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LIÇÃO Nº 7 – A QUEDA DO SER HUMANO 

INTRODUÇÃO

– Na sequência dos estudos sobre a doutrina do homem, estudaremos hoje sobre a queda da humanidade.

– O salário do pecado é a morte

I – TENTAÇÃO E QUEDA

– Na sequência dos estudos sobre a doutrina do homem, abordaremos agora, dando início a um novo bloco, à queda da humanidade, que é narrada no capítulo 3 do livro do Gênesis, que é, de longe, o mais triste e trágico capítulo da Bíblia Sagrada, pois há ali a narrativa da queda do ser humano, da entrada do pecado no mundo.

– Homem e mulher viviam em plena harmonia entre si, com Deus e com a criação terrena. A cada dia, na viração do dia, ou seja, ao entardecer, muito provavelmente às seis horas da tarde, o Senhor vinha ao encontro do primeiro casal e o homem tinha um momento de íntima comunhão com o seu Criador, sendo abençoado e ensinado pelo Senhor.

– Homem e mulher viviam em perfeita comunhão entre si, em total inocência, sendo, verdadeiramente, uma só unidade, tanto que o texto sagrado diz que estavam nus mas não se envergonhavam, não havendo qualquer desconfiança ou malícia entre eles. 

– Não se sabe ao certo quanto tempo durou esta situação. Devemos lembrar que os dias da criação não são dias de vinte e quatro horas, como já vimos em lições anteriores, e que, encerrada a criação, iniciou-se o sétimo dia,

mencionado em Gn.2:2,3, dia que perdura até a presente data, pois o sétimo dia da criação nada mais é que o período em que Deus cessou de criar, apenas mantendo, pelo poder de Sua Palavra, tudo quanto foi criado (Hb.1:3), manutenção que é feita em parceira com o administrador da criação terrena, que é o ser humano.

– Sendo assim, não podemos precisar quanto tempo viveu o ser humano na inocência, em plena comunhão com Deus.

Não foi apenas um dia de vinte e quatro horas, como pensam alguns. Foi um período indeterminado de tempo, que pode muito bem ter durado milhares ou milhões de anos, de modo que não há qualquer possibilidade de desmentido do texto bíblico por constatações da existência de homens há milhares de homens, como tem defendido a ciência.

– O fato é que esta situação infelizmente se alterou quando o primeiro casal foi tentado e não resistiu à tentação, permitindo a entrada do pecado no mundo.

– O capítulo 3 do livro de Gênesis inicia-se apresentando uma personagem, a serpente, dizendo ser ela a mais astuta alimária do campo que o Senhor Deus tinha feito.

Há muita discussão se o texto se refere literalmente à serpente enquanto animal ou se faz referência a Satanás.

Respeitando as opiniões divergentes, entendemos que esta serpente aqui não se refere ao animal propriamente dito, mas, sim, ao inimigo de nossas almas, pois, em Ap.12:9 e Ap.20:2, há a perfeita identificação entre “a antiga serpente” e o diabo.

– O diabo era um querubim ungido, ou seja, um anjo que oficiava diante do trono de Deus, consoante vemos em Ez.28:14, ou seja,

um anjo que havia sido separado por Deus para ter uma posição de proeminência no mundo espiritual e que teria, inclusive, sido colocado sobre a Terra, no Éden (Ez.28:13), sendo, muito provavelmente, o ser celestial encarregado do louvor a Deus (Ez.28:13,14).

– No entanto, este ser tão excelente que, como todos os anjos, era um ser moral, sabendo discernir entre o bem e o mal, sendo dotado de livre-arbítrio,

usou mal deste livre-arbítrio e desejou ser maior do que Deus, rebelou-se contra o Senhor e, deste modo, foi achado em iniquidade e expulso dos céus, levando consigo um terço dos anjos, que o seguiram (Ez.28:15-18; Is.14:11-15; Ap.12:3,4).

– Tal acontecimento deu-se antes da criação do homem, na eternidade passada, havendo,  quem entenda que isto tenha ocorrido no período entre Gn.1:1 e Gn.1:2, a chamada “teoria do intervalo”.

Entretanto, mesmo os que assim não entendem, também situam este episódio antes da criação do homem, pois, em Gn.3:1, é dito que este ser vem ao encontro da mulher, já como uma criatura degenerada, iníqua e visando a perdição e destruição do ser humano.

– Sendo um ser angelical, ainda que caído, Satanás é um espírito e, como tal, pode assumir formas materiais (Cf. II Co.11:14), de modo que não lhe foi difícil assumir a forma de uma serpente e, assim, iniciar um diálogo com a mulher.

Entendem alguns que o diabo “possuiu” o animal serpente e, desta maneira, começou a dialogar com a mulher, o que é uma interpretação possível.

Ter-se-ia, assim, a primeira “sessão mediúnica” da história da humanidade. Tendo assumido a forma de serpente, tendo “possuído” a serpente, o fato é que iniciou o diálogo com a mulher.

– Usando de sua astúcia, que é a “habilidade de dissimular e usar artifícios enganadores e, com isso, obter vantagens às custas de outrem; malícia, treta, artimanha”, como diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o diabo inicia o diálogo com a mulher, fazendo uma indagação: “Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn.3:1 “in fine”).

– Vemos aqui, de pronto, duas grandes falhas em que o primeiro casal havia incorrido e que tornou possível a tentação.

Por primeiro, homem e mulher estavam separados, não estavam juntos. Por motivos que não sabemos, Eva estava sozinha e o Senhor já havia dito que não era bom que o homem estivesse só (Gn.2:18).

