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LIÇÃO Nº 7 – O PERIGO DA MURMURAÇÃO

INTRODUÇÃO

-Na sequência da reflexão da vida cristã como “o Caminho”, trataremos da murmuração.

-A murmuração pode nos impedir de chegar ao céu.

I – O QUE É A MURMURAÇÃO

-Prosseguindo o estudo da vida cristã como “o Caminho”, abordaremos a questão da murmuração.

-Eufrosyne Katsberg (1900-1988) e Emílio Conde (1901-1971), autores do hino 302 da Harpa Cristã, iniciam este poema dizendo: “No mundo, murmura-se tanto, entre os cristãos dizem ser; em vez de louvores há pranto, fraqueza em lugar de poder. Murmuram — assim no deserto, em Mara, Israel murmurou. Oh, não veem que Deus está perto, jamais Seu auxílio negou”.

-Neste poema, os poetas já identificam, de pronto, que a murmuração não é algo que se deveria encontrar em que os que se dizem cristãos, sendo uma demonstração de pranto, fraqueza, sensação injustificada e sem base de lonjura de Deus e descrença na ajuda divina.

-A palavra “murmurar” surge no texto sagrado relacionado com as reações que tiveram os israelitas em sua jornada pelo deserto. Em Ex.15:24, temos a primeira “murmuração”, precisamente em Mara, como mencionado por Emílio Conde em seu poema, quando, após três dias de jornada no deserto, após terem atravessado o Mar Vermelho, ao encontrarem águas, elas eram impróprias para beber.

-A palavra aqui empregada é a palavra hebraica “lûn” (לון) ou “lin” (לץ), “…parar normalmente toda a noite); (por implicação) ficar permanentemente; donde (num mau sentido) ser obstinado (especialmente em palavras, queixar-se):— permanecer (a noite toda), continuar, habitar, suportar, resistir, passar a noite, ser deixado, ficar toda a noite, (fazer) alojar (-se, a noite toda, esta noite), (fazer) murmurar, ficar, demorar-se (a noite toda, aquela noite)…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 3885, p.1721).

-O que se percebe por esta palavra, que há uma “parada”, uma “permanência” e “durante toda a noite”. “Murmurar” é, pois, manter-se numa posição, num estado de escuridão, uma obstinação que foge à luz. Ora, sabemos que “Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas” (I Jo.1:5) e, portanto, a “murmuração” nada mais é que uma recusa a ir ao encontro de Deus, uma persistência em se manter distanciado do Senhor.

-Trata-se de uma atitude de quem, julgando ter o poder de decidir ou opinar sobre algo, de fazer uma apreciação independentemente de Deus ou da ação divina, entende que algo está errado e que precisa

ser mudado pelo Senhor. É um inconformismo com alguma atitude tomada por Deus, como se o Senhor não fosse o Ser Supremo, o Soberano, Aquele que é Todo-Poderoso.

-A murmuração, portanto, é resultado de uma insubmissão aos desígnios divinos, uma consideração de que algo está errado e tem de ser alterado por Deus, um inconformismo.

-A primeira manifestação de murmuração dos filhos de Israel foi uma contestação ao caminho determinado por Deus para ir a Canaã. O texto sagrado é explícito em dizer que, aparentemente, o caminho mais fácil seria o “caminho da terra dos filisteus”, ou seja, a ida a Canaã na faixa litorânea do Mar Mediterrâneo, mas determinou que se tomasse o “caminho do deserto” (Ex.13:17,18).

-A murmuração do povo, porque não encontraram, em Mara, águas para beber depois de três dias de jornada, era uma consideração de que Deus os guiara pelo caminho errado, que não era certo o que Deus estava a fazer. É esta a verdadeira essência da murmuração – uma queixa diante de uma determinação divina.

-Ora, sabemos que dois não andam juntos se não estiverem de acordo (Am.3:3) e alguém que viva a murmurar, a sempre discordar do que Deus fez ou mandou, naturalmente não poderá andar junto com o Senhor e, como sabemos que quem não anda com o Senhor não chegará aos céus, já percebemos que a murmuração nos priva da vida eterna.

