LIÇÃO Nº 7 – O MINISTÉRIO DE ELISEU
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, hoje analisaremos a maior parte dos milagres realizados pelo profeta Eliseu.
– Os sinais no ministério de Eliseu evidenciam que o milagre é elemento indispensável para um ministério de restauração espiritual do povo de Deus.
I – O INÍCIO DO MINISTÉRIO DE ELISEU FOI MARCADO POR MILAGRES
– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, hoje estudaremos a maior parte dos milagres realizados pelo profeta Eliseu. As Escrituras registram 14 milagres do profeta Eliseu, a saber:
Milagres de Eliseu
- Abriu o rio Jordão (II Rs.2:14)
- Sarou as águas de Jericó (II Rs.2:22-23)
- 42 adolescentes despedaçados por duas ursas (II Rs. 23:24)
- Providenciou água a três reis e seus exércitos (II Reis 3:15, 16, 20)
- Aumentou o azeite da viúva de um dos filhos dos profetas (II Rs. 4:6,7)
- Ressuscitou o filho da sunamita (II Rs. 4:19,35)
- Tirou a morte da panela (II Rs.4:41)
- A multiplicação dos pães (II Rs.4:42-44)
- Curou Naamã da lepra (II Rs. 5:14
- Colocou lepra de Naamã em Geazi, seu auxiliar (II Rs.5:27)
- Fez flutuar um machado (II Rs.6: 6,7)
- Cegou o siros (II Rs. 6:18)
- Devolveu-lhes a visão (II Rs.6:20)
- Depois de morto ressuscitou um defunto (II Rs.13:21).
– Já falamos, na lição anterior, a respeito do primeiro milagre de seu ministério, que foi a abertura do rio Jordão. Nesta lição, estudaremos onze milagres do profeta, uma vez que o seu nono e décimo milagres serão estudados na lição 8.
– A intensidade dos milagres na vida do profeta Eliseu é uma demonstração inequívoca de que os milagres precisam acompanhar o ministério da restauração espiritual do povo de Deus.
Se é verdade que esta quantidade de milagres era uma comprovação da resposta divina ao pedido de Eliseu para que tivesse “porção dobrada” do espírito de Elias, também é uma confirmação de que, em meio à apostasia, torna-se indispensável que a Palavra seja confirmada com sinais e maravilhas.
– Em nossos dias, em que temos uma apostasia generalizada entre os que cristãos se dizem ser, é absolutamente necessário que peçamos a Deus o mesmo que foi pedido por Eliseu, ou seja, “porção dobrada”, para que venhamos a confirmar a Palavra com sinais e prodígios, arrebatando, assim, muitos do fogo do inferno (Jd.23).
Para tanto, é imprescindível que vivamos uma vida de santificação e de busca do poder de Deus, algo que, lamentavelmente, tem faltado em nossos dias.
– Assim que o profeta Eliseu é confirmado como sucessor de Elias, ele já realiza um milagre, abrindo o rio Jordão e retornando em seco para a escola de profetas que havia em Jericó, o que foi testemunhado por cinquenta dos filhos dos profetas, que, assim, deram autenticidade à sucessão determinada pelo Senhor no papel que até então era desempenhado por Elias em Israel (II Rs.2:14,15).
– Mas, para que a realidade da sucessão não ficasse apenas no testemunho daqueles cinquenta filhos de profetas, o Senhor propiciou uma situação para que todos os filhos de profeta de Jericó pudessem verificar que sobre Eliseu repousava o Espírito de Deus, que ele era o continuador do ministério de Elias.
– Ainda em Jericó, onde acompanhava com o mesmo zelo de seu antecessor os filhos dos profetas, Eliseu veio a saber que a habitação daquele lugar era boa, mas que as águas eram más e a terra, estéril, o que tornava a região inóspita, ou seja, sem condições para poder abrigar ali a escola de profetas.
– Já dissemos, em lição anterior, que o fato de Elias ter aberto uma escola de profetas em Jericó era de uma visão extraordinária. Edificada nos dias de Acabe, a “cidade maldita” precisava ter a presença de servos do Senhor ali, para que não se tornasse um centro contrário à vontade do Senhor.
Elias tinha, deste modo, procurado impedir que a ausência de servos do Senhor fosse um fator a mais para a proliferação da idolatria em Israel.
– Esta mesma visão precisamos ter em nossos dias. Lamentavelmente, são poucos os que, na atualidade, em meio à criação de vilas, bairros e cidades têm se preocupado em, logo no limiar de tais habitações, providenciar que ali haja uma porta para a pregação do Evangelho.
Num mundo em que a Igreja dia a dia está mais encurralada pelo aumento da iniquidade, é inconcebível que se ausente de certos locais, que não queira marcar presença em certos ambientes. Tenhamos a visão missionária de Elias!
– No entanto, o local escolhido para sediar esta escola que, naturalmente, não poderia ser dos melhores, vez que Jericó foi edificada sob os auspícios de Acabe e de Jezabel, que não iriam mesmo beneficiar o culto ao Senhor.
Diante da questão levantada pelos filhos dos profetas, Eliseu pediu que lhe trouxessem uma salva nova e que, nela, pusessem sal. Recebida a salva com sal, o profeta, então, saiu ao manancial das águas e deitou sal nele, dizendo uma palavra profética a respeito das águas, que foram saradas e não deixando mais a terra estéril, o que se verificou a partir de então.
– Em Jericó, o lugar da maldição, o profeta, então, sarou as águas e a terra se tornou fértil, mediante o uso de sal numa salva nova.
Eliseu, assim, mostrava a continuidade do ministério de Elias, o ministério de restauração espiritual, trazendo vida e fertilidade para os filhos dos profetas que haviam aceitado morar em Jericó.
Se o governo de Acabe havia reedificado a cidade, era o homem de Deus quem trazia vida e abundância para aquela terra.
– Neste milagre, também, vemos uma figura do ministério espiritual que devemos desempenhar na dispensação da graça, já que a realidade do tempo da lei é sombra da imagem exata das coisas (Hb.10:1).
O profeta pediu, por primeiro, uma salva nova. Isto nos remete ao ensino do Senhor Jesus, segundo o qual não se pode pôr vinho novo em odres velhos (Mt.9:17; Mc.2:22; Lc.5:37).
Para que haja verdadeira restauração espiritual, é indispensável que tomemos “coisas novas”, ou seja, não é possível que queiramos ter uma verdadeira restauração espiritual aproveitando de coisas advindas do pecado, da maneira vã de viver.
A restauração espiritual exige um rompimento com as coisas velhas, temos de ser “novas criaturas”, temos de deixar para trás as coisas que fazíamos no pecado e partir para uma “nova realidade”, uma realidade em Cristo Jesus.
– Lamentavelmente, muitos querem fazer uma restauração espiritual aproveitando aquilo que praticavam ou faziam na vida velha, o que é totalmente impossível. A vida com Cristo exige que morramos para o mundo, sem o que não teremos uma vida verdadeira (Gl.6:14).
Temos de deixar as coisas que para trás ficam (Fp.3:13). Um dos elementos que levou à paganização do Cristianismo foi, precisamente, o de que querer “aproveitar” práticas pagãs, cristianizando-as, como se isto fosse ser vantajoso para a aceitação da fé pelos incrédulos, mas cujo resultado foi a criação de um cristianismo apóstata, como vemos em nossos dias. Aprendamos com Eliseu: tenhamos uma salva nova!
– Mas, além da salva nova, o profeta Eliseu mandou que nela fosse colocado sal. O sal é símbolo da presença de Deus que modifica o homem e a sociedade.
Os sacrifícios que eram levados aos sacerdotes, na antiga aliança, precisavam sempre ser apresentados com sal (Lv.2:13; Nm.18:19). O Senhor Jesus disse que os salvos são “sal da terra” (Mt.5:13).
– O sal tem algumas propriedades que explicam este simbolismo das Escrituras. Ele conserva os alimentos, dá sabor, quebra a resistência do gelo, ajuda a cicatrização de feridas.
A presença de Deus tem este condão de nos conservar em santidade, de fazer com que sejamos agentes transformadores do ambiente à nossa volta, de evitar que entremos em frieza espiritual e de nos dar saúde espiritual, reprimindo os males e as condutas que poderiam nos distanciar da vontade divina.
– Para que as águas fossem curadas e a terra se torna fértil, ou seja, produzisse frutos, o profeta Eliseu se utilizou do sal.
Somente se estivermos em verdadeira comunhão com o Senhor é que poderemos ser instrumentos de Deus para sarar as vidas das pessoas que nos cercam e fazer com que frutifiquem espiritualmente, atingindo, assim, o propósito primeiro de Deus para com o homem (Gn.1:28).
– Sem salva nova e sem sal não poderemos jamais tornar o “lugar da maldição” em “lugar de bênção”. Precisamos deixar a maneira vã de se viver e estar em plena comunhão com o Senhor para que sejamos verdadeiros “filhos de Abraão”, não só abençoando quem está à nossa volta, mas também sendo nós mesmos uma bênção (Gn.12:2 “in fine”).
– Depois de fazer este milagre em Jericó, Eliseu vai a Betel, outro local em que havia estado na última peregrinação com o profeta Elias.
