LIÇÃO Nº 6 – JONAS, A MISERICÓRDIA DIVINA
6 de novembro de 2012
O livro de Jonas mostra-nos que Deus é misericordioso, não tem prazer na morte do ímpio.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos profetas menores, estudaremos hoje o livro de Jonas.
– O livro de Jonas é um retrato da misericórdia divina, primeiro em relação ao profeta, depois, aos ninivitas, mostrando que Deus não tem prazer na morte do ímpio.
I – O LIVRO DE JONAS
– Prosseguindo o estudo dos livros dos profetas menores e sua atualidade, hoje estudaremos o quinto livro na ordem constante do cânon do Antigo Testamento, o livro de Jonas.
– Em hebraico, Jonas é “Yonah” (יןנה), que significa “pombo”. Jonas era filho do profeta Amitai e era da cidade de Gate-Hefer (II Rs.14:25), cidade mencionada em Js.19:13 e que pertencia a tribo de Zebulom, localidade próxima à cidade de Nazaré, cerca de 8 km ao norte. Portanto, tratava-se de um profeta do reino do Norte, o reino de Israel.
– Jonas, como se pode observar, era filho de profeta e um profeta que, primeiramente, profetizou no reino do norte (Israel), tendo, inclusive, predito o restabelecimento dos termos de Israel desde a entrada de Hamate (Síria) até o mar da planície, o que sucedeu no reinado de Jeroboão II, ou seja, seu ministério ficou marcado como um mensageiro que trazia boas novas a seu povo, o que teve grande influência em sua resistência para ir até Nínive, como veremos infra.
– Existe uma tradição que entende que Jonas teria sido o filho da viúva de Sarepta de Sidom que teria sido ressuscitado por Elias (I Rs.17:17-24). A viúva teria se casado com o profeta Amitai, que teria adotado Jonas e que teria sido, posteriormente, um grande profeta.
– Jonas, como já vimos, profetizou pouco antes ou no reinado de Jeroboão II, o que faz dele um dos mais antigos profetas literários, muito provavelmente anterior a Oseias ou, no máximo, contemporâneo aos primeiros dias do ministério daquele profeta. Esta sua antiguidade é um dos argumentos dos críticos que descreem que Jonas tenha existido, entendendo que seu livro é apenas uma lenda, um mito, algo inadmissível já que o Senhor Jesus a este profeta se referiu explicitamente (Mt.12:39,40; 16:4; Lc.11:29,30,32).
– Edward Reese e Frank Klassen, co-organizadores da Bíblia em ordem cronológica, situam o livro do profeta Jonas por volta dos anos 767 ou 798-784 a.C. Ambos entendem que o livro de Jonas está situado entre a primeira parte do livro de Oseias e o livro de Amós, já no reinado de Jeroboão II.
– O livro de Jonas é um livro diferenciado entre os profetas menores, pois, em vez de conter predições, como acontece com os outros profetas, é um livro biográfico, em que Jonas relata o que aconteceu tanto com ele quanto com a cidade de Nínive, capital da Assíria, a potência mundial da época, tendo o Senhor, em ambos os casos, deixado de exercer o juízo em virtude do arrependimento e conversão dos que deveriam ser castigados.
– O livro de Jonas mostra, assim, com grande clareza, que é completamente falsa a imagem que ainda hoje se defende de que Deus, no Antigo Testamento, é um ser cruel, sanguinário e sem misericórdia. Pelo contrário, no livro de Jonas vemos como Deus sempre foi misericordioso, não só em relação a Israel, mas também em relação aos gentios, como foi o caso dos ninivitas.
– De pronto, já temos uma demonstração da atualidade deste livro, na medida em que temos a revelação de um caráter divino e que, como tal, é atemporal, qual seja a Sua misericórdia, ou seja, a disposição que Deus tem de não nos dar aquilo que merecemos em virtude de nossa natureza pecaminosa decaída, desde que haja arrependimento e conversão.
– A mensagem do livro diz respeito a um importante episódio do ministério profético de Jonas, qual seja, o de ter de pregar uma mensagem de destruição a Nínive, a capital da Assíria, o grande império daqueles dias e que representava uma grande ameaça ao povo de Israel.
– Tratava-se, portanto, de uma mensagem ao principal inimigo, o que representava grandíssimos riscos para um profeta israelita. Jonas tentou escapar à ordem divina, mas, após muito sofrer, acabou cumprindo a determinação divina. Surpreendentemente, os ninivitas se arrependeram e Deus não os destruiu. O livro de Jonas é a mais eloquente demonstração no Antigo Testamento de que Deus é um Deus que ama todas as nações. Jonas, por isso, é conhecido como o “profeta missionário”, o que, aliás, faz jus a seu nome de “pombo”, ave que se constituía em importante meio de comunicação naquele tempo (os “pombos-correios”).
– O livro de Jonas, que tem 4 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte – chamada e desobediência de Jonas – Jn.1;
b) 2ª parte – arrependimento de Jonas – Jn.2;
c) 3ª parte – pregação de Jonas e seus efeitos – Jn.3-4.
– Em Jonas, vemos a revelação do amor de Deus para com todos os homens, mesmo os ninivitas, maiores inimigos do povo de Israel. Temos uma figura do maior missionário de todos os tempos, aquele que veio salvar a humanidade por inteiro, Jesus Cristo.
OBS: ” O Livro de Jonas ante o Novo Testamento – Jesus assemelhou-se a Jonas: ‘Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe fará outro sinal, senão o do profeta Jonas, pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites. Os ninivitas ressurgirão no juízo com desta geração e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas.” (Mt.12.39-41).” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1314).
” Cristo Revelado – As palavras de Deus a Jonas em 4.10-11 fazem paralelismo entre as palavras de Jesus em Jo.3.16. Deus Se preocupa com todas as nações da Terra. É verdade que Cristo tem um relacionamento especial com os membros do Seu Corpo, a Igreja, o amor de Cristo pelo mundo foi dramaticamente demonstrado quando Ele morreu na cruz pelos pecados de toda a humanidade. João Batista reconheceu a universalidade desse amor, quando exclamou: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo’ (Jo.1.29). O amor de Deus por todos os seres humanos, como ensinado a Jonas, foi demonstrado principalmente por Jesus Cristo, que declarou que um Dia está por vir, quando ‘ajuntarão os Seus escolhidos, desde os quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus; (Mt.24.31). (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.336).
– Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Jonas tem 4 capítulos, 48 versículos, 8 ordenanças, 12 perguntas, nenhuma promessa, um versículo de profecia cumprida e 6 mensagens distintas de Deus (1:2; 2:10; 3:2; 4:4,9,10).
– Segundo alguns estudiosos da Bíblia, o livro de Jonas, o 32º livro da Bíblia, está relacionado com a décima letra do alfabeto hebraico “yod” (י), cujo nome tem significado de “mão”, palavra que simboliza o poder, a permissão, a habilidade e a autoridade, sendo um livro que nos mostra a necessidade que temos de estar debaixo da mão do Senhor, ou seja, de temermos a Deus.
III – CHAMADA E DESOBEDIÊNCIA DE JONAS
– O livro de Jonas começa com uma ordem de Deus para que o profeta, identificado como “o filho de Amitai”, fosse até a grande cidade de Nínive e clamasse contra ela, porque a sua malícia havia subido até o Senhor (Jn.1:1,2).
– Notamos, portanto, que Jonas, ao tempo desta ordem do Senhor, já era um profeta estabelecido em Israel, certamente já proferira as mensagens a respeito do restabelecimento dos termos do reino do norte, e era chamado pelo Senhor para ir pregar aos ninivitas, ou seja, ir pregar na capital da Assíria, potência mundial da época e que ameaçava Israel, para lá pregar uma mensagem de juízo, dizendo que Deus não estava a Se agradar do comportamento mau daquele povo.
– Os assírios ficaram conhecidos na história por sua grande crueldade. Ao contrário dos outros povos, os assírios não se contentavam apenas em conquistar as outras nações. Sua conduta era de dizimar os inimigos, matando o maior número possível deles e, depois, os espalhando em outras terras, a fim de que as nações conquistadas desaparecessem por completo.
– Uma das mais conhecidas técnicas cruéis empregadas pelos assírios em suas conquistas era o empalamento ou empalação, que consistia num “…método de tortura e execução utilizada antigamente que consistia na inserção de uma estaca no ânus, vagina, ou umbigo até a morte do torturado. Algumas vezes deixava-se um carvão em brasa na ponta da estaca para que, quando esta atingisse a boca do supliciado, este não morresse até algumas horas depois, de hemorragia. Usava-se também cravar a estaca no abdômen.…”(Empalamento. In: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Empalamento Acesso em 03 set. 2012).
– Compreende-se, portanto, a reação do profeta diante da ordem divina. Conhecido como um profeta que havia sido usado por Deus para falar do restabelecimento dos termos de Israel e sabedor de que os principais e cruéis inimigos do seu povo estavam a ponto de serem destruídos por Deus, Jonas, dentro de seu nacionalismo, não quis saber de levar uma mensagem para aquela nação, até porque “havia o risco de os assírios se arrependerem” e, como Jonas sabia que Deus era misericordioso, pois, por isso mesmo, apesar da vida pecaminosa de Israel, estava a restabelecer-lhes os termos (II Rs.14:26,27), Israel teria de conviver com estes inimigos, mantendo a nação em perigo.
– Não bastasse isso, Jonas estava sendo chamado para profetizar aos gentios, a um povo que não gozava das promessas de Deus, um povo idólatra e que, portanto, não era “o povo de Deus”. Como poderia Jonas pregar a um povo gentio sendo ele israelita? Como os assírios poderiam dar crédito a um profeta estrangeiro, sendo, aliás, extremamente cruéis como eram para os estranhos, notadamente Israel, que era a próxima nação no mapa a ser conquistada?
– Embora compreensível, o pensamento de Jonas era inadmissível. Deus é o Senhor de todas as coisas, faz como quer e cabe a nós, Seus servos, obedecer-Lhe tão somente. Não cabia a Jonas decidir se a Assíria deveria, ou não, ser poupada do juízo divino, nem Deus estava a precisar do profeta para executar Seu juízo. Como profeta, ou seja, porta-voz de Deus, cabia a Jonas tão somente ir a Nínive e proferir a mensagem divina.
– Ademais, Jonas havia se esquecido de que o Senhor, no instante mesmo em que propôs o pacto com Israel no monte Sinai, dissera que toda a terra é d’Ele (Ex.19:5) e que fazia parte da missão de Israel ser “um reino sacerdotal e um povo santo” (Ex.19:6), de modo que o fato de ter chamado Jonas para pregar em Nínive era uma demonstração deste papel sacerdotal.
– O profeta, diante desta ordem, procurou “fugir de diante da face do Senhor”. Desceu até Jope, conhecido porto israelita e achou um navio que ia para Társis, o mais longínquo lugar conhecido da época, o extremo ocidental do mundo até então conhecido No navio, como que querendo mesmo se esconder da presença divina, Jonas foi para o porão, como se isto fosse suficiente para se esconder da presença do Senhor (Jn.1:3).
– Jonas deliberadamente se rebelava contra o Senhor, numa atitude que era, num certo sentido, mais grave que a dos próprios assírios a quem ele não queria pregar. Deus dizia que os ninivitas se comportavam muito mal, que eram muito maus e a malícia subira até o Senhor, mas os assírios não conheciam a Deus como o profeta, nem tampouco sabiam a Sua vontade.
– Jonas, ao revés, era um profeta, alguém que tinha intimidade com Deus, que conhecia a Sua voz, que sabia quem era o Senhor e que recebia o Espírito de Deus, já que se tratava de um profeta. Por isso, assim que embarcou naquele navio, Jonas já sentiu a mão do Senhor, visto que Deus mandou ao mar um grande vento e fez-se no mar uma grande tempestade e o navio estava para quebrar-se (Jn.1:4).
