeiro casal, vemos que o pecado tem um caminho para surgir como uma realidade desastrosa na vida do homem.
Este caminho, aliás, é magistralmente sintetizado pelo apóstolo Tiago em sua carta universal: “cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” (Tg.1:14,15).
– O primeiro passo para o pecado, pois, é a tentação e é neste passo que aparece a figura do nosso adversário, cujo propósito, como vimos na lição sobre a doutrina dos anjos, é matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
Usando de sua astúcia (Gn.3:1) e de seus ardis(II Co.2:11), o adversário se aproxima do ser humano, que muito bem conhece (Mt.16:23), e inicia com ele um diálogo, onde procura lançar o homem no campo da dúvida, mediante os seus dardos inflamados (Ef.6:16).
– Neste momento, devemos resistir ao diabo (Gl.2:11; I Pe.5:8,9), não permitir que ele ache lugar em nosso interior (i.e., em nossa vontade, intelecto e sentimentos) (Ef.4:27), resistência esta que será feita com a Palavra de Deus, como fez Jesus (Mt.4:4,7,10). Por isso, aliás, Jesus nos revela que a Palavra de Deus nos santifica, pois é ela quem nos mantém separados para Deus e separados do pecado (Jo.17:17).
– Quando, porém, abrimos diálogo com o adversário, sem resistirmos a ele e deixando de lado a Palavra de Deus, caminhamos a passos largos para o fracasso espiritual, para o pecado. Assim fez Eva.
Quando o inimigo abriu o diálogo, a mulher, em vez de resistir ao maligno, iniciou conversação com o adversário e, o pior de tudo, demonstrou não ser atenta à Palavra Divina, vez que, em sua “ministração”, trouxe uma outra palavra que não a Palavra de Deus (compare Gn.3:2,3 com Gn.2:16,17).
– Após a tentação, quando encontra ela guarida nos corações dos homens, vem a incredulidade, que é um dos aspectos do pecado. Encontrando espaço em nosso interior para agir, o diabo põe-nos no campo da dúvida e passamos a não mais crer no que Deus disse.
Assim ocorreu com a mulher. Ela foi lançada no campo da dúvida pelo inimigo, que a fez crer que o que Deus havia dito, ou seja, que a morte seria consequência da desobediência, não era verdadeiro, mas, sim, o que havia era a possibilidade de o homem se tornar igual a Deus, sabendo todas as coisas, tanto o bem quanto o mal.
– É interessante notar que o inimigo trabalhou no coração de Eva precisamente naqueles pontos falhos decorrentes da desatenção da Palavra de Deus. O pecado exsurge, na vida do homem, da desatenção que se dá ao que Deus nos fala, ao que Deus nos revela.
O salmista já dizia que quem medita de dia e de noite na lei do Senhor sabe reconhecer quando o conselho é de ímpio, quando o caminho é de pecadores, quando a roda é de escarnecedores (Sl.1:1,2).
Sem a divina orientação, que se encontra na Bíblia Sagrada, seremos alvo fácil do inimigo e pecaremos inevitavelmente. Sem conhecer a Palavra, sem conhecer a luz, andaremos sempre em trevas e produziremos obras más (Jo.3:19,20).
– Eva havia dito que não se deveria comer da “árvore que está no meio do jardim”, ou seja, não atentou para o fato de que a árvore se chamava “árvore da ciência do bem e do mal” e, por isso mesmo, o inimigo trabalhou nela o desejo de “conhecer o bem e o mal”, visto que ela, desatenta, não tinha percebido que Deus já mostrara o que era o bem e o que era o mal e que, por isso, não se fazia necessário “experimentar” o mal para saber o que é.
Do mesmo modo, nos nossos dias, o inimigo ainda continua a trabalhar assim, principalmente entre aqueles que foram criados em lares cristãos, dizendo que é necessário primeiro “experimentar” o pecado, para depois, então, servir a Jesus.
O pecado não deve ser “experimentado”, mas, sim, evitado e resistido, pois, quem conhece o que dizem as Escrituras, já sabe o que e o que não é pecado, sem necessidade alguma de o experimentar.
– Eva havia dito que o fruto da árvore não poderia ser nem tocado, algo que Deus não havia dito e, por meio deste “acréscimo”, pôde o inimigo iniciar o trabalho de sedução consistente na persuasão para que a pessoa cobice o erro, passe a ter um desejo incontrolável a respeito daquilo que não se é permitido fazer.
Quando deixamos de lado a Palavra de Deus, quando não temos prazer de servir a Deus, surge, em nosso interior, inflamado pela tentação, o desejo incontrolável, a cobiça, a concupiscência, que é o estágio seguinte da caminhada do pecado.
– Eva desejou ardentemente, sem controle o fruto da árvore, concupiscência esta que teve, em grande parte, a circunstância do “acréscimo” feito pela mulher.
Como entendeu ela que nem tocar se poderia no fruto, passou a desejá-lo com mais ardor ainda. Este é o grande perigo da “santarronice”, do “radicalismo” humano, sem base bíblica.
