LIÇÃO Nº 7 – A VINHA DE NABOTE
13 de fevereiro de 2013
O episódio da vinha de Nabote traz a Elias a resposta divina sobre o destino de Jezabel.
INTRODUÇÃO
– Na sequência de estudos sobre o ministério do profeta Elias, estudaremos hoje o episódio da tomada por Acabe e Jezabel da vinha de Nabote.
– No episódio da vinha de Nabote, Deus dá ao profeta Elias a resposta às suas indagações sobre Jezabel.
I – A DIGRESSÃO DA NARRATIVA BÍBLICA EM I REIS
– Deixamos o profeta Elias revigorado espiritualmente, depois de sua experiência no monte Horebe, na lição 5, antes de fazermos o retrocesso cronológico da lição 6. Agora, retomaremos “o fio da meada”.
– Elias, após seu revigoramento espiritual, partiu em busca de Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá (I
Rs.19:17), iniciando, assim, os preparativos para a sua própria sucessão. Entendia que tinha algo a fazer ainda para o Senhor, deixando de lado as suas preocupações excessivas com a mantença de Jezabel no trono e de sua nefasta influência sobre o povo de Deus.
– O Senhor, porém, não havia se esquecido desta indagação do profeta, decorrente de seu justo e dedicado zelo pela manutenção do culto ao Senhor no meio do povo de Israel, e, por isso, a partir do instante em que o profeta se dispôs a retomar a obra que lhe fora confiada, tratou de, com fatos, mostrar ao profeta que daria, sim, um jeito na situação existente, ou seja, da manutenção de Jezabel como a verdadeira governante de Israel apesar da derrota dos profetas de Baal e de Asera.
– A narrativa bíblica segue uma trajetória que parece, mesmo, que Deus havia Se esquecido de que Jezabel não havia sido destronada e que, com isso, a idolatria continuava a imperar sobre Israel, apesar da contundente vitória do Senhor no monte Carmelo.
– Esta sequência da narrativa bíblica é mais uma preciosa lição que temos de que o nosso tempo não é o tempo de Deus, de que o Senhor faz tudo o que é necessário no tempo certo. Não é à toa que, se valendo da existência de duas palavras para tempo em grego, os estudiosos das Escrituras costumem dizer que o “tempo de Deus” é o “kairós” (καιρός), como se vê em Lc.21:36, enquanto que o “tempo do homem” é o “kronos” (κρονος), o tempo medido por anos, meses, dias, horas, minutos e segundos.
– Deus bem sabia que jamais poderia haver restabelecimento espiritual do povo de Israel enquanto Jezabel e a casa de Acabe permanecessem no trono e, como já dissera a Elias, já estava a providenciar a mudança de governo em Israel, visto que uma das tarefas destinadas ao profeta seria a unção de um novo rei, a saber, Jeú, filho de Ninsi (I Rs.19:16). No entanto, para que isto fosse feito, decorreria ainda um tempo.
– O profeta Elias bem entendeu a lição e partiu para cuidar daquilo que era prioritário, ou seja, a
formação de seu sucessor, Eliseu. Sabia que a erradicação da idolatria e do culto a Baal ainda demandaria um tempo e era fundamental que, para tanto, estivesse bem preparado o novo profeta.
– Temos tido esta mesma mentalidade do profeta Elias? Sabemos que estamos no final da dispensação da graça, que Jesus está às portas, que breve virá o juízo sobre o mundo impenitente. Mas, a exemplo de Elias, temos dado prioridade às coisas de Deus, à obra do Senhor? Observemos que o profeta sabia que teria um sucessor e, mesmo assim, tratou de fazer o que se espera dele, ou seja, a preparação deste sucessor. E nós, que parece sermos a última geração desta dispensação, temos “arregaçado as mangas” e feito a obra do Senhor? Ou estamos, ainda, dentro da caverna, achando que nada temos mais que fazer para Deus? Pensemos nisto!
– Após o texto bíblico dizer que se iniciou o discipulado de Eliseu por Elias, muda totalmente o foco do embate entre a casa de Acabe e o Senhor. Sobreveio uma guerra entre Acabe e o rei da Síria, Bene-Hadade, guerra na qual um profeta é levantado pelo Senhor para ajudar Acabe, que saiu vitorioso do conflito (I Rs.20:1-30).
– Desta maneira, o Senhor mostrava, uma vez mais, a sua superioridade sobre todas as nações, o Seu absoluto controle sobre todas as coisas, mas, apesar disto, uma vez tendo vencido o inimigo, Acabe se alia a ele, fazendo paz com a Síria (I Rs.20:31-34) e demonstrando que se mantinha, apesar de tudo o que ocorria, debaixo dos “estatutos de Onri”(Mq.6:16), o seu pai, que, como já vimos na lição 1, prezava por fazer alianças com os outros povos, mesmo que isto significasse o prejuízo espiritual do povo e o descumprimento da aliança firmada com Deus no monte Sinai.
– Esta digressão da narrativa não se trata, pois, de uma genuína digressão motivada por circunstâncias histórico-cronológicas. A guerra com a Síria foi mais uma oportunidade que Deus deu a Acabe para que se convertesse, para que, diante da demonstração da majestade divina, da soberania do Senhor sobre as falsas divindades, tomasse uma resoluta atitude de servir ao Senhor. Entretanto, em mais esta chance que se lhe deu, Acabe preferiu seguir os tortuosos caminhos de seu pai e de se manter em uma atitude de rebeldia contra o Senhor.
– Diante desta atitude, o Senhor mandou um outro profeta para dizer ao rei Acabe que porque poupara a vida dos inimigos do Senhor e do povo de Deus, a sua vida e a de sua casa seriam tomadas no lugar daquelas que haviam sido poupadas.