-A murmuração não é, pois, atitude própria de um filho de Deus, porquanto os filhos de Deus são guiados pelo Espírito Santo (Rm.8:14) e o Espírito nunca fala de Si mesmo, mas diz tudo o que tem ouvido e nos anuncia o que há de vir, glorificando a Cristo (Jo.16:13,14).

-Deste modo, evidentemente, quem é guiado pelo Espírito Santo jamais questiona ou se insurge contra uma determinação divina, pois o Espírito tão somente nos orienta a obedecer e a seguir o que Cristo nos diz.

-Toda e qualquer murmuração, portanto, é uma atitude que se faz fora da orientação do Espírito Santo, daí porque Emílio Conde ter dito que os murmuradores são sedizentes cristãos, mas, ao murmurarem, não estão a se comportar como tal.

-O nosso maior exemplo é o Senhor Jesus, que jamais murmurou, tendo, inclusive, nos momentos mais cruciantes de Sua paixão e morte, nem sequer aberto a Sua boca (At.8:32).

-Como podemos ser “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”, “pequenos cristos” murmurando? Impossível.

-Mas a murmuração, também, é uma demonstração de pranto. O murmurador é alguém que vive “chorando as mágoas”, reclamando da situação, lamentando, queixando-se das circunstâncias.

-Ora, ainda que seja certo que, enquanto estivermos nesta peregrinação terrena, teremos aflições, dores e razões para chorar, o fato é que, uma vez alcançando a salvação, somos envolvidos pela “alegria da salvação” (Sl.51:12) e a qualidade do fruto do Espírito que se segue ao amor, derramado em nós pelo Espírito Santo (Rm.5:5) é, precisamente, o gozo, ou seja, a alegria (Gl.5:22).

-Esta alegria advinda da salvação não depende das circunstâncias, porque é resultado de nossa comunhão com Deus e nada nos separa do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.8:35-39).

-Assim, quando se tem uma murmuração, fica evidente que a pessoa já não está mais a sentir a alegria da salvação, não mostra estar em comunhão com o Senhor, passando a se conduzir conforme as circunstâncias. O resultado disto é a tristeza, o pranto, o desalento. Como diz o proverbista: “Até no riso terá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza” (Pv.14:13).

-Mais um sinal de que o murmurador está afastado de Deus, está se distanciando de Cristo, Aquele que foi ungido “com óleo de alegria, mais do que a Seus companheiros” (Sl.45:6,7; Hb.1:9) e que, por isso mesmo, pode nos dar alegria, pois, como afirmou o grande compositor Johann Sebastian Bach (1685-1750) no título de uma de suas obras mais famosas: Jesus é a alegria dos homens.

-Quem está a murmurar, pois, está sem a companhia de Jesus, d’Ele se afastou.

-Também por isso é dito que a murmuração é uma demonstração de fraqueza espiritual. Se nos opomos ao Senhor, se O questionamos na nossa queixa, evidentemente nos afastamos d’Aquele que é “nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl.46:1) e o resultado disto é evidente enfraquecimento espiritual do murmurador, pois ele se distancia do “Deus Forte” (Is.9:6).

-Pouco antes do episódio de Mara, Moisés, em seu cântico, que nada mais é que uma mensagem divina trazida ao povo, algo que veio diretamente da parte do Senhor, o líder de Israel afirmou: “O Senhor é a minha força e o meu cântico; Ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto, Lhe farei uma habitação; Ele é o Deus de meu pai; por isso, O exaltarei” (Ex.15:2).

-Percebe-se, portanto, que quem trilha no caminho da salvação não pode ser um murmurador, porque tem em Deus a sua força e o seu cântico, não podendo, pois, viver em pranto e tristeza, nem tampouco revelar uma fraqueza espiritual que é o que se mostra quando se murmura.

-Quando temos Deus como nossa força, nós não reclamamos d’Ele nem O questionamos, mas tão somente O exaltamos, como diz Moisés. Passamos a adorá-l’O, a ser a Sua habitação, porque Lhe obedecemos e Lhe fazemos a vontade.

