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LIÇÃO Nº 6 – A TEOLOGIA DE ELIFAZ: SÓ OS PECADORES SOFREM?

Para Elifaz, as bênçãos são resultado dos méritos humanos.

INTRODUÇÃO

Na sequência do estudo do livro de Jó, analisaremos os discursos de Elifaz.

Para Elifaz, as bênçãos são resultado dos méritos humanos.

I – QUEM FOI ELIFAZ

Após ter quebrado o silêncio com sua queixa, o patriarca Jó trouxe coragem aos seus amigos para que manifestassem seu parecer a respeito de todos aqueles fatos que haviam ocorrido em sua vida.

O primeiro a apresentar seu discurso era Elifaz, segundo o qual as bênçãos divinas são resultado dos méritos humanos, velha teologia que tem ainda encantado a muitos até hoje, mesmo entre os crentes.

Elifaz foi o primeiro a fazer uso da palavra, talvez porque fosse o mais idoso entre os amigos de Jó. A Bíblia diz que era de Temã, localidade identificada como uma região no sul da Palestina, um centro nas rotas comerciais daquele tempo.

Sua autoridade em assuntos espirituais é constantemente invocada por ele e seu discurso parece reproduzir o discurso dos grandes líderes e estudiosos religiosos dos nossos dias, cuja “infalibilidade” é considerada suficiente para que suas ideias sejam consideradas como verdadeiras.

Elifaz, basicamente, traz uma ideia tão simples e encantadora quanto enganosa: Deus abençoa os que agem corretamente e lança males sobre os pecadores.

Assim, Deus estabelece com o homem um relacionamento mercantil: Deus abençoa quem faz o bem e lança males sobre quem faz o mal. Tal pensamento, porém, será rejeitado pelo patriarca que, cônscio de sua inocência, não pode aceitar uma simplificação como a que se fez.

Como vimos, Elifaz era natural de Temã, localidade que tem sido identificada como uma região ao sul da Palestina, que viria a ser ocupada pelos edomitas, descendentes de Esaú.

Seu nome significa “Deus é forte” ou “Deus é vitorioso” e isto revela a própria formação de Elifaz, desde o lar de seus pais, na idéia de um Deus que governaria todo o universo. Elifaz, portanto, era um homem com larga experiência de vida no tocante aos assuntos religiosos. Sua vida é uma demonstração de que não basta ser um grande teórico sobre Deus para conhecê-l’O. Apesar de todo seu conhecimento, Elifaz dirá o que não agrada a Deus (Cf. Jó 42:8).

Entretanto, pelo que podemos perceber, Elifaz era um homem versado nos assuntos de Deus (a “teologia”), mas era, sobretudo, um pensador, um teórico, que bem conhecia os princípios e valores nos quais acreditava, mas que não podia apresentar senão argumentos, argumentos que procuravam explicar os fatos que haviam se desenvolvido com Jó.

Contra esta teoria, o patriarca apresentaria uma prática, ou seja, uma vida de experiência e comunhão com Deus.

Elifaz era teórico, era um intelectual versado em Deus, mas é muito mais importante sermos um filho de Deus, alguém que está vivendo em Cristo e não somente que tenha conhecimento intelectual de Deus. Elifaz pode ser comparado a Nicodemos que, apesar de ser “o príncipe dos judeus”, tinha necessidade de “nascer de novo”, como nos indicou, claramente, Jesus (Jo.3).

Elifaz toma a palavra, após a queixa de Jó, tendo em vista a declaração de inocência que o patriarca havia proferido.

É interessante observar que havia um silêncio e os amigos de Jó não tinham coragem alguma para falar (Jó 2:11-13) e só vieram a fazer uso da palavra depois que Jó abriu a sua boca.

Em momentos de crise, muitas vezes, é tempo de ficarmos calados, pois Deus conversa no silêncio e conosco, como, v.g., ocorreu com Moisés (Ex.3:1-5), sendo medida salutar que é proclamada pelo salmista (Sl.46:10).

Ao falarmos, acabamos abrindo a oportunidade para que outros falem a respeito do plano de Deus para nossas vidas, sendo que isto é assunto que deve envolver somente a nós e a Deus e não terceiros, que acabarão por falar o que não é correto nem agradável a Deus (Jó 42:8).

II – O PRIMEIRO DISCURSO DE ELIFAZ

O livro de Jó apresenta três discursos de Elifaz (Jó 4-5, 15 e 22), ou seja, em cada série de discursos entre Jó e seus amigos, Elifaz é sempre o primeiro a iniciá-lo, talvez porque fosse o mais idoso deles.

Nos três discursos, Elifaz insiste na ideia de que Deus abençoa os bons e lança calamidades sobre os pecadores.