Eliseu faz como que o caminho contrário, o caminho inverso, num itinerário traçado pelo próprio Deus para mostrar a todos que Eliseu havia sucedido a Elias, que era o continuador de seu ministério.
– Esta característica mostra-nos, claramente, que o bom líder é alguém que procura se inteirar do que está a ocorrer, que vai ao encontro dos seus liderados.
Eliseu, uma vez consolidado como sucessor de Elias, tratou de ir ao encontro dos filhos dos profetas, para averiguar a situação em que se encontravam, para dar continuidade ao trabalho iniciado por Elias.
Um bom líder continua o que estava sendo feito, não faz “tabula rasa” do esforço de seu antecessor.
– Esta preocupação de Eliseu em visitar os filhos dos profetas é também uma indicação bíblica de que Elias tinha, em seu ministério, como ponto importante a manutenção das escolas dos profetas. Não há restauração espiritual possível sem que haja estudo e meditação na Palavra de Deus.
– Entretanto, enquanto Eliseu caminhava em direção a Betel, uns rapazes pequenos saíram da cidade, começando a zombar dele, dizendo: “sobe, calvo; sobe, calvo!”.
Diante desta zombaria, o profeta virou-se para ele, amaldiçoou-os em o nome do Senhor, tendo, então, duas ursas saído do bosque e despedaçado quarenta e dois daqueles rapazes (II Rs.2:23,24).
– À primeira vista, tem-se na narrativa deste episódio um choque. Por que um homem de Deus amaldiçoaria adolescentes e, por causa disso, houve a morte de 42 deles?
Não seria isto um contrassenso, não estaríamos diante de mais uma demonstração da “crueldade divina” do Antigo Testamento?
Não é Eliseu o fomentador da restauração espiritual do povo? Não significa seu nome “Deus é salvação”?
Como compatibilizar o homem que sara as águas e torna a terra fértil para os filhos dos profetas com o que amaldiçoa e mata mais de quarenta “inocentes”?
– Temos aqui a mesma situação que encontramos no ministério de Elias, quando fogo do céu consome cento e dois soldados e que analisamos na lição 5 deste trimestre.
– Eliseu havia acabado de realizar seu segundo milagre e tornado plenamente possível que os filhos dos profetas habitassem em Jericó, o lugar da maldição. Uma tamanha obra não ficaria sem a reação das forças do mal.
Não devemos nos esquecer de que vivemos, neste mundo, em constante batalha contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12) e não haveria de ser diferente com o profeta Eliseu.
– Eliseu parte de Jericó com destino a Betel. Estava “subindo”, expressão nitidamente geográfica, mas que também não pode deixar de ser aplicada espiritualmente.
Quando estamos em “subida” na vida espiritual, não demorará para que surjam obstáculos, impedimentos, para que se levantem forças malignas para tentar nos retirar de nosso foco, de nosso alvo, que é o de fazer a obra de Deus, de nos aproximarmos cada vez mais do Senhor, de realizarmos a Sua vontade.
– Aqueles “rapazes pequenos” que surgiram no caminho estavam em um bom número, eram pessoas que haviam sido criadas sem o temor de Deus, fruto da apostasia reinante naqueles dias em Israel.
O texto deixa-nos em dúvida se os rapazes eram de Betel ou de Jericó. Tanto num caso quanto noutro, eram cidades que haviam se tornado em verdadeiros centros apóstatas, seja pelo fato de a reedificação de Jericó ser uma verdadeira afronta ao Senhor, seja pelo fato de Betel ser a principal sede do culto alternativo implantado por Jeroboão.
– Aqueles “rapazes pequenos” era o protótipo de uma geração criada sem Deus, de uma geração que foi educada sem os princípios divinos, uma geração que era o resultado, o fruto de uma vida espiritual desregrada como os israelitas estavam a viver.
Tanto assim é que, em sua zombaria, atacaram nada mais, nada menos que o homem de Deus, o representante do Senhor entre os israelitas.
Não se tratava de pessoas “inocentes”, mas, sim, de pessoas “insolentes”, desrespeitadoras de Deus, pessoas que haviam aderido a um total desprezo ao sagrado e ao divino.
– Como havia os filhos dos profetas, que decidiram servir ao Senhor, havia, também, estes “rapazes pequenos” que, em oposição, resolveram adotar um estilo de vida contrário à vontade de Deus, de desrespeito, desconsideração. Infelizmente, não é isto que temos visto em grande parte da juventude que cristã se diz ser?
“…Muitos deles estão irreconhecíveis como cristãos que deveriam ser e postura firme que deveriam ter.
Negam a fé e a aliança que fizeram com seu Deus e assim o traem dizendo sim para o mundo, isto é, às obras do mundo.…” (FRANCISCO NETO. Juventude evangélica em crise. 03 jan. 2013. Disponível em: http://wwwteologiavivaeeficaz.blogspot.com.br/2013/01/juventude-evangelica-transviada.html Acesso em 04 jan. 2013).
– O fato de serem saído em meio ao caminho para insultarem o homem de Deus revela bem a escolha que haviam feito.
Não viviam em ambiente familiar, mas, em “bando”, andavam pelas redondezas. Isto mostra que tinham uma vida indisciplinada, sem honra aos pais e, naturalmente, sem honra aos mais velhos.
O fato de terem insultado o homem de Deus, fazendo zombaria de uma característica sua, que era a calvície, mostra, também, que não tinham temor ao Senhor, que preferiam zombar de quem servisse a Deus a temer ao Senhor. É de se notar que os rapazes eram insistentes e seguiam o profeta em seu caminho.
– O profeta os amaldiçoou, porque eles não tinham tido nenhum respeito ou consideração, mostraram-se empedernidos para com o homem de Deus, apesar de tudo quanto Deus já havia feito tanto pelas mãos de Elias quanto de Eliseu.
Eram pessoas com coração endurecido. Não se tratava de crianças que não sabiam discernir o bem do mal, mas de pessoas que, tendo a devida consciência, haviam deliberadamente escolhido o caminho do desafio e do desrespeito ao Senhor.
– O resultado disso foi que duas ursas saíram do bosque e mataram quarenta e dois daqueles “rapazes pequenos”.
Há quem veja o fato de estarem os “rapazes pequenos” perto de um bosque mais um indicador de que se tratava de pessoas que cultuavam os ídolos, pois estavam próximos a um bosque que seria dedicado ao culto a Baal (cfr. I Rs.16:33).
Assim, poderiam até ser pessoas envolvidas com a prostituição cultual própria do culto a este deus.
– Explica-se, pois, plenamente a atitude tomada por Eliseu. A restauração espiritual não pode conviver com pessoas que deliberadamente se negam a servir ao Senhor, que se entregam de corpo e alma à idolatria e aos desprezo ao sagrado.
Assim como os profetas de Baal e de Asera tiveram de ser mortos após o desafio do Carmelo, aqueles “rapazes pequenos” também não poderiam ser mantidos vivos no meio do povo de Israel.
Não é Deus que é cruel, mas foram aqueles mesmos “rapazes pequenos” que selaram seu destino ao se recusarem a servir ao Senhor.
– Eliseu seguiu o seu caminho. Virou-se para trás, amaldiçoou os rapazes e continuou a sua “subida”. Também devemos agir desta maneira ante as investidas malignas que procuram impedir nosso crescimento espiritual.
Temos de prosseguir nossa jornada e deixar que o Senhor nos livre de todo o mal. Aliás, é este um dos pedidos que temos de fazer ao Senhor diariamente: a nossa proteção e livramento do mal (cfr. Mt.6:13).
– Eliseu, então, de Betel partiu para o monte Carmelo, onde parece também ter sido montada uma escola dos profetas, no local onde o Senhor mostrou ao povo, através de Elias, que só o Senhor era Deus e dali partiu para Samaria, a capital do reino (II Rs.2:25).
II – ELISEU E OS MILAGRES QUE ENVOLVERAM O REI DE ISRAEL
– Eliseu voltaria a aparecer no cenário da história de Israel na guerra entre Israel, Edom e Judá contra Moabe, já no reinado de Jorão, irmão de Acazias e outro filho de Acabe, que havia subido ao trono diante da morte de Acazias, conforme fora profetizado por Elias (II Rs.1:17,18).
– Moabe havia se rebelado contra Israel após a morte de Acabe (II Rs.1:1) e tal circunstância não fora revertida por Acazias em seu curto reinado, motivo por que Jorão, assim que se subiu no trono, resolveu reverter tal situação, pedindo, para isso, a ajuda tanto de Josafá, rei de Judá e que havia se aliado com Acabe, e o rei de Edom, com quem havia feito também aliança (II Rs.3:4-9).
– Jorão, apesar de ser um rei ímpio, tinha um pouco mais de temor ao Senhor do que seu irmão Acazias, tanto que, assim que subiu ao trono, retirou a estátua de Baal que Acabe fizera (II Rs.3:2), conquanto tenha mantido intacto o culto aos bezerros de ouro implantado por Jeroboão (II Rs.3:3).
– Jorão, tudo indica, foi precipitado em sua investida contra Moabe, tanto que, quando os três exércitos iniciaram a sua marcha, após sete dias de caminhada, houve falta de água, não havendo onde poderia ela ser encontrada, pois estavam em pleno deserto de Edom, o caminho que havia sido escolhido pelo próprio Jorão para fazer o ataque (II Rs.3:8).