-Mas, ainda vendo a feliz constatação do poema de Emílio Conde, observamos que a murmuração é, também, a sensação infundada de que Deus está longe.

-Esta sensação é infundada porque o Senhor está perto daqueles que O invocam em verdade (Sl.145:8), como também daqueles que têm o coração quebrantado e contrito (Sl.34:18). Jesus prometeu estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20) e o Espírito Santo está conosco e habita em nós (Jo.14:17), como também o Pai e o Filho fazem morada em nós (Jo.14:23).

-Como, então, entender que Deus está longe de nós, que está a nos desprezar e a nos desconsiderar, a ponto de d’Ele nos queixarmos, o que nada mais é senão murmuração?

-E, ainda que Deus estivesse longe (que não é o caso), não disse o Senhor que é tanto Deus de perto como Deus de longe (Jr.23:23)?

Assim, ainda que não O consigamos ver, temos de ter a convicção de que Ele está perto de nós e que devemos, em vez de murmurar, que é nada mais, nada menos, que nos distanciarmos d’Ele, buscarmos nos achegar mais ao Senhor, pois, como diz o salmista Asafe: “Mas, para mim, bom é aproximar- me de Deus; pus a minha confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as Tuas obras” (Sl.73:28).

-A murmuração é, ainda, uma demonstração de dúvida quanto à ajuda divina. Quem murmura não está a achar que Deus lhe virá em auxílio, antes se acha desemparado e abandonado pelo Senhor por causa da circunstância adversa em que está a passar.

-Foi o que ocorreu em Mara. Depois de três dias sem água, ao chegaram àquelas águas amargas, os filhos de Israel passaram a reclamar dizendo: “Que havemos de beber?” (Ex.15:24), não tendo sequer pedido a Moisés que intercedesse por eles a Deus, já que não pensaram em clamar ao Senhor.

-Nem se diga que o povo não tinha como clamar a Deus, pois ali estavam aqueles mesmos que, diante da dureza da servidão do Egito, haviam clamado ao Senhor e o seu clamor havia sido ouvido nos céus a ponto de o Senhor ter ido até o monte Horebe e chamado Moisés para que fosse libertar o povo (Ex.3:7-10).

-Por isso, bem diz o poeta que Deus “jamais Seu auxílio negou”, pois Ele é Aquele que está pronto para ajudar a todos quantos ninguém o faz, Como diz o salmista (que alguns entendem ser Salomão, outros ter sido um salmo feito por causa da subida ao trono de Salomão):

“Porque Ele livrará ao necessitado quando clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude. Compadecer-se-á do pobre e do aflito e salvará a alma dos necessitados” (Sl.72:12,13).

-A propósito, foi bem isso que aconteceu com o sábio rei Salomão que, após ter se desviado espiritualmente, teve a benignidade do Senhor a seu favor (II Sm.7:14,15), como nos mostra o livro de Eclesiastes, escrito após a sua restauração espiritual.

II – A SITUAÇÃO ESPIRITUAL DO MURMURADOR

-Na sequência do poema (hino 302 da Harpa Cristã), o poeta diz que o irmão que murmura vive como “um escravo do mal”. Já dissemos que o murmurador é alguém que não está a se comportar como um filho de Deus, vez que não é guiado pelo Espírito Santo.

-A atitude de murmuração traz, como dissemos, um inconformismo, uma insubmissão com a situação, uma constatação de que “Deus está errado”. Ora, o que é isso senão a adoção da mentira satânica de que podemos viver independentemente do Senhor, sabendo o bem e o mal? (Cf. Gn.3:5).

-Quando questionamos o que Deus está a fazer, murmurando, estamos nos pondo no lugar de Deus, demonstrando uma autossuficiência e uma soberba que são típicas de quem recusa glorificar o nome do Senhor.

-Tal característica é, precisamente, a dos ímpios e incrédulos apresentados pelo apóstolo Paulo no início da sua epístola aos romanos, onde afirma que “…a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça” (Rm.1:18) se revela quando os homens “…tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm.1:21,22).