Diz que Deus é misericordioso e se os pecadores se arrependerem, certamente serão abençoados e o estado de calamidade que enfrentam será mudado.

Portanto, segundo Elifaz, Jó pecou e, por isso, estava passando pelo que estava passando. Se se arrependesse de seus pecados, certamente voltaria a desfrutar das bênçãos de Deus.

OBS: “…O trecho de Jó 4.1-11 fala sobre o dogma da justiça. Nenhum homem poderia sofrer como Jó estava sofrendo, a menos que fosse culpado de alguma transgressão, aberta ou secreta. Elifaz pregou a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura, ou a lei do carma.

Isso, como é claro, é uma das respostas para o problema do mal. Os ímpios recebem aquilo que semeiam.

Mas o livro de Jó é mais profundo e pergunta: ‘ Por que os inocentes sofrem ?’. Jó sofreu sem causa ou, pelo menos, não merecia seus sofrimentos por haver pecado ou por ser injusto.

Podemos supor que houvesse alguma razão divina, mas certamente não a barganha cósmica com Satanás(…).

Os justos não sofrem por causa de alguma barganha de Deus com Satanás…” (CHAMPLIN, R.N. O Antigo Testamento Interpretado, v.3, p.1879-80).

Como podemos perceber, a teologia de Elifaz é um raciocínio logicamente perfeito e irretocável. Se o homem bem fizer, terá o agrado de Deus e será abençoado; se não fizer bem, sofrerá a ira divina. Deus é bom e está pronto a perdoar quem se arrepende.

Apesar de toda esta lógica perfeita, quando esta visão teórica é levada para a prática, notamos que ela não funciona: há justos que sofrem e pecadores que têm êxito e sucesso.

Deus abençoa tanto a justos como a injustos, como, v.g., ao fazer cair a chuva tanto para uns quanto para outros (Mt.5:45).

A teologia de Elifaz, portanto, é cabalmente desmentida pelos fatos e, como diz conhecido adágio, “contra fatos, não há argumentos”.

OBS: ” Elifaz era um indivíduo religioso cujo dogmatismo repousava sobre uma experiência notável e misteriosa (vss.12-16).

Porventura um espírito passara alguma vez diante da face de Jó ? Os pêlos de sua carne já se tinham eriçado alguma vez ?

Pois então que Jó se mantivesse manso, enquanto alguém tão superior quanto Elifaz declarasse a causa dos infortúnios dele.

Elifaz disse muitas coisas verdadeiras (como seus dois amigos também disseram) e por várias vezes chegou a mostrar-se eloqüente; mas permaneceu duro e cruel, um homem dogmático que precisava ser ouvido por causa de uma notável experiência (Scofield Reference Bible, Jó 4 apud CHAMPLIN, R.N. O Antigo Testamento Interpretado, v.3, p.1880).

Inicia Elifaz seu discurso reconhecendo o estado primeiro de Jó, a sua justiça anterior (Jó 4:3-6), um elogio aparente, porém, já que coloca todas estas virtudes no passado, como que a indicar, desde o prólogo de seu discurso, que o patriarca não mais pode ser contado entre os justos.

É um julgamento que se faz diante das aparências, ou seja, procura-se conhecer o interior de alguém pelo que está acontecendo em sua vida. Não devemos nos guiar pelas aparências (Jo.7:24).

Verdade é que Jesus nos ensina a conhecermos as pessoas pelos seus frutos (Mt.7:20), mas estes frutos devem ser buscados não pela aparência, mas segundo a reta justiça. Será que não temos nos portado como Elifaz, julgando o irmão pelo que está acontecendo com ele, sem verificarmos o seu significado profundo?

OBS: “…Mas vejamos problema novamente. Perguntamos por que algumas boas pessoas sofrem e algumas más prosperam.

Então estamos assumindo que sabemos quem é realmente iníquo e quem é justo. Isto implica em duas categorias exatas, definidas e imutáveis de seres humanos: o bom e o mau, e que uma vez que a pessoa tenha sido designada ‘justa’ não deveria ser castigada por nenhum motivo, enquanto a malvada não deveria ser premiada em hipótese alguma.

E significa que sabemos o que é ‘prosperidade’ e o que é ‘aflição’, e que uma é sempre boa e outra é sempre má. Todas estas suposições, diz Don Isaac Abravanel (grande rabino judeu que viveu na Espanha no século XV – observação nossa), podem ser questionadas.

Como sabemos quem é justo ? Um homem poderia apresentar uma bela barba e orar com grande devoção, enrolado em seu talit (xale de orações usado pelos judeus – observação nossa), e ser extremamente rigoroso com seus empregados, e exigir de seus inquilinos aluguéis exorbitantes.

