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LIÇÃO Nº 6 – NEEMIAS RECONSTRÓI OS MUROS DE JERUSALÉM


A reconstrução do templo em Jerusalém é resultado de um avivamento espiritual.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do período da formação da Comunidade do Segundo Templo para daí extrairmos lições sobre avivamento espiritual, analisaremos hoje a reconstrução dos muros de Jerusalém, nos dias de Neemias.

I – JERUSALÉM NÃO É RECONSTRUÍDA

– Deixamos o povo judeu na lição passada num momento de êxtase espiritual, em que se concluíram as obras do Segundo Templo, tendo, enfim, os israelitas, novamente, seu lugar de adoração a Deus.

– Conforme nos fala Flávio Josefo, Zorobabel havia obtido do rei Dario a autorização para reconstruir o Templo de Jerusalém e a cidade de Jerusalém..

OBS: Eis o trecho da narrativa de Josefo:

“…Zorobabel respondeu-lhe que não lhe pedia outra graça, que cumprir o voto que havia feito, caso fosse elevado à dignidade da coroa, de mandar reconstruir Jerusalém, restaurar o Templo de Deus e reconstruir todos os vasos sagrados, que o rei Nabucodonosor tinha mandado tirar e levar para Babilônia.

O rei então levantou-se do trono, com rosto alegre, beijou Zorobabel e ordenou que se escrevesse aos governadores de suas províncias, que o ajudassem, e aos que o acompanhavam na viagem que ia fazer, a reconstruir o Templo de Jerusalém.

Deu também ordem aos magistrados da Síria e da Fenícia que mandassem cortar cedros sobre o monte Líbano, para levar a Jerusalém e ajudassem aos que iam reconstruir a cidade.…” (Antiguidades Judaicas XI.4, 439. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.236).

– No entanto, não se sabe porque, Zorobabel não deu início a tal reconstrução. Após a celebração da Páscoa que como que completou as comemorações pelo reinício do templo, o texto sagrado nada mais fala a respeito e somente vai cuidar, na sequência, no capítulo 7 do livro de Esdras, da ida de Esdras para Jerusalém, o que aconteceu, 57 anos depois, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen.

– Flávio Josefo, depois de falar da celebração da Páscoa, diz que houve mudança no tipo de governo entre os judeus, com os sumo sacerdotes passando a governar auxiliados pelo Sinédrio, numa forma de governo aristocrático.

Dá-se a entender, então, que Zorobabel deixou de governar e não levou avante a reconstrução de Jerusalém.

– O templo estava reconstruído e os judeus, então, ficaram satisfeitos com a reedificação do templo, não se preocupando em reconstruir a cidade de Jerusalém, o que era fundamental, até para que se desse a devida segurança ao templo.

– Jerusalém tinha sido completamente destruída e queimada pelos babilônios e, mesmo tendo o Templo sido reconstruído, como a cidade não foi reedificada, tinha-se um lugar inseguro para se morar.

Além do mais, como Jerusalém tinha sido a capital do reino, não era propriedade de nenhuma família em especial e, portanto, os exilados tinham cada qual a sua terra, a sua cidade, que não era Jerusalém. Por causa disso, com exceção dos sacerdotes e levitas que trabalhavam no templo, ninguém habitava em Jerusalém.

– Tinha-se, portanto, uma situação anômala, que, infelizmente, foi sendo perpetuada. Não havia interesse de ninguém em reconstruir a cidade.

O povo retornava para o torpor espiritual, não se importava em dar segurança e estabilidade para o Templo e para o serviço de adoração ao Senhor.

– Este torpor espiritual representou um atraso no início da contagem para a redenção de Israel, pois, como dissera o anjo Gabriel a Daniel, os 490- anos somente se iniciariam quando saísse a ordem para a reconstrução de Jerusalém e, observe-se, segundo Josefo, tinha havido uma autorização do rei Dario, não uma ordem neste sentido.

– Assim, se passaram 71 anos, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, até se iniciasse a reconstrução da cidade.

Nesse meio tempo, aliás, o povo judeu correu risco até de extinção, quando do episódio que envolveu o primeiro-ministro do rei persa, Xerxes, que quase conseguiu matar todos os judeus, o que é narrado no livro de Ester.

II – DEUS LEVANTA NEEMIAS PARA RECONSTRUIR O MURO DE JERUSALÉM

– Antes do avivamento espiritual experimentado nos dias de Neemias e que levou à reconstrução do muro de Jerusalém, tivemos, da parte de Deus, uma outra providência, que foi a de fazer com que o rei da Pérsia, Artaxerxes I,

mandasse para Jerusalém o escriba hábil na lei de Moisés chamado Esdras, que teve um fundamental papel para impedir que os judeus perdessem a sua identidade como nação, algo que era iminente e muito em função desse torpor espiritual.

– A atuação da Esdras será ainda analisada neste trimestre, até porque o saudoso comentarista não se preocupou muito com a sequência cronológica neste estudo de caso, vez que, por ser um estudo de caso, é mais importante a aplicação de cada episódio ao tema do avivamento, sem se falar que há muita discussão entre os estudiosos sobre a correta sequência cronológica dos livros de Esdras e Neemias.

– De qualquer modo, haveremos de estudar, nesta lição, a atuação de Neemias na reconstrução do muro de Jerusalém e nos debruçaremos, para este mister, nos dois primeiros capítulos do livro de Neemias.

– O livro de Neemias relata “as palavras de Neemias, filho de Hacalias” (Ne.1:1). Neemias, cujo nome significa “Javé conforta”, “Javé consola” ou, ainda, “Javé é o meu deleite”, era um judeu que ocupava uma importante posição na corte do rei da Pérsia, Artaxerxes I Longimano, que reinou de 465 a.C. até 424 a.C. e que foi o quinto rei persa que reinou sobre os judeus. Neemias era o copeiro do rei (Ne.1:11).

OBS: “…O ofício do copeiro real era um posto de grande honra na corte persa. Estando na presença diária do rei e assistindo-o em seus

momentos de descanso, o copeiro tinha muitas oportunidades de ganhar a boa vontade do monarca e obter muitos favores que eram negados a outros.

Copeiros eram geralmente eunucos. Eram representados frequentemente em monumentos assírios, segurando um copo na mão esquerda e um abanador feito de folhas de palmeiras na mão direita.

Um grande guardanapo, ricamente bordado e ornamentado, ficava sobre o seu ombro esquerdo para o rei enxugar os lábios com ele.…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, p.782, com. Ne.1.1b).

– Tudo indica, portanto, que Neemias pertencia a uma família de judeus que não havia emigrado para a Terra Prometida com o final do cativeiro da Babilônia, ou seja, um grupo de judeus que preferiu as benesses do exílio a retornar à Terra que Deus havia dado a Israel, benesses, aliás, que só tinham aumentado durante o reinado de Xerxes I, antecessor de Artaxerxes I, que reinou de 486 aC. até 465 a.C.

e onde se deram os fatos relatados no livro de Ester, quando os judeus, após a ameaça de serem destruídos, acabaram alcançando a proeminência na corte persa.

– No vigésimo ano do reinado de Artaxerxes I Longimano (este nome “longimano” significa “de mão longa”, pois, conta a história a sua mão direita era maior que a esquerda), ou seja, por volta de 445 a.C.,

Neemias recebe a visita de seu irmão Hanani, juntamente com outros judeus, quando, então, Neemias perguntou a respeito dos judeus que moravam na Terra Prometida (Ne.1:2).

– Entendem alguns que Hanani, como era irmão de Neemias, também morava em Susã, então a capital da Pérsia e tinha resolvido fazer uma viagem até a Terra Prometida e, ao chegar lá, pôde verificar a situação deplorável em que se encontravam os judeus,

apesar da ida de Esdras treze anos antes para lá (Ed.7:7) e, confiante de que Neemias, diante da situação privilegiada que tinha na corte persa, pudesse ajudar nesta situação, retornou a Susã, fazendo-se acompanhar de alguns judeus.

– Neemias recebeu seu irmão e seus companheiros e indagou a respeito da situação em que estavam seus compatriotas, tendo, então, recebido um relato muito triste. Os judeus estavam em grande miséria e desprezo e o muro de Jerusalém estava fendido e as suas portas, queimadas a fogo (Ne.1:3).