Aquilo que é criado como uma “cerca em torno da Torá”, como dizem os judeus, ou seja, preceitos acrescidos para prevenção ainda maior do pecado, como não têm origem em Deus mas são obras dos homens, são precisamente os pontos atacados pelo adversário para se ter o efeito oposto, ou seja, trazer da proibição excessiva o ardente desejo, a concupiscência, a cobiça, que leva ao pecado.
– Bem ao contrário, Jesus, mesmo faminto e sedento, depois de quarenta dias de jejum, não se deixou levar pelo desejo incontrolável decorrente da sua própria condição física.
Quando lançado o dardo inflamado do maligno referente à necessidade de ter de provar que era o Filho de Deus mediante a transformação das pedras em pães, o Senhor mostrou estar bem atento à Palavra e respondeu dizendo que nem só de pão viveria o homem, mas de toda a Palavra que procedesse da boca de Deus. Assim fazendo, resistiu ao diabo e ele fugiu da Sua presença.
– A concupiscência é a incubadora do pecado. Todo pecado nasce deste desejo incontido, deste desvirtuamento da vontade do pecador. Por isso, o Senhor, ao advertir Caim, disse que o pecado jazia à porta, ou, em outra versão, “ameaça à porta” (NVI), ou seja, há sempre o risco de, ao darmos lugar ao diabo, levarmos nossa vontade para longe da vontade de Deus e isto resultará no pecado. Quando desprendemos nossa vontade da vontade divina, prenunciamos o nosso fracasso espiritual.
OBS: A propósito, bem elucidativa é a Versão do Pe. Antonio Pereira de Figueiredo de Gn.4:7, que vale a pena aqui transcrever: “Porventura se tu obrares bem, não receberás recompensa? E se obrares mal, não estará logo o pecado à porta?
Mas a tua concupiscência estar-te-á sujeita, e tu dominarás sobre ela”. Como se percebe nesta versão, é clara a ideia de que o pecado representa a perda do domínio sobre a concupiscência.
– Quando desprendemos a nossa vontade da vontade divina, o que é resultado da nossa falta de fé na Palavra de Deus, imediatamente passamos a gerar, em nós mesmos, a concupiscência, este desejo, esta vontade de nos desgarrarmos de Deus.
Assim, somos atraídos, por este desejo, e passamos a querer fazer o que não agrada a Deus.
É, por isso, aliás, que o escritor da carta aos hebreus diz que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6 “in initio”).
Quando deixamos de dar crédito a Deus, de nEle confiar, passamos a desagrada-lO, visto que caminhamos em direção à concupiscência, ao desejo de fazer aquilo que não agrada a Deus.
– Foi o que fez Eva. Passou a ver o fruto da árvore como algo bom para se comer, revelando, assim, a concupiscência da carne, ou seja, o desejo de saciar a matéria, as necessidades surgidas da nossa vida terrena, em total desprezo pelas coisas espirituais, pelas “coisas de cima”.
A “carne”, aqui, representa precisamente esta natureza pecaminosa que começa a se formar no ser do pecador, esta natureza que era apenas uma possibilidade, mas que, como “ameaça à porta”, domina o homem uma vez liberada pelo próprio homem que se distancia de Deus, que faz mau uso de seu livre-arbítrio.
– Mas, na sua direção rumo ao pecado, a mulher também não deixou de apresentar a concupiscência dos olhos, pois passou a considerar a árvore “agradável aos olhos”.
Temos aqui uma interessante característica da ação do pecado: ele não cega os olhos das pessoas, mas, sim, a mente delas.
O intelecto é afetado pelo adversário (II Co.4:4). Quando damos lugar ao inimigo, temos o nosso entendimento entenebrecido, passamos a “enxergar” equivocadamente e o que era algo que não deveria ser feito passa a ser “agradável aos olhos”.
– Por fim, a concupiscência atinge o próprio âmago do ser do pecador. Ele passa a se considerar autossuficiente, independente de Deus, acima do Altíssimo.
É a soberba da vida, o que também se mostra em Eva, quando vê a árvore como “desejável para dar entendimento”.
Quando se chega a este ponto, contaminando o próprio espírito humano, visto que a alma já o fora com a concupiscência dos olhos, temos o estágio final da concupiscência.
– Concebida a concupiscência, diz-nos Tiago, gera-se o pecado. “Tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.” (Gn.3:6 “in fine”).
Eis a grande tragédia da humanidade! Concebida a concupiscência, surge o pecado, o pecado entra no mundo dos homens, promovendo a separação entre Deus e a humanidade (Is.59:2) que é a morte espiritual que já havia sido anunciada pelo Senhor (Gn.2:17 “in fine”).
– Uma vez pecando, o homem torna-se dominado pelo pecado, como o Senhor advertira a Caim (Gn.4:7).
Ao ingressar o pecado no mundo, o primeiro casal distorceu a imagem e semelhança de Deus recebida e, por causa disto, fez com que os homens passassem a ter uma natureza pecaminosa, visto que, doravante, seriam imagem e semelhança do primeiro casal (Gn.5:3).
Por isso o salmista afirma que somos formados em pecado e em iniquidade (Sl.51:5). Como consequência disto, todo ser humano, quando atinge a idade da consciência, escolhe o mal e rejeita o bem. Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm.3:23).
