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LIÇÃO Nº 7 – O EVANGELHO NO MUNDO ACADÊMICO E POLÍTICO

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O Evangelho tem de ser pregado na academia e no mundo político.

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INTRODUÇÃO

– A evangelização é universal e precisa ser feita em todos os segmentos da sociedade.

– O mundo acadêmico e o mundo político precisam ser também alcançados pela mensagem do Evangelho.

I – A EVANGELIZAÇÃO NO MUNDO ACADÊMICO

– Continuando o estudo dos aspectos específicos da evangelização, veremos hoje a questão da evangelização do mundo acadêmico e do mundo político.

– Mundo acadêmico é a elite intelectual de uma sociedade, ou seja, o conjunto dos estudiosos, dos cientistas, dos especialistas, daqueles que pautam o conhecimento no meio social, a chamada “comunidade científica”.

– Existe, infelizmente, uma grande mentira que tem enganado muitos salvos em Cristo Jesus, qual seja, a de que há uma oposição entre a fé e a ciência, entre o Evangelho e a ciência. Nada mais falso.

– A fé leva-nos a ter comunhão com Jesus Cristo, que é a própria verdade (Jo.14:6). Portanto, a fé leva-nos ao conhecimento da verdade, conhecimento que nos liberta do pecado (Jo.8:32).

A ciência tem, também, por objetivo, a busca da verdade, a descoberta das leis que regem a natureza e a humanidade.

– Ora, se tanto a fé quanto a ciência buscam a verdade e a verdade é única, não há como haver qualquer oposição entre a fé e a ciência, de modo que tentar dizer que há um antagonismo entre elas nada mais é que uma mentira e, como tod mentira, que tem origem no diabo, o pai da mentira (Jo.8:44).

– Em sendo assim, seria natural pensar que o mundo acadêmico, ou seja, aqueles que se dedicam ao estudo da ciência e da filosofia, fosse um mundo em que houvesse uma aceitação do Evangelho, em que houvesse uma facilidade na recepção da mensagem da salvação em Cristo Jesus.

– Na verdade, se formos ver a origem das próprias universidades, as principais universidades do mundo, verificaremos que todas elas surgiram debaixo do espectro da fé cristã, tanto que os primeiros estudos de todas elas eram teológicos, visavam compreender a Palavra de Deus, a revelação divina para a humanidade e, a partir desta revelação, entender como o mundo funcionava, quais as leis criadas pelo Senhor para reger o universo e as relações humanas.

– No entanto, ao longo do tempo, o mundo acadêmico foi contaminado pela natureza pecaminosa do ser humano e, a partir notadamente da chamada Modernidade, no Ocidente, a partir do século XV, iniciou-se um divórcio entre a “ciência” e a fé cristã, gerando-se um suposto antagonismo que hoje leva muitos a imaginar que há uma contradição entre servir a Deus, crer em Jesus Cristo e ser cientista, ser um integrante da classe intelectual.

– Na verdade, o que exsurgiu foi o que o apóstolo Paulo denominou de “falsa ciência (I Tm.6:20). A “falsa ciência” é todo conhecimento que procura contrariar as Escrituras Sagradas, a sã doutrina, é todo conhecimento que decorre da soberba humana que acha que pode ser igual a Deus, que não quer reconhecer a revelação divina dada ao homem e que está na Bíblia Sagrada.

– Esta “falsa ciência”, inclusive, procura mostrar que o uso da razão e do intelecto faz com que abandonemos o que é revelado na Bíblia Sagrada.

É a ciência que procura fazer crer que há uma oposição entre a fé cristã e o conhecimento, entre a erudição e a fé em Cristo Jesus, algo que tem prevalecido no Ocidente notadamente a partir do século XV e que somente se intensificou a partir de então.

– Sempre que algum conhecimento estiver voltado para contrariar a Palavra de Deus, ela deve ser vista, pelos servos de Cristo, como uma “falsa ciência”, pois nenhuma ciência, cujo objetivo é buscar a verdade, pode ter como objetivo opor-se ao que diz a Bíblia Sagrada, que é a própria verdade. Como ensina João Crisóstomo:

“…onde a fé não está, a ciência também não está; aquilo que nasce de raciocínios totalmente humanos não é ciência…” (Homilia XVIII. Cit I Tm.6:20,21. n.1800. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 maio 2015) (tradução nossa de texto em francês).

– A “falsa ciência” não busca a verdade, mas, tão somente, busca convencer as pessoas a não crer na Palavra de Deus, tem como objetivo contrariar a revelação divina, ou seja, desviar as pessoas da fé. Por isso, não se pode acolher esta “falsa ciência”, que deve ser combatida e desmascarada.

– Não se defende aqui um anti-intelectualismo, uma ojeriza ao conhecimento secular, uma aversão à erudição, algo que o apóstolo Paulo jamais poderia defender, já que ele próprio era um erudito.

 O que se está a dizer é que toda e qualquer ciência que pretenda descrer nas Escrituras, contrariá-las é uma “falsa ciência” que deve ser combatida, até porque seu objetivo final é desviar da fé.

“…Essa ciência que se opõe à verdade do evangelho é falsamente chamada assim; ela não é uma ciência verdadeira, porque se fosse, aprovaria o evangelho. (…) Esses que são tão aficionados por essa ciência estão correndo grande risco de enganar-se em relação à fé.

Esses que são a favor de colocar a razão acima da fé estão em perigo de desviar-se da fé.…” (HENRY, Matthew. Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.704).

– Lamentavelmente, portanto, vemos que o ambiente acadêmico se deixou influenciar por esta “falsa ciência”, que nada mais é que a crença na mentira satânica de que se pode viver sem Deus, como se Deus não existisse, que se pode entender o universo e as relações humanas sem que se recorra a Deus.