– Alguns críticos, diante deste relato, questionam a circunstância de Esdras ter precedido a Neemias, pois, em Ed.9:9, é dito que os reis da Pérsia haviam permitido que fosse construída “uma parede em Judá e em Jerusalém”, o que significaria que haveria muros naquela época, ou seja, depois da reconstrução efetuada por Neemias.

No entanto, esta “parede” de que fala o texto de Esdras não significa os “muros de Jerusalém”, mas nos fala de um “abrigo seguro” (assim traduz o texto a Bíblia de Jerusalém), que é, no contexto, o templo cuja reedificação fora autorizada por Dario e concluída em seu reinado e que cujo uso foi confirmado por Artaxerxes (Ed.6:14,15).

– Apesar de o templo ter sido reconstruído e de Artaxerxes ter determinado que Esdras ensinasse a lei aos judeus que moravam na Terra Prometida (Ed.7:1-7), o quadro trazido por Hanani e seus companheiros era desolador.

O ensino da lei por Esdras e a existência do templo não haviam sido suficientes para que os judeus voltassem a ter uma vida própria e digna na Terra Prometida.

Pelo contrário, reinavam a miséria e o desprezo e Jerusalém não havia sido reedificada, ficando à mercê de todos os inimigos, já que seus muros estavam fendidos e as portas queimadas a fogo, tudo tal qual havia sido deixado depois da destruição feita por Nabucodonosor, isto há 162 anos. Diante deste quadro, não havia ainda se podido organizar o povo judeu.

– Este relato traz-nos uma importante lição a respeito da estruturação do povo judeu. Não bastava a ida de Esdras, o sacerdote e escriba, para a Terra Prometida para a restauração do povo judeu. Era necessário que, além do ofício sacerdotal (que, inclusive, incluía o ensino da lei para o povo),

que alguém fosse constituído para a restauração político-administrativa do povo, eis que, até a vinda do Messias, os legítimos ofícios sacerdotal e régio tinham de ser mantidos separados. Por isso, quando do retorno da primeira leva de judeus, as lideranças eram Josué (o sumo sacerdote) e

Zorobabel (o herdeiro presuntivo do trono de Davi) e, agora, apesar de passados treze anos, nada havia sido restabelecido como devido visto que o rei Artaxerxes mandara apenas um sacerdote e escriba (Esdras), não se importando em constituir uma nova autoridade naquelas cercanias.

– Esta circunstância traz-nos, também, uma lição espiritual a respeito da Igreja, o povo de Deus de nossa dispensação.

Agora, com Cristo, reunidos que foram os ofícios profético, sacerdotal e régio, nem por isso podemos nos comportar de modo individualista na obra do Senhor. O Senhor Jesus edifica a Sua Igreja através dos dons ministeriais (Ef.4:11-16) e espirituais (I Co.12:1-7), desta maneira, todos os dons são necessários para que a edificação se realize.

Assim como a tão só presença de Esdras não pôde restaurar Judá enquanto não veio Neemias, também não há como se ter a edificação da Igreja sem que todos os dons se manifestem e sejam exercitados. Somos um corpo (I Co.12:12,15-27) e, como tal, todos são necessários para a edificação do corpo em amor (Ef.4:16).

Muitas igrejas locais, na atualidade, encontram-se na mesma situação deplorável que se encontrava a Jerusalém dos dias de Neemias. Vivem em miséria e em desprezo, com seus muros fendidos e as portas, queimadas a fogo.

Estão sem qualquer proteção da parte de Deus, sendo alvo de ataques fáceis e impiedosos do inimigo de nossas almas. E qual a razão desta penúria espiritual?

Simplesmente porque, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, ainda não compreenderam que há necessidade do exercício de todos os dons conferidos por Cristo e pelo Espírito Santo, porque há muitos que, de forma ditatorial às vezes,

impedem o livre exercício dos dons, pois o “corpo de Cristo” é um mas tem muitos membros e cada um com uma tarefa e função específicas. Lembremo-nos disto e, certamente, a restauração virá!

– Diante de um quadro tão triste e lamentável, qual foi a reação de Neemias? Diz-nos o texto sagrado que, por primeiro, Neemias ouviu as palavras.

Neemias revela aqui uma qualidade que, certamente, foi crucial para que galgasse a posição de copeiro do rei: era, antes de mais nada, um ouvinte.

Como é importante que, em nossas vidas, saibamos mais ouvir do que falar. Não é à toa que Deus nos fez com dois ouvidos e apenas uma boca. Daí ter nos dito o sábio Salomão que “responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv.18:13).

– Neemias, diante de seu irmão e dos companheiros, limitou-se a ouvir aquelas notícias, mantendo uma atitude prudente. Hanani e seus companheiros haviam procurado Neemias buscando ter dele uma solução, consideravam que Neemias era a sua esperança e,

diante desta circunstância, Neemias não poderia mostrar diante dele desespero ou perplexidade, ainda que a notícia lhe chocara muito.

– Diante daqueles que vêm ao nosso encontro procurando uma saída, um conselho, uma solução, não podemos, de modo algum, externar desespero, perplexidade e, assim, trazer mais embaraço ou confusão a quem nos busca guarida.

Como servos de Deus e, portanto, dotados de esperança (Rm.5:2; 8:24), não podemos externar desespero a quem nos procura, mas temos de ouvir seus relatos e, se for o caso, em privado chorar nossas misérias e perplexidade.

– Neemias ouviu as palavras de Hanani e seus companheiros e, posteriormente, já em privado, sozinho, assentou-se, chorou e se lamentou por alguns dias, jejuando e orando perante o Deus dos céus (Ne.1:4).

Como sabemos que isto se deu em privado? Porque somente no mês de Nisã (correspondente a março/abril), ou seja, quatro meses depois de ter recebido as notícias tristes de Hanani e seus companheiros,

o que havia ocorrido no mês de Quisleu (Ne.1:1) (correspondente a novembro/dezembro de nosso calendário), é que o rei Artaxerxes viu o semblante triste no rosto de Neemias (Ne.2:1), a indicar, portanto, que, durante todo este tempo, Neemias chorou as suas misérias em privado, sem que ninguém tivesse conhecimento disto.

– É exatamente este o comportamento que deve ter o servo de Deus. O Senhor Jesus disse que devemos entrar em nosso aposento e, em secreto, abrir nosso coração ao Pai celestial (Mt.6:6).

Não podemos ser portadores de desespero e de desânimo seja diante dos irmãos, seja diante dos homens, pois isto seria um escândalo, uma pedra de tropeço para os que nos cercam. Temos de demonstrar sobriedade, equilíbrio diante do próximo, pois nossa vida deve ser, neste mundo, sóbria, justa e pia (Tt.2:12).

– Neemias ouviu as notícias e, em privado, demonstrou seu grande amor para com o seu povo. Apesar de nunca ter morado em Jerusalém, de pertencer ao grupo de judeus que resolveu não retornar à Terra Prometida, ele teve compaixão de seu povo, demonstrou ter fé nas promessas de Deus.

O fato de viver em Susã não fez com que ele viesse a menosprezar ou desconsiderar seus compatriotas, mas mostrou que, apesar de sua posição, ele se sentia um judeu, alguém que, tal como Moisés, estava disposto a deixar a sua “zona de conforto”, a sua posição para participar da realização das promessas divinas.

– Neemias assentou-se e, comovido com a situação dos seus compatriotas (que nem sequer conhecia), começou a chorar.

O sentimento de compaixão é indispensável para que possamos realizar a obra de Deus, para que nos disponhamos a ajudar a edificação da Igreja e a salvação dos incrédulos.

Este sentimento foi manifestado por Jesus diversas vezes durante Seu ministério terreno (Mt.9:36; 14:14; 15:32; 20:34; Mc.1:41; 6:34; 8:2; Lc.7:13), deixando-nos o exemplo para que sigamos as Suas pisadas (I Pe.2:21).

Sem que sintamos a compaixão seja por nossos irmãos, seja pelos homens em geral, não podemos jamais ser eficazes no serviço cristão, na obra do Senhor.

Se Neemias não tivesse sentido compaixão pelos seus compatriotas, não tivesse sentido a mesma coisa que os judeus miseráveis e desprezados de Jerusalém estavam a sentir, não se disporia a abandonar o conforto da corte de Artaxerxes para enfrentar os desafios que se lhe apresentavam em Judá.

