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LIÇÃO Nº 6 – SANTIFICARÁS O SÁBADO

 lição 06

O quarto mandamento aponta para o descanso em Cristo.   

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Leitura Diária – 1º Trim. 2015 – Lição 6: Santificarás o sábado click aqui

INTRODUÇÃO  

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, estudaremos o quarto mandamento, que fala a respeito da guarda do sábado.

– O quarto mandamento aponta para o descanso em Cristo.

I – QUAL É O QUARTO MANDAMENTO  

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, estudaremos o quarto mandamento. O quarto mandamento, segundo texto bíblico, é: “Lembra-te o dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tudo, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas.

Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Ex.20:8-11).

– Este mandamento é repetido com ligeiras modificações no livro de Deuteronômio, “in verbis”: “Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor teu Deus; seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado” (Dt.5:12-15).

– Na “fórmula catequética” de Agostinho, adotada pela Igreja Romana e pelos luteranos, este é o terceiro mandamento.

– Este mandamento tem sido objeto de controvérsia notadamente depois do surgimento do movimento adventista do sétimo dia, que tem insistido na necessidade da guarda do sábado.

– O mandamento proíbe que se trabalhe no dia do sábado. Cumpre observar que a palavra hebraica “shabat”( )שבת significa “descanso” e, portanto, este mandamento aponta para o “descanso”, para o “repouso”.

– Quando Deus proferiu esta “palavra” no monte Sinai fez questão de indicar que esta “palavra” estava relacionada com o seu “descanso” após a criação do mundo, o chamado “sábado da criação”.

– O significado deste “sábado da criação” é fundamental para entendermos este mandamento.

A narrativa da criação diz que o Senhor criou todas as coisas em “seis dias”, dias que sabemos que não são dias de vinte e quatro horas, até porque o sol somente foi criado no quarto dia (Gn.1:14-19).

– Estes “dias”, na verdade, são períodos indeterminados de tempo, durante os quais o Senhor criou todas as coisas.

Por isso, por exemplo, o pastor Ailton Muniz de Carvalho preferiu falar em “períodos da criação” e não em “dias da criação”.

OBS: “…Neste primeiro período, assim como nos seguintes, o tempo  em anos luz foi igual a 858.993.459,2 (…).

Como vimos anteriormente os períodos  tiveram duração igual a 858.993.459,2 anos luz…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação. 4.ed., pp.73,75).

– No entanto, é interessante notar que, durante toda a narrativa da criação, cada período era bem estabelecido, tanto que, ao término de cada um, a narrativa diz que “foi a tarde e a manhã” do referido “dia” (Gn.1:5,8,13,19,23,31).

– Com relação, porém, ao sétimo dia, não houve a expressão “tarde e manhã”, porque não se tratava de um período determinado de criação, mas, sim, de cessação da criação. Deus “descansou”, ou seja, Deus “deixou de criar”, passou tão somente a sustentar tudo aquilo que havia criado (Hb.1:3).

OBS: “…O descanso referido em nossos livros é o ato da não intervenção física e direta na matéria.

Enquanto D’us cessou de criar, de intervir na natureza, os judeus não a transformam. Assim, para nos assemelharmos ao Criador (D’us criou o homem à sua semelhança) também não intervimos na matéria, não mexemos em eletricidade, não arrancamos folhas, não acendemos fogo, não colhemos frutas, não deixamos a água ferver e não deslocamos objetos que não tenham utilidade no Shabat, por exemplo.

Pois essas são ações nas quais, de alguma forma, trocamos o rumo da matéria.

Se não tivéssemos interferido, ela continuaria do jeito que estava antes. Isso vem explicar a semelhança entre o Shabat e o Criador, pois Ele é Eterno, Imutável e, por analogia, podemos caracterizá-Lo envolto em grande tranquilidade.…” (DAYAN, Roni. Um dia diferente. Morashá edição 29.  jun.2000. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=28&p=1 Acesso em 02 dez. 2014).  

– Tem-se, então, que este “descanso” não é propriamente uma abstenção de obras, não é uma ausência de trabalho, pois o Senhor Jesus foi claro ao mostrar que Deus nunca deixa de trabalhar (Jo.5:17), mas um período em que não haveria criação de novas coisas, mas tão somente a sustentação do que havia sido criado e que, inclusive, deveria ser cuidado, no que respeito à criação terrena, pelo homem.

– Sim, no dia sexto da criação, o Senhor criou o homem para que este dominasse sobre a criação terrena, dela cuidasse e, dentro da criatividade que Deus lhe havia dado, como que “complementasse” a criação (Gn.1:26; 2:16).

– O “descanso” de Deus, portanto, não era ausência de atividade, mas, bem ao contrário, tão somente a cessação da criação, criação esta que seria sustentada por Deus que, neste sustento e manutenção, teria a colaboração do ser humano, criado precisamente para este mister.

– O “descanso” de Deus, portanto, não era um dia, mas, sim, o propósito de Deus para toda a criação, o momento em que se desfrutaria a comunhão entre Deus e o homem, em que o Senhor, juntamente com a coroa da criação terrena, teria o cuidado e sustento de tudo que foi criado.

– Este “descanso”, no entanto, foi rompido com o pecado do primeiro casal, quando se rompeu a comunhão entre o Senhor e a humanidade, rompimento este que teve imediatas consequências para a própria criação, que foi amaldiçoada (Gn.3:17,18), criação que as Escrituras dizem que geme desde então, aguardando a sua redenção (Rm.8:19-23).

– Este “descanso” somente se pode restabelecer quando se restabelece a comunhão entre Deus e o homem, o que é obtido pelo Senhor Jesus, que veio restaurar esta comunhão, como deixa claro em Sua oração sacerdotal (Jo.17:21-23).

Não é por outro motivo que Cristo afirma que n’Ele encontramos descanso para as nossas almas (Mt.11:28-30), como também o escritor aos hebreus diz que ainda resta um repouso para o povo de Deus, que não era a Terra Prometida dada a Israel (Hb.4:4-11).

E, como se isto fosse pouco, o próprio apóstolo Pedro, ao pregar no templo de Jerusalém após a cura do coxo da porta Formosa, fez questão de dizer que a restauração de todas as coisas se dará quando o Senhor Jesus deixar os céus, onde está atualmente (At.3:21).

– Vemos, pois, logo de pronto, que a referência que Deus faz ao “sábado da criação” não faz alusão a um dia em que teria deixado de trabalhar e que, portanto, deveria ser um dia em que ninguém pode realizar qualquer obra, mas, sim, uma referência ao estado de comunhão que havia estabelecido com o homem e que deveria ser restaurado, pois o propósito divino é a redenção do homem.