– Diante deste quadro, a partir já do início da educação, temos, em nossos dias, uma pedagogia que procura extirpar a ideia de Deus e do sobrenatural das mentes das pessoas, a ponto de termos hoje, no sistema educacional, uma cidadela contra a fé.

Infelizmente, as escolas, em nossos dias, são estabelecimentos que lutam contra a Palavra de Deus, que procuram doutrinar as crianças, adolescentes e jovens em oposição à verdade, à fé em Jesus Cristo.

– Não é por outro motivo, aliás, porque, notadamente em nosso país, o sistema educacional esteja falido e as escolas não estejam a dar as mínimas condições para que as pessoas estejam preparadas para adquirir conhecimentos e tenham uma vida melhor diante de suas aptidões e com o mínimo de erudição que lhe permita desenvolver-se na sociedade.

– Há muito, principalmente em nosso país, o sistema educacional abandonou o objetivo de conferir conhecimento às pessoas para servir de bastião da formação de uma mentalidade contrária à Palavra de Deus, que busque impregnar a mente das pessoas de preconceitos e verdadeiro ódio a tudo quanto diga respeito a Deus e à Sua Palavra, um empenho desmedido para que se crie uma mentalidade anticristã.

– Ora, diante desta triste realidade, é imperioso que a Igreja ingresse na evangelização das escolas, na evangelização das universidades, enfim, que o Evangelho penetre no sistema educacional, pois não podemos ficar inertes diante desta grande artimanha do maligno de afastar as pessoas da salvação.

– Nesta evangelização, em primeiro lugar, é forçoso, como já dissemos, abandonar uma atitude anti-intelectualista, reconhecendo a importância e a necessidade do estudo, do desenvolvimento da erudição, do avanço do conhecimento.

– Quando criticamos o estudo, quando adotamos uma atitude anti-intelectualista, estamos a defender a mentira satânica de que a fé é contrária à ciência, uma conduta que, infelizmente, foi tomada pelas nossas igrejas locais no início de nossa história. Sabem os irmãos mais antigos das Assembleias de Deus que, durante muitos anos, se defendeu a tese de que o estudo levaria as pessoas a perder a fé em Jesus, a se desviar da fé.

– Foi por esta atitude que se construiu um enorme déficit de cristãos pentecostais no meio acadêmico, déficit este que colaborou enormemente para que tivéssemos um ambiente extremamente hostil ao Evangelho na academia.

– A ciência é resultado da inteligência que o Senhor deu ao homem. Salomão, ele próprio um cientista (I Rs.4:29-34), di-lo claramente: “E apliquei o meu coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar” (Ec.1:13).

Destarte, quando nos dedicamos a ela, quando passamos a perquirir a respeito do universo e queremos, pela nossa razão, explicá-lo, estamos caminhando segundo a vontade do Senhor, cumprindo um propósito que Ele próprio estabeleceu para nós.

– Diante desta atitude de reconhecimento da importância e necessidade do estudo e do desenvolvimento intelectual, devemos, então, levar a mensagem da salvação a este ambiente educacional, sabendo que o mesmo se encontra impregnado da “falsa ciência” e que, portanto, é mister combatermos esta hostilidade artificial mas eficientemente criada pelo inimigo de nossas almas.

– Após termos reconhecido a importância do estudo, é mister que sejamos exemplo de dedicação a este mesmo estudo. Não é possível evangelizarmos o mundo acadêmico se nós mesmos não formos estudiosos e não nos dedicarmos ao aprendizado da ciência e da filosofia.

Não é possível evangelizarmos o ambiente acadêmico se nós mesmos não formos pessoas entendidas, estudadas e dedicadas no aprendizado.

– Nosso comentarista dá o exemplo de Daniel e seus amigos Hananias, Azarias e Misael na corte de Babilônia, e, sem dúvida, é este um exemplo eloquente, como também poderíamos citar aqui também Moisés e Paulo.

 Todos estes servos de Deus tiveram sucesso no ambiente acadêmico porque foram, antes de mais nada, exímios alunos, a ponto de, posteriormente, terem se tornado mestres, levando, com a sua fé, a mensagem divina para a elite intelectual.

– Como podemos entender o sucesso de Moisés na corte de Faraó se ele não tivesse sido instruído em toda a ciência dos egípcios (At.7:21)?

No seu embate com os magos de Faraó, Moisés tinha de ter todo o conhecimento que o Senhor fez com que ele adquirisse durante cerca de quarenta anos, Egito que era a mais adiantada civilização daquele tempo.

 Moisés precisava daquele conhecimento não só para libertar o povo, mas, também, para que pudesse liderar o povo até a terra de Canaã.

– Como podemos entender o sucesso de Daniel e seus amigos na corte de Babilônia, se eles não tivesse se dedicado ao aprendizado durante os primeiros anos do cativeiro, aprendendo tudo aquilo que lhes era ministrado na corte de Nabucodonosor, numa tal dedicação que foram achados dez vezes mais sábios que todos os demais alunos e até mesmo seus professores (Dn.1:19,20)?

– Como podemos entender o sucesso de Paulo em seu profícuo e exemplar ministério, se o apóstolo não tivesse se dedicado ao estudo da filosofia em Tarso, cidade que era um dos baluartes da filosofia estoica; em Jerusalém, aos pés de Gamaliel, um dos mais renomados mestres judaicos de seu tempo (At.22:3) e, na qualidade de cidadão romano, um estudioso e conhecedor da lei romana?