– Ante esta afirmação do profeta, que sentenciava a morte de Acabe e de sua casa, o rei, em vez de se humilhar e se arrepender, foi para sua casa desgostoso e indignado (I Rs.20:21). É este estado de espírito tão adverso a Deus que fomentará o episódio da vinha de Nabote, que será a “pá de cal” na sentença divina contra Acabe e sua casa.
II – ACABE DESEJA A VINHA DE NABOTE
– Acabe retornou indignado e desgostoso para Samaria. Apesar de suas vitórias militares e do acordo de paz que fizera com Bene-Hadade, havia sido repreendido pelo Senhor, que sentenciara sua morte e de sua casa. Acabe estava indignado, era como os “crentes revoltados” dos nossos dias, que acham que podem mandar em Deus e fazer com que o Senhor faça o que eles querem, não o que Deus quer.
– Tomemos muito cuidado, amados irmãos, com a nossa reação diante da Palavra do Senhor. Muitos, em nossos dias, são como Acabe, quando ouvem a voz do Senhor, em vez de se humilharem, de se converterem, preferem ficar “desgostosos e indignados”, preferem dizer que “não aceitam” o que Deus disse. Este caminho não é o caminho de um servo de Deus, mas o caminho de um ímpio, como nos mostra o rei Acabe.
– Acabe, desgostoso e indignado, aproveitando do período de paz que desfrutava o reino, resolve, então, ir para o seu palácio em Jizreel, sua “casa de verão”, local onde podia se recrear, se divertir. Quando as pessoas estão vazias de Deus, o entretenimento é sempre uma saída, uma tentativa de se iludir com as coisas desta vida, uma busca inútil por uma alegria passageira que possa mascarar a realidade de uma falta de comunhão com Deus.
– Hoje em dia, muitos são os que cristãos se dizem ser que têm os seus “palácios de Jizreel” para tentar se iludir e esconder a falta de comunhão com Deus, a falta de uma verdadeira e genuína vida espiritual. São pessoas que correm atrás de entretenimento, de diversão, de algo que lhes possa preencher o vazio espiritual que existe em seu interior, e, pasmem os amados, inclusive dentro das igrejas. Eis aí porque as reuniões em muitas igrejas locais têm se tornado shows, momento de descontração e de extravasão da carne em vez de um instante de adoração ao Senhor…
– A existência de um palácio em Jizreel, também, mostra a opulência econômico-financeira de que gozava o rei Acabe. Mesmo depois de um longo período de estiagem e de uma guerra com a Síria, o rei ostentava um patrimônio considerável, circunstância que, naturalmente, Jezabel se valia para defender o culto a Baal, a quem, certamente, atribuía toda esta prosperidade material.
– Esta circunstância, aliás, mostra-nos claramente que prosperidade material não significa, em absoluto, bem-estar espiritual. Acabe estava desgostoso e indignado, reprovado por Deus, rebelde contra o Senhor e, mesmo assim, continuava a viver nababescamente.
– Em Jizreel, o rei Acabe, numa atitude típica de quem não tem paz interior, de quem sente um vazio interior que tem de ser preenchido mas que nada pode preencher, pois é um “vazio do tamanho de Deus”, cobiçou a vinha que fazia limite com seu palácio, pertencente a Nabote, a fim de que pudesse fazer uma horta nela.
– Notamos, assim, que quem não vive segundo a vontade de Deus é presa fácil da cobiça, também chamada de concupiscência, isto é, como diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “desejo imoderado de bens, riquezas ou honras”. Afinal de contas, quem se encontra sob o domínio do pecado não consegue controlar seus desejos e instintos, sendo por eles facilmente dominados.
– Acabe desejou ardentemente possuir a vinha de Nabote e, por isso, foi ao encontro daquele súdito para oferecer a compra daquela propriedade, seja em dinheiro, seja por outra vinha que o rei disse ser “melhor do que aquela” ( I Rs.21:2).
– Nabote, porém, recusou a oferta do rei, porque disse que aquela vinha era herança de seus pais e, como tal, não poderia vendê-la. Nabote mostrava ao rei que, acima de valores materiais, estava a fidelidade aos mandamentos do Senhor.
– Nabote era um fiel seguidor da lei de Moisés. Com efeito, a lei mosaica estatuíra que toda a terra era do Senhor (Lv.25:23), algo que seria depois repetido pelo salmista Davi (Sl.24:1). Em sendo a terra do Senhor, os israelitas eram meros administradores dela e, portanto, deveriam observar as regras estatuídas por Deus com relação à propriedade, visto que, na verdade, se tratava de uma propriedade submetida à vontade do Senhor.
– Entre estas regras, estava a de que não se poderia vender a terra recebida em herança quando da partilha da terra entre as tribos de Israel perpetuamente, ou seja, para sempre. Era vedado aos israelitas abrir mão de suas terras (Lv.25:23), tanto que, no ano do jubileu, todas as terras alienadas voltavam para os seus primitivos donos (Lv.25:10).
– A regra divina buscava impedir uma concentração de renda que produzisse uma injusta desigualdade social no meio do povo, era um mecanismo que evitaria o que hoje contemplamos em todo o mundo, ou seja, que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres.
– Acabe estava a propor a Nabote a desobediência à lei do Senhor e Nabote, que servia a Deus, não se deixou impressionar com o rei, preferindo ser obediente a Deus a ter vantagens passageiras nesta vida.
– Quantos, no entanto, em nossos dias, sucumbem às indecentes e antibíblicas propostas dos reis da terra e deixam a Cristo Jesus por causa das ofertas malignas que lhe são apresentadas? Será que temos agido como Nabote?