– Jorão, então, ciente do grande erro que havia cometido, entendeu que o Senhor o estava punindo e que a derrota era iminente, pois, sem água, seriam alvo fácil do rei dos moabitas e de seu exército (II Rs.3:10).
– Josafá, porém, que era um rei temente ao Senhor, não se desesperou. Ao contrário de Jorão, perguntou se não havia ali algum profeta do Senhor que pudesse ser consultado, e um dos servos do rei de Israel, então, anunciou que estava no meio do exército Eliseu, identificado então como um “servo de Elias” (II Rs.3:11).
– Josafá, porém, mostrando que tinha melhor conhecimento das coisas de Deus, mesmo as que aconteciam no reino de Israel e não no seu reino, que era o de Judá, foi enfático ao afirmar que com Eliseu estava a palavra do Senhor e, em virtude disto, os três reis foram consultar a Eliseu.
– Eliseu fora anonimamente entre os soldados daqueles três exércitos, certamente por orientação divina.
Não sabia o que iria acontecer, mas o fato é que, obediente à voz do Senhor, estava pronto e preparado para ser um instrumento de Deus no momento da dificuldade.
Se quisermos ser instrumentos de Deus no combate à apostasia, na restauração espiritual de muitos que cristãos se dizem ser, é imprescindível que estejamos sempre prontos e preparados para sermos usados nas mãos de Deus, o que significa ir com a multidão que está caminhando para a perdição. Compreendamos bem: Eliseu estava no meio dos soldados, mas não era um deles.
Temos de estar no meio dos que estão indo para a perdição, mas não somos um deles. Como disse o Senhor Jesus: estamos no mundo mas não somos dele (Jo.17:11,15,16).
– Eliseu fora anonimamente, mas era conhecido de alguns. Lembremo-nos, amados irmãos, que nosso testemunho deve ser irrepreensível, pois, mesmo sem sabermos, as pessoas estão a olhar para nossas atitudes, para a nossa conduta, bem sabendo quem somos, embora, muitas vezes, não sabemos quem elas são.
Um dos servos do rei de Israel reconheceu Eliseu e, no momento da dificuldade, indicou que ele poderia ajudar na situação.
– Para que possamos ser usados no momento oportuno como Eliseu, é preciso que sigamos a orientação do apóstolo Pedro, que nos manda estar sempre preparados para responder com mansidão e temor a razão da esperança que há em nós. Como deve ser esta preparação?
O apóstolo nos ensina: santificando-nos a Cristo, como Senhor, em nossos corações, sendo zelosos do bem, ainda que, para tanto, tenhamos de padecer por amor da justiça (I Pe.3:13-15). Temos feito isso?
– Naturalmente, como comandante daquela aliança, o rei Jorão se dirigiu ao profeta Eliseu, mas o profeta foi, uma vez mais, um homem comprometido com a restauração espiritual de seu povo.
Disse ao rei que nada tinha com ele e que deveria ele consultar os profetas de Baal e de Asera, os “profetas de seu pai e os profeta de sua mãe” (II Rs.3:13).
Jorão identificou esta resposta como mais uma certeza de que o Senhor o estava punindo, que queria a morte daqueles três exércitos (II Rs.3:13).
– Neste instante, porém, Eliseu não quis chancelar aquele “derrotismo fatalista” do rei Jorão, um comportamento característico de quem apostata da fé. É aquele sentimento de impotência que se alia a um de desesperança.
É um sentimento que o inimigo de nossas almas procura incutir naqueles que fraquejam na fé, que se distanciam de Deus.
Entretanto, nós, assim como Eliseu, não podemos permitir que tal sentimento tome conta dos corações daqueles que tropeçaram ao longo do caminho.
Nossa missão é dar esperança a estas pessoas, dizer-lhes que se elas se levantarem e forem ao encontro do Senhor, Ele está pronto a lhes perdoar e dar um recomeço, assim como o Senhor Jesus nos ensinou na parábola do filho pródigo.
– Eliseu não poderia permitir que Jorão “vendesse” a imagem de Deus como de uma divindade vingativa e destruidora.
Não, não e não! Eliseu, repetindo as mesmas palavras de Elias (“Vive o Senhor dos Exércitos, em cuja presença estou”), disse que, em respeito a Josafá, rei de Judá, é que estava olhando e vendo Jorão.
Deus era Deus da vida, Deus da esperança, Deus do livramento e isto o profeta diz, com convicção, que provaria ao rei de Israel.
– Vemos aqui que Eliseu exercita a sua fé. Até aquele momento, o Senhor não havia lhe dado estratégia alguma, não lhe havia dito o que deveria ele fazer, mas, como estava ali no meio dos soldados por orientação divina e, mais do que isto, como não poderia deixar que a imagem de divindade destruidora fosse atribuída ao Senhor, em seu zelo, confiando que o Senhor lhe responderia e mudaria aquele quadro irreversível, pediu que lhe trouxessem um tangedor. Eliseu buscou louvar a Deus para ter uma palavra da parte do Senhor.
– Eliseu ensina-nos algo que, certamente, aprendera com Elias: é necessário que invoquemos a presença do Senhor, que busquemos a Sua presença para termos orientação e direção em nossas vidas. Para que encontremos o Senhor, é necessário que O busquemos.
Temos buscado a Deus? A restauração espiritual depende da busca da presença de Deus por parte daqueles que ainda tem comunhão com Ele.
– Em nossos dias, muito se fala em avivamento, em renovação espiritual, em restauração, mas os que ainda estão firmes não estão a buscar decididamente ao Senhor.
É tempo de buscarmos a Deus, é tempo de deixarmos o discurso e as estratégias da mente humana e passarmos a invocar o nome do Senhor.
Os descendentes de Sete são chamados de “filhos de Deus” porque haviam se caracterizado por invocar o nome do Senhor (Gn.4:26; 6:2).
– Quando o tangedor começou a tanger seu instrumento e Eliseu a invocar o nome do Senhor, adorando e louvando a Deus, a mão do Senhor veio sobre o profeta e Eliseu profetizou mandando que se fizessem naquele vale muitas covas, pois, mesmo sem vento e sem chuva, o vale se encheria de tanta água que dela beberiam não só os soldados mas o gado e os animais e, como se isto fosse pouco, também os moabitas seriam entregues nas mãos dos três exércitos coligados (II Rs.3:15-19).
– Assim como Eliseu profetizou, ocorreu no dia seguinte, quando, pela manhã, na hora da oração, a terra se encheu de água.
É oportuno dizer que os três exércitos creram na palavra do profeta, tanto que abriram as covas como se lhes foi mandado.
– Aquelas águas não só serviram para o consumo dos três exércitos, mas foram vistas pelos moabitas como “águas vermelhas”, ou seja, como sangue, o que levou os moabitas a achar que os três exércitos haviam se dizimado entre si e os levou a irem até o deserto unicamente para tomar os despojos, totalmente despreparados para a batalha, ocasião em que foram exterminados pelos exércitos coligados, que, conforme a palavra profética, arrasou as cidades dos moabitas.
O rei de Moabe, entretanto, sacrificou seu filho primogênito, em ritual a seu deus, a fim de obter livramento e tal gesto indignou os israelitas que se retiraram de Moabe sem fazer a destruição final daquele reino.
– Eliseu fizera-se, pois, conhecido das autoridades tanto de Israel, quanto de Judá, e até de Edom, não como apenas “o servo de Elias”, mas, sim, como “o sucessor de Elias”.
Era esta guerra uma ocasião que Deus criara para sedimentar a imagem de Eliseu como o novo homem de Deus, como o responsável pela restauração espiritual do povo.
– Após ter ganhado notoriedade nacional por ter milagrosamente obtido água para os exércitos de Israel, Judá e Edom na guerra que eles empreendiam contra Moabe e, portanto, ter sedimentado a sua condição de sucessor de Elias, o profeta Eliseu se vê envolvido em uma situação assaz delicada.
– A Bíblia diz que uma mulher das mulheres dos filhos dos profetas foi ao encontro do profeta para clamar-lhe pois se encontrava em uma situação extremamente delicada.
Seu marido havia morrido e deixado dívidas que eram impagáveis e, por isso, os credores estavam para levar os seus filhos como escravos, em pagamento da dívida (II Rs.4:1).
– A tradição judaica diz que este “filho dos profetas” seria Obadias, o mordomo do rei Acabe, que teria contraído as referidas dívidas quando da longa seca sobre Israel, a fim de que sustentasse os cem profetas do Senhor (cfr. I Rs.18:4,13).
É o que afirma o historiador judeu Flávio Josefo, em trecho que transcrevemos:
“…A viúva de Obadias, mordomo do rei Acabe, veio dizer ao profeta que não tendo meios de restituir o dinheiro que seu marido tinha emprestado para alimentar os cem profetas que certamente sabia ter ele salvo da perseguição de Jezabel, seus credores queriam tomá-la como escrava e aos seus filhos também.
E na dificuldade em que se encontrava recorrera a ele e rogava-lhe que tivesse piedade dela.…” (Antiguidades Judaicas IX, 2, 378. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.202).
– Por primeiro, é importante observar que a dívida de que se trata aqui é, mesmo, do finado marido, um filho de profeta que temia ao Senhor.