– O preparo intelectual é absolutamente necessário para que se possa evangelizar o mundo acadêmico e, enquanto nos dedicarmos com afinco e excelência, ao estudo da ciência e da filosofia, da área que haveremos de nos profissionalizar, já estaremos a evangelizar, pois destruiremos, com nossa dedicação, todo e qualquer discurso de oposição entre fé e ciência, todo e qualquer preconceito de que os salvos em Cristo Jesus são pessoas ignorantes e alienadas da realidade de nossos dias.

– Este preparo intelectual não deve, porém, se jungir ao estudo da ciência e da filosofia. Devemos observar que, nos casos bíblicos já mencionados, este estudo intelectual era necessário, mas insuficiente. Senão vejamos.

– Quando analisamos o caso de Moisés, vemos, com grande clareza nas Escrituras, que sua primeira infância foi destinada ao aprendizado das coisas de Deus, por intermédio de seus pais.

Quando chegou aos quarenta anos, Moisés percebeu que havia sido escolhido pelo Senhor para libertar o povo de Israel e leva-lo ao cumprimento as promessas dadas por Deus a Abraão.

Assim, seu preparo intelectual complementou uma educação doutrinária recebida de seus pais, mas, ainda lhe faltava uma experiência de vida no deserto para poder desempenhar a sua missão, motivo por que acabou fugindo do Egito e tendo mais quarenta anos de escola na solidão do deserto de Midiã até dar início ao seu ministério.

– Quando analisamos o caso de Daniel e seus amigos, vemos, também, que eles foram devidamente preparados, durante sua infância e início de adolescência, no ensino da Palavra de Deus na corte do rei de Judá, já que eram da família real, membros da elite de Judá, estudo este intensificado e organizado no reinado de Josias, e que, ao serem levados cativos, tomaram a decisão de se manter fiéis ao que haviam aprendido na sua terra natal, a ponto de terem determinado não se contaminar com o manjar do rei (Dn.1:8).

– Quando analisamos o caso de Paulo, vemos que teve ele, por parte de seus pais, uma exímia educação na Palavra de Deus, a ponto de ser mandado para Jerusalém para aprender aos pés de Gamaliel, estudo que foi fundamental para que ele, no caminho de Damasco, se convertesse e aplicasse tudo quanto havia aprendido nas Escrituras hebraicas na pregação do Evangelho. Tanto assim é que o vemos, já em Damasco, mostrando na Palavra de Deus que Jesus era o Cristo (At.9:20).

– Em todos estes casos, pois, notamos que, ao lado do preparo intelectual na ciência e na filosofia, é necessário que se tenha, também, um preparo no aprendizado da Palavra de Deus.

Não se pode apenas ser dedicado no estudo secular, mas é preciso que haja, também, dedicação no ensino doutrinário, no conhecimento da Palavra de Deus.

É por isso, aliás, que o apóstolo Paulo considera que seu conhecimento secular servira de esterco para o desempenho de seu ministério (Fp.3:8), palavra que tem sido equivocadamente interpretada como sendo algo inútil e sem qualquer valor, mas que, ao contrário, deve ser entendido como algo que serviu como “adubo”, como uma inestimável colaboração para o exercício da atividade ministerial do apóstolo.

– Eis, aliás, a razão pela qual há um nível muito alto e intenso de apostasia da fé por parte dos jovens cristãos que ingressam nas universidades em nossos dias.

Ao contrário do que dizem os anti-intelectualistas, que veem neste grande número de cristãos que se desviam da fé quando chegam ao ensino superior, uma “prova” de que o estudo, de que a ciência promove o esfriamento espiritual, o que se verifica é que estes jovens chegaram despreparados para o mundo acadêmico, não tinham o necessário conhecimento da doutrina, não tinham a sua fé arraigada e, por causa disso, ao serem confrontados com a “falsa ciência”, acabaram sendo enganados e deixando de servir ao Senhor, simplesmente porque não O conheciam, não tinham qualquer intimidade com Ele.

– Moisés, Daniel e seus amigos e Paulo tinham uma sólida formação doutrinária, conheciam a Palavra de Deus quando enveredaram pelo mundo acadêmico e, por isso, por serem doutos na Palavra e na ciência e filosofia puderam ser vasos grandemente usados pelo Senhor para a divulgação da mensagem da salvação, para que o Senhor se fizesse conhecido da elite intelectual.

– Se queremos, pois, evangelizar as escolas e universidades, precisamos, antes de mais nada, dar o devido conhecimento doutrinário a nossas crianças, jovens e adolescentes, pois, sem este conhecimento, eles jamais poderão ser sal da terra e luz do mundo neste ambiente intelectual.

– O investimento em nossas crianças, jovens e adolescentes é fundamental, porque, no ambiente acadêmico, a evangelização deve ser feita preponderantemente pelos próprios alunos, com a ajuda de professores cristãos.

 A evangelização neste ambiente é sobretudo pessoal, feita mediante contato direto, num ambiente de profunda argumentação, pois é esta a técnica predominante neste mundo, onde tudo deve ser demonstrado e comprovado.

– Verdade é que se devem ter reuniões, normalmente periódicas, onde os cristãos, alunos e professores, se reúnam para um tempo de oração e de meditação nas Escrituras, inclusive levando pessoas que estão evangelizadas para participar de tais encontros, mas o esforço maior da evangelização deve ser o evangelismo pessoal, o aproveitamento de todas as oportunidades para se falar aos colegas de estudo a razão da esperança que há em nós, a mensagem da salvação na pessoa de Cristo Jesus.

– O testemunho do cristão no mundo acadêmico é um elemento extremamente impactante e muito contribui para a evangelização.

Diante deste anticristianismo cada vez mais intenso nas universidades e escolas, tais estabelecimentos têm se tornado verdadeiros antros de perdição, como se tem verificado nas notícias com cada vez maior frequência.