– É interessante observar que na conversa do rei Acabe temos algumas incongruências que, muitas vezes, passam despercebidas pelos incautos que trocam aquilo que Deus lhe deu pelas ofertas ilusórias do mundo. Por primeiro, Acabe disse a Nabote que queria a sua vinha para dela fazer uma horta (I Rs.21:2).
– Ora, amados, Acabe explicitamente mostrava a Nabote que seu objetivo era transformar uma propriedade que servia para a produção de vinho, símbolo bíblico da alegria, que era o sustento de Nabote e de sua família há séculos, em uma repartição secundária do complexo real, um local que serviria apenas para produção de hortaliças, plantações passageiras, o que tornaria o que era o centro da vida de uma família em um mero apêndice do complexo real.
– Esta proposta de Acabe bem ilustra o que o mundo quer fazer com aquilo que Deus nos deu. Aquilo que Deus nos concedeu e que podemos usar para a Sua glória, que se torna em algo fundamental e indispensável para que tenhamos uma vida de alegria com o Senhor, nas mãos do inimigo, servirá para interesses subalternos e secundários, será algo extremamente subutilizado, passará a ser algo desprezível e completamente aviltado. Cuidado, irmãos, para que os talentos que Deus nos concedeu não sejam totalmente depreciados pelo inimigo de nossas almas!
– Por segundo, o rei Acabe disse a Nabote que daria a ele “uma vinha melhor que aquela” (I Rs.21:2). Tem-se aqui uma outra artimanha do inimigo para enganar o servo de Deus: a depreciação daquilo que Deus nos dá. Já o proverbista nos ensina: “Nada vale, nada vale, dirá o comprador, mas, indo-se, então, se gabará” (Pv.20:14).
– Uma das mais antigas estratégias dos negociantes é depreciar aquilo que desejam comprar, a fim de que possam obter o bem pelo menor preço possível. O comprador de que fala aqui Salomão é figura do inimigo de nossas almas, que procura depreciar, ou seja, diminuir o preço, o valor das bênçãos espirituais que recebemos, a fim de que, convencidos nós de que valem pouco, delas abramos mão e as percamos.
– No entanto, jamais nos esqueçamos de as bênçãos espirituais são valiosíssimas, a começar de nossa salvação, que custou o preço do sangue de Cristo Jesus na cruz do Calvário, algo muito precioso do que todo ouro e toda prata do mundo (I Pe.1:18,19), bem como que nossa alma vale mais do que o mundo inteiro (Sl.49:6-8). Quando não perdemos isto de vista, certamente temos o mesmo comportamento de Nabote e não nos deixamos levar pela “tática da depreciação”.
– Por terceiro e último, o rei Acabe usou da “estratégia do dinheiro”, ou seja, ofereceu a Nabote um valor em dinheiro para adquirir a sua vinha. Tal oferta era tentadora, pois Nabote podia ver o esplendor do palácio do rei, que era seu vizinho, prova de que Acabe tinha muito dinheiro a oferecer. A prosperidade material do rei poderia ser imitada, obtida por Nabote.
– Nabote, sabedor do desejo ardente do rei em comprar aquela propriedade, poderia “superfaturar” o preço de sua vinha e, assim, ter riquezas suficientes para o restante de sua vida, fazendo-se, ainda, agradável ao rei, o que lhe poderia render posição social e influência. No entanto, Nabote sabia que mais importante do que tudo isto era fazer a vontade de Deus e, por isso, preferiu agradar a Deus e não aos homens. Temos tido esta mesma conduta, ou já faz tempo que estamos a agradar a homens? Lembremos do que diz o apóstolo Paulo: “Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl.1:10).Pensemos nisto!
– Nabote não se deixou levar pelos argumentos trazidos pelo rei e recusou vender-lhe a vinha. Demonstrava, assim, com seu comportamento, o próprio significado de seu nome, que é “fruto”, “abundância”. Somente produziremos frutos abundantes e agradáveis ao Senhor se fizermos a Sua vontade, de observarmos os Seus mandamentos.
– Verdade é que não estamos mais no tempo da lei, vivemos a graça, mas a graça também tem o Seu mandamento, que é o de amarmos uns aos outros assim como Jesus nos amou (Jo.15:12), o mandamento novo (I Jo.2:8) que é o antigo mandamento (I Jo.2:7), pois a Palavra de Deus não muda e permanece para sempre (I Pe.1:25), mandamento este que nos faz guardar esta mesma Palavra (I Jo.2:5) e, deste modo, provamos que amamos a Deus (Jo.14:23; 15:14). Só assim, produziremos fruto permanente (Jo.15:16).
– Com esta recusa de Nabote, Deus dava uma nova oportunidade a Acabe para que ele se rendesse aos pés do Senhor, pois, apesar de toda a sua opulência econômico-financeira, de sua situação política favorável, o monarca fora confrontado com a lei do Senhor, à qual deveria se submeter (Dt.17:18-20).
– Acabe, porém, diante de mais esta manifestação da soberania de Deus, reagiu com desgosto e indignação, entrando mesmo em depressão, vez que se deitou em sua cama, voltou o seu rosto e nem sequer comeu. A exemplo do que ocorrera com o profeta Elias, a frustração do ego fizera o rei desanimar da vida, uma vida regalada mas que não tinha sentido dentro da cobiça que invadira seu coração.