Desta maneira, vemos, de pronto, que o fato de alguém morrer deixando dívidas não quer dizer que se tratava de uma pessoa ímpia ou amaldiçoada, como defendem os falsos ensinadores da teologia da prosperidade. Ter dívidas não significa que a pessoa está em pecado. Aquele homem morreu devendo, mas era servo de Deus.
– Por segundo, vemos, também, que, embora ter dívidas não seja um elemento que comprometa a salvação de alguém, é, certamente, uma situação que se deve evitar ao máximo, pois causa danos a terceiros que, muitas vezes, sofrerão por causa de nosso mau planejamento.
Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo recomenda que não devamos dever nada a não ser o amor (Rm.13:8).
– Em dias de consumismo desenfreado, em que as pessoas são avaliadas pelo que compram e adquirem, é essencial que os servos do Senhor, que amam a Deus e não às riquezas (Mt.6:24), fujam deste laço maligno e não comprometam o seu orçamento com futilidades e coisas desnecessárias, que somente causarão males aos seus familiares, caso ocorra uma situação como a que enfrentava aquela viúva, ou seja, a morte daquele que sustentava a casa e que deveria providenciar o pagamento das dívidas.
– Deve-se, aliás, verificar que, em sendo acolhida a versão da tradição judaica, a dívida contraída tinha por objetivo salvar a vida de servos de Deus, era uma atitude que visava o bem-estar da obra de Deus, levava em conta pessoas e não, coisas,
tinha em vista o amor ao próximo e não o sentimento egoísta que vemos no consumismo de nossos dias, de sorte que também não serve este episódio como justificativa ou desculpa para comportamentos totalmente contrários à vontade de Deus como vemos em nossos dias. Como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714):
“…ele morreu pobre e devia mais do que possuía.Ele não contraiu suas dívidas por prodigalidade, luxúria ou uma vida devassa, porque ele era alguém que temia o Senhor e, portanto, não se atreveu permitir a si mesmo tais condutas:
mas não somente isto, a religião obriga os homens a não viver acima do que têm, nem gastar mais do que Deus os dá, não, não em despesas, ainda que legítimas…” (Comentário bíblico completo. I Rs.4:1-7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/2-kings/4.html Acesso em 02 jan. 2013) (tradução nossa de texto original em inglês).
– A escravidão por dívidas era permitida na lei mosaica, sendo, aliás, o único caso em que se permitia a escravidão de israelitas, escravidão esta que deveria durar seis anos (Ex.21:2-6; Jr.34:8-11; Ne.5:1-5).
Desta maneira, não se podia dizer que os credores da viúva estavam sendo injustos, conquanto, sem dúvida, não estivessem a exercitar o amor e a misericórdia. Mas o fato é que estavam dentro da lei.
– Além da lei, a viúva dos filhos dos profetas corre até Eliseu, a fim de ter uma solução que revelasse todo o amor de Deus, toda a Sua misericórdia, toda a Sua graça. Recorrer a Eliseu era recorrer a Deus.
Aquela viúva sabia que Eliseu era o homem de Deus de seus dias, era o instrumento levantado pelo Senhor para o povo de Israel.
Aquela viúva tinha consciência de que Eliseu traria a ela a necessária compaixão divina, algo que estava além do rigor da lei.
– É importante verificar que a viúva vai até Eliseu não para denunciar uma injustiça, mas para pedir a compaixão do profeta, uma orientação, visto que a situação em que se encontrava era plenamente coberta pela lei de Moisés.
– Assim que ouviu o relato desesperado daquela viúva, o profeta Eliseu disse àquela mulher: “Que te hei de eu fazer? Declara-me que é o que tens em casa” (I Rs.4:2a).
– Diante da declaração da viúva, o profeta pôde ver que a solução estava encontrada. Como aquela mulher havia declarado o que tinha, posto à disposição do Senhor o que possuía, possível era a multiplicação, o milagre tornava-se adequado.
– A declaração feita pela viúva do que possuía era uma atitude de fé, de confiança em Deus. Ao declarar que tinha aquela botija de azeite, a mulher afirmava que cria que Deus, daquele pouco tido por insignificante, poderia operar.
Não há como agradarmos a Deus se não tivermos fé (Hb.11:6). A incredulidade impede que Deus realize milagres em nossas vidas (Mt.13:58). Será que este é um fator em nossos dias para explicar a raridade dos sinais em nosso meio?
– É oportuno, também, verificar que a declaração da mulher de que não tinha coisa alguma a não ser uma botija de azeite também demonstrava a honestidade daquela viúva.
Ela não estava a esconder bem algum, ela realmente não tinha condições de pagar a dívida deixada pelo seu marido.
Era justa e estava na integral dependência de Deus. O milagre era absolutamente necessário.
– Ante esta declaração da viúva, o profeta, então, passa a dar a devida orientação para aquela mulher. Mandou que ela fosse até os vizinhos e pedisse vasos emprestados, vasos vazios e não poucos (II Rs.4:3).
– Todos os vizinhos emprestaram aqueles vasos vazios, não poucos, para a viúva, numa clara demonstração da confiança e credibilidade que ela desfrutava em sua comunidade. Como luz do mundo e sal da terra, todo servo de Cristo Jesus deve ter esta mesma reputação no meio em que vive.
Como diz o apóstolo Pedro, nosso viver deve ser honesto entre os gentios, “…para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (I Pe.2:12).
– Depois de conseguir os vasos vazios, não poucos, a viúva deveria entrar na sua casa, fechar a porta sobre ela e sobre seus filhos e deitar o azeite em todos aqueles vasos, e pôr à parte o que estivesse cheio (II Rs.4:4).
– Tendo desfrutado da confiança e credibilidade que seu bom testemunho gerara na comunidade, a viúva deveria, então, recolher-se à intimidade do seu lar e da sua intimidade com Deus.
É absolutamente necessário que, para que o milagre de Deus opere, tenhamos um círculo de intimidade pessoal e familiar com o Senhor.
– Eliseu mandou que a viúva fechasse a porta de sua casa para que ninguém pudesse importuná-la e fazê-la desfalecer em sua fé.
Como diz Matthew Henry:
“…ela deveria fechar a porta para evitar interrupções por parte dos credores ou de qualquer outra pessoa enquanto ela estivesse fazendo o que o profeta mandara, pois eles não ficariam aparentemente orgulhosos nem felizes deste suprimento miraculoso e não orariam nem glorificariam a Deus por causa deste evento extraordinário …” (op.cit. end. cit.) (tradução nossa de texto original em inglês).
– A viúva foi à presença do profeta e contou o que havia acontecido. O profeta, então, deu-lhe a devida orientação.
Aquela multiplicação ocorrera não só para que ela pagasse a dívida, mas que ela tivesse com que viver a partir de então. Deveria ela pegar todo aquele azeite e vendê-lo. Com o dinheiro obtido da venda, deveria pagar a dívida e viver do resto (II Rs.4:7).
– Eliseu prosseguiu o seu caminho, sempre ligado às escolas dos profetas, e, em suas andanças, sempre passava por uma cidade chamada Sunem, da tribo de Issacar (Js.19:17,18) e, em virtude de seu porte e comportamento, foi identificado por uma mulher que vivia num local onde ele sempre se alimentava, como um “santo homem de Deus” (II Rs.4:9).
Não é possível termos um ministério de restauração espiritual se nosso testemunho não for irrepreensível.
– Aquela mulher comentou isto a seu marido e o resultado foi de que fizeram para ele um quarto onde ele se hospedava quando por ali passava.
Eliseu, demonstrando ter compaixão e amor ao próximo, diante de tanto cuidado, indagou de seu moço, Geazi (e a existência deste moço mostra, desde logo, o interesse de Eliseu em ter seguidores para este ministério de restauração), o que se poderia fazer por aquela mulher, tendo, então, Geazi dito ao profeta que ela não tinha filhos.
Por isso, Eliseu profetizou que ela conceberia e isto aconteceu, tendo, então, a mulher gerado um filho (II Rs.4:11-17).
– Um dia, porém, aquela criança adoeceu, com uma grande dor de cabeça, sendo levado por seu pai até sua mãe, sendo que, ao meio dia, o menino morreu.
Aquela mulher, então, foi atrás do profeta Eliseu, que se encontrava no monte Carmelo, profeta que havia tido a revelação divina de que algo estava a ocorrer com aquela mulher, mal este que o Senhor não identificara ao Seu profeta.
– A mulher, então, contou ao profeta a respeito da morte do menino, dizendo que não lhe havia pedido filho algum. Eliseu, então, retirou o seu bordão e deu a Geazi, mandando que ele fosse até onde estava o menino para que o menino ressuscitasse.
– Como dizia a respeito o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), temos aqui mais uma fragilidade de Eliseu.
No início de seu ministério, entendera que a capa de Elias, por si só, era capaz de abrir o rio Jordão.
Agora, já reconhecido como sucessor de Elias, achava que simplesmente o seu bordão poderia restituir a vida ao menino.
Afinal de contas, Elias havia ressuscitado o filho da viúva de Sarepta e tinha Eliseu “porção dobrada” do espírito de Elias…
– O moço Geazi também se entusiasmou com a ideia. Também achou que, de posse do bordão de Eliseu, poderia, como dizia o saudoso pastor Walter, “fazer miséria”, quem sabe iniciar um profícuo ministério de milagres.