Temos tido compaixão do nosso próximo? Temos nos disposto a deixar a “zona de conforto” para fazermos a obra do Senhor? Pensemos nisto!

– Mas Neemias não se limitou a se assentar e chorar. Sabendo que sua condição de copeiro do rei, se era uma posição vantajosa e que permitia pleno acesso ao rei da Pérsia, era assaz insuficiente para resolver a questão.

Por isso, sabendo que nada poderia ser feito senão pela intervenção divina, Neemias não se limitou a chorar e lamentar, mas resolveu jejuar e orar ao Senhor (Ne.1:4).

– Como é maravilhoso quando o ser humano reconhece a sua incapacidade e resolve depender de Deus. Não há outro lugar para onde devamos recorrer nos momentos de crise, de angústia e de perplexidade senão aos pés do Senhor Jesus.

A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos, ensina-nos Tiago (Tg.5:16) e Neemias, consciente de sua justiça, foi pedir a quem podia resolver o problema, ou seja, ao Deus dos céus.

– A crise “…é qualquer evento que é( ou se espera que leve a) uma situação instável ou perigosa que afeta um indivíduo, um grupo, uma comunidade ou toda uma sociedade…” (Crisis. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Crisis Acesso em 22 ago. 2011) (tradução nossa de texto em inglês).

Em mandarim (chinês), a palavra “crise” (“weiji”) é a composição de duas palavras: “wei”, que significa “perigo” e “ji”, que significa “ponto crucial”. A “crise”, portanto, é um “ponto crucial”, um “ponto importante”, mas que representa um perigo” (Chinese word for crisis. In; WIKIPÉDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_word_for_%22crisis%22 Acesso em 22 ago. 2011).

– Neemias, ao ter conhecimento da crise, viu ali não um momento de desespero, mas um momento importante para se aproximar de Deus e, assim, encontrar a solução para aquele quadro trágico.

As crises que surgem durante nossas vidas aqui na Terra nada mais são que momentos importantes em que temos de nos aproximar do Senhor, evitando que o desânimo tome conta de nós, pois temos de viver no mundo com “bom ânimo” (Jo.16:33). Temos aproveitado estes momentos para nos aproximar do Senhor?

– Quantos de nós temos agido desta maneira? Neemias, como copeiro do rei, poderia, ao saber das notícias, ter aproveitado a primeira ocasião que tinha para se lamentar diante do rei, que, afinal de contas, era a maior autoridade do mundo naquela época (a Pérsia era a potência mundial do momento).

No entanto, Neemias sabia que Artaxerxes, apesar de todo seu poder, era apenas um homem e que há um Deus que é o Senhor de todas as coisas. Temos esta mesma confiança no Senhor, ou temos procurado outros “deuses”? Corramos aos pés de Jesus, amados irmãos!

– Além da oração, Neemias, também, recorreu ao jejum, um companheiro apropriado para a oração, máxime quando se está diante de um quadro de urgência e de necessidade de orientação.

Não era fácil para Neemias jejuar, visto que era o copeiro do rei e, assim, deveria sempre experimentar tudo quanto fosse levado ao rei, a fim de evitar o envenenamento.

Jejuar, assim, era algo extremamente difícil, mas Neemias enfrentou este desafio, a fim de obter de Deus a devida orientação e a solução para o problema de seu povo. Temos nós também nos disposto a nos sacrificar em prol do próximo?

III – A ORAÇÃO DE NEEMIAS

– Neemias relata, então, qual foi a sua oração. Antes de analisarmos esta oração, observemos que Neemias fez contínua oração, que durou, como já dissemos, cerca de quatro meses.

Muitos se confundem e dizem que a “oração de Neemias” é uma oração rápida, instantânea, porque se lembram de citar tão somente Ne.2:4, quando Neemias é interpelado pelo rei, mas isto se deu em Nisã, depois que, em privado, Neemias já havia orado quatro meses.

Não há dúvida de que Deus responde a orações emergenciais, mas Neemias não é exemplo disso e, sim, deve ser um exemplo de que precisamos manter uma vida de contínua oração.

A oração de Neemias começa com uma invocação de Neemias a Deus, reconhecido como “Senhor, Deus dos céus, Deus grande e terrível”. Foi, de igual modo, que Jesus nos ensinou a orar, pois Sua oração-modelo começa com a invocação “Pai nosso, que está nos céus”.

– Na oração, devemos, antes de tudo, lembrar quem é Deus e quem somos nós. Não podemos orar corretamente senão nos apercebemos de que estamos entrando diante da presença do Senhor, d’Aquele que é o dono de todas as coisas, a quem não temos o direito de nos dirigir, mas que, pelo Seu infinito amor, quer manter um relacionamento conosco.

– Neemias, ao contrário dos falsos arautos da teologia da confissão positiva, não se apresentou diante de

Deus para Lhe “cobrar” a fidelidade a Suas promessas, muito menos para dizer que o Senhor era “obrigado” a trazer prosperidade a Jerusalém e ao povo de Judá, diante de Suas promessas.

Bem ao contrário, identificou a Deus como o Senhor, o Deus dos céus, o Deus grande e terrível. Precisamos reconhecer a nossa pequenez e nos humilharmos diante do Senhor quando a Ele nos dirigimos.

Como ensinava Charles Spurgeon (1834-1892), príncipe dos pregadores britânicos, “…a humildade é a atitude apropriada de um orante…” (SPURGEON, Charles Haddon. Humildade: a amiga do orante. Disponível em: http://bible.org/seriespage/humility-friend-prayer-no-1787 Acesso em 11 set. 2010) (texto em inglês). Temos feito isto?

– Neemias, ainda na invocação ao Senhor, reconheceu a fidelidade divina, ao dizer que o Senhor “guardava o concerto e a benignidade para com aqueles que Lhe amavam e guardavam os Seus mandamentos” (Ne.1:5).

Aqui temos mais uma indicação de que Deus não ouve a pecadores (Jo.9:31) e que, portanto, a primeira coisa que temos de fazer para entrarmos na presença do Senhor é pedir perdão dos nossos pecados, pois eles nos impedem de sermos ouvidos por Deus (Is.59:2). Deus está pronto a ouvir, diz-nos Neemias, aqueles que “amam e guardam Seus mandamentos”.

– Neemias, ao se dirigir a Deus, confessou não só os seus pecados, mas também os pecados dos filhos de Israel (Ne.1:6,7), pois sabia que, sem a confissão e o consequente perdão, jamais poderia entrar na presença de Deus e pedir-Lhe algo. Temos também esta consciência?

– Sendo um cumpridor da vontade do Senhor, Neemias pôde, então, dirigir-se a Deus e pedir que os Seus ouvidos fossem atentos e os olhos, abertos, para ouvir a oração do Seu servo, oração que fazia de dia e de noite não só por si mas também pelos filhos de Israel (Ne.1:6).

Vemos, assim, claramente que Neemias era um adepto da oração contínua e que não tem qualquer cabimento denominar de “oração de Neemias” a oração instantânea, emergencial, muito menos assim denominar a oração daquele que só lembrar de orar no momento decisivo de uma adversidade. Nosso papel, amados irmãos, é orar sem cessar (I Ts.5:17)!

– Neemias demonstrou, também, em sua oração, que era alguém possuído de fé em Deus. Mesmo sabendo da sua situação pecaminosa e da de seu povo, Neemias reconhecia que os ouvidos de Deus eram atentos e Seus olhos estavam abertos para o orante.

Quando nos dirigimos a Deus, precisamos entender que, tendo havido a confissão e perdão dos nossos pecados, Deus não só nos ouve como também está a nos ver e, assim, pronto a nos atender, a nos consolar, a conceder o desejo dos nossos corações.

Quantos que oram e não têm esta consciência e acabam não orando, pois não confiam que estão sendo ouvidos por Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e Neemias agradou ao Senhor porque confiava que Deus o estava vendo e o estava ouvindo. Tenhamos fé, amados irmãos!

– Neemias reconheceu que a situação do povo de Judá era consequência de seus próprios pecados. O copeiro lembrou que o povo havia perdido a Terra Prometida porque havia transgredido os mandamentos do Senhor e Deus, então, havia cumprido o que dissera, através de Moisés, ou seja, de que a pena máxima pela desobediência seria o exílio (Dt.28:63-65).