– Quantos hoje não agem desta mesma maneira, inclusive os que cristãos se dizem ser? Apesar de terem uma boa posição social, de terem mesmo uma vida regalada, ou, quem sabe, o suficiente para sobreviver, entram em depressão porque têm seus desejos frustrados, mesmo quando tais desejos violam expressamente a vontade de Deus. Prostram-se porque fizeram de suas vidas uma ilusão, uma sequência de desejos ardentes que, quando não satisfeitos, fazem com que percam a própria motivação para viver. Fujamos desta busca insana e insensata de satisfação de desejos, pois isto nada mais é que a própria submissão às concupiscências que existem no mundo, é o retrato do amor do mundo e do que nele há. Precisamos ter o amor do Pai em nossos corações, não o amor do mundo (I Jo.2:15). Qual é a nossa situação?
III – JEZABEL ARQUITETA O PLANO PARA TOMAR A VINHA DE NABOTE
– Quando Acabe se encontrava naquela inadmissível situação depressiva, exsurge sua mulher, a famigerada Jezabel, para saber do porquê daquele estado e Acabe, então, abre seu coração à sua mulher e lhe conta que Nabote recusara vender-lhe a vinha (I Rs.21:5,6).
– Vemos quão diferentes são os caminhos de quem serve a Deus e de quem não O serve. Enquanto o profeta Elias, em seu estado depressivo, recebe a visita de um anjo, Acabe tem a companhia de Jezabel, a nefanda mulher que havia escolhido para se casar, o que nos mostra como é nefasto e altamente perigoso o casamento com uma pessoa ímpia, que não serve a Deus.
– Além disso, vemos que o que levou o profeta Elias à depressão, como estudado na lição 5, teve como motivo o zelo do profeta pelo bem-estar espiritual do povo. Se é verdade que saiu de debaixo da mão de Deus, entendendo que poderia impulsionar o destronar de Jezabel, não é menos verdadeiro, também, que o que motivava o profeta era um intento sublime, qual seja, a erradicação da idolatria do meio do seu povo.
– Entretanto, o que levou Acabe à depressão foi algo muito menos sublime, algo deplorável, qual seja, a cobiça, a ganância, a vontade de ter a vinha de um vizinho humilde, única e exclusivamente para satisfação de seus caprichos, apesar de toda a sua riqueza, de todo o seu poderio. Era uma motivação mesquinha e tacanha que, lamentavelmente, se repete a cada dia, a cada instante, inclusive entre os que cristãos se dizem ser.
– Qual tem sido o alvo de nossas vidas, amados irmãos? Temos desejado as coisas desta vida, temos corrido atrás das benesses passageiras desta Terra, ou temos como finalidade e alvo de nossa busca o reino de Deus e a sua justiça? O que nos abala, o que nos deprime: a perdição de milhares de almas que estão à nossa volta ou as frustrações de nossos intentos materialistas?
– Jezabel, ao saber do motivo que levara Acabe àquele estado, animou seu marido, dizendo-lhe para que comesse pão e se alegrasse no seu coração, pois ela daria a vinha de Nabote a seu marido, afinal de contas governava ele a Israel ou não (I Rs.21:7)?
– Nas palavras de Jezabel, vemos como é diferente o proceder de Deus do proceder do mundo e do inimigo de nossas almas no tratamento da depressão. Enquanto o Senhor cuidou do profeta, revigorando-o fisicamente e biologicamente, antes que pudesse revigorá-lo espiritualmente, o que fazia mister que houvesse a aniquilação do ego e a completa submissão a Deus, o tratamento dado por Jezabel foi diametralmente oposto.
– Por primeiro, Jezabel fez enaltecer ainda mais o ego de Acabe, fazendo-lhe um desafio: “Governas tu agora no reino de Israel?” (I Rs.21:7 “in initio”). Jezabel, como bem disse o ilustre comentarista, sendo fenícia, não se conformava com o fato de que o rei estava submisso à lei do Senhor. Sua mentalidade era a de que os reis tudo podiam, eram verdadeiros “deuses” em relação a seus súditos.
– Hoje em dia não tem sido diferente. O adversário tem fomentado na mente dos homens a velha ideia que lançou ao primeiro casal no Éden, ou seja, a de que o ser humano é um “deus”, é alguém que não depende do Senhor nem Lhe deve satisfação, alguém que “pode ser igual a Deus sabendo o bem e o mal” (Gn.3:5).
– Nesta ilusão da velha mentira satânica, não são poucos os que se arvoram em referências para fazer o que bem lhes convém, para se dizerem “donos dos seus narizes”. Prova disso é o relativismo ético e moral que domina as mentes do mundo, inclusive de muitos que cristãos se dizem ser.
– Jezabel fomentou em Acabe o sentido de que ele poderia fazer o que quisesse, pois ele era o rei e que não seriam regras ditadas séculos antes que o impediria de se apossar da vinha de Nabote. De igual modo, em nossos dias, muitos têm sido iludidos por esta mesma cantilena e são levados a não mais observar as Escrituras, porque “elas estão fora do contexto cultural dos dias de hoje”, porque “elas estão defasadas”, porque “elas são fruto de um ambiente que hoje não mais existe” etc. etc. etc.…
– Depois de ter realçado o ego do rei e marido, depois de ter “sobrevalorizado” a autoestima de Acabe, Jezabel trouxe o outro ponto de sua “terapia”, qual seja, o de aconselhar Acabe a comer pão e alegrar o seu coração, ou seja, a mesma “estratégia do entretenimento” que o havia levado pra Jizreel depois da palavra profética a respeito de sua ruína e de sua casa.
– O inimigo procura sarar a depressão do homem com a ilusão do entretenimento, com o engano do “show”, da “diversão”. Como diz a letra de conhecida canção norte-americana da autoria de Howard Dietz (1896-1983): “o mundo é um palco, o palco é um mundo de entretenimento”. Daí o porquê do grande desenvolvimento da indústria do entretenimento, que busca “entreter”, ou seja, “desviar a atenção de algo”, “distrair”. A| tático do inimigo é preencher a mente humana com muitas coisas para que ela não atente para a sua miséria espiritual, para que ela não sinta a necessidade de se reconciliar com o Senhor.