A violência, o uso indiscriminado de drogas, a generalização da perversão sexual são ocorrências que têm caracterizado o ambiente escolar, trazendo insegurança e dilaceração da autoestima entre alunos e professores, a exigir dos cristãos uma postura de abordagem individual e de busca de restauração destas vidas que, mesmo perto do ápice da realização intelectual, encontram-se como verdadeiros farrapos humanos.

O testemunho será a arma para que se tenha a devida credibilidade para esta abordagem e para a oportunidade de se levar a mensagem do Evangelho a tais pessoas tão necessitadas de conhecer o amor de Deus.

– Além deste investimento nos próprios alunos e professores, já insertos no ambiente acadêmico, é necessário também que se preparem pessoas que, mesmo não pertencendo ao corpo docente, discente ou funcional das instituições, possam ingressar nelas com o propósito de evangelizar.

– Neste passo, há hoje diversos obstáculos que precisam ser superados, até porque a própria circulação de pessoas estranhas ao ambiente acadêmico, por questões de segurança, tem sido cada vez mais restrito, a impedir, portanto, a evangelização “in loco”, o que dificulta sobremaneira a ação evangelizadora.

– No entanto, há atividades que envolvem a sociedade e o ambiente acadêmico, atividades em que se permite o ingresso de pessoas estranhas ao meio, de forma que deve a Igreja aproveitar estas oportunidades para ali introduzir evangelizadores que, desempenhando as atividades previstas, possam, também, falar do amor de Deus para este grupo social seleto.

– Todos os programas que se criarem de participação da sociedade no ambiente escolar ou universitário devem ser aproveitados pela Igreja para ali levar a mensagem do Evangelho, tomando-se o cuidado de se ter o que se denomina de “proselitismo religioso”.

– O “proselitismo” é entendido como uma atitude de doutrinação de uma determinada confissão religiosa, a utilização do espaço escolar ou universitário para a conversão de pessoas, o que tem sido impedido com grande determinação por toda a estrutura estatal e do próprio sistema educacional.

– Por isso, a evangelização deve ser feita sem este caráter de proselitismo, mas de divulgação da Palavra de Deus por meio até certo ponto indireto, mediante atividades que sejam permitidas mas que podem, e devem, ter um conteúdo evangelístico.

Devemos fazer como Paulo fez no Areópago, que, partindo da filosofia grega, pôde levar a mensagem de Cristo para os filósofos epicureus e estoicos (At.17:22-34).

– Um exemplo desta atitude sábia vemos neste texto de Sérgio Walter Alexandrino, por ocasião do lançamento de um programa do Governo do Estado de São Paulo denominado “Programa Escola da Família”, que abria o espaço para a sociedade nas escolas nos finais de semana:

“Ao falar de missões, a ideia inicial é que o campo florido e pronto para a colheita é uma região distante da nossa, com este olhar longínquo deixamos de olhar para nosso redor, nosso bairro. Hipoteticamente, todo o bairro possui uma escola.

Tratando-se do Estado de São Paulo, existe uma oportunidade de inserirmos a nossa igreja na escola do nosso bairro.

O governo estadual lançou o Programa Escola da Família que abre as portas das escolas nos fins de semana para atividades extracurriculares diversas, pedagógicas ou não.

A maioria das escolas possui uma programação reduzida, poucas atividades de impacto são oferecidas à comunidade escolar.

(…) A igreja local pode montar uma equipe para desenvolver um projeto de evangelismo; no âmbito escolar não é permitido tratar de assuntos religiosos e políticos.

Por isso ao apresentar o projeto não faça citação religiosa (igreja, mensagem, Jesus, etc.), apenas apresente as atividades que serão oferecidas, o que não impede de ensaiar uma peça com princípios e ensinamentos cristãos ou compartilhar sua fé durante as atividades, informar sua confissão de fé e pedir licença para fazer uma oração ao iniciar a atividade.

 De posse dos projetos, o encarregado pela equipe deverá procurar a direção da escola que encaminhará à coordenação do programa.

 A aceitação será mais fácil quando apresentar atividades atrativas e relevantes para a comunidade escolar. Numa igreja, inúmeros talentos podem ser utilizados.

O profissional ser um multiplicador de sua profissão, o pedreiro dar noções básicas da construção civil, o pintor ensinar a preparar a tinta e a pintar; assim sucessivamente. O músico pode oferecer aulas sobre seu instrumento ou de canto (nossas igrejas possuem grandes talentos).

Manifestações artísticas como: dança, teatro, desenho, pintura, artes plásticas, etc. são bem aceitas, arte culinária também é um bom argumento, principalmente aquelas que apresentam cunho profissionalizante como: fazer salgados, bolos, pães, etc.

 As atividades esportivas objetivas com finalidade de ensino-aprendizagem como escolas de futebol, vôlei, basquete, etc. Tapeçaria, tecelagem, bordado, tricô, crochê, biscuit, confecção de bonecos de pano, etc.

Advogados podem ministrar cursos de princípios legais, direito básico do cidadão, elaborar palestras ou oferecer consultas gratuitas; médicos podem fazer palestras sobre saúde, higiene pessoal ou oferecer consultas gratuitas (no caso de consultas, é bom que se limite a quantidade oferecida por vez).

Professores podem dar aulas de reforço, alfabetização de jovens e adultos ou elaborarem palestras de assuntos específicos.

(…) A meta é o anúncio do evangelho, isto deve estar explícito a todos os participantes do projeto, principalmente na leitura que será feita das nossas atitudes e testemunho. Sempre expor sua fé e solicitar permissão para se deve iniciar as atividades com uma oração simples e completa.