– Entretanto, Eliseu tinha de aprender a lição de que era Deus quem operava, não ele. Ele era um “santo homem de Deus”, mas apenas um homem.
Deus era o dono da vida, havia muita importância em que aquela mulher, serva de Deus, reconhecesse, num período de apostasia, que Deus podia dar de novo a vida ao seu filho, mas era indispensável que tudo se fizesse como Deus queria.
É uma importante lição para todos aqueles que o Senhor tem usado com os dons espirituais na atualidade.
– É interessante observar que, embora Eliseu tenha mandado Geazi ir até onde estava o menino, a mulher não saiu dos pés do profeta.
A mulher tinha mais senso espiritual que o profeta e seu moço, apesar de, naquele tempo, não ter o Espírito Santo, que repousava apenas no profeta. Isto também nos dá uma preciosa lição: não devemos subestimar as pessoas, devemo-las considerar superiores a nós mesmos (Fp.2:3).
– Diante do fracasso de Geazi, o profeta teve de ir pessoalmente, na companhia da mulher sunamita, até a casa da mulher, mais precisamente no quarto onde se hospedava quando ia a Sunem, pois ali a mulher havia posto o menino.
Eliseu, então, fechou a porta do quarto e ali se humilhou na presença do Senhor, reconhecendo a soberania divina, de que o Senhor opera quando, como e onde quer.
– Foi uma oração insistente. Eliseu fez como aprendera com Elias, deitando-se sobre o menino e fazendo como que uma respiração boca a boca no menino, mas o que conseguiu apenas foi o aquecimento do corpo do menino.
Eliseu então passeou pela casa, em insistente oração, voltou para o quarto, novamente se estendeu sobre ele e, então, o menino espirrou sete vezes e abriu os olhos, tendo, então, o profeta entregado a criança, ressuscitada, à sua mãe, a quem chamou para entregar-lhe no seu quarto.
A mulher prostrou-se diante do profeta, tomou seu filho e saiu, tendo o profeta simplesmente retornado para o Carmelo (II Rs.4:29-37).
– Eliseu mostrava-se como um homem de oração, mostrava àquela mulher que era, verdadeiramente, um “santo homem de Deus”, mas que o homem de Deus precisa da orientação divina, precisa do suprimento divino.
Aquela mulher, a exemplo da viúva de Sarepta, reconheceu que Deus era soberano, o dono da vida e o profeta, retornando à sua insignificância, fez o seu maior milagre, mas depois de ter, também ele, reconhecido que Deus é soberano, que não está à nossa disposição e, sim, nós é que devemos estar à disposição d’Ele.
– Mas alguém poderá dizer: que tem a ver este milagre com o rei de Israel, já que estamos a falar de milagres que se relacionam com o rei de Israel? É que esta ressurreição foi o elemento que fez com que aquela mulher sunamita, anos depois, pudesse reaver todos os seus bens.
Com efeito, a Bíblia nos diz que, anos depois, o profeta Eliseu mandou que a mulher sunamita emigrasse, pois haveria grande fome na terra de Israel. A mulher prontamente atendeu ao mandado do profeta e foi com seu filho para fora de Israel.
Ao retornar, porém, seus bens haviam sido tomados e quando foi à presença do rei para reivindicá-los, lá estava Geazi, que acabara de contar ao rei a respeito do milagre da ressurreição do filho da sunamita e, por conta deste milagre, o rei determinou que tudo fosse restituído para aquela mulher.
Entendemos, assim, porque Deus permitira aquele episódio, pois era uma provisão para que, no futuro, aquela mulher não ficasse desamparada de seus bens (II Rs.8:1-6).
– Um terceiro milagre relacionado com o rei de Israel, ainda que indiretamente, é a cura de Naamã, que será tratada na próxima lição.
– O conflito entre Síria e Israel se acirrou a tal ponto que Bene-Hadade, rei da Síria (o mesmo que fora poupado por Acabe…) iniciou guerra contra os israelitas.
O Senhor, então, mandou que Eliseu enviasse notícias ao rei de Israel, a fim de que os siros não fossem vitoriosos em suas estratégias. Jorão atendeu aos conselhos do profeta e, por isso, os siros não tiveram êxito na campanha militar (II Rs.6:8-10).
– O rei da Síria suspeitou que houvesse espionagem ou traidores em seus exércitos, mas, então, um dos seus servos lhe disse que o responsável pela frustração de seus planos era o profeta Eliseu, que estava a aconselhar o rei de Israel (II Rs.6:9-12).
Vemos, assim, que a fama de Eliseu já ultrapassava fronteiras, o que não era difícil com relação à Síria, diante da cura de Naamã.
– O rei da Síria, então, mandou que Eliseu fosse capturado e trazido à sua presença, sendo que, nesta época, estava o profeta em Dotã, cidade que ficava a cerca de 21 km ao norte de Samaria e que ficava na rota das caravanas entre a Síria e Israel, local onde os irmãos de José o lançaram numa cova e depois o venderam aos ismaelitas (Gn.37:17-28), cidade cujo significado é “dupla festa” ou “duas fontes”.
– Cumprindo a ordem do rei da Síria, um grande exército veio e cercou Dota, o que foi visto pelo moço do homem de Deus, que se desesperou com aquele cerco.
O profeta, porém, confiante em Deus, disse para o moço não temer e pediu ao Senhor que os olhos do moço fossem abertos, tendo, então, o moço visto um exército celestial, maior que o exército sírio, que estava a guardar a cidade (II Rs.6:14-17).
– Este episódio nos mostra, mais uma vez, que o trabalho pela restauração espiritual do povo de Deus nos põe em uma batalha aberta contra o inimigo. É uma luta incessante.
Eliseu foi mandado por Deus para dar conselhos ao rei de Israel contra o rei da Síria. Somos chamados a lutar contra o inimigo. O combate à apostasia é sempre uma luta contra o maligno.
– Por causa de fazer a vontade de Deus, de mostrar a soberania divina ao rei de Israel, Eliseu foi cercado por um grande exército em Dotã.
Também seremos cercados pelo inimigo de nossas almas e suas hostes espirituais quando estivermos lutando pela restauração do povo de Deus, estejamos certos disso.
– Outro ponto que aprendemos é que o profeta tinha uma visão espiritual. Enquanto seu moço só via o exército do rei da Síria, Eliseu contemplava os exércitos celestiais que estavam em seu socorro.
Para sermos bem sucedidos no trabalho da restauração espiritual do povo de Deus, é absolutamente necessário que tenhamos a visão divina, que estejamos afinados, sintonizados com o céu.
– Isto não quer dizer, como ensinaram alguns que criaram heresias há alguns anos atrás, que devamos “ver anjos” para confirmar que somos salvos ou que estamos em comunhão com o Senhor.
Eliseu viu, sim, anjos, mas não é disto que estamos a ver. Eliseu tinha a convicção de que estava fazendo a vontade de Deus e que, portanto, seria protegido pelo Senhor naquela guerra.
– Como anda a nossa visão, amados irmãos? É ela voltada única e exclusivamente para as coisas desta vida, para a dimensão horizontal, ou temos confiança em Deus e no seu livramento nos momentos em que estivermos no embate contra o maligno?
Sigamos o conselho do poeta sacro Almeida Sobrinho: “Na batalha contra o mal, sê valente! Segue em marcha triunfal, sê valente! Olha o alvo que é Jesus, que à vitória te conduz; ó, não deixes tua cruz, sê valente!” (primeira estrofe do hino 225 da Harpa Cristã).
– Depois que o moço do profeta teve aquela visão, Eliseu orou ao Senhor para que cegasse os soldados sírios, uma vez eles tendo ido ao ataque e o Senhor atendeu ao pedido do profeta.
Todo aquele exército foi ferido de cegueira (II Rs.6:18). O Deus que abre os olhos aos Seus servos é o mesmo que fere de cegueira os Seus inimigos.
Este é o nosso Deus, amados irmãos! Por isso, não temamos lutar em favor da causa do Senhor, pois, se preciso for, os inimigos serão cegados para que sejamos vitoriosos.
– Eliseu, então, falou com aqueles soldados, dizendo que não era aquele o caminho, nem aquela a cidade, mas que os seguissem pois os levaria até o homem que buscavam, tendo-os levado a Samaria (II Rs.6:19).
Há quem diga que este seria um caso de “mentira santa” nas Escrituras, que Eliseu teria mentido para levar os soldados até a capital do reino.
– Entretanto, não se tem aqui caso algum de mentira, pois um “santo homem de Deus” não poderia se valer da mentira.
A mentira é própria do diabo e quem está em Deus, quem está em Cristo não tem parte alguma com Satanás (Jo.8:44; 14:30).
– Na verdade, o que o profeta Eliseu disse àqueles homens é que a guerra empreendida era contra o rei de Israel, ele era o seu inimigo, não o profeta de Deus.
Eliseu também, em sua afirmação, mostrou que o objetivo dos sírios deveria ser conquistar Samaria, a capital do reino, e não buscar o profeta de Deus, pois de nada adiantaria o rei da Síria aprisionar o profeta, pois a guerra não era contra o profeta, e sim, contra a nação israelita.