– É importante aqui deixarmos claro que não somos contrários ao entretenimento, ao lazer, à distração, que são absolutamente necessárias para a saúde mental e psíquica dos seres humanos, pois é dom de Deus que o homem coma e beba, goze do bem de todo o seu trabalho (Ec.3:13). O que estamos a dizer é que o entretenimento não poder ser um subterfúgio para que o home fuja da realidade de que Deus pôs dentro dele a eternidade (Ec.3:11 ARA) e, desta maneira, precisa resolver esta questão, que é prioritária para a existência humana.
– O entretenimento não pode ser utilizado como um escape para o confronto com a questão de onde passaremos a eternidade, como u’a máscara que nos impede de ver a realidade de que temos de resolver a questão de nosso relacionamento com Deus, que temos de nos submeter à Sua vontade e ao Seu querer, se quisermos ter a vida eterna.
– A “terapia” de Jezabel para Acabe era o do escape daquilo que Deus estava a falar com Acabe desde a longa seca que viera sobre Israel. Acabe precisava reconhecer a soberania divina, senão seria exterminado e, já por duas vezes, havia rejeitado este chamado divino e, para “resolver a situação”, Jezabel traz para o rei o entretenimento, a diversão, a fuga deste confronto com Deus. Será que temos ouvido as Jezabéis que se nos apresentam com esta “terapia”?
– Jezabel, então, traz uma motivação final para que o rei saísse daquele estado depressivo: “eu te darei a vinha de Nabote, o jizreelita” (I Rs.21:7 “in fine”). Vemos aqui toda a falácia, toda a contradição do discurso de Jezabel: não havia ela dito ao rei que era ele o rei de Israel? Como, então, agora, Jezabel diz que era ela quem daria a vinha de Nabote ao rei? Não deveria ser o “todo-poderoso” monarca israelita?
– Percebemos, pois, amados irmãos, que a tática do inimigo, ao “endeusar” o ser humano, outra não é senão a de levar o homem a ser escravizado por ele. No fundo, diante de uma supervalorização do ego, o que pretende o adversário é que o homem se torne seu adorador. Por detrás da “divinização” do ser humano está uma estratégia ardilosa do inimigo para ser adorado pelo homem. Em troca dos bens deste mundo, o inimigo quer a nossa adoração a ele, exatamente como propôs ao Senhor Jesus na tentação do deserto (Mt.4:8,9; Lc.4:5-8).
– Não é surpresa, portanto, que, em nossos dias de “divinização” do ser humano, de egolatria exacerbada, estejamos, também, no aumento considerável da feitiçaria e do satanismo, algo que atingirá seu apogeu quando da subida do Anticristo ao poder na Grande Tribulação (Ap.9:20,21; 13:8).
– Acabe seguiu o conselho de sua mulher, levantou-se, comeu e alegrou o seu coração, mas também entregou sua autoridade a Jezabel, tanto que ela escreveu cartas em nome de Acabe e as selou com o sinete do rei, para os anciãos e nobres de Jizreel (I Rs.21:8).
– Acabe agora entregava sua autoridade a Jezabel de vez, permitindo que Jezabel atuasse em seu nome. É isto que ocorre quando aceitamos a “terapia do inimigo” em nossas vidas, acabamos dando uma “procuração em branco” para que o inimigo cometa as mais diversas atrocidades em nossa vida. Por isso, o apóstolo Paulo foi bem claro ao nos afirmar: “Não deis lugar ao diabo” (Ef.4:27). Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Nestas cartas, Jezabel mostrou toda a sua impiedade. Mandou que se apregoasse um jejum e que Nabote fosse posto acima do povo e que fossem levantados dois homens que testemunhassem contra ele, acusando-o de blasfêmia e que, em virtude disso, fosse ele apedrejado pelo povo (I Rs.21:8-13).
– Vemos aqui toda a astúcia do inimigo neste episódio. Por primeiro, Jezabel, de forma sigilosa, mandou que os anciãos e os nobres de Jizreel apregoassem um jejum. Vemos, portanto, como estava corrompida a classe dirigente de Jizreel, que, cegamente, atendia às ordens reais, ainda que manifestamente ilegais e contrárias às Escrituras.
– Ao contrário de Nabote que, em sua simplicidade, havia se mantido fiel à lei mesmo diante da presença do rei e de suas ofertas, os dirigentes de Jizreel, apenas por carta, resolveram cumprir cegamente o que o rei lhes mandava fazer e que infringia, a um só tempo, três mandamentos. Senão vejamos.
– Por primeiro, deveriam apregoar um jejum única e exclusivamente para satisfazer a vontade real. Isto nada mais era que “tomar o nome do Senhor em vão”, que é o terceiro mandamento (Ex.20:7; Dt.5:11). No jejum, estariam aparentemente se humilhando diante de Deus, invocando a Sua presença, mas, na verdade, tudo não passaria de um teatro, de uma encenação para satisfazer os desejos de Acabe.
– Quantos não têm procedido desta forma em nossos dias? Têm promovido ajuntamentos solenes,
aparentemente para adorar o Senhor, mas estão se utilizando do nome do Senhor para satisfazer seus interesses políticos, econômico-financeiros e pessoais? Será que estamos a agir como os anciãos e os nobres de Jizreel, atendendo cegamente aos interesses do príncipe deste mundo, do deus deste século e isto em nome de Deus? Tomemos cuidado!
