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LIÇÃO Nº 7 – A ATUALIDADE DOS CONSELHOS PAULINOS

Os conselhos de Paulo aos filipenses revelam a perenidade da Palavra de Deus.  
INTRODUÇÃO  
– Na sequência do estudo da carta aos filipenses, adentraremos na chamada “parte prática” da epístola, em que o apóstolo já inicia recomendando algumas condutas àqueles crentes.  
– Os conselhos dados pelo apóstolo não se circunscrevem aos crentes de Filipos, mas revela como deve ser o comportamento de quem tem uma genuína e autêntica vida cristã.  
I – OS ENSINOS CONSTANTES DO APÓSTOLO PAULO  
– Damos início, neste estudo da epístola de Paulo aos filipenses, à “parte prática” da carta, ou seja, a parte da carta onde o apóstolo Paujlo dá ênfase ao comportamento que os cristãos filipenses deveriam ter para demonstrar a sua salvação em Cristo Jesus.  
– Esta “parte prática”, que abrange os capítulos 3 e 4 da epístola, inicia-se com uma afirmação do apóstolo que deveriam os crentes de Filipos se alegrassem no Senhor, ensino este que Paulo revela já ter dado aos filipenses no passado, mas que não se cansava de repetir, pois seria segurança para aqueles irmãos (Fp.3:1).  
– Vemos, por primeiro, que o apóstolo Paulo era avesso a “novidades”, a “inovações”. “Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas” (Fp.3:1). Paulo sabia que a Palavra de Deus deveria ser ensinada sempre, em todo instante, de modo repetitivo, exaustivo, pois, sem a Palavra, não pode haver segurança na vida espiritual.  
– Todo e qualquer pessoa comprometida com o apascentar do povo de Deus não pode ter outra conduta senão a de sempre ensinar as mesmas coisas, de dizer as mesmas coisas, pois a Palavra de Deus não muda (I Pe.1:25), já que é testemunha de Cristo (Jo.5:39), é a Verdade, que é o próprio Cristo (Jo.14:6; 17:17) e, como tal, é a mesma ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8).  
– Quantos, entretanto, em nossos dias, já não mais ensinam a Palavra de Deus, buscam trazer “inovações”, “novidades” a fim de “prender a atenção” e “atrair” pessoas, esquecidos de que o verdadeiro e genuíno servo de Deus não se aborrece com as “mesmas coisas”, pois, como dizia o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012): “O Evangelho é o mesmo”.  
– Vivemos num mundo em que impera a “cultura do descartável”, ou seja, onde é prevalecente a cultura superficial, que não gera qualquer comprometimento, onde as pessoas vivem a buscar coisas novas, já que nada lhes satisfaz. Dentro desta situação, não é difícil que muitos corram de uma para outra parte, sempre buscando “o novo”, numa atitude, porém, que não pode ser, de modo algum, compartilhada pelos que servem 
a Cristo que, sendo diferentes do mundo, não podem querer se saciar nas coisas passageiras deste mundo, mas, sim, fundamentar-se na Palavra de Deus, que jamais há de passar (Mt.24:35).  
– O apóstolo, apesar de toda a sua erudição, não tinha outro objetivo senão “escrever as mesmas coisas” para as igrejas, pois seu foco era trazer “segurança” para os cristãos, para os servos do Senhor. Somente se tem segurança quando se ensina a Palavra de Deus, quando se constrói a vida na rocha, que é Cristo (Mt.7:24,25; I Co.10:4).  
– É preciso haver uma perseverança no ensino doutrinário, uma continuidade, uma exaustão, que nada mais é que a devida alimentação do povo de Deus, pois o salvo precisa se alimentar diariamente da Palavra de Deus (Mt.4:4).  
– Vivemos dias de carência do ensino da Palavra de Deus nas igrejas locais, onde, lamentavelmente, muitos obreiros foram indevidamente separados para aquela função, já que não são aptos para ensinar (I Tm.3:1,2), e outros, embora até tenham condições de ensinar, preferem saciar esta “curiosidade por novidades” que domina a mentalidade de muitos que cristãos se dizem ser em nossos dias, a “ensinar as mesmas coisas”. Que Deus modifique este trágico quadro!  
– Paulo fez questão de dizer que não se aborrecia de escrever as mesmas coisas, porque dissera aos filipenses que restava dizer-lhes que deveriam se alegrar no Senhor. Temos, aqui, portanto, o retorno ao tema da alegria, que marca tanto esta carta.  
– Esta é a sétima alegria mencionada na carta, a saber, a “alegria de estar em Cristo”. “…Quando o Divino Mestre estava se despedindo dos Seus discípulos logo antes do Seu suplício, Ele lhes falava muito em alegria. Disse-lhes: ‘Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza, mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar’ (João 16.22). Paulo era exemplo vivo desta verdade, pois quando   tudo lhe era contrário  então era que o seu coração transbordava de alegria!…” (SENA NETO, José de Barbosa. Carta aos filipenses: a carta da alegria! Disponível em: http://www.cpr.org.br/bn- filipenses.htm  Acesso em 12 jun. 2013).  
– Paulo, mais uma vez, mostrava aos crentes de Filipos que não havia motivo algum para abalos na fé, para tristezas e angústias. Eles pertenciam ao corpo de Cristo, eles estavam em Cristo e, como tal, tinham garantida a sua salvação, se permanecessem fiéis até o fim. Ninguém poderia lhes tirar esta alegria, pois Jesus havia vencido a morte e o pecado e aberto o caminho para a comunhão com Deus e para a vida eterna, de sorte que ninguém nem nada nos poderia separar do amor de Deus que há em Cristo Jesus (Rm.8:38,39).  