-Diante deste quadro, vemos que a murmuração nos leva a um estado de inimizade contra Deus, torna- nos ímpios e incrédulos, que é precisamente a situação do “escravo do mal”, daquele que existe única e exclusivamente para viver na prática do pecado e satisfazer os desejos do diabo (I Jo.3:8; Jo.8:44).

-Ainda que estejamos a passar por situações de imensa aflição e dor, como diz o poema, não temos razão para murmurar.

Sabemos que não é fácil andar três dias e não encontrar água, como ocorria com os filhos de Israel no início da jornada no deserto, mas eles deveriam confiar em Deus e saber que não estavam desamparados, tanto que haviam atravessado a seco o Mar Vermelho, e isto há apenas três dias antes, estando o Senhor mostrando Sua presença fisicamente com a nuvem e a coluna de fogo.

-Em nossa peregrinação terrena, temos, sim, aflições. Vejamos os grandes percalços e adversidades sofridos pelo apóstolo Paulo ao longo de seu ministério (II Co.10:23-28), mas, apesar de tudo isto, o apóstolo continuava sua caminhada, tanto que disse aos anciãos de Éfeso que não tinha a sua vida por preciosa e que seu alvo era cumprir com alegria o ministério que havia recebido do Senhor Jesus (At.20:24).

-Os filhos de Israel já tinham visto o poder de Deus, pois o Senhor os tirou do Egito “… com mão forte, e com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com milagres” (Dt. 26:8), de modo que não poderiam murmurar, mas, sim, clamar ao Senhor para que cessasse aquela sede, pois já se havia mostrado o poder de Deus sobre as águas.

-Como se isto fosse pouco, toda esta demonstração de poder havia sido não para libertar o povo da servidão do Egito, mas para levá-lo à terra de Canaã, como prometido aos patriarcas, de modo que não havia como se

achar que aquela sede, por maior que fosse, significaria a morte, já que o propósito de Deus era levá-los para Canaã.

-A murmuração é um “falar de Deus”, ou seja, a pessoa que murmura em vez de se dirigir ao Senhor, de Lhe clamar, de fazer uma oração, passa a reclamar ao próximo, ao semelhante do que está acontecendo, culpando ao Senhor, explícita ou implicitamente.
-Entretanto, o que temos a fazer, num momento de dificuldade, não é “falar de Deus”, mas, sim, “falar com Deus”. Foi assim que os israelitas haviam feito diante da escravidão no Egito, sendo atendidos.

-Por isso mesmo, o hino 302 da Harpa Cristã afirma “E mesmo se as ondas rugirem no revolto e bravio mar, os céus poderás ver se abrirem se um hino tua alma cantar. Não temas ciladas, nem morte, pra cima tu deves olhar, o leme segura bem forte até do céu a luz raiar” (quarta estrofe).

-Devemos “olhar para cima”, “falar com Deus”, clamar a Ele, orar, enfim, até reforçando a oração com jejum, em vez de ficarmos a murmurar e a “falar mal de Deus” para o próximo.

-O Senhor Jesus, ao anunciar os tempos difíceis que caracterizariam os últimos dias da Igreja sobre a face da Terra, o “princípio de dores” (Mt.24:8), disse que os discípulos, diante destas adversidades, deveriam “olhar para cima e levantar as suas cabeças porque a sua redenção estaria próxima” (Lc.21:28).

-Nosso Senhor e Salvador, portanto, já mostra que o único caminho plausível para um discípulo Seu, nos momentos adversos da vida, é o de “olhar para cima”, de “falar com Deus”, nunca murmurar.

-Este “olhar para cima” também nos faz ver que a murmuração é uma visão absolutamente horizontal, terrena, mundana, que apenas verifica o que “há debaixo do sol”.

Trata-se, pois, de uma postura que desconsidera e despreza o sobrenatural, o que está além do que se pode ver ou tocar. O murmurador é, pois, na essência, um materialista, alguém que não consegue ter um olhar para a eternidade.