– A solidão é um estado que muito facilita a ação do inimigo e coloca em risco a nossa vida espiritual. Por isso, o Senhor sempre formou, ao longo da história, o Seu povo, para que, dentro da sociabilidade, o homem pudesse vencer o pecado e o mal, mantendo uma vida de comunhão com Ele. 

– Ao longo da história da humanidade, sempre houve um povo de Deus (linhagem de Sete, comunidade única pós-diluviana, Israel e Igreja), pois não é possível que, solitários, possamos servir a Deus.

Daí porque a proposta dos chamados “desigrejados”, que tem crescido nestes últimos dias, é, na verdade, uma artimanha satânica, pois, sozinhos, seremos alvos certos do inimigo e, assim como Eva, haveremos de fracassar espiritualmente.

– A segunda grande falha observada neste episódio da tentação é a falta da guarda do jardim por parte do primeiro casal. Satanás conseguiu entrar no jardim e isto é demonstração de que havia ocorrido uma falha na guarda, tarefa de que estava incumbido o primeiro casal (Cf. Gn.2:15).

Houve falta de vigilância, falta de cuidado por parte do primeiro casal e, deste modo, Satanás pôde entrar no jardim sorrateiramente.

– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus, em Seu sermão escatológico, dá a chamada “ordem santa”, que é a vigilância (Mc.13:37). Devemos estar sempre vigilantes, atentos, para não permitir que o diabo possa se aproximar de nós, pois ele está ao derredor, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8).

Ele é uma fera terrível, destrutiva e não perde oportunidade para nos fazer fracassar espiritualmente. Não devemos ficar com medo, porquanto, se o inimigo está ao derredor, ao nosso redor está o Senhor (Sl.34:7), de modo que estamos protegidos no esconderijo do Altíssimo (Sl.91:1).

No entanto, se deixarmos de ser atentos, se dermos lugar ao diabo, ele comparecerá e nos trará grande prejuízo (Ef.4:27).

– Solitária e tendo negligenciado na vigilância, o primeiro casal permitiu que Satanás adentrasse no jardim do Éden e viesse iniciar diálogo com a mulher e, usando de toda a sua astúcia, lançou uma indagação: “É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?”

– Ora, bem vemos aqui uma das artimanhas do inimigo, que é a distorção da Palavra de Deus. Não é à toa que o Senhor Jesus disse que a verdade nos liberta (Jo.8:32).

Quando efetivamente conhecemos a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17), não há como nos enroscarmos nas armadilhas de Satanás, pois não somos atingidos por suas distorções da Palavra. O diabo inicia o diálogo com a mulher distorcendo o que Deus havia dito.

– Na abertura do diálogo, aliás, temos o primeiro momento da tentação. Jamais devemos abrir diálogo com o adversário de nossas almas.

Ele é muito astuto, maior do que nós, pois, embora sendo caído, continua sendo um anjo e, como tal, é maior do que nós (Sl.8:5; Hb.2:7), não sendo, pois, possível que o vençamos com nossas próprias forças.

Assim como um estelionatário, que consegue, com sua “lábia”, enganar suas vítimas, inevitavelmente, se iniciarmos diálogo com o adversário, seremos, sim, vencidos. Por isso, o apóstolo Paulo nos adverte de que não podemos ignorar os ardis do inimigo (II Co.2:11).

– A mulher, sozinha e sem vigilância, abre o diálogo com o adversário e responde ao inimigo, certamente admirada por ver uma serpente falando, dizendo que lhe era permitido comer de toda árvore do jardim, mas que do fruto da árvore que estava no meio do jardim não lhe era autorizado comer nem tocar para que não houvesse morte (Gn.3:2,3).

– Aqui devemos observar que a mulher estava realmente sem vigilância, pois era sabedora de que os animais não falavam.

A admiração em ver um animal falando deveria ter provocado na mulher uma atitude de desconfiança e ela deveria ter ido ao encontro de seu marido ante a inusitada situação.

No entanto, a curiosidade foi maior e este é outro fator que pode nos levar ao fracasso espiritual.

Devemos fugir de tudo que é estranho, de tudo que não se conforma com os parâmetros divinos, não nos aventurando em circunstâncias que nada mais são do que as “profundezas de Satanás” descritas em Ap.2:24.

Há muitos servos do Senhor que estão a se perder nos dias atuais, participando de “inovações” e supostas experiências sobrenaturais que nada mais são que vias de entrada para a perdição. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Outrossim, é preciso aqui repudiar ensino totalmente sem respaldo bíblico, segundo o qual, antes da queda, os animais falavam.

Quem isto ensina procura se basear no fato de a serpente ter falado, dizendo que isto era uma demonstração de que, antes da queda, os animais podiam se comunicar.

Isto não passa de fábula, sem qualquer base escriturística. Somente o homem foi dotado do poder de linguagem racional, tanto que Deus chamou Adão para dar nome aos animais.

A “fala” da serpente era algo novo e inusitado e que deveria ter despertado estranhamento por parte da mulher e não, curiosidade.

– Notamos, aqui, nesta resposta da mulher como é absolutamente indispensável termos conhecimento da Palavra de Deus para que não caiamos nas tentações que nos sobrevierem.

A mulher não havia prestado atenção naquilo que Deus havia determinado. A ordem dada por Deus foi para Adão, quando Eva ainda não tinha sido criada, mas, muito provavelmente, não só Adão mas o próprio Deus haviam repetido tal ordenança à mulher, de sorte que não havia qualquer justificativa para que a mulher fosse ignorante a respeito.