– Se soubéssemos o que significa “estar em Cristo”, se jamais nos esquecêssemos o significado de pertencermos à Igreja, certamente não daríamos tanta vazão a sentimentos de tristeza, decepção, angústia e tantas outras coisas que tumultuam a nossa vida sobre a face da Terra.  
– Se estamos em Cristo, se desfrutamos de comunhão com Ele, não há motivo senão para nos alegrarmos na Sua presença, pois, mesmo não merecendo, estamos marchando para Sião, para a Jerusalém celeste, para, em glória, termos a companhia do Senhor para todo o sempre. Quem tem esta noção sabe, claramente, que as aflições do tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm.8:18).  
– Não é por outro motivo que o apóstolo, mesmo aprisionado e correndo risco de vida, era capaz de não só demonstrar mas de transmitir alegria aos crentes de Filipos, porque muitos salvos, ainda hoje, mesmo em situações extremamente delicadas, quando são visitados por outros para ser consolados, acabam por consolar os seus visitantes. É a presença da “alegria em Cristo” na vida daqueles que são salvos!  
II – A NECESSÁRIA VIGILÂNCIA DIANTE DOS ADVERSÁRIOS DA OBRA DE DEUS  
– Apesar de termos a “alegria em Cristo”, que ninguém nos pode tirar, ainda estamos neste mundo (Jo.17:11) e, diante desta realidade, o apóstolo, mostrando mais uma vez que o verdadeiro cristão deve estar sempre atento à realidade e jamais se deixar levar por ilusões, recomenda aos filipenses que deveriam ter uma atitude de vigilância, de prudência enquanto estivessem em sua peregrinação terrena.  
– Não podemos nos iludir com um falso “triunfalismo”. Se é verdade que ninguém pode tirar a nossa alegria em Cristo, se é verdade que, estando em Jesus, estamos livres do poder do maligno, não podemos nos esquecer que nosso processo de salvação somente findará com a glorificação, a se dar única e exclusivamente no dia do arrebatamento da Igreja, de modo que precisamos nos manter fiéis e em constante vigilância até aquele dia ou quando formos promovidos para a eternidade. É este, aliás, o ensino de Nosso Senhor e Salvador: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.” (Mc.13:37).  
– Por isso, além de uma vida de intensa busca a Deus, o cristão deve tomar algumas precauções, a fim de não se contaminar com o mundo e o pecado, como que um “lado negativo”, um “lado de abstenção” que a vida com Deus exige.   
– É precisamente este o sentido da expressão “guardai-vos” que encontramos nas primeiras recomendações do apóstolo aos filipenses. Como ensina Russell Norman Champlin, a expressão grega original é “blepete” (βλέπετε), “…verbo de uso comum que significar ‘ver’, embora também usado com o sentido de ‘considerar’, ‘observar’, ‘dirigir a atenção para’ ou, mais forte ainda, ‘acautelar-se’…” (O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.5, p.44).  
– A primeira destas providências que devem ser tomadas pelo cristão é o de “guardar-se dos cães” (Fp.3:2). Tal ensino do apóstolo não era nenhuma inovação, pois o próprio Senhor Jesus, no sermão do monte, já havia ensinado Seus discípulos a que “não dessem aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas” (Mt.7:6).  
– Naturalmente, que não está aqui o apóstolo nem tampouco o Senhor Jesus a se referirem aos animais conhecidos como os “melhores amigos do homem”. Para bem entendermos esta expressão bíblica, devemos nos remeter à cultura judaica.  
– Como Paulo não ensinava nada novo, como ele mesmo acabara de afirmar, é proveitoso analisarmos seu ensino à luz do que havia dito o Senhor Jesus no sermão do monte.   
– Quando o Senhor Jesus fala em cães e porcos, devemos observar que ambos “…eram animais imundos, segundo a lei dos judeus ( I Rs.21:19; 22:38; II Sm.3:8; 9:8; Mt.25:26; Ap.22:15). Esses animais são símbolos de certos tipos de homens. Há várias ideias sobre isso: 1. Os hereges (cães); os inimigos (especialmente no sentido religioso); os indivíduos hostis (os porcos). 2. De acordo com Agostinho,os perseguidores hostis (cães); os indivíduos imundos, sem sentimento algum de santidade (porcos). Paulo se referiu a homens assim:’… para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos’ (I Ts.3:2).Os escritos judaicos falam de alguns homens como se fossem animais imundos e desavergonhados. Provavelmente Jesus pensou em tais referências ao proferir essas palavras. A experiência humana confirma o fato de que alguns indivíduos se encontram em nível mais baixo que aquele ocupado pelos animais, devido às suas ações violentas e amorais…” (CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.1, p.331) (destaque original).  
– Neste texto, “…o apóstolo destacava um grupo particular de homens religiosos, os quais deveriam ser vigiados especialmente para que suas doutrinas e suas práticas não viessem a macular a pureza da comunidade cristã de Filipos. De acordo com a lei levítica, o cão era um animal imundo; era um termo comum entre os judeus, como designação dos gentios. O cão era reputado animal de pouco valor; o preço de compra de um deles era equiparado com o preço do uso de uma prostituta. Um israelita não podia fazer penetrar na casa de Deus nem os cães e nem as prostitutas, porquanto isso seria considerado uma abominação,  segundo se lê em Dt. 23:18.(…). O trecho de Rm.22:15 menciona que os ‘cães’ ficarão fora da cidade celestial; e isso indica os corruptos. Nos escritos de Homero esse termo é usado para falar de pessoas audazes e desavergonhadas, especialmente mulheres. No presente texto está em foco o caráter moral dos falsos mestres, em importar se eram ‘judaizantes’ ou não, em contraste com a pureza que se espera nos verdadeiros crentes. O cão é um animal sem-vergonha, voraz, aproveitador, desordeiro, vagabundo, briguento; e é possível que algumas dessas qualidades negativas devam ser compreendidas acerca daqueles sobre quem Paulo falava assim indiretamente…”(CHAMPLIN, op.cit., v.5, p.44).  