– A consequência do pecado é a morte, ou seja, a separação de Deus. Pecando, o homem não tem mais comunhão com Deus, tanto que, naquele dia tão triste, quando Deus chegou ao jardim, o primeiro casal d’Ele procurou se esconder, pois não havia mais intimidade, comunhão entre Deus e os homens.
Prova de que todos os homens pecaram, como diz Paulo, é justamente o fato de que todos estão separados de Deus, de que a morte sobreveio a todos (Rm.5:12).
– Neste ponto, é relevante fazermos algumas considerações, ainda que rápidas, a respeito da “doutrina do pecado original”, que é defendida por vários segmentos ditos cristãos, em especial a Igreja Romana.
O “pecado original” seria o “pecado de Adão”, com o qual todos os homens nasceriam, daí porque, entre outras consequências, ser necessário o “batismo infantil” para se obter o perdão deste “pecado original”.
– Tal doutrina, porém, não tem o menor respaldo bíblico. Cada um deve dar conta de seus pecados e, assim como o diabo não pode ser culpado pelos pecados cometidos pelos indivíduos, também nem Adão nem Eva podem ser culpados pelos pecados dos outros.
Quando de Sua advertência a Caim, o próprio Senhor nos mostra que Caim não era pecador por causa do pecado de seus pais, mas que, se pecasse, seria dominado pelo pecado.
Assim, o “pecado original” não se transmite hereditariamente aos homens que, por isso mesmo, não são nascidos pecadores.
O salmista diz que somos formados em pecado e em iniquidade, ou seja, herdamos de nossos pais a natureza pecaminosa, isto é, a tendência de pecar inevitavelmente quando alcançamos a nossa consciência, mas, em absoluto, isto quer dizer que já temos o pecado de Adão e de Eva em nós.
Adão prestará contas de seu pecado diante de Deus, assim como cada um de nós prestará contas de seu pecado diante de Deus (Ap.20:7).
“Pecado original” não é o pecado de Adão(ou de Eva), mas, sim, a natureza pecaminosa que herdamos, a nossa tendência natural de pecar quando alcançamos a consciência. Não fosse assim, por que Jesus teria dito que das crianças é o reino dos céus? (Mc.10:14; Lc.18:16).
VII – A DEFINIÇÃO DO PECADO À LUZ DA QUEDA DO HOMEM
– Visto o triste caminho do pecado, que é seguido inevitavelmente por todos os homens, quando adquirem a consciência, diante da natureza pecaminosa que herdaram dos seus pais, podemos extrair das Escrituras as lições que elas nos dão a respeito do pecado, definindo o que é ele e quais são os seus aspectos.
– A primeira definição que temos de “pecado” é decorrente da sua própria etimologia seja em hebraico, seja em grego. “Pecado”, quase sempre, em hebraico, é tradução de “chatta’h” (חטאה ), que, em grego, é “hamartía” (άμάρτία), ou seja, “tortuosidade”, “desvio”.
O pecado, portanto, é um “desvio”, é uma “tortuosidade”, uma “distorção”, uma “saída de rota”, ou seja, é uma atitude que sai dos objetivos, das regras, dos fins propostos por Deus aos seres criados por ele com o livre-arbítrio.
Deus havia estabelecido o querubim ungido para glorificá-l’O, “chefiar” esta glorificação, seja no Éden, seja no monte santo de Deus. Mas o querubim ungido quis situar-se acima do trono do Altíssimo, quis ser glorificado e não glorificar, o que representava um desvio, uma distorção do fim instituído pelo Senhor e, por isso, pecou.
– De igual maneira, o primeiro casal, feito para lavrar e guardar o jardim do Éden, bem como para dominar sobre a criação terrena, adorando a Deus e Lhe obedecendo, também resolveu “saber” o bem e o mal, para ser igual a Deus (Gn.3:5) e, por causa disto, também se desviaram da rota traçada pelo Senhor, pecando.
O pecado, portanto, é um desvio de finalidade, de objetivo, de rumo, quando se deixa o que foi estabelecido por Deus e, mediante um mau uso da liberdade de escolha, opta-se por algo diverso do alvo predeterminado por Deus. Daí porque o salvo deve sempre repetir as palavras do apóstolo Paulo:
“…uma coisa faço e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp.3:13b,14).
– A segunda definição de, “pecado” é transgressão, como o ilustre comentarista, inclusive, enfatizou no título desta lição. “Transgressão” é o ato de “transgredir” e “transgredir”, por sua vez, é “passar de uma parte a outra”, “violar”, “infringir”.
O pecado apresenta-se como uma ação que vai além da vontade de Deus, uma atitude desprendida da vontade divina.
O pecado é um ato em que o ser moral não leva em conta a vontade do seu Senhor e passa para o outro lado, ou seja, age de acordo com a sua vontade, fora dos objetivos, das prescrições e dos desejos de Deus.
‘Transgredir” é “expor completamente”, ou seja, é sair de debaixo da proteção de Deus, de debaixo da mão de Deus para se manter independente, sem proteção, à mercê do mal e do adversário, como fez Balaão (II Pe.2:16).