Em nossas orações, também, devemos reconhecer os nossos erros, assumir as nossas culpas, pedindo perdão e misericórdia ao Senhor para sairmos da situação aflitiva em que nos encontramos.

Nem toda situação difícil por que passamos é consequência de nossos pecados, pois também pode haver a provação da parte do Senhor (como é o caso de Jó), mas, quando nos dirigimos a Deus em oração, precisamos fazer um autoexame e, se necessário for, assumirmos nossas culpas e pedirmos perdão não só a Deus mas a quem também tenhamos ofendido com nossos erros.

Não há caminho para a bênção senão a do arrependimento e confissão de nossos pecados.

– Ao mesmo tempo em que Neemias fazia memória de seus pecados e dos pecados de seu povo, também fazia memória das promessas divinas.

Sua confiança em Deus lhe permitia não só assumir suas culpas e as dos filhos de Israel, pois sabia que Deus era misericordioso e grandioso para perdoar (Is.55:7), como também de trazer à memória as promessas de restauração, que também estavam presentes na lei de Moisés (Dt.30:1-10).

– Se isto se deu com um homem que viveu na dispensação da lei, com muito maior razão deve ser uma tônica para os que, como nós, vivem debaixo da graça.

Não podemos nos deixar esmorecer com nossos fracassos e percalços, mas, se sinceramente pedirmos perdão pelos nossos pecados e não os confessarmos, mas deixá-los, igualmente alcançaremos a misericórdia divina (Pv.28:13).

– Muitos em nossos dias estão caminhamos celeremente para a perdição porque não querem confessar nem deixar os seus pecados, preferindo encobrir as suas transgressões.

Não façamos isto, amados irmãos! Temos um Deus grandioso em perdoar e que está disposto a nos dar o Seu perdão e nos ser alvo de Sua misericórdia.

Pecado é um assunto entre Deus e o homem e jamais podemos permitir que nossas transgressões permaneçam encobertas por causa de outros homens, por causa de nosso relacionamentos, inclusive com os domésticos da fé.

Confessemos e deixemos o pecado e teremos, novamente, como Neemias teve, pleno acesso ao trono da graça.

– Neemias não fez qualquer “cobrança” a Deus, mas, assim como confiava no Senhor e sabia do Seu acerto em ter retirado Judá da sua terra, agora pedia ao Senhor a mesma fidelidade no tocante à restauração, uma vez existindo a conversão do povo.

Neemias punha-se à disposição do Senhor para efetuar esta conversão e, assim, obter a restauração completa de Judá, como havia sido prometido, mostrando sua fé em Deus.

Deus não estava “obrigado” a coisa alguma, mas, sim, ele, Neemias, juntamente com o povo, estava pronto a se converter e, assim, ser alvo da benignidade do Senhor.

OBS: “…Irmãos, fará mal qualquer um de nós que usar a linguagem do mérito diante de Deus, pois mérito algum temos e, se tivéssemos algum, não precisaríamos orar.

Foi bem observado por um antigo teólogo, que o homem que pleiteia seu próprio mérito não ora, mas cobra o seu crédito.

Se eu peço a alguém que me pague sua dívida, eu não sou alguém que pede, mas alguém que está a exigir os seus direitos.

A oração de um homem que pensa que tem méritos é como se estivesse a entregar uma letra ao Senhor: ele não está apresentando um pedido, mas emitindo uma cobrança.

O mérito, com efeito, diz: “Pague-me o que você deve”. Pouco um homem deste obterá de Deus, pois se o Senhor apenas pagar para nós o que Ele nos deve, o lugar além de tormento será nossa rápida herança.

Se durante a vida aqui nós recebermos não mais do que nós merecemos, nós seremos rejeitados e abandonados. O mais vil dos mendicantes obterá mais do que estes banidos.

Até mesmo a vida, ela própria, é um presente do Criador, ‘De que se queixa, pois, o homem vivente?

Queixe-se cada um da punição dos seus pecados’. Vamos nos manter numa posição de inferioridade tanto quanto podemos, pois nós ainda temos de reconhecer que ‘As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as Suas misericórdias não têm fim’.

Qualquer outra atitude que não a de humildade seria muito mal-vinda e presunçosa na presença do Altíssimo.…” (SPURGEON, Charles Haddon. Humildade: a amiga do orante. Disponível em: http://bible.org/seriespage/humility-friend-prayer-no-1787 Acesso em 11 set. 2010) (tradução nossa de texto original em inglês) (destaque original).

– Ao longo dos meses de oração, Neemias recebeu da parte do Senhor uma convicção: a solução estava nele próprio.

Era ele quem Deus havia escolhido para mudar aquela situação em Judá e em Jerusalém. Por isso, sua oração já finalizava com o pedido de bom êxito diante do rei da Pérsia:

“Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os Teus ouvidos à oração do Teu servo e à oração dos Teus servos que desejam temer o Teu nome; e faze prosperar hoje o Teu servo e dá-lhe graça perante este homem” (Ne.1:11).

Neemias chegou à conclusão, certamente pelo Espírito de Deus, de que era ele quem deveria levar o caso até o rei Artaxerxes e pedia que Deus moldasse o coração do monarca para que fosse obtido o bem-estar de Judá.

Somente através de uma vida de oração contínua e de intimidade com Deus poderemos saber qual é a Sua vontade a fim de podermos cumpri-la.

Muitos, na atualidade, permanecem desorientados e sem saber o que fazer simplesmente porque não têm uma vida de íntima comunhão com o Senhor.

Esta íntima comunhão somente se dará mediante a meditação nas Escrituras e uma vida de contínua oração.

Estabelecendo-se um diálogo com o Senhor por meio da oração (acompanhada, por vezes, do jejum) e da meditação nas Escrituras, poderemos nos transformar a nós mesmos, termos a renovação do nosso entendimento e, desta maneira, experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus em nossas vidas (Rm.12:1,2).

– Neemias tinha amplo conhecimento das Escrituras, tanto que, em sua oração, mostra como tinha consciência do que Deus havia falado ao Seu povo por intermédio da lei de Moisés.

Vivia, também, em contínua oração, intensificada que foi após ter sabido da triste notícia da miséria e do desprezo dos judeus em Jerusalém.

Por isso, em resposta a esta íntima comunhão com o Senhor, teve condições de identificar que era vontade do Senhor que deixasse aquela posição confortável no palácio de Artaxerxes para ir enfrentar os desafios nos muros fendidos e portas queimadas a fogo de Jerusalém. Precisava, porém, de uma oportunidade para obter a autorização do rei para tal obra.

– É natural que façamos aqui um paralelo entre esta oração e a oração de Daniel, que estudamos na lição 1. Mais uma vez, vemos que o avivamento espiritual começa com a oração e uma oração que vem composta de arrependimento, consciência da insuficiência humana e que tem fé e confiança em Deus. Não há outro caminho para o avivamento.

IV – A IDA DE NEEMIAS PARA JERUSALÉM

– Neemias, apesar de sua aflição, de seu choro contínuo, nunca havia se apresentado triste e abatido diante do rei Artaxerxes. Apresentava-se, sempre, com um semblante alegre, sendo um motivo de prazer e uma boa companhia para o rei.

– No entanto, naquele dia, o primeiro dia de Nisã (mês correspondente aos meses de março/abril), por mais que tentasse, Neemias não conseguiu se apresentar com semblante alegre.

Aquela tristeza era, sem que ele soubesse, o meio pelo qual o Senhor começaria a responder as suas orações.

Neemias, apesar de angustiado e triste (talvez se perguntasse o porquê daquela tristeza maior), não se queixou diante do rei, mas efetuou o seu serviço como costumava fazer.

– O rei, no entanto, já acostumado com o semblante alegre de Neemias, percebeu aquela mudança de ambiente e, mais do que depressa, perguntou-lhe qual era o motivo daquilo, já que, como Neemias não estava doente, aquilo só podia ser tristeza de coração (Ne.2:2).

– A indagação do rei era extremamente perigosa. Como sabemos, o copeiro real era aquele que provava tudo quanto seria consumido pelo rei, a fim de evitar que fosse ele envenenado.