– Precisamos ter cuidado para não nos comprometermos com pessoas que não têm temor a Deus, que não se respeitam nem considerar as coisas santas, as coisas de Deus, pessoas que menosprezam o que é sagrado, que não levam em conta os ensinos da Palavra de Deus, que vivem como se Deus não existisse e cuja religiosidade apenas reflete a sua vontade e não a vontade de Deus. Estes são os “cães”, pessoas que rejeitam os ensinos e a autoridade do Senhor e que não podem mudar nossa mentalidade e nossa maneira de viver temente a Deus.  
– “…Nosso mundo moderno e autossuficiente, infelizmente, já não precisa mais de Deus; vive como se o Todo-Poderoso não existisse, e agora sofre. O Papa Bento XVI disse que o homem moderno construiu um mundo que não tem mais lugar para o Senhor.…” (AQUINO, Felipe. O mundo vive como se Deus não existisse. Disponível em: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=11981  Acesso em 12 jun. 2013). É esta a mentalidade própria dos “cães”, que devemos evitar e prevenir, para que possamos chegar ao final de nossa jornada terrena guardando a salvação que nos foi dada por Jesus Cristo.  
– Muitos, infelizmente, estão a se envolver com os “cães” em nossos dias. Vivem uma vida espiritual frívola e não têm qualquer vergonha, misturando-se com o pecado e com o mundo e, o que é pior, trazendo o mundanismo para as coisas sagradas, profanando o culto a Deus. Tomemos cuidado com estas pessoas, pois elas podem nos levar a ficar de fora do lar celestial!  
– Mas, além dos “cães”, o apóstolo também nos manda guardar dos “maus obreiros”. Paulo já havia se referido a eles no início da carta, ao dizer que alguns estavam a pregar o Evangelho por inveja e por porfia, querendo acrescentar mais aflições ao apóstolo (Fp.1:15,17).  
– Vemos, pois, que, já naquele tempo, havia, na igreja, os “maus obreiros”, pessoas que estavam a se ocupar do ministério da palavra mas que não o faziam puramente, sendo dominados pelas obras da carne, tais como invejas, porfias e contenções. Por isso, o Senhor Jesus nos manda observar os frutos daqueles que dizem servir a Cristo, pois há aqueles verdadeiros lobos que estão travestidos de peles de ovelhas (Mt.7:15,16).  
– Tais “maus obreiros”, sempre existentes no meio das igrejas locais, aumentaram em número em nossos dias, pois isto é mais um sinal da proximidade do arrebatamento da Igreja (Mt.24:11; II Pe.2:1-3). Por isso, a presença e descoberta de “maus obreiros” entre os cristãos não deve ser um fator de desestabilização de nossa fé em Jesus Cristo, pois tais escândalos são inevitáveis (Mt.18:7).  
– O que não podemos é seguir as dissoluções destes “maus obreiros” (II Pe.2:2), a fim de não ser por eles enganados e, assim, retornemos ao erro de que estávamos nos afastando desde o instante em que passamos a servir a Deus (II Pe.2:18), não nos deixando levar pelo “discurso da liberdade” que estes servos do pecado e da corrupção andam alardeando (II Pe.2:19).  
– Ao contrário do apóstolo Paulo, estes “maus obreiros” são peritos em anunciar “novidades”, em ser atraentes e em fazerem coro com aqueles “maus sacerdotes” dos tempos de Malaquias, onde tudo “não fazia mal” (Ml.1:8). Tomemos cuidado, amados irmãos, com estes “facilitadores”, com estes “crentes modernos”, que nada mais são que “maus obreiros”, de quem devemos nos guardar se quisermos terminar com êxito a nossa jornada terrena.  
– Mas o apóstolo também manda que os crentes de Filipos vigiassem e se guardassem da circuncisão. Aqui a melhor tradução não é a da Versão Almeida Revista e Corrigida, pois o texto original não fala da 
circuncisão em si, mas, sim, de “mutilação, amputação”, pois este é o significado da palavra “katatomé” (κατατομή), motivo por que se deve preferir seja a expressão “falsa circuncisão”, utilizada pela Versão Almeida Revista e Atualizada e pela Nova Versão Internacional ou, ainda, “falsos circuncidados”, utilizada pela Tradução Brasileira e pela Bíblia de Jerusalém. “…A palavra aqui empregada pode significar apenas ‘falsa circuncisão’. Esses reivindicavam para si mesmos o título de ‘circuncisão’, com o que queriam dar a entender que eram o verdadeiro povo de Deus, os herdeiros da provisão do pacto abraâmico, dentro do qual o rito da circuncisão era o sinal oficial da identificação do povo de Deus. No entanto, segundo a opinião de Paulo, não mereciam ser chamados de ‘a circuncisão’; por isso é que o apóstolo lançou mão de um termo diferente, para mostrar que tão somente se sujeitavam a uma operação física, mas sem que isso tivesse qualquer valor espiritual.…” (CHAMPLIN, op.cit., v.5, p.44).  OBS: “…Por um jogo de palavras, em tom de desprezo, Paulo assimila a ‘circuncisão’ carnal dos judeus às ‘incisões que jorravam sangue, dos cultos gentílicos (ver I Rs.18:28 cfr. Gl.5:12).…” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, nota d a Fp.3:2, p.2051). 