– A malícia dos assírios, embora tivesse subido até o Senhor, não promovera qualquer reação divina a não ser a ordem ao profeta para que anunciasse o juízo divino. Já a desobediência do profeta trouxe, de imediato, já no início da viagem, uma grande tempestade que pôs em risco todos os tripulantes e passageiros do navio.
– Este fato já nos mostra que a desobediência de um servo de Deus é mais grave aos olhos do Senhor do que a maldade praticada por quem nunca conheceu a Deus. A reprovação divina aos desobedientes que uma vez já provaram do perdão divino é bem maior do que daqueles que jamais receberam a Deus como Senhor. Por isso mesmo o apóstolo Pedro afirmou que a estes que apostatam da fé “…tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro, porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: o cão voltou ao seu próprio vômito e a porca lavada ao espojadouro da lama” (II Pe.2:20 “in fine”-22).
– Nós, que já recebemos a Cristo Jesus como Senhor e Salvador de nossas vidas, precisamos ficar bem atentos a esta realidade bíblica. O exemplo de Jonas é uma demonstração de que o servo de Deus desobediente está em situação bem pior do que o incrédulo impenitente. Pensando abreviar o tempo de vida de Nínive negandolhe uma pregação de juízo de onde poderia vir o arrependimento e conversão e, por conseguinte, a manifestação da misericórdia divina, Jonas só tinha conseguido trazer prejuízo para si e para os que estavam com ele.
– Quantas pessoas não foram prejudicadas pelo gesto tresloucado do profeta? Sua desobediência pôs em risco não só a vida dos demais tripulantes e passageiros, como também as cargas que eram transportadas naquele navio, o que envolvia, também, as economias de todos os envolvidos nestas transações comerciais, cargas que foram lançadas ao mar diante da grande tempestade. Quando o servo de Deus desobedece ao Senhor traz prejuízos para todos quantos estão à sua volta.
OBS: Como bem disse o pastor Edi Marcos Vinagre de Lima, presidente das Assembleias de Deus – Ministério Vila Bela – São Paulo/SP, em estudo proferido em 21 de setembro de 2010, na Assembleia de Deus do Belenzinho, em São Paulo/SP, Jonas causou incômodo até para o peixe que o engoliu, pois não deve ter sido fácil para aquele animal ficar com Jonas em seu ventre por três dias e três noites…
– A tempestade aumentava e tudo o que era feito era inútil para garantir a segurança do navio. Jonas, no entanto, diante de tamanho alvoroço, desceu aos lugares do porão e se deitou, e dormia um profundo sono. O mestre do navio, ao encontrá-lo nesta situação de absoluta indiferença a tudo o que ocorria, acordou-o e o mandou invocar o seu Deus, a fim de que o Deus do profeta pudesse se lembrar daqueles homens e não permitisse a sua morte.
– Jonas, um profeta, ser chamado à atenção por um gentio para que orasse e buscasse a Deus! Que vergonha, amados irmãos! Mas quantas vezes isto não acontece conosco? Quantas vezes Deus também não usa pessoas incrédulas para nos repreender em nossa negligência com as coisas espirituais?
– Deus usou aquele mestre do navio como um “mensageiro” para retirar Jonas do estado de letargia espiritual.
Jonas estava completamente indiferente à sorte daqueles homens que estavam a ponto de perecer naquele navio, do mesmo modo que estava indiferente à vida dos ninivitas, tanto que havia se recusado a pregar-lhes a mensagem de juízo.
– A indiferença com a sorte do próximo é uma das características de quem está a desobedecer a Deus. Assim como quem está em comunhão com o Senhor sente compaixão pelas almas perdidas, não tem prazer na ideia de que muitos estão a perecer eternamente por não conhecerem ao Senhor Jesus; aquele que não está em comunhão com o Senhor pensa apenas “no próprio umbigo”, não tem a dimensão do próximo, não está nem um pouco incomodado com o fato de que milhares de vidas, todos os dias, estão caminhando para a perdição eterna.
– Façamos uma reflexão: qual é a nossa reação diante da iminência da morte eterna dos que nos cercam? A reação de Jonas, de total indiferença, de sono profundo no porão da consciência, ou a do apóstolo Paulo, que exclamava: “ai de mim se não anunciar o evangelho!” (I Co.9:16 “in fine”)? Quantos Jonas não temos visto, na atualidade, em nossas igrejas locais…
– Jonas, mesmo diante da fala do mestre do navio, manteve-se inerte, sem qualquer reação. Não invocou o nome do Senhor, porque sabia que não seria ouvido, pois Deus não ouve a pecadores (Jo.9:31). Parecia conformado com a situação, sabendo que a tinha causado, mas, ainda assim, sem se importar com as vidas que estava levando à morte juntamente com ele.
– No desespero, os marinheiros resolveram lançar sortes para saber por que causa lhes havia sobrevindo aquele mal. Mais uma vez, vemos a manifestação da misericórdia divina, que já havia se manifestado através da fala do mestre do navio, que havia provocado Jonas a uma reflexão. Agora, as sortes caíram sobre Jonas.
– Alguns, a lerem esta passagem, ficam confusos. Como poderia um procedimento gentílico, vinculado à adivinhação, levar até Jonas? Haveria algum valor neste procedimento? Poderíamos, então, recorrer a tais práticas para tentarmos descobrir as coisas?
– Temos aqui um caso excepcional e que tinha a sua razão de ser. Evidentemente que o lançar sortes não é uma prática recomendada pela Bíblia Sagrada e os servos de Deus não devem valer-se dela. Ocorre que Deus estava usando da Sua misericórdia, não queria que aqueles homens viessem a morrer por causa de Jonas, nem mesmo queria que Jonas morresse e, em virtude disto, permitiu que a prática apontasse Jonas como o causador do mal. Deus sempre está no controle de todas as coisas, amados irmãos!
– Os marinheiros confrontaram então o profeta, indagando-lhe qual era a sua ocupação, qual era a sua terra e de que povo ele era. Jonas, então, foi constrangido a admitir a sua situação. Confessou-se hebreu, servo de Deus e que estava a fugir da face do Senhor, o Senhor que fizera os céus e a terra (Jn.1:8-11).