– O fato é que a mulher não havia prestado atenção, dado o devido valor ao mandamento divino e temos aqui mais um fator que leva ao fracasso espiritual: a falta de conhecimento da Palavra, a falta de valorização da Palavra do Senhor.

– A mulher, ao responder ao diabo, cometeu dois equívocos. O primeiro, ao identificar erroneamente a árvore cujo fruto era proibido. Disse ela que não se podia comer do fruto que estava na árvore que ficava no meio do jardim, mas isto não correspondia ao que Deus havia dito.

Deus havia proibido comer da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17), mas a mulher havia identificado como fruto proibido o fruto da árvore da vida, pois era esta a árvore que ficava no meio do jardim (Gn.2:9).

– O segundo equívoco foi acrescentar algo que o Senhor não havia dito, qual seja, dizer que proibido tocar no fruto da árvore.

O Senhor havia tão somente proibido comer do fruto (Gn.2:16,17), mas nada havia dito com relação ao toque, havendo, aqui, portanto, um indevido acréscimo à Palavra de Deus.

– O desconhecimento da Palavra faz com que sejamos presa fácil do inimigo. Satanás logo percebeu que a mulher não tinha prestado atenção ao dito do Senhor e prosseguiu sua tentação, lançando a mulher no campo da dúvida, afirmando que não haveria morte, mas, sim, uma “evolução espiritual” no dia em que se comesse do fruto da árvore, já que se seria “igual a Deus”, “sabendo o bem e o mal”.

– Temos aqui uma mentira de Satanás, algo que lhe é próprio, pois ele é o pai da mentira e quando mente apenas reflete a sua natureza (Jo.8:44). Satanás procurou despertar na mulher o mesmo sentimento que o levou à queda, ou seja, o desejo de independência em relação a Deus, a soberba, a autossuficiência (Is.14:13,14).

Satanás continua levando milhares e milhares de seres humanos ao fracasso espiritual, fazendo-os crer que podem viver sem Deus, que podem ser independentes de Deus, que podem ser “iguais a Deus”.

– Esta mesma mentira satânica tem sido o cerne de tudo quanto se propaga e se difunde neste mundo sem Deus e sem salvação. Em nossos dias, não é diferente. Não faltam aqueles que dizem que Deus não existe (ateísmo); que não devemos levar Deus em conta durante nossa existência (ateísmo prático, deísmo);

que afirmam sermos nós “pequenos deuses” (Nova Era); que dizem depender única e exclusivamente de nós a “evolução espiritual” (espiritismo, hinduísmo, xintoísmo); que põem o homem numa posição superior a Deus, fazendo-O mero “serviçal” (teologia da prosperidade, teologia da confissão positiva).

– A mulher, que estava solitária, que não havia vigiado, bem como que não havia prestado atenção ao mandamento divino, deixa-se deduzir pela mentira satânica e passa a não mais crer no dito do Senhor.

Temos, então, aqui, a falta de fé, a falta de confiança em Deus, a incredulidade, que outra importante arma que o inimigo lança para que fracassemos espiritualmente. A incredulidade é o dardo inflamado do maligno que atinge e fere mortalmente a nossa alma, quando abrimos a guarda e deixamos de usar o “escudo da fé” (Ef.6:16).

– Totalmente vulnerável ao inimigo, a mulher acabou sendo levada pelas circunstâncias e fez nascer a concupiscência em si, o que é mais um passo no processo da tentação (Tg.1:14).

Assim, diz o texto sagrado, que a mulher  viu aquela árvore como boa para se comer, o que caracteriza a concupiscência da carne; viu aquela árvore como agradável aos olhos, o que caracteriza a concupiscência dos olhos e, por fim, viu aquela árvore para desejável para dar entendimento, o que caracteriza a soberba da vida.

– Estas três concupiscências — a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida — são precisamente os elementos existentes no mundo, que é dominado pelo maligno (I Jo.2:16) e que foram apreendidos pela mente da mulher, que se deixou induzir pelo inimigo de nossas almas, sendo enganada por ele (II Co.11:13; Tm.2:14).

A mulher demonstrava, então, como já havia se corrompido por deixar de dar crédito à Palavra de Deus, por ter dado lugar ao diabo.

– Uma vez atraída e engodada pela própria concupiscência, permitiu que tal concupiscência concebesse e desse à luz ao pecado (Tg.1:15) e, por causa disso, pecou, tomando do fruto e dele comendo (Gn.3:6). 

– Mas o efeito multiplicador do pecado logo se fez sentir. Assim que corrompida e tendo pecado, a mulher, também, se torna tentadora e leva o seu marido a também pecar, oferecendo-lhe o fruto proibido e Adão, conscientemente, também come do fruto proibido, pecando igualmente.

– Muito se discute porque Adão comeu do fruto, não tendo sido alvo de qualquer engano por parte do inimigo, como, aliás, atesta I Tm.2:14.

São conjecturas que não nos permitem chegar à qualquer conclusão, ante o silêncio das Escrituras. O fato é que Adão, sabendo que sua mulher havia ingerido o fruto proibido, também quis fazê-lo, desconsiderando o mandamento divino.

