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LIÇÃO Nº 6 – O EXEMPLO PESSOAL NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

 lição 05

A autoridade dos pais está baseada no exemplo que dão aos filhos.

INTRODUÇÃO

 Na sequência do estudo do livro de Provérbios, estudaremos hoje o que este livro nos fala sobre a educação dos filhos.

– A autoridade dos pais está baseada no exemplo que dão aos filhos.

 – O PAPEL DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

 Na sequência do estudo do livro de Provérbios, hoje abordaremos o que este livro sapiencial nos ensina a respeito da educação dos filhos, tema muito presente nos ensinos trazidos por Salomão. – Antes de adentrarmos ao que o livro de Provérbios nos fala a respeito, de forma sucinta, como temos feito ao longo do trimestre, abordaremos, em linhas gerais, o que a Bíblia Sagrada nos fala a respeito da educação dos filhos.

– Com relação a este tema, é importante frisarmos que o Senhor, ao instituir a família, estabeleceu como regra a ser observada a procriação. O segundo propósito que Deus deu ao primeiro casal, após a criação da família, foi a de se multiplicar, ou seja, ter filhos (Gn.1:28). – Já vimos, na lição 2, que um dos objetivos pelos quais Deus fez o ser humano sexuado foi, precisamente, o de promover a reprodução, ou seja, a perpetuação da espécie através da criação de novos seres, seres estes que são precisamente os filhos.

– Os seres humanos, portanto, foram feitos para procriarem, para se tornarem pais e, como tal, transmitirem às novas gerações, todo o conhecimento, tudo o que tenham aprendido, a fim de que as gerações subsequentes prossigam nas tarefas dadas por Deus ao homem, este administrador da criação terrena.

– A paternidade apresenta-se, assim, como mais um aspecto de imagem e semelhança de Deus. Os pais devem ensinar seus filhos a como se conduzir neste mundo, a como exercer o papel que Deus reservou à humanidade e, nesta tarefa de ensino e instrução, assemelham-se a Deus, Ele próprio chamado de Pai, precisamente porque é o Criador e o Instruidor dos homens (Hb.12:7-9).

Obs: O Alcorão tem um pensamento interessante, indicando que uma prole, assim como as riquezas, constituem também em uma prova que Deus põe ao homem para verificar a sua obediência a Deus. Eis o versículo: “E saei que vossas riquezas e vossos filhos vos sã provação e que, junto de Allah, há magnífico prêmio” (8:38) (Trad.Helmi Nasr)

– Não é, portanto, senão a ordem natural das coisas que, quando da entrega da lei ao povo de Israel, tenha o Senhor determinado que coubesse aos pais a tarefa de instruir os filhos, de ensinar-lhes a lei de Moisés (Dt.6:6-9; 11:18-20), tarefa que era prioritária e que só subsidiariamente seria exercida pelos sacerdotes e levitas na leitura septenal da lei (Dt.31:9-13).

 – Eis a razão, aliás, porque o homem, sendo a coroa da criação terrena, nasce sem qualquer conhecimento, tendo de ser educado ao longo de seu crescimento, algo que não ocorre com os seres irracionais que, ou já “nascem sabendo”, ou, então, tem um período muito curto de aprendizado junto a seus procriadores. Tal se dá porque, na tarefa árdua do ensino e da instrução, os pais se assemelham a Deus, já que são Sua imagem e semelhança, o que não ocorre com as demais criaturas terrenas.

– A relação de paternidade, portanto, ao ser estabelecida no seio familiar, traz-nos mais um aspecto da imagem e semelhança de Deus, a nos indicar que a família é, mesmo, este reflexo do que existe na eternidade, o ambiente propício para que haja a manifestação divina, eis que é verdadeira “sombra” do que existe na glória divina.

– É importante vermos que o primeiro casal se desincumbiu desta tarefa, tanto que, sem que houvesse qualquer orientação divina, Caim e Abel, os primeiros filhos do casal, são apresentados adorando a Deus, prova de que foram ensinados a tanto pelos seus pais, que, assim, exerciam a sua tarefa de ensino e instrução às gerações subsequentes, ensino e instrução que começam, necessariamente, pelo mais importante assunto, que é o nosso relacionamento com Deus, a nossa vida espiritual.

– Este estado de coisas não se modificou com a vinda de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Ele próprio um exemplo de filho, que se sujeitava a Seus pais terrenos (Lc.2:51). O Senhor, como ninguém, enfatizou a Deus como nosso Pai bem como aos Seus servos como filhos, crianças mesmo, e, assim, revelou, em toda a sua inteireza, a natureza do relacionamento entre pais e filhos.

– Por fim, vemos que o Novo Testamento reafirma a ideia de que os pais devem ser os primeiros a instruir seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:4), mantendo, assim, incólume aqui que havia sido estabelecido desde o princípio por Deus com relação a este assunto. OBS: Oportuno aqui reproduzir o que diz o Código de Direito Canônico da Igreja Romana, a respeito: “Os pais, tendo dado a vida aos filhos, têm a gravíssima obrigação e gozam do direito de educá-los; por isso, é obrigação primordial dos pais cristãos cuidar da educação cristã dos filhos, segundo a doutrina transmitida pela Igreja…” (cânon 226, § 2º).

“Os pais e os que fazem suas vezes têm a obrigação e o direito de educar sua prole…” (cânon 793, § 1º). “Os pais têm o gravíssimo dever e o direito primário de, na medida de suas forças, cuidar da educação, tanto física, social e cultural, como moral e religiosa, da prole (cânon 1136).