– A confissão é o primeiro passo para que alcancemos o perdão dos nossos pecados. Vemos, assim, claramente, que o propósito divino em permitir que as sortes caíssem sobre Jonas tinha um objetivo: levar não só Jonas ao arrependimento e conversão, mas até os marinheiros.
– Na sua confissão, Jonas acabou por pregar para os marinheiros. Ele, que não queria ir até Nínive para levar uma mensagem divina a gentios, estava a trazer a mensagem a respeito de quem era Deus para os marinheiros, marinheiros estes que se converteram, na medida que o texto sagrado nos dá conta de que eles temeram a Deus, reconhecendo a Sua soberania e o Seu poder de causar aquela grande tempestade, como também passaram a sacrificar ao Senhor e a Lhe fazer votos (Jn.1:16).
– Jonas é interpelado pelos marinheiros sobre o que deveriam eles fazer para sair daquela situação e o profeta, então, sabendo da misericórdia divina, manda que os marinheiros o lancem ao mar, pois sabia que era o causador de todos aqueles males. Assim, pensava ele estar livrando os marinheiros da morte e, igualmente, se entregando nas mãos do Senhor.
– Assim que Jonas foi lançado ao mar, a fúria cessou, fez-se calmaria e os marinheiros puderam reconhecer que o Deus de Jonas era, realmente, o Deus que fizera os céus e a terra, o único Deus verdadeiro e o resultado foi que todos se converteram ao Senhor.
– Era a misericórdia divina que se manifestava, salvando não só a vida de todos os marinheiros, como a própria vida de Jonas, já que o Senhor preparou um grande peixe para que tragasse o profeta. O Senhor poderia ter deixado Jonas morrer, mas não era esse o Seu desejo, mas, antes de mais nada, manifestar a Sua misericórdia ao profeta para que ele pudesse transmitir a mensagem divina de juízo a Nínive com toda eficácia.
– Muitos discutem a respeito deste “grande peixe” que engoliu Jonas e que em Mateus é chamado de “baleia” (Mt;12:40), o que foi o suficiente para críticos e incrédulos em geral dizerem que tudo não passa de uma lenda, já que uma baleia não teria condições de engolir um ser humano, dado o fato de que sua goela não é suficientemente larga para tanto.
– Por primeiro, é oportuno dizer que se a Bíblia afirma que o fato ocorreu, ele ocorreu independentemente de a ciência poder, ou não, comprová-lo, até porque as Escrituras dizem que “o Senhor preparou” este animal para tal tarefa.
– De qualquer sorte, como bem assevera o professor brasileiro Júlio Minham, em sua obra Maravilhas da ciência, o termo grego traduzido por “baleia”, a saber, “ketos”, era um termo empregado para indicar todo e qualquer animal marinho de grandes proporções, tanto que deu origem ao termo “cetáceo” que indica todos os mamíferos marinhos, de modo que o termo deve ser entendido de forma genérica, não se referindo às baleias propriamente ditas.
– Como se não bastasse, o referido professor, na sua obra já mencionada, dá notícia de casos de grandes peixes (peixes mesmo e não baleias…) que chegaram a engolir seres humanos, um num rio brasileiro e outro num mar inglês, sendo que, neste último caso, a pessoa ficou dois dias e duas noites no ventre do peixe e ainda foi resgatado com vida! Ora, como diz Minham: “…Não parecerá razoável admitir que, se um homem, no curso ordinário da natureza, pode viver dois dias e duas noites dentro de um monstro marinho, um profeta de Deus, sob Sua proteção e cuidado diretos, poderia suportar a experiência por mais um dia e uma noite? “ (Maravilhas da ciência. 5.ed. s.l.: Livraria Atheneu, 1957, p.213).
II – O ARREPENDIMENTO DE JONAS
– Jonas percebera que Deus é misericordioso, que não tem prazer na morte do ímpio, tanto que fizera com que o mestre do navio, desconhecedor de quem era Deus, lhe houvesse pedido que invocasse a Deus e, mesmo diante de sua inércia, fizesse com que as sortes caíssem sobre o profeta e ele tivesse de relatar tudo o que estava a ocorrer em seu relacionamento com Deus.
– Deus não mede esforços para obter a salvação dos homens, a ponto de Ele mesmo, na pessoa do Filho, ter Se feito carne para propiciar ao homem um meio para retornar a ter comunhão com Ele (Jo.1:14,17). Esta prova do amor de Deus (Rm.5:8) é mais do que suficiente para que saibamos que Deus é misericordioso e não quer, por isso mesmo, que nós recebamos o que merecemos por causa dos nossos pecados, que é a morte (Rm.6:23).
– O apóstolo Paulo, em suas epístolas ditas “pastorais”, ou seja, dirigidas a seus cooperadores na obra de Deus, em que orientava aqueles como deveriam agir na condução da igreja do Senhor Jesus, acrescenta, em sua costumeira saudação, em que desejava sempre aos seus leitores a graça e a paz procedentes de Cristo, também a misericórdia (I Tm.1:2; II Tm.1:2 e Tt.1:4), como a fazer lembrar àqueles obreiros a necessidade que temos de nos lembrar, sempre, que, se estamos na senda verdadeira, é única e simplesmente porque não estamos a receber o que merecemos do Senhor.
– Quando falamos em graça e misericórdia de Deus, é importante frisarmos que ambas provêm de Deus, mas, num certo sentido, são opostas. Se a graça é o favor imerecido de Deus ao homem, ou seja, é recebermos aquilo que não merecemos, a misericórdia é o inverso, ou seja, é não recebermos de Deus o que merecemos.
– Jonas precisava saber que Deus é misericordioso e, por isso, não recebemos aquilo que merecemos. Em seu nacionalismo inconsequente, o profeta achava que Deus seria misericordioso com Israel, dando a ele o restabelecimento dos seus termos, mesmo que ele não merecesse, mas não faria o mesmo com os assírios, já que se tratava de um povo que não adorava o Senhor e que, por isso mesmo, mereceria perecer. Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17) e Sua misericórdia, que era ilimitada (Ex.33:19) e não somente aos israelitas, que guardavam e amavam Seus mandamentos (Ex.20:6; Dt.7:9).