– Imediatamente após o pecado, as Escrituras afirmam que ambos tiveram abertos seus olhos e perceberam que estavam nus. Havia cessado a harmonia que havia entre os integrantes do primeiro casal e, por conta disso, surgiu a noção de pudor, que revela já a corrupção do gênero humano, o surgimento da natureza pecaminosa no homem, como bem afirmou o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, q

ue dissertou a respeito nos seus estudos sobre a chamada “teologia do corpo” em consideração que, por sua biblicidade, vale a pena transcrever: “…«Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturões, à volta dos seus rins» (Gn.3:6).

Esta é a primeira frase da narrativa (…), que se refere à «situação» do homem depois do pecado e mostra o novo estado da natureza humana. Não sugere acaso esta frase o início da «concupiscência» no coração do homem?

Para dar resposta mais profunda a tal pergunta, não podemos deter-nos nessa primeira frase mas é necessário ler o texto completo.

Todavia, vale agora a pena recordar o que, nas primeiras análises, foi dito sobre o tema da vergonha como experiência «do limite» (…).

O Livro do Gênesis refere-se a esta experiência para demonstrar o «confim» existente entre o estado de inocência original (cfr. em especial Gn.2:25, ao qual dedicamos muita atenção nas precedentes análises) e o estado de pecaminosidade do homem logo no «princípio».

Enquanto Gn.2:25 insiste em que «estavam nus… mas não sentiam vergonha», Gn.3:6 fala explicitamente do nascimento da vergonha em relação com o pecado.

Essa vergonha é quase a primeira origem de se manifestar no homem — em ambos, varão e mulher — aquilo que «não vem do Pai, mas do mundo».” (Teologia do corpo: catequeses proferidas entre 5 de setembro de 1979 a 28 de novembro de 1984. Disponível em: https://igrejamilitante.files.wordpress.com/2014/11/catequesesteologia-do-corpo-joc3a3o-paulo-ii-1979-a-1984.pdf Acesso em 24 ago. 2015, p. 72). 

– Prossegue João Paulo II: “…Já falamos da vergonha que surgiu no coração do primeiro homem, varão e mulher, ao mesmo tempo que o pecado. A primeira frase da narrativa bíblica a este respeito soa assim:

«Então abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas como se fossem cinturões» (Gn.3:7).

Esta passagem, que fala da vergonha recíproca do homem e da mulher como sintoma da queda (status naturae lapsae), deve ser considerada no seu contexto.

A vergonha naquele momento toca o grau mais profundo e parece transtornar os fundamentos mesmos da existência de ambos.

«Nessa altura, aperceberam-se de que o Senhor Deus percorria o jardim pela suavidade do entardecer, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o arvoredo do jardim» (Gn.3:8).

A necessidade de se esconderem indica que no profundo da vergonha sentida um pelo outro, como fruto imediato da árvore do conhecimento do bem e do mal se produziu um sentimento de medo diante de Deus: medo precedentemente desconhecido…” (op.cit., p.73).

– Pelo que se verifica, portanto, tem-se que passou a existir uma malícia entre o homem e a mulher, não havia mais aquela harmonia primitiva, e, por causa desta malícia, deste estranhamento entre homem e mulher, resolveram eles coser folhas de figueira, fazendo para si aventais. Havia-se perdido a inocência e nascido a concupiscência, a natureza pecaminosa do ser humano.

– Esta mesma situação, que separou homem da mulher, que passaram a se estranhar, também se revelou uma separação com Deus, pois, quando o Senhor, como sempre fazia na viração do dia, apresentou-Se no jardim para falar com o homem, o primeiro casal procurou se esconder, pois havia perdido a comunhão com o seu Criador em virtude do pecado, que faz separação entre Deus e o homem (Is.59:2).

Estava demonstrada a ocorrência da morte de que falara o Senhor quando dera o mandamento divino, pois morte nada mais é que separação.

– O Senhor, então, dá a Adão a oportunidade de se defender, indagando onde ele estava (Gn.3:9). É evidente que, por ser onisciente, Deus sabia perfeitamente onde Adão se encontrava, mas deu a oportunidade real para que Adão se manifestasse e, quem sabe, pedisse perdão pelo ocorrido.

Aliás, é aqui que os juristas enxergam o caráter sagrado do direito de defesa, que se inicia com a chamada “citação”, ou seja, o chamamento do réu ao processo.

– Adão, então, se apresentou e justificou ter se escondido por se achar nu (Gn.3:10). Esta nudez era muito mais do que a simples nudez física, que percebera por ter comido o fruto proibido, mas, sim, era a própria nudez espiritual, pois, com o cometimento do pecado, o homem havia perdido as suas vestes espirituais, o manto de justiça (Is.61:10), tornando-se espiritualmente nu (II Co.5:3; Ap.3:17; 16:15).

– O Senhor, então, diante desta afirmação, que só demonstrava a soberba do homem que, em vez de confessar seu pecado, quis justificar seu ato, como que dizendo que havia cometido o ato de comer do fruto proibido e não ter, de modo algum, cometido qualquer transgressão, confronta com o homem, perguntando a ele se havia comido do fruto proibido (Gn.3:11).

– Ante tal indagação, o homem revela mais uma faceta de sua corrupção. Passa a incriminar a mulher e, indiretamente, o próprio Deus pela sua falta. Adão disse que a mulher que o Senhor lhe havia dado era a responsável por ter ele comido do fruto.

Temos aqui a demonstração da morte moral, ou seja, o homem, em vez de assumir a sua culpa, procura terceirizá-la, revelando, assim, total falta de amor ao próximo e incapacidade de assumir seu erro.