– Chegando a Samaria, o profeta Eliseu faz outra oração e pede que fossem abertos os olhos daqueles soldados, quando estes já estavam dentro da cidade, sem condições de qualquer reação (II Rs.6:20).
Realiza-se, pois, outro milagre, bem na frente do rei de Israel, para que Jorão, mais uma vez, soubesse que Deus é soberano, é o verdadeiro Senhor.
– Jorão, então, admirado com aquela cena, pediu permissão a Eliseu para que ferisse aqueles soldados, mas o profeta não o permitiu. Mandou que eles fossem alimentados e despedidos para o seu senhor. Jorão, então, atendeu à ordem do profeta, fez-lhes um grande banquete e os mandou de volta para a Síria (II Rs.6:21-23).
– Alguns se perguntam: por que Eliseu não permitiu que os soldados da Síria fossem feridos, como aquele filho dos profetas que repreendeu Acabe por ter poupado a vida de Bene-Hadade (I Rs.20:42,43)? Não haveria aqui uma contradição da parte do Senhor?
– A resposta é negativa. As situações são diferentes, até para nos mostrar que Deus é soberano e age como quer, não estando presos a padrões ou modelos estabelecidos pelo homem ou pela história.
No episódio que envolveu o rei Acabe, o profeta que o repreendeu foi categórico ao dizer que havia posto Bene-Hadade nas mãos do rei de Israel para que ele fosse destruído, porque Bene-Hadade havia afrontado a soberania divina, dizendo que o Deus de Israel era limitado (cfr. I Rs.20:42 e 20:23). Ao pouar Bene-Hadade, Acabe deliberadamente não quis mostrar que Deus era soberano.
– Aqui a situação é bem diversa. Os soldados tinham sido destacados para prender o homem de Deus, para impedi-lo de dar conselhos ao rei de Israel. Havia, assim, um reconhecimento de que Deus era soberano.
O fato de serem levados até Samaria, até a presença do rei pelo profeta era outra demonstração do poder de Deus.
A soberania divina estava comprovada e, portanto, os soldados da Síria deveriam ser tratados com benignidade, porque havia, por parte do inimigo, o reconhecimento de que Deus era soberano e os fatos apenas confirmaram isto.
– O resultado de o rei de Israel ter atendido à orientação do profeta foi que veio a paz entre Síria e Israel e as tropas da Síria não mais entraram em Israel.
O Senhor mostrava, assim, a siros e a israelitas que Ele era quem dava a paz entre os povos, coisa que nenhuma das divindades adoradas era capaz de fazer, até porque o Senhor era Deus de todas as nações e não apenas de Israel.
– No trabalho de restauração espiritual do povo, devemos saber que Deus é soberano e que, portanto, age como, quando e onde quer, não está preso a métodos nem a circunstâncias passadas.
É preciso termos, portanto, a exemplo de Eliseu, uma comunhão contínua e atual para sabermos o que fazer no momento oportuno. Temos feito isto?
III – ELISEU E OS MILAGRES QUE ENVOLVERAM OS FILHOS DOS PROFETAS
– Mas, além dos milagres realizados que envolveram o rei de Israel e cujo propósito principal era mostrar ao monarca a soberania divina, numa continuidade do trabalho iniciado por Elias, a fim de que o povo abandonasse o culto a Baal e se restaurasse espiritualmente, o que, inclusive, envolveu também gentios, como os sírios, Eliseu também fez milagres que envolveram os filhos dos profetas.
– A realização de milagres que envolveram os filhos dos profetas mostra, de pronto que Eliseu, em seu ministério, teve um envolvimento muito grande com as escolas de profetas, pois fazia parte da restauração espiritual a formação de pessoas preparadas para divulgar e ensinar o culto a Deus em Israel.
Assim, como estava muito envolvido com as escolas de profetas, é natural que o profeta acabasse por realizar milagres em meio a este ambiente, que absorvia a maior parte de seu ministério.
– A realização de milagres para os filhos dos profetas, também, é uma continuidade daquilo que se iniciara no próprio ministério de Elias, ou seja, que Deus deveria Se mostrar como soberano e único Deus verdadeiro não apenas para os que estavam se apostatando da fé, mas também para os Seus servos, que deveriam, assim, experimentar a realidade da soberania divina em suas próprias vidas para que, então, com experiência, pudessem eficaz pregar e ensinar a Palavra de Deus.
– Vemos, desta maneira, que a realização de sinais e prodígios não serve apenas para confirmar a Palavra para os incrédulos, a fim de que venham a crer no Evangelho, mas, também, é um elemento que fortifica a fé daqueles que já creem. Por isso a importância de buscarmos o poder de Deus para o crescimento espiritual da Igreja.
– Já estudamos o milagre do sarar das águas de Jericó, que foi um milagre voltado para os filhos dos profetas. Analisaremos, então, agora, o milagre da retirada da morte da panela (II Rs.4:38-41).
– Na sequência do caminho inverso que Eliseu fez após ter acompanhado Elias até sua trasladação, vemos o profeta agora em Gilgal, o lugar inicial da peregrinação que culminou com a qualificação de Eliseu como sucessor de Elias (II Rs.2:1).
– Em Gilgal, Eliseu encontrou uma situação de crise, havia fome naquela terra. Apesar desta situação de fome, os filhos dos profetas não desperdiçaram a oportunidade de ter Eliseu entre eles e o ouviam atentamente.
Eliseu, após tê-los ensinado, mandou ao seu moço que se pusesse uma panela grande ao lume e fosse feito um caldo de ervas para os filhos dos profetas (II Rs.4:38).
– Um dos filhos dos profetas, não muito preparado, acabou por colher uma capa cheia de coloquíntidas e a acrescentou no caldo que se fazia, pondo assim substâncias venenosas naquela refeição que, diante da fome na terra, não poderia ser desperdiçada sem comprometimento da própria sobrevivência daqueles homens.
– Quando a refeição foi servida, notaram que havia tais substâncias venenosas e clamaram ao profeta. Eliseu, então, mandou que trouxessem farinha, jogou-a na panela e mandou que se tirasse de comer para o povo, e não havia mais a morte na panela.
– Neste milagre, os filhos dos profetas puderam compreender que Deus não havia providenciava o alimento, mas também eliminava o veneno, a morte que podia ser introduzida na alimentação sem que os servos de Deus o soubessem. Deus não é apenas provedor, mas também, restaurador e protetor.
É o Deus da vida, e não Baal. Com esta experiência, os filhos dos profetas certamente foram estimulados a servir ao Senhor, sabendo que Deus estava pronto a protegê-los da morte.
– Em nossos dias, não é diferente. Marcos, no final de seu evangelho, lembra-nos que o Senhor Jesus prometeu, também, aos Seus discípulos que se eles bebessem alguma coisa mortífera, isto não lhes faria dano algum (Mc.16:18). Este é um dos sinais que seguem aos creem e já ouvimos testemunhos de cristãos que forma libertos do envenenamento pela ação do poder de Deus. Vale a pena servir ao Senhor, amados irmãos!
– Este milagre, também, tem uma importante aplicação espiritual. Ensina-nos que os servos do Senhor devem estar bem preparados, devem conhecer bem não só as Escrituras mas tudo que está à sua volta, para que não suceda que, assim como fez aquele desavisado filho de profeta, traga para o povo de Deus um alimento venenoso.
Muitos são os que, atualmente, trazem “coloquíntidas” para alimentar os servos do Senhor, ou seja, falsos ensinos, heresias, que têm trazido morte espiritual para a Igreja do Senhor.
– Faz-se necessário que, assim como Eliseu, estejamos, notadamente os que foram vocacionados ao ministério do ensino (e Eliseu, lembremos, estava a ensinar os filhos dos profetas quando mandou que se fizesse o caldo de ervas), de posse da farinha, que é símbolo da Palavra de Deus, que é símbolo da sã doutrina, para que, ao primeiro aviso de que há falso ensinamento no meio do povo de Deus, venhamos, com urgência, retirar a morte da panela. Temos nos preparado para tanto, professores de EBD?
– Em local que as Escrituras não precisam, mas que bem pode ser ainda Gilgal, já que havia fome naquele tempo ali, Eliseu também promoveu, entre os filhos dos profetas, um outro milagre, desta feita, um milagre de multiplicação de pães. Veio um homem de Baal-Salisa e trouxe a Eliseu pães das primícias, vinte pães de cevada e espigas verdes na sua palha.
– Eliseu dá aqui mais uma demonstração de que era um grande líder. Em meio a uma situação de fome, tendo recebido presente para si, não titubeou em mandar que aquilo que recebera fosse dado aos filhos dos profetas.
Eliseu não podia se alimentar sabendo que os demais estavam a passar fome. Eliseu tinha compaixão do próximo, era verdadeiro tipo do Salvador, que, por diversas vezes, os Evangelhos nos dizem que teve compaixão do povo (Mt.9:36; 14:14; 15:32; 20:34; Mc.1:41; 6:34; 8:2; Lc.7:13).
– Não é possível fazermos o trabalho de restauração espiritual, combatermos a apostasia sem que demonstremos compaixão pelo próximo, sem que nos ponhamos no mesmo lugar dos que estão a se desviar da fé para sentirmos a sua extrema necessidade e, assim, negarmo-nos a nós mesmos e enfrentarmos toda a oposição para resgatar estas almas que estão se perdendo. Eliseu, na maior parte dos episódios bíblicos em que é personagem, sempre aparece como alguém cheio de compaixão.