– Por segundo, deveriam encontrar duas falsas testemunhas para que acusassem Nabote de blasfêmia diante de todo o povo, o que contrariava o nono mandamento, que proibia testemunhar falsamente contra o irmão (Ex.20:16; Dt.5:20). Jezabel, com sua astúcia, buscava cumprir “rigorosamente” a lei, de modo que mandou que se achassem duas testemunhas, pois o testemunho de um só não era considerado para fins de condenação à morte (Nm.35:30; 17:16; 19:15).
– Temos aqui uma outra estratégia muito empregada pelo inimigo de nossas almas, que é a da “aparência”. Jezabel tomou cuidado de mandar que fossem achadas duas testemunhas falsas, que ela mesma chama de “homens de Belial”, ou seja, homens malignos, sem reputação, para fazerem aquele “serviço sujo”. Tudo para que fosse “aparentemente” legal e correto.
– Não podemos nos deixar impressionar pela “aparência”, pela “roupagem exterior” de alguma suposta manifestação sobrenatural. Jezabel queria que, diante do jejum do povo, surgissem duas “testemunhas” que, sob o “impacto da consagração”, acusassem Nabote de blasfêmia, como que houvesse uma “revelação”, uma “contrição do coração” diante da atitude de adoração ao Senhor.
– Precisamos tomar muito cuidado com as manifestações sobrenaturais, com aquilo que ocorre em meio a nossas reuniões de busca do poder de Deus. Temos, sim, de participar de consagrações, de reuniões de busca do poder de Deus, de reuniões de oração, pois, como nunca, nos tempos difíceis em que estamos vivendo, a Igreja necessita estar clamando e invocando o Senhor.
– Entretanto, não podemos deixar de vigiar, pois sabemos que o adversário é astuto e que, nestes momentos, quererá enganar o povo de Deus, trazendo “fogo estranho”, trazendo manifestações que não são da parte do Senhor. Temos de tomar cuidado com os “homens de Belial” que vêm tumultuar nossa comunhão com Deus. Por isso, precisamos estar sempre vigilantes para não sermos enganados por aquele que engana todo o mundo (Ap.12:9).
– Por terceiro, deveriam, diante do falso testemunho, levar o povo a apedrejar e matar Nabote, o que era nítida violação do sexto mandamento (Ex.20:13; Dt.5:17). Jezabel “resolvia” o problema mandando matar Nabote, a fim de que se pudesse apossar da sua vinha. É sempre assim: a solução do adversário de nossas almas é sempre a morte, pois veio para matar, roubar e destruir (Jo.10:10). Será que temos “solucionado” nossas frustrações desta maneira? Não nos esqueçamos de que o Senhor Jesus disse que homicida não é apenas que tira o fôlego de vida do próximo, mas também aqueles que se encolerizam contra o próximo, que não o consideram como imagem e semelhança de Deus (Mt.5:20-22).
– O plano de Jezabel foi integralmente cumprido pelos anciãos e nobres de Jizreel. Nabote foi posto
acima do povo, ou seja, foi tratado como um dos primeiros do povo. Isto também nos faz ver que devemos sempre “ter um pé atrás” com os elogios e os encômios provenientes do mundo para nós. Nabote, certamente, era conhecido como um homem zeloso por Deus, zelo este que se manifestava de forma mais explícita depois do episódio do monte Carmelo. Talvez, por isso, não foi difícil a Nabote aceitar o lugar de honra em uma reunião em que se estava a invocar ao Senhor.
– O mundo é um local onde não há amor ao próximo nem amor a Deus. Por isso, jamais esperemos coisa alguma da parte do mundo. Nosso bom testemunho deve servir única e exclusivamente para que os homens glorifiquem a Deus (Mt.5:16), não para que sejamos, de alguma maneira, enaltecidos ou elevados acima dos demais. Quando isto acontece, devemos estar vigilantes, bem vigilantes, pois, assim como Nabote, tudo não pode passar de uma armadilha para nos destruir.
– Em meio ao jejum, apareceram as duas testemunhas falsas que acusaram Nabote de ter blasfemado contra o Senhor. Como afirmam os comentadores da Bíblia de Jerusalém, o pregão do jejum deveria estar ligada a alguma calamidade que Jizreel estava a viver (seca, fome etc.). Ante o episódio do monte Carmelo, onde se mostrou a soberania de Deus sobre a natureza, não deve ter sido difícil para o povo aceitar o pregão do jejum determinado pelos anciãos e nobres da cidade para se saber a causa daquela calamidade.
– Quando as testemunhas acusaram Nabote de ter blasfemado contra o Senhor, não foi difícil convencer o povo de que ele era a causa de todo o mal que a cidade estava a sofrer e, sem qualquer investigação a respeito da notícia, a população prontamente atendeu aos incentivos e estímulos dos anciãos e nobres e levaram Nabote para ser apedrejado, pois era esta a pena de quem blasfemava contra o Senhor (Lv.24:16).
– Eis o problema de não investigarmos aquilo que é falado no meio do povo de Deus. O salmista é bem claro ao afirmar que o ímpio não investiga (Sl.10:4). Assim, como não somos ímpios, temos de tudo investigar, tudo verificar, para que não venhamos a ser enganados pelo inimigo de nossas almas. Vivemos, porém, dias em que a investigação é deixada de lado, em que se incentiva a “engolirmos” tudo quanto nos é apresentado na infinidade de informações que vêm ao nosso alcance. Tomemos cuidado, irmãos, sejamos vigilantes e investiguemos tudo quanto nos é falado e dito!
– Nabote foi morto, um servo de Deus inocente que foi injustamente acusado e que pagou com a própria vida a sua fidelidade a Deus. Ainda hoje, muitos Nabotes têm morrido por causa de serem fiéis observantes da Palavra de Deus. O número de mártires, hoje em dia, é muitíssimo superior ao início da história da Igreja. Não nos iludamos, amados irmãos, temos de estar prontos para morrer por causa de nossa fé em Cristo Jesus!