 A cada gesto ou atitude o crente estará sendo observado e é o testemunho que vai quebrar as barreiras para que as pessoas ofereçam acesso ao evangelho.

 Todos esperam o radicalismo cristão, por isso, muito cuidado para não impor sua fé, suas opiniões, às vezes é preferível ouvir que falar. Ao saber da nossa confissão de fé, as pessoas armarão barreiras, esperando nosso assédio; desta forma, o melhor é aguardar a melhor oportunidade.

Aos poucos, a aproximação irá acontecer, a partir do interesse da pessoa, comumente em particular. O grupo deve se reunir na igreja local antes de se encaminhar para a escola, além da oração antes da saída, se faz necessário uma intercessão contínua tanto pela equipe como pela igreja.

A igreja deve estar preparada para receber essas almas com todo amor de Cristo. O cuidado com a alma é muito importante, a afirmação de que a primeira impressão é a que fica também é verdadeira na igreja de Cristo.… (Instruções para abrir um ponto de evangelização na escola. 01 set. 2010. Disponível em: http://evangelizabrasil.ning.com/profiles/blogs/instrucoes-para-abrir-um-ponto Acesso em 17 maio 2016).

– Vemos, assim, como se pode aproveitar um programa, um projeto de envolvimento da sociedade com a escola para se abrir um ponto para a evangelização, num lugar extremamente sensível da sociedade, incumbida de efetuar a complementação da formação de nossas futuras gerações, para que ali se tenha a semente da Palavra de Deus e não, como se tem dado, a semente do maligno e da aversão à Palavra de Deus.

– Podem-se, ademais, tomar iniciativas independentemente da existência de projetos e programas governamentais ou das entidades escolares.

Conhecemos um profícuo trabalho desempenhado por um irmão que, durante alguns anos, fez uma verdadeira “capelania escolar” num estabelecimento de ensino próximo à sua casa, que era conhecido por ser um ambiente de perversão e de perdição dos jovens e adolescentes de seu bairro.

Após muita oração e direção do Espírito Santo, ele foi até a direção daquela escola se oferecendo para colaborar com ministração de palestras de “Deontologia” (o estudo dos valores morais) e foi bem recebido pela diretora da escola (que, aliás, frequentava cultos afro-brasileiros…), que dizia que era preciso mesmo alguém “falar de Deus” naquela escola e, aproveitando as aulas vagas, este dedicado irmão, durante alguns anos, evangelizou alunos e professores, contribuindo para a melhoria daquele lugar.

– Em relação a isto, aliás, é forçoso observar a enorme negligência que a Igreja brasileira tem tido com relação à questão do ensino religioso nas escolas.

Este ensino é explicitamente previsto no artigo 210, § 1º da Constituição da República, que prevê que será facultativo o ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental, dentro do horário escolar.

– Este dispositivo, embora constante de nossa Carta Magna, é praticamente letra morta em nosso país, com exceção, talvez, do Estado do Rio de Janeiro, onde foi implementado pelo então governador Anthony Garotinho.

– No Estado de São Paulo, houve uma primeira tentativa de sua implementação, mas numa discutibilíssima parceria com a Igreja Católica Apostólica Romana, que foi logo abortada, tendo-se, posteriormente, considerado que o dispositivo constitucional se cumpriria com a introdução, no currículo, de uma disciplina de “história das religiões”, o que, efetivamente, não é o propósito do dispositivo constitucional.

– Tramita atualmente no Supremo Tribunal Federal uma ação direta de inconstitucionalidade nº 4439 em que se procura impedir que haja o ensino religioso nas escolas públicas, pois isto, segundo a Procuradoria Geral da República, que é o autor da ação, feriria o “caráter laico” do Estado, tendo havido, no ano passado, uma audiência pública naquela Suprema Corte onde o ministro relator da ação, o ministro Luís Roberto Barroso (que tem inegável tendência a acolher o pedido), ouviu diversos segmentos religiosos para poder decidir como julgar esta causa.

– O fato é que estamos na iminência de perder esta porta que a Constituição da República abriu para que aproveitássemos o ambiente escolar para a evangelização única e exclusivamente porque a Igreja, passados quase 30 anos da promulgação da Lei Maior, não se moveu para tornar realidade o que se previu na Carta Magna.

– A Igreja deve orar e agir no sentido de que não haja a vitória desta ação e aproveitar o espaço aberto nas escolas para mandar professores que possam ensinar a Palavra de Deus, no ambiente escolar, aos alunos que já pertencem a nossas igrejas locais.

Observemos que a matrícula é facultativa e que os pais de nossas igrejas locais devem, no momento da matrícula, pedir à direção da escola que haja estas aulas de ensino religioso e a Igreja deve comparecer aos estabelecimentos de ensino e apresentar pessoas devidamente habilitadas para ministrar estas aulas que são solicitadas pelos pais.

Estará, assim, a Igreja contribuindo para que haja a devida preparação de nossas crianças e adolescentes (pois isto se dá no ensino fundamental) para o ambiente escolar, como um antídoto para toda a mentalidade anticristã predominante nestes lugares.

– É certo que outras pessoas se interessarão pelas aulas facultativas que serão ministradas e, assim, será possível ter uma plateia que trasborde os limites de nossas crianças e adolescentes na escola e, assim, se tenha a propagação do Evangelho no ambiente escolar.

– Faz-se mister, também, e isto mais nas escolas de ensino infantil, fundamental e médio, que os pais sejam efetivos participantes do dia-a-dia de seus filhos nas escolas, não só fiscalizando o ensino e o desempenho de professores e direção, mas também colaborando nas múltiplas atividades, a fim de que, por seu testemunho, ganhem credibilidade e confiança de todos os envolvidos no processo educacional, fazendo de seu serviço um modo de evangelização.