Nós só veríamos a sua religiosidade manifesta, e quando o Céu apresentasse a ‘conta’, poderíamos bradar ao Eterno: ‘Não é justo!’

Outra pessoa pode parecer não ser nada religiosa, ainda que participe de alguns atos heróicos de bondade, pelos quais é compensado com sua atual fortuna. Por outro lado, podemos julgar realmente se estas pessoas são felizes ou não ?

Um indivíduo pode ter um carro magnífico e uma casa de campo, e ser infeliz e aflito justamente devido a esta riqueza e aos efeitos desta sobre os seus filhos. Já certos trabalhadores que mal ganham o suficiente para sobreviver podem levar uma vida feliz e ver seus filhos crescerem fortes de caráter.

Este pode ser o sentido de ‘Não está ao nosso alcance entender ou explicar o sossego dos maus nem o sofrimento dos justos'(Pirke Avot 4,19, parte do Talmude – observação nossa), nem saber se ele é verdadeiramente malvado ou feliz. E o mesmo se aplica ao justo que sofre desventuras.…” (BUNIM, Irving M. A ética do Sinai, p.265).

Em seguida a este reconhecimento da justiça anterior de Jó, Elifaz traz uma pergunta que é o âmago de sua argumentação: ” lembra-te agora de qual é o inocente que jamais perecesse ? E onde foram os sinceros destruídos?” (Jó 4:7).

Para Elifaz, era impossível admitir que um homem sincero pudesse ser submetido a um estado de ruína como tinha sido Jó.

Em retribuição à sinceridade, Deus só pode dar bênçãos para o homem. É uma visão absolutamente estreita de Deus e que não enxerga um palmo à frente do nariz, para se utilizar, aqui, de uma expressão popular.

O teólogo mais experiente simplesmente não admitia a soberania de Deus para retirar tudo o que houvesse dado a um homem sincero com o propósito de aperfeiçoá-lo mais. Se um homem é sincero, nada de mal pode lhe acontecer – este era o imperfeito entendimento do doutor Elifaz!

Após ter apresentado o seu argumento, Elifaz procura respaldá-lo na sua experiência (Jó 4:8-11). Nem sempre a nossa experiência de vida pode explicar os desígnios divinos.

A Bíblia está repleta de demonstrações de que o homem, por mais santo que seja, não tem condições de poder discernir os planos de Deus se estes não lhe forem revelados.

Apesar de toda a sua comunhão com Deus, o profeta e juiz Samuel não tinha condições de dizer quem era o escolhido por Deus para suceder o rei Saul (I Sm.16:6,7); o profeta Elias não pôde avaliar e reconhecer o número considerável de pessoas que se mantiveram fiéis a Deus em meio a tanta idolatria (I Rs.19:14-18).

Somente através de revelações de Deus é que podemos ter a mente de Cristo e tudo discernir sob o ponto-de-vista espiritual (I Co.2:11-16) e a suprema revelação de Deus é Cristo(Hb.1:1), que é a Sua Palavra (Ap.19:13).

Não resta dúvida de que a nossa experiência de vida com Deus é importante para nosso aperfeiçoamento espiritual (Rm.5:4), mas jamais poderá se arvorar no elemento discernidor da vontade de Deus, cujos juízos são insondáveis e cujos caminhos são inescrutáveis ao mortal (Rm.11:33).

Em prosseguimento à fundamentação de seu argumento, Elifaz relata uma experiência sobrenatural que havia tido com um “espírito” (Jó 4:12-21).

Este ser apresentou-se ao teólogo que, teórico como era, ficou sobremodo impactado por esta experiência.

Este “espírito” trouxe-lhe uma indagação, a saber: “Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o varão mais puro que o seu Criador?

Eis que nos Seus servos não confia e nos Seus anjos encontrou loucura; quanto menos naqueles que habitam em casas de lodo, cujo fundamento está no pó e são machucados como a traça!

Desde manhã até à tarde são despedaçados e, eternamente, perecem sem que disso se faça caso. Porventura não passa com eles a sua excelência? Morrem, mas sem sabedoria ” ( Jó 4:17-21).

Segundo se verifica, portanto, esta mensagem “espiritual” confirmava a teologia de Elifaz, na medida em que dizia que o homem não era justo e, portanto, ao pecar, sofria, inevitavelmente, os males de sua impiedade.

OBS: É interessante observar que o termo original hebraico utilizado para homem em Jó 4.17 é “enosh”, que quer dizer “um homem, um mortal; o homem na sua fragilidade, limitação e imperfeição”, segundo Strong.

Como se explica na Bíblia de Estudo Plenitude, na p.513, ” enosh, por seu turno, significa homem enquanto criatura essencialmente fraca”. A utilização desta palavra demonstra o desprezo que se dá ao ser humano na argumentação de Elifaz.