A demonstração de tristeza de coração por parte de Neemias poderia indicar que ele soubesse de alguma trama ou conspiração contra o rei e, como era um servo leal, sua tristeza poderia ser interpretada como um cumplicidade com os inimigos, mesmo uma impotência diante daquilo, que poderia custar-lhe a vida. Eis o motivo pelo qual Neemias “temeu muito em grande maneira”.

– Apesar do perigo de vida que estava a correr, Neemias , naquele momento, sentiu da parte do Senhor que ali estava uma oportunidade para relatar ao rei o deplorável estado de seus compatriotas e, com coragem, disse ao rei que o motivo de sua tristeza era o fato de Jerusalém, a cidade de seus pais, estar assolada e as suas portas consumidas a fogo (Ne.2:3).

O rei, então, vendo a sinceridade do seu copeiro, perguntou-lhe o que Neemias desejava diante daquele quadro.

– Vemos, então, que Neemias, diante de tão grande oportunidade, não se precipitou, mostrando ser pessoa extremamente prudente, uma característica que deve ter todo líder.

Indagado pelo rei o que queria, fez uma oração a Deus, esta, sim, uma “oração-relâmpago”, uma “oração repentina”, mas que, com muita propriedade, Charles Haddon Spurgeon, o príncipe dos pregadores britânicos do século XIX, denominou de “oração fervorosa”.

Nada podemos fazer sem a orientação, a direção e a ajuda do “Deus dos céus”. Neemias havia orado durante quatro meses mas, quando se lhe abriu a oportunidade de fazer seu pedido ao rei, não confiou no poder do rei, a maior autoridade mundial daquele tempo, mas, sim, no “Deus dos céus”.

Temos agido da mesma maneira, amados irmãos? Mesmo quando aparentemente se abrem as portas para nós, temos, apesar de tanto tempo de oração, ainda feito uma “oração fervorosa” para o Senhor?

– Ao término desta oração, com toda certeza o Espírito de Deus deu a Neemias a convicção inabalável de que era ele quem deveria restaurar Jerusalém e, diante disto, o copeiro pediu ao rei que fosse autorizado a ir até Jerusalém e, em nome do rei, reedificasse Jerusalém.

– No pedido de Neemias, verificamos que, embora reconhecesse a Deus como o Senhor de todas as coisas, o copeiro não menosprezou a autoridade de Artaxerxes, bem sabendo lidar com as leis e costumes vigentes na Pérsia.

Ao fazer o pedido, nem sequer mencionou o nome do Senhor, pedindo que o rei, se quisesse e lhe fosse agradável, autorizasse sua ida até Jerusalém para a reedificação da cidade.

– Que importante lição temos com este gesto de Neemias! Ainda que dirigidos e orientados pelo Senhor, ainda que chamados para mudar uma situação secular de injustiça e de desmando, não podemos nos apresentar como rebeldes, insubordinados ou arrogantes diante das autoridades, pois elas foram constituídas por Deus (Rm.13:1) e resistir-lhes no campo de sua competência é resistir a Deus (Rm.13:2).

– Vemos com tristeza, na atualidade, que muitos dos servos de Deus não sabem se relacionar convenientemente com as autoridades. Alguns resolvem se submeter cegamente a elas, inclusive naquilo que fazem em contrariedade à Palavra do Senhor, fazendo-o, não raras vezes, em virtude de interesses escusos e reprováveis.

– Outros, pelo contrário, afrontam-nas, resistindo-lhes naquilo em que estão a fazer precisamente o que lhes é permitido inclusive pela lei de Deus e, nesta afronta, além de resistirem ao próprio Deus, também servem de escândalo na obra de Deus.

Saibamos os verdadeiros limites das autoridades e, naquilo para o que foram elas constituídas, sejamos submissos e obedientes, como foi Neemias.

– O rei Artaxerxes demonstrou ter interesse em atender ao pedido de seu copeiro, mas perguntou a Neemias quando tempo pretendia se ausentar da corte (Ne.2:6). Este, foi, sem dúvida, um importante teste para Neemias.

O rei mostrou-se favorável, prova de que estava o Senhor abrindo as portas para que a obra de reedificação de Jerusalém se realizasse, mas, também, o rei mostrou que não pretendia “abrir mão” de seu servidor.

– Nesta pergunta, também, o rei quis verificar duas coisas muito importantes: se Neemias tinha desejo de se tornar “senhor” de Jerusalém, ou seja, se havia alguma ambição de poder por parte do copeiro e, também, se Neemias tinha ideia do que iria fazer, daí porque ter pedido para que o seu copeiro indicasse um período de ausência.

– Neemias mostra, claramente, ao apontar um certo tempo para o rei, de que não havia apenas se dedicado à oração ao Senhor, mas que, também, procurara se informar a respeito da situação de Jerusalém e do que seria necessário fazer.

Neemias não demonstrou uma “fé cega”, não se deixou levar apenas pelos desejos, mas quis se informar a respeito do que seria necessário para reedificar a cidade, como isso se daria.

– Agir por fé, amados irmãos, não é deixar tudo aos cuidados do Senhor e não se preparar para aquilo que sente ter sido chamado a fazer.

Neemias, em suas orações, recebeu a convicção de que era o homem escolhido por Deus para restaurar a sua nação, por mais que isto fosse algo irrazoável aos olhos humanos, uma vez que era o copeiro do rei e nem sequer tivera contato com os seus compatriotas, embora nem sequer conhecesse ou tivesse estado em Jerusalém alguma vez em sua vida.

É neste ponto que vemos o exercício da fé, quando vemos algo que é invisível, quando esperamos algo que não tem a mínima condição de se nos mostrar ou de acontecer (Hb.11:1).

No entanto, exatamente por vermos o invisível e esperarmos o que, natural e racionalmente, não pode vir a ocorrer, não podemos ficar de braços cruzados, sem nada fazer. Pelo contrário, Neemias, tomado desta convicção, procurou informar-se do estado de coisas e, mais do que isto, a planejar como se daria a reedificação.

Tanto assim é que, quando o rei pede que lhe aponte um tempo, Neemias pôde fazê-lo sem titubeio nem mesmo pedindo “um tempo para pensar”.

– O planejamento é algo que é indispensável para quem quer exercer um papel de liderança, como, aliás, é algo indispensável para toda e qualquer ação inteligente que se queira fazer.

Deus dá-nos o exemplo pois Ele mesmo planejou a salvação da humanidade ainda antes da fundação do mundo (Mt.25:34; Ef.1:4; Ap.13:8; 17:8).

– Neemias, instado pelo rei, como já tinha um planejamento, apontou, de imediato, um certo tempo e obteve dele a autorização para partir.

– Após a autorização real para partir para Jerusalém, numa clara demonstração de que havia planejado o que iria fazer, Neemias pediu ao rei que lhe fossem dadas cartas para os governadores dalém do rio para que lhe dessem passagem até Judá (Ne.2:7).

Vemos, aqui, mais uma vez, como Neemias tinha plena consciência de se submeter a todas as regras e costumes existentes em seu tempo, apesar de ter a convicção de que estava a fazer a vontade do Senhor e de que tinha, agora, a autorização da autoridade máxima da Pérsia, o próprio rei Artaxerxes.

– Entretanto, Neemias sabia que não se pode realizar a obra de Deus de qualquer maneira e de modo irresponsável.

Embora tivesse a autorização do rei, esta autorização deveria ser bem documentada e Neemias haveria de ter um relacionamento correto e legal para com todos os governadores das terras ao longo das terras que separavam a Pérsia (região que hoje corresponde ao Irã) da Terra Prometida.

– O Império Persa é conhecido na história por ser um dos primeiros impérios mundiais que se dotou de uma razoável estrutura administrativa.

O império era dividido em satrapias, governadas por um sátrapa, que era o governador, aquele que, em nome do rei, administrava uma determinada região do império (cfr. Et.1:1).

Assim, Neemias quis se cercar de todos os cuidados para, ao longo da jornada, não ser molestado por qualquer governador e, desta maneira, poder chegar em paz e sem qualquer problema até Jerusalém.

– Como é importante que o servo de Deus se mostre, diante dos homens, de forma correta e insuspeita. Embora tenhamos um relacionamento íntimo com o Senhor, que conhece o nosso coração, nem por isso devemos nos descuidar de nos mostrar, diante dos homens, como pessoas de bem, como pessoas bem-intencionadas, como portadoras de um bom testemunho.