– Por isso, os pais são dignos de honra, respeito e obediência. Sendo a sua tarefa um trabalho que os faz semelhantes a Deus, verdadeiros “representantes” de Deus no ensino e instrução no lar, os pais merecem a devida honra por parte dos filhos, são dotados de autoridade dada diretamente por Deus. – Dos dez mandamentos proferidos por Deus no monte Sinai ao povo de Israel, o quinto mandamento, o primeiro que diz respeito ao relacionamento entre os homens, é, precisamente, o que manda honrar pai e mãe (Ex.20:12; Dt.5:16).

Trata-se de um “mandamento de transição” entre o relacionamento com Deus e o relacionamento entre os homens, pois, embora estabeleça uma regra de relação entre seres humanos, tal relacionamento traz, como consequência, uma ação direta de Deus, qual seja, o prolongamento da vida, uma promessa, como indica o apóstolo Paulo (Ef.6:2), a nos mostrar a gravidade deste dever de honra e como ele traz impacto direto no relacionamento da pessoa com Deus.

– A posição dos pais, portanto, não é uma posição qualquer. Trata-se de um múnus dado pelo próprio Deus, que os faz copartícipes não só da criação de uma vida (o que já é uma circunstância de altíssimo valor, quase que um compartilhamento de glória), como também da tarefa de ensino e instrução.

Os pais assumem, deste modo, uma tarefa de participação em a natureza divina, que os habilita a serem honrados, respeitados, obedecidos e portadores de bênçãos aos filhos. – Esta posição assumida pelos pais sempre foi realçada na cultura humana, e ainda o é em muitos países, notadamente os orientais.

Na cultura ocidental, entretanto, isto se tem perdido de forma preocupante, perda esta que foi, inclusive, assimilada pelos que cristãos se dizem ser. Aquele velho costume da bênção dos pais aos filhos quando do encontro com eles já não mais se pratica, embora seja uma atitude que nos faz sempre lembrar qual o lugar que Deus reservou aos pais na ordenação ética da humanidade. Que tal recuperarmos tais condutas?

OBS: O livro apócrifo do Eclesiástico mostra-nos o valor que tem a bênção paterna. Embora não seja texto inspirado, traz um princípio que era acolhido pelo povo judeu e que está conforme a Palavra de Deus, razão pela qual o reproduzimos aqui, na Versão do Centro Bíblico Católico dos Monges de Maredsous: “A benção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces” (Eclo.3:11,12).

– Deus dá, portanto, aos pais, uma autoridade para que exerçam a tarefa de ensino e instrução. Tal autoridade, no entanto, deve ser baseada no exemplo pessoal para que possa dar resultado, para que possa ser legitimamente exercida. – O próprio Deus constitui-Se em exemplo a ser seguido pelo homem e, portanto, ao fazer os pais como copartícipes nesta tarefa de ensino e instrução, também deles exige que sejam exemplo para os seus filhos.

– Na determinação da tarefa de ensino e instrução da lei de Moisés, o Senhor deixa isto bem claro ao afirmar que, antes de ensinar os filhos, os pais deveriam ter a lei em seus corações (Dt.6:6; 11:18). – Somente depois que a lei estivesse nos corações e nas atitudes dos pais é que eles poderiam “intimá-las” a seus filhos (Dt.6:7), lembrando-se que “intimação” é a comunicação que uma autoridade faz para que alguém compareça à sua presença ou realize uma determinada ação. Os pais somente terão autoridade para falar a seus filhos que cumpram a vontade de Deus se eles próprias a estiverem cumprindo.

– Jesus era diferente em Seu ensino com relação aos escribas e fariseus, não pelo que ensinava, pois, como gostam sempre de mostrar os rabinos judeus, o Senhor não trouxera novidade alguma com relação ao teor dos ensinos que, há algumas décadas, estavam a ensinar os discípulos de Hillel e de Shammai, os grandes sábios e líderes das escolas rabínicas no tempo de Cristo.

– A diferença que havia entre os ensinos de Jesus e dos escribas e fariseus repousava na autoridade que a multidão percebia haver em Jesus (Mt.7:28,29). E de onde vinha a autoridade? Alguém pode dizer: “do Espírito Santo que pousou sobre o Senhor quando de seu batismo por João” (cfr. Mt.3:16). Sem dúvida alguma, a unção de Jesus com o Espírito Santo foi fundamental para que o Senhor proferisse os ensinos que proferiu.

– No entanto, esta “autoridade interna” era imperceptível da multidão que O estava a ouvir.O que fez com que o povo admirasse a Cristo e o distinguisse dos escribas e fariseus foi o exemplo que Jesus dava, fazendo o que ensinava. É o que nos diz Lucas no introito do livro de Atos, quando nos mostra que, durante Seu ministério terreno, o Senhor não só ensinava, mas, antes de ensinar, fazia o que ensinava (At.1:1). Ao revés, os escribas e fariseus, na cadeira de Moisés, tão somente ensinavam, mas não faziam (Mt.23:2,3).

– Era no exemplo, portanto, que o Senhor Jesus adquiriu autoridade perceptível aos olhos da multidão e que levou à sua admiração e ao sentimento de autoridade de Seus ensinamentos. O mesmo deve se dar com relação aos pais, sem que eles possam viver a sã doutrina, seguir efetivamente ao Senhor Jesus, jamais poderão se desincumbir exitosamente da tarefa de ensino e instrução dos seus filhos que o Senhor lhes comete.