-Esta falta de visão e de consciência do alvo que está reservado a cada ser humano na vontade divina é bem evidenciada em outro episódio de murmuração do povo de Israel. Em Nm.14:2, é dito que todos os filhos de Israel murmuraram depois que tiveram o relato desanimador dos dez espias.

-Estes dez espias, que haviam ido até Canaã e lá passado quarenta dias para ver e trazer informações sobre a terra, não tinham “o olhar de cima”.

Embora tivessem confirmado a veracidade do que Deus havia dito a respeito da terra, que era, realmente, uma terra que manava leite e mel, impressionaram-se com os gigantes que lá viviam, como também com as defesas daqueles povos, e se sentiram como “gafanhotos” diante deles (Nm.13:27-29).

-Calebe, porém, destoou deles, procurando animar o povo, dizendo que Deus os haveria de dar a vitória (Nm.13:30). Calebe “olhou para cima”, lembrou-se de que estavam ali para entrar na Terra de Canaã e que Deus, que os havia tirado do Egito e os sustentava naquele deserto, certamente lhes permitiria ocupar a Terra Prometida, de modo que não havia o que temer.

-De igual maneira, estamos indo para a Canaã celestial, o Senhor Jesus conquistou-nos no Calvário o perdão dos nossos pecados e fomos libertados do maligno, estando a caminhar rumo ao céu. Não há porque acharmos que as dificuldades que se nos apresentarem terão o condão de nos impedir de chegar lá.

-Ainda que venhamos a sofrer a morte física por causa de nossa fé, o martírio, como ocorreu com Estêvão, isto jamais nos impedirá de entrarmos nos céus. A propósito, Estêvão viu os céus abertos e o Senhor Jesus à sua espera (At.7:56).

-Cristo foi bem claro ao dizer que não devemos temer quem pode matar o corpo, mas, sim, quem pode mandar alma e espírito para o lago de fogo e enxofre (Mt.10:28).

-O resultado desta murmuração foi a perda da promessa. Todo o povo que murmurou, a começar dos dez espias, não pôde entrar na Terra Prometida, morreram no deserto, a começar dos dez espias que morreram logo em seguida ao juízo divino (Nm.14:21-30,36,37).

-A murmuração é um elemento que nos faz perder a entrada em Canaã, o que, para nós, representa a perda da vida eterna, a perdição. Que Deus nos guarde!

-Além do mais, sabemos que as adversidades são inevitáveis neste mundo em que estamos. O Senhor nos disse que, neste mundo, teríamos aflições (Jo.16:33), e o sábio Salomão nos ensina que o dia da adversidade também foi feito por Deus, assim como o dia da prosperidade (Ec.7:14) e isto para que nós entendamos que tudo aqui é passageiro e que aqui não é o nosso descanso.

-Em sendo assim, não há porque nos abalarmos nem perdermos a confiança em Deus nos instantes adversos, pois eles têm um propósito divino e Deus nunca quer o nosso mal, mas sempre o nosso bem, pois toda boa dádiva vem d’Ele (Tg.1:17).

-Verdade é que isto se dá plenamente quando estamos diante da “provação”, que é, precisamente, a adversidade planejada pelo próprio Senhor visando o nosso crescimento espiritual.

-A provação tem sempre o propósito de nos edificar e, em sendo provados, somos aprovados pelo Senhor e galgamos posição espiritual mais elevada. Por isso, Paulo afirma que as tribulações geram paciência e a paciência, experiência, e a experiência, esperança, que não traz confusão (Rm.5:3-5).

-No mesmo sentido, Tiago, o irmão do Senhor, ensina-nos que devemos ter grande gozo quando caímos em provações, porque a prova da nossa fé opera a paciência e a paciência, a obra perfeita (Tg.1:3,4), ou seja, é a provação um meio para que nos aproximemos da perfeição.

-Pedro repete este ensino ao dizer as várias provações faz com que nossa fé seja como o ouro provado pelo fogo, ou seja, nossa fé, por causa das adversidades, torna-se mais pura e valiosa (I Pe.1:6,7).