– O livro de Jonas revela-nos este lado misericordioso de Deus para além dos limites de Israel e de Judá, a nos mostrar que, mesmo no Antigo Testamento, Deus não Se circunscrevia ao povo que era Sua propriedade peculiar, mas que o fato de não se ter alcançado plenamente a ação misericordiosa a todos os povos naquele tempo não derivava de uma diferenciação de Deus em relação ao homem na lei e na graça, mas, sim, fundamentalmente, de uma falha da nação israelita que, além de não cumprir a lei, não assumiu a sua posição de reino sacerdotal e povo santo.
– Anos depois de Jonas, o profeta Jeremias revelaria mais uma vez esta faceta da misericórdia divina, ao assinalar, diante de uma Jerusalém destruída, que a causa de não sermos consumidos é a misericórdia de Deus, uma misericórdia que não tem fim (Lm.3:22).
– Muitos de nós, ainda hoje, em plena dispensação da graça, não têm a exata noção do significado da misericórdia de Deus. Agem exatamente como o profeta Jonas: entendem que alguns merecem a salvação, mas outros, não. Entendem que alguns são capazes de ser perdoados pelo Senhor, mas outros, não. Fazem uma seleção de quem pode e merece ser perdoado e de quem não está nas mesmas condições, esquecendo-se de que Deus é misericordioso e Suas misericórdias não têm fim! Cuidado, amados irmãos, pois não somos Deus e não podemos nos constituir juízes do próximo, pois somente o Senhor o é (Tg.4:11,12).
– Jonas, tendo percebido a misericórdia divina, no exato instante em que é engolido pelo grande peixe e mantido vivo, arrependeu-se de seu pecado, que já fora confessado diante dos marinheiros, fazendo uma oração ao Senhor, a única oração de um pecador que é ouvida por Deus, qual seja, a oração em que se reconhece o pecado e se pede perdão pela sua prática.
– Jonas viu que o Senhor não só não queria a morte dos marinheiros, mas também não queria a sua própria morte. Engolido pelo grande peixe, o profeta notou que se lhe abria uma oportunidade e, de pronto, aproveitou da circunstância para pedir perdão.
– Que bom seria, amados irmãos, se todos nós fizéssemos como fez o profeta, pedindo perdão imediatamente após a prática dos pecados cometidos, aproveitando, assim, a manifestação da misericórdia divina, que não nos fulmina, que não nos consome assim que pecamos. “Hoje é o dia aceitável” para pedirmos perdão.
– Quantos não estão arriscando perigosamente as suas vidas e a sua eternidade postergando a confissão e o pedido de perdão por causa de seus pecados. Enquanto Deus lhes dá esta oportunidade, pela Sua misericórdia, ficam tais pessoas a pensar na sua reputação, nas consequências de uma confissão perante parentes, amigos, irmãos em Cristo, esquecidos de que pecado é uma questão de vida ou morte eternas e é um assunto entre o homem e Deus. Façamos sempre como Jonas, pedindo perdão enquanto é tempo, antes que seja tarde demais.
Atendamos ao que nos aconselha o apóstolo João: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nosos, mas também pelos de todo o mundo” (I Jo.2:1,2).
– Jonas clamou ao Senhor na sua angústia e “do ventre do inferno” gritou, tendo tido a convicção de que o Senhor lhe respondeu e ouviu a sua voz. Assim como Deus atendeu a Jonas do ventre de um peixe, debaixo das águas do mar Mediterrâneo, também ouvirá a tantos quantos clamarem a Ele arrependidos de seus pecados. Aleluia!
– Jonas reconhecia a situação caótica em que se encontrava, dentro do ventre de um grande peixe, com algas enroladas na sua cabeça, mas o Senhor, que é misericordioso, livrou a sua vida da perdição, tendo sentido que a sua oração havia entrado no templo da santidade de Deus. Jonas reconhecia, inclusive, que mais importante do que seguir um cerimonial ritual no templo de Jerusalém era o de ter a sua oração atendida no templo efetivo de Deus, que não era construído por mãos humanas (Jn.2:1-7).
– Em nossos dias, devemos ter também esta convicção, e com muito maior razão, pois, como disse o escritor aos hebreus, o sangue de Cristo nos deu entrada perante o trono da graça (Hb.4:16; 10:19,20) e, ousadamente, podemos entrar no santuário, onde alcançamos a misericórdia e achamos a graça divinas.
– Ao vermos que Jonas, naquela situação espiritual extremamente delicada, de dentro do ventre de um grande peixe, conseguiu que Deus o ouvisse em sua oração sincera, por que devemos duvidar de que Deus nos ouve em nossos clamores, diante de nossas dificuldades? Basta confessarmos os nossos pecados e pedirmos perdão pela sua prática, de modo sincero e autêntico, que o mesmo Deus que ouviu a Jonas, também ouvirá a cada um de nós. Como diz o apóstolo João: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (I Jo.1:9). Aleluia! Tenhamos fé na misericórdia deste Deus que não muda!
– Jonas era levado a experimentar o verdadeiro caráter de Deus. Ele, que se recusara a ir até Nínive para pregar a gentios idólatras que ameaçavam a sua nação, agora era forçado a reconhecer que “os que observam vaidades vãs deixam a Sua própria misericórdia” ou, na versão da Bíblia de Jerusalém, “aqueles que veneram vaidades mentirosas abandonam o Seu amor” (Jn.2:8).
– O profeta reconhecia que seu nacionalismo era uma “vaidade vã” ou “vaidade mentirosa”, que agir diante de uma mentalidade humana, contrária à vontade de Deus, é simplesmente abandonar a misericórdia divina, é abandonar o amor de Deus.