A primeira lição que temos desta experiência sobrenatural de Elifaz é que o mal é uma realidade, as manifestações espirituais malignas não são ficção ou fenômenos psicológicos subjetivos dos homens, mas efetiva operação de forças que existem no Universo e que ainda não foram contidas por Deus, embora estejam atuando contra a vontade do Senhor.

Portanto, quando observarmos qualquer manifestação espiritual, temos de reconhecer sua realidade, mas realidade é diferente de sua aceitação.

A segunda lição que temos desta experiência sobrenatural de Elifaz é que temos de julgar tais experiências conforme a Palavra de Deus, pois é característica satânica transfigurar-se em anjo de luz (II 11:14).

Toda experiência sobrenatural, já que o mal é uma realidade, deve ser apreciada à luz da Palavra de Deus. Se observarmos a mensagem que o “espírito” disse a Elifaz, logo veremos de que se trata de uma manifestação maligna.

A mensagem do “espírito” é de acusação, que procura mostrar que o homem é pecador e que, portanto, não tem como receber a benevolência de Deus. Trata-se, pois, de uma mensagem altamente pessimista e que nega o amor divino e que, portanto, não podia, mesmo, ter origem em Deus (I Jo.4:1).

Nunca devemos nos esquecer que nossa regra de fé e prática é a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17).

Ademais, verificamos que o “espírito” mostra uma certa “mágoa” em relação a Deus, pois afirma que Ele encontrou loucura (diz a tradução do Padre Antonio Pereira de Figueiredo, “crime”1) em Seus anjos (Jó 4:18), revelando, assim, revolta contra o juízo de Deus contra os anjos rebeldes, pormenor que nos revela quem é este “espírito”…

A terceira lição que temos desta experiência sobrenatural de Elifaz é que tem origem maligna a ideia de que Deus trata segundo os nossos méritos, pois, se assim fosse, certamente a solução seria a apregoada pelo “espírito”, ou seja, não haveria como o homem se justificar diante de Deus e teria, inevitavelmente, um fim tenebroso.

É por este motivo que Deus atua com o homem através da Sua graça, ou seja, recebemos o favor de Deus de forma imerecida, pois, se Ele nos tratasse conforme nossos méritos, estaríamos perdidos e o “espírito” teria razão em dizer o que disse.

OBS: ” …Não está declarado que as visões de Elifaz vinham de Deus. De fato, não vinham de Deus, pois O descrevem como se Ele não Se preocupasse com a raça humana (vv.17-21).

É um erro estabelecer a teologia em sonhos e visões, sem apoio na revelação escrita de Deus.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. a Jó 4.13, p.776-7).

Após ter trazido a sua segunda fundamentação para seu argumento, Elifaz inicia, em seu discurso, uma sutil acusação contra Jó, na medida em que afirma que o ímpio sofre penalidades da parte de Deus, como a perda de filhos (Jó 5:4) e do patrimônio (Jó 5:5), o que é indireta acusação ao patriarca, que sofrera todas estas agruras.

O texto da tradução de Figueiredo diz em Jó 4:18: ” Ainda os mesmos que o servem não são estáveis, e entre os Seus anjos achou crime”. 

Baseando-se apenas nas aparências, Elifaz não hesita em imputar pecado a Jó, esquecido que Deus atua de várias maneiras e que não podemos querer discernir os Seus propósitos e planos (Is.55:8,9).

Para Elifaz, não havia dúvida alguma: Jó estava sendo castigado por Deus em virtude de seus pecados (Jó 5:17).

OBS: ” …Segundo a ideia de Elifaz, se Deus repreende uma pessoa e ela corresponde devidamente, Deus a livrará de todos os seus males e aflições. (1) O autor de Hebreus refuta essa ideia enganosa, ao declarar que alguns dos maiores heróis da fé, do AT, foram perseguidos, despojados de todos os seus bens, afligidos, maltratados e até mesmo mortos. Esses justos nunca experimentaram total livramento nesta vida (Hb. 11.36-39).

A Bíblia não ensina, em parte alguma, que Deus eliminará de nossa vida todas as aflições e sofrimentos. Os santos nem sempre são poupados de sofrimentos nesta vida.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. a Jó 5.17-27, p.777).

A solução para Elifaz estaria em Jó buscar a Deus, em dirigir-Lhe a fala a fim de pedir perdão (Jó 5:8), pois Deus é bom e misericordioso (Jó 5:9-16). Para Elifaz, Jó somente alcançaria a bênção se se arrependesse de seus pecados (Jó 5:18-27).