-O próprio Jesus Cristo, no sermão do monte, também nos mostrou que somos bem-aventurados quando somos injuriados e perseguidos e, mentindo, disserem todo o mal por causa de nossa fé no Senhor, e devemos nos exultar e nos regozijar por causa destas circunstâncias, pois é grande o nosso galardão nos céus (Mt.5:11,12).

-Sabemos que um comportamento desta natureza não pode ser produzido por nós mesmos. O ser humano, com a sua natureza decaída, é egoísta e avesso a toda e qualquer contrariedade. Mas é exatamente por isso que o salvo consegue praticar esta atitude, porque não é mais ele quem vive, mas Cristo que vive nele (Cg. Gl.2:20).

-A murmuração é um sinal de que não mais nos encontramos crucificados com Cristo, de que nossa nova natureza não está mais ativa e, por conseguinte, passamos a viver em função do nosso ego, da nossa carne e, em vez de suportarmos a adversidade, começamos a reclamar de Deus.

-Mas, pode alguém indagar, e se a adversidade provier de uma tentação, ou seja, de uma ação maligna, seja diretamente pelo diabo, seja mediante o mundo, sistema dominado por Satanás, ou, mesmo, mediante o atiçar de nossa natureza pecaminosa.

-Quando tentados, o caminho a seguir é o da sujeição a Deus e resistência ao diabo, que, então, fugirá de nós (Tg.4:7). Nos momentos em que somos tentados, devemos nos humilhar debaixo da potente mão de Deus,

reconhecer a nossa fragilidade e corrermos para o esconderijo do Altíssimo à sombra do Onipotente, para podermos descansar (Cf. Sl.91:1), pois Ele é o nosso refúgio e fortaleza e debaixo de Suas asas estaremos seguros (Sl.91:2), quem nos livra do laço do passarinheiro e da peste perniciosa (Sl.91:3).

-O caminho da sujeição e da humildade é diametralmente oposto ao da murmuração, pois, como já vimos, a murmuração é uma queixa diante de Deus, um questionamento que, evidentemente, nada tem de submissão ou humilhação.
-Todavia, alguém pode perguntar: e se a adversidade é consequência dos nossos próprios erros, resultado da lei da ceifa, a colheita daquilo que plantamos. Teria aqui lugar a murmuração?

-Nem mesmo nesta hipótese pode alguém murmurar. Como disse o profeta Jeremias em seu lamento pela destruição de Jerusalém: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados” (Lm.3:39).

-Notemos que, numa situação destas, devemos lamentar os nossos erros, sentir tristeza pelos pecados cometidos e termos a consciência de que o que estamos a passar é de nossa única e exclusiva culpa, devendo, inclusive, tomar atitudes em relação a tais circunstâncias assumindo nossa responsabilidade.

-Ora, isto é efetivamente o contrário da murmuração. Quando lamentamos os nossos pecados, reconhecemos os nossos erros e louvamos ao Senhor pela Sua justiça. Estamos a penar por causa da justiça divina, que não tem o culpado por inocente e que tem Seus caminhos na tormenta (Na.1:2,3).

-Além do reconhecimento da justiça divina, também devemos louvar ao Senhor pela nossa redenção, pois, se estamos a colher o que de mal fizemos ao próximo, estamos, porém, livres da condenação eterna, porque Jesus tomou o nosso lugar e morreu por nós pecadores, dando-nos, agora, a vida eterna.

-Deste modo, embora estejamos a pagar o preço de nossos erros, este pagamento está limitado a esta vida, porque, em relação à eternidade, Jesus já pagou o preço e não temos senão que servi-l’O e obedecer-Lhe para chegar às mansões celestiais.

-Davi bem nos demonstra isto, quando não permite que Simei fosse morto pela sua guarda, quando começou a amaldiçoar e a afrontar o rei, quando este fugia do seu filho Absalão, que o havia destronado, exatamente porque sabia que tudo que estava a passar era consequência de seus erros passados, em especial o adultério e homicídio praticados no caso de Bate-Seba, a mulher de Urias (II Sm.16:5-12).

-Assim, diante das adversidades, como bem disse o poeta no hino 302 da Harpa Cristão, não temos razão para murmurar, seja qual for a natureza da adversidade.