Houve aqui tentativa de encobrimento da transgressão ( Cf. Jó 31:33) e, por isso, não pôde Adão desfrutar da misericórdia divina (Pv.28:13).

– Tem-se, pois, com esta atitude, a demonstração clara de que o diabo mentira ao dizer que eles seriam como Deus, sabendo o bem e o mal.

O primeiro casal já sabia o que era o bem e o que era o mal desde o momento em que o Senhor lhes dissera que não podiam comer do fruto proibido.

Eles tão somente não haviam experimentado o mal, e, ao fazê-lo, tornaram-se escravos do pecado, pois quem comete pecado se torna escravo do pecado (Jo.8:34).

– Como poderia o homem ter-se tornado “como Deus” se não manifestava amor ao próximo, buscando culpar sua companheira? Onde estava a benignidade que caracteriza o próprio Deus? (Sl.145:8).

Como poderia o homem “saber o bem e o mal”, se insistia em negar o erro cometido e buscasse alguém para culpar, revelando total cegueira no que concerne à moralidade, algo que jamais ocorre em Deus, que não tem o culpado por inocente nem vice-versa (Gn.18:23-27; Na.1:3)?

– Ante tal afirmativa, o Senhor Se dirige à mulher, a demonstrar, pois, que a responsabilidade diante de Deus é individual, motivo por que homem e mulher, ainda que formando uma só carne, eram individualmente responsáveis diante do Senhor, o que nos mostra que o casamento é uma realidade terrena que não traz qualquer consequência no tocante ao relacionamento que cada ser humano deve ter diante do Senhor quanto à eternidade.

– A mulher, demonstrando ter igualmente se corrompido com o pecado, corrupção até maior do que a homem, pois de corrompida passara também a corruptora, teve a mesma reação do seu marido. Buscou terceirizar a culpa, imputando-a à serpente, dizendo ter sido enganada por ela.

– Esta mesma reação do primeiro casal é a observada ainda em nossos dias por todo ser humano. Escravizado pelo pecado, atraído e engodado pela sua própria concupiscência, o homem não admite sua culpa diante de Deus, preferindo culpar os outros pelas suas falhas, preferindo culpar o diabo pelos seus deslizes. 

Por isso, não é surpresa alguma que, ainda em nossos dias, surjam múltiplas teorias filosóficas que tentem retirar do homem qualquer culpa, tais como a negativa da existência de pecado, a busca da responsabilidade da sociedade pela prática de crimes e tantas outras coisas similares.

– É importante asseverar que a Bíblia diz que o pecado entrou no mundo por um homem (Rm.5:12; I Co.15:21), de sorte que não podemos dizer que o pecado é culpa do homem ou da mulher, pois ambos foram igualmente culpados por isso.

Quando se fala em “homem”, está a se falar de “ser humano”, tanto do homem quanto da mulher, porque ambos transgrediram o mandamento divino.

Ademais, quando a Bíblia fala da transgressão de “Adão” (Os.6:7; Rm.5:14), está se referindo tanto ao homem quanto à mulher, pois a mulher somente é chamada de “Eva” após a queda (Gn.3:20), de modo que tudo parece indicar que “Adão” é expressão que designa tanto o homem quanto a mulher até a queda.

– Homem e mulher admitiram ter descumprido o mandamento divino, embora não assumissem sua culpa diante de Deus e o Senhor, então, que é justiça (Gn.18:27; Sl.119:137; Ap.16:5; Jr.23:6), teve, então, de impor o juízo a todos quantos estavam envolvidos neste triste episódio.

II – AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA: O JUÍZO QUE PÕE FIM À DISPENSAÇÃO DA INOCÊNCIA

– Após ter dado o legítimo e sagrado direito de defesa ao primeiro casal e comprovado, aos olhos do homem e da mulher, que eles haviam transgredido o mandamento divino, o Senhor passa, então, a lançar o juízo sobre o primeiro casal, a aplicar a devida justiça, justiça que não é divorciada da misericórdia divina, como haveremos de observar.

– O primeiro alvo do juízo é para a serpente, que, como sabemos, é Satanás. É interessante observar que Deus não deu oportunidade para que o diabo se manifestasse, pois ele já havia sido julgado e condenado por conta de sua transgressão e rebelião na eternidade passada (Jo.16:11).

Não tem, portanto, qualquer cabimento a afirmativa de alguns hereges, de que o diabo será um dia perdoado por Deus, pois seu julgamento já foi realizado e, portanto, como Deus não muda (Ml.3:6), não há mais qualquer oportunidade de redenção seja dos diabos, seja dos seus anjos, que estão a esperar tão somente a execução, com seu lançamento no lago de fogo e enxofre, que para eles mesmos foi preparado (Mt.25:41; Ap.20:10).

– O Senhor dirigiu-Se à serpente e amaldiçoou o animal que havia sido “possuído” ou cuja forma o adversário havia tomado, fazendo com que ele passasse a rastejar, não tendo mais patas, comendo pó todos os dias da sua vida(Gn.3:14).

Mas, por que Deus amaldiçoa este animal, que, por ser despido de moralidade, não teria culpa alguma? Para que ficasse um sinal visível e inescusável na criação para lembrança do homem de que ele havia perdido a comunhão com Deus.

Era uma “marca” que se deixava na natureza para que o homem nunca se esquecesse de que, por meio da serpente, havia sido enganado pelo diabo.

– A maldição que caiu sobre a serpente, também, serviu para demonstrar a perda da harmonia que havia entre o homem e a criação terrena sobre a qual deveria dominar, estabelecendo-se uma concorrência até então inexistente entre o ser humano e a natureza.