– Muitos, em nossos dias, por causa de preceitos de homens, de mandamentos humanos, estão a agir como os fariseus, impondo encargos demasiadamente pesados sobre os homens, querendo dificultar a salvação, como se isso fosse possível. São pessoas que não têm o amor de Deus, que já o abandonaram se um dia o tiveram, porquanto agir desta maneira é desconhecer quanto Deus nos ama e quanto Deus deseja que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).
– Jonas reconheceu aquilo que Moisés havia percebido num dos momentos mais íntimos que teve com o Senhor, ou seja, que Deus tem misericórdia de quem quiser ter misericórdia e compaixão de quem quiser ter compaixão (Ex.33:19), de que a salvação provém do Senhor e não do homem e que, portanto, não nos incumbe senão agir segundo a determinação do Senhor (Jn.2:9).
– Jonas também mostrou toda a sua confiança em Deus ao agradecer, ainda no ventre do grande peixe, pelo livramento que estava a suplicar, inclusive fazendo votos para oferecer sacrifícios em gratidão pela nova chance que teria.
– Deus não decepcionou o profeta. Três dias e três noites depois de ter sido engolido pelo grande peixe, o Senhor mandou que o animal vomitasse Jonas na terra. Jonas não recebeu o que merecera, fora mantido vivo apesar de sua desobediência.
IV – PREGAÇÃO DE JONAS E SEUS
– É importante observarmos que Jonas não foi jogado em Nínive, como alguns, açodadamente, entendem. O texto bíblico diz que ele foi vomitado na terra e o Senhor mandou que se levantasse e fosse até Nínive, repetindo, assim, a ordem que lhe dera na primeira vez (Jn.3:1,2).
– As palavras ditas pelo Senhor são claras a nos mostrar que Jonas não foi lançado em Nínive, até porque Nínive não era uma cidade banhada por mar, ficando às margens do rio Tigre. Jonas, certamente, foi lançado em terra na própria costa de Israel, muito provavelmente na própria Jope onde havia embarcado, tendo, então, recebido a ordem para ir para a Assíria.
– O Senhor dá, novamente, a ordem ao profeta que, para provar o seu arrependimento, deveria mudar a sua atitude anterior, atendendo agora à ordem divina. Vemos que a misericórdia do Senhor somente é alcançada pelo homem quando há arrependimento, arrependimento este que é “mudança de atitude”, “mudança de ação”.
Não há que se falar em arrependimento se não há modificação nas atitudes e na conduta da pessoa que se diz arrependida, estando aí a necessária distinção entre arrependimento e remorso.
– Deus fez com que Jonas voltasse ao mesmo lugar onde havia desobedecido à Sua ordem e repetiu a mesma mensagem dada anteriormente. O profeta demonstraria arrependimento se agisse de maneira diversa que fizera da primeira vez, ou seja, em vez de fugir de diante da face do Senhor, fosse para Nínive e lá pregasse a mensagem de juízo divino.
– Jonas não decepcionou o Senhor e demonstrou que se tratava de uma pessoa realmente arrependida, tanto que partiu para Nínive, não se preocupando com a índole cruel dos assírios, com o fato de ser um estrangeiro que iria pregar a mensagem de um Deus em que os ninivitas não criam.
– Jonas entrou na grande cidade de Nínive, de três dias de caminho, pregando a mensagem que lhe fora dada por Deus: “Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida” (Jn.3:4).
– Jonas não se intimidou com qualquer dos razoáveis fatores que levara em conta da primeira vez que ouvira a mensagem divina e começou a caminhar por toda a Nínive, trazendo uma dura mensagem, uma mensagem de juízo para aquele povo.
– Jonas fora alvo da misericórdia divina, mas, nem por isso, deixou de trazer a mensagem que Deus lhe mandara dar: “Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida”. A misericórdia divina não exclui a justiça divina. Deus é misericordioso, mas também é justiça. Como ensinou Agostinho de Hipona (354-430): “a misericórdia também pune”.
– Muitos, nos dias hodiernos, confundem a misericórdia divina com a ausência de castigo por parte de Deus. Esquecem-se de que Deus é também justiça e passam a pregar um “Deus bonzinho, que jamais levará o homem para o inferno”. Não nos deixemos levar por este pensamento, que é de origem diabólica. Deus não tem prazer na morte do ímpio, Deus não deseja que os homens se percam, mas se eles se mantiverem em seus delitos e pecados e não se arrependerem de sua prática, serão, sim, condenados ao juízo eterno.
– Deus ama o pecador, mas aborrece o pecado. Deus ama o ser humano, mas não tolera a prática do pecado. Por isso, Deus faz com que o homem tenha conhecimento do que está sentenciado para todos quantos Lhe desobedecerem, mas depende do homem se afastar do pecado e passar a obedecer ao Senhor. Deus não quer que ninguém se perca, mas muitos irão para a perdição por livre e espontânea vontade.
– Jonas pregou a mensagem que Deus lhe mandara pregar e a consequência foi que “os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de caso, desde o maior até ao menor” (Jn.2:5).
– Os moradores de Nínive, a começar do próprio rei, creram que o Deus de Jonas, o Deus de Israel era o único e verdadeiro Deus e que poderia, então, mandar a destruição para aquela cidade conforme Jonas estava a pregar. Apesar de sua religião, apesar de sua idolatria, apesar de sua crueldade, os ninivitas perceberam que a mensagem de Jonas era verdadeira e que deveriam pedir perdão ao Deus que fez os céus e a terra para que escapassem daquele juízo.
– Assim como os marinheiros, os ninivitas entenderam que Deus é Senhor e que tudo está sob o Seu controle e que, diante do juízo determinado, não haveria outra coisa a fazer senão recorrer à misericórdia deste Deus, a fim de que não recebessem o que mereciam.
– O rei da Assíria foi o primeiro a crer na mensagem. Quando a mensagem de Jonas lhe chegou aos ouvidos (certamente por algum assessor), o rei se levantou do seu trono, tirou de si os vestidos, cobriu-se de saco e assentou-se sobre a cinza, atitudes que, em todo o Oriente, simbolizavam humilhação, arrependimento e pedido de clemência.