– Há, conforme já dissemos, um demoníaco estratagema para forjar as mentes de nossas crianças, adolescentes e jovens numa estrutura anticristã.

Movimentos seguidos na política educacional têm procurado perverter de todas as formas o alunado e isto tem de ser coibido pelos servos de Deus, mas, para isto, é indispensável que participemos das atividades escolares e que façamos valer nossos direitos, a fim de impedir abusos que têm sido cometidos, como, por exemplo, recentemente, a implementação da “ideologia de gênero” mesmo depois de a mesma ter sido extirpada no Plano Nacional de Educação.

– A participação, portanto, é decisiva para que conheçamos o que estão a ensinar os nossos filhos, como também a informação é fundamental e, para tanto, devemos nos informar a respeito, aproveitando verdadeiros valores que o Senhor tem levantado em nosso país para orientar os crentes a este respeito, como é o caso da dra. Damares Alves, da dra. Marisa Lobo e do dr. Guilherme Schelber, cujas atuações têm sido importantíssimas para dar o conhecimento necessário para que saibamos não só enfrentar o maligno em nossas escolas, mas, também, levar lá a mensagem da salvação.

III – A EVANGELIZAÇÃO DO MUNDO POLÍTICO

– Um outro campo em que se deve esmerar na evangelização é o mundo político, ou seja, a elite que está nas rédeas da sociedade, pois a classe política é aquela que está à frente da sociedade, que traça os destinos do corpo social e que encaminha a direção e orientação de todos nós.

– De pronto, devemos observar que a política tem por finalidade a obtenção do bem comum, que, na magistral definição do ex-chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, João XXIII (1881-1963), “consiste no conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana e sua sociedade”.

– A política, portanto, busca trazer as condições para que a sociedade, como um todo, promova o desenvolvimento integral da personalidade humana e da própria sociedade.

– Quando Deus criou o homem, fê-lo já com a capacidade de dominar sobre a criação terrena (Gn.1:28), e, na qualidade de imagem e semelhança de Deus, tinha, em sua natureza, o poder, já que Deus é o Todo-Poderoso, a fonte de todo o poder (Sl.62:11).

– Este poder que era, primeiramente, exercido em relação à criação terrena, de forma justa e equilibrada, dentro da delegação dada pelo Senhor, com a vinda do pecado, passou a ser exercido como uma opressão, como uma fonte de injustiça, como se verifica, ainda no âmbito do primeiro casal, no relacionamento entre homem e mulher (Gn.3:16).

– Até o dilúvio, mostra-se o exercício deste poder na sociedade de uma forma incipiente, porquanto, apesar de se ter uma organização social, parece que havia, até diante do quadro de violência, uma desorganização deste exercício do poder na sociedade (Gn.6:1-6,11,12).

Após o dilúvio, porém, Deus, expressamente, delega aos homens a administração da justiça entre eles (até como uma salvaguarda para que não viesse a destruir novamente o mundo), estabelecendo-se, pois, o “governo humano” (Gn.9:1-7), em que se criou uma autoridade que estivesse à frente das pessoas em sociedade, autoridade esta que deveria castigar os maus, fazendo valer os princípios estabelecidos pelo próprio Deus para a convivência humana, como, aliás, explicaria o apóstolo Paulo em Rm.13:1-7.

– Cedo, porém, com a pecaminosidade do ser humano, este poder político, legitimamente implantado por Deus, acabou por ser exercido ilegitimamente, em contrariedade ao objetivo divino, como se verifica no caso de Ninrode, que se tornou o soberano daquela comunidade única pós-diluviana (Gn.10:8-11), que passou a ele próprio se considerar um “deus”, instituindo a idolatria e a tomar decisão frontalmente contrárias ao propósito do Senhor, a ponto de não querer povoar a Terra, mas tão somente a região da Mesopotâmia (terra de Sinar).

– O resultado disto foi a destruição desta comunidade única pós-diluviana, com a confusão das línguas, e o espalhamento de todos pela Terra, com a formação das diversas nações, onde, em casa uma delas, se erigiu um poder político que estabeleceu um sistema de poder em contraposição aos propósitos divinos, poder este que, como foi revelado a Daniel, durante o seu ministério profético, somente terminará quando o próprio Senhor Jesus assumir o seu controle, por ocasião do Seu reino milenial.

– Com a rejeição das nações, o Senhor tratou de formar um povo Seu, Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5,6), o povo de Israel, para governar sobre Ele e, através d’Ele, trazer a salvação para o mundo. Israel, porém, já formado e, após a libertação do Egito e a peregrinação no deserto, foi devidamente instalado na terra de Canaã, que Deus lhe deu, mas, também, acabou por perverter o poder político.

– Os israelitas, depois de terem, por alguns séculos, desobedecido a Deus, que era o seu rei, fazendo o que bem entendessem (Jz.21:25), acabaram por rejeitar expressamente o governo divino, pedindo para si um rei, para serem conforme todas as demais nações (I Sm.8:4-9).

 Este poder político construído à revelia do Senhor acabou por levar à própria perda da Terra por parte de Israel que, após ter retornado do cativeiro da Babilônia, acabou sendo dominado pelos gentios até a vinda do Messias (Ne.9:24-38), com exceção de um pequeno período em que obtiveram independência entre o término do domínio sírio e o início do domínio romano, sendo certo que, até 1948, os judeus estiveram sempre sob o domínio gentílico e só agora voltaram a se constituir num Estado independente e, mesmo assim, que não governa sobre a maior parte dos judeus, que ainda vivem fora de Israel.