– É oportuno apontar que a ciência tem confirmado que a morfologia das serpentes comprova de que elas possuíram membros outrora, circunstância que se atribui a uma “evolução”, mas que, na verdade, fica sobejamente explicado pela passagem bíblica ora em comento.

– Mas, ao lado deste sinal visível da natureza, que serviria de lembrança para o homem, o Senhor, também, fez a promessa de que a inimizade que o diabo conseguira construir entre Deus e o homem seria debelada por um homem, chamado aqui de “semente da mulher” (Gn.3:15).

Temos aqui o “protoevangelho”, ou seja, a primeira vez em que é anunciada a boa nova da salvação, a notícia de que Deus haveria de restabelecer a comunhão entre Ele e Deus.

– O Senhor, diante do primeiro casal, aponta que surgiria a “semente da mulher”, que desfaria a obra produzida pelo diabo, qual seja, a corrupção do gênero humano, que permitira a entrada do pecado no mundo físico, pecado este que só existia, até então, na esfera espiritual, por causa da queda de Satanás e seus anjos. 

– Esta “semente da mulher” é apontada pelo Senhor como alguém que estava muito próximo a Ele (verifique que é identificada pelo pronome “esta”, pronome demonstrativo que indica proximidade com a pessoa que fala), o que nos mostra tratar-se de uma das Pessoas Divinas, o Verbo de Deus que Se faria carne e habitaria entre nós cheio de graça e de verdade (Jo.1:14), Aquele que viria ao mundo para desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8).

– Tal redenção se faria mediante duas ocorrências: por primeiro, haveria a vitória da “semente da mulher”, que desfaria tudo quanto havia sido feito pela serpente (“esta te ferirá a cabeça”), mas não sem que houvesse um preço a ser pago por esta mesma “semente” (“tu lhe ferirás o calcanhar”).

Desde o primeiro instante da revelação do plano da salvação do homem, é dito que isto não se daria sem um preço a ser pago, que foi a morte de Jesus na cruz do Calvário, o derramamento do Seu precioso sangue (I Pe.1:18,19).

– Revela-se, aqui, então, ao lado da justiça, a misericórdia divina. Ao mesmo tempo em que lança novo juízo sobre o diabo, o Senhor revela a Sua misericórdia para com o homem, mostrando ao inimigo de que, ao contrário do que acontecera com ele, a queda do homem não era definitiva e irreversível, mas, sim, passível de reversão, passível de perdão.

– Não estaria o Senhor sendo injusto, já que permitia o arrependimento ao homem e não ao diabo? De modo algum! O diabo e seus anjos viviam na dimensão eterna, tinham pleno acesso à glória divina e, por habitarem a eternidade, somente poderiam fazer uso do livre-arbítrio uma única vez.

Na eternidade, não há possibilidade de alteração de decisão. O homem, no entanto, estava na dimensão terrena, habitava o jardim do Éden, que fica na Terra, e sua existência eterna dependia do acesso à árvore da vida.

Portanto, enquanto não passasse para a dimensão eterna, poderia, sim, alterar a sua decisão no que concerne ao seu relacionamento com Deus e, por causa disso, havia a possibilidade de se arrepender e de se converter. Para situações distintas, soluções igualmente distintas.

– O Senhor, então, faz mostrar a Satanás que, ao contrário do que ele havia pensado, sua ação não representara nenhum malogro no plano divino mas, pelo contrário, era mais um fracasso da parte do adversário que, pensando ter dado à humanidade o seu mesmo triste fim, haveria de contemplar a redenção do ser humano por meio da “semente da mulher”.

– Depois de Se dirigir à serpente, o Senhor, então, Se dirige à mulher, que fora o pivô da queda da humanidade. O Senhor diz à mulher que seria multiplicada grandemente a sua dor e a sua conceição, e teria filhos com dor, sendo que o seu desejo seria para o seu marido e ele o dominaria (Gn.3:16).

– Temos, pois, um tríplice juízo. Por primeiro, a mulher passaria a ter grande multiplicação de dor. A mulher foi feita um ser muito mais sensível que o homem.

Em virtude do desordenamento provocado pelo pecado, esta sensibilidade se traduziria em maior sofrimento.

Esta multiplicação da dor não diz respeito apenas à dor física, mas, também, às dores emocionais, ao sofrimento.

Por ter mais aguçada sensibilidade, a mulher sofre mais que o homem, o que é terrível num mundo onde temos aflições (Jo.16:33).

– Por segundo, a mulher passaria a ter dores quando tivesse filhos. Sua conceição seria dolorida e vemos aqui todo o sofrimento físico e emocional que acompanha a mulher seja quando de sua menstruação, seja quando de sua gravidez e parto.

Todas as alterações físicas e psicológicas que decorrem da preparação do corpo da mulher para a reprodução são consequências diretas do juízo decorrente da entrada do pecado no mundo. A maternidade, que é o momento mais sublime da mulher, a sua completa realização, seria acompanhada de sofrimento.

– Alguns procuram ver nesta passagem uma demonstração bíblica de que homem e mulher tiveram filhos no jardim do Éden, o que se confirmaria pelo fato de que passaram ali um período indeterminado de tempo e, ante a ordem da procriação, não haveria como eles, em plena comunhão com Deus, não terem cumprido o mandamento divino.