– Segundo alguns estudiosos, esta continuidade da carta de Paulo aos filipenses, que compõe a parte prática da epístola, teria sido motivada precisamente pela notícia de que haviam chegado a Filipos alguns “judaizantes” que, aproveitando o fato da prolongada prisão do apóstolo, estariam ali para perturbar a fé daqueles crentes e levá-los à observância da lei mosaica. OBS: “…Aparentemente, existia um problema com os judaizantes em Filipo semelhante ao que havia na Galácia(…). Na realidade, creio que este era a principal causa de dissensão em Filipo. 
Alguns creem, pela mudança de tom no v.1, que Sha’ul [Paulo, observação nossa] tinha a intenção de encerrar a carta por aqui, no entanto, tendo recebido a notícia repentina de nova atividade entre os judaizantes, teria respondido com o alerta categórico a seguir. Acredito, porém, que ele já estava decidido a escrever-lhes de novo as mesmas coisas (ou seja, sua exortação à humildade do capítulo 2), reafirmando a mesma coisa de forma negativa, como uma advertência para não se gloriar, uma vez que a humildade exclui o orgulho. Além disso, assim como ele usou o Messias como o supremo exemplo (2:5-11), ele agora usa os orgulhosos judaizantes como um exemplo negativo (vv.2-9).…” (STERN, David H. Trad. de Regina Aranha et alii. Comentário judaico do Novo Testamento, p. 647).  
– Na vida cristã, devemos fugir também da religiosidade externa, daquela religiosidade apenas de aparência, que nos tornará fariseus mas não verdadeiros servos de Cristo Jesus. O apóstolo, inclusive no uso de um termo diferente para se referir à “circuncisão”, quer mostrar aos filipenses que o que importa na vida com Cristo não é a aparência, mas, sim, a presença de uma verdadeira imitação de Jesus, de uma vida de humildade e de comunhão com o Senhor, independentemente de aparência exterior.  
– A questão relativa à observância da circuncisão por parte dos crentes gentios já tinha motivado o concílio de Jerusalém (At.15), ocasião em que se decidira que os cristãos não estavam submetidos à lei de Moisés e, portanto, não deveriam observar seus rituais. Naquela mesma reunião da Igreja, apenas se disse que os gentios estavam sujeitos aos chamados “sete preceitos dos descendentes de Noé”, ou seja, às ordenanças estatuídas por Deus após o dilúvio, que havia abrangido a todas as nações (compare Gn.9:1-17 com At.15:28,29).  
– Ora, a circuncisão, embora anterior à lei mosaica (Gn.17:23-27), era posterior a esta ordenança estatuída a todas as nações e, portanto, estava relacionada com a nação israelita e não com os demais gentios, motivo pelo qual não era de observância obrigatória para os cristãos gentios.  
– A vida cristã traz uma nova circuncisão, que é a “circuncisão do coração”, que já era, inclusive, prevista na lei de Moisés (Dt.10:16) e nos profetas (Jr.4:4), da qual a circuncisão carnal era apenas uma figura, uma sombra, que nada valeria sem que se tivesse a outra. Mais do que os varões recortarem os seus prepúcios, o que Deus exigia, tanto de homens quanto de mulheres, é que retirassem os “prepúcios de seus corações”, que não endurecessem a sua cerviz, ou seja, que se submetessem à vontade de Deus e fossem tementes ao Senhor.  
– É precisamente isto que ensina o apóstolo aos filipenses, dizendo que “a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo e não confiamos na carne” (Fp.3:3).  
– Quando o apóstolo fala que “a circuncisão somos nós”, vemos, por primeiro, que se utiliza da palavra que realmente significa “circuncisão”, ou seja, a palavra grega “peritomé” (περιτομή), para, precisamente, reforçar que está a falar, agora, da real, autêntica e verdadeira circuncisão e não do simulacro levado a efeito pelos “judaizantes”. 
– “…nós somos os circuncisos espiritualmente, nós ‘com coração e ouvidos circuncisos’ (…), nós, os que tivemos os prepúcios ‘de nossa velha natureza’ removidos (…), nós que adoramos pelo Espírito de Deus e que fazemos do Messias Yeshua nossa confiança! Não confiamos em qualificações humanas (vv.4-9), literalmente, ‘não(…) na carne’, não em ‘uma circuncisão (…) feita por mãos humanas’ (Cl.2:11)…” (STERN, David H. op.cit., p.648) (negrito original).  
– O apóstolo mostra aos crentes de Filipos que a verdadeira circuncisão, ou seja, a verdadeira aliança, o verdadeiro comprometimento com Deus advém de um serviço ao Senhor em espírito, ecoando, assim, as palavras do Senhor Jesus à mulher samaritana, que diziam que o Pai estava à procura de verdadeiros adoradores, que adorassem o Pai em espírito e em verdade (Jo.4:23,24).  
– Esta é a verdadeira adoração que caracteriza os genuínos e autênticos servos do Senhor, uma adoração em espírito e em verdade, ou seja, um serviço a Deus que vem de dentro para fora, que começa com a comunhão nossa com o Senhor, feito pelo perdão dos pecados pela fé em Jesus Cristo, que nos une a Deus (Rm.5:1) e faz com que passemos a andar segundo o espírito e não mais segundo a carne (Rm.8:1).  