– A Igreja, por sua vez, sempre foi ensinada pela Palavra de Deus a se sujeitar às autoridades, pois elas são ministros de Deus para o castigo dos maus, ainda que, precisamente por ser o poder político exercido em contraposição aos propósitos divinos, não sejam poucos os casos em que a Igreja é tenazmente perseguida pelos detentores do poder político, não sendo, pois, qualquer motivo de surpresa o fato de serem os cristãos as vítimas de maior perseguição em todo o mundo, tanto que, a cada 5 minutos, um cristão é morto no mundo por causa de sua fé em Jesus Cristo.

– Apesar disto, as Escrituras Sagradas são claríssimas ao afirmar que devemos reconhecer no poder político algo criado por Deus e que foi instituído por Ele para que haja a administração da justiça, o castigo dos maus e, como servos que somos do Senhor, devemos sempre ser obedientes a tudo quanto emanar da autoridade, evidente naquilo que ela foi instituída, ou seja, para implementar, entre os homens, os princípios de convivência estatuídos pelo próprio Deus.

– Nosso comentarista dá, mais uma vez, o exemplo de Daniel e seus amigos para mostrar como podemos, no mundo político, levar a mensagem da salvação.

– A primeira contribuição que damos para a evangelização do mundo político é sendo cidadãos exemplares, cumpridores das leis e das regras, fazendo isto de coração, como diz o apóstolo Paulo, e não por medo do castigo, sabendo que, assim agindo, estaremos não só glorificando o nome do Senhor, mas também tendo o louvor da própria autoridade.

– Hoje vivemos em um regime democrático, ou seja, num regime em que o poder não está em um monarca, mas, sim, no povo que, principalmente através do voto, escolhe aqueles que nos governam e implementam as políticas públicas com vistas a promoção do bem comum.

– O regime democrático, no entanto, e poucos atentam para isso, é o regime do império da lei, ou seja, conquanto o povo seja a fonte do poder, sua vontade é externada através das leis e, portanto, para sermos cidadãos exemplares devemos ser cumpridores das leis.

– Hoje se fala muito em “direitos”, mas pouco se diz a respeito dos “deveres” e nenhuma evangelização pode ser levada a efeito, notadamente no mundo político, se não formos fiéis cumpridores dos nossos deveres.

– Jesus, nosso exemplo maior, era cumpridor de todos os deveres civis, seja diante da lei judaica, seja diante do governo romano que dominava sobre os judeus no tempo da vida terrena de Nosso Senhor e Salvador.

Indagado sobre o pagamento do tributo a César, o Senhor foi enfático em dizer que se devia dar a César o que era de César e a Deus o que era de Deus (Mt.22:21; Mc.12:17; Lc.20:25), tendo, ademais, reconhecido que o poder dado a César era proveniente de Deus (Jo.19:11). Como judeu, também, não se omitiu de pagar o tributo devido ao templo, inclusive impedindo Pedro de deixar de fazê-lo (Mt.17:24-27).

OBS: “…O tributo exigido não era nenhum pagamento civil ao governo romano, que era rigidamente cobrado pelos publicanos, mas os tributos da sinagoga, meio siclo, cerca de quinze centavos de dólar, que eram cobrados de todas as pessoas pelo serviço do Templo, subsidiando as despesas da adoração ali realizada; isso era chamado de ‘resgate da alma’ (Ex.30:12ss.).

Não era tão rigidamente cobrado agora, como já tinha sido algumas vezes, especialmente na Galileia.… (HENRY, Matthew. Comentário Novo Testamento Mateus a João. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.224).

– De igual modo, os apóstolos foram sempre ciosos em ensinar os crentes a cumprir os deveres civis, independentemente de serem, ou não, alvo de perseguição, como podemos ver tanto no trecho já mencionado de Paulo aos Romanos, como também na carta do apóstolo Pedro (I Pe.2:11-17).

– Sendo assim, para podermos evangelizar o mundo político, os que estão à frente da administração de nossa sociedade, precisamos, em primeiro lugar, sermos cidadãos exemplares, que cumprem todos os deveres civis.

– Esta postura de cumprimento dos deveres é tanto mais importante para aqueles que exercerem cargos e funções de mando na sociedade. Daniel é um exemplo a ser seguido.

Vocacionado por Deus para exercer funções de estadista (aliás, na história da humanidade, é o único estadista que serviu a três impérios seguidos – babilônio, medo e persa), fê-lo sempre com excelência e retidão, a ponto de seus inimigos não encontrarem coisa alguma que pudesse maculá-lo diante do rei Dario, o medo (Dn.6:3,4).

– Assim como, para frequentar o ambiente acadêmico, Daniel assentou no seu coração não se misturar com o pecado, viver uma vida santa diante do Senhor, também, no exercício do poder político, manteve uma postura de santidade e de fidelidade diante de Deus, de modo que não pôde ser manchado por qualquer ato irregular, quando vasculharam toda a sua atuação administrativa.

– O poder político foi estabelecido por Deus e sua finalidade é a implementação dos princípios estatuídos pelo Senhor para a convivência entre os homens, objetivando o bem comum, ou seja, a criação de condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa humana e da sua sociedade.

– Em assim sendo, para que o poder político seja devidamente exercido, impõe-se que se tenha o conhecimento destes princípios divinos, sem o que o bem comum não será alcançado e, por isso, deve a Igreja sempre anunciar ao mundo político qual é a vontade de Deus, o que o Senhor estatuiu na Sua Palavra quando se tiver de tomar decisões e de implementar políticas públicas no meio social.