– Muitos ignoram a realidade do martírio, mas deve ela ser realçada em nossos dias. O martírio é uma verdadeira contraprova de toda a mentira da teologia da prosperidade, como também a demonstração cabal de que não podemos esperar coisa alguma nesta vida. Não podemos temer perder a vida física por causa do Senhor Jesus, até porque o inimigo só consegue matar o corpo, mas não tem condição de interromper a nossa comunhão com o Senhor, não pode nos tirar a vida eterna. Por isso, o Senhor Jesus foi bem claro ao dizer: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, Aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt.10:28). Devemos temer a Deus e não ao diabo!
– Morto Nabote, rapidamente os anciãos e nobres de Jizreel avisaram Jezabel que, então, se dirigiu ao seu marido e lhe anunciou que Nabote havia morrido e que, portanto, a vinha que lhe pertencera poderia ser tomada pelo rei. Acabe, ao saber da notícia, sem se importar com a iniquidade cometida para que pudesse tomar conta da vinha, foi lá e a tomou, possuindo-a.
– Eis o problema de quem é guiado pela concupiscência, dirigido pela cobiça. Tais pessoas têm a consciência cauterizada e não se importam com os meios utilizados para que tenham a satisfação de seu desejo imoderado. É aqui que exsurge a ética de que “os fins justificam os meios”, o que, à evidência, é uma grande mentira, mentira esta, porém, que tem conduzido o comportamento de muitos que cristãos se dizem ser. A moral bíblica é bem clara: jamais meios maus podem justificar fins, ainda que eles sejam bons. Temos vivido desta maneira?
IV – ELIAS REPREENDE ACABE
– Parecia que tudo terminara bem. Acabe possuiu a vinha de Nabote, transformou-a em uma hora adjacente a seu palácio e, assim, ficara satisfeito. Jezabel, por outro lado, aumentara ainda mais o seu poder, visto que, agora, o rei lhe devia um favor.
– No entanto, aquilo que Acabe ignorava, que Jezabel ignorava, ou seja, que havia um Deus que tudo via e tudo observava, era uma realidade. Deus contemplara toda aquela injustiça contra Seu servo Nabote e o sangue deste homem inocente estava a clamar perante o Senhor, assim como o sangue de Abel (Gn.4:10), assim como o sangue de todos os justos que forem injustamente derramados e cuja conta será devidamente paga no tempo oportuno (Ap.16:5-7). Temos derramado sangue inocente de nosso próximo? Tomemos cuidado!
– Quando Acabe desceu a Jizreel para possuir a vinha de Nabote, todo alegre e contente, com seu ego inchado, vem ao seu encontro o profeta Elias, mandado por Deus para lhe trazer uma mensagem (I Rs.21:19,20).
– Acabe estava todo feliz e satisfeito porque concretizava o seu desejo, porque saciava a sua cobiça, quando chega o profeta. O rei, então, saiu de sua ilusão, de sua redoma de entretenimento e a simples presença do profeta lhe causou furor. Por mais que quisesse fugir da sua realidade espiritual, a presença do profeta lhe fazia lembrar que havia sobre Israel um Deus que Acabe estava a desagradar e cuja ruína já fora predita.
– Acabe, ao avistar o profeta, não lhe deixou nem falar, mas, imediatamente, o acusou, chamando-o de “inimigo meu”. Elias não retrucou a esta acusação, que poderia lhe causar algum problema sério, visto que os inimigos do rei não poderiam ser sequer mantidos vivos. Acabe, com esta atitude, apenas confessava a sua inimizade contra Deus, a sua postura de rebeldia contra o Senhor.
– Elias não negou que fosse inimigo de Acabe, pois, quem se faz amigo de Deus se faz inimigo do mundo (Tg.4:4). Na sua cegueira espiritual, Acabe chamara de irmão ao rei da Síria que quisera destruí-lo (I Rs.20:32), mas chamava de inimigo o profeta do Senhor que lhe dera oportunidade de conversão. Será que temos chamado de irmãos as pessoas do mundo e de inimigos a fiéis servos de Deus? Pensemos nisto!
– Não podemos ter comunhão com o mundo, não podemos querer ser agradáveis e simpáticos ao mundo. Não nos importemos de sermos chamados de inimigos pelo mundo, pois esta tem de ser a nossa situação. Muitos, em nossos dias, têm se perdido exatamente porque querem manter uma amizade com o mundo concomitantemente a uma amizade com Deus, o que é impossível.
– Elias foi mandado dizer a Acabe que ele havia matado e tomado a herança de Nabote e que havia se vendido para fazer o que era mal aos olhos do Senhor e, por causa disto, o Senhor traria mal sobre ele e a sua casa e que ela seria arrancada de Israel assim como tinha sido arrancada as casas de Jeroboão e de Baasa. Pela segunda vez, Acabe recebia a mensagem de que seria exterminado assim como a sua casa. O resultado da rejeição a Deus era a rejeição por Deus.
– Além desta palavra, o profeta recebeu também a revelação do que ocorreria com Jezabel. Deus, a um só tempo, divulgava o juízo àquela nefanda mulher, como também mostrava ao profeta Elias que, como agora ele estava a cuidar da obra de Deus, o Senhor também estava a cuidar de retirar Jezabel do país.
– O Senhor lançava sobre Jezabel um duro juízo: os cães a comeriam junto ao antemuro de Jizreel (I Rs.21:23). Além de ser morta, como toda a casa de Acabe, Jezabel nem sequer seria sepultada, teria uma morte infame, para que todo o povo soubesse que Deus é soberano e que não Se deixa escarnecer. Em Israel, pior do que morrer era morrer e não ser sepultado, pois isto demonstrava uma situação de grande desonra. Ser comido, então, pelos cães, era o suprassumo da desonra, a desonra em seu grau maior.