III – O SEGUNDO DISCURSO DE ELIFAZ

No segundo discurso, Elifaz mostra-se irritado com a declaração de inocência que faz Jó. Afirma que os argumentos do patriarca são simples palavras que se perdem no vento (Jó 15:2,3).

Assim agem os teóricos e dogmáticos, pessoas que, tendo chegado a conclusões a respeito de certos assuntos dentro de sua lógica puramente humana, recusam-se a sequer analisar quaisquer palavras que contrariam seus conceitos.

Jesus sempre foi contra o dogmatismo e atacou duramente este comportamento típico de pessoas dotadas de religiosidade mas despidas de uma vida espiritual autêntica diante de Deus.

A verdade sempre se impõe e Deus tem compromisso com a Sua Palavra (Jr.1:12). Desta forma, não precisa o homem impedir o questionamento ou a discussão a respeito de qualquer tema, pois sabemos que podem todos não cumprir a Palavra de Deus, mas ela se cumprirá na vida de todos.

No segundo discurso, Elifaz procura respaldar seu ponto-de-vista sobre o sofrimento de Jó com base na sua autoridade, com base em seu conhecimento teológico.

Argumenta, por primeiro, com a idade, que lhe daria maior experiência de vida (Jó 15:7-10) e, posteriormente, nos ensinamentos que eram reproduzidos geração a geração a respeito do assunto (Jó 15:17-19).

Verdade é que devemos respeitar os mais idosos e com eles aprender, devendo ter respeito aos marcos que nos foram estabelecidos, o que constituem o que se denomina “tradição” (Dt.19:14; Pv.22:28). O próprio Jó reconhece que o desrespeito da tradição é algo próprio do ímpio (Jó 24:2).

No entanto, devemos sempre observar a origem desta tradição, pois, acima dela, está a Palavra do Senhor, que não pode ser invalidada por estas coisas (Mt.15:1-6), já que é atemporal e permanece para sempre (I Pe. 1:25). Assim, nunca devemos procurar estribar nosso julgamento única e exclusivamente com base na tradição, pois, se assim o fizermos, poderemos correr o risco de querer invalidar a Palavra do Senhor, como o fez Elifaz.

Após buscar este respaldo, Elifaz repete seu argumento já apresentado no primeiro discurso. Diz que o homem não é puro e que, portanto, ao pecar, merece sofrer e o mal que lhe sobrevém da parte de Deus (Jó 15:14-16,20-30). Como Jó está sofrendo, é porque é um pecador, devendo confiar na bondade de Deus a manter-se vaidoso, arrogando uma sinceridade que não tem, para que obtenha o perdão divino e seja restaurado (Jó 15:31-35).

IV – O TERCEIRO DISCURSO DE ELIFAZ

No terceiro e último discurso, Elifaz mostra o que está por detrás de seu bonito e eloquente discurso: uma acusação infundada, um dogmatismo cego e que recusa até mesmo a evidência dos fatos.

Após, uma vez mais, demonstrar que Deus não teria lucro algum com a restauração do homem (Jó 15:2-4), passa a acusar o patriarca de uma série de pecados, sem ter base alguma para isso (Jó 22:6-11).

Torna-se um caluniador, pois faz falsas acusações contra Jó. Diante da ausência de provas para suas acusações, Elifaz apenas coloca como demonstração da suposta veracidade do que alega dentro de sua “teologia”.

Jó estava sofrendo e, por isso, era certo que havia pecado, mesmo às escondidas, pois ninguém pode se esconder de Deus (Jó 22:12-20). Volta a insistir para que Jó se arrependa, pois somente se unindo a Deus é que poderia ter de volta as bênçãos divinas (Jó 22:21-30).

A afirmação básica da argumentação de Elifaz é a da barganha: “Une-te, pois, a Ele e tem paz, e assim te sobrevirá o bem” (Jó 22:21).

Muitos são os que seguem esta teologia. Para estes, lembremos que ela não agradou a Deus (Jó 42:8) e foi inspirada por um “espírito”, que, certamente, trata-se do adversário de nossas almas.

OBS: ” As últimas palavras de Elifaz são um convite para Jó se converter. Note-se, porém, todo o interesse mercantilista por trás do dogma da retribuição: converter-se e servir a Deus a fim de ter tranquilidade e prosperidade.

Tal relacionamento não deixa lugar para a misericórdia e a gratuidade, transformando a religião em meio de manipular o próprio Deus.” (BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, com. Jó 22:21-30, p.655).

Elifaz mostra-se aqui como um legítimo precursor do Islamismo. Com efeito, embora o Corão não canse de mencionar a Deus como o Compassivo e o Misericordioso, nele não se encontra, em momento algum, que Deus ame o homem, mas sempre é apresentado um Deus que é cruel e implacável para com os “incrédulos” e que não cansa de prometer um ambiente de mordomia e luxo para os “fiéis”, que, inclusive, por darem suas vidas na “guerra santa”, serão fartamente recompensados no além.