III – EM VEZ DE MURMURAR, LOUVAR E AGRADECER A DEUS

-O poeta do hino 302 da Harpa Cristã contrapõe a murmuração ao louvor, dizendo, no estribilho, que, em vez de murmurar, devemos cantar um hino de louvor a Deus, pois o Senhor nos quer dar vida santa, qual noiva levar-nos para o céu.

-Mais uma vez, temos o contraste entre a passagem do Mar Vermelho e o episódio de Mara. Após o grande milagre ocorrido, Moisés proferiu um cântico, o seu primeiro cântico, a demonstrar a presença do Senhor na sua vida, pois sabemos que os cânticos no texto sagrado são verdadeiras mensagens proféticas.

-Como se isto fosse pouco, Miriã, a profetisa, aquela que fora usada por Deus desde 80 anos antes da libertação, como instrumento divino para a formação de Moisés, seu irmão, também canta e dança, reunindo as mulheres para também louvar ao Senhor.

-Três dias depois, porém, em vez de canto, temos a murmuração do povo em Mara. Em pouquíssimo tempo, o povo já se esquecera do grande milagre e questionava ao Senhor.

-Desde já verificamos que, para evitar a murmuração, é mister que tenhamos uma “grata memória”, que nunca nos esqueçamos dos benefícios que nos deu e dá o Senhor (Sl.103:2; 116:12).

-Não foi à toa que o Senhor Jesus instituiu a ceia do Senhor. Através dela, nós fazemos memória d’Ele (I Co.11:24,25), e somos lembrados do benefício que Ele nos proporcionou morrendo por nós na cruz do Calvário e, deste modo, podemos agradecer ao Senhor pela nossa salvação e por estarmos caminhando para os céus.

-A lembrança daquilo que Deus fez e faz por nós é um forte antídoto contra a murmuração, pois isto nos proporciona alegria, a alegria da salvação. Em Is.12, vemos como a lembrança da salvação produz alegria e a alegria traz, necessariamente, o canto, o louvor a Deus (Tg.5:13).

-A lembrança dos benefícios dados a nós pelo Senhor desperta-nos um sentimento de gratidão e a gratidão é consequência da habitação da paz de Deus em nós (Cl.3:15), lembrando que “paz” é muito mais que ausência de conflito, é a verdadeira “integração”, “comunhão” entre Deus e os homens, o significado da palavra hebraica “shalom”.

-Mais uma vez vemos que a atitude da murmuração é um afastamento entre o homem e Deus, a criação de um hiato que separa a criatura do seu Criador, uma vez que o “cantar louvores” é expressão de gratidão que, por sua vez, é consequência da “paz de Deus”, ou seja, da “comunhão”, porque a “paz de Deus” exsurge quando temos a “paz com Deus”, obtida mediante a nossa fé em Cristo Jesus (Rm.5:1).

-A gratidão é o reconhecimento de um benefício e está, naturalmente, relacionada com a graça de Deus que se manifestou trazendo salvação a todos os homens (Tt.2:11). A alegria da salvação traz-nos a gratidão e, por isso, procuramos sempre ser agradáveis ao Senhor pelo bem que nos fez e faz.

-Bem por isso, o apóstolo dos gentios afirma que, nos últimos dias, dias de multiplicação da iniquidade segundo o Senhor Jesus (Mt.24:12), sobreviriam tempos trabalhosos e uma das marcas das pessoas seria a ingratidão (II Tm.3:1,2).
-A murmuração é uma expressão de ingratidão, ou seja, uma manifestação de desagrado com Deus, o que, evidentemente, não é conduta que se possa esperar de quem é filho de Deus.

-O que deve fazer o servo de Cristo é repetir as palavras do poeta traduzido/ adaptado pelo pastor Paulo Leivas Macalão no hino 370 da Harpa Cristã: “Ó meu Senhor, dá mais gratidão, por tudo que Tu fizeste por mim, por Tua graça no meu coração, que me encheu de ventura sem fim! Mais grato a Ti, mais grato a Ti, mais consagrado, ó faz-me, Senhor, mais humilhado e cheio de amor, faz-me mais grato a Ti, mais grato a Ti” (primeira estrofe e estribilho).