– Normalmente entre as nações gentílicas, e entre os assírios não era exceção, os reis eram divinizados ou reconhecidos como emissários dos deuses. Quando o rei da Assíria toma esta atitude, está a reconhecer que era inferior ao Deus que mandara a mensagem por intermédio de Jonas, algo extremamente raro. Não nos esqueçamos de que Jonas era um estrangeiro e oriundo de um país que era o próximo alvo dos assírios em suas conquistas. Tudo isso foi desconsiderado pelo rei que, reconhecendo a sua malícia, começou a clamar pela misericórdia divina.
– Todos nós precisamos da misericórdia de Deus. Tanto Jonas, um profeta de Deus, precisava da misericórdia quando no ventre do grande peixe, quanto o rei da Assíria, um gentio que não servia a Deus, ainda que estivesse no trono da maior potência mundial da época. Será que temos esta noção, ou pelo fato de termos alguma posição social, alguma posição eclesiástica, de sermos filhos de Deus achamos que não mais carecemos da misericórdia divina?
– Nos dias em que vivemos, não são poucos os que cristãos se dizem ser que acham que não precisam mais da misericórdia de Deus, que isto é tema para “desviados” e “incrédulos”. Tais pseudocristãos acham que são “merecedores” das bênçãos de Deus e que Deus é “obrigado” a lhes abençoar. Fujamos deste pensamento antibíblico, amados irmãos. Aqui tanto o pregador (Jonas), quanto os ouvintes, a começar do mais ilustre deles, precisavam da misericórdia de Deus!
– Além do rei, os grandes de seu reino também foram tocados pela mensagem pregada por Jonas, de tal modo que saiu um mandado para que nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provassem coisa alguma, nem lhes fosse dado pasto ou bebessem água, devendo tanto homens quanto animais serem cobertos de saco, devendo clamar fortemente a Deus e se converterem cada um do seu mau caminho e da violência que havia em suas mãos, na esperança de que Deus pudesse voltar atrás e Se arrepender do que havia dito que faria (Jn.3:7-9).
– Alguns estudiosos das Escrituras, como era o caso do saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), que conosco freqüentava o Estudo dos Professores da Escola Bíblica Dominical na Assembleia de Deus –Ministério do Belém – sede (São Paulo/SP), entendia que estes “animais” de que fala Jn.3:7,8 não eram propriamente animais, visto que animais não se convertem nem podem clamar fortemente a Deus.
– Segundo tais pensadores, estes “animais” seriam os homens mais cruéis de Nínive, pessoas que eram “desalmadas”, ou seja, pessoas que não tinham qualquer consideração ao próximo, que se constituíam em verdadeiras “bestas-feras”, que não tinham nem dó nem piedade, expressão bíblica que não seria exclusiva de Jonas, mas que se encontram, por exemplo, em I Co.15:32; Tt.1:2; II Pe.2:12 e Jd.10.
– Tal pensamento faz, mesmo, sentido. Notadamente em nossos dias, dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12), são muitos os homens cruéis que estão a viver entre nós, que cometem atrocidades que nem mesmo os animais propriamente ditos conseguem praticar (II Tm.3:3), como se veem diariamente nas páginas policiais dos noticiários. Entretanto, até mesmo estes “animais” são abrangidos pela misericórdia divina, como prova os efeitos da mensagem de Jonas.
– Os assírios não tinham recebido nenhuma mensagem de esperança da boca do profeta Jonas. Jonas apenas disse que, dentro de quarenta dias, Nínive seria subvertida. Os ninivitas logo “vestiram a carapuça” e entenderam que eram maus e violentos e que Deus os puniria com razão em virtude desta conduta impiedosa.
– Passaram, então, a clamar diante de Deus, a pedir perdão pela sua maldade e violência, em tudo se assemelhando ao que fizera o profeta Jonas quando estava no ventre do grande peixe. E Deus, que não faz acepção de pessoas, do mesmo modo que ouviu o profeta, também ouviu os ninivitas.
– Ao contemplar o arrependimento e conversão de Nínive, Deus Se arrependeu do mal que faria àquela cidade e não o fez (Jn.3:10). Aqui temos, uma vez mais nas Escrituras, a expressão “Deus Se arrependeu”, que causa espécie a alguns, já que uma das características divinas é a imutabilidade (Ml.3:6; Tg.1:17).
– A expressão “arrependimento de Deus” é um dos exemplos de “antropopatia” nas Escrituras, ou seja, a atribuição de um sentimento humano a Deus para que possamos compreendê-l’O, já que Deus é além da nossa capacidade de entendimento.
– Deus não muda, n’Ele não há sombra de variação. Como então pode Ele Se arrepender? O “arrependimento de Deus” não é a mudança de Deus, mas, sim, a mudança do homem que faz com que a reação divina seja diversa. Deus iria destruir Nínive por causa da sua malícia que havia alcançado o limite da tolerância divina (Jn.1:2 “in fine”). Entretanto, os ninivitas se arrependeram dos seus pecados e se converteram, mudaram de conduta e de comportamento, de sorte que Deus, como não muda, ante esta mudança, também teve de alterar a sentença, poupando Nínive da destruição.
– Deus sempre agiu desta forma. Com Caim, também Lhe advertiu para que mudasse seu procedimento, mas Caim persistiu em fazer o mal e, por isso mesmo, não alcançou o perdão. No dilúvio, também, durante cem longos anos, Deus deu à humanidade a oportunidade do arrependimento pela pregação de Noé, mas ninguém se converteu, razão pela qual foram submersos pelas águas do dilúvio. Ló, também, serviu de testemunha de justiça perante as cidades da planície, mas ninguém lhe deu ouvidos, de forma que todos foram atingidos pelo fogo e enxofre mandados por Deus do céu.
– Ao contrário de toda esta gente, os ninivitas, nos dias de Jonas, se arrependeram e se converteram de seus pecados, motivo por que foram poupados por este Deus imutável e invariável.
– O mesmo ocorre ainda hoje. Quem crer na mensagem do Evangelho, será salvo; quem não crer, será condenado (Mc.16:16). Hoje ainda é dia aceitável, hoje ainda é dia de salvação, aceitemos, pois, o aviso divino e nos arrependamos e convertamos, antes que seja tarde demais!