É a quebra de um dever e de uma ordem(Rm.2:23). Eis o motivo por que a Bíblia diz que, ao pecar, Eva caiu em transgressão (I Tm.2:14), o mesmo se dando com relação a Adão (Rm.5:14).
– A Bíblia diz que a transgressão receberá de Deus a justa retribuição (Hb.2:2). Com efeito, sendo a transgressão um afastamento da vontade de Deus, uma quebra de uma ordem divina, o ser moral que a toma assume a responsabilidade pelos seus atos e deverá, pois, prestar contas ao Criador e Senhor de todas as coisas (Sl.24:1).
Quando transgredimos a Deus, estamos condenados à rejeição por Ele e à morte, como ocorreu com Saul (I Cr.10:13).
Quem não transgride, é puro e, por isso, verá a Deus (Jó 33:9; Mt.5:8). Quem tem a sua transgressão perdoada, é bem-aventurado (Sl.32:1).
– O terceiro significado de “pecado” é “impiedade”, ou seja, “incapacidade para honrar os seus deveres”, “falta de pureza”, “falta de religião”, “falta de credulidade”.
O pecado dos homens é visto por Deus como “impiedade (Rm.1:18). O pecado é um estado em que o homem se distancia de Deus e, por causa deste distanciamento, deixa de ter santidade, deixa de ter os sentimentos próprios de Deus, passando a ser cruel, maldoso, impuro e infiel.
O pecado é a inobservância dos deveres cometidos a ele por Deus, bem assim a ausência de relacionamento entre Deus e os homens.
Sem se relacionar com Deus, o homem se embrutece, querendo mostrar-se independente e superior a Deus, curva-se a outras criaturas e até mesmo a objetos produzidos por ele mesmo.
Em vez de se mostrar um ser moral, dotado de equilíbrio e racionalidade, o homem passa a ter um comportamento mais bestial que o dos próprios animais, gerando um estado caótico que Paulo bem descreveu no capítulo da carta aos romanos.
– Por causa disto, o mundo está cheio de impiedade, a começar pelo lugar do juízo e pelo lugar da justiça (Ec.3:16), daí porque ter o profeta dito que a justiça humana é como trapo de imundícia (Is.64:6).
A impiedade está entronizada no meio dos homens sem Deus e sem salvação (Sl.125:3; Zc.5:8-11), porém não subsistirá (Sl.1:6; Pv.11:5; 12:3; Ec.8:8; Jd.15). É desejo de Deus que todos renunciemos à impiedade (Tt.2:12; Is.58:67; Ez.33:19).
A grande causa da impiedade é a falta de amor, resultado da separação que se faz entre Deus, Que é amor (I Jo.4:8 “in fine”) e a humanidade.
– A terceira definição de pecado que nos mostra um outro aspecto seu é a de “desobediência” (Rm.5:19).
Pecado é “desobediência”, ou seja, “falta de obediência”, “recusa de obedecer”. Tanto o querubim ungido quanto o primeiro casal não quiseram obedecer às regras, às normas estabelecidas por Deus a eles.
O querubim fora estabelecido para ficar no monte santo de Deus, mas quis subir acima do Altíssimo. O primeiro casal foi proibido de tomar do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, mas, igualmente, não obedeceu.
– A obediência é o que Deus requer do ser humano, é a Sua única exigência (Dt.10:12,13). Obedecer é melhor do que sacrificar e o atender é melhor do que a gordura de carneiros (I Sm.15:22).
A desobediência foi sempre a razão de ser do fracasso de todos quantos decidiram servir a Deus (Dt.8:20; Dn.9:11; At.7:39).
O pecado é desobediência e a desobediência gera a indignação e a ira divinas (Rm.2:8), a reprovação para toda a boa obra (Tt.1:16). Aos desobedientes é negado o repouso divino (Hb.3:18), bem como reservado um triste fim (I Pe.4:17).
– O quarto significado de “pecado” é “iniquidade” (I Jo.3:4; 5:17), ou seja, “demasia”, “excesso”, “desigualdade”, “injustiça”.
O pecado é um ato que gera injustiça, ou seja, em que toma indevidamente algo que não é seu, em que acrescenta demasiadamente para um e faz faltar para outrem. Nem poderia ser diferente, visto que Deus é a justiça (Jó 36:3; Sl.4:1).
Assim, se, ao pecar, afastamo-nos de Deus, o resultado disto é a “injustiça”, a “iniquidade”, a “desigualdade”.
Vive-se num mundo injusto e desigual em todos os sentidos (econômico-financeiro, social, político etc.), por causa do pecado, que é o gerador de todos os distúrbios que padecemos.
Aliás, as desigualdades e dominações de uns sobre outros é decorrência direta do pecado, como se verifica dos juízos divinos lançados sobre a humanidade em virtude do pecado do primeiro casal.
– Por ser “iniquidade”, o pecado exige a aplicação da justiça divina para sua dissipação, como veremos na lição sobre a doutrina da salvação. Ao longo do livro de Levítico, onde está a maioria das prescrições relativas a sacrifícios, sempre se fala na iniquidade que deverá ser levada pelo pecador.