– A verdadeira circuncisão é uma aliança que se firma entre nós e Deus, a partir da fé em Cristo Jesus, que faz servir a Deus, a ter, preliminarmente, confiança em Deus e uma boa consciência, uma consciência sem ofensa diante de Deus e dos homens (At.23:1; 24:16), uma consciência que testifique que estamos a viver neste mundo com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus (II Co.1:12).  
– Paulo demonstra a todos nós que o que importa, na vida cristã, é estarmos a servir a Deus, incentivados e estimulados por uma profunda convicção interior, resultado de uma profunda atenção à vontade de Deus, com total atenção ao que nos fala o Espírito Santo ao nosso espírito, para que, assim, realizemos aquilo que o Senhor deseja em nossas vidas.  
– Para tanto, torna-se absolutamente necessário que confiemos em Deus, que tenhamos fé e que, apesar de todas as dificuldades e vicissitudes nesta vida sobre a face da Terra, prossigamos buscando agradar a Deus, pois cremos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam (Hb.11:6).  
– Lamentavelmente, não são poucos os que se contentam apenas em apresentar um estereótipo, uma imagem externa de cristianismo, preocupando-se apenas na “mutilação do corpo”, ou seja, no seguimento de rituais e cerimônias, para se apresentarem como “santos”, quando, na verdade, não passam de “sepulcros caiados” (Mt.23:25-28). São os “modernos fariseus”, que não abandonam o pecado e acrescentam à vida pecaminosa a hipocrisia religiosa. Tomemos cuidado, amados irmãos, para não sermos mais uns destes!  
– O verdadeiro e genuíno servo do Senhor, além de servir a Deus em espírito, também se gloria em Jesus Cristo. Tudo quanto faz é para a glória de Deus Pai, assim como o Senhor Jesus, que Se humilhou e depois foi exaltado única e exclusivamente para glorificar ao Pai (Jo.17:4; I Co.15:28). Por isso, o verdadeiro cristão, quando pratica boas obras, leva à glorificação do Pai (Mt.5:16).  
– Neste gloriar é que encontramos mais uma evidência de quem serve a Deus e de quem não O serve. Em nossos dias, não são poucos aqueles que procuram a glória para si, esquecidos de que Deus não reparte a Sua glória com ninguém (Is.42:8).  
– Muitos, em nossos dias, estão a querer se utilizar até do Senhor Jesus para auferirem glória para si. Tudo quanto fazem é para seu próprio enaltecimento, para a sua fama, para seu engrandecimento, para seu benefício. Nada mais anticristão! Tudo deve ser feito para a glória de Deus Pai. Foi assim que fez o Senhor Jesus, é assim que devem fazer os Seus discípulos.  
– O culto à personalidade tem invadido o ambiente das nossas igrejas locais e proliferam aqueles que querem ter em torno de si discípulos, que querem ter seguidores, em vez de se portarem como meros pastores que estão conduzindo o rebanho ao encontro de Jesus, em vez de terem como objetivo glorificarem o nome do Pai e de levarem todos a ficar em torno do Senhor Jesus.  
– Os judaizantes não tinham outro objetivo senão se gloriarem a si mesmos na carne daqueles que aceitavam se circuncidar, como Paulo já havia advertido os gálatas (Gl.6:13). Esta é a finalidade dos “mandamentos de homens” (Is.29:13; Mc.7:7; Tt.1:14) que, vez por outra, exsurgem no meio da Igreja, regras que têm por escopo tão somente mostrar o “poder” e a “influência” deste e daquele, mas que nada servem para nos levar à presença de Deus.  
– Aliás, esta autoglorificação era mais uma das características dos fariseus que causavam ojeriza em Cristo Jesus, como denuncia o Mestre em seu mais duro discurso proferido durante Seu ministério terreno, precisamente contra este tipo de religioso hipócrita (Mt.23:5).  
– Estes “falsos circuncidados” nada mais fazem senão levar o povo de Deus para longe do Senhor, apresentando uma vã e falsa adoração a Deus, visto que não servem ao Senhor mas a si próprios, ao seu ego, sendo pessoas que se desviaram da verdade, se é que alguma vez a receberam. Portanto, fujamos de toda e qualquer atitude de religiosidade externa, de moderno farisaísmo, para que não percamos a salvação assim como os que defendem e estimulam tal atitude hipócrita.  
– Quem serve genuinamente a Deus também não confia na carne. O princípio da confiança do cristão é a confiança em Cristo Jesus. A nossa fé em Jesus nos justifica e nos faz entrar em comunhão com Deus. Somente se retivermos este princípio da confiança até o fim é que seremos participantes de Cristo e, assim, membros de Seu corpo e candidatos a morarmos com Ele eternamente nos céus (Hb.3:14).  
– Quando, porém, deixamos de confiar em Jesus para confiarmos na carne, ou seja, em nossa natureza pecaminosa, em nosso velho “eu”, não mais agradamos ao Senhor e pomos em risco a nossa salvação, “…porque a inclinação da carne é morte (…) porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne, não podem agradar a Deus” (Rm.8:6-8).  
– A nossa natureza pecaminosa, herdada de nossos primeiros pais, não pode herdar o reino de Deus (I Co.15:50), de modo que jamais podemos confiar nesta natureza para servirmos ao Senhor. Muitos estavam a pregar a Cristo por inveja, porfia, contenção, ou seja, eram movidos pela carne para tanto, mas, ainda que pessoas estivessem se convertendo com tal atitude, por eles confiarem na carne estavam fadados à perdição com tais atitudes.  
