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LIÇÃO Nº 7 – O POVO DE DEUS DEVE SEPARAR-SE DO MAL

O povo de Deus é santo e um avivamento espiritual jamais se instala onde há convívio
com o pecado.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do período da formação da Comunidade do Segundo Templo para obter lições a respeito do avivamento espiritual, abordaremos a questão da santidade.

– O povo de Deus é santo e um avivamento espiritual jamais se instala onde não há convívio com o pecado.

I – ISRAEL É UM POVO SANTO

– Prosseguindo o período de formação da denominada Comunidade do Segundo Templo, que abrange desde o término do cativeiro da Babilônia até o governo de Neemias e como podemos daí extrair lições sobre o avivamento espiritual, hoje somos convidados pelo saudoso comentarista a refletir a respeito do papel da santidade no avivamento espiritual.

– Santidade é a separação do pecado. É santo aquele que está separado do pecado. O ser humano foi criado sem pecado, reto (Ec.7:29), separado do pecado, tanto que jamais havia experimentado o mal, o que ocorreu apenas quando houve a queda.

– A entrada do pecado na humanidade transformou a separação do pecado em separação de Deus (Is.59:2).

Por isso mesmo, Deus, ao anunciar, no dia mesmo da queda, que iria salvar o homem, disse que esta salvação representaria a inimizade do homem com o maligno, ou seja, retornaria a existir separação entre o mal e o homem (Gn.3:15).

– O Senhor Jesus, o Santo (Lc.1:35), bem demonstra isto ao dizer que o príncipe deste mundo nada tinha n’Ele (Jo.14:30) e é sabido que o mundo está no maligno (I Jo.5:19) e que este maligno ou mal é o próprio Satanás.

OBS: Por sua biblicidade e pertinência, reproduzimos aqui três elucidativos parágrafos do Catecismo da Igreja Católica:

“O último pedido ao nosso Pai aparece também na oração de Jesus: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15).

Diz respeito a cada um de nós pessoalmente, mas somos sempre “nós” que rezamos em comunhão com toda a Igreja e pela libertação de toda a família humana.

A Oração do Senhor não cessa de abrir-nos para as dimensões da economia da salvação. Nossa interdependência no drama do pecado e da morte se transforma em solidariedade no Corpo de Cristo, na “comunhão dos santos”.

Neste pedido, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus.

O “diabo” (“diabolos”) é aquele que “se atira no meio” do plano de Deus e de sua “obra de salvação” realizada em Cristo. “Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,), “Satanás, sedutor de toda a terra habitada” (Ap 12,9), foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda será “liberta da corrupção do pecado e da morte”.

“Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o Gerado por Deus se preserva e o Maligno não o pode atingir.

Nós sabemos que Somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (1 Jo 5,18-19). O Senhor, que arrancou vosso pecado e perdoou vossas faltas, tem poder para vos proteger e vos guardar contra os ardis do Diabo que Vos combate, a fim de que o inimigo, que costuma engendrar a falta, não vos surpreenda.

Quem se entrega a Deus não teme o Demônio. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31).” (§§ 2850-2852 CIC)

Então, para que tenhamos comunhão com o Senhor, para que possamos ser considerados Seu povo, faz-se preciso que estejamos separados do mal, separados do pecado.

– Ao longo da história da humanidade, sempre vemos que só se relacionaram com o Senhor aqueles que se separaram do pecado e do sistema dominado pelo maligno denominado mundo.

No período antediluviano, Enoque andou com Deus e Deus para Si o tomou, perpetuando a separação que já existia entre este profeta e o restante da humanidade de seu tempo (Gn.5:21-24), tendo, também, Noé achado graça aos olhos do Senhor e, por isso, foi separado do restante dos homens, juntamente com sua família, escapando do dilúvio (Gn.6:8, 7:1,23).

– No episódio da torre de Babel, como não houve quem se separasse da rebeldia generalizada, ninguém foi poupado do juízo da confusão das línguas, tendo o Senhor, então, formado uma nova nação, e, para tanto, chamou Abrão, que recebeu uma ordem bem explícita:

sair da sua terra, da sua parentela e da casa do seu pai (Gn.12:1), mais uma vez a demonstrar que a separação era uma exigência prévia para que se pudesse relacionar com Deus.

– Por isso, não surpreende que, ao fazer a proposta para Israel, no monte Sinai, para que ele se tornasse a propriedade peculiar de Deus entre os povos, tenha o Senhor dito que Israel seria povo santo (Ex.19:6) e que, algumas vezes, na lei, tenha o Todo-Poderoso ordenado que Israel fosse santo porque, Ele, o Senhor, era santo (Lv.11:44,45; 19:2; 20:7,26; 21:6).

– O encontro com o Senhor no monte Sinai foi precedido de três dias de santificação (Ex.19:10,11), assim como também foi somente através de uma santificação que o povo ingressou na Terra Prometida, atravessando o rio Jordão (Js.3:4).

– Esta santidade abrangia não apenas a separação do pecado, mas a própria separação dos demais povos. Israel não poderia se misturar com as outras nações, mui especialmente as nações que habitavam a Terra Prometida, que deveriam ser todas destruídas (Nm.33:50-54; Dt.7:1-6).

– O próprio Deus denunciou ao povo que, caso eles mantivessem esses habitantes primitivos no meio deles, eles seriam espinhos nos seus olhos e aguilhões nas suas costas e os israelitas acabariam recebendo o mesmo tratamento que eles (Nm.33:55,56),

tendo o Senhor, ante a desobediência de Israel que poupou alguns deles, acabado por dizer que eles ficariam permanentemente no meio do povo, estando às suas costas e tendo os seus deuses como laço (Jz.2:34).

– Foi exatamente o que ocorreu. Por causa desta convivência e mistura com aquelas nações, Israel caiu na idolatria e na apostasia espiritual, a ponto de terem perdido a posse da Terra Prometida.

– Agora, no retorno à Terra Prometida, o povo judeu deveria tomar todo o cuidado para não repetir o erro anteriormente cometido e é disto que trataremos nesta lição.

II – A “BÊNÇÃO” DA OPOSIÇÃO DOS SAMARITANOS

– Já tivemos oportunidade de estudar neste trimestre que, assim que o povo judeu chegou à Terra Prometida, já houve uma movimentação contrária da parte dos samaritanos, que causou pavor no meio do povo que, então, resolveu ir até Jerusalém e iniciar a reconstrução do Templo levantando o altar e celebrando a Festa dos Tabernáculos (Ed.3:3).

Esta atitude beligerante dos samaritanos com relação à chegada dos judeus à Terra Prometida deve ser interpretada como uma “bênção” para o povo de Deus.

Por primeiro, a movimentação gerou pavor e este pavor impediu que se iniciasse um entorpecimento espiritual, já que, envolvidos com a reconstrução de suas cidades, os judeus haviam deixado para um segundo plano a reedificação do templo, que era a razão de ser pela qual Ciro havia autorizado o retorno dos exilados.

– Agora, desarmados e tendo sabido do desagrado dos samaritanos com a repatriação, os judeus ficaram com medo, apavorados e foram buscar a Deus, aproveitando que se estava no mês sétimo para aproveitar a Festa dos Tabernáculos e levantar o altar, dando início, assim, à reedificação da casa de Deus.

– Tem-se, pois, que o avivamento espiritual que despertara aqueles quase cinquenta mil judeus a voltarem para a Terra Prometida havia se mantido, não perdera a sua intensidade, graças a esta atitude nada amistosa dos vizinhos gentios.

– Simultaneamente, além de manter o despertamento espiritual, a atitude dos samaritanos manteve firme o propósito de não se misturar com os povos vizinhos.

Ficou bem claro que aqueles gentios não tinham qualquer simpatia pelos judeus, queriam o seu mal e, deste modo, não era prudente nem recomendável que houvesse um relacionamento ou comunhão entre Judá e eles.

A separação tornava-se, assim, uma medida natural e o povo se manteria, neste primeiro momento, separado.

– Assim, quando os samaritanos chegaram a Jerusalém e pediram para que construíssem, juntamente com os judeus, o templo, foram prontamente rechaçados pelo governador Zorobabel, pelo sumo sacerdote Jesua (ou Josué) e pelos chefes dos pais, que disseram que não convinha que eles participassem daquela reconstrução e somente os judeus edificariam ao Senhor (Ed.4:3).

– A postura tomada pelas lideranças israelitas era corretíssima. A edificação da casa de Deus somente poderia ser feita pelo Seu povo, sem a participação de quem quer que fosse, máxime de pessoas que entendiam que o Senhor era apenas mais uma divindade, como era o caso dos samaritanos que, embora dissessem que também sacrificavam a Deus, também faziam o mesmo com relação a outras divindades (II Rs.17:41).

– O povo de Deus não pode se unir a outros povos para fazer a obra do Senhor, nem compartilhar de sua fé em Deus com outros que não creem no Senhor. Não é possível comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14)

e jamais se pode edificar a casa de Deus com a colaboração daqueles que não obedecem ao Senhor nem querem se separar do pecado, como era o caso dos samaritanos, que não temiam a Deus nem queriam seguir os Seus mandamentos (II Rs.17:29-34).

– A edificação do povo de Deus em amor (Ef.4:16) exige o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério (Ef.4:12), ou seja, antes de tudo se exige a santidade para que se possa ter o crescimento espiritual e a santidade é, precisamente, a separação do pecado.

– Abrão era conhecido como sendo “o hebreu” e os relacionamentos que mantinha com os demais moradores de Canaã eram relacionamentos que preservavam a independência de cada um, não havia comprometimento entre eles, tanto que estes aliados do patriarca são chamados de “confederados”, ou seja,

pessoas que reservam sua independência e liberdade nas alianças que firmam, a ponto de poderem eles, a despeito de Abrão recusar qualquer despojo de Sodoma, poderem tirar a sua parte (Gn.14:13,23,24).

– Só os santos podem edificar o povo de Deus. Só os santos podem adorar ao Senhor. Só os santos podem realizar a obra do Senhor.

– Em nossos dias, há as propostas do “ecumenismo” e do “diálogo inter-religioso”, que procuram nos levar a adorar a Deus e a realizar a obra do Senhor juntamente com aqueles que não obedecem ao Senhor, que não invocam o nome do Senhor, que não reconhecem o Senhor Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador, como o único mediador entre Deus e os homens, como o Filho do Deus vivo.

– Devemos rechaçar o oferecimento destas pessoas para se unirem a nós e, juntamente, realizarmos a obra do Senhor, assim como fizeram os judeus quando os samaritanos se apresentaram para edificar o segundo templo.

– Tanto estavam certos os judeus nesta atitude que, em seguida à negativa, os samaritanos começaram a debilitar os judeus e a inquietá-los no edificar, ou seja, seu objetivo não era a edificação do templo mas, precisamente o contrário, impedir que a edificação se fizesse (Ed.4:4).

– Quando os incrédulos querem se unir aos crentes para a “edificação do templo”, querem, na verdade, é impedir que esta edificação ocorra.

A intenção desta gente é impedir o relacionamento de Deus com o Seu povo e isto será impedido se houver a manutenção do pecado, o abandono dos mandamentos divinos, a abertura de mão de princípios e valores estabelecidos pelo Senhor.

– Neste sentido, o “Documento sobre a fraternidade humana”, também conhecido como “Declaração de Abu Dhabi”, assinada pelo Papa Francisco e pelo Grande Imam de Al-Azhar Ahmed Al-Tayyib, é uma demonstração de como se deve ter cuidado com esta abordagem de uma edificação na companhia de quem não serve a Cristo Jesus.

Diz tal declaração que “a fé leva o crente a ver no outro um irmão que se deve apoiar e amar (…) Um documento pensado com sinceridade e seriedade para ser uma declaração conjunta de boas e leais vontades, capaz de convidar todas as pessoas,

que trazem no coração a fé em Deus e a fé na fraternidade humana, a unir-se e trabalhar em conjunto, de modo que tal documento se torne para as novas gerações um guia rumo à cultura do respeito mútuo, na compreensão da grande graça divina que torna irmãos todos os seres humanos.…”.

– Percebe-se, neste preâmbulo, que há uma perigosa abordagem que entende que se nivelam tanto a fé em Deus quanto a fé no homem, que é o que se denomina de “fé na fraternidade humana”, o que, evidentemente, não corresponde à verdade bíblica e dá margem a um relativismo incompatível com a mensagem do Evangelho.

– Como se isto fosse pouco, esta mesma declaração apresenta o seguinte “pedido’; ‘…Dirigimo-nos aos intelectuais, aos filósofos, aos homens de religião, aos artistas, aos operadores dos mass-media e aos homens de cultura em todo o mundo,

para que redescubram os valores da paz, da justiça, do bem, da beleza, da fraternidade humana e da convivência comum, para confirmar a importância destes valores como âncora de salvação para todos e procurar difundi-los por toda a parte.…”.

– Ora, a declaração admite que a “salvação para todos” depende de uma “redescoberta de valores da paz, da justiça, do bem, da beleza, da fraternidade humana e da convivência comum”, ou seja, dispensa totalmente a salvação na pessoa de Cristo, o que, logicamente, representa a própria negação do Cristianismo, o que também não pode ser admitido.

– Vemos, pois, como certos estavam os judeus ao não aceitar a colaboração dos samaritanos, porque isto representaria a própria ruína do projeto de edificação da casa de Deus, assim como o “ecumenismo” e o “diálogo inter-religioso” trarão a própria negação da Igreja enquanto povo de Deus, se ela se unir a tais movimentos.

– Tanto os samaritanos não queriam realmente a reconstrução do templo que conseguiram o seu embargo com o rei Cambises II (Ed.6:5-24).

II – OS SAMARITANOS APROXIMAM-SE DOS JUDEUS

– O embargo conseguido pelos samaritanos foi levantado sete anos depois (Ed.6:1-14). Os samaritanos ainda eram vistos como inimigos, como opositores e isto foi uma “bênção” porque manteve os judeus com a disposição firme de se manter separados deles, o que era necessário para serem o povo santo.

– Entretanto, depois que o templo foi reedificado e o plano de reconstruir Jerusalém, abandonado, os samaritanos mudaram a sua conduta, assim como os demais povos vizinhos, como os amonitas e os moabitas.

– O texto sagrado não nos diz como isto aconteceu nem revela tal acontecimento de modo explícito, mas o fato é que, quando se deixa de lado a prioridade para as coisas de Deus e se passa a enfocar o dia-a-dia, as coisas terrenas,

há uma perda gradual da visão espiritual do povo de Deus que, assim, não consegue mais enxergar a sua diferença em relação aos incrédulos, às demais pessoas e, como consequência disso, fica mais fácil a aproximação daqueles que não servem ao Senhor e querem se misturar com o povo de Deus.

– Ainda durante a reconstrução do templo, Deus, que é onisciente, advertiu o povo sobre o perigo de se misturar com os incrédulos.

O profeta Ageu trouxe uma mensagem ao povo em que mostrou que o que é santo se contamina com o que é imundo e o que é imundo não se santifica com o que é santo (Ag.2:10-19).

– O profeta denuncia que, durante os sete anos de paralisação da reedificação do templo, os judeus haviam se descuidado da sua santidade, e, por causa disso, deveriam se santificar para que pudessem legitimamente reconstruir o templo.

– Mas, além disso, é preciso lembrar que a convivência do santo com o imundo contamina o santo e nunca purifica o imundo, de modo que os israelitas deveriam se cuidar para que não convivessem com os demais povos, não estabelecessem comunhão com eles, pois, se isto ocorresse, novamente colocariam a santidade em risco e, deste modo, a própria identidade da nação.

– Apesar do aviso do profeta, entretanto, o fato é, quando Esdras vai para Jerusalém, isto cerca de 57 anos depois da reconstrução do templo, encontrou um povo completamente misturado com os povos vizinhos, o que levou o escriba ao desespero (Ed.9:1-3).

– O comportamento dos samaritanos e dos demais povos havia se alterado. Em vez de apresentarem oposição, animosidade, começaram a se apresentar de forma simpática, amigável, aproveitando que havia um clima voltado para as coisas terrenas e, nesta seara,

inegável que estes moradores da terra tinham mais conhecimento a respeito dos assuntos relativos à plantação, criação de animais e tantas outras coisas que diziam respeito ao dia-a-dia na Terra Prometida, algo desconhecido de boa parte dos judeus, que haviam nascido e sido criados na Babilônia e em outras cidades do reino babilônio.

– Assim, pouco a pouco, foram se aproximando e trazendo seus valores, crenças, conceitos e estilos de vida, que logo foram assumidos pelos judeus que, nesta convivência pacífica e cada vez mais próxima, acabaram por também formar famílias com esta gente, pois, num relacionamento estreito assim, não era difícil que os filhos se enamorassem dos filhos dos povos vizinhos.

– Como entender que um povo que demonstrara tamanho ódio aos judeus possa ter se aproximado tanto que tenha levado o povo a formar com ele famílias, a se casar com seus filhos, que é a constituição da mais íntima relação que pode existir entre dois seres humanos sobre a face da Terra?

– Isto ocorreu porque a aproximação não se deu de uma só vez, mas de modo sorrateiro, aos poucos, pois há um longo caminho entre o ódio manifesto e a associação a ponto de formar família. Foi havendo uma contínua e progressiva aproximação.

– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo recomenda que não devemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27). O nosso adversário aparece, por vezes, como diz o apostolo Pedro como um leão, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8).

– Quando o inimigo assim se apresenta, não deixa de mostrar seu caráter enganador, pois o texto que é

“como um leão”, ou seja, imita um leão, age como um leão mas não no é. Sua tática é assustar, paralisar a pessoa, evitando que ela resista firme na fé.

Neste susto, porém, o inimigo impede que o servo de Deus se envolva, se aproxime, pois está temeroso da “fera”, do rugido do farsante leão.

No entanto, também o inimigo se apresenta como a serpente (Gn.3:1; Ap.12:9) e, como tal, ele vem silenciosamente, sorrateiramente, imperceptivelmente, aproximando-se de modo traiçoeiro e encantando a vítima até que, quando ela estiver totalmente à mercê, seja alvo do bote fatal.

Nesta manifestação, o inimigo é perigosíssimo, porque vai envolvendo aos poucos a sua vítima e quando ela perceber, será tarde demais.

– Tendo agido como leão com os judeus e não tendo tido êxito, o adversário utilizou-se da tática da serpente e, num período de 57 anos, havia conseguido infiltrar os samaritanos e demais povos vizinhos no meio das famílias dos judeus, a ponto de terem ocorrido diversos casamentos mistos que comprometiam a própria identidade do povo judeu.

– Os judeus estavam visivelmente comprometidos no seu serviço a Deus, porque haviam se aparentado com os gentios e, deste modo, se tornado impuros e contaminados, como havia advertido o profeta Ageu quando ainda se reconstruía o Templo.

– Hoje em dia não é diferente. Como já dissemos supra, hoje há uma grande infiltração de pessoas no meio dos que se dizem ser cristãos que estão aparentados com os que aparentemente servem a Deus e, nesta parentela, trouxeram hábitos, costumes e estilos de vida que em tudo contrariam a sã doutrina.

– Em Judá, a presença destes casamentos mistos fazia que até a língua judaica fosse deixada de lado, como atesta Neemias, poucos anos depois (Ne,13:23,24), ou seja,

no seio familiar, onde deveria ser ensinada a lei de Moisés e os princípios e valores diferentes do povo judeu (Dt.6:6-9; 11:18-20), que era o povo santo, estava sendo ensinado o modo de vida dos gentios, totalmente descomprometido com o Senhor.

– De forma ardilosa, os samaritanos obtinham o que sempre tinham querido, ou seja, misturar-se com os israelitas para impedir que eles fossem um povo diferente, que eles servissem única e exclusivamente ao Senhor.

Por detrás desta estratégia, estava o plano diabólico de misturar Israel com as demais nações e assim frustrar a vinda do Messias.

– A situação havia se tornado tão grave que os líderes eram os primeiros a cometer este pecado (Ed.9:2), e, assim, o povo, vendo o mau exemplo daqueles que estavam à sua frente, imitaram-nos pondo em risco a própria identidade nacional.

– Não falaremos muito a respeito desta questão do casamento misto, porque este é o tema da lição 13, mas, no aspecto que nos importa aqui, que é o da santidade, vemos quantos malefícios se tinham construído para o povo de Israel.

– Esdras não poderia tomar outra atitude senão a de orar ao Senhor pedindo perdão pelos pecados e clamando pela misericórdia divina (Ed.9:3-15).

Mais uma vez vemos que um despertamento espiritual tem de se iniciar pela oração, não há outro caminho possível. Esdras começou a pedir a Deus misericórdia, pois sabia que grande era o mal que se havia cometido.

– Esdras orou, confessou, chorou e prostrou-se diante da casa de Deus (Ed.10:1). Antes, já havia rasgado as suas vestes e o seu manto, arrancado os seus cabelos bem como a barba (Ed.9:3), gestos de humilhação, uma humilhação sincera de quem sabia como se havia perigosamente permitido a ação do inimigo no meio do povo de Deus.

– As atitudes de Esdras comoveram o povo, que assumiu o seu pecado e confiou na misericórdia divina, tanto que Secanias, em nome do povo, foi falar com Esdras e afirmou que ainda havia esperança para Israel (Ed.10:2).

– Devemos esperar no Senhor. Deus não deseja a morte do ímpio, mas, antes, a sua conversão (Ez.18:23; 33:11) e, por isso, jamais podemos crer nas mentiras satânicas que procuram nos convencer de que não há jeito para quem é um pecador inveterado, de que já se ultrapassou o limite da redenção ou coisas assim. Não, não e não! Deus é grandioso em perdoar (Is.55:70 e jamais lança fora quem vai até Ele (Jo.6:37).

– No entanto, saibamos que o perdão divino exige a prévia confissão dos pecados, o arrependimento, que nada mais é que o abandono da prática pecaminosa e a mudança de atitude. Quem confessa e deixa alcança misericórdia, diz o proverbista (Pv.28:13).

– Foi o que fizeram os israelitas. Ante a humilhação de Esdras, entenderam que haviam pecado e confessaram as suas faltas e se arrependeram e a prova do arrependimento é que se dispuseram a despedir as mulheres estrangeiras com quem haviam se casado bem como os filhos (Ed.10:3) e assim foi feito.

III – OS SAMARITANOS E DEMAIS VIZINHOS VOLTAM A SE APROXIMAR DOS JUDEUS

– Depois de uma atitude desta, era de se imaginar que jamais voltariam os judeus a se aparentar com os samaritanos ou com os demais povos vizinhos. Ledo engano, porém. Há uma necessidade de jamais deixarmos de vigiar, de termos um contínuo relacionamento com o Senhor para que não venhamos a fraquejar.

– A história mostra que, com a vinda de Neemias, os samaritanos, amonitas e demais povos voltaram a ter uma atitude animosa contra os judeus, tentando, de todas as maneiras, impedir a reconstrução dos muros de Jerusalém. “O farsante leão voltava a rugir”.

– Entretanto, depois da reconstrução dos muros de Jerusalém, ardilosamente, os inimigos voltaram a se aproximar dos judeus, mesmo com Neemias governando o povo.

– Não nos esqueçamos que, mesmo em meio aos embates concernentes à reconstrução dos muros de Jerusalém, alguns judeus haviam sido subornados pelos adversários para tentar intimidar e comprometer Neemias (Ne.6:10-14), prova de que havia gente já comprometida com a turma de Sambalate, Tobas e Gesém, os líderes dos inimigos dos judeus (Ne.2:10,19).

– Este relacionamento encoberto, já existente durante o primeiro mandato de Neemias, prosseguiu mesmo depois da reconstrução dos muros de Jerusalém e, quando Neemias, doze anos depois, voltou para a Pérsia (Ne.13:6), então tais relacionamentos se manifestaram claramente.

– Quando Neemias retornou para um novo mandato de governador, encontrou novamente uma situação de casamentos mistos.

Eliasibe, que era o sumo sacerdote da época, foi o primeiro a cometer este pecado, pois ele mesmo se aparentou com ninguém mais, ninguém menos que o próprio Tobias, um dos líderes da oposição à reconstrução do Templo e que era amonita e o comprometimento do sumo sacerdote foi tanto que Tobias passou a ocupar uma câmara grande dentro do próprio templo (Ne.13:4,5).

– Vemos, pois, que não só o inimigo tinha voltado a se infiltrar no meio do povo de Deus como também que a situação era ainda pior do que nos dias de Esdras, pois, além dos casamentos mistos,

agora os estrangeiros tinham acesso até o templo e tomando uma área proeminente para a satisfação de seus interesses, numa nítida interferência no que era mais caro no relacionamento do israelita com Deus em ambos os ambientes propícios para tal relação: a família e o templo.

– Isto nos mostra que não há pausa nem estacionamento na vida espiritual. Ou avançamos, ou recuamos. A falta de vigilância do povo judeu não havia resultado num retorno à situação anterior ao arrependimento verificado após a oração de Esdras,

mas a um estágio pior do que aquele precedente, a nos comprovar que um abismo chama outro abismo (Sl.42:7) e que, em termos de desvio espiritual, o último estágio é pior do que o tempo da inconversão (II Pe.2:21,22). Tomemos cuidado, amados irmãos!

O inimigo age sub-repticiamente e não podemos achar que tudo ocorreu de uma hora para outra. É verdade que tudo ficou manifesto e aberto depois da partida de Neemias para a Pérsia, mas, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen,

Neemias ficou apenas um ano fora de Jerusalém, tempo insuficiente para ocorrer tais desmandos, já que encontrou, no seu retorno, novamente famílias oriundas com casamentos mistos e com filhos que nem sequer sabiam falar o aramaico,

que era a língua usada pelos judeus naquele tempo (Ne.13:23), prova de que se tinha uma situação de anos, ou seja, que já começou a acontecer quando Neemias ainda governava antes de voltar para Babilônia.

– Ora, segundo os cronologistas bíblicos mencionados, a ação de Esdras que pôs fim aos casamentos mistos ocorreu em 458 a.C. e a ação de Neemias no mesmo sentido, em 432 a.C., ou seja, 26 anos depois.

Num espaço de tempo duas vezes menor que o anterior, tinha-se uma situação espiritual de mistura com os gentios bem maior e mais ativa.

É assim que funciona, como já se disse, um abismo chama outro abismo, o aprofundamento no pecado vai aumentando cada vez mais quando não há vigilância.

– A mistura com os gentios não parou por aí. Além de comprometer as famílias e o próprio templo, havia um quadro de comprometimento do próprio serviço do templo, pois a ocupação de Tobias fez com que não houvesse mais armazenamento de víveres para sacerdotes e levitas que, então, tiveram, para a sua própria sobrevivência,

de abandonar os trabalhos do templo e procurarem exercer atividades para terem com que se manter, já que o povo não mais estava trazendo os dízimos e ofertas por não haver onde guardá-los.

– O inimigo é assaz ardiloso. No seu aparentamento com Eliasibe, Tobias conseguiu tomar para si justo o local onde havia o suprimento do serviço do templo e, com isso, estava a estrangular economicamente os levitas e sacerdotes, condenando ao fim toda a adoração a Deus.

Mais uma vez, os samaritanos conseguiam pôr em execução o seu antigo plano de não permitir que os judeus servissem a Deus.

– O mais impressionante é que isto era feito a partir do próprio sumo sacerdote, que era simplesmente o que presidia a casa do Senhor (Ne.13:4), ou seja, o inimigo tinha conseguido sequestrar a suprema liderança para destruir a própria classe sacerdotal e os seus auxiliares, os levitas.

– Hoje não é diferente. Muito da apostasia espiritual que tem caracterizado os nossos dias vem de pessoas que estão a exercer lugares de proeminência nas organizações e denominações que foram criadas para a realização da obra de Deus.

Ultimamente, inclusive, tem havido muitas revelações, confirmadas pela abertura de arquivos dos órgãos de inteligência dos países que estiveram sob regimes comunistas, de como o movimento comunista internacional se infiltrou em organizações e denominações para tentar implodi-las e fazer com que fossem instrumento para a destruição do verdadeiro cristianismo.

E o que é mais grave: os infiltrados, pelo tempo decorrido, estão hoje a exercer funções hierarquicamente superiores em tais organizações.

– O Anticristo exercerá seu poder por entrega que farão os poderes existentes tanto no campo religioso quanto no campo político quando do arrebatamento da Igreja e, nas duas igrejas da Ásia Menor que podemos chamar de fiéis, já que não receberam qualquer censura ou repreensão do Senhor Jesus, Esmirna e Filadélfia, em ambas Nosso Salvador fez menção da “sinagoga de Satanás” (Ap.2:9; 3:9),

que é precisamente este ajuntamento de pessoas que, se dizendo integrantes do povo de Deus, fazem oposição aos que fielmente obedecem a Cristo, os “inimigos da cruz de Cristo” mencionados pelo apóstolo Paulo em Fp.3:18,19, pessoas com quem temos de ter cuidado, porque não andam segundo a regra de Cristo, não seguem o Seu exemplo.

– A situação era ainda mais grave, pois esta mistura com os gentios fez com que o sábado fosse violado (Ne.13:15-22).

Neemias encontrou um povo que não mais guardava o sábado, que era o sinal entre Deus e Israel (Ex.31:13; Ez.20:12,20).

O sábado era o dia separado para que os judeus adorassem a Deus e se dedicassem às coisas espirituais, mas agora havia sido também sequestrado pelo inimigo, passando a ser, provavelmente, o dia de maior número de negócios, de maior atendimento às coisas terrenas.

O inimigo procura, de todas as formas, tirar de nossas vidas os sinais que nos identificam como povo de Deus.

É verdade que não devemos guardar o sábado, visto que não estamos debaixo da lei, mas temos um outro sinal, que é o selo do Espírito Santo (Ef.1:13), que Satanás procura retirar de nós e, para tanto, faz de tudo para que retomemos uma vida pecaminosa, que promoverá o entristecimento e o afastamento do Espírito de nossas vidas (Ef.4:30; Hb.10:29).

– A situação tanto se agravou que, em alguns casos, Neemias teve de usar até de força e violência para fazer cessar as práticas pecaminosas, numa clara indicação de que o pecado estava entranhado na vida de muitos, a ponto de resistirem firmemente contra as medidas moralizadoras que o homem de Deus procurava imprimir.

– De qualquer maneira, isto mostra como o povo de Deus tem de ser santo, separado do pecado e obediente à Palavra de Deus.

– Esdras e Neemias foram usados pelo Senhor para impedir que o povo de Deus perdesse a sua identidade misturando-se com os gentios e as suas ações foram decisivas para que os judeus continuassem sendo um povo diferente dos demais e ainda que, ao longo dos anos,

uma parcela tenha mantido a linha de mistura, não teve este movimento a força suficiente para que Israel desaparecesse, deixasse de existir enquanto nação, e, deste modo, pôde a nação se manter como propriedade peculiar de Deus dentre os povos e ser a pátria-mãe do Cristo, do Salvador.

– Da mesma maneira, devemos lutar e resistir a qualquer tentativa de cooptação do maligno, combatendo tanto os inimigos externos quanto os internos, a fim de nos mantermos em santificação e, assim, podermos ver o Senhor (Hb. 12:14).

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5575-licao-7-o-povo-de-deus-deve-separar-se-do-mal-i

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