Ao pecar, o homem gera uma injustiça, uma desordem na ordem estabelecida por Deus, uma circunstância de desigualdade e de excesso e falta, que tem de ser remediada, sob pena de trazer a justa punição a quem pecou.
– Quem pratica a iniquidade não invoca ao Senhor (Sl.14:4), ainda que até pronunciem indevidamente o Seu nome.
Na verdade, não têm estes qualquer relacionamento com Deus, que, naquele dia, em que se prestará conta de toda a iniquidade carregada consigo, ouvirão a dura sentença:
‘Nunca vos conheci”(Mt.7:21-23), precisamente porque têm o mal no seu coração (Sl.28:3).
– O quinto significado de “pecado” é “incredulidade”, que é a “falta de credulidade”, a “qualidade de quem não crê, de quem não tem fé”.
O pecado é a falta de crença em Deus e em Sua Palavra. O pecador não confia no que Deus diz, é um descrédito à verdade. O pecador, em vez de crer em Deus e em Sua Palavra, prefere crer em fábulas, mentiras e ilusões, quase sempre bem arquitetadas pelo adversário, que é o pai da mentira (Jo.8:44).
A incredulidade foi o motivo pelo qual a geração do êxodo, ou seja, os israelitas de vinte anos para cima que saíram do Egito, não entraram na Terra Prometida (Hb.3:19) e será a razão pela qual muitos não entrarão no reino de Deus, na Canaã celestial, pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).
Quem age com incredulidade e nesta incredulidade permanece, ficará fora da comunhão com o Senhor (Rm.11:20,23). Os incrédulos estão sob o domínio do pecado, são enganados diuturnamente pelo inimigo (II Co.4:4). O destino dos incrédulos é a morte (Hb.11:31; Ap.21:8).
VIII – AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
– A primeira consequência do pecado, já apontada por Deus previamente ao homem, é a morte, ou seja, a separação entre Deus e os homens (Gn.2:16,17; Is.59:2;Rm.6:23).
Ao pecar, o homem estabelece uma divisão, uma barreira entre ele e Deus, pois não é possível haver comunhão com Deus quando se está em pecado (Ef.2:11-14).
Logo no primeiro dia após o pecado, o homem não se sentiu bem com a aproximação de Deus, procurando d’Ele se esconder, como se isto fosse possível (Gn.3:8).
O estado pecaminoso do homem fez com que Deus expulsasse o primeiro casal do Éden (Rm.3:23), tendo, também, impedido o seu acesso à árvore da vida (Rm.3:22,24).
– A segunda consequência do pecado é a perda da inocência e o surgimento da malícia e da maldade.
Assim que o homem pecou, percebeu que estava nu (Gn.3:7), nudez que não era apenas a física, ou seja, a ausência de vestes para cobertura do corpo, mas, também, a nudez espiritual, pois o homem se achou, também, sem as vestes de justiça que possuía antes de pecar (Jó 29:12; Is.61:10).
O pecador está espiritualmente nu, como se vê quando o Senhor se refere à igreja de Laodiceia (Ap.3:18).
A nudez espiritual, consequência do pecado, leva-nos à questão do pudor. O homem sentiu vergonha do seu corpo, ou seja, o homem, imagem e semelhança de Deus, já não consegue ver, em si mesmo, esta imagem e semelhança de Deus, passa a ter vergonha de si mesmo, do seu próprio corpo.
Temos, assim, a substituição do “homem da inocência” pelo “homem da concupiscência”. Esta vergonha representa, antes de mais nada, a distorção operada pelo pecado na própria estrutura humana. O homem já não sabe lidar com seu corpo, alma e espírito, e, por isso, sente vergonha e medo.
OBS: Vale a pena transcrever aqui o pensamento do ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II (1978-2005), a respeito do pudor, pensamento cuja biblicidade recomenda a transcrição:”… 5.
O coração humano conserva em si contemporaneamente o desejo e o pudor. O nascimento do pudor orienta-nos para aquele momento em que o homem interior, «o coração», fechando-se ao que «vem do Pai», se abre ao que «vem do mundo».
O nascimento do pudor no coração humano dá-se a par e passo com o início da concupiscência — da tríplice concupiscência segundo a teologia joanina (cfr. 1 Jo. 2, 16) e em particular da concupiscência do corpo. O homem tem pudor do corpo por causa da concupiscência.
Mais, tem pudor não tanto do, corpo quanto exactamente da concupiscência: tem pudor do corpo por causa da concupiscência. Tem pudor do corpo por causa daquele estado do seu espírito a que a teologia e a psicologia dão a mesma denominação sinónima: desejo ou concupiscência, embora com significado não de todo igual.
O significado bíblico e teológico do desejo e da concupiscência difere do usado na psicologia.
Para esta última, o desejo provém da falta ou da necessidade, que o valor desejado deve satisfazer.
A concupiscência bíblica, como deduzimos de 1 Jo. 2, 16, indica o estado do espírito humano afastado da simplicidade original e da plenitude dos valores, que o homem e o mundo possuem «nas dimensões de Deus».