– Muitos, atualmente, estão a confiar na carne e levam uma vida supostamente espiritual, crendo que, mais dia, menos dia, por sua “insistência” e “constância” na frequência a cultos, em uma vida religiosa, alcançarão a misericórdia divina e a salvação de suas almas. Afinal de contas, seriam “pessoas de bem”, “pessoas piedosas”, “pessoas de boa índole”.  
– Nada mais enganoso, porém, visto que as obras não salvam pessoa alguma, muito menos obras motivadas pela carne, pela natureza pecaminosa, que leva a um desagrado de Deus.  
– Em nossos dias, muitos obreiros têm permitido indevidamente a participação no meio da igreja local de pessoas que não deram quaisquer frutos de arrependimento, pessoas que não demonstram qualquer conversão, mas que se encontram no meio dos salvos em Cristo Jesus por circunstâncias as mais variadas, como laços de parentesco, costume, hábito e tantas outras coisas.  
– Tal atitude revela, nestes obreiros, uma confiança na carne, uma confiança nas circunstâncias estabelecidas, como se a frequência a cultos, o costume e o hábito de participação nas reuniões da congregação, a familiaridade, o tempo decorrido fossem fatores que levassem à conversão, à transformação da vida.   
– Contudo, o apóstolo faz questão de dizer que a confiança na carne não caracteriza um verdadeiro e autêntico servo de Deus e, para tanto, dá-se como exemplo para mostrar que isto é absolutamente inútil e até prejudicial mesmo a uma vida espiritual.  
– O apóstolo mostra que se alguém cabia confiar na carne, este alguém teria de ser o próprio Paulo. Afinal de contas, ele era “judeu da gema”, havia sido circuncidado ao oitavo dia, conforme o mandamento (Gn.17:12), sendo da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus e que, ainda por cima, havia sido um fariseu exemplar (Fp.3:5).  
– Paulo estava mostrando aos filipenses que, diante destas credenciais judaicas, se ele confiasse na carne, teria sido ele o primeiro a exigir daqueles crentes a observância da lei mosaica quando lhes pregou o Evangelho em Filipos. No entanto, em momento algum, fez qualquer referência à lei, apesar de ser uma pessoa circuncidada, que provinha de genuína linhagem de Israel, e que, como se não bastasse a sua origem, ainda havia seguido a mais rigorosa de todas as seitas judaicas, o farisaísmo, que não só cumpria os 613 mandamentos da lei mosaica, mas também havia criado um sem-número de outros mandamentos (Mt.23:4).  
– Mas Paulo vai além e mostra que, caso confiasse na carne, jamais poderia ser um cristão, pois, antes de sua conversão, havia sido extremamente zeloso a ponto de perseguir a própria Igreja, fato que não o impedia, aliás, de ser visto como justo e irrepreensível aos olhos da “justiça que há na lei” (Fp.3:6).  
– Assim, o que o apóstolo mostra aos crentes de Filipos é que, quando se confia na carne, quando se procura servir a Deus mediante o atendimento à nossa natureza pecaminosa, o resultado outro não é senão o de nos tornarmos inimigos de Cristo, de nos tornarmos perseguidores da Igreja, que é o povo de Deus, que é o próprio corpo de Cristo, como, aliás, mais adiante falará de modo mais minudente, como haveremos de estudar na lição 9.  
– Quem anda segundo a carne não agrada a Deus e, por isso mesmo, torna-se inimigo de Deus, pois a carne é antagônica ao senhorio de Cristo, é oposta à comunhão com o Senhor. Não podemos, pois, de forma alguma, confiarmos na carne, se realmente queremos participar da vida eterna com o Senhor Jesus. Pensemos nisto!  
III – A OPÇÃO DO APÓSTOLO QUE DEVIA SER SEGUIDA PELOS CRENTES FILIPENSES  
– Paulo, ao se pôr como exemplo para os crentes de Filipos, mostra, claramente, que a justiça que há na lei” não é o critério para que alguém seja considerado salvo. A salvação não vem pela observância da lei e, sim, pela graça de Deus, por meio da fé, que é um dom de Deus (Ef.2:8).  
– O que verificamos aqui é que o apóstolo Paulo recusa que “a justiça que há na lei” possa trazer alguma salvação a quem quer que seja. Como já ensinara aos gálatas, Paulo reforça o ensino de que a lei, embora seja justa, santa e boa (Rm.7:12), não salva, mas, antes, condena o homem à perdição, visto que ninguém nunca conseguiu cumprir a lei (Gl.3:11) e quem transgride um dos pontos da lei, é transgressor de todos eles (Tg.2:10).  
– Como ensina o teólogo escocês James D.G. Dunn (1939 – ): “…A lei é usada pelo poder do pecado para enganar a fraqueza humana da carne. Se relacionarmos isso com o juízo errôneo de Israel com respeito à lei, poderíamos dizer que para Paulo o apego de Israel à sua posição privilegiada era em si mesmo exemplo clássico de como o pecado abusa da lei e aproveita a fraqueza da carne para introduzir a humanidade na conexão pecado e morte. Como o pecado transforma o ‘desejo’ em ‘concupiscência’, assim também o pecado que transformou a lei em gramma [dívida, nota de cobrança, observação nossa] para Israel. Foi a lei concentrada na exigência da circuncisão na carne que deu  ao pecado a oportunidade de pôr Israel numa perspectiva carnal.…” (DUNN, James D.G. Trad. de Edwino Royer. A teologia do apóstolo Paulo, p.202).  