– Vivemos dias em que os pais não estão a se desincumbir da tarefa de ensino e instrução dos filhos, seja no aspecto do relacionamento com Deus, da vida espiritual, seja no aspecto da vida secular. – Os pais têm abdicado deste dever que lhes foi dado pelo próprio Deus e deixado que seus filhos sejam riados por babás, creches, avós, escolas e pelos meios de comunicação de massa, com deletérios resultados para a sociedade, como se tem visto claramente nos últimos anos, com o total desencaminhamento de nossas crianças, adolescentes e jovens, inclusive entre os que cristãos se dizem ser.

 – O pouco que tem sido feito nesta área pelos pais, ademais, tem sido de pequeníssima repercussão, precisamente porque os pais não dão qualquer exemplo aos seus filhos, especialmente no que tange à vida espiritual. OBS: Oportuno aqui transcrever o que diz a respeito o Código de Direito Canônico da Igreja Romana: “Antes de quaisquer outros, os pais têm obrigação de forma, pela palavra e pelo exemplo, seus filhos na fé e na prática da vida cristã…” (Cânon 774, § 2º).

– Como ensinar os filhos que se deve manter uma vida de oração e de meditação nas Escrituras, se os pais não oram nem leem a Bíblia? Como ensinar os filhos que se deve buscar primeiramente o reino de Deus e a justiça se os pais estão numa desenfreada corrida pela aquisição de bens materiais, a ponto, inclusive, de não terem tempo sequer de reservar algumas horas por dia para dar atenção aos seus filhos? Assim, realmente, fica difícil cumprir o dever cometido por Deus aos pais!

– É neste quadro tão distante, contrário mesmo ao que estatuem as Escrituras Sagradas a respeito da educação dos filhos, que veremos o que Provérbios tem a nos ensinar a respeito deste importante assunto.

II – OS CONSELHOS PATERNAIS

– A importância do papel dos pais, como visto supra, já explica porque o livro de Provérbios, cujo objetivo é ensinar como saber viver sobre a face da Terra, dedica-se a este tema largamente. É evidente que, tendo os pais sido escolhidos por Deus para que fossem os mestres de seus filhos, o saber viver abarcasse a questão da educação dos filhos.

– Mas o livro de Provérbios já começa como sendo, ele próprio, um “conselho paternal”, ou seja, a própria estrutura do livro se apresenta como um ensinamento de pai para filho, sendo esta a própria textura da primeira parte do livro, que abarca os nove primeiros capítulos.

– A própria instrução é apresentada, pois, como sendo um “conselho paternal” e, por isso, temos aqui treze discursos em que um pai ensina seu filho a como viver sobre a face da Terra. São os discursos introduzidos pela expressão “filho meu”, a nos mostrar, portanto, que são os pais que devem ensinar os filhos sobre como saber viver durante esta jornada terrena.

– O primeiro discurso ao “filho meu” inicia-se com uma afirmação que sintetiza a necessidade do exemplo como fonte de autoridade para a educação: “Filho meu, ouve a instrução de teu pai e não deixes a doutrina de tua mãe” (Pv.1:8).

– O ensino é do pai e da mãe, é fundamental que o filho siga o que lhe for ensinado pelos seus pais e este seguimento só é possível mediante o exemplo, pois as palavras são mais fracas que as atitudes. – Neste primeiro discurso, a propósito, quando o proverbista fala a respeito da necessidade de não consentirmos com os pecadores, mostra que os pecadores convidam o filho a cometer as mesmas atitudes que eles cometem, façam o mesmo que eles (Pv.1:10-16), a comprovar que o aprendizado vem pelo exemplo, pela imitação do que é feito e não pelo guardar na memória do que é falado, máxime quando o que é falado não é praticado.

– Esta ideia do exemplo fica nítida na sétima série de discursos do “filho meu”, no início do capítulo 4 de Provérbios, que é, aliás, a leitura bíblica em classe desta lição. Ali, os pais se dirigem aos filhos, pedindo-lhe que ouvissem a sua correção e estivessem atentos para conhecerem a prudência, porque os próprios pais tinham sido filhos exemplares, que haviam aprendido as lições que haviam sido dadas pelos seus próprios pais (Pv.4:3,4). – Se queremos ser honrados por nossos filhos, devemos, antes de mais nada, honrar os nossos pais, mostrar a nossos filhos como temos honrado e obedecido aos seus avós e, naturalmente, eles estarão a nos obedecer e honrar pelo exemplo que lhes estamos dando.

 – Como poderemos dizer que os nossos ensinos são “boa doutrina” (Pv.4:2), se não fazemos aquilo que ensinamos? Como podemos ensinar nossos filhos que não se deve falar mal dos outros, se, à mesa, estamos sempre a falar mal de alguém? Como podemos dizer que a igreja é o melhor lugar que se deve frequentar, se, em nossas conversas em casa, somente atacamos os irmãos, os ministros do Evangelho e apontamos os defeitos dos que frequentam a igreja?

– Como poderemos dizer que a comunhão com Deus é o essencial, que existe uma eternidade à nossa espera, se somente falamos em adquirir bens, em “estar na moda”, que ocupamos nosso tempo buscando as coisas terrenas, vendo o que não edifica nos meios de comunicação de massa, se não paramos um instante sequer em nossos lares para apresentar um culto ao Senhor?

– Como poderemos dizer que se deve amar o próximo como a nós mesmos, se nós nem sequer passamos algum tempo com nossos filhos, pensando apenas em saciar nossos desejos, em cumprir nossas obrigações e termos o merecido descanso, vivendo como se nossos filhos nem sequer existissem? – Como poderemos dizer que a justiça e a verdade são base de qualquer relacionamento humano, se somos injustos com nossos filhos, se somos injustos com os que nos circundam (inclusive para protegermos nossos filhos em seus erros), se vivemos a mentir e a enganar?