Exactamente essa simplicidade e plenitude do valor do corpo humano na primeira experiência da sua masculinidade-feminilidade, de que fala Génesis 2, 23-25, sofreu sucessivamente, «nas dimensões do mundo», transformação radical.
E então, juntamente com a concupiscência do corpo, nasceu o pudor. 6. O pudor tem significado duplo: indica ameaça do valor e ao mesmo tempo preserva interiormente esse valor (1).
O facto de o corpo humano, desde o momento em que nele nasce a concupiscência do corpo, conservar em si também a vergonha, indica que se pode e deve fazer apelo a ele quando se trata de garantir aqueles valores, a que a concupiscência tira a sua original e plena dimensão.
Se conservamos isto na mente, estamos capazes de compreender melhor porque, falando da concupiscência, Cristo faz apelo ao «coração» humano. …” (JOÃO PAULO II. Audiência geral de 28 de maio de 1980. Disponível em: http://www.google.com/search?q=cache:0CYaEpcCbyoJ:www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/1980/documents/hf_jp-ii_aud_19800528_po.html+pudor,+pecado&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=3 Acesso em 04 out. 2006).
– A terceira consequência do pecado é a culpa que sobrevém ao homem. Muitos estudiosos da atualidade, dentro de sua rejeição à Palavra de Deus, costumam dizer que o cristianismo representa um mal para a humanidade, porque impõe ao gênero humano a ideia de culpa, ideia esta que tiraria dos homens a alegria de viver.
No entanto, tais pensadores estão totalmente equivocados.
A Bíblia Sagrada não torna os homens culpados, nem faz com que os homens percam a felicidade da vida atribuindo-lhes uma culpa. Na verdade, as Escrituras apenas mostram que o homem, feito para ser inocente e feliz, ao pecar, fazendo mau uso de sua liberdade, de seu livre-arbítrio, tornaram-se culpados diante de Deus (Tg.2:10; Cl.2:14).
A culpa não é uma “invenção cristã”, mas o resultado do pecado. Porque pecamos, tornamo-nos culpados diante de Deus. A Bíblia é bem clara ao nos mostrar que Deus não faz do culpado inocente (Ex.34:7; Nm.14:18; Na.1:3). Ao culpado está reservada a morte (Os.13:1).
– A quarta consequência do pecado é fazer com que o homem fique debaixo da ira de Deus.
Já temos dito que o pecado é um distanciamento entre Deus e o homem, de modo que o homem sai do lugar da proteção de Deus (“o esconderijo do Altíssimo, a sombra do Onipotente” – Sl.91:1) para se expor completamente, ficando à mercê do adversário e da própria ira divina.
Desde os céus, Deus Se ira contra os pecadores (Rm.1:18-20), como bem demonstrou o grande pregador Jonathan Edwards, num dos sermões mais famosos da história da Igreja, “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, cuja leitura recomendamos (entre outros endereços, este sermão está disponível em http://www.monergismo.com/textos/advertencias/pecadores_maos_deus_irado.htm ).
– A ira de Deus em relação ao homem é a reação divina pela prática do pecado. Deus é bom, Deus é amor, entretanto, também é justiça.
Deus, por iniciativa Sua, somente promove o bem ao homem, somente busca conceder ao ser humano a felicidade, pois, como vimos na lição anterior, Deus quer que o homem seja feliz. Entretanto, quando o homem, em vez de buscar a felicidade, que se encontra na comunhão com o Senhor, dEle se afasta, passando a pecar, traz sobre si a ira divina.
Moisés, em seu último cântico, deixa isto bem claro ao mostrar à nação israelita que, se ela se ensoberbecesse e deixasse de servir a Deus, “dando coices”, “deixando a Deus que a fez”, o Senhor a desprezaria, a abandonaria à própria sorte, provocado que foi à ira pelos Seus próprios filhos e filhas (Dt.32:15-20).
Quando Deus abandona o homem e o despreza, manifesta a Sua ira e, neste instante, o juízo de Deus apresenta-se extremamente duro.
– As pragas do Egito, reação ao endurecimento do coração de Faraó, bem como as pragas que estão profetizadas para a Grande Tribulação são demonstrações do que é cair debaixo da ira de Deus. Como disse o escritor da carta aos hebreus:
“Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb.10:31), como também, “como escaparemos nós se não atentarmos para uma tão grande salvação?” (Hb.2:3a).
A ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência (Ef.5:6; Cl.3:6) e o pecador, em sua dureza e impenitência de coração, somente entesourará para o dia da ira e da manifestação do juízo de Deus (Rm.2:5). Que Deus nos guarde!
– A quinta consequência do pecado é fazer o homem perder a tranquilidade.
A paz é o resultado direto da comunhão com Deus (Rm.5:1) e esta comunhão nos dá a paz de Deus (Fp.4:7; Cl.3:15).
Entretanto, se estamos em pecado, estamos separados de Deus e, por conseguinte, também não temos paz. Todo o homem que obra o mal tem tribulação e angústia (Rm.2:9), tem uma paz ilusória, porque não é a paz dada por Cristo Jesus, o Deus Filho (Jo.14:27; 16:33).
Toda a intranquilidade, toda a perturbação, todo o desespero que vemos reinando no mundo é resultado direto do pecado na vida dos homens.