– Quem quer se prevalecer através da “justiça que há na lei” acaba perdendo a sua salvação, pois a lei não salva pessoa alguma. Paulo, mesmo tendo sido zeloso pela observância da lei, havia se tornado um mero 
3º Trimestre de 2013 – Filipenses – a humildade de Cristo como exemplo para a Igreja  
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perseguidor da Igreja, um inimigo de Cristo enquanto quis pautar a sua vida pela lei e, por isso, repudiava toda e qualquer conduta que alguém que cristão se dissesse ser que se baseasse na observância da lei.  
– Hoje em dia, têm ganhado força movimentos que buscam seguir a observância da lei entre os que cristãos se dizem ser, movimentos que não se reduzem ao sabatismo, mas que têm novas versões, como as daqueles que buscam retomar a celebração de festividades judaicas ou rituais e cerimoniais judaicos. Tudo isto é extremamente perigoso, é a busca de uma “justiça que há na lei”, algo que leva, inevitavelmente, à perdição. Tomemos cuidado com isto, amados irmãos!  
– Paulo diz aos filipenses que eles deveriam seguir o Seu exemplo e, portanto, não se firmar na “justiça que há na lei”, como queriam convencê-los os judaizantes que se apresentavam naquela igreja, provavelmente animados com o abalo na esperança e na fé daqueles crentes diante da prolongada prisão do apóstolo.  
– Antes, o apóstolo considerou que tudo quanto havia obtido por intermédio da lei, tudo quanto havia conseguido na sua vida farisaica, representava para ele mero “esterco” (Fp.3:8), como “perda” (Fp.3:7), pois para o apóstolo o ganho era tão somente Cristo.  
– A base da conduta do cristão, para o apóstolo Paulo, não poderia ser a lei, mas, sim, um tripé, a saber: a fé, o Espírito e o próprio Cristo. Como afirma o teólogo James D.G. Dunn: “…já sugerimos que os princípios fundamentais da ética de Paulo podem ser resumidos em termos que refletem diretamente as ênfases do seu evangelho: justificação pela fé, participação em Cristo e dom do Espírito.…” (op.cit., p.74).  
– Somente sendo justificados pela fé em Cristo Jesus, ingressando, por isso, no corpo de Cristo e recebendo o Espírito Santo, o cristão pode ter um comportamento que seja agradável a Deus. Por isso, Paulo, ao crer em Jesus, ao ingressar na Igreja e a receber o Espírito Santo, não tinha mais relação alguma com tudo aquilo que havia praticado no passado, era uma nova criatura.  
– A irrepreensibilidade de sua conduta com base na lei o havia tornado tão somente um perseguidor da Igreja, um inimigo de Cristo. Agora, como havia abandonado tudo aquilo, pela salvação, tudo aquilo não era senão perda, senão “esterco”. Esta palavra, no original grego, é “skubálon” (σκύβαλον), que tem o significado de “lixo, esterco, refugo”.   
– O que o apóstolo quis indicar com o uso desta expressão para representar aquilo que dava tanto valor antes de sua salvação?  Como diz Champlin: “…Sem importar o que Paulo tivesse querido dizer exatamente, o inegável é que a declaração é perfeitamente enfática. Tudo quanto os elementos legalistas consideravam dotado de grande valor, tudo quanto propagavam como tal, no seio da igreja cristã, o apóstolo dos gentios reputava inútil e repugnante, como lixo que pode ser lançado aos cães, como refugo lançado no monturo…” (op.cit., v.5, p.49).  
– Para que possamos ter uma vida verdadeiramente cristã, torna-se necessário que rompamos com o que fazíamos no passado, que deixemos de dar valor àquilo que era para nós extremamente valioso antes de conhecermos a Cristo. Jesus deve ser a nossa razão de viver, não mais devemos viver mas, sim, permitir que Cristo viva em nós (Gl.2:20). É isto que nos diz o apóstolo. Será que é isto que temos observado em nossas vidas?  
– Nos dias hodiernos, não são poucos os que querem prevalecer a sua condição de cristãos precisamente com as coisas que faziam antes. Não são poucos os que querem mostrar a sua condição de verdadeiros e genuínos servos de Deus fazendo ecoar o que faziam antes e, pasmem todos, até voltando a fazer o que faziam antes.  
– Paulo afirma aos filipenses que eles jamais seriam cristãos verdadeiros se continuassem a dar valor a coisas que não têm valor, a coisas que já haviam sido superadas pela nossa salvação em Jesus. Se não tomamos por sem nenhum valor aquilo a que dávamos valor antes de nossa salvação, de maneira alguma poderemos ser salvos. 
– Como observa Champlin, “…para alguém ganhar o verdadeiro ‘ganho’ é mister desfazer-se do ‘refugo’ que antes reputava como lucro. Assim fez Paulo. Portanto, ‘ganhar a Cristo’ é equiparado com a participação em Sua ressurreição, em sua forma de vida eterna (…), em Suas perfeições (…), em Seu prêmio eterno da vida imortal, a completa salvação, por cuja causa Cristo o tinha conquistado…” (op.cit., v.5, p.49).  
– Será que temos tido a Jesus Cristo como nosso ganho? Ou será que ainda não abandonamos a nossa “vida velha” e continuamos a dar valor àquilo que não tem valor algum?   
– Paulo considerou que “todas as coisas” lhe foram consideradas como “perda” pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, a quem considerava seu Senhor, pelo qual havia perdido todas estas coisas (Fp.3:8).  
– Será que temos este mesmo sentimento? Paulo dizia aos filipenses que eles deveriam desconsiderar todas as coisas desta vida e preferir a “excelência do conhecimento de Cristo Jesus”, ou seja, a intimidade cada vez maior com Jesus, até porque Ele é nosso Senhor, e, portanto, devemos obedecer-Lhe, cumprir a Sua vontade.  