– Exsurge aqui talvez o mais conhecido provérbio que trata da educação dos filhos, a saber, Pv.22:6:“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele”.

– Prestemos atenção que o proverbista indica que os pais devem instruir o menino “no caminho em que deve andar”, ou seja, não basta dizer ao filho qual o caminho a seguir, mas se deve estar neste mesmo caminho, caminhar juntamente com ele, para que ele não venha a se esquecer dele. – Há muitos pais que até indicam o caminho a seguir, mas não o trilham juntamente com o seu filho. O resultado é que de nada aproveitará esta instrução, pois é o caminhar junto com ele que o fará se lembrar dele e não a mera indicação, o mero dizer.

O que ficará na mente do filho é o caminho trilhado pelo pai e se o pai andar por caminho que ao homem parece direito, mas cujo fim é a morte (Pv.14:12; 16:25) , será por ele que o filho percorrerá, por mais que o pai indique que o caminho da salvação seja outro. – Vemos, portanto, que o exemplo é fundamental para que se tenha a devida autoridade para o ensino dos filhos, tarefa que é cometida aos pais com prioridade e quase exclusividade. Daí ter dito Salomão que “o justo anda na sua sinceridade; bem-aventurados serão os seus filhos depois dele” (Pv.20:7).

– Nesta passagem que estamos a analisar, vemos que o pai pede ao filho que “ouça a correção”. Nota-se, portanto, que cabe aos pais ensinar os filhos e, inclusive, corrigi-los. – A autoridade paterna foi dada por Deus e deve ser mantida pelo exemplo, mas é uma autoridade e, como tal, os pais devem impor limites a seus filhos, a ponto de “corrigi-los”. Não se pode admitir um “nivelamento” entre pais e filhos, pois não é esta a posição estatuída por Deus neste relacionamento.

– A correção é algo que deve ser exercido pelos pais. Logicamente, que, antes da correção, é preciso que haja o ensino, como nos ensina o apóstolo Paulo em II Tm.3:16,17, onde se vê que Deus, ao nos ensinar na Sua Palavra, primeiro nos ensina, depois redargue para, então, num terceiro momento, nos corrigir.

– A correção é demonstração de amor, como nos diz Salomão, que afirma: “O que retém a sua vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, a seu tempo, o castiga” (Pv.13:24). Estudos de psicólogos, a propósito, mostram que, algumas vezes, o filho pratica algo de errado para ser repreendido e, nesta repreensão, sentir que é amado, que tem relevância para seus pais.

– Os pais têm de ensinar a prudência para seus filhos (Pv.4:1) e isto diz respeito a estabelecer limites, pois a prudência é a cautela, o cuidado no se conduzir na vida, a ação após uma reflexão, uma averiguação. Os pais jamais poderão permitir que seus filhos façam o que bem entendam, entrem na concupiscência, ou seja, no absoluto descontrole de seus instintos e desejos.

– Vivemos dias em que, com a multiplicação do pecado, haja um discurso de libertinagem e de leniência com todos os “desejos da mocidade”, algo que absolutamente contrário ao que ensinam as Escrituras. Paulo, que considerava Timóteo como seu filho, mandou que ele fugisse dos “desejos da mocidade”, pois isto certamente o impediria de ter um coração puro que invocasse ao Senhor (II Tm.2:22).

– Num mundo que privilegia o prazer a qualquer custo, que não aceita qualquer contrariedade e que confunde felicidade com satisfação imediata dos desejos, é compreensível que se defenda a total falta de limites para os filhos, o desfrute imediatista de tudo quanto desejam, mas é aí que devem os pais atuar, para que seus filhos não sejam enganados com este falso discurso, que somente levará os filhos a uma vida de pecado e de irrazoabilidade. Estamos no tempo já vaticinado por Agur: “á uma geração que amaldiçoa a seu pai e que não bendiz a sua mãe” (Pv.30:11).

– Os pais devem estabelecer limites aos seus filhos, que não devem transpô-los, como bem ensina Salomão em Pv.22:28: “Não removas os limites antigos que fizeram teus pais”.

– Vivemos num mundo onde a mentalidade revolucionária é predominante. Como afirma o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, “…’Mentalidade revolucionária’ é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao ‘tribunal da História’.

Mas o tribunal da História é, por definição, a própria sociedade futura que esse indivíduo ou grupo diz representar no presente; e, como essa sociedade não pode testemunhar ou julgar senão através desse seu mesmo representante, é claro que este se torna assim não apenas o único juiz soberano de seus próprios atos, mas o juiz de toda a humanidade, passada, presente ou futura. Habilitado a acusar e condenar todas as leis, instituições, crenças, valores, costumes, ações e obras de todas as épocas sem poder ser por sua vez julgado por nenhuma delas, ele está tão acima da humanidade histórica que não é inexato chamá-lo de Super-Homem.…” (A mentalidade revolucionária. Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/semana/070813dc.html Acesso em 11 set. 2013). – Dentro deste estado de espírito prevalecente (que nada mais é que u’a manifestação do espírito do anticristo de que fala I Jo.4:3), considera-se que as gerações anteriores não podem “castrar” as novas gerações, não têm o direito de impor limites aos que lhes sucedem, porque isto seria “autoritarismo”, “atraso”.

As novas gerações não estariam submetidas às instituições, valores, costumes e tradições das gerações passadas, teriam o direito de criar novos parâmetros, uma nova maneira de viver. No entanto, esta não é a mentalidade que deve nortear um servo de Deus, que sabe que “a Palavra de Deus permanece para sempre” (I Pe.1:25) e que a verdade é sempre a mesma, não muda.