II – O QUARTO MANDAMENTO  

– O quarto mandamento é a “santificação” do sábado. Observemos que o texto bíblico diz: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Ex.20:8) e “Guarda o dia de sábado para o santificar, como te ordenou o Senhor teu Deus”.

 OBS: Assim diz o Catecismo da Igreja Romana: “O terceiro mandamento do Decálogo refere-se à santificação do sábado: «O sétimo dia é um sábado: um descanso completo consagrado ao Senhor» (Ex.31:15) (§ 2168 CIC)

– Temos, pois, um mandamento que determina que o dia de sábado, o sétimo dia da semana, fosse “santificado”, ou seja, “separado para Deus”. Tem-se, pois, a determinação para que um dia específico, o sétimo dia da semana, fosse “reservado para o Senhor”, “separado para Ele”.

– Esta necessidade de um dia de dedicação ao Senhor decorria, precisamente, do fato de que a lei não era o patamar ideal do relacionamento entre Deus e Israel.

Israel, no monte Sinai, havia se colocado de longe (Ex.20:18), não quis ter um relacionamento direto com o Senhor (Ex.20:19) e, por isso, se fazia necessário, já que a lei não fora inscrita em seus corações (Jr.31:31-33; II Co.3:2-9), que se separasse um dia para que eles pudessem se dedicar integralmente ao Senhor.

– O sábado ficou, pois, sendo um sinal entre Deus e Israel, como se vê claramente em Ex.31:13-17, sendo este, aliás, o único mandamento em que o Senhor disse que se trataria de um sinal entre Ele e os filhos de Israel.

– Como se não bastasse isso, ao repetir os dez mandamentos, Moisés deixou claro ao povo de Israel que um dos objetivos da guarda do sábado era para que o povo se lembrasse que o Senhor havia tirado Israel com mão forte e braço estendido da terra do Egito (Dt.5:15), ou seja, tratava-se de um mandamento vinculado estritamente à formação do povo de Israel pelo Senhor, uma demonstração do senhorio de Deus sobre Israel.

 – Notamos, portanto, que este mandamento estava umbilicalmente relacionado com o povo de Israel, à extrema necessidade que Israel tinha de dedicar um tempo para o dizia respeito Senhor, já que não havia sido estabelecida a comunhão plena que era o propósito divino, ante a incredulidade apresentada pelo povo durante a peregrinação do Egito até o monte Sinai.

– Esta “santificação” do sábado seria a abstenção de toda e qualquer obra no sétimo dia, quando os israelitas lembrariam que o Senhor havia criado todas as coisas e que havia estabelecido um “descanso da criação”, um momento em que viveria em comunhão com o homem, momento este que, entretanto, estava rompido por causa do pecado.

OBS: Assim diz o Catecismo da Igreja Roman: “ A Escritura faz, a este propósito, memória da criação: «Porque em seis dias o Senhor fez o céu e a terra, o mar e tudo o que nele se encontra, mas ao sétimo dia descansou. Eis porque o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou» (Ex.20:11) (§ 2169 CIC).

– O sábado representava, portanto, a lembrança daquele estado de comunhão entre Deus e o homem, um sinal que se estabelecia entre Deus e Israel para que os israelitas observassem que haviam sido escolhidos para ser “reino sacerdotal e povo santo”(Ex.19:6), que eram a “propriedade peculiar de Deus entre os povos” (Ex.19:5), e que, por isso mesmo, deveriam criar condições para que tal realidade se cumprisse entre eles.

Era um instante em que Israel deveria adorar a Deus e, deste modo, cumprir o propósito estabelecido pelo Senhor a eles.

– Na repetição da lei, Moisés ainda acrescenta que, no sábado, os israelitas deveriam lembrar que haviam sido servos na terra do Egito e que o sábado era uma demonstração de que, agora, eram eles servos de Deus, deveriam adorá-l’O, buscá-l’O no dia de sábado, não se envolvendo com qualquer obra terrena, mas se dedicando a Deus neste dia.

OBS: Assim diz o Catecismo da Igreja Romana: “A Escritura vê também, no dia do Senhor, o memorial da libertação de Israel da escravidão do Egito: «Recorda-te de que foste escravo no país do Egito, de onde o Senhor, teu Deus, te fez sair com mão forte e braço poderoso. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado» (Dt.5:15) (§ 2170 CIC).

– Notamos, portanto, que este mandamento era pedagógico, ou seja, tinha o propósito de fazer com que os israelitas se preparassem para uma vida de comunhão plena com o Senhor, a mesma comunhão que haviam rejeitado seja pela sua incredulidade, seja pelo seu distanciamento no momento em que ouviam as dez palavras proferidas no monte Sinai. Tanto assim é que se tem uma ordem dada única e exclusivamente aos filhos de Israel.

– Deveriam guardar o sábado somente os israelitas e os estrangeiros que morassem com os israelitas (Ex.20:10; Dt.5:14).

Trata-se de um mandamento, portanto, que não era amplo como os demais. Em nenhum outro mandamento há a especificação de quem estava submetido a ele, pois eram todos mandamentos gerais, aplicáveis a todos, mas, com relação ao sábado, notamos esta especificação, o que explica porque o sábado é chamado de sinal entre Deus e Israel (Ex.31:13,14).

– Como afirma João Calvino: “…O fim deste mandamento é que, mortos para nossos próprios interesses e obras, meditemos no Reino de Deus e a essa meditação nos apliquemos com os meios por ele estabelecidos.(…).

Costumam os antigos chamá-lo um mandamento prefigurativo, porque contém a observância externa de um dia, a qual foi abolida, com as demais figuras, na vinda de Cristo, o que certamente é por eles dito com verdade, mas ferem a questão apenas pela metade.(…).

Primeira, pois o celeste Legislador quis que sob o descanso do dia sétimo prefigurasse ao povo de Israel um repouso espiritual, pelo qual devem os fiéis descansar de suas próprias atividades para que deixem Deus neles operar.

Segunda, quis ele que um dia fosse estabelecido no qual se reunissem para ouvir a lei e realizar os atos de culto, ou, pelo menos, o qual consagrassem particularmente à meditação de suas obras, de sorte que, por esta rememoração, fossem exercitados à piedade.

Terceira, ordenou um dia de repouso no qual se concedesse aos servos e aos que vivem sob o domínio de outros para que tivessem alguma relaxação de seu labor.…” (Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, p. 154).