– Trata-se, sem dúvida, de uma interpretação razoável do texto, mas é questão que não se soluciona, de modo que devemos deixar em aberto a mesma, já que também razoável a opinião divergente de que não tinham tido eles filhos ainda à época da queda.

– O que se deve evitar, porém, por não haver qualquer respaldo bíblico é de que estariam eles impedidos de manter relacionamento sexual, por ser tal pecaminoso, como defendem alguns hereges, como os adeptos do já falecido Reverendo Moon, já que Deus ordenara a procriação, que se daria, necessariamente, pelo relacionamento íntimo do primeiro casal.

– Por terceiro, a mulher sofreria uma inferioridade social em relação ao homem. O seu desejo seria para o seu marido e ele dominaria sobre ela.

Por ter sido corruptora de seu marido, a mulher sofreria, doravante, uma inferioridade social. O homem passaria a dominar sobre a mulher, domínio este que não é decorrência da natureza, mas consequência do pecado.

Deus criara homem e mulher iguais, tanto que esta foi tirada da costela daquele, do seu lado, mas, em virtude do papel que tivera de corromper o homem e introduzi-lo, também, no pecado, a mulher passaria a ser inferiorizada pelo homem, uma situação injusta mas que perduraria até a redenção a ser operada pela “semente da mulher”.

– Não é por outro motivo que, na história da humanidade, mesmo em tempos de “feminismo”, a mulher sempre tem mantido uma posição de inferioridade social em relação ao homem, circunstâncias que nem mesmo o “movimento feminista” ou a propalada “emancipação da mulher” pôde reverter, mas, bem ao contrário, mais do que agravou.

Com efeito, se a mulher está hoje, notadamente no mundo ocidental, no mercado de trabalho, como deixar de considerar que hoje sãs as mulheres as maiores vítimas do tráfico de pessoas, que supera, e muito, o tráfico de escravos negros?

Como deixar de considerar que as mulheres, em todos os países e em todas as funções, ganham menos do que os homens? Como deixar de considerar que as mulheres são tratadas como meras mercadorias e objeto sexual pelos homens?

– Dirige-Se, então, o Senhor ao homem e a ele é dito que, por causa dele, a terra seria amaldiçoada e com dor dela comeria todos os dias da sua vida (Gn.3:17).

Tem-se aqui mais uma confirmação a respeito da maldição da criação terrena por causa do homem, que já se delineara com a maldição da serpente. Por ser o mordomo da criação terrena, o erro do homem afetou toda a Terra.

A natureza passou a ser hostil em relação a seu mordomo, estabelecendo-se uma concorrência entre o homem e ela.

Para que pudesse sobreviver, o homem teria de se voltar contra a natureza e a própria natureza deixaria de estar submissa ao homem, desafiando-lhe.

– Deus fez com que a terra produzisse espinhos e cardos, ou seja, haveria espécies que não trariam qualquer benefício ao homem, mas, antes, atrapalhariam o penoso trabalho que o homem deveria, doravante, empreender para poder sobreviver sobre a face da Terra.

Há aqui uma mudança de finalidade e de objetivos em espécies criadas, que, modificadas pelo Senhor, deixaram de contribuir para o bem-estar do homem, mas haveriam de criar obstáculos para que ele conseguisse sobreviver.

Não é o que vemos em todos os seres que são nocivos ao homem, que lhe causam doenças e enfermidades, como também prejudicam os alimentos que cultiva?

– Por causa desta maldição, o equilíbrio que existia entre o homem e a natureza foi rompido e o homem, sob o domínio do pecado, acabou por agir na natureza visando a satisfação de sua concupiscência e aí temos o início dos sucessivos ataques humanos contra o meio-ambiente que, em nossos dias, atingiu níveis tais que comprometem a própria existência da vida em nosso planeta, a degradação ambiental que se tem procurado diminuir e reverter sem grandes progressos até o momento.

– Manteve o Senhor a dieta vegetariana do homem, dizendo que ele deveria comer da erva do campo (Gn.3:18b), mas, também, alterou a qualidade do trabalho, tornando-o penoso e necessário para a sobrevivência.

– Vemos aqui, então, que o pecado distorceu a imagem e semelhança de Deus. Se o trabalho era prazeroso e dignificava o homem, agora, com o pecado, passou a ser penoso e necessário para a sobrevivência.

O trabalho agora não representava apenas uma imagem e semelhança de Deus, uma demonstração de criatividade, uma cooperação na sustentação da criação terrena, mas passou a ser uma necessidade para sobreviver.

Se o homem não trabalhasse, não poderia comer, não poderia sobreviver (Cf. II Ts.3:10). O homem passou, então, a empreender uma luta contra a natureza para poder se manter vivo.

– Esta luta, porém, seria inglória, pois o Senhor também decretou ao ser humano como consequência do pecado a “morte física”, ou seja, a separação do corpo do homem interior (alma e espírito).

O Senhor disse que, como o homem era pó da terra, teria de voltar à terra. Não mais haveria a manutenção do corpo em constante regeneração como ocorria até então.

O corpo haveria de se corromper, e, apesar de toda a luta contra a natureza para a sobrevivência, chegaria o instante em que o homem voltaria ao pó da terra, seu corpo se desfaria.

– Deus, então, estabelece um limite para a peregrinação do homem sobre a face da Terra, um tempo para que pudesse se arrepender e, mediante a ação da “semente da mulher”, retornasse à comunhão com Ele.

Este tempo se iniciou para Adão a partir da queda, e foi de 930 anos (Gn.5:5), que é o tempo de vida de Adão, APÓS a queda. E, desde então, está determinado aos homens morrer uma só vez, vindo depois o juízo (Hb.9:27).