Os homens sem Deus nem salvação não conhecem as realidades espirituais e, por isso, devemos nos mostrar a eles como pessoas de boa índole, como pessoas de bem.

– Além dos cuidados relativos à própria liberdade de locomoção e da demonstração de sua boa índole em sua viagem, perante as autoridades, Neemias também se preocupou em obter do rei os materiais necessários para a construção.

Pediu, então, a Artaxerxes que lhe fosse dada uma carta para Asafe, o guarda do jardim do rei, para que lhe fosse fornecida madeira para cobrir as portas do paço da casa e para o muro da cidade e para a causa em que ele houvesse de entrar (Ne.2:8).

– Devidamente recomendado por cartas do rei, com o material suficiente, Neemias iniciou sua viagem, tendo se apresentado aos governadores dalém do rio.

Além disso, também, foi acompanhado de chefes do exército e cavaleiros que lhe foram fornecidos pelo rei Artaxerxes.

Tanto foi prudente e divinamente orientada a aceitação da soldadesca por parte de Neemias que, em chegando diante dos governadores dalém do rio e apresentando suas cartas, logo surgiu a oposição, visto que, ao tomar conhecimento das intenções de Neemias, Sambalate, o horonita e Tobias, servo amonita, ficaram grandemente desagradados, já que surgira alguém que procurava o bem dos filhos de Israel (Ne.2:10).

– Não se sabe se já nesta oportunidade, quando se apresentou aos governadores dalém do rio, Neemias tomou conhecimento do desagrado de Sambalate e de Tobias, mas isto nos serve de lição de que, sempre que buscarmos o bem dos filhos de Deus, sempre haverá quem se levante com grande desagrado, visto que o

Senhor Jesus foi bem claro ao nos mostrar que as “portas do inferno” jamais deixarão de se levantar contra a Igreja.

Pode ser que não percebamos tal oposição logo ao princípio de nossa atividade em prol dos bens dos filhos de Deus, mas não nos iludamos, sempre haverá a oposição do maligno.

– Nesta palavra, aliás, entendemos qual era a motivação, qual era o objetivo de Neemias: o bem dos filhos de Israel.

Tem sido esta a motivação e o objetivo das ações que temos feito na obra do Senhor? Queremos tão somente “o bem dos filhos de Deus”, ou estamos à procura de outros interesses? Somente poderemos trabalhar para o Senhor Jesus com este mesmo objetivo de Neemias: o bem dos filhos de Deus.

– Devidamente credenciado, com os materiais necessários, Neemias se apresentou aos governadores dalém do rio e depois se dirigiu a Jerusalém, tendo ali ficado incógnito e sem qualquer alarde por três dias (Ne.2:11).

V – NEEMIAS TOMA CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO DE JERUSALÉM E CONVOCA O POVO PARA A OBRA

– Neemias chegou a Jerusalém sem qualquer estardalhaço. Discreto, ciente de que era escolhido de Deus para aquela obra, não quis se apresentar como “o tal”, como o “restaurador”.

Todo servo de Deus deve ter humildade e aguardar o momento certo em que o Senhor o apresentará na posição de liderança.

Muitos, infelizmente, ainda que chamados por Deus para serem líderes, querem “aparecer”, querem se sobressair, cuidando para que seu “marketing pessoal” seja estabelecido o quanto antes, esquecendo-se que, na obra do Senhor, a propaganda não é a alma do negócio.

– Neemias ficou três dias em silêncio após ter chegado a Jerusalém. Não nos diz o que fez neste período, mas podemos deduzir que tenha buscado a Deus, como era seu costume, bem como que revisitara todo o seu planejamento.

Findos os três dias, de noite, levantou-se e, na companhia de poucos homens, sem declarar a ninguém o que Deus havia posto em seu coração para fazer em Jerusalém, saiu para ver “in loco” a situação (Ne.2:12).

– Neemias dá-nos aqui preciosas lições de que como devemos agir na obra do Senhor. Por primeiro, não se pode ficar a alardear aquilo que recebemos em nossa intimidade com o Senhor.

Neemias havia recebido de Deus uma incumbência e havia recebido esta incumbência, esta tarefa em sua busca particular de Deus quando ainda estava em Susã.

Ora, aquilo que é fruto de nossa intimidade com Deus não deve ser propalado aos quatro cantos da Terra.

– Temos de ter um relacionamento íntimo com o Senhor e este relacionamento deve se manter particular, entre nós e Deus.

Neemias bem sabia o que devia fazer, mas não foi proclamando em alto e bom som quando chegou a Jerusalém.

Ele não conhecia as pessoas, nem tampouco a cidade, por isso, antes que pudesse divulgar parte daquilo que o Senhor lhe dissera (pois nem tudo era para ser revelado), precisava “tomar pé da situação”.

– Neemias tinha feito um planejamento em Susã, dentro daquilo que Deus pusera em seu coração, mas ainda não havia tido uma experiência seja com o povo seja com o próprio local em Jerusalém.

Um líder não pode ser apenas um teórico, alguém que trabalha única e exclusivamente com a sua mente e seu homem interior, mas precisa ter contato com a situação real e com o povo que irá liderar.

Não é por outro motivo que a Bíblia denomina de “pastores” aos líderes do povo de Deus (Jr.2:8; 3:15; 10:21; 23:1; Ez.34:7-10; Ef.4:11; Hb.13:7,17).

O pastor não tem apenas uma liderança mental e contemplativa, mas é necessário que ele “apascente as ovelhas”, ou seja, que se mantenha em constante contato com seus liderados, que as conheça particularmente, que conviva com elas.

OBS: costumava dizer que ser pastor não é ser “almofadinha”, alguém que fica apenas em seu gabinete e que, com sua “malinha 007” passa sem nem sequer cumprimentar as pessoas que alega apascentar, como, infelizmente, temos visto muito por aí…

– Neemias, então, precisava fazer um “levantamento de campo”, saber o real estado dos muros e das portas de Jerusalém, a fim de que, só então, com a devida verificação do seu planejamento, feito com as informações obtidas em Susã, pudesse revelar seus intentos ao povo de Jerusalém, povo que havia observado durante estes três dias.

– Como é importante ouvir e observar antes de falar. Já vimos que Neemias era um bom ouvinte e, uma vez mais aqui, demonstra esta importante qualidade, indispensável para quem quer liderar.

O líder não é aquele que manda, mas, sim, “aquele que leva os demais” a uma direção: “…a função do verdadeiro líder é identificar-se com o que está para fazê-lo cada vez melhor.(…).

O líder não deve apenas estudar os assuntos que se lhe apresentam, mas vivê-los para com eles vibrar e poder falar a ponto de suscitar a inteligência em seus mais rudes liderados.

Assim, a obra poderá ser vivenciada e desejada em seus corações…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Os dez mandamentos de um líder idôneo para o século XXI, p.18).

– Neemias, então, na companhia de poucas pessoas, pessoas de sua mais estrita confiança, de noite, para que ninguém o visse, nem mesmo de animais, tendo apenas utilizado um para sua própria montaria, foi até os muros e portas de Jerusalém, para verificar o estado em que se encontravam.

– É fundamental que, antes de iniciarmos a fazer a obra que o Senhor pôs em nosso coração, tenhamos um amplo conhecimento da situação que iremos enfrentar.

Apesar de todas as informações que angariemos, é imperioso que nós mesmos vivenciemos a situação, para que, diante de nossa experiência, possamos bem realizar a tarefa que nos foi dada pelo Senhor.

É certo que Deus, na Sua infinita misericórdia, sempre há de revelar aquilo que não formos capazes de descobrir, mas aquilo que pudermos levantar e experimentar, o Senhor não o fará por nós.

– Saindo pela porta do vale, para a banda da fonte do dragão e para a ponta do monturo, Neemias contemplou os muros de Jerusalém e pôde verificar que estavam fendidos e que suas portas tinham sido consumidas pelo fogo (Ne.2:13).

Interessante verificarmos que ele foi em direção à porta do monturo, ou seja, à porta do lixo (a Tradução Brasileira fala em “entrada do esterco”), certamente o lugar mais fétido e pior de toda aquela deplorável situação, numa demonstração de que, quando queremos conhecer a situação real, temos de ir ao pior lugar.