V –  A RESPOSTA DE JÓ AOS DISCURSOS DE ELIFAZ

Jó estava quieto e poderia, no silêncio, escutar a voz de Deus, mas, ante tamanha tribulação, que, dizem alguns estudiosos, não se circunscrevia ao padecimento físico, mas também chegava a uma verdadeira tortura psicológica, acabou por queixar-se em alto e bom som, abrindo a oportunidade para que seus amigos lhe acusassem de ter pecado e o incitassem a confessar pecados inexistentes.

Entretanto, o patriarca não deixou de ouvir os discursos de seus amigos, ainda que fossem duros, por mais de uma vez, demonstrando, assim, ser uma pessoa sábia (Ec.5:1).

Não é à toa que temos dois ouvidos e apenas uma boca. Jó, pacientemente, ouviu cada intervenção de seus amigos, mas, ante as acusações infundadas, respondeu a elas, tendo por base a profunda comunhão que tinha com Deus.

Assim deve ser o crente: estar sempre pronto para responder com mansidão e temor a razão da esperança que nele há (I Pe.3:15). Todavia, como bem explicita o texto a que ora nos referimos, isto só será possível se estivermos em santidade.

Após o primeiro discurso de Elifaz, Jó apresenta uma resposta que está fundamentada na prática, na vivência espiritual do patriarca (Jó 6:1-6). À teoria e ao dogmatismo do teólogo, Jó vai contrapor a sua experiência autêntica com o Senhor, o seu dia-a-dia.

Jó começa lembrando a sua situação de extremo sofrimento, fato que era incontestável, pois o próprio Elifaz havia ficado sete dias sem abrir sua boca e a chorar, ante o estado lamentável que presenciara. Devemos, sempre, ao anunciarmos o Evangelho, cercarmo-nos de fatos que podem ser facilmente presenciados e vivenciados pelos nossos ouvintes.

Jesus assim nos mostra ao sempre trazer, em Suas parábolas e sermões, ilustrações e situações que fossem perceptivelmente apreendidas pela multidão que o ouvia.

OBS: “Elifaz apresentou um belo discurso espiritual, mas teórico. Diante disso, Jó recoloca a própria situação, mostrando que tem sérios motivos para reclamar.” (BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, com. Jó 6:1-7, p.643).

Jó não estava interessado em ouvir discursos ou ingressar em contendas teológicas, mas, sim, em ter um alívio da parte de Deus, em sentir que não estava abandonado pelo Senhor.

A vida do patriarca não era medida pelo grau de conhecimento ou de entendimento que tivesse de Deus ou de Seus desígnios, mas do desfrute cotidiano da comunhão que tinha com o Senhor.

Jó, apesar de todo o sofrimento, considerava estas discussões e debates como algo desprezível e totalmente dispensável para sua alma: era “comida fastienta” (Jó 6:7).

É uma grande armadilha para aqueles que se dedicam ao estudo da Palavra de Deus o gosto pelas discussões e debates intermináveis e sem qualquer resultado prático. Paulo já aconselhava Timóteo a fugir desta cilada (I Tm.1:4-7).

É natural que, ao estudarmos a Palavra do Senhor, tenhamos sede e vontade de nela nos aprofundarmos e de questionarmos cada ponto que se nos apresenta, mas devemos ter em mente que tudo deve resultar em proveito para a Igreja, pois o ensino tem como objetivo o aperfeiçoamento dos santos.

Tudo o que fugir deste fim deve ser deixado de lado, por ser “comida fastienta”2, algo que não irá nos saciar.

Jó não impediu seus amigos de falar, mas buscou em Deus a solução para o seu problema. Antes de se martirizar ante um discurso duro como o de Elifaz, dirigiu-se ao Senhor e declarou sua inocência, voltando a pedir a morte, diante de sua desesperança e da incompreensão porque tudo aquilo lhe sobreviera (Jó 6:8-13). O patriarca sentiu o abandono pelos próprios amigos (Jó 6:14-30).

OBS: ” …Jó deixou de lado seus amigos, que não compreendiam o que ocorria e passou a orar ao seu Senhor.

O principal assunto de Jó em todos os seus discursos era Deus. Até mesmo quando ele falava de Deus na terceira pessoa, estava sempre consciente de Sua presença. O coração de Jó nunca se apartou do Deus a quem ele amava.”(BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. a Jó 7.1, p.778).

Contrariando a teologia de Elifaz, Jó afirma que é próprio da vida humana ter dificuldades e problemas na vida sobre a terra e que, nem por isso, deve-se dizer que o pecado é a fonte de todos estes problemas ou dificuldades (Jó 7:1).