-Neste poema, vemos, com nitidez, que a salvação pela graça é o motivo impulsionador de toda a gratidão e esta gratidão faz com que busquemos mais e mais agradar ao Senhor, aproximar-Se d’Ele, o que nada mais é que nossa santificação progressiva e nosso crescimento espiritual.

-Bem por isso o salmista afirma que, em gratidão, pois não se esquece dos benefícios do Senhor, toma o cálice da salvação, invoca o nome do Senhor e paga seus votos ao Senhor na presença de todo o seu povo (Sl.116:13).

-Tomar o cálice da salvação é submeter-se aos momentos de aflição e de dor que decorrem de nossa vida de conformidade à vontade do Senhor neste mundo que está no maligno. Lembremos do cálice que teve de beber Jesus Cristo, como vemos em sua agonia no Getsêmane (Mt.26:39; Mc.14:36; Lc.22:42; Jo.18:11).

-A propósito, ante o pedido dos filhos de Zebedeu (Tiago e João), o Senhor Jesus apenas garantiu que eles tomariam o cálice, mas não que se assentariam ao lado d’Ele no Seu reino (Mt.20:23; Mc.10:39).

-O seguimento a Jesus exige esta atitude, pois Nosso Senhor e Salvador disse que ninguém pode ir após Ele se não tomar a cruz (Mt.,16:24; Mc.8:34) e “tomar a cruz” é o mesmo que “tomar o cálice”.

-A gratidão, além de nos levar a tomar o cálice da salvação, também nos faz invocar o nome do Senhor. A invocação ao nome do Senhor é o ato que nos faz ser salvos (Jl.2:32; At.2:21; Rm.10:13) e, por terem invocado o nome do Senhor é que os descendentes de Sete foram chamados de filhos de Deus (Gn.4:26; Gn.6:1).

-A invocação é o chamado de alguém que pede socorro, é o pedido de ajuda, ou seja, é uma admissão da fragilidade própria e da superioridade do Senhor, exatamente o contrário do que se dá na murmuração, onde há uma assunção de superioridade do homem em relação a Deus.

-A gratidão também faz com que paguemos nossos votos ao Senhor, ou seja, sejamos-Lhe fiéis, cumprindo os compromissos assumidos, vivendo, assim, neste mundo, sóbria, justa e piamente, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas (Tt.2:12).

-Os murmuradores, ao contrário, descumprem o que prometeram e se mostram infiéis a Deus, como ocorreu com os filhos de Israel que, deliberadamente, resolveram retornar ao Egito tendo outro chefe em lugar de Moisés (Nm.14:2-4; Sl.106:25).

-A gratidão torna-nos cumpridores da Palavra de Deus e, por conseguinte, não somos homens naturais sem discernimento espiritual (Tg.1:22-24).

-A gratidão faz com que este cumprimento da Palavra, esta fidelidade seja notada e percebida por todos os que estão à nossa volta, isto é feito publicamente, e, assim, como verdadeiras luzes do mundo, fazemos com que os homens glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus (Mt.5:14-16).

-Por isso mesmo, nos céus, todos teremos lembrança de tudo o que ocorreu em nossa peregrinação terrena, logicamente sem os sentimentos humanos, pois haverá, nas mansões celestiais, a gratidão, que exige a memória, como vimos, gratidão que será sempre crescente e nos guindará à infinita e sempiterna aproximação a nosso Senhor, naquela unidade em glória que já desfrutam o Pai e o Filho desde a eternidade (Cf. Jo.17:5,22- 24).

-A murmuração priva-nos desta possibilidade, pois é um afastamento de Deus, o rompimento desta unidade perfeita querida por Deus para nós em Cristo Jesus. Por isso, mais do que nunca, “em vez de murmurares, canta um hino de louvor a Deus, Jesus quer te dar vida santa, qual noiva levar-te pra os céus”. Amém!

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10494-licao-7-o-perigo-da-murmuracao-i

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