– A sexta consequência do pecado é fazer com que o homem fique sujeito ao pecado (Gn.4:7).
Jesus disse que todo aquele que peca é servo do pecado (Jo.8:34). Como o Senhor advertira Caim, o pecado domina o homem.
O homem, ao pecar, torna-se escravo do pecado e, por isso, já não mais faz o que quer, mas sim o que o pecado que nele habita quer que ele faça, como bem demonstrou o apóstolo Paulo no capítulo 7 da epístola aos romanos.
Ao pecar, o homem se coloca à mercê de sua natureza pecaminosa e, também, do diabo e de seus anjos, que, pela ocasião do pecado do homem, escravizam os pecadores, cegando-lhes o entendimento e os levando para o seu mesmo destino: o lago de fogo e enxofre.
– Não é verdade, portanto, que o mundo esteja sob o governo de Satanás e de seus anjos, como, infelizmente, muitos pregadores, seduzidos pelo falso ensino da doutrina da confissão positiva, estão a ensinar em muitos púlpitos na atualidade.
O mundo e todos aqueles que nele habitam são do Senhor (Sl.24:1) e nunca deixaram de sê-lo.
No entanto, os homens, quando dão ocasião à sua própria natureza pecaminosa e são atraídos e engodados pela própria concupiscência, distanciam-se de Deus e ficam à mercê do diabo e de seus anjos que passam a controlar as mentes, as vontades e os sentimentos destes homens, escravizados que estão pelo pecado.
Passam a servir ao adversário de nossas almas, a serem instrumentos de iniquidade (Rm.6:13).
O diabo passa a dominar o homem, o seu ser, mas não o mundo cósmico, como se alardeia por aí. Ele é, sim, o príncipe deste mundo, entendido mundo aqui não como a criação, mas o reino das trevas, o reino do pecado e do mal.
– A sétima consequência do pecado é a perda da posição do homem na ordem cósmica.
Feito para dominar sobre a criação terrena e para viver em comunhão com o Senhor, o homem, ao pecar, perdeu esta posição.
Expulso do Éden, não mais teve comunhão com Deus e a natureza, que antes lhe era servil, agora é sua competidora, precisando, inclusive, lutar contra ela para poder sobreviver (Gn.3:17-19).
Sem acesso à arvore da vida, o homem não só sofreu a morte espiritual, que é a separação de Deus, como também lhe foi imposta a morte física, vendo, pois, a separação do seu próprio ser, com a interrupção da sua unidade pelo retorno do corpo ao pó da Terra e a ida do homem interior para o local de espera do julgamento final.
– Nesta perda da posição de domínio sobre a criação terrena, o homem acaba se submetendo a suas próprias invenções, sem falar às demais criaturas. Assim, torna-se escravo do dinheiro e das riquezas, o dá origem a toda espécie de males (Mt.13:22; I Tm.6:10), como também é levado, pela soberba, a contendas e questões de palavras, que só geram mais e mais pecados (I Tm.6:4).
É levado, também, pelos seus próprios desejos desordenados e incontrolados (Lc.21:34), chegando, mesmo, ao ponto de passar a adorar as criaturas em lugar do criador, dando origem à idolatria, fonte de toda corrupção moral e de costumes (Rm.1:21-32).
– A oitava consequência do pecado foi a desigualdade de gênero, ou seja, a diferença de tratamento entre o homem e a mulher.
Feitos para serem iguais diante de Deus, pois, para Deus, não há acepção de pessoas (Dt.10:17), homem e mulher, por causa do pecado, passaram a ter posições diferenciadas no relacionamento entre si, tendo o senhor determinado o domínio do homem sobre a mulher (Gn.3:16).
Este domínio não é desejo divino, mas reação divina ao pecado cometido. Como vimos, o pecado é gerador de desigualdade, pois é iniquidade e, em virtude disto, a humanidade sob o pecado é um triste quadro de injustiças, de desigualdades e de dominações. Entre tais desigualdades, destaca-se a “desigualdade de gênero”.
– Em que pese todo o esforço para que a mulher tenha uma melhor posição na sociedade humana, notadamente a partir do final do século XIX, o fato é que, como sistematicamente demonstram os relatórios das organizações internacionais, a mulher ainda vive nítida situação de inferioridade em relação ao homem, seja nos países ricos, seja nos países pobres; seja no campo econômico, seja no campo social ou político, e isto quando a população de mulheres já é superior a de homens. Tudo isto está a provar que o pecado gera consequências inevitáveis e que não se consegue suprimir pela força humana.
– A nona consequência do pecado é a contaminação da vida familiar.
O pecado, ao trazer a desigualdade de gênero, já tornou tensas as relações entre marido e mulher, mas, logo em seguida, com o primeiro homicídio, bem demonstrou que vinha a atacar de forma direta a própria família.
Desde então, o pecado tem transtornado muitíssimo a vida familiar, vida esta que se encontra, nos nossos dias, em frangalhos, por causa, precisamente, do pecado.