Houve, mesmo, quem dissesse que, com Elias, Deus aparece como julgador, mas Eliseu, como misericordioso.
– Eliseu, vendo aquele presente como oportunidade para alimentar a todos, não como um privilégio para ele próprio escapar da fome, mandou que se desse aquele presente ao povo para que eles comessem.
O servo, sabendo que tinha de alimentar cem homens, notou que aquela porção era insuficiente, mas o profeta repetiu a sua ordem e declarou a palavra profética dizendo que todos comeriam e ainda sobraria.
E assim se fez, tendo todos os cem homens comido e deixado sobejos, conforme a palavra do Senhor (II Rs.4:42-44).
– Este milagre de Eliseu é uma antecipação de dois milagres que Jesus fará no mesmo sentido, alimentando as multidões que O seguia.
É uma nítida demonstração de que Deus é provedor, de que não precisamos nos desesperar com as necessidades materiais que surgirão ao longo de nosso trabalho na obra do Senhor, pois o Senhor continua dando o necessário para a nossa sobrevivência sobre a face da Terra.
– Neste milagre de Eliseu, assim como nos milagres de Jesus, vemos a importância de estarmos em comunhão com o Senhor, de termos amor ao próximo e de partilharmos aquilo que temos para que a Providência Divina se traduza em suficiência para todo o povo de Deus.
Deus provê, mas quer de cada de um nós o exercício de uma vida de comunhão com Deus, de amor ao próximo e de disposição de partilha para que o milagre da multiplicação e da provisão se realize. Temos feito a nossa parte?
– O último milagre a envolver os filhos dos profetas diz respeito à flutuação do ferro de um machado (II Rs.6:1-7), episódio ocorrido em uma habitação dos filhos dos profetas perto do rio Jordão, talvez Jericó.
– Nesta oportunidade, os filhos dos profetas pediram autorização para Eliseu para aumentar o local onde estavam habitando, porque o local já era pequeno para tanta gente. Vemos, então, amados, que o trabalho do Senhor estava prosperando, que muitos tinham resolvido servir a Deus e se preparar para tanto.
Se isto estava a acontecer a Jericó, é inegável que a realização do milagre do sarar das águas e a morte daqueles “rapazes pequenos” no caminho de Jericó a Betel tinham alcançado o seu intento de despertar o povo de que só o Senhor era Deus e que era necessário servi-l’O.
– Quando há o devido ensino da Palavra de Deus, uma vida de santificação e a realização de sinais e maravilhas, não há como a obra do Senhor não crescer, mesmo em meio a um período de apostasia.
Precisamos, pois, “arregaçar as mangas” e fazer a obra de Deus, pois ela, sem dúvida, aumentará o número de salvos em nosso meio.
– Eliseu autorizou o aumento do local onde estavam os filhos dos profetas, tendo, então, todos os filhos dos profetas se reunido para cortar a madeira necessária para a construção, inclusive o próprio profeta Eliseu.
Que exemplo de liderança! A obra de Deus deve ser feita coletivamente, pois a Igreja é um povo. A começar do líder, todos devem se envolver na construção do reino de Deus. A obra do Senhor não é lugar para mandões ociosos. Lembremo-nos disto!
– No meio do trabalho, um dos filhos dos profetas, ao derribar uma viga, deixou que o ferro caísse na água e de desesperou, pois o machado era emprestado.
O profeta Eliseu, então, perguntou onde o ferro havia caído, sendo-lhe, então, indicado o lugar. Eliseu cortou um pau, lançou-o ali e fez flutuar o ferro. Mandou, então, que o filho do profeta o levantasse, estendesse a mão e o tomasse.
– Neste milagre, Deus Se mostra aos filhos dos profetas como Aquele que resolve situações irreversíveis, como Aquele que até corrige a nossa falta de cuidado, desde que admitamos nosso erro, confessemos nossa culpa e peçamos o Seu perdão.
É interesse notar que o profeta Eliseu perguntou àquele filho de profeta descuidado onde o ferro havia caído. Precisamos, sempre que cometemos faltas, lembrar onde caímos e voltarmos lá para que haja uma verdadeira reconciliação com Deus (cfr. Ap.2:5).
– Outra lição que nos dá este milagre é que o impossível Deus faz, mas o possível fica para nós fazermos.
Fazer flutuar o ferro, anulando a lei da gravidade, ninguém poderia fazer, só Deus. Entretanto, levantar-se, estender a mão e tomar o ferro, o filho do profeta poderia fazer e o profeta mandou que fizesse.
Notemos que o profeta nem sequer teve o trabalho de pegar o ferro e entregar ao filho do profeta, era o responsável pela falta que tinha de fazer isto.
– Deus nos perdoa, amados irmãos, mas somos nós quem temos de reparar os erros cometidos, de consertar as situações criadas.
Não haverá reconciliação com Deus se não fizermos a nossa parte. Por isso, quando cometermos faltas, por não estarmos em perfeita comunhão com o Senhor (como o ferro do machado que não estava bem afiado…), clamemos ao Senhor mas estejamos dispostos a nós mesmos repararmos os erros cometidos.
Lembremos de Zaqueu que se pôs à disposição para reparar tantos quantos tinha defraudado como publicano (Lc.19:8).
– Eliseu estava doente quando o rei Jeoás foi visitá-lo e pedir-lhe ajuda e, diz-nos o texto sagrado, morreu da doença de que estava acometido (II Rs.13:14,20).
– Esta doença de Eliseu é uma prova eloquente de que os servos do Senhor não se encontram imunes à enfermidade, nem tampouco imunes à morte física.
Tanto uma quanto a outra são decorrências da entrada do pecado no mundo e, portanto, não podemos jamais dizer que alguém que serve a Cristo Jesus jamais ficará doente durante a sua peregrinação terrena ou que a doença é sempre fruto de pecado e de desobediência.
– Eliseu, enquanto estava enfermo, demonstrou cabalmente que continuava em comunhão com Deus, tanto que não só abençoou o rei Jeoás mas proferiu sua última profecia, dizendo que o rei venceria, por três vezes, os sírios, o que efetivamente aconteceu, prova de que se tratava de um homem de Deus, ainda que doente (Dt.18:21,22).
– Alguém pode indagar porque Eliseu, tendo “porção dobrada do espírito de Elias”, veio a morrer, enquanto que Elias não experimentou a morte.
Não haveria aí uma contradição? Não teria Eliseu que ser também arrebatado, para mostrar que era o sucessor de Elias, já que lhe havia seguido todos os passos durante o seu ministério?
– Sem dúvida alguma, isto suscita mesmo alguma surpresa entre nós, pois, tendo feito tudo em dobro que fez Elias, tendo passado pelas mesmas circunstâncias, era de se esperar que Eliseu também fosse poupado da morte, como foi Elias.
– No entanto, não devemos ter uma dimensão horizontal, puramente racional, ao tratarmos deste assunto. Lembremos que Elias, cujo nome significa “Jeová é meu Deus”, viera mostrar aos israelitas que só o Senhor era Deus, que Baal era uma ilusão e, como tal, não era o dono da vida, como se supunha na mitologia fenício-cananeia.
Assim, ao mesmo tempo em que profetizou a horrenda morte de todos os responsáveis pela institucionalização do culto a Baal, foi também poupado da morte para que os israelitas bem soubessem quem era o único e verdadeiro Deus, o dono da vida.
– Além disso, Elias, ao ser trasladado para os céus sem que tivesse ungido a Hazael, rei da Síria e a Jeú, rei de Israel, tendo, ao revés, ungido a Eliseu como profeta em seu lugar, dada também um sinal aos israelitas de que o seu ministério, esta nova fase do ofício profético em Israel, haveria de ter continuidade, não tinha terminado, mantendo viva a esperança messiânica no meio do povo de Deus e sinalizando que tal esperança deveria ser abeberada, a partir de então, entre os profetas, ante a falência da monarquia e a ilegitimidade da classe sacerdotal instituída por Jeroboão.
– Tanto assim é que, como vimos ao longo do trimestre, os judeus, tanto nos dias de Jesus como até hoje, ainda guardam a expectativa da “vinda de Elias”, têm bem presente em suas mentes a necessidade da continuidade do ministério daquele profeta, a indispensabilidade deste ofício profético como precursor da vinda do Messias.
– Já Eliseu, cujo nome significa “Deus é salvação”, veio mostrar aos israelitas que Deus não somente é o Senhor, mas também é o Salvador, um Deus que ama o Seu povo e que, além do Seu senhorio, quer providenciar a salvação, o escape de Seu povo.
O ministério de Eliseu é pontuado pela manifestação da compaixão divina, pelo livramento das dificuldades, pelo atendimento das necessidades do povo.
Ao seguir os passos de Elias, ao dar continuidade ao que Elias estivera a fazer, inclusive realizando em dobro tudo quanto Elias fez, o profeta já é uma indicação da continuação do ofício profético em sua nova feição e, portanto, não havia qualquer necessidade de Eliseu ser trasladado para dar este sinal ao povo, que já fora dado pela trasladação de Elias.