– Não há como dizer que o que é verdadeiro e deve ser ensinado aos filhos é algo que tenha mudado com o tempo ou que não valha mais para nossos dias. Os pais devem transmitir a verdade a seus filhos, verdade esta que não se altera nem se modifica com o passar do tempo. Por isso mesmo, deve dizer aos filhos o que é certo e o que é errado, sem medo de que tais conceitos tenham se alterado por causa do desenvolvimento tecnológico.

– Os “limites antigos”, que são estabelecidos pelo próprio Deus, devem ser preservados e devemos incutir nas mentes de nossos filhos que há, sim, a verdade, o certo, o errado, o bom e o mau, e que se deve aprender com Deus o caminho a se trilhar neste mundo, sem qualquer variação.

 – Deixar aos filhos a definição do que devem, ou não, fazer, é uma demonstração de irresponsabilidade e abdicação da tarefa cometida por Deus, que trará imensas dores e aflições aos pais: “a vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe” (Pv.29:15). Por isso, o próprio Salomão aconselhou para que os filhos não se entremetam com aqueles que buscam mudanças, com os que têm esta “mentalidade revolucionária” (Pv.24:21).

– Se deixarmos nossos filhos à vontade de si mesmos, sem limites, estaremos contribuindo para que construam um triste fim, pois, como afirma o sábio rei de Israel: “os olhos que zombam do pai ou desprezam a obediência da mãe, corvos do ribeiro os arrancarão, e os pintãos da águia os comerão” (Pv.30:17). Quereremos ser, porventura, copartícipes da ruína de nossos filhos? Que Deus nos guarde!

– A imposição de limites aos filhos é, na verdade, o próprio reconhecimento da soberania divina. Devemos mostrar aos filhos que liberdade não significa autonomia, que todos somos dependentes de Deus e que Ele é o Senhor e, como tal, devemos obedecer-lhes. Os pais devem mostrar que, ao impor limites, não estão satisfazendo seus próprios caprichos, mas, sim, revelando aos seus filhos que existe uma ordem no mundo, ordem esta que é comandada não pelos pais, mas por Alguém que lhes é superior: o Senhor.

– A ausência de limites aos filhos faz com que eles sucumbam ao domínio do pecado e do maligno, pois estarão se submetendo à concupiscência, à natureza pecaminosa, cujo salário é a morte. Quando os pais deixam seus filhos se orientar por este caminho, serão coautores da perdição dos mesmos, estarão a gerar tolos, ou seja, pessoas que não aprenderam com Deus e se recusarão a fazê-lo. Salomão deixa isto bem claro em alguns provérbios, a saber: “O que gera um tolo, para sua tristeza o faz; e o pai do insensato não se alegrará” (Pv.17:21). “O filho insensato é tristeza para seu pai e amargura para quem o deu à luz” (Pv.17:25).”Grande miséria é para o pai o filho insensato, e um gotejar contínuo, as contenções da mulher” (Pv.19:13). “O que guarda a lei é filho sábio, mas o companheiro dos comilões envergonha a seu pai” (Pv.28:7).”A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe” (Pv.29:12).

– Quantos pais que hoje choram as tragédias que acometeram a vida de seus filhos porque não impuseram limites a eles quando lhes competia fazê-lo? Quantos pais não perderam até mesmo suas vidas por conta desta falta de limites? Quantos não estão a se afligir com as consequências desta ausência de limites?

– Os pais são o instrumento pelo qual os filhos haverão de conhecer a prudência, o equilíbrio, a verdadeira liberdade, que somente se institui mediante a observância dos mandamentos divinos, do domínio do Espírito Santo sobre cada um de nós.

Através da autoridade paterna, os filhos chegarão à consciência da soberania divina, do senhorio de Cristo e, deste modo, poderão aprender a obedecer a Deus e a encontrar a bem-aventurança (Pv.8:32).

III – O EXERCÍCIO DA AUTORIDADE PATERNA

– Como aduz o pastor presbiteriano Daniel dos Santos Jr., grande estudioso do livro de Provérbios, o fato de o livro apresentar “conselhos paternais” é uma boa lição de como se deve dar a imposição de limites aos filhos. O livro de Provérbios é todo ele de “conselhos”, não de “mandamentos”, não de “ordens”. Os pais não “dão ordens”, mas “aconselham”, ou seja, embora tenham autoridade, não a exercem de modo autoritário, ditatorial, mas procuram, através do convencimento e do exemplo, levar os filhos à uma maneira sábia de viver.

– O modo de conselho indica persuasão, convencimento, e isto faz com que se tenha diálogo, troca de ideias, conversas entre pais e filhos. A comunicação é fundamental para que se possa ter uma boa educação, tanto que, como já visto supra, tudo começa pelo ensino, depois pela redarguição, para só então se chegar ao castigo, à correção.

 – Daí a importância fundamental que pais e filhos conversem, troquem ideias, comuniquem-se, o que, entretanto, está cada vez mais raro em nossos dias. Torna-se absolutamente necessário que haja diálogo entre pais e filhos, que haja cumplicidade entre eles, de modo a que os filhos tenham nos pais os seus maiores amigos, verdadeiros confidentes. Deve haver uma intimidade entre pais e filhos, intimidade, naturalmente, que é menos extensa e de natureza diversa da que existe entre homem e mulher.

– O modelo de relacionamento entre pais e filhos é o relacionamento que existe entre o Pai e Cristo Jesus. Pai e Filho relacionam-Se em perfeita comunicação, em integral intimidade. Diversas seriam as situações em que poderíamos retratar este relacionamento, mas, em virtude da brevidade de espaço e tempo, relataremos apenas três facetas que muito elucidam como deve ser o relacionamento entre pais e filhos a partir do exemplo que nos dá Jesus e Deus Pai.

– A comunicação entre Jesus e o Pai era contínua, expressa através da oração. Jesus veio ao mundo orando (Hb.10:5-9), viveu sobre a face da Terra orando (Mt.14:23; 26:36,44; Mc.6:46; Lc.6:12; 9:28; 11:1) e morreu orando (Lc.23:46). Por isso, aliás, é dito que os pais deveriam ensinar a lei de Moisés em todas as situações, quando estivessem andando pelo caminho, levantando, deitando, assentados, ou seja, em todos os momentos do dia, em todos os instantes (Dt.6:7).

– A autoridade paterna deve ser exercida por intermédio da contínua e ininterrupta comunicação, no acompanhamento “pari passu” dos filhos, sem qualquer distanciamento, isolamento ou abandono. Não adianta querer exercer a autoridade quando a “bomba estourar”, depois de total ausência de comunicação, pois, sem comunicação, não se constrói a comunhão.

– Em Provérbios, este aspecto da comunicação é sempre realçado. Em Pv.1:8; 4:1; 5:1; 19:27; 23:19,22, é dito para que o filho ouça a instrução do seu pai, a indicar que há um diálogo entre eles, uma comunicação constante.

– O segundo aspecto do relacionamento entre Jesus e Deus Pai que nos ensina como se dá o exercício da autoridade paterna é que Deus Pai indicou, com absoluta clareza, ao Filho qual era a Sua vontade, ou seja, o Filho tinha plena consciência do que o Pai queria, como nos deixa bem claro não só o escritor aos hebreus (Hb.10:7), como o evangelista João, que, abundantemente, em seu evangelho, dá-nos conta desta realidade (Jo.4:34; 5:30; 6:38-40; 7:17).

– A autoridade paterna tem de ser exercida mediante uma indicação clara e objetiva de qual é a vontade dos pais, qual é o querer dos pais e porque eles querem que os filhos ajam desta ou daquela maneira. Os pais, aliás, devem mostrar-se como meros instrumentos para fazer conhecer aos filhos a vontade de Deus, pois nada que é ensinado é por puro capricho ou decisão dos pais, mas, ao revés, o que se está a ensinar é a vontade de Deus, a sabedoria divina.

– Em Provérbios, isto fica bem evidente. Em diversas passagens, os pais fazem questão de dizer que o que os filhos devem ouvir e aprender é “a instrução de teu pai”, “a doutrina de tua mãe” (Pv.1:8), “a correção do pai” (Pv.4:1; 13:1, 15:5), “o mandamento de teu pai”, “a instrução de tua mãe” (Pv.6:20; 7:1), “a profecia da mãe” (Pv.31:1), revelando que se trata de conselhos que foram assumidos pelos pais, vontade explicitamente apresentada pelos pais aos filhos, que não deixam margem a qualquer dúvida, –

Aqui, uma vez mais, o exemplo é de papel relevantíssimo, já que não há como os pais demonstrarem ser esta a sua vontade, ainda que indicando que se trata de palavras de prudência, de sabedoria e, portanto, provenientes de Deus e da Sua Palavra, se eles próprios não se apropriarem de tais conselhos, fazendo-os eles próprios no seu cotidiano. O mandamento, a instrução, a profecia, a correção somente serão dos pais se eles fizerem aquilo que eles recomendam, que eles aconselham.

– O terceiro aspecto do relacionamento entre Cristo e o Pai que devemos aqui apontar como exemplo para o relacionamento entre pais e filhos é que houve a clara submissão do Filho à vontade do Pai, há a questão do  livre-arbítrio. Jesus voluntariamente Se sujeitou ao Pai, embora houvesse da Sua parte o livre-arbítrio. O Filho “sentiu confiança” no Pai e, por isso, submeteu-Se a Ele.

– O Pai, por Sua vez, não Se cansava de mostrar ao Filho que esta atitude Lhe agradava: “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt.3:17).” E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o” (Mt.17:5).” Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado e outra vez o glorificarei” (Jo.12:28). – Havia, portanto, um mútuo reconhecimento entre Cristo e o Pai, através da sujeição do Filho ao Pai e da manifestação do agrado do Pai ao Filho.

Assim devem também agir pais e filhos nesta jornada terrena: os filhos se submetendo aos pais, sendo-lhes sujeitos, como o foi o próprio Senhor Jesus (Lc.2:51), mas os pais, também, reconhecendo esta sujeição aos filhos, mediante manifestações públicas e explícitas de agrado e de carinho. – Isto tem faltado em muitos lares. Os pais não reconhecem a sujeição dos filhos, apenas se manifestando quando há problemas, dificuldades, quando se fazem necessárias as repreensões. Somente apontam os defeitos, jamais, as virtudes e qualidades.

Não podemos ter esta “agenda negativa”, mas, a exemplo do Pai, reconhecermos o esforço e a voluntariedade dos filhos. – Este reconhecimento se verifica na forma carinhosa com que o pai se refere ao filho ao longo do livro, por intermédio da expressão “filho meu”, bem assim nas várias afirmações do proverbista que demonstram a alegria do pai diante do filho sábio, alegria esta que é externada à evidência (Pv.10:1; 15:20; 23:15,25; 27:11). O pai diz que, quando filho, sabia que era tido como tenro por seu pai e tinha a estima de sua mãe (Pv.4:3)

– Isto também nos mostra que os pais não devem se martirizar se, apesar de uma educação consistente e correta, os filhos deixarem de seguir os ensinos propostos, pois, assim como até o próprio Cristo teve autonomia de vontade em relação ao Pai, como se verifica no episódio do Getsêmane, o mesmo se dá em relação aos nossos filhos.

– A instrução no caminho do Senhor não garante que o filho alcançará a salvação, pois a salvação é individual. Salomão afirma que a instrução no caminho do Senhor fará com que o filho jamais se esqueça deste caminho, mas não que o seguirá inevitavelmente.

A educação cristã é uma ferramenta poderosíssima para levar o filho ao conhecimento de Deus, mas não elimina o livre-arbítrio. – É por isso que Salomão afirma que “o filho sábio ouve a correção do pai, mas o escarnecedor não ouve a repreensão” (Pv.13:1), ou, ainda, “o tolo despreza a correção de seu pai, mas o que observa a repreensão prudentemente se haverá”(Pv.15:5), como também, “O filho sábio alegrará a seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe” (Pv.15:20).

– Estes provérbios indicam que é possível que, apesar de corretamente instruído, o filho, no uso de seu livre-arbítrio, despreze o ensinamento, a instrução recebidos e se recuse a observá-los, tornando-se, assim, um tolo, um ímpio, um falto de entendimento. Jesus nunca pecou e Se submeteu tanto a Seus pais terrenos, como ao Pai celestial, mas os homens, pecadores que são, podem não ter a mesma reação diante da atitude correta de seus pais.

– Os pais não devem, pois, considerar-se culpados por tais descaminhos, quando não resultantes de sua omissão no gravíssimo dever de educar a sua prole. Se fizeram a sua parte, se ensinaram devidamente a Palavra de Deus a seus filhos, estão isentos de responsabilidade, assim como o profeta é isento do erro do povo quando disse o que tinha de dizer da parte do Senhor (Ez.33:1-9). – Tanto assim é que o apóstolo Paulo, ao elencar os requisitos para a separação ao ministério, afirma que deve ser separado para a obra do Senhor tão somente aquele que “governar bem a sua casa, tendo seus filhos em  sujeição, com toda a modéstia” (I Tm.3:4). Aqui, a palavra original grega traduzida por “filhos” é “téknon” (τέκνον), que tem o sentido de “filhos pequenos”, “filhos menores”, ou seja, pessoas que ainda não têm condições de traçar o próprio destino, de assumir as próprias responsabilidades, o que revela que, nem mesmo para a separação ao ministério, se leva em conta o desencaminhar de um filho já responsável, dotado de uma vida independente.

– É evidente que, nestes casos, os pais não devem se omitir, mas devem buscar, na medida do possível, fazer com que os filhos observem os ensinamentos que foram dados, o que, sem dúvida, será de grande valia, pois, tendo os pais, efetivamente, instruído os filhos no caminho do Senhor, terão toda a autoridade espiritual para fazê-lo. Deverão reproduzir as palavras de Salomão: “cessa, filho meu, ouvindo a instrução, de te desviares das palavras do conhecimento” (Pv.19:27).

– A autoridade paterna deve ser exercida, também, mediante a correção, como já se disse supra, correção esta que se faz mediante o castigo, “porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem” (Pv.3:12), como também, “o que retém a sua vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, a seu tempo, o castiga” (Pv.13:24), ou, ainda, “castiga teu filho enquanto há esperança, mas para o matar não alçarás a tua alma” (Pv.19:18).

– Não tem, portanto, qualquer cabimento o acolhimento de filosofias e teorias que dizem que os pais não devem castigar seus filhos, nem repreendê-los. O castigo é uma necessidade e demonstração de amor. Não se pode compactuar, portanto, com iniciativas como a chamada “lei da palmada”, que nada mais é que uma satânica intromissão estatal na ordem interna do lar, mais uma tentativa de levar à perdição os nossos filhos.

– A correção é indispensável, pois é através dela que se completa o processo educacional, impondo-se os necessários limites e criando uma disciplina que concederá vida aos filhos, a começar do aspecto espiritual.

– Há uma natureza carnal, pecaminosa no homem que o leva à prática do pecado. Assim, a educação se faz necessária e a correção, para que tal inclinação para a morte seja tolhida e neutralizada. Como diz Salomão: “a estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afugentará dele” (Pv.22:15).

– O resultado da disciplina e da repreensão é que até as crianças alcançam um comportamento sábio e digno de nota. ”Até a criança se dará a conhecer pelas suas ações, se a sua obra for pura e reta” (Pv.20:11). Que maravilha quando os pais fazem com que seus filhos, mesmo desde tenra idade, possam desfrutar dos benefícios decorrentes do viver sábio sobre a face da Terra!

– O castigo não significa, em absoluto, o direito de agressão por parte dos pais. Como se viu em Pv.19:18, a correção é feita com absoluto respeito à integridade física do filho. Ao contrário do que ocorria entre os demais povos, que reconheciam aos pais o “direito de vida e morte” sobre os filhos, que não tinham muita diferença para com os escravos do “pai de família”, em Israel jamais os filhos foram considerados como “coisas” ou “propriedades” dos pais, mas, sim, como “herança do Senhor” (Sl.127:3) e, como tal, pessoas dignas a ser tratadas, com todo cuidado e zelo, cuidado e zelo estes a quem os pais prestarão contas ao próprio Senhor. OBS: É interessante observar que, em diversas passagens, o Alcorão equipara bens a filhos, como que considerando os filhos como uma espécie de coisas, ainda que não admita o direito de vida e morte sobre eles.

– O proverbista deixa isto bem claro ao dizer que não se deve retirar a disciplina, porque, fustigando-a com a vara, nem por isso morrerá (Pv.23:13). Quando afirma que se deve “fustigar com a vara”, está-se a dizer que não se pode “quebrar a vara” na criança, ou seja, que o castigo corporal deverá ser comedido, controlado, apenas o necessário para se dar o devido ensino.

O castigo físico, assim, deve ser exercido tão somente na medida do necessário, sem qualquer agressão, principalmente nos primeiros anos de vida, onde a verbalização é de eficácia limitada.

 – Assim uma chinelada, uma cintada, uma palmada são perfeitamente possíveis na correção e no castigo do filho, máxime quando de tenra idade, sem condições de empreender um diálogo onde se apontem os erros e acertos de uma determinada conduta. – Mas o castigo não comporta também injúrias verbais, agressões morais ou humilhações.

Diz o proverbista que “quando alguém cria delicadamente o seu servo desde a mocidade, por derradeiro ele quererá ser seu filho” (Pv.29:21), apontando que o tratar delicado, o tratar respeitoso, o tratar digno faz que o servo queira ser filho daquele que assim o trata, quanto mais o filho que assim for tratado. – Na lição anterior, já muito foi dito sobre a necessidade de um falar que revele doçura, que demonstre amor ao próximo, e isto em tudo é aplicável ao relacionamento entre pais e filhos.

É preciso haver repreensão, correção, demonstração de autoridade, mas isto, em absoluto, significa desrespeito e humilhação por meio de palavras.

– O castigo, também, deve ser oportuno. Em Pv.13:24, é dito que o castigo decorre do amor “a seu tempo” e, em Pv.19:18, é dito que o castigo deve se dar “enquanto há esperança”. Já se viu que o castigo somente tem lugar depois que houve ensino e redarguição, é o terceiro momento da educação e deve ser feito enquanto ainda houver condições de reversão da conduta. Castigo não é revide, vingança ou demonstração de desespero e de fracasso!

– Nesta oportunidade, devemos aqui verificar que, nos dias difíceis em que vivemos, chegam instantes em que não é mais possível a repreensão, o castigo. São situações limite em que devemos nos entregar nas mãos do Senhor e continuar somente a orar, visto que o filho tem assumido posturas altamente reprováveis.

– Assim, quando o filho começa a roubar os próprios pais e achar que não há mal algum nisto, como costuma ocorrer com muitos quimiodependentes, não é instante de criarmos ocasiões para castigos ou debates. Salomão afirma que “o que rouba a seu pai ou a sua mãe e diz: Não há transgressão, companheiro é do destruidor” (Pv.28:24), de sorte que, nestas circunstâncias, esgotou-se a atuação da autoridade paterna, pois se está diante de um quadro que exige a intervenção de terceiros, a ajuda de terceiros.

Muitos têm enveredado pela tentativa de correção intramuros, sem sucesso, pois o filho já se fez companheiro do destruidor. – É o que se verifica, também, quando se está diante da opressão, do afligir causado pelo filho aos pais. Aqui, também, Salomão afirma que “o que aflige a seu pai ou afugenta a sua mãe filho é que envergonha e desonra” (Pv.19:26). Tem-se, aqui, também, situação que foge ao controle dos pais, sendo necessária a intervenção do Estado, da sociedade e da Igreja.

– Uma terceira e mais grave situação é da maldição dos pais pelo filho. Neste caso, afirma o proverbista: “o que a seu pai ou a sua mãe amaldiçoar, apagar-se-lhe-á a sua lâmpada e ficará em trevas densas” (Pv.20:20), a indicar que se está diante de circunstância em que houve total perdição do filho, algo que somente o Senhor poderá cuidar, que está diante de um quadro de extrema dificuldade, inclusive em termos de salvação. Ante as “trevas densas” em que se encontra o filho, não queiram os pais fazer algo que está além de suas forças, que é o de trazê-lo novamente à luz.

– Por isso, em situações quetais, a própria lei de Moisés determinava a entrega dos filhos rebeldes e contumazes à autoridade estatal, para serem apedrejados, exatamente porque havia se esgotado a atuação paternal (Ex.21:15,17; Dt.21:18-21).

– O castigo, por fim, além de ser demonstração de amor, trará recompensa aos pais. Como diz Salomão: “castiga o teu filho, e te fará descansar e dará delícias à tua alma” (Pv.29:17). Na repreensão exitosa, temos o viver sábio do filho, que somente produzirá alegria a seus pais, pois, “o filho sábio alegra a seu pai, mas o filho louco é a tristeza de sua mãe” (Pv.10:1), que, não por acaso, é o primeiro dos provérbios de Salomão que foram compilados no seu tempo, que dá início à segunda parte do livro, como que a traduzir a alegria que Bateseba tinha ao ver o seu filho no trono de Israel.

– O pai que corrige a seu filho a tempo, será devidamente recompensado e poderá dizer, em gratidão ao Senhor: “filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio” (Pv.23:15). Como também: “sê sábio, filho meu, e alegra o meu coração, para que tenha alguma coisa que responder àquele que me desprezar” (Pv.27:11).Que esta seja, sem dúvida, o falar de cada pai que serve a Deus.

– Mas a maior alegria que os pais terão ao castigar seus filhos e ver que, por causa da correção, os filhos serão livres do inferno (Pv.23:14). A correção fará com que adquiram sabedoria e, desta forma, se livrarão da perdição eterna. Que seja esta, amados, a grande recompensa que tenhamos ao educar nossos filhos.Amém!

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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