Trata-se de uma verdadeira experiência, de uma real vivência da situação, não uma “amostragem” que busque tão somente uma “meia verificação” do que está a ocorrer.

– Mas Neemias não ficou apenas na “porta do monturo”. Também foi até a porta da fonte e ao viveiro do rei, que eram, presumivelmente, lugares mais aprazíveis, lugar da água, onde se encontrava o “açude do rei”(como nos fala a Versão Almeida Revista e Atualizada).

Não se pode fugir do pior ponto da situação para se conhecer a realidade, mas não se pode ficar apenas neste local, é preciso também ver os lugares melhores. É preciso ter uma visão global, total, não baseada em estimativas, mas em reais experiências.

– A porta do vale e o viveiro do rei, que eram os “melhores” lugares daquela caótica situação, estavam em estado tão precário, tão ruim que não havia lugar por onde pudesse passar a cavalgadura que estava debaixo de Neemias.

Observemos: o que seria o melhor lugar não tinha sequer espaço para que um animal ali passasse, tamanha era a presença de monturo e de ruínas no local.

– Como não podia passar por ali, Neemias subiu pelo ribeiro e contemplou o muro, tendo, então, voltado e entrado pela porta do vale, a mesma porta por onde havia saído (Ne.2:15).

Neemias fez esta inspeção “in loco” sem qualquer comentário, sem abrir a sua boca. Não só os poucos homens que o acompanhavam não puderam saber o que estava a fazer e o que significava aquilo, como também não contou Neemias o que fizera a ninguém, nem aos magistrados, nem os nobres, nem aos judeus em geral (Ne.2:16).

Neemias mantinha silêncio total, porque não era hora de falar, mas, sim, de ver e ouvir tudo quanto estava a ocorrer.

– Verificada a situação, devidamente reajustado o planejamento que havia sido feito anteriormente, ante a contemplação da realidade, Neemias, então, chamou os magistrados, os nobres, os judeus e os que faziam a obra para uma reunião.

Notemos que Neemias chamou todos os interessados, sem fazer acepção de pessoas. Para que tivesse êxito, Neemias tinha de ter o consentimento de todos.

– Neemias não impôs coisa alguma ao povo judeu, embora tivesse poder e autoridade, tanto da parte de Deus quanto da dos homens, para fazê-lo.

Preferiu obter o apoio e a adesão dos judeus e, por isso, convocou esta reunião, onde, na presença de todos, desde os magistrados, passando pelos nobres, até os judeus em geral, fez uma análise da situação e conclamou o povo à obra.

OBS: “…Um dos meios, e o mais apropriado para o líder conseguir esse objetivo, é promover reuniões producentes com os seus liderados.

Essas reuniões dão a oportunidade aos subordinados de apresentar suas queixas e suas dificuldades, além de fazer sugestões e ouvir as opiniões de seus colegas, em relação aos problemas gerais enfrentados e resolvidos pelo grupo.

Tem ainda a vantagem de colocar a liderança, democraticamente, diante de seus subordinados, para colocá-los a par dos planos emergentes da obra e integrá-los.

Passarão, assim, a cooperar com convicção no projeto do superior, deixando de ser, apenas, cumpridores de ordens.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. op.cit., p.41).

– Neemias não “dourou a pílula”. Foi bem enfático: “bem vedes a miséria em que estamos” (Ne.2:17). Uma das características do líder é o de dizer necessariamente a verdade.

Na obra de Deus, então, que é a própria Verdade (Jr.10:10), não há como sermos bem sucedidos se não falarmos e mostrarmos a verdade.

– Neemias foi direto ao ponto: o povo judeu vivia um estado de miséria. Se não reconhecermos a nossa situação real, se não assumirmos a nossa integral e total dependência de Deus, jamais poderemos triunfar na obra do Senhor.

Aliás, se não assumirmos a nossa maldade e depravação, nem sequer conseguiremos ser salvos. Não nos esqueçamos de que uma das poucas pessoas que saiu da presença de Cristo Jesus sem a salvação foi o mancebo de qualidade, precisamente porque ele se achava bom (Mt.19:16-22; Mc.10:17-22; Lc.18:18-23).

– Neemias disse que Jerusalém estava assolada e suas portas queimadas a fogo. Bem mostrou, pois, o quadro de caos que vigorava, mas não se limitou a dar o correto diagnóstico da situação.

Muitos até se saem bem quando o assunto é falar da situação real. Bem investigam (como deve fazer todo justo, pois quem não investiga é o ímpio – Sl.10:4), mas se limitam a dar a imagem do caos.

Neemias, porém, não viera para desanimar ou simplesmente engrossar o lamento dos judeus. Após ter falado francamente a respeito da situação, traz a mensagem de esperança: “vinde, pois, reedifiquemos o muro de Jerusalém e não estejamos mais em opróbrio” (Ne.2:17).

– Neemias, então, revela parte do que Deus havia posto em seu coração e convida o povo a se juntar a ele para reedificar o muro de Jerusalém e mudar a situação de opróbrio que estavam a viver.

Notemos que Neemias usa apropriadamente a primeira pessoa do plural: “reedifiquemos” e “não estejamos em opróbrio”. Neemias não veio dar ordens, mas chamar o povo para que, com ele, mudasse a situação.

Neemias põe-se, desde já, como um dos envolvidos na obra que era proposta, o que, certamente, representou uma surpresa e um nítido incentivo para os judeus, pois, afinal de contas, Neemias, que nem sequer morava ou conhecia Jerusalém, tudo deixara em Susã para se irmanar com os seus compatriotas.

– Após ter se identificado com todos os judeus, Neemias, então, dá o seu testemunho diante do povo, mostrando que ali estava não por vontade própria, mas por determinação divina (Ne.2:18).

É necessário que o líder dê o seu testemunho de chamada, que mostre aos que estão à sua volta que é o escolhido para estar à frente do povo (e isto que significa “presidir”, ou seja, “estar à frente”), mas tal declaração, sabiamente, foi feita por Neemias depois que tinha já tomado conhecimento da situação real, tanto do povo quanto da cidade desolada.

Esta declaração foi feita a todo o povo, pois Neemias reconhecia que estava diante do povo de Deus, do povo tão amado pelo Senhor que o trouxera de Susã para a realização daquela obra.

Também devemos, enquanto líderes, falar aos nossos liderados em conjunto, pois, se fomos chamados por Deus, não podemos nos esquecer que o mesmo Espírito Santo que habita em nós, também habita naqueles que serão liderados.

Não pode haver “segredos” quanto a este assunto, pois o Espírito hoje habita em todos os salvos. Por isso, duvidemos daqueles que respaldam sua liderança em “visões”, “revelações” que são inalcançáveis aos demais crentes.

– Neemias, apesar de se apresentar como chamado pelo Senhor para esta obra, não tirou a devida glória ao Senhor.

Disse que o Senhor lhe fora favorável, reconhecendo que dependia de Deus para a execução daquela tarefa.

Neemias era o líder chamado por Deus, mas não se portava como um “super-homem”, pois, efetivamente, não o era.

O líder está à frente do povo, mas não está acima do povo, pois acima do povo só pode estar um: o Senhor.

– Além de se apresentar como chamado por Deus, Neemias também teve a preocupação de mostrar ao povo que ali estava com expressa autorização do rei Artaxerxes.

Neemias, em momento algum, queria dar a mínima suspeita de rebelião ao domínio persa. Tinha consciência de que o Senhor havia posto o povo debaixo do jugo da Pérsia e que não havia qualquer demonstração, da parte do Senhor, de alterar esta situação política.

Por isso, bem disse para o que tinha vindo: reedificar os muros de Jerusalém e tirar o povo judeu daquela miséria.

Era isto e nada mais! Jamais percamos o foco da chamada que Deus nos deu e da tarefa que deveremos desempenhar junto com os demais irmãos.

– O povo judeu reconheceu a integridade e a coragem daquele homem e, a uma só voz, animou-se e aderiu ao projeto: “Levantemo-nos e ediquemos”.

Não temos porque, diante do chamado do Senhor, acharmos que não seremos correspondidos pelos autênticos e genuínos servos de Cristo Jesus.