– A destruição da casa de Acabe teria este requinte maior de desonra porque ele havia sido pior que seus antecessores, visto que “se vendera para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o incitava” (I Rs.21:25). Pior do que fazer o mal é fazer o mal para ter alguma recompensa passageira nesta vida. Será que não temos sido, também, vendilhões incitados pelas Jezabéis com quem mantemos comunhão?
– Elias, ao dar esta mensagem ao rei, além de voltar à cena, ainda recebia do próprio Deus a resposta às suas indagações. No exato instante em que parecia que Acabe triunfava, seguindo a “terapia de Jezabel”, o profeta Elias recebia de Deus a resposta acerca de suas indagações promovidas pelo zelo que tinha com o povo de Israel a respeito do futuro de seu povo diante da mantença de Jezabel no trono.
– A casa de Acabe seria destruída e Jezabel teria um fim trágico. A vida espiritual do povo teria uma nova chance, os adoradores de Baal seriam banidos do país. Tudo no seu devido tempo, pois Deus jamais perdera o controle da situação e ainda cumpria a Sua aliança com Israel.
– Acabe, diante daquelas palavras do profeta, caiu em si. Percebeu que Deus era o Senhor, algo que o fogo do céu no monte Carmelo, que a chuva mandada após a oração de Elias, que as intervenções proféticas que o tinham levado a vitória militar sobre a Síria e que a fidelidade de Nabote não tinham sido capazes de fazê-lo perceber.
– As palavras contundentes do profeta Elias vieram-lhe ao coração e o rei, pela vez primeira, percebeu que havia um Deus em Israel que era Todo-Poderoso, que tinha o controle de todas as coisas.
– Diante desta percepção, Acabe, pela vez primeira, não foi comer, beber ou buscar conselhos com Jezabel. Sabia que não adiantava querer buscar nas coisas desta vida uma solução para a sua situação. Era preciso enfrentá-la e buscando Aquele que era o único que poderia resolvê-la: o próprio Deus.
– Acabe, então, ao ouvir as palavras de Elias, rasgou os seus vestidos, atitude que demonstrava humilhação, cobriu a sua carne de saco e passou a jejuar, andando mansamente e jazendo em saco. Passou a buscar a Deus, a reconhecer, de forma explícita e pública, que só o Senhor era Deus. É a primeira vez que vemos Acabe buscando ao Senhor nas Escrituras (I Rs.21:27).
– A Bíblia não nos diz quanto tempo Acabe assim se comportou, mas o fato é que esta humilhação foi sincera e comoveu o Senhor, a ponto de Ele ter dito a Elias que, por causa desta humilhação, o mal profetizado não se daria nos dias de Acabe, mas, sim, nos dias de seu filho, Acabe conseguia, assim, ser poupado de contemplar a destruição de sua dinastia (I Rs.21:29).
– É interessante observarmos que o Senhor Se dirigiu a Elias para anunciar-lhe que todo o mal profetizado não se daria nos dias de Acabe, como que a “dar satisfação” ao profeta do Senhor. Temos aqui uma ilustração daquilo que nos é dito por Amós, ou seja, que Deus revela Seus segredos aos Seus profetas (Am.3:7). Embora o beneficiário da bênção fosse Acabe, é a Elias que o Senhor revela tal circunstância, a nos mostrar que tudo quanto fora profetizado era resposta às indagações do profeta, era uma reação divina ao zelo do Tisbita.
– O texto sagrado não é explícito, mas é muito provável que Elias tenha notificado o rei desta deliberação divina, o que foi o suficiente para que Acabe cessasse a sua “devoção”. É evidente que, diante da resposta divina, necessário não seria a Acabe mais continuar jejuando, pois Deus já lhe havia respondido, assim como Davi parou de jejuar ao saber da morte de seu filho (II Sm.12:21), mas Acabe deveria ter ido mais adiante, passando a servir a Deus, o que, entretanto, não ocorreu.
– Devemos daí aprender uma importante lição: Deus é compassivo, misericordioso, dando-nos aquilo que pedimos, quando pedimos de todo o nosso coração. Entretanto, devemos entender que o alvo de nossas petições não deve ser apenas as coisas desta vida, mas algo muito mais importante e prioritário, que é a vida eterna. Acabe ficou satisfeito com o fato de que seria poupado de ver a destruição, mas se conformou com a destruição e, por isso, não alcançou a salvação. Será que não agimos da mesma maneira? Cuidado!
– Acabe reconhecia, finalmente, a soberania de Deus, inclusive sobre a Sua própria vida, mas não quis se entregar e servir a Deus. Por isso, seu triste fim não foi alterado, não foi modificado. Que não sejamos como Acabe e que estejamos prontos não só a reconhecer que Ele é o Senhor, mas a fazer-Lhe a vontade.
– Com esta profecia favorável a Acabe, Elias mostrava claramente que, embora Acabe fosse seu inimigo, ele não era inimigo pessoal de Acabe. Era um homem de Deus e, como tal, abominava o que Acabe fazia, assim como Deus (I Rs.21:26), mas estava a serviço de Deus e, por isso, jamais deixaria de relatar ao rei o bem que Deus lhe faria. Temos sido imparciais como foi o profeta Elias? Tomara que sim!
– Elias recebeu a resposta de Deus a suas indagações somente quando retomou a missão que Deus lhe confiara. Restava-lhe cumpri-la para terminar seu ministério, ministério este que deixou um grande legado, como veremos na próxima lição.
Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/files/1T2013_L7_caramuru.pdf
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