– Para tanto, portanto, a Igreja deve estar em permanente anúncio do Evangelho aos governantes e demais integrantes da classe política, mostrando-lhes qual a vontade de Deus com respeito aos diversos assuntos com que eles têm de tratar.

– A atuação da Igreja é evangelizadora, é de anunciadora da vontade de Deus e, por isso, não deve ela imiscuir-se nas lutas político-partidárias, nos embates pela tomada do poder, pois, se o fizer, estará a negar a própria evangelização que, como temos visto neste trimestre, é universal, é totalizante, não pode ser reduzida a um “lado”, a um “partido”.

– A Igreja deve, ademais, sabendo que as autoridades são ministros de Deus, sempre se pôr à disposição dos governantes para cooperar e colaborar com a implementação das políticas públicas que estiverem de acordo com a Palavra de Deus.

– A Igreja deve, também, abordar os integrantes da classe política, dando-lhes a devida assistência espiritual, a fim de que possam elas próprias reconhecer sua condição de pecadoras e de dependentes da graça de Deus, como também entender que estão a serviço do Senhor no exercício de suas funções.

– É importantíssimo que haja o acompanhamento dos detentores de cargos e funções e que pertencem à igreja local, no intuito de lhes dar um suporte espiritual, para que possam exercer suas atividades de modo a glorificar o nome do Senhor e que possam evangelizar os seus pares, fazendo com que a gestão da coisa pública se faça de modo agradável a Deus.

– Em pesquisa realizada no meio da década de 1990 por um professor de ética e uma escola teológica no Rio de Janeiro, obteve-se a lamentável informação de que todos os detentores de mandatos eletivos naquele estado e que pertenciam à Igreja tinham como principal carência a absoluta falta de amparo espiritual por parte da membresia, que somente ia a seus gabinetes para pedir favores e coisas quetais.

O resultado foi o envolvimento de todos eles em situações embaraçosas e até pecaminosas, até porque, até para atender a todos estes pedidos, sem o que não conseguiriam se reeleger, acabaram por se conformar aos parâmetros antiéticos que, como temos visto ultimamente em nosso país, transformou a atividade político-partidária num lamaçal.

– Não há dúvida de que, hodiernamente, o exercício da atividade política é visto por todos como uma ação essencialmente corrupta e ilícita. Isto se dá, precisamente, porque a Igreja tem se omitido na evangelização desta classe, omissão esta que faz com que o maligno domine completamente esta área tão importante para o desenvolvimento da sociedade.

– Existem, sim, aqueles que o Senhor vocaciona para esta atividade, mas, quando eles ali chegam, não tendo amparo espiritual, não tendo o devido acompanhamento por parte da Igreja, acabam por se enlamear e a ser, ao contrário de homens como José, Davi e Daniel, instrumentos de aprimoramento da sociedade, em meios de escândalo e de tropeço próprio e de muitos.

– É preciso levarmos a mensagem do Evangelho para a classe política, para o próprio desempenho da política, mas, para tanto, é mister que, em primeiro lugar, tenhamos conhecimento do que é a política, de quais são os nossos direitos e deveres, de quais são as verdadeiras atribuições de cada cargo ou função.

– Tendo tal conhecimento, poderemos ser cidadãos exemplares, dando o nosso testemunho que confira credibilidade e confiança diante das autoridades.

Em seguida, devemos estar dispostos a colaborar com as autoridades, cooperando em tudo aquilo que for de acordo com a Palavra de Deus, por patriotismo e amor ao próximo.

– Em meio a esta colaboração e cooperação, que nos fará aproximar delas, aproveitar para abordá-las e mostrar qual a vontade de Deus para as suas vidas, não só em suas atividades mas em relação ao seu próprio destino na eternidade, aproveitando, também, e isto é uma função a ser tomada não em caráter individual mas coletivo, se posicionando sobre todo o que se discutir em termos de implementação de políticas e de tomada de decisões à luz da Palavra de Deus.

– Neste momento, também, é imperioso que nos dediquemos à intercessão pelas autoridades, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade (I Tm.2:1-3), pois havendo paz na cidade, teremos também paz (Jr.29:7), para que o Senhor possa dirigir as autoridades a fazerem o que é correto, o que é plenamente possível já que elas são Seus ministros (Rm.13:4).

OBS: Dentro deste quadro, ficamos muito felizes ao vermos as lideranças evangélicas do país participando, no mesmo dia de sua posse, de um momento de meditação na Palavra e de oração com o presidente Michel Temer, no dia 12 de maio de 2016.

Um gesto plenamente bíblico e que demonstra que, depois de tantas idas e vindas, que nos levaram a um caos político-institucional, está a Igreja, quem sabe, a começar a acordar para esta realidade política a ser levada em conta e que tem sido equivocadamente tratada há mais de um século.

– Diante desta aproximação, do testemunho dado pelo cumprimento dos deveres, pela colaboração e cooperação sempre presentes, do anúncio da verdade do Evangelho no tocante aos problemas da sociedade, certamente estaremos levando o Evangelho à classe política e, deste modo, contribuindo para a realização do bem comum, ao exercício da política segundo o próprio Evangelho.

– Ao mesmo tempo, devemos apoiar, com orações e devida fiscalização, a atuação dos nossos irmãos em Cristo que ocuparem cargos e funções, nada lhes pedindo em termos de favores pessoais ou da própria igreja local, mas os levando a darem um “testemunho de Daniel” diante das autoridades, na sua atuação administrativa e política, de modo a que o nome do Senhor seja glorificado, como ocorreu com o próprio Daniel seja diante de Nabucodonosor, de Belsazar, de Dario, o medo ou de Ciro.

Assim fazendo, estaremos criando inclusive condições para que a sociedade possa ser evangelizada em todos os segmentos.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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