Afirma o patriarca que seu sofrimento é atroz e que não vê mais esperança na vida (Jó 7:2-13), mas, ao invés de consolá-lo com palavras amorosas, Elifaz prefere apresentar visões noturnas, mensagens espirituais que trazem desânimo e acusações sem fundamento.

Afirma, por fim, que, se tivesse havido pecado, seria ele apresentado pelo próprio Deus, o “Guarda dos homens” e não por algum “espírito” e indaga a Deus o porquê de seu sofrimento (Jó 7:14-21).

Vemos, portanto, aqui, uma maturidade espiritual exemplar. O crente não deve ser alguém que se deixe levar facilmente por argumentos teológicos ou acusações superficiais e logicamente perfeitas, mas deve ser alguém que tenha uma profunda comunhão com o Senhor, a ponto de argui-l’O sempre que for acusado ou desafiado por que quer que seja.

Quem tem comunhão com Deus, mormente em nossa dispensação, pode ingressar, com ousadia na presença do Senhor, por intermédio de Cristo Jesus (Hb.10:19-23), pois a Igreja conhece a voz do Seu Pastor (Jo.10:14).

Lamentavelmente, hoje em dia, em meio a dificuldades e crises, muitos crentes, ao invés de irem buscar o seu Senhor, correm atrás de “profetas”, “reveladores”, “irmãos abençoados” , “vasos escolhidos” e tantas outras coisas, esquecidos de que têm aberto um caminho para conversar diretamente com o seu Deus.

Na resposta ao segundo discurso de Elifaz, Jó continua sua oposição à teologia simplista e acusadora de seu amigo.

Diz que vazios não são seus argumentos, mas os argumentos de Elifaz (Jó 16:1-3), apontando um fator que é muito relevante no discurso teológico: a falta de amor e de compaixão (Jó 16:4).

Jó era um homem amoroso, compassivo e misericordioso, enquanto que seu amigo Elifaz, embora não cessasse de relembrar a misericórdia e bondade de Deus, assim como seu discurso, apresentava uma misericórdia e uma bondade teóricos, que não se efetivavam na prática.

A NVI traz bem a intensidade do sentimento de Jó. Vejamo-la: “Recuso-me a tocar nisso; esse tipo de comida causa-me repugnância”(Jó 6:7).

Embora Deus fosse bom e misericordioso, Elifaz não o era. Embora se arvorasse como mensageiro da realidade do homem em relação a Deus, o teólogo apenas acusava e exigia o arrependimento do “pecador” Jó, mas não demonstrava, em momento algum, com suas palavras ou gestos, este amor e misericórdia demonstrados.

Como diria, milênios depois, o apóstolo João, ” se alguém diz: eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (I Jo.4:20).

Muitos “elifazes”, na atualidade, têm contribuído para o descrédito do Evangelho, pois, são hábeis pregadores e apontadores dos pecados dos semelhantes e da necessidade que têm de se arrependerem, mas, tal como o amigo mais idoso de Jó, são insensíveis às necessidades e sofrimentos por que estão passando os ouvintes de seus discursos.

Se Jó, com toda a sua maturidade espiritual, sentia o descaso de Elifaz para com a sua dor, o que o pecador não sentirá ante tais “evangelizadores”? Jesus jamais agiu desta maneira, mas sempre buscava suprir as necessidades e sofrimentos daqueles que O ouviam.

Por isso, com razão, Jó chamou seus amigos, em especial Elifaz, de pessoa sem sabedoria (Jó 17:10), porque não se preocuparam em dar esperança ao patriarca, desprezando, assim, a sua própria alma, e quem não busca ganhar almas, sábio não é (Pv.11:30).

A teologia de Elifaz era insensível e a insensibilidade é uma demonstração de morte, é uma prova de que suas palavras eram, realmente, vazias, despidas de qualquer sentido para alguém que era vivo espiritualmente como Jó.

Jó afirmou que, caso fosse ele o consolador, seria compassivo e procuraria mitigar a dor de quem sofrendo estava e não aumentar-lhe a tortura psicológica, como fazia o discurso de Elifaz ( Jó 16:5,6).

OBS: “No desespero, Jó lembra aos amigos que o dever fundamental da amizade é solidarizar-se com quem sofre.

Os amigos, porém, o desiludem, como rio temporário que seca, frustrando a sede da caravana.”(BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, com. Jó 6:14-21, p.644).

Em seguida, o patriarca, uma vez mais, dirige-se a Deus, buscando n’Ele a consolação e a explicação para seus sofrimentos, voltando a declarar a sua inocência (Jó 16:7-18).