– Jonas, que já fora alvo da misericórdia divina, ao ver a reação dos ninivitas, logo intuiu que Deus não destruiria a cidade. Isto desgostou extremamente o profeta, que ficou ressentido (Jn.4:1).
– Jonas percebera que Deus era misericordioso, mas ainda não tinha aceitado que a misericórdia pudesse atingir os assírios, inimigos de seu povo. O nacionalismo falava, uma vez mais, mais alto do que o amor no coração do profeta.
– Jonas, então, vai à presença de Deus e mostra toda a sua mágoa, dizendo que tivera razão em tentar fugir para Társis, pois sabia que Deus era “piedoso, misericordioso, longânimo e grande em benignidade e que Se arrependia do mal” (Jn.4:2).
– Nesta expressão do profeta, vemos que o profeta fugira de diante da face do Senhor porque sabia que era grande a possibilidade do perdão divino a Nínive e que isto não era bom para a sua nação. Com a dura experiência do ventre do grande peixe, Jonas experimentara o que apenas sabia teoricamente, ou seja, que Deus era misericordioso, mas, por incrível que pareça, ainda não havia sido contagiado pela misericórdia divina. Experimentara a misericórdia de Deus mas não se tornara um misericordioso.
– Quantos de nós não tem sido como Jonas? Sabemos que Deus é bom. Experimentamos a bondade divina, mas ainda não somos bons. Que isto mude em nós, amados irmãos, pois não entraremos no reino dos céus se nossa justiça não superar a dos escribas e dos fariseus (Mt.5:20) e tais pessoas, assim como Jonas, sabem muito bem que Deus é bom, mas não praticam a bondade.
– Jonas, no seu ressentimento, pediu até a morte para Deus, pois se achou um profeta fracassado, já que a sua mensagem não se cumprira, não vendo que o propósito de Deus era, exatamente, o de exercer a Sua misericórdia para com aquele povo. O profeta não podia enxergar que a sua pregação fora capaz de converter a Deus a maior cidade do mundo de então, que ele fizera, pela vez primeira, o papel que Deus havia deixado a todo israelita, o de ser um reino sacerdotal e povo santo diante de todas as nações da Terra.
– Jonas, ressentido, saiu da cidade, depois que o Senhor lhe respondeu com uma pergunta: “É razoável esse teu ressentimento?” (Jn.3:4).
– Deus, então, foi tratar uma vez mais com o Seu profeta. Jonas fizera uma cabana ao oriente da cidade e se assentara debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade. Ainda nutria a esperança de que o Senhor destruiria Nínive, ficou “na arquibancada”, como disse, certa feita em um ensino o pastor Aldey Nelson Rocha, aguardando o mal sobre os inimigos.
– Quantos, na atualidade, não procedem da mesma forma? Ficam “sentados na arquibancada”, esperando que o mal sobrevenha a quem eles não querem bem. Trata-se de uma conduta irrazoável, nos dizeres do próprio Senhor. Como podemos dizer que estamos em comunhão com o Senhor desejando o mal do próximo, se Deus quer que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade? Como podemos dizer que somos participantes da natureza divina se, em vez de desejarmos o bem do outro, queremos assistir ao seu mal?
– O Senhor, então, fez nascer uma aboboreira, que subiu por cima de Jonas, fazendo-lhe sombra e o profeta ficou muito alegre por causa da aboboreira, que lhe veio trazer refrescor. Entretanto, no dia seguinte, o Senhor enviou um bicho que feriu a aboboreira e esta se secou.
– Sem a aboboreira, Deus mandou um vento calmoso, oriental, que feriu a cabeça de Jonas e o profeta, diante deste grande incômodo, quis, uma vez mais, morrer, já que sentiu falta da aboboreira.
– O Senhor, então, perguntou a Jonas se era razoável ele desejar a morte por causa de uma simples aboboreira e o profeta disse que sim. Então, o Senhor, mostrando a incoerência de Jonas, disse se não seria também razoável que o Senhor quisesse a vida da população de Nínive, que, na época era de mais cento e vinte mil homens, muito mais importantes do que a aboboreira, com a agravante de que a aboboreira não tinha sido feita por Jonas, enquanto que todas aquelas criaturas de Nínive tinham sido obra das mãos do Senhor (Jn.4:5-11).
– Jonas, então, aprendeu a lição de que devemos, sim, nos compadecer do próximo, do ser humano que é criado à imagem e semelhança de Deus. O profeta aprendeu que devemos dar ao ser humano o máximo valor nesta Terra, sabendo que se trata de algo que é extremamente amado e querido pelo Senhor.
– Temos agido desta maneira, ou damos mais valor às aboboreiras do que às almas perdias que estão celeremente caminhando para o inferno? Que valor temos dado à salvação das almas? Temos o mesmo sentimento missionário de Cristo Jesus que deixou a Sua glória para vir nos salvar aqui neste mundo vil e tenebroso?
– A misericórdia divina alcança tanto os ingênuos, que não sabem discernir entre a mão direita e a esquerda, como os “animais”, estes homens cruéis e nefastos que têm prazer em praticar a maldade. Jesus veio salvar a todos e a nós, que somos Seus servos, não nos cabe senão pregar a mensagem do Evangelho que Ele nos mandou falar a toda a criatura, sem qualquer acepção ou indevido julgamento.
– Assim como Jonas, fomos também alvo da misericórdia de Deus, que nos tirou do “ventre do inferno”, fazendo-nos experimentar a Sua misericórdia. Mas Deus quer mais de nós do que simplesmente experiência do Seu amor. Deus quer que cada um de nós vá até onde estão os incrédulos e lhes preguemos a mensagem do Evangelho e, mais do que isto ainda, que nós estejamos prontos a ter compaixão destas almas, a sermos nós mesmos misericordiosos em relação a eles, compartilhando o mesmo sentimento que Deus tem em relação a nós e a eles.
Será que estamos dispostos a isto?
Caramuru Afonso Francisco