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LIÇÃO Nº 7 – PAULO, O PLANTADOR DE IGREJAS

 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da vida e ministério de Paulo, veremos hoje a sua atividade tipicamente apostólica, que é a de desbravamento de regiões na evangelização.

– Como apóstolo, Paulo abriu igrejas entre os gentios.

I – O MINISTÉRIO DE APÓSTOLO

– Em lição anterior, vimos como Paulo foi chamado por Deus para ser apóstolo e como o texto bíblico deixa claríssimo que Paulo era um apóstolo, ainda que, ao longo de sua vida e ministério, não tenham sido poucos os cristãos, notadamente os judaizantes, a questionar seu apostolado.

– “Apóstolo” quer dizer “enviado” e, neste sentido, como diz o Catecismo da Igreja Romana, “…Toda a Igreja é apostólica na medida em que é “enviada” ao mundo inteiro; todos os membros da Igreja, ainda que de formas diversas, participam deste envio.

“A vocação cristã é também por natureza vocação ao apostolado.” Denomina-se “apostolado” “toda a atividade do Corpo Místico” que tende a “estender o reino de Cristo a toda a terra”…” (§ 863 CIC).

– Por isso, no próprio Novo Testamento, Barnabé é chamado de apóstolo juntamente com Paulo em At.14:14, numa expressão que indica que se tratava aqui de reconhecer que ambos estavam desbravando o Evangelho em terras até então totalmente alheias à mensagem da salvação, como era o caso daquelas cidades da Ásia, para onde haviam sido enviados pela igreja de Antioquia, após expressa determinação do Espírito Santo (At.13:2).

– Neste sentido, é bom que se diga que os que defendem que o 12º apóstolo é Matias, mostram, nesta passagem, que tanto Paulo e Barnabé são considerados como apóstolos neste sentido de desbravadores, sendo aí o sentido da autodenominação que dá Paulo, qual seja, a de que é “apóstolo dos gentios” (Rm.11:13) e, como tal, “enxertado” na oliveira como apóstolo (Rm.11:17).

– Em Rm.16:7, Paulo também se refere a Andrônico e a Junia, seus parentes e que haviam sido companheiros seus de prisão, como alguns dentre os “apóstolos”, e que, inclusive, haviam se convertido antes dele.

– Percebe-se, pois, que, desde os primeiros dias da Igreja, as pessoas que haviam sido “enviadas” para desbravar terras que ainda não tinham sido evangelizadas, que tinham sido enviadas como missionários, eram também chamadas de “apóstolos”, até porque o nome “apóstolo”, como dissemos, significa “enviado” em grego.

– Este costume perpetuou-se na Igreja, de modo que também são chamados de “apóstolos”, ao longo da história da Igreja, aquelas pessoas que abriram frentes de trabalho, que estabeleceram igrejas em locais até então não evangelizados, como é o caso de Bonifácio (672-754/755),

que é chamado de “apóstolo dos germanos”, por ter feito a evangelização entre os povos bárbaros da Alemanha; de Cirilo (827-869),

o criador do alfabeto cirílico, e seu irmão Metódio (826-885), que são chamados de “os apóstolos dos eslavos”, por terem sido os responsáveis pela evangelização dos povos eslavos.

É este sentido, também, que os católicos romanos dão a José de Anchieta (1539-1597), chamado de “o Apóstolo do Brasil”, por ter sido o pioneiro da catequese dos indígenas em nosso país.

 

– Assim, toda pessoa que é enviada para missão, abrindo trabalhos onde não os havia antes, sendo um desbravador da mensagem do Evangelho, é chamada de “apóstolo”, sendo aquele que firma as primeiras bases da Igreja naquela determinada região, sendo, assim, de certa forma, um “fundamento” da edificação da Igreja naquele lugar.

– Existe, sim, uma semelhança entre esta figura desbravadora e o que fizeram os doze apóstolos do Cordeiro, mas, à evidência, na estrutura espiritual da Igreja, são atuações absolutamente distintas.

Estes “apóstolos” são, na verdade, evangelistas pioneiros, que lançam as bases da evangelização numa determinada região, mas que não têm o mesmo papel dos doze apóstolos do Cordeiro.

– Serem chamados de “apóstolos” não é, porém, nenhum equívoco ou erro, já que a própria Bíblia Sagrada assim denomina tais pessoas, mas é muito importante sabermos distinguir estes “apóstolos-desbravadores”, estes “apóstolos-missionários”, daqueles doze apóstolos do Cordeiro.

– Feliz é a expressão que aprendemos com o pastor Antonio Sebastião da Silva, diretor da Faculdade Teológica de Santo André (FATESA): Jesus Cristo é o apóstolo do Pai (Hb.3:1); os doze, apóstolos do Cordeiro, ou seja, apóstolos do Filho (Ap.21:14) e, durante o tempo da Igreja, os demais, apóstolos do Espírito Santo (Ef.4:11).

– Pelo contrário, quando analisamos documentos antigos da Igreja, como a “Didaqué”, uma espécie de manual de ensino da doutrina cristã do século II, após os dias apostólicos, dão conta da existência de apóstolos na

Igreja, como, por exemplo, neste trecho da Didaqué: “…Mas com respeito aos apóstolos e profetas, aja de acordo com o decreto do Evangelho. Todo apóstolo que vier a ti seja recebido como o Senhor. Mas que ele não permaneça mais de um dia;

ou dois dias, se houver necessidade. Mas se ele permanecer três dias, ele é um falso profeta. E quando o apóstolo vai embora, não o deixe levar nada mais que pão até que ele se hospede…” (Didaqué 11).

– Interessante análise da questão fizeram as Assembleias de Deus dos Estados Unidos da América, cujas conclusões aqui reproduzimos:

“…1 – A natureza apostólica da igreja deve ser encontrada na adesão à Palavra de Deus, que foi fielmente transmitida pelos apóstolos de Jesus Cristo em seu papel fundamental, e na participação durante a vida terrena de cada um na vida e ministério do Espírito Santo, que batizou, distribuiu dons e guiou os primeiros apóstolos.

2 – Visto que o Novo Testamento não fornece orientação para a nomeação de futuros apóstolos, tais ofícios contemporâneos não são essenciais para a saúde e crescimento da igreja, nem para sua natureza apostólica.

3 – Embora não entendamos que seja necessário, alguns corpos da igreja podem, de boa fé e com cuidadosa definição bíblica, escolher nomear certos líderes como apóstolos.

A palavra “apóstolo” (apostolos) é usada de diferentes maneiras no Novo Testamento:

(1) para os Doze discípulos originalmente nomeados por Jesus (e mais tarde Matias);

(2) para os Doze mais Paulo e um grupo maior (1 Coríntios 15: 3-8) cujos números exatos são um tanto incertos; e

(3) para outros como Epafrodito (Filipenses 2:25) e os “irmãos” não nomeados sobre os quais Paulo escreveu (2 Coríntios 8:23).

Os grupos um e dois, pessoalmente chamados e comissionados pelo Senhor ressuscitado, são frequentemente referidos nas Escrituras como “apóstolos de Jesus Cristo” e são apóstolos fundamentais (Efésios 2:20) com papéis reveladores e de autoridade únicos no estabelecimento da igreja e na produção de Novo Testamento.

O terceiro grupo, os “apóstolos das igrejas”, receberam funções e responsabilidades específicas conforme necessário pelas igrejas primitivas.

Os apóstolos contemporâneos, é claro, não terão visto ou foram comissionados pelo Senhor ressuscitado na maneira dos “apóstolos de Jesus Cristo”, nem acrescentarão seus ensinamentos ao cânon das Escrituras. Presumivelmente, eles demonstrarão as outras marcas de um apóstolo ensinado em o Novo Testamento.

 

(4)- O título de apóstolo não deve ser concedido ou assumido levianamente. Historicamente, os apóstolos foram pessoas de reconhecida estatura espiritual, caráter vigoroso e grande eficácia no trabalho da igreja.

As advertências de Paulo sobre “aqueles que desejam uma oportunidade de serem considerados iguais a nós nas coisas de que se gabam”, sua afirmação de que “tais homens são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçados de apóstolos de Cristo” e sua associação posterior com “Satanás [que] se disfarça de anjo de luz” (2 Coríntios 11: 12-14)

são moderados – lembram que o orgulho humano desenfreado em buscar a liderança da igreja pode cegar a pessoa para as maquinações do diabo.

Pessoas sem caráter podem anexar o título de apóstolo a si mesmas a fim de afirmar domínio e controle sobre outros crentes, ao mesmo tempo em deixam de se responsabilizar pelos membros sob seus cuidados ou de exercer o cuidado pastoral de sua própria comunhão.

(5) – A função de apóstolo ocorre sempre que a igreja de Jesus Cristo está sendo estabelecida entre os não evangelizados.

Como pentecostais, desejamos fervorosamente uma geração de homens e mulheres que atuem apostolicamente: levar o evangelho seguido por sinais às pessoas em casa e no exterior que ainda não ouviram ou compreenderam que ‘Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna ‘(João 3:16).…”(Documentos de posicionamento:

Apóstolos e profetas. Disponível em: https://ag.org/Beliefs/Position-Papers/Apostles-and-Prophets Acesso em 20 fev. 2021) (tradução Google com alterações nossas de texto em inglês).

II – PAULO E A PLANTAÇÃO DE IGREJAS

– Vendo o significado do apostolado na Igreja, podemos bem compreender que Paulo bem exerceu a função de “apóstolo do Espírito Santo”, para nos utilizarmos da expressão do pastor Antonio Sebastião da Silva, ainda que haja discussões sobre o fato de ter sido ele, ou não, “apóstolo do Cordeiro”.

– Como “apóstolo do Espírito Santo”, Paulo abriu igrejas, fez o que se costuma denominar de “plantação de igrejas”, expressão que está baseada na própria figura trazida pelo apóstolo em I Co.3:1 em que afirma ter “plantado” a igreja de Corinto, que depois teria sido “regada” por Apolo.

– Nesta expressão de Paulo, vemos, nitidamente, que o papel do apóstolo é “plantar” igrejas, pois diz tê-lo feito em Corinto e, num outro texto, disse que se havia alguém que não poderia questionar seu apostolado era precisamente a igreja de Corinto (I Co.9:2).

– Paulo foi chamado para o apostolado em Antioquia pelo próprio Espírito Santo (At.13:2,3). Enviados pelo Espírito Santo, ele, fazendo companhia a Barnabé, saíram de Antioquia da Síria, onde estavam, e foram até Salamina (At.13:4,5).

– Notamos, pois, de pronto, que o apostolado é um ministério que exige a saída do chamado da igreja local onde se encontrava para ir a lugares onde ainda não há a pregação do Evangelho, a ambientes ainda não evangelizados.

– Por isso, cabimento algum tem o fato de pessoas se intitularem “apóstolos” e permanecerem em lugares onde o Evangelho já tem sido pregado, muitas vezes, aliás, “abrindo” igrejas no mesmo bairro, na mesma localidade das igrejas locais de que se desligaram, buscando, inclusive, persuadia a membresia da igreja onde congregava a vir com ele nesta nova denominação, movimento ou “igreja”…

– Notemos, ainda, que Paulo inicia seu apostolado nitidamente como um “auxiliar”. Ele fazia companhia a Barnabé e esta foi a sua posição na sua primeira viagem missionária.

– Não era Paulo o protagonista e sim, Barnabé. E por que isso? Primeiro, para nos mostrar que, na obra de Deus, temos de iniciarmos como discípulos, como aprendizes, ainda que tenhamos o chamado divino e ainda que nos esteja reservado um papel de destaque.

 

– Por segundo, devemos entender que Barnabé tinha mais experiência que Paulo na obra de Deus. Havia sido apóstolo em Antioquia, enviado que fora pelos apóstolos para implantar a igreja naquela cidade, a primeira igreja gentílica (At.11:22).

– Neste passo, aliás, precisamos verificar que a existência do dom ministerial de apóstolo mostra-nos como é falsa e mentirosa a doutrina dos chamados “desigrejados”, que dizem não haver qualquer necessidade de se ter uma “igreja local”.

– Os apóstolos enviaram Barnabé para Antioquia ao saber que ali havia um grupo de gentios novos convertidos, que haviam sido ganhos para Cristo por alguns judeus que, transpondo as barreiras culturais, resolveram pregar o Evangelho a gentios naquela cidade, que era a capital da província romana da Síria (At.11:20,21).

– Caso a doutrina dos “desigrejados” fosse verdadeira, não haveria necessidade alguma de ser alguém enviado para abrir uma igreja local em Antioquia, porque, afinal de contas, a “salvação seria individual”.

Não foi assim, entretanto, que agiram os apóstolos que, guiados pelo Espírito Santo, mandaram para lá Barnabé, que, então, como verdadeiro apóstolo, abriu a igreja em Antioquia, igreja que seria ricamente abençoada pelo Senhor e que, agora, mandava, por ordem direta do Espírito Santo, Barnabé e Paulo para abrir novas igrejas em outros lugares.

– Ao chegarem a Salamina, cidade no extremo leste da ilha de Chipre (que era a terra natal de Barnabé – At.4:36), foram anunciar a Palavra de Deus nas sinagogas (At.13:6) e aqui nós vemos o início de uma sistemática que acompanharia todo o ministério de Paulo.

– Talvez por influência do que havia visto no trabalho de Estêvão, Paulo, desde o início, sempre começou a evangelização pelas sinagogas (salvo em Filipos, onde não existia sinagoga), o que é até certo ponto intrigante, uma vez que, desde o início, sabia que fora chamado para ser o “apóstolo dos gentios” (I Tm.2:7; II Tm.1:11), tanto que Ananias lhe diria, no terceiro dia após a sua conversão, que levaria o nome de Jesus diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel (At.9:15).

– Sabendo que o objetivo de seu ministério eram os gentios, por que Paulo sempre iniciou a pregação nas sinagogas?

Por primeiro, lembremos que foi assim que “aprendeu” com Estêvão, a nos indicar como devemos ser criteriosos na formação dos novos convertidos, visto que serão eles moldados consoante o discipulado que fizermos, consoante o próprio testemunho que dermos e que os levarão à conversão.

Da mesma maneira que a educação e criação forma o caráter de nossas crianças e adolescentes, assim também são moldados o caráter e a maneira de agir das “crianças espirituais” na vida cristã.

– Por segundo, trata-se de importante estratégia na plantação de igrejas iniciar-se a evangelização em terreno já conhecido, em ambiente mais propício à recepção da mensagem do Evangelho.

Paulo, exímio conhecedor da lei e sendo ele próprio um judeu, tinha sempre melhores condições de iniciar seu trabalho evangelístico a partir da comunidade judaica, que era sempre a porta de entrada dele na cidade a que ele chegasse.

– Por terceiro, consoante o ritual das sinagogas, Paulo sempre tinha a oportunidade de ter a palavra ali, a nos mostrar que, na plantação de igrejas, é importante, por primeiro, criar oportunidade para anunciar o Evangelho, anunciar a Jesus. A plantação de igrejas se inicia com a pregação do Evangelho.

– O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16) e, portanto, não há que se falar em igreja se antes não houver a salvação de almas, se antes não houver a pregação, porