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LIÇÃO Nº 6 – ORANDO, CONTRIBUINDO E FAZENDO MISSÕES

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo sobre as missões transculturais, veremos hoje o envolvimento de toda a Igreja nesta tarefa.

-Toda a membresia da Igreja, conforme a sua vocação, é chamada para o trabalho missionário transcultural.

I – A OBRA MISSIONÁRIA É RESPONSABILIDADE DA IGREJA

-A Declaração de Fé das Assembleias de Deus assim afirma : ”…O evangelho é proclamado a homens e mulheres, sem fazer distinção de raça, língua, cultura ou classe social, pois ‘o campo é o mundo’ (Mt.13:38).

Jesus disse: ‘Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações’ (Mt.28:19 – ARA), e ‘e ser-Me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra’ (At.1:8). Portanto, entendemos que é responsabilidade da Igreja a obra missionária…” (DFAD XI.6, p.123).

-Tem-se, portanto, que a obra missionária é da responsabilidade da Igreja e, quando se fala em Igreja, está-se a falar de todos os membros em particular, sem qualquer exceção.

-A Grande Comissão não foi dada pelo Senhor Jesus apenas aos apóstolos. Se é verdade que eles foram “enviados” por Jesus, assim como o Senhor havia sido “enviado” pelo Pai (“enviado” é o significado da palavra “apóstolo”),

naquela tarde do domingo da ressurreição, quando, inclusive, receberam o Espírito Santo (Jo.20:21,22), também não devemos olvidar que a ordem para pregação do Evangelho por todo o mundo, a toda criatura, foi dada aos discípulos todos, a toda a Igreja que estava com o Senhor reunida e assistiu à Sua ascensão (Mc.16:15; Mt.28:19,20; At.1:8,9; I Co.15:6).

-Portanto, embora houvesse aqueles a quem o Senhor constituiu por apóstolos, que estavam à frente não só da igreja mas também da própria missão, tratava-se de um tarefa que tinha de ser desempenhada por todos os discípulos, por todos aqueles que haviam crido em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

-Tanto assim é que, ante o comando do Senhor que aguardassem o revestimento de poder para que pudessem cumprir a ordem dada por Jesus (Cf. Lc.24:49), não se encontravam apenas os doze, mas, sim, quase cento e vinte pessoas (At.1:15), aqueles que atenderam à convocação do Senhor, tendo eles todos sido cheios do Espírito Santo, falando em outras línguas (At.2:4).

-Ora, como todos eles foram revestidos de poder, tem-se aqui a nítida demonstração de que a Grande Comissão era dirigida a toda a Igreja, sem qualquer exceção, visto que o Senhor nada faz sem propósito e, se batizou a todos com o Espírito Santo, era porque queria que todos pregassem o Evangelho por todo o mundo a toda criatura.

-Então, de pronto, devemos estar conscientes de que é tarefa de todo membro em particular da Igreja a evangelização, a pregação do Evangelho.

Como o Senhor Jesus bem explica na parábola dos talentos (Mt.25:14-30), pelo menos um talento é entregue a cada servo do Senhor e este talento é, sem dúvida, a tarefa de falar do amor de Deus na pessoa de Jesus Cristo aos pecadores, convidar-lhes a crer em Jesus e a alcançarem a vida eterna.

-Lamentavelmente, nos dias hodiernos, esta consciência já não se tem. As igrejas possuem os seus “departamentos de evangelismo”, onde estão as pessoas “chamadas para evangelizar”, como se isto fosse possível.

Estes poucos irmãos abnegados levam avante a tarefa de evangelização, enquanto a esmagadora maioria dos crentes se sente confortável em estar apenas “contribuindo” e “orando”.

-Não podemos confundir a tarefa de evangelização que cada um de nós tem e da qual haveremos de prestar contas diante do Senhor no Tribunal de Cristo, com a missão transcultural, esta, sim, um trabalho específico dentro da tarefa evangelizadora, e na qual há diferenciada colaboração de toda a membresia.

-As missões transculturais são de responsabilidade de toda a membresia, mas, dadas as suas especificidades, na sua execução, teremos diferentes tarefas a serem cumpridas, mas com envolvimento de todos.

-Assim, embora seja, agora sim, plausível ter a igreja local um departamento de missões ou uma secretaria de missões para bem coordenar o apoio aos missionários, ser o elo entre a igreja local e os missionários, que, pelo seu caráter transcultural, estão em regiões longínquas da igreja, isto, em absoluto, significa dispensar a membresia de tal tarefa, a ser desempenhada segundo o conselho de cada um.

-Tais afirmações não são uma defesa da sistemática existente em nossa denominação, mas, antes, o que se extrai das Escrituras Sagradas.

Enquanto todos os discípulos evangelizavam em Jerusalém (Cf. At.2:42-47; 5:12-16; 6:7-10), o que continuaram a fazer quando tiveram de deixar a cidade por causa da perseguição liderada por Saulo (At.8:4; 9:31; 11:19-21), quando se tratou de missão intercultural, escalou o Senhor pessoas específicas, como foi o caso tanto de Filipe (At.8:5), quanto de Barnabé (At.11:22) e de Barnabé e Saulo (At.13:2).

-Inclusive, no episódio da chamada de Barnabé e de Saulo, na igreja de Antioquia, vemos que o Espírito Santo mesmo, em pessoa, falou a toda a igreja, mandando separar os dois para a missão intercultural (At.13:2), ou seja, tem-se aqui a demonstração inequívoca de que o fazer missões transculturais é uma tarefa específica, um chamado especial da parte do Senhor.

-Tem-se, portanto, que, em matéria de “missões transculturais”, todos são chamados, mas nem todos irão “fazer missões”, mas cada qual deverá exercer uma tarefa específica neste importante aspecto da evangelização.

-A igreja é um corpo (I Co.12:27) e sua edificação exige a justa operação de cada membro em particular, de cada parte, sem o que não haverá o necessário e indispensável crescimento (Ef.4:15,16).

-Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…A vida cristã não é solitária; pois nenhum membro vive isolado do corpo:

‘assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros’ (Rm.12:5);

‘Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também’ (I Co.12:12). A conversão da pessoa leva à comunhão com um grupo de crentes em Jesus [At.2:41,42] …” (DFAD XI.2, pp.120-1).

-A igreja somente cumpre o seu papel se demonstrar ser este organismo vivo, que cresce a cada instante, crescimento este que é tanto qualitativo (Ef.4:15,16) quanto quantitativo (At.2:47; 5:14; 19:26).

-Este crescimento quantitativo da igreja não deve se circunscrever à igreja local, pois “o campo é o mundo” (Mt.13:38) e temos, cada um de nós, de ser testemunhas de Cristo tanto em Jerusalém, quanto na Judeia, Samaria e até os confins da Terra (At.1:8).

-Como a igreja é um corpo, quando um de seus membros em particular estiver em algum lugar remoto, distante, os demais membros ali estarão com ele, mas este “estar com o missionário” não é um mero sentimento ou uma mera comunhão espiritual, mas o resultado da “justa operação de cada parte”.

II– ORANDO

-A primeira operação que cada parte do corpo de Cristo deve fazer em “missões transculturais” é a oração.

-Quando o Espírito Santo chamou Barnabé e Saulo para a missão transcultural na igreja de Antioquia, aquela membresia, de forma imediata, sem que tivesse sido conclamada a isto pelo Senhor, foi jejuar e orar, tendo, então, só depois desta oração e jejum, separado os missionários e os enviado (At.13:3).

-A oração, reforçada pelo jejum, é primordial para que se tenha êxito na empreitada missionária. Aliás, a oração é fundamental para que mantenhamos a nossa vida espiritual. Não há como mantermos comunhão com o Senhor sem a oração e não há como fazermos a obra de Deus sem que tenhamos uma vida de oração (I Ts.5:17).

-Se fomos enviados por Cristo assim como o Pai enviou o Senhor Jesus (Jo.20:21), temos de seguir o exemplo de Nosso Senhor e Salvador (I Pe.2:21), temos de permear nossas ações no reino de Deus com a oração.

-Jesus vivia em constante oração em Seu ministério terreno, e todas as ações mais proeminentes por Ele exercidas foram precedidas da oração. Jesus orou antes de escolher os Seus discípulos (Lc.6:12,13); orou antes de realizar os Seus milagres mais impactantes como a multiplicação dos pães (Mt.14:19), a andança por sobre as águas (Mt.14:23-25), a ressurreição de Lázaro (Jo.11:41-43), entre outros.

-Jesus orava tanto que os Seus discípulos resolveram pedir-Lhe que os ensinasse a orar (Lc.11:1).

-A importância da oração na obra missionária é-nos mostrada pelo grande missionário dos tempos apostólicos, ou seja, o apóstolo Paulo, que, continuamente, pedia aos irmãos que orassem por ele para que ele bem pudesse exercer o seu ministério (Ef.6:19,20; Cl.4:2-4) e este pedido foi tanto feito aos efésios, com quem Paulo conviveu por três anos (At.20:31), como para os colossenses, que nunca o viram, pois o apóstolo não foi o responsável pela evangelização daquela cidade, mas, sim, seu cooperador Epafras (Cl.1:7).

-O trabalho da evangelização e, em especial, a sua vertente das missões transculturais é uma verdadeira batalha espiritual, porquanto quando estamos a pregar o Evangelho estamos a abrir os olhos dos pecadores, procurando das trevas os converter à luz e do poder de Satanás a Deus (At.26:18) e,

naturalmente, entramos em conflito direto e aberto contra as hostes espirituais da maldade , a nos exigir que nos revistamos da armadura de Deus para poder ficar firmes contra as astutas ciladas do diabo (Ef.6:11-13) e a utilização correta desta armadura exige que estejamos em “forma espiritual” e esta “forma” é dada pela vigilância e pela oração (Ef.6:18).

OBS: O Pacto de Lausanne, resultado de congresso de evangelização mundial realizado em 1974, não deixou de mencionar este conflito espiritual, no seu item 12: “…12. Conflito Espiritual.

Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e potestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial.

Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração…” (Disponível em: https://lausanne.org/pt-br/recursos- multimidia-pt-br/covenant/pacto-de-lausanne Acesso em 02 set. 2023).

-Como bem nos mostra o apóstolo dos gentios, não é apenas o missionário que deve orar e jejuar, mas toda a igreja, porque somos um corpo e, como tal, devemos orar uns pelos outros, pois a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos (Tg.5:16).

-A oração intercessória é fundamental para que haja êxito no trabalho missionário e todos nós devemos nos empenhar para intercedermos pelos que estão a levar a mensagem da salvação a outros povos, tribos, línguas e nações.

-Não se trata de uma oração genérica, protocolar, abstrata, mas, sim, de uma intercessão concreta, fazendo menção dos missionários, bem como dos lugares onde se encontram.

-Paulo pede para que orassem por ele e de forma específica, para que ele pudesse ter mensagem que levasse os ouvintes à conversão.

-Deve-se orar, primeiro, pelo missionário. Evidentemente que devemos orar por todos os missionários, mesmo aqueles que nem conhecemos, mas, além desta oração, faz-se preciso que oremos especificamente por aqueles missionários que foram enviados pela nossa igreja local ou que são sustentados por ela.

-Dentro da comunicação que deve haver entre os missionários e as igrejas que os mantêm, estes devem comunicar as necessidades (Rm.12:13) e, com este conhecimento, devem as orações ser feitas em prol daqueles que estão na linha de frente do combate contra o maligno.

-Mas devemos também orar para que os missionários transmitam a mensagem do Evangelho com demonstração do Espírito e de poder (I Co.2:4).

Paulo pôde dizer que assim havia pregado em Corinto, mas, ao escrever sua carta aos efésios, pediu àqueles crentes que orassem por ele para que lhe “fosse dada, no abrir da sua boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho” (Ef.6:19).

-Aprendemos, assim, que toda aquela desenvoltura demonstrada pelo apóstolo não era só resultado de sua vida de íntima comunhão com o Senhor (Gl.2:20), mas também das orações de todos quantos intercediam por ele.

-Aos colossenses, o apóstolo pediu que orassem para que fosse aberta a ele “a porta da Palavra, a fim de falar do mistério de Cristo” (Cl.4:3). Devemos orar pelos missionários para que recebam eles a mensagem da parte de Deus.

-Nestes dois pedidos do apóstolo vemos como há uma necessidade de uma intervenção sobrenatural, da parte do Senhor, para a superação das barreiras culturais, para que se possa utilizar corretamente dos elementos da cultura para que, por meio deles, possa ser compreendida a mensagem da salvação.

-“Abrir a porta da Palavra”, “dar a Palavra com confiança no abrir da boca” são expressões que mostram que se faz necessário que o Espírito Santo dirija o missionário para que ele possa aproveitar os elementos do cotidiano daquela população que lhe é estranha e, a partir dali, levar a mensagem da salvação, assim como o próprio Paulo fez em Atenas ao se utilizar do culto ao “deus desconhecido” para, a partir dele, pregar a Cristo.

-No dizer do missionário e missiólogo Don Richardson, é a identificação do “fator Melquisedeque” em cada cultura, a partir do qual se poderá levar Cristo às pessoas e trazê-las para o reino do Filho do Seu amor (Cl.1:3).

-Temos, pois, o dever de orar pelos missionários, pois somos membros em particular do corpo de Cristo e temos de estar unidos, em comunhão, para que as almas sejam salvas e juntamente conosco desfrutem da vida eterna com o Senhor.

-Deixar de orar pelos missionários é pecar. O juiz e profeta Samuel não teve dúvida de dizer que, se deixasse de interceder pelos filhos de Israel, estaria a pecar (I Sm.12:23) e o irmão do Senhor foi bem claro ao dizer que quem sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado (Tg.4:17).

-Ora, se sabemos que nossa igreja local enviou ou ajuda a sustentar um certo missionário, se temos conhecimento de suas dificuldades e necessidades e não oramos por ele, estaremos, sem dúvida, cometendo pecado e, como diz a poetisa sacra Ingrid Anderson Franson:

“no céu não entra pecado, fadiga, tristeza nem dor” (primeiro verso da primeira estrofe do hino 422 da Harpa Cristã). Como poderemos, então, entrar no céu se não estamos a orar pelos missionários? Pensemos nisto!

III– CONTRIBUINDO

-A segunda operação que cada parte deve fazer em “missões transculturais” é a contribuição, o que normalmente é entendido como “contribuição financeira” que, sem dúvida, é a principal forma de contribuição, mas não é a única.

-Embora não sejamos deste mundo (Jo.17:6), estamos neste mundo (Jo.17:11) e, por conta disso, evidentemente que o missionário a ser enviado para regiões distantes para pregar o Evangelho necessitará de meios para sua sobrevivência, pois necessitamos de comida, bebida e vestido (Mt.6:31,32).

-Assim, e este assunto de lição própria, é dever da igreja que envia o missionário prover o seu sustento e o de sua família, a fim de que ele possa se dedicar integralmente à obra do Senhor.

-O apóstolo Paulo revela que sempre recebeu contribuição financeira da igreja de Filipos (Fp.4:15,16; 2:25), igreja que ele mesmo fundara no início da sua segunda viagem missionária (At.16:1-12).

-Nesta revelação, o apóstolo mostra-nos que, já nos tempos apostólicos, havia uma dificuldade no que respeita à contribuição financeira.

Em parte, entende-se tal dificuldade porque grande parte da membresia era formada por escravos, pessoas que, portanto, não tinham remuneração, sem se falar nas grandes dificuldades existentes de comunicação e de transporte, o que tornava difícil o custeio à distância do missionário.

-Vemos, por exemplo, que a igreja de Filipos teve de mandar Epafrodito para levar a Paulo ajuda financeira quando este se encontrava preso em Roma (Fp.2:25), o que mostra o grau de dificuldade em tal atividade, pois, além do elevado custo, havia a própria demora na chegada dos recursos e no envio de mais recursos no futuro.

-Mas além destas dificuldades de ordem prática, que, podemos dizer, foram sensivelmente diminuídas na atualidade, uma vez que a movimentação de capitais a nível mundial é uma realidade, não se pode deixar de observar que havia, ainda, uma mentalidade avessa a esta contribuição, tanto que o apóstolo afirma que somente os filipenses se dispunham a ajudá-lo, quando, sabemos todos, foram muitas as igrejas fundadas por Paulo.

-O apóstolo, mesmo, em certas ocasiões, mostra que a própria circunstância local e/ou cultural fez com que ele recusasse ajuda material da parte das igrejas, como vemos tanto em Corinto (II Co.12:13,14) quanto em Tessalônica (I Ts.2:9).

-Portanto, desde o início da história da igreja, a questão da contribuição financeira para a realização da obra missionária sempre suscitou forte resistência e é, sem dúvida, um dos elementos que mais prejudicam o desenvolvimento das “missões transculturais”.

-Entretanto, se a igreja é um corpo, devemos, como ensina o apóstolo Paulo, observar que “…ninguém aborrece a sua própria carne, antes a alimenta e sustenta…” (Ef.5:29), não podemos deixar de dar o sustento ao missionário, que é membro em particular do corpo e que está a serviço do corpo.

-Embora, por vezes, o apóstolo Paulo tenha, por circunstâncias, abrido mão do sustento pela igreja, jamais disse que isto não era correto. Pelo contrário, fez questão de sempre apontar que se tratava de um direito de todos quantos se dedicavam exclusivamente à pregação do Evangelho (I Co.9:9-14; I Ts.2:6; I Tm.5:17,18).

-O próprio Senhor Jesus instruiu os setenta discípulos que encaminhou para aquele “estágio de evangelização” durante o Seu ministério que legitimamente comessem e bebessem do que houvesse nas casas onde se hospedassem, pois digno é o obreiro do seu salário (Lc.10:7).

-Deste modo, é, mesmo, dever de toda a membresia custear o sustento do missionário e de sua família, para que ele possa se dedicar integralmente à obra de Deus.

-As igrejas locais devem dar prioridade na utilização dos seus recursos para as principais tarefas da Igreja que são a evangelização e o ensino da Palavra.

Lamentavelmente, nos dias hodiernos, existe uma “burocracia eclesiástica” que consome quase todos os recursos amealhados entre a membresia e não são poucos os casos em que missionários são simplesmente abandonados e deixados à própria sorte nos lugares onde se encontram.

-Ponto importante com relação à contribuição, que é ela tarefa da igreja local. Não podem os membros resolverem utilizar seus recursos conforme a sua vontade e entendimento, em iniciativas individuais, pois, assim, como veremos infra, não pode haver “missionários por conta própria”, que sejam enviados por igrejas, também não podem os contribuintes serem por conta própria, fazendo uso de seus recursos em dissonância com a igreja local a que pertence.

-Em nossos dias, muitos dos recursos que a igreja local poderia utilizar para realizar missões transculturais é desviado pela membresia para iniciativas de duvidosa idoneidade e que muito ou quase nada contribuem para a salvação das almas e, o que é mais grave, que não estão vinculados à ação do Espírito Santo naquela igreja local para o trabalho missionário.

-Se estamos em uma igreja local servindo ao Senhor ali, por Sua vontade, é evidente que temos de centrar nossos esforços para que esta igreja local cumpra a sua principal tarefa que é a de ganhar almas para o Senhor. Como, então, permitir que nossos recursos, que poderiam ser utilizados para esta tarefa, sejam entregues a pessoas que não fazem parte da nossa vocação e do nosso papel no reino de Deus?

-Mas além da contribuição financeira, há de se ter toda uma assistência ao missionário, que não se resume apenas a aspectos materiais.

O apóstolo Paulo foi visitado por Epafrodito na prisão em Roma que, não só lhe levou recursos financeiros, como também lhe fez companhia (Fp.4:25-28), tendo até adoecido e quase morrido, precisamente porque ficou ali ao lado do apóstolo, e, segundo alguns, até se privando do necessário para dar socorro ao apóstolo.

-Na segunda prisão do apóstolo, vemos também que Onesíforo foi fazer companhia ao apóstolo, tendo, inclusive, procurado o apóstolo e o encontrado para recreá-lo (II Tm.1:16,17).

-Tem-se, pois, que uma forma de contribuição à obra missionária é o companheirismo com o missionário, dando-lhe assistência espiritual e afetiva, para que ele possa enfrentar as muitas dificuldades que se lhe apresentam na obra do Senhor.

Este contato, este companheirismo hoje é muito mais fácil do que nos dias de Paulo, e deve ser exercido pela membresia da igreja local que envia e/ou sustenta os missionários.

IV- FAZENDO MISSÕES

-Se orar e contribuir para as missões transculturais é tarefa de toda a membresia da igreja local, fazer missões, ou seja, ir até o lugar longínquo para pregar o Evangelho, exige um chamado divino, não é algo que possa ser feito por todos os crentes.

-Como já salientamos supra, assim é que a Palavra de Deus nos mostra: o Espírito Santo disse ter chamado Barnabé e Saulo para esta tarefa (At.13:2).

-Este chamado específico distingue, pois, o missionário neste trabalho de “missões transculturais”.

-Vê-se, portanto, que um dos modos de cooperar nas missões transculturais é o “fazer missões”, ou seja, ir até as outras plagas para lá pregar o Evangelho e ganhar almas para o Senhor.

-Para se “fazer missões”, por primeiro, deve ser chamado pelo Senhor. Barnabé e Saulo foram chamados pelo Espírito Santo para serem missionários e, por isso, puderam, ao retornar da primeira viagem missionária, “relatar quão grandes coisas Deus fizera por eles e como abrira aos gentios a porta da fé” (At.14:27).

-É preciso ser chamado pelo Senhor para ser missionário. Muitos querem ser “missionários” apenas para poderem emigrar e “tentar a sorte” noutro país, principalmente quando se vive uma séria crise econômico- financeira no país de origem, valendo-se, inclusive, de benefícios que alguns países fornecem para os missionários.

-Outros querem “fazer missões” para escapar de situações embaraçosas ou até mesmo de perseguição que estão a sofrer no país de origem, por vezes até em função da obra de Deus, fazendo, assim, um “autoexílio”.

-Outros, ainda, querem “fazer turismo”, conhecer novos lugares, ter contato com outros povos, aumentar seus conhecimentos.

-Entretanto, todos estes não terão êxito no seu “trabalho missionário”, pois se trata de uma tarefa que só pode ser desempenhada por quem for chamado pelo Senhor, devidamente comissionado para isto.

-Esta chamada específica, porém, não retira a responsabilidade de toda a igreja local pela obra missionária.

Cabe a toda membresia orar e contribuir para que o missionário possa, na linha de frente, ganhar almas para o Senhor Jesus.