– Mas não é só! Ao morrer enfermo, Eliseu mostra, claramente, que o Salvador, o Deus que é salvação, haveria de morrer pela humanidade, de tomar sobre Si todas as enfermidades do povo (Is.53:4,5). O Deus que é dono da vida, que leva um servo Seu sem passar pela morte à glória, será o mesmo Deus que Se fará homem e morrerá em nosso lugar para nos propiciar a salvação.
– A morte de Eliseu não é, portanto, contradição alguma, mas uma revelação a mais que o Senhor dá ao Seu povo a respeito do Seu plano de redenção, um aprofundamento no descortinar do mistério da salvação do homem, que só seria completamente desvelado com o próprio Messias, com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Como se não bastasse isso, Elias e Eliseu, como figuras daqueles homens e mulheres de Deus que atuam em momentos de apostasia espiritual, como é o caso da nossa geração da Igreja, muito provavelmente a última geração da dispensação da graça, também nos mostram que aqueles que combaterem a apostasia espiritual nos dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, terão dois destinos diferentes:
uns, como Elias, serão arrebatados, porque estarão vivos quando da volta do Senhor Jesus para buscar a Sua noiva, serão transformados, sem passar pela morte;
outros, como Eliseu, porém, experimentarão a morte, morrerão combatendo a apostasia antes do retorno do Senhor e, por isso, serão ressuscitados em corpo glorioso para, então, encontrar com os vivos transformados nos ares, para, então, estarem para sempre com o Senhor (I Ts.4:13-17).
– Vemos, portanto, que, ao contrário do que possa parecer, a morte de Eliseu está perfeitamente coerente com todo o significado dos ministérios de Elias e de Eliseu e até na sua morte, Eliseu mostra ter continuado o ministério de Elias.
– A morte representa o fim de todas as coisas. Conhecida é o brocardo jurídico latino “mors omnia solvit” (Novellae 12,20), ou seja, “ a morte dissolve tudo”, “a morte põe fim a tudo”. Assim, com a morte de Eliseu, era de se esperar que seu ministério tivesse findado, ainda que, como já temos dito, o ofício profético teria continuidade através de outras pessoas.
– A trasladação de Elias havia deixado no povo de Israel, a partir dos próprios filhos dos profetas que testemunharam a abertura do rio Jordão por Eliseu, a nítida certeza de que o ministério de Elias havia prosseguido, agora através de Eliseu.
– Eliseu, pouco antes de morrer, havia tido a nítida percepção, através da fragilidade da fé de Jeoás, que também o ofício profético teria prosseguimento a partir de sua morte, o que, certamente, transmitiu aos filhos dos profetas que estavam sob a sua direção.
– No entanto, para o povo em geral, a morte de Eliseu poderia significar a crença de que o ofício profético havia findado.
Afinal de contas, Eliseu não tinha deixado sucessor, como acontecera com Elias. A morte de Eliseu, enquanto tal, pareceria como um indicador do fim daquele período de manifestação de Deus através de profetas e poderia o povo deixar de ouvir os profetas que viessem depois.
– O Senhor, então, sabedor de que o povo de Israel precisava de sinais para ter fortalecida a sua esperança messiânica (cfr. Lc.11:16,29; I Co.1:22) e, mais do que isto, pudesse, por meio dos profetas que ainda seriam levantados, ter meios para manter viva tal esperança e prosseguir aguardando o Messias, não deixou que a morte de Eliseu tivesse este condão de término de tudo, de extinção de tudo.
– Pelo contrário, tendo Eliseu morrido e sido sepultado, ocorreu que, na entrada do ano, um grupo de israelitas estava se preparando para enterrar um homem, quando vieram um bando de moabitas que, naquela época, costumavam a invadir a terra de Israel, certamente para realizar alguns roubos.
– Diante da percepção que estes bandidos vinham, querendo refugiar-se daqueles marginais, os israelitas jogaram o corpo do homem no túmulo de Eliseu, a fim de que pudessem escapar daquele bando.
Aquele homem, então, ao tocar nos ossos do profeta, ressuscitou (II Rs.13:21), o que foi notório a todo o povo.
– Mediante este sinal, o Senhor estava a mostrar a todos os israelitas que o ministério de Eliseu prosseguia mesmo após a sua morte, que o ofício profético ainda estava vivo, apesar da morte daquele homem de Deus.
Por meio da morte, portanto, Deus dava a mesma mensagem que dera ao povo através da trasladação de Elias: a continuidade do ofício profético, agora oficialmente o único meio pelo qual o povo teria revelações progressivas de Deus, manteria a sua esperança messiânica.
– Mediante este sinal, também, o Senhor confirmava a “porção dobrada” dada a Eliseu, conforme pedira no instante da trasladação do profeta Elias (II Rs.2:9-12).
Até a sua morte, Eliseu havia feito apenas 13 milagres, contra 7 milagres que haviam sido realizados por Elias. Com este milagre póstumo (ou seja, após a morte), Eliseu completava 14 milagres, exatamente o dobro dos sinais feitos por Elias, mostrando, pois, toda a fidelidade do Senhor.
– Mediante este sinal, o Senhor também, uma vez mais, mostrava a Israel e a nós que nossos ministérios são maiores do que as nossas pessoas.
Eliseu já havia morrido, mas seu ministério prosseguia, a ponto de se realizar um milagre póstumo.
Portanto, temos aqui uma demonstração cabal de que o bordão “enquanto você tem promessa de Deus, você não morre”, tão comumente anunciado em nossos púlpitos, é uma inverdade, não tem base bíblica.
A promessa da “porção dobrada” dada a Eliseu se cumpriu após a sua morte. O compromisso do Senhor é com a Sua Palavra (Jr.1:12), não com a nossa existência terrena, que é passageira e fugaz, enquanto que a Sua Palavra permanece para sempre (I Pe.1:24,25). Lembremos disto, amados irmãos!
– O que o Senhor mostrou ao povo de Israel com a trasladação de Elias, ou seja, a continuidade do ofício profético até a vinda do Messias, mostra igualmente através da morte e deste milagre póstumo de Eliseu.
Ao ser trasladado, Elias mostrou que o trabalho de Deus de restaurar o povo prosseguia em Israel, assim como Eliseu, ao morrer e fazer um milagre mesmo depois de morto, também indicava ao povo que o trabalho de Deus continuava apesar de seu passamento.
De formas absolutamente contraditórias, o Senhor estava a dizer a mesma coisa, a nos mostrar que não podemos jamais reduzir Deus à lógica humana.
Temos, pois, tão somente de confiar em Deus e seguir-Lhe a direção, sabendo que Seus pensamentos e caminhos são muito mais altos que nossos pensamentos e caminhos (Is.55:8,9).
– O milagre póstumo de Eliseu também mostrava que o povo deveria aguardar a realização de sinais como elemento comprovador da presença do Messias, Aquele que traria a efetiva restauração espiritual do povo.
Elias havia sido trasladado, Eliseu morrera, mas haveria de vir um profeta como Moisés, a quem os israelitas deveriam ouvir, um profeta que não só traria mensagens de Deus, mas também operaria sinais e prodígios.
– Desde este milagre póstumo de Eliseu, não teremos mais notícia de sinais ou maravilhas realizados por profetas.
Deus continuou a operar no meio do Seu povo, mas os profetas apenas traziam mensagens e profecias, sem realizar sinais ou prodígios.
Os sinais produzidos por Elias e Eliseu haviam sido suficientes para impedir a apostasia total do povo, para a constituição de um sólido, ainda que diminuto, remanescente fiel, mas a nação não havia obtido ainda a restauração espiritual completa e perfeita.
– Somente com Jesus Cristo os sinais e prodígios reapareceriam no meio do povo de Israel. Até mesmo João Batista, o precursor do Messias, não realizou sinal algum, apesar do grande poder com que foi usado pelo Espírito Santo para levar o povo ao arrependimento (Jo.10:41,42).
– A presença de sinais e maravilhas no ministério do Senhor Cristo, portanto, foi a autenticação de que Jesus era o Cristo, o Messias prometido, mas, mesmo assim, o povo de Israel não O recebeu (Jo.1:12), abrindo-se, pois, a oportunidade para os gentios.
– Nós, como discípulos de Cristo, como membros do Seu corpo, temos de prosseguir com a realização de sinais e maravilhas, pois isto é uma demonstração a todos de que Jesus é o Cristo, o Messias, Aquele que havia de trazer a restauração espiritual não só de Israel, mas de todas as nações.
– Por isso, vendo as características de Elias e de Eliseu, homens sujeitos às mesmas paixões que nós, mas que, num período de apostasia extrema, aceitaram a chamada divina e impediram que o povo se perdesse totalmente, mantendo viva a esperança messiânica e dando um novo norte ao ofício profético, que passou a ser um elemento de manutenção de um remanescente fiel que mantivesse a identidade do povo de Israel até a chegada do Messias.
– Em nossos dias, o Senhor também está a chamar Elias e Eliseus que venham combater a apostasia espiritual e manter um remanescente fiel que possa aguardar o Messias, que virá buscar a Sua Igreja antes do juízo que virá sobre a Terra.
Estamos dispostos a atender este chamado? Será que teremos um ministério de poder para toda a Igreja? Que Deus nos permita responder afirmativamente. Amém!
Ev. Caramuru Afonso Francisco