Em meio a tanto lamento e dor, porém, Jó não deixa de reconhecer que Deus pode livrá-lo e é testemunha de sua inocência, suplicando por alguém que pudesse interceder por ele diante do Senhor (Jó 16:19-17:3).

O patriarca, assim, tem o discernimento de que há a necessidade de que alguém possa interceder pelos homens diante de Deus. Era uma demonstração de que a “pontinha de autossuficiência” já estava dissipada, trazendo aperfeiçoamento espiritual ao patriarca.

Jó não deixou de demonstrar sua confiança na vitória final do justo, mesmo ante todos os sofrimentos por que estava passando, o que comprova que a teologia de Elifaz estava totalmente equivocada, mesmo se formos tentar compreendê-la pelo aspecto da eternidade, onde parece ser ela razoável (Jó 17:8,9).

A vitória do justo e seu triunfo final não decorre, em absoluto, de seus méritos, mas da graça do Senhor. Jó estava desanimado com a sua vida (Jó 17:6,7,11-16), mas não deixou de confiar na excelência e soberania de Deus.

Na resposta ao terceiro e último discurso de Elifaz, Jó, ante as calúnias apresentadas, demonstra maior ansiedade ainda para se apresentar diante de Deus e de Seu tribunal para provar a sua inocência (Jó 23:1-5).

Ao invés de querer provar sua inocência ao caluniador, de mostrar, ponto por ponto, a falsidade das alegações de Elifaz, o patriarca deseja ardentemente encontrar-se com o Senhor, busca a justiça divina, pois sabe que o Senhor cuida dele (Jó 23:6).

O que causava desesperança e dor em Jó não eram as palavras malévolas do teólogo Elifaz, mas o sentimento de abandono por parte de Deus ( Jó 23:8,9).

Quão diferentes temos sido de Jó! Quando somos caluniados, caluniamos ou procuramos mostrar, ante os homens, as nossas razões e a nossa verdade.

Não raro procuramos humilhar e envergonhar o caluniador. Jó assim não procedeu mas quis se apresentar como réu ante o tribunal divino, pois tinha convicção de sua inocência.

Do mesmo modo, Jesus, quando injuriado, dizem as Escrituras, não injuriava, mas se entregava aos cuidados de Deus (I Pe.2:23,24). Muitos têm preferido resolver as afrontas, as injúrias e as calúnias ante os tribunais humanos, buscando a “reparação do dano moral”.

Que Deus nos guarde de ter um comportamento assim, mas que sejamos irrepreensíveis a ponto de, quando injuriados e caluniados, termos a santidade e a dignidade de podermos nos entregar ao Justo e Supremo Juiz, que sabe o nosso caminho (Jó 23:10), para que possamos ser aprovados e saiamos refinados como o ouro (Jó 23:11).

OBS: ” A resposta de Jó, no capítulo 23, longe de nos apresentar um culpado que foge à justiça, mostra-nos um homem intensamente honesto, buscando a justiça e a verdade.

Nas suas expressões, encontramos uma palavra de consolação para todos os que estão passando por algum mal-entendido ou sofrimento, que se não pode relacionar diretamente a faltas cometidas no passado, ou qualquer culpa presente.

Nos versículos 3 a 7, Jó expressa o apaixonado desejo de encontrar-se com o Deus da graça. Esse Deus, justo e compreensivo para consigo, faria justiça à sua causa: não o paralisaria pelo terror, exercendo Seu terrível poder.” (BÍBLIA VIDA NOVA, com. Jó 23:1-17 e 3-7, p.548).

Jó reconheceu, também, a soberania de Deus e o Seu direito de atribular mesmo o justo (Jó 23:11-17) e, mesmo, o de permitir que o ímpio tenha aparente êxito nesta vida (Jó 24). Apresenta fatos que não podem ser desmentidos pela teologia téorica de Elifaz.

Deus atua de várias maneiras e não podemos querer enquadrá-l’O em nossos conceitos e experiência. Deus está muito acima de nossa compreensão e o que d’Ele sabemos é fruto de Sua revelação a nós.

Por isso, tenhamos muito cuidado em julgar o semelhante e nos limitemos a anunciar o plano que Ele nos revelou para a Sua humanidade, pois temos de n’Ele confiar e não em nossos conceitos e pensamentos, por mais lógicos que pareçam ser, como os de Elifaz.

OBS: “…Deus sabe achar o homem e revelar-Se a ele: não é o homem que descobre a Deus; Deus entende ao homem, mas o homem não pode entendê-l’O além daquilo revelado pelo Senhor.” (BÍBLIA VIDA NOVA, com. a Jó 23:10, p.548).

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5920-licao-6-a-teologia-de-elifaz-so-os-pecadores-sofrem-i

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