Se fomos chamados, o mesmo Espírito que nos chamou também irá agir naqueles que serão os liderados e todos, juntos, faremos a obra do Senhor.

– Todos resolveram aderir à proposta de Neemias, porque sabiam que aquele esforço era “para o bem”.

Também, neste mundo, nós, como servos do Senhor Jesus, devemos, como Ele, “andar fazendo bem” (At.10:38).

Devemos deixar bem claro a todos que nos cercam que nosso esforço é “para o bem”, sem qualquer outro interesse. Temos agido desta maneira?

– Observemos, ainda, que este bem, ainda que querido por Deus, que, inclusive, criara todas as condições para que a obra fosse possível, dependia do esforço de todos.

Bem ao contrário do que dizem os triunfalistas e os teólogos da prosperidade, nada viria “de mão beijada” para o povo judeu.

Eles teriam de se esforçar, de fazer aquela grandiosa obra. Deus não estava pronto a num passe imediato fazer os muros de Jerusalém se levantarem, assim como haviam caído os muros de Jericó.

Não nos iludamos, amados irmãos: Deus não é nosso empregado, não é nosso serviçal. Ele faz o que ninguém poderia fazer (como capacitar alguém como Neemias e tirá-lo de Susã para liderar o povo em Jerusalém), mas não faz aquilo que podemos fazer (reedificar os muros e as portas de Jerusalém).

– Assim que todos se comprometeram a reedificar os muros de Jerusalém e a mudar a situação de miséria do povo, não demorou muito para que os inimigos se levantassem.

– É sempre assim, como já tivemos ocasião de dizer neste estudo. Tendo sabido do comprometimento do povo, ainda que só por informações, Sambalate, Tobias e Gesem, o arábio (percebem como já aumentou o número de inimigos, de dois passamos para três), zombaram dos judeus e os desprezaram, acusando-os de querer rebelar-se contra o rei da Pérsia (Ne.2:19).

– Não nos deteremos aqui na atuação dos inimigos de Neemias, pois analisaremos minudentemente esta oposição na lição 9, mas, desde já, podemos verificar que a oposição do inimigo não tarda quando há disposição do povo de Deus para realizar uma obra querida pelo Senhor. Não podemos, portanto, nos assustar e nos intimidar quando vêm as zombarias, os desprezos e as calúnias do adversário de nossas almas.

– Nossa reação deve ser a mesma de Neemias que, sem se importar com a oposição, deu testemunho de que “o Deus dos céus é que nos fará prosperar” e que os judeus, que eram servos do Senhor, se levantariam e edificariam Jerusalém uma vez mais (Ne.2:20).

– Além disto, Neemias foi bem claro ao mandar dizer aos inimigos que “eles não tinham parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém”.

Neemias continuou sendo fiel à verdade e não teve preocupação alguma em agradar aos homens.

Aqueles homens eram de nações inimigas de Israel, não queriam o seu bem, nunca o tinham querido e, inclusive, tinham prazer em contemplar a situação deplorável em que se encontrava o povo judeu.

Por isso, não tinham “parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém” e, desta maneira, não poderiam cooperar com aquela obra.

– Precisamos ter o mesmo discernimento de Neemias. A obra que ele haveria de realizar é “para o bem dos filhos de Israel” e, deste modo, somente poderia contar com a colaboração e participação dos filhos de Israel.

Era uma obra que Deus estava a fazer com o Seu povo e, portanto, não podia, de forma alguma, ter a participação de quem não pertencia ao povo de Deus.

– Precisamos ter esta compreensão quando começamos a realizar a obra de Deus. Nela não tem parte, nem justiça nem memória aqueles que não pertencem ao povo do Senhor.

Quanto prejuízo temos causado ao Senhor quando permitimos que inimigos de Deus venham a cerrar fileira ao nosso lado?

Não nos esqueçamos dos malefícios causados pelo “vulgo”, pela “mistura de gente” que saiu do Egito juntamente com Israel (Ex.12:38; Nm.11:4), bem como os povos que habitavam em Canaã e que foram poupados pelos israelitas na conquista da terra (Jz.2:3).

– Neemias não os amaldiçoou, nem tampouco lhes declarou guerra, mas simplesmente disse que aquela obra era uma obra exclusiva para o povo de Deus. Que assim também procedamos para que tudo seja feito conforme a vontade do Senhor.

VI– A CONCLUSÃO DA OBRA

– Não se deixando levar por todos os estratagemas do inimigo, que serão estudados em lição própria, Neemias pôde ver concluída a obra, o que se deu no dia vinte e cinco de Elul, num prazo recorde de cinquenta e dois dias (Ne.6:15).

Não tendo dado lugar ao inimigo, não se distraindo com as artimanhas dos adversários, não se deixando enganar com os ardis, que não ignorou nem um só momento, Neemias alcançou a vitória. Assim também, se procedermos da mesma maneira, também seremos vitoriosos.

– O resultado da conclusão da obra foi muito maior do que poderiam imaginar Neemias e o povo judeu. Ao saberem todos os gentios que a obra fora concluída em prazo tão exíguo, abateram-se em seus próprios olhos, porque reconheceram que Deus fizera aquela obra (Ne.6:16).

– Sem ir ao vale do Ono, sem temer pela sua própria vida, sem se distrair com as diversas artimanhas do inimigo, Neemias concluiu a obra e a conclusão da obra, a realização da vontade do Senhor trouxe a paz que se prometia na descida ao vale do Ono e, mais do que isto, trouxe a glorificação do nome do Senhor, pois foram os gentios que reconheceram que a obra se fez por Deus e não pelos judeus nem tampouco por Neemias.

– É isto que temos de entender enquanto estamos sobre a face da Terra fazendo a obra do Senhor. Não podemos titubear, nem deixar nos enganar pelo inimigo de nossas almas, que sempre está a se opor ao que fazemos para Deus.

Temos de prosseguir realizando aquilo que Deus nos mandou, sem vacilação, numa constante vigilância, com amor e dedicação, em oração e meditação nas Escrituras. Quando a obra se concluir, os homens saberão que foi Deus quem o fez e o glorificarão por causa de nossas boas obras.

Muitos, no entanto, não compreendem esta situação e se embaraçam com as coisas desta vida, inquietam se com os movimentos do inimigo e deixam de fazer a obra de Deus que, desta maneira, não é concluída.

Deus é quem faz a obra, Ele é que será glorificado, mas depende de nossas mãos para que ela se realize. Sem que nos disponhamos a realizar a obra, ela não se fará e o nome do Senhor não será glorificado.

– Muitos, ainda, diante da pressão externa, atemorizam-se e fogem, deixando de fazer a obra. Nestes casos, também, a obra não será feita e o resultado é que o nome do Senhor também não é glorificado.

– Outros, por fim, no meio da obra, dela se desviam, passam a trabalhar contra ela, por amor do dinheiro e seduzidos pelas ofertas apresentadas pelos inimigos.

Estes, além de não poderem impedir a obra de ser realizada, em vão buscarão uma glória própria, pois a obra de Deus somente permite a glorificação do Senhor.

– Todos têm se unido contra Deus e o Seu Cristo (Sl.2:1-3) e parece mesmo que não há mais condições para que a Igreja, que é o corpo de Cristo, possa subsistir.

No entanto, diz-nos o texto sagrado, que “Aquele que habita nos céus Se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na Sua ira, e no Seu furor os confundirá”

(Sl.2:4,5). Estamos, ainda, no tempo da graça, não é momento ainda da manifestação da ira divina, que somente se iniciará com o arrebatamento da Igreja.

– Assim, o que nos resta a fazer? O salmista mesmo responde: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra.

Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que Se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a Sua ira; bem-aventurados todos aqueles que n’Ele confiam” (Sl.2:10-12).

– Diante desta grande “conspiração” do inimigo contra nós, os que estamos a edificar, com o Senhor Jesus, a Sua Igreja, sejamos prudentes e aprendamos com o Senhor Jesus.

Sirvamos a Ele e O adoremos, cumprindo a Sua vontade e, assim como Neemias e os judeus concluíram a obra da reedificação de Jerusalém, também concluiremos as nossas tarefas e alcançaremos a bem-aventurança eterna por termos confiado no Senhor. Amém!

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5538-licao-6-neemias-reconstroi-os-muros-dde-jerusalem-i

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