-A chamada específica, também, não dispensa a devida capacitação do missionário para que ele possa bem exercer o seu ministério. Embora todos os membros devam ser capacitados para exercer aquilo que o Senhor os comissiona, os missionários transculturais têm de ter uma formação toda especial.

-Vemos que o Espírito Santo não chamou Barnabé e Saulo a esmo. Ambos tinham a devida formação para poderemos empreender esta tarefa.

-Barnabé era natural de Chipre (At.4:36), sendo, portanto, um judeu grego e que era levita e, portanto, dotado de conhecimento tanto da cultura grega quanto da lei de Moisés, não tendo sido por outro motivo que os apóstolos o enviaram a Antioquia quando souberam da conversão de gentios.

-Paulo, então, escolhido desde o ventre de sua mãe (Gl.1:15) para ser “vaso escolhido para levar o nome de Jesus diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel” (At.9:15), teve uma trajetória de vida que mostra muito bem o propósito divino:

natural de Tarso (At.9:11), centro filosófico estoico, foi formado na cultura grega;

tendo estudado aos pés de Gamaliel (At.22:3),

era doutor da lei e, sendo cidadão romano (At.22:27,28),

conhecedor do direito romano.

Com esta vasta cultura, poderia muito bem desempenhar o papel que lhe concedia o Senhor na pregação do Evangelho.

-A chamada específica não significa despreparo. Alguém que tem consciência da sua chamada missionária deve se esmerar para que, uma vez em terras estranhas, possa se utilizar de todo vasto conhecimento adquirido para poder bem levar a mensagem do Evangelho.

-Muitos procuram justificar a desnecessidade do preparo dizendo que, quando Deus chama, encarrega-Se de providenciar os meios pelos quais se fará a obra e como Deus não falha, não há qualquer necessidade de preparo humano.

-Não é isto, porém, que vemos ao longo das Escrituras. Bem ao contrário, vemos o extremo cuidado que o Senhor faz para que a pessoa esteja devidamente preparada para a obra que o Senhor a comissiona.

Muitas vezes, a pessoa nem sabe que está sendo preparada para o serviço para o qual foi escolhida, como é o caso do próprio apóstolo Paulo, mas se Deus faz com que ela se prepare, é porque o preparo é necessário e indispensável.

-Alguns, mesmo, chegam a dar como exemplo os missionários pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil, Gunnar Vingren e Daniel Berg, que teriam sido chamados pelo Senhor e nem mesmo sabiam onde ficava “Pará”, o lugar mencionado na profecia que os chamou.

-Mas vejam que interessante, amados irmãos. Os missionários foram até uma biblioteca para saber onde ficava o “Pará”.

Depois procuraram saber como viajar de onde estavam, nos Estados Unidos, para este lugar chamado “Pará” e, chegando ao Brasil, Daniel Berg foi arrumar um emprego e, com o salário, pagava as aulas de língua portuguesa para Gunnar Vingren, que depois ensinava a língua para eles. Tudo isso por quê?

Porque eles tinham de ter o mínimo de informações e de condições para poder pregar o Evangelho no Brasil.

-Então esta história de que “Deus Se encarrega” é apenas desculpa de preguiçoso e preguiça, sabemos todos, é pecado (Pv.6:6,9; 10:26; 12:27; 13:4; 15:19; 19:15,24; 20:4; 21:25; 22:13; 24:30; 26:13-15; 26:15,16; 31:27; Ec.10:18).

-Neste ponto, devem as igrejas locais, ao terem a nítida conscientização da chamada específica de um membro para a obra missionária, já contribuir para a formação desta pessoa, inclusive, se for o caso, ajudando a custear um curso em uma escola de missões, como é o caso da Escola de Missões das Assembleias de Deus (EMAD), vinculada à Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB).

-Observemos que toda a igreja em Antioquia, sabendo da escolha de Barnabé e Saulo pelo Espírito Santo, orou e jejuou para então só depois separar os dois missionários e os enviá-los ao campo missionário.

-Da mesma maneira, a igreja local tendo consciência inequívoca do chamado de alguém para missão transcultural, deve orar e jejuar, ajudar na preparação do missionário para só, então, posteriormente enviá-lo.

-Outro ponto importante é que o missionário é sempre alguém enviado por uma igreja local. A palavra “missionário”, aliás, é a correspondente latina da palavra grega “apóstolo”, e ambas significam “enviados”.

-Jesus disse que estava enviando os apóstolos, assim como o Pai O havia enviado (Jo.20:21), sendo, por isso mesmo, chamado na Bíblia de “apóstolo” (Hb.3:1), “o apóstolo do Pai”, como o denomina o pastor Antonio Sebastião da Silva, grande mestre da Palavra de Deus e diretor da Faculdade Teológica de Santo André (FATESA).

-Pois bem, se é Jesus quem nos envia, os missionários, chamados especificamente para este trabalho, também são enviados por Cristo e como atua o Senhor? Por meio da Igreja, que é o Seu corpo (I Co.12:27), sendo Ele a cabeça (Ef.5:23).

-Quando cremos em Jesus, somos inseridos na Igreja (I Co.12:12-14), de modo que não há a menor possibilidade de um membro deste corpo ser um membro vivo se não estiver no corpo.

-Quando cremos em Cristo, somos inseridos no corpo e, portanto, nenhum missionário irá ser enviado solitariamente, por conta própria, mas sempre enviado por uma igreja local, que se encarregará de orar, contribuir e permitir que este missionário faça missões.

O Espírito Santo chamou a Barnabé e a Saulo, mas eles foram enviados pela igreja em Antioquia (At.13:3), a quem foram prestar contas ao término da primeira viagem missionária (At.14:26-28).

-Hoje existem muitos “missionários free-lancer”, podemos dizer assim, que dizem ter recebido uma “chamada”, mas que não estão vinculados a igreja local alguma.

Tais pessoas são desordenadas e não podem ser levadas a sério, porque Deus não muda e não há nenhum caso deste nas Escrituras e, observemos, irmãos, se isto fosse possível, o tempo apostólico era o mais oportuno para que isto acontecesse, já que, naquele tempo primeiro da igreja, não se tinha a organização que hoje se tem.

-Não se confunda isto com um denominacionalismo ou algo similar. Há diversas organizações chamadas “paraeclesiásticas”, ou seja, que funcionam ao largo das igrejas locais, cuja função é precisamente o de apoiar a obra missionária.

Mas tais organizações apenas concentram os esforços das igrejas locais, mesmo não estando vinculadas a elas, para dar maior racionalidade e eficiência ao trabalho de pregação do Evangelho em todo o mundo, sendo, pois, elementos que fortificam a vinculação dos missionários às igrejas locais, algo bem diferente do que fazem estes pseudomissionários mencionados que, no mais das vezes, a exemplo daqueles irmãos de Tessalônica, querem apenas ter um modo de vida às custas do trabalho dos irmãos (II Ts.3:6-12).

-A Didaquê, um dos mais antigos livros de doutrina cristã, do século II, fala deste tipo de gente, “in verbis”:

“…Todo apóstolo que vier a ti seja recebido como o Senhor. Mas que ele não permaneça mais de um dia, ou dois dias, se houver uma necessidade.

Mas se ele permanecer três dias, ele é um falso profeta. E quando o apóstolo vai embora, não o deixe levar nada mais que pão até que ele se hospede.

Se ele pedir dinheiro, ele é um falso profeta…” (Cap.11. In: RODRIGUES, Cláudio J.A. (trad.). Apócrifos e pseudoepígrafos da Bíblia.
São Paulo: Novo Século, 2004, p.765).

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9941-licao-6-orando-contribuindo-e-fazendo-missoes-i

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