OBS: Assim diz o Catecismo da Igreja Romana: “ Deus confiou a Israel o sábado, para ele o guardar em sinal da Aliança inviolável (Ex.31:16).

O sábado é para o Senhor, santamente reservado ao louvor de Deus, da Sua obra criadora e das Suas ações salvíficas a favor de Israel” (§ 2171 CIC).

– Ao estabelecer este mandamento, portanto, o Senhor estava a prefigurar o descanso espiritual que desejava dar a Israel e, por extensão, a toda a humanidade, através de Israel, descanso este que não havia sido obtido na aliança do Sinai e, portanto, era reservado um dia para que os israelitas lembrassem que havia necessidade deste repouso, deste descanso espiritual.

– Este descanso material estabelecido para o sábado era, pois, uma figura daquele descanso que se pretendia, um repouso espiritual, um estado de comunhão entre Deus e o Seu povo, algo que ainda não era possível diante da permanência do pecado.

 Simultaneamente, através deste mandamento, o Senhor mostrava ao povo que havia mais sublime e superior do que as coisas terrenas, do que o cotidiano repleto de tarefas nesta peregrinação terrena, algo relativo às “coisas de cima”, tanto que, no sábado, deveria o israelita lembrar-se de Deus, dedicar-se a Deus, que era o próprio formador da sua nação.

– O mandamento, portanto, comportava um preceito positivo, que era o de “santificar o sábado”, ou seja, separar o dia de sábado para a adoração ao Senhor, para que houvesse lembrança de Suas obras em prol do povo de Israel e outro, negativo, que era o de não fazer qualquer obra naquele dia.

– O preceito positivo consiste em separar um tempo para a adoração a Deus, para se dedicar às coisas divinas, o que o apóstolo Paulo denominou de “coisas de cima” (Cl.3:2). “…Lendo o primeiro capítulo da Torá, percebemos que a o projeto da criação segue uma ordem enumerada do objetivo mais simples ao mais complexo. Primeiro foram criadas a luz e a escuridão. Depois surgiram os mares, as plantas, os animais, e assim por diante.

Os últimos a serem criados não foram o homem e nem a mulher, mas sim o Shabat, no sétimo dia.

Seguindo esse raciocínio, percebemos que tudo foi criado para o homem, mas esse também tinha sua função. Ele foi criado, entre outros, para “servir” o Shabat. O que faz o Shabat ser a última das criações? A sua própria semelhança com os atributos do seu Criador (…)Ele é Eterno, Imutável e, por analogia, podemos caracterizá-Lo envolto em grande tranquilidade.…” (DAYAN, Roni. end.cit.).

– O preceito negativo consiste em se abster das obras terrenas, deixar de exercer atividades concernentes ao dia-a-dia de nossa peregrinação terrena, que nos fazem esquecer de Deus, que nos podem fazer negligenciar nosso relacionamento com o Criador de todas as coisas, o propósito estabelecido por Deus para nós.

– Segundo os doutores da lei, eram 39 (trinta e nove) as atividades proibidas no dia de sábado.

“…transportar, queimar, extinguir, fazer acabamento, escrever, apagar, cozinhar, lavar, costurar, rasgar, amarrar, desamarrar, moldar, arar, plantar, segar, colher, debulhar, joeirar, escolher, peneirar, moer, amassar, pentear, fiar, tingir, fazer ponto em série, urdir trama, tecer, desembaraçar, construir, demolir, pegar em armadilha, cortar, abater, esfolar, curtir o couro, amaciar o couro e marcar.…” (DAYAN, Roni, end.cit.).

 OBS: “Os trabalhos primários são quarenta menos um:

semear, arar, colher, agrupar feixes, debulhar, dispersar, catar, moer, peneirar, preparar massa, assar, tosquiar, lavar a lã, desembaraçar a lã, tingir a lã, fiar, tecer, dar dois nós, tecer dois fios, separar duas linhas, atar, desatar, coser, rasgar, caçar, abater, raspar o couro, curtir o couro, alisar o couro, demarcar o couro, cortar, escrever, apagar, construir, demolir, acender fogo, apagar ou diminuir o fogo, martelar, transportar algo desde um ambiente particular a um público’ (Mishná Shabat 7:2, Shabat 73a) (tradução parcial nossa de texto em inglês) (Disponível em: http://www.come-and-hear.com/shabbath/shabbath_73.html e http://pt.wikipedia.org/wiki/Atividades_proibidas_no_Shabat Acesso em 05 dez. 2014).

– Este mandamento era, portanto, uma figura, um tipo, uma sombra de um descanso futuro, que restabeleceria o descanso primeiro, que fora rompido com o pecado.

Era uma lembrança da magnificência do Senhor, dos Seus propósitos para com Israel, propósitos que não foram obtidos quando da aliança no monte Sinai, ante a incredulidade e o distanciamento do povo.

– É oportuno observar que, entre os próprios mestres judeus, considera-se que o sábado não foi dado a Israel no monte Sinai. Ali o Senhor proferiu o mandamento do sábado, mas ele já havia sido dado aos israelitas em Mara.

– Quando do episódio das águas de Mara, quando o Senhor, pela terceira vez, pôs a fé dos filhos de Israel à prova, é dito que o Senhor deu aos israelitas estatutos e uma ordenação (Ex.15:25).

OBS: “…D’us os reprovou fazendo eles aceitarem mitsvot [mandamentos, observação nossa], tanto chukim (preceitos acima da compreensão), quanto mishpatim (preceitos autocompreendidos).…” (RASHBAM apud CHUMASH: o livro de Êxodo, p.106).

– Que “estatutos e ordenança” foram estes que o povo de Israel recebeu em Mara?

O Talmude assim afirma: “…Certamente foi ensinado: os israelitas receberam dez preceitos em Mara, sete dos quais já tinham sido aceitos pelos filhos de Noé, aos quais foram acrescentadas em Mara as leis sociais, o sábado e a honra aos pais; ‘leis sociais’, pois está escrito, ‘ali lhes deu um estatuto e uma ordenança [Ex.15:25] — ‘o sábado e a honra aos pais’, pois está escrito ‘o Senhor seu Deus te ordenou’ [Dt.5:12,16]…” (Tratado Sanhedrin 56b).

 OBS: Os sete preceitos dados aos filhos de Noé são o pacto estabelecido entre Deus e Noé e que se encontram em Gn.9:1-17, a saber:

“…praticar a equidade, não blasfemar o nome de Deus, não praticar idolatria, imoralidades, assassinatos e roubos; não tirar e comer o membro de um animal estando ele vivo…” (MELAMED. Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés, com. a Gn.9:4, p.22).

– Segundo esta interpretação, portanto, em Mara, o Senhor deu aos israelitas “estatutos” e uma “ordenação”, ou seja, preceitos civis e cerimoniais (os estatutos) e uma ordenação, que seria um preceito moral, que, segundo os mesmo mestres, seria o mandamento de honra aos pais.

– Este entendimento rabínico é elucidativo, porquanto, antes mesmo da chegada do povo ao monte Sinai, foi determinado aos israelitas que não colhessem o maná no sábado (Ex.16:23), porque ele era “repouso”, o “santo sábado do Senhor”, algo, aliás, que não foi observado pelo povo (Ex.16:27), o que causou indignação da parte do Senhor, que mandou que o povo ficasse cada um em seu lugar no dia sétimo (Ex.16:28-30).

– Vê-se, portanto, que, ante a expressão “estatutos e uma ordenação”, os próprios mestres judaicos dão ao sábado o papel de preceito cerimonial, ou seja, um preceito que tinha a ver com as “sombras dos bens futuros”, com a tipificação de uma realidade espiritual que se cumpriria em Cristo Jesus.

– Esta circunstância de ser o sábado um preceito cerimonial fica evidenciada pelo Senhor Jesus quando interpelado pelos fariseus a respeito da colheita de espigas que os Seus discípulos fizeram, porque estavam famintos (Mt.12:1,2).

– Ora, segundo temos visto, era proibido colher no dia de sábado.

Portanto, os discípulos estão, mesmo, quebrantando o mandamento do sábado.

Interpelado a respeito, o Senhor Jesus respondeu aos fariseus que Davi e seus homens haviam, também, por causa da fome, comido dos pães da proposição, o que era proibido pela lei (Ex.29:33), comparando, pois, o sábado a um preceito cerimonial, o que reafirma que este mandamento é cerimonial e, portanto, válido somente enquanto não viesse o Senhor Jesus.

– Como se não bastasse isso, o Senhor Jesus, ainda respondendo à interpelação dos fariseus, lembra-os de que o sacerdote podia violar o sábado e ficar sem culpa (Mt.12:5), quando oferecesse o sacrifício do sábado (Nm.28:9), mais uma vez mostrando que o mandamento do sábado era cerimonial, ou seja, admitia exceções, algo que um preceito moral jamais admitiria.

– O Catecismo Romano mostra bem a natureza deste preceito ao afirmar que “…Os demais mandamentos são propriamente leis naturais, e, por conseguinte, imutáveis; tanto que, ainda depois da abrogação da lei de Moisés, continuam obrigando em consciência a todos os homens. Sua virtude radica na força do mesmo direito natural e não em sua positiva disposição.

 Este, pelo contrário, no que respeita à eleição do dia destinado ao culto divino, não é de direito natural, senão puramente positivo, e, por conseguinte, é suscetível de variação…” (Dos mandamentos, Capítulo III – O terceiro mandamento, n.I. Cit. Ex.20:9-11. N. 3300. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 02 dez. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Nota-se, pois, que este mandamento, ao contrário dos outros, faz parte dos preceitos chamados cerimoniais, que apontavam para uma realidade espiritual que se revelaria em Cristo Jesus e que, por isso mesmo, estaria completamente deixado de lado quando da vinda do Messias.

III – O SIGNIFICADO DESTE MANDAMENTO PARA A IGREJA  

– Sendo, pois, um preceito cerimonial, que indicava uma realidade espiritual que seria vivenciada quando da vinda de Jesus Cristo, temos que o quarto mandamento não é para ser observado pela Igreja, este povo edificado pelo próprio Senhor Jesus (Mt.16;18).

– A realidade espiritual apontada pelo quarto mandamento era o descanso espiritual em Jesus Cristo, descanso este que teriam todos quantos fossem ao encontro de Nosso Senhor, como Ele mesmo afirma em Mt.11:28-29.

– Quando cremos em Jesus, entramos novamente em comunhão com Deus e, por isso mesmo, temos “descanso”, temos “repouso”, pois voltamos a compartilhar daquele estado estabelecido por Deus após o término da criação com o homem no jardim do Éden.

– Como afirma o escritor aos hebreus, “…nós, os que temos crido, entramos no repouso…” (Hb.4:3), repouso este que não era a Terra Prometida, negada para a geração do êxodo, ante a sua incredulidade, mas um repouso que foi profetizado por Davi, resultante daqueles que não endureceram os seus corações ao Senhor (Hb.4:7).

– E em que dia temos este descanso, temos este repouso? No dia chamado “hoje”, diz o escritor aos hebreus (Hb.4:7).

– Quando entramos em comunhão com Deus, estamos em contínuo e permanente repouso, porque desfrutamos da presença do Senhor em nós, nada nos pode separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.8:35-39).

– Ao contrário do povo de Israel, que se distanciou de Deus no monte Sinai e não quis ter comunhão com Deus, nós, agora, por Cristo Jesus, passamos a ter comunhão com o Senhor, durante todos os dias, todos os momentos, daí porque o escritor aos hebreus dizer que o dia a ser guardado passa a ser “hoje”, visto que, por estarmos em comunhão com Deus, passamos a viver a Sua atemporalidade, como que participando da Sua eternidade.

– Com efeito, “vida eterna” é o que recebem aqueles que creem em Jesus (Jo.3:16,36; 5:24; 6:27,47; 10:28), que entram em comunhão com Deus por intermédio de Nosso Senhor e Salvador. Passamos a ser “participantes da natureza divina” (II Pe.1:4). O próprio Jesus disse que o mandamento do Pai era a vida eterna (Jo.12:50) e que a vida eterna consistia em conhecer ao Pai como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, por Ele enviado (Jo.17:3).

– Diante disto, vemos que, uma vez em Cristo, não temos mais de guardar dias, pois o dia do repouso é “hoje”, ou seja, todos os dias, pois passamos a ter a vida eterna e não há mais sentido de termos um tempo específico para adorar a Deus, um dia especial para fazê-lo, pois estes são todos os dias a partir do instante em que entramos em comunhão com o Senhor.

– Paulo deixa-nos isto bem claro ao afirmar aos gálatas que, sendo eles filhos de Deus, estando em comunhão com o Pai, de tal modo que possuíam em si o Espírito Santo, não podiam mais se prender a “rudimentos fracos e pobres”, que o apóstolo entende ser a guarda de dias, meses, tempos e anos (Gl.4:6- 10).

– O quarto mandamento, um preceito cerimonial, apontava para o estado de comunhão entre Deus e os homens, para o “descanso” estatuído por Deus após o término da criação, que se rompera com o pecado.

Tendo se tornado realidade tal descanso, com a vinda de Cristo Jesus, todos quantos se reconciliam com Deus por intermédio de Jesus não mais necessitam guardar dias, pois o seu dia passa a ser “hoje”, ou seja, está ele, como portador da vida eterna, permanentemente adorando ao Senhor, permanentemente pensando nas “coisas de cima”, porque já está morto e a sua vida está escondida com Cristo em Deus (Cl.3:1-3).

OBS: O Catecismo Romano assim afirma: “…O Preceito, porém, de observar o sábado, no que refere à determinação do tempo, não é fixo nem perpétuo, mas é passivei de mudança. Não pertence aos Preceitos morais, mas antes às prescrições cerimoniais.

Não faz parte tampouco da lei natural, porque não é a natureza que nos ensina e move a render culto externo a Deus nesse dia, de preferência a outro qualquer. O próprio povo de Israel só começou a celebrar o dia de sábado, a partir do tempo em que foi libertado da escravidão de Faraó. O tempo cm que se devia abrogar a observância do sábado como tal, coincide com a época em que deviam também caducar os demais ritos e cerimônias hebraicas, quer dizer, por ocasião da Morte de Cristo.

 Essas cerimônias eram como que pálidas imagens da luz e da verdade. Força era, portanto, que desvanecessem ao raiar a própria luz e verdade, que é Jesus Cristo …. Nesse sentido é que São Paulo escreveu aos Gálatas, repreendendo os que observavam o rito mosaico: “Observais os dias e os meses, os tempos e os anos. Receio, pois, ter trabalhado entre vós inutilmente”. A mesma declaração fez ele na epistola aos Colossenses…” (MARTINS, Frei Leopoldo Frei. O.F.M.. Catecismo romano,  p.436).

– A conversão do homem a Deus representa a nossa morte para o mundo e a nossa vida para Deus, o que é simbolizado pelo batismo nas águas (Rm.6:3-11). Se mortos estamos para o mundo, o tempo não mais corre para nós e, por isso, não estamos mais presos a um calendário terreno, a dias de guarda para que adoremos ao Senhor, pois a nossa adoração, doravante, como disse o Senhor à mulher samaritana é “aqui e agora” (Jo.4:23).

OBS: Calvino bem demonstra isto: “…não há dúvida de que pela vinda do Senhor Jesus Cristo o que era aqui cerimonial foi abolido. Pois ele é a verdade, por cuja presença se desvanecem todas as figuras; o corpo, a cuja visão são deixadas para trás as sombras. Ele é, digo-o, o verdadeiro cumprimento do sábado.

Com ele, sepultados através do batismo, fomos enxertados na participação de sua morte, para que, participantes de sua ressurreição, andemos em novidade de vida [Rm 6.4]. Por isso, escreve o Apóstolo em outro lugar que o sábado tem sido uma sombra da realidade futura, e que o corpo, isto é, a sólida substância da verdade, que bem explicou naquela passagem, está em Cristo [Cl 2.17].

 Esta não consiste em apenas um dia, mas em todo o curso de nossa vida, até que, inteiramente mortos para nós mesmos, nos enchamos da vida de Deus. Portanto, que esteja longe dos cristãos a observância supersticiosa de dias.…” (op.cit., p.156).

– Este estado é o que se denominou de “sábado espiritual”, nas palavras, ainda, do Catecismo Romano, “in verbis”: “…Ora. o sábado espiritual consiste numa espécie de santo e místico repouso que se goza quando o velho homem, sepultado com Cristo, ressuscita para uma vida nova, esmerando-se em práticas que são próprias da vida cristã.

Porquanto, ‘os que outrora eram trevas, e agora são luz no Senhor’, devem “andar como filhos da luz… em toda a bondade, justiça e verdade… e não tomar parte nas infrutuosas obras das trevas (Ef.5:8-11)” (MARTINS, Frei Leopoldo Frei OF.FM., p.440).

– Apesar disto, tanto romanistas quanto reformados entenderam que o mandamento do sábado ainda remanescia em dois aspectos, quais sejam: o da necessidade de haver dias determinados para o culto a Deus bem como para que as pessoas pudessem descansar de seu trabalho.

– O mandamento do sábado, segundo eles, deveria ser considerado mantido como o princípio de que se deve reservar um dia determinado para que haja o culto a Deus. Nas palavras de Calvino: “…ainda que o sábado esteja cancelado, entre nós, não obstante, ainda tem lugar isto: primeiro, que nos congreguemos em dias determinados para ouvir a Palavra, para partir o pão místico, para as orações públicas; segundo, para que se dê aos servos e aos operários relaxação de seu labor.…” (op.cit., p.156).

– Diferentemente não tratam os romanistas. Ao lermos o Catecismo Romano, nele encontramos a seguinte afirmação: “…Há, neste Preceito, pontos comuns com os restantes, não pelos seus ritos e cerimônias, mas pelo que também se liga à moral e à lei natural.

Pois, pelo teor deste Preceito, o culto a Deus e a observância da Religião tiram sua origem do direito natural, porque a própria natureza nos induz a empregar algumas horas ao culto externo de Deus. Em prova desta asserção, verificamos que todos os povos estabelecem determinadas festas, de caráter público, destinadas a piedosas práticas de Religião.

 Para o homem, é natural consagrar algum tempo às funções da vida orgânica, como seja repouso corporal, sono, e outras coisas semelhantes. Assim também corresponde à natureza, que o homem conceda à sua alma algum tempo, como faz para o corpo, a fim de que ela possa restaurar suas forças no trato íntimo com Deus.

Desde que deve reservar-se um tempo à ocupação com as coisas divinas e ao culto devido a Deus, é indubitável que o presente Preceito faça parte da Lei Moral.…(MARTINS, Frei Leopoldo Frei. O.F.M., op.cit., p.437).

– Por causa disso, tanto romanistas quanto reformados entendem que ainda se deve guardar um dia para o culto externo de Deus e para o repouso material e entendem que este “sábado cristão” é o domingo, o “dia do Senhor”, por ter sido este o dia em que o Senhor Jesus ressuscitou (Mt.28:1-6; Mc.16:1- 6; Lc.24:1-6; Jo.20:1-10), bem assim o dia em que ocorreram os dois primeiros cultos cristãos (Jo.20:19- 23,26).

OBS: “Jesus ressuscitou dentre os mortos “no primeiro dia da semana” (Mc 16,2[a39] ).Enquanto “primeiro dia”, o dia da Ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. Enquanto “oitavo dia”, que segue ao sábado, significa a nova criação inaugurada com a Ressurreição de Cristo.

 Para os cristãos, ele se tomou o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor (“Hé kyriaké hemera”, “dies dominica “), o “domingo”: Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia (após sábado dos judeus, mas também o primeiro dia) em que Deus extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, nesse mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos] .

 O domingo se distingue expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, a cada semana, e cuja prescrição espiritual substitui, para os cristãos. Leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judeu e anuncia o repouso eterno do homem em Deus.

Pois o culto da lei preparava o mistério de Cristo e o que nele se praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo: Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança não mais observando o sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida é abençoada por Ele e por sua morte.

A celebração do domingo observa a prescrição moral naturalmente inscrita no coração do homem de “prestar a Deus um culto exterior, visível, público e regular sob o signo de seu beneficio universal para com os homens”. O culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo ritmo e espírito retoma ao celebrar cada semana o Criador e o Redentor de seu povo” (§§ 2175-2176 CIC).

                     “…Contudo, não foi sem alguma razão que os antigos escolheram o dia do domingo para pô-lo no lugar do sábado. Ora, como na ressurreição do Senhor está o fim e cumprimento daquele verdadeiro descanso que o antigo sábado prefigurava, os cristãos são advertidos pelo próprio dia que pôs termo às sombras a não se apegarem ao cerimonial envolto em sombras…” (CALVINO, João. op.cit., p.158).

– Não resta dúvida de que os cristãos se reuniam no “primeiro dia da semana”, ou seja, no domingo, como se verifica não só nas já mencionadas passagens do evangelho segundo João, mas também em outras passagens como At.20:7 e I Co.16:2, tendo sido este, também, o dia em que o Senhor Jesus Se manifestou glorificado a João na ilha de Patmos para dar início à revelação que selaria as Escrituras Sagradas (Ap.1:10).

– Assim, nada mais natural que os cristãos tenham escolhido o domingo, o primeiro dia da semana, o dia do Senhor para que se reunissem e adorassem publicamente a Deus, bem como nele celebrassem a ceia do Senhor. No entanto, tal atitude não representa a existência de “um dia de guarda”, mas, sim, é tão somente uma medida que representa, como diz o próprio João Calvino, “…como um remédio necessário para reter-se ordem na Igreja.…” (op.cit., p.157).

– Neste sentido, razão não tem o Catecismo Maior de Westminster quando estabeleceu que “…No quarto mandamento exige-se que todos os homens santifiquem ou guardem santos para Deus todos os tempos estabelecidos, que Deus designou em sua Palavra, expressamente um dia inteiro em cada sete; que era o sétimo desde o princípio do mundo até à ressurreição de Cristo, e o primeiro dia da semana desde então, e há de assim continuar até ao fim do mundo; o qual é o sábado cristão, que no Novo Testamento se chama Dia do Senhor. Gn 2:3; Is 56:2,4,6,7; I Co 16:2; At 20:7; Jo 20:19-27; Ap 1:10.… (pergunta 116. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 02 dez. 2014).

– Não há mais esta prescrição de um dia em sete para que se guarde ao Senhor, pois já desfrutamos do descanso espiritual. O dia de guarda do cristão não é o domingo, mas, sim, o “hoje”.

– Segundo o Catecismo Maior de Westminster: “117. Como deve ser santificado o Sábado ou Dia do Senhor (=Domingo)?  O Sábado, ou Dia do Senhor (=Domingo), deve ser santificado por meio de um santo descanso por todo aquele dia, não somente de tudo quanto é sempre pecaminoso, mas até de todas as ocupações e recreios seculares que são lícitos em outros dias; e em fazê-lo o nosso deleite, passando todo o tempo (exceto aquela parte que se deve empregar em obras de necessidade e misericórdia) nos exercícios públicos e particulares do culto de Deus.

Para este fim havemos de preparar os nossos corações, e, com toda previsão, diligência e moderação, dispor e convenientemente arranjar os nossos negócios seculares, para que sejamos mais livres e mais prontos para os deveres desse dia. Ex 16:25,26;20:8,10; Lv 23:3; Is 58:13,14; Ne 13.19; Jr 17:21,22; Mt 12:1-14; Lc 4:16;23:54-56; At 20:7.…”.

– Entre os romanistas não é diferente a situação, pois existe a “obrigação do domingo”, segundo a qual o fiel católico é obrigado a participar da missa no domingo, considerado domingo desde o sábado à tarde (o que revela aqui um certo resquício judaizante), sendo pecado grave quem não o faz.

OBS: Assim dispõe o Catecismo da Igreja Romana: “O mandamento da Igreja determina e especifica a lei do Senhor: “Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da missa”. “Satisfaz ao preceito de participar da missa quem assiste à missa celebrada segundo o rito católico no próprio dia de festa ou à tarde do dia anterior.

A Eucaristia do domingo fundamenta e sanciona toda a prática cristã. Por isso os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor. Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado grave” (§§ 2180,2181 CIC).

– Não há mais guarda de dias na dispensação da graça. O mandamento do sábado é um preceito cerimonial, que, com a vinda de Cristo, não tem mais qualquer vigência. Evidente que a necessidade do repouso material e o aproveitamento deste repouso para também se ter uma maior dedicação ao Senhor são atitudes meritórias e que devam ser estimuladas, inclusive para que se dê uma certa ordenação no culto externo ao Senhor.

 Mas nada disso deve ser confundido com a necessidade de se guardar um dia, pois, se estamos em Cristo, é Ele o nosso descanso, é Ele o nosso sábado.

– Este pensamento de que exista um “dia de guarda” tem sido um conceito que grande desserviço tem causado para a Cristandade, pois é a partir deste pensamento que muitos têm entendido que devem adorar a Deus e se dedicar às coisas do Senhor somente aos domingos, “o dia do Senhor”.

É este pensamento que fez com que surgissem, entre os romanistas, os “católicos não praticantes”, que, via de regra, começaram como “católicos domingueiros”, fenômeno que também já está presente entre os protestantes. Basta uma simples vista d’olhos nas reuniões das igrejas locais durante a semana para vermos quantos “crentes domingueiros” existem em nosso meio…

– A ideia de um “dia de guarda” nega totalmente o estado de comunhão espiritual de que se desfruta quando se tem a vida escondida com Cristo em Deus, obnubila a necessidade que temos de ter uma íntima comunhão com o Deus, uma comunhão diária. Faz-nos, também, negligenciar a extrema necessidade de vivermos em constante vigilância, já que não sabemos o dia nem a hora em que virá o Nosso Senhor (Mc.13:32-37).

– Não houve, portanto, substituição do sábado pelo domingo no que toca a este quarto mandamento, mas houve a própria mudança da própria ideia de um “dia de guarda” pelo do restabelecimento do “sábado espiritual”. O dia do salvo em Cristo Jesus não é o sábado, nem passou a ser o domingo, mas, sim, passou a ser “hoje”.

IV – A REFUTAÇÃO DO SABATISMO ADVENTISTA

– Por fim, cumpre-nos, ainda, tendo em vista que é este o mandamento que mais polêmica causa por causa dos adventistas do sétimo dia, apresentar a refutação do pensamento trazido por este segmento religioso, que tantos problemas têm causado para a saúde espiritual de muitos que cristãos se dizem ser.

– Por primeiro, cumpre observar que a guarda do sábado não constava como preceito do movimento adventista em sua gênese. O fundador do movimento adventista, William Miller (1782-1849), apenas pregava sobre o “advento”, ou seja, a “segunda vinda de Cristo” que ele, inadvertidamente, marcou para 1843 e, depois, 1844.

– Como Jesus não voltou nas duas datas designadas por Miller, ocorreu o que os próprios adventistas denominam de “grande desapontamento”. Muitos deixaram o movimento, o próprio Miller inclusive, mas alguns adeptos tentaram manter o movimento, através de uma reinterpretação.

– Entre estes, ganhou proeminência uma jovem chamada Ellen Gould White (1827-1915) que, em dezembro de 1844, ou seja, cerca de dois meses depois do “grande desapontamento”, diz ter começado a ter visões, visões estas que ajudaram a “compreender” o “desapontamento”, quando, então, se verificou que não se tratava do retorno de Cristo à Terra, mas, sim, de uma suposta entrada do Senhor no “santuário celestial” para o purificar.

– Pois bem, ante este “rearranjo” da mensagem adventista, o movimento pôde sobreviver e, em 1847, Ellen White teve nova visão, que ela mesmo descreve, “in verbis”: “…Em 1847, enquanto os irmãos estavam reunidos no sábado em Topsham, Maine, o Senhor deu-me a seguinte visão: Sentíamos um incomum espírito de oração.

 E ao orarmos o Espírito Santo desceu sobre nós. Estávamos muito felizes. Logo perdi de vista as coisas terrestres e fui arrebatada em visão da glória de Deus. Vi um anjo que voava ligeiro para mim. Rápido levou-me da Terra para a Cidade Santa. Na cidade vi um templo no qual entrei. Passei por uma porta antes de chegar ao primeiro véu.

 Este véu foi erguido e eu entrei no lugar santo. Ali vi o altar de incenso, o castiçal com sete lâmpadas e a mesa com os pães da proposição. Depois de ter eu contemplado a glória do lugar santo, Jesus levantou o segundo véu e eu passei para o santo dos santos. No lugar santíssimo vi uma arca, cujo alto e lados eram do mais puro ouro.

Em cada extremidade da arca havia um querubim com suas asas estendidas sobre ela. Tinham os rostos voltados um para o outro, e olhavam para baixo. Entre os anjos estava um incensário de ouro. Sobre a arca, onde estavam os anjos, havia o brilho de excelente glória, como se fora a glória do trono da habitação de Deus.

Jesus estava junto à arca, e ao subirem a Ele as orações dos santos, a fumaça do incenso subia, e Ele oferecia suas orações ao Pai com o fumo do incenso. Na arca estava a urna de ouro contendo o maná, a vara de Arão que florescera e as tábuas de pedra que se fechavam como um livro. Jesus abriu-as, e eu vi os Dez Mandamentos nelas escritos com o dedo de Deus.

Numa das tábuas havia quatro mandamentos e na outra seis. Os quatro da primeira tábua eram mais brilhantes que os seis da outra. Mas o quarto, o mandamento do sábado, brilhava mais que os outros; pois o sábado foi separado para ser guardado em honra do santo nome de Deus.

 O santo sábado tinha aparência gloriosa – um halo de glória o circundava. Vi que o mandamento do sábado não fora pregado na cruz. Se tivesse sido, os outros nove mandamentos também o teriam, e estaríamos na liberdade de transgredi-los a todos, bem como o quarto mandamento. Vi que Deus não havia mudado o sábado, pois Ele jamais muda.

Mas Roma tinha-o mudado do sétimo para o primeiro dia da semana; pois deveria mudar os tempos e as leis. E eu vi que se Deus tivesse mudado o sábado do sétimo dia para o primeiro, Ele teria mudado a redação do mandamento do sábado, escrito nas tábuas de pedra, que estão agora na arca no lugar santíssimo do templo no Céu; e seria lido assim: O primeiro dia é o sábado do Senhor teu Deus.

Mas eu vi que nele se lê da mesma maneira como foi escrito nas tábuas de pedra pelo dedo de Deus, e entregue a Moisés no Sinai: “Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus.” Êxo. 20:10. Vi que o santo sábado é, e será, o muro de separação entre o verdadeiro Israel de Deus e os incrédulos, e que o sábado é o grande fator que une os corações dos queridos de Deus, os expectantes santos.

Vi que Deus tinha filhos que não reconheciam o sábado e não o guardavam. Eles não haviam rejeitado a luz sobre este ponto…” (Primeiros Escritos, pp.32- 35. Disponível em: http://luzdosabado.jimdo.com/segunda-visao/ Acesso em 02 dez. 2014).

– Como se pode perceber, temos que toda a ideia do sabatismo do movimento adventista nasce de uma “visão” de Ellen White que, após ter trazido a ideia da “purificação do santuário celestial”, trazia, também, agora, como corolário desta tese a necessidade da observância do sábado como “dia de guarda”, em total desconsideração do que constam nas Escrituras Sagradas, como vimos supra.

– Por primeiro, Ellen White diz ter sido levada até a “cidade santa”. Que cidade seria esta? Jerusalém? Mas Jerusalém não mais tinha templo em 1847. Mas, não poderia ter ocorrido o que aconteceu com Ezequiel, que foi levado para a Jerusalém do tempo do milênio (Ez.40-48)?

 Improvável, pois a descrição é diversa da que deu o profeta e não haveria mais razão alguma de ser de se ter uma tal visão, já que as Escrituras já estão encerradas. Além do mais, para Ellen White, o milênio é um tempo em que o diabo ficará confinado em uma terra que estará desolada e que, portanto, não terá templo. Mas não poderia ser, então, a nova Jerusalém? Não, não poderia ser, pois, na Jerusalém celeste, não há templo (Ap.21:22).

 OBS: Vejamos o entendimento de Ellen White sobre o milênio: “…Aqui deverá ser a morada de Satanás com seus anjos maus durante mil anos. Restrito à Terra, não terá ele acesso a outros mundos, para tentar e molestar os que nunca caíram.

É neste sentido que ele está ‘preso’. Ninguém ficou de resto, sobre quem ele possa exercer seu poder. Está inteiramente separado da obra de engano que durante tantos séculos foi seu único deleite…” (O grande conflito – edição condensada. Trad. de Hélio L. Grellmann. 4.ed., p.384)

– Mas, diga-se que a “cidade santa” fosse o céu e que o santuário visto por White fosse o tal “santuário celestial” que teria sido purificado em 1844. Nem assim, entretanto, se teria confirmado a visão. É que, no referido “santuário”, Ellen White teria visto a arca da aliança com a vara de Arão, as tábuas de pedra e o vaso de maná.

Ora, estes elementos foram introduzidos posteriormente na arca que Deus mandou que fosse construída pelos israelitas (Ex.16:33; Nm.17:10; Dt.10:5) e, portanto, eram elementos que não faziam parte da “arca da aliança” do “santuário celestial”. Assim, tem-se que a visão contraria o que se encontra nas Escrituras.

– Mas, diga-se que a “arca da aliança”, que desapareceu após a destruição do primeiro templo, tivesse sido removida para o “santuário celestial”, razão pela qual, aliás, tivesse desaparecido, tanto que esta mesma arca foi vista por João no céu (Ap.11:19).

Nem assim, porém, se sustenta esta visão, pois a arca do concerto já não mais tinha nem maná, nem a vara de Arão, mas somente as tábuas de pedra, quando foi levada para o templo construído por Salomão (II Cr.5:10). Portanto, a visão, mesmo assim, contraria a Bíblia Sagrada e, portanto não é digna de crédito.

– Vê-se, portanto, que a visão em que se baseia toda a doutrina adventista do sétimo dia não pode ser crida, pois contraria as Escrituras, o que basta para que seja totalmente rechaçada.

– Mas não é só! Na referida visão, Ellen White viu que a primeira tábua, com quatro mandamentos, brilhava mais que a segunda.

Ora, este “brilho maior” parece demonstrar que os mandamentos da primeira tábua eram maiores que os da segunda, o que, entretanto, uma vez mais contraria as Escrituras, pois Jesus, ao resumir os mandamentos, disse que o primeiro e grande mandamento (um resumo dos mandamentos que tratam do relacionamento entre Deus e os homens, a primeira tábua) era semelhante ao do amor ao próximo (um resumo dos mandamentos que tratam do relacionamento entre os homens, a segunda tábua) (Mt.22:36- 40). Mais uma contrariedade com relação às Escrituras.

– O mandamento do sábado, segundo a visão, brilhava mais que os demais, a indicar que ele era maior que os outros, mas, como vimos, o Senhor Jesus não o considerou deste modo, pelo contrário, disse que o amor a Deus é o primeiro e grande mandamento. Estaria Jesus a Se contradizer nesta visão? Ou, o que é óbvio, esta visão não procede do Senhor?

– Segundo a visão, o mandamento do sábado não tinha sido pregado na cruz, pois, se isto tivesse acontecido, os outros nove mandamentos também o teriam sido. Ocorre, porém, que o que vemos na Bíblia Sagrada é que toda a lei foi cravada na cruz, que fomos libertos da lei, que serviu de aio até Cristo (Gl.3:7-14). Mais uma vez, a visão contraria a Palavra de Deus.

– Ainda, segundo a visão, Deus não teria mudado, pois Deus não muda e quem havia mudado o sábado para o domingo teria sido Roma. Ora, amados irmãos, conforme vimos supra, não resta dúvida de que os cristãos, bem antes que Roma se arrogasse como o centro do cristianismo, já se reuniam no primeiro dia da semana, até porque foi o Senhor Jesus que ressuscitou neste dia e apareceu aos discípulos neste dia.

Assim, Roma nada tem que ver com a mudança do dia de culto dos cristãos, pois isto ocorreu bem antes que houve uma Igreja Católica Apostólica Romana. Vimos que, realmente, se criou um “dia de guarda” indevidamente entre os romanistas, o que é incorreto, mas está longe de representar o que pretende a sra. White. Muito pelo contrário, o que se fez foi restabelecer o “descanso espiritual” que havia sido rompido com o pecado do homem.

– Por fim, considerar que o sábado é o critério para separação entre crentes e incrédulos, como diz a visão, é anular, por completo, a obra redentora de Cristo Jesus. Cristo trouxe-nos a graça, pela qual alcançamos a justificação pela fé.

Querer basear-se nos mandamentos, e, mais precisamente, num preceito cerimonial dos dez mandamentos, para se ter como critério de salvação nada mais é que verdadeiro “suicídio espiritual”, pois, como disse o apóstolo Paulo: “…E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé” (Gl.3:11).

– Tanto assim é que, no segundo templo, cuja glória era maior que o do primeiro (Ag.2:9), não havia arca, pois a arca fora necessária no primeiro templo, como figura de Cristo, que, no segundo templo, esteve presente pessoalmente, desde quando foi apresentado por Simeão (Lc.2:27-32), em mais uma demonstração de que a visão de White contraria completamente o que dizem as Escrituras.

– Como, então, dar crédito ao que dizem os adventistas do sétimo dia em relação ao sábado? Não há, mesmo, pois, como dar guarida ao sabatismo por eles preconizado, que tem origem em uma visão, esta, sim, que muda completamente a Palavra de Deus, que permanece para sempre (I Pe.1:25).

– Além do mais, o mandamento do sábado é o único que não foi reafirmado pelo Senhor Jesus. Ao ser interpelado pelos fariseus porque permitira que os Seus discípulos pegassem espigas no dia de sábado, disse que Ele, Cristo, era Senhor do sábado e que o sábado fora feito para o homem e não o homem, para o sábado (Mt.12:1-8; Mc.2:23-28).

Tanto assim é que mandou que o paralítico que se encontrava no tanque de Betesda, uma vez curado e salvo, carregasse a sua cama no sábado, prova de que o salvo em Cristo Jesus não precisa observar o sábado (Jo.5:8-15).

– Desfrutemos, pois, amados irmãos, do descanso que temos encontrado em Cristo Jesus, guardando o dia chamado “hoje”, pois, assim fazendo, certamente nos encontraremos com o Senhor nos ares e passaremos a gozar da eternidade plena. Amém!   

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/

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