– Tem-se aqui um juízo estabelecido por Deus aos homens por causa do pecado, algo que não é próprio da natureza humana, mas consequência da transgressão ao mandamento divino e, por isso mesmo, algo que pode ser excepcionado por Deus, sem que isto represente qualquer acepção de pessoas, pois o homem não foi feito para morrer fisicamente.

Por isso, o Senhor, sem deixar de ser justo e imparcial, livrou da morte a Enoque (Gn.5:24; Hb.11:5) e a Elias (II Rs.2:11) e o fará com os integrantes da Igreja que estiverem vivos no dia do arrebatamento (I Co.15:51; I Ts.4:17).

– Depois deste juízo, é dito que Adão chamou à sua mulher pelo nome de “Eva”, que significa “mãe da vida” (Gn.3:20).

Esta atitude de Adão consubstanciava a perda da unidade do homem com a mulher e destes com Deus, porquanto agora não podiam ambos ser chamados do mesmo nome, sendo, então, dado um outro nome à mulher.

Era a consolidação da perda da igualdade , harmonia e comunhão entre homem e mulher, o que somente seria restabelecido por Jesus Cristo, que restaurou a dignidade da mulher.

– Mas a aplicação dos juízos divinos não veio divorciada da misericórdia. Além da promessa da redenção por meio da “semente da mulher”, o Senhor providenciou túnicas de peles para o primeiro casal para vestilos (Gn.3:21).

– Este gesto divino apresenta-nos importantíssimas lições. A primeira é a de que o homem nada pode fazer para remediar o seu estado pecaminoso.

A única coisa que o homem havia feito para “dar um jeito” na sua situação após o pecado fora coser folhas de figueira para lhe servir de aventais, o que era totalmente inapropriado.

Deus substitui estes aventais por túnicas de peles. O homem nada pode fazer para se salvar, para superar a situação exsurgida com a prática do pecado, a não ser confessar e pedir perdão ao Senhor.

– A segunda lição é a de que o pecado gera a morte. Para que houvesse vestimentas dignas desse nome, o Senhor teve que matar um animal para que dele se fizessem túnicas de pele.

Não é dito que animal tenha sido este, mas a tradição judaica e a maior parte dos estudiosos das Escrituras entende que este animal tenha sido um cordeiro. – A terceira lição é a de que a solução para o pecado dependia do derramamento de sangue.

Como diz o escritor aos hebreus: “…sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb.9:22b). O sangue representa a vida (Gn.9:4) e, com este gesto, o Senhor já deixa claro que o preço a ser pago pela salvação da humanidade, pela sua redenção, pelo restabelecimento da comunhão com Deus seria o preço de sangue, seria uma vida humana, a vida da “semente da mulher”.

Inicia-se aqui o que se costuma dizer do “rastro de sangue da Bíblia”, que vai até o derramamento do sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, na cruz do Calvário.

– A quarta lição é a de que somente Deus pode dar fim à nudez espiritual do homem. Aquelas túnicas de pele, embora fossem vestimentas físicas, simbolizavam a necessidade de haver novas vestes espirituais para o homem que se encontrava nu.

Estas vestes, que são as vestes de salvação, somente poderiam ser fornecidas por Deus (Is.61:10; Cl.3:10; Ap.3:5,18; 7:13,14; 16:15).

– Em mais uma demonstração de misericórdia, o Senhor impediu o acesso do primeiro casal à árvore da vida, expulsou ambos do jardim do Éden, pondo querubins ao oriente do jardim e uma espada inflamada que andava ao redor para guardar o caminho da árvore da vida (Gn.3:22-24).

– Como podemos dizer que a expulsão do casal do jardim do Éden e a proibição de acesso à árvore da vida seja uma demonstração de misericórdia de Deus e não um juízo? O acesso à árvore da vida representaria para o homem a irreversibilidade de sua condição pecaminosa.

Caso tivesse acesso à árvore da vida, o homem, agora em pecado, jamais poderia se arrepender e tornar a ter comunhão com Deus.

Deus queria manter a oportunidade de arrependimento para o homem e, portanto, impediu o primeiro casal de ter novamente acesso à árvore da vida, a fim de que, no tempo que ainda tivesse de vida, pudesse confessar e deixar o pecado e alcançar a salvação pela fé na vinda da “semente da mulher” cuja vinda havia sido solenemente prometida.

– Por isso, o Senhor destaca querubins, os anjos do mesmo “status” do adversário, que estavam diante da glória de Deus, para esta função, bem assim uma “espada inflamada” que andava ao redor.

Estes dois elementos demonstraram a separação havida entre Deus e o homem por causa do pecado e a impossibilidade de o homem, por si só, ter acesso ao Senhor e à comunhão eterna com Ele.

– Não é à toa que, quando o Senhor manda Moisés construir o tabernáculo, manda que a arca, que simbolizava a presença de Deus, fosse separada por um véu e não fosse sequer contemplada pelos israelitas, arca que possuía em sua tampa a imagem de dois querubins, que cobriam toda a arca, a lembrar esta proibição de acesso  à árvore da vida, a mostrar que a lei não conseguira retirar o pecado do mundo.

– A espada inflamada também nos faz lembrar da Palavra de Deus que também há de julgar e condenar todos os que não crerem na “semente da mulher” no dia do juízo final (Cf. Jo.12:48).

 Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4923-licao-7-a-queda-do-ser-humano-i

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