– Contudo, não são poucos os que cristãos se dizem ser que vivem exatamente o contrário do que aqui se preconiza. Não deixam as coisas deste mundo, nem se interessam em se aproximar cada vez de Cristo. Pelo contrário, querem se apegar às coisas passageiras e ilusórias desta vida, mantendo uma distância cada vez maior de Cristo, já que, para se ter a “excelência do conhecimento de Cristo”, torna-se necessário se dedicar a uma vida de oração, de meditação nas Escrituras, de busca do poder de Deus. Como é que estamos, amados irmãos?  
– Para assim agir, temos de tomar a “justiça que vem pela fé”, ou seja, devemos confiar em Cristo, abrir mão de todas as coisas, renunciar a todas as coisas e seguir o caminho de Cristo, confiando que, ao final, alcançaremos a salvação.  
– Ir após Jesus, ter uma vida cristã é negar-se a si mesmo, tomar a cruz e segui-l’O (Mc.8:34; Lc.9:23) e isto jamais será feito se nós não O conhecermos, à virtude de Sua ressurreição e à comunicação de Suas aflições, sendo feitos conforme à Sua morte (Fp.3:9,10).  
– Para que imitemos o apóstolo Paulo, torna-se imperioso que, por primeiro, conheçamos a Cristo, ou seja, tenhamos intimidade com Ele, a tal ponto que não mais vivamos, mas Ele viva em nós (Gl.2:20).  
– Ora, ter intimidade com Jesus a este ponto é desenvolver um relacionamento cada vez mais estreito com o Senhor Jesus, o que somente é possível se buscarmos o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33). Isto exige uma vida cada vez mais intensa de oração, de meditação nas Escrituras e de busca do poder de Deus.  
– Entretanto, muitos, na atualidade, têm preferido a religiosidade exterior, a mera frequência a cultos, a membresia formal em uma igreja local, a assunção de alguns comportamentos externos, algo muito, mas muito diverso mesmo do que está a nos ensinar o apóstolo Paulo.  
– Mas, além de “conhecer” a Cristo, temos também de experimentarmos a “virtude da Sua ressurreição”, ou seja, temos de ser provas vivas de que Cristo ressuscitou e que, com Sua ressurreição, venceu o pecado e a morte. Temos de ter uma nova vida, uma vida transformada, que demonstre cabalmente que, com a Sua ressurreição, Cristo efetivamente salvou a humanidade.   
– Somente experimentaremos a “virtude da ressurreição de Cristo”, se morrermos para o mundo e vivermos única e exclusivamente para Cristo. É isto, aliás, o que é simbolizado no ato do batismo das águas. Somente se nossos corpos passarem a ser instrumentos de justiça e não mais de pecado é que poderemos “conhecer a virtude da ressurreição de Cristo” em nossas vidas (Rm.6:4-19).  
– Mas Paulo também nos convida a que conheçamos a “comunicação de Suas aflições”, ou seja, nossa comunhão com o Senhor Jesus faz com que também participemos de Suas aflições. Devemos, também, sofrer por causa de Cristo enquanto estivermos neste mundo, o que é algo inevitável e natural, já que, por estarmos em comunhão com o Senhor, o mundo nos aborrece (Jo.15:18,19).  
– Não foi por outro motivo que o Senhor Jesus disse que no mundo teríamos aflições (Jo.16:33). Uma vez em comunhão com o Senhor, tornamo-nos um “corpo estranho” neste mundo que, em razão disso, passa a nos atacar, a querer nos expelir, a querer nos destruir.  
– Vemos aqui, portanto, como mentem os arautos da teologia da confissão positiva e da teologia da prosperidade. É precisamente porque estamos em comunhão com Deus que passamos por aflições neste mundo, é este um sinal indicativo de nossa salvação, bem ao contrário do que afirmam estes falsos mestres. A falta de oposição do mundo a nós é fator que deve nos inquietar, pois não estaremos tendo a experiência das aflições de Cristo (Lc.6:26).  
– Paulo mostra como a sua prisão representava esta comunicação nas aflições de Cristo. Desta maneira, ao invés de isto demonstrar uma fraqueza do apóstolo ou uma possível desaprovação divina ao seu modo de pregar o Evangelho, o que poderia estar sendo explorado pelos judaizantes que tumultuavam a fé dos filipenses, era este, sem dúvida, um fator inegável de que o trabalho do apóstolo era aprovado por Deus, pois ele estava se fazendo participante das aflições de Cristo, como deve ocorrer com todo aquele que tem uma vida cristã genuína e autêntica.  
– Por fim, o apóstolo diz que devemos, na vida cristã, sermos feitos conforme à morte de Cristo. Paulo aqui repete o tema já tratado quando dissertara a respeito da “kenosis” de Cristo. Se não morrermos como Cristo, se não nos submetermos, por obediência, até a morte, se não tomarmos o vitupério de Cristo, de modo algum poderemos ter a Sua  glorificação: “…se é certo que com eEe padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm.8:17).  
– Não há como chegarmos ao trono de glória nos céus se não passarmos antes pela cruz do Calvário. A glorificação é precedida da humilhação. Lembremos sempre disto!  
– Os conselhos dados pelo apóstolo Paulo aos filipenses são extremamente atuais, pois revelam o que é a vida cristã, são a Palavra de Deus, que não muda com o tempo. Se realmente queremos chegar ao céu, se queremos ter uma vida cristã genuína, não podemos deixar de observar o que o apóstolo ensina aos seus queridos irmãos de Filipos. Será que temos observado estas recomendações? Pensemos nisto!  
      Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  
      Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2013_L7_caramuru.pdf

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