Quando se verifica, por exemplo, a situação em que se encontrava a instituição familiar em períodos de juízo divino, como nos dias de Noé, nos dias de Ló ou na geração seguinte a Josué e os anciãos em Israel, vemos que a família era e é a principal vítima do estado de intensa pecaminosidade.
O pecado gera a destruição da vida familiar, pois desfaz a pureza e a estabilidade entre marido e mulher, retirando assim a necessária autoridade moral indispensável para o relacionamento entre pais e filhos, gerando milhares e milhares de vidas sem afeto e sem amor, prontas para ficarem à mercê de ação dos diversos instrumentos da iniquidade, num ambiente de depravação moral e de violência generalizada.
– A décima consequência do pecado é a desunião, o desamor, o ódio de uns contra os outros. O domínio do pecado sobre o homem faz com que sejam praticadas as chamadas “obras da carne” (Gl.5:19-21), que prejudicam grandemente a própria convivência e sobrevivência da humanidade.
O pecado, a começar da família, dilapida a estrutura social e instala a barbárie e o egoísmo como modos de sobrevivência e de permanência no convívio social. Por mais tecnologicamente civilizados que estejam os homens, o aumento do pecado produz cada vez mais pecado, cada vez mais maldade, cada vez mais selvageria.
Apesar de estar na era da telemática, de um desenvolvimento tecnológico nunca antes visto, quem se atreveria a dizer que estamos num mundo mais honesto, mais pacífico, menos cruel do que nossos avós?
– Esta consequência é tão nefasta que o próprio Jesus nos mostra que atingirá até mesmos aqueles que já alcançaram a salvação um dia. “E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt.24:12).
Este “muitos”, no original “pólus” (πόλυς), significa “quase todos”, “a grande maioria”.
O efeito devastador do pecado é tanto que quase todos os que um dia receberam o amor de Deus derramado em seus corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5) se esfriará, desaparecerá. Que Deus nos guarde!
– A décima primeira consequência do pecado é a cegueira espiritual. O pecado torna-nos cegos espirituais, pois temos nosso entendimento cegado pelo adversário de nossas almas (II Co.4:4) e “não enxergamos um palmo à frente do nosso nariz” em termos espirituais, tanto que abandonamos as coisas eternas, que são as que realmente têm valor, para nos prendermos às coisas passageiras e vis deste mundo.
O pecador não consegue compreender que o mundo passa e a sua concupiscência e que só quem faz a vontade de Deus permanece para sempre (I Jo.2:7).
Deixa de ajuntar tesouros para a eternidade por conta de tesouros nesta vida que é tão passageira como a flor da erva (Mt.6:19-21; I Pe.1:24). Cansa-se e fatiga-se com as coisas deste mundo, esquecendo-se da boa parte (Lc.10:41,42).
– A décima segunda consequência do pecado é a indignidade da pessoa humana.
Com efeito, o pecado torna o homem indigno, à mercê do inimigo de nossas almas e separado de Deus.
Nestas circunstâncias, o homem decai completamente de sua natureza e passa a ser um instrumento de iniquidade, que se autodestrói, que, a cada instante, ocasiona a sua própria degradação.
Quando vemos a que ponto tem chegado o ser humano, a que ponto o ser humano tem se tornado vil e desprezível aos olhos dos próprios homens, vemos como o homem tem se tornado indigno, tem sido vilipendiado.
A vileza do homem alcançará seu estágio máximo na Grande Tribulação, quando ele é posto como uma simples mercadoria e das menos valiosas dos poderosos, como se lê em Ap.18:11-13.
– Vemos, portanto, que o pecado tem consequências extremamente danosas e o homem não tem como enfrentá-las. Estaria, pois, irremediavelmente perdido se Deus não o amasse e não providenciasse um escape, como veremos na nossa próxima lição.
– É esta esperança no escape do homem que dá o tom da parte final do item 5 do nosso Cremos, ao dizer que o arrependimento e fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo pode restaurar o homem a Deus.
Este homem feito reto, mas que buscou as suas invenções (Ec.7:29), pode ser salvo, se se arrepender dos seus pecados e crer na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo, obra esta que é explicitada no item seguinte do Cremos.
– “CREMOS, professamos e ensinamos que o pecado é a transgressão da Lei de Deus: “porque o pecado é a transgressão da lei” (I Jo.3:4 – ARA), ou seja, a quebra do relacionamento do ser humano com Deus.
Há diversos conceitos bíblicos tanto para designar o pecado, tais como rebelião e desobediência, como suas consequências, quais sejam:
incapacidade espiritual, falta de conformidade com a vontade de Deus em estado, disposição ou conduta e corrupção inata dos seres humanos:
“não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque” (Ec.7:20); “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm.3:23).
Atanásio, um dos pais da Igreja, dizia que o pecado é a introdução dentro da criação de um elemento desintegrador que conduz à destruição e que somente pode ser expelido por meio de uma nova criação.
Daí a necessidade do novo nascimento. A universalidade do pecado é confirmada em toda a Bíblia e comprovada pela própria experiência humana” (Início do Capítulo IX – Sobre o pecado e suas consequências da Declaração de Fé da CGADB).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/703-licao-6-a-pecaminosidade-humana-e-a-sua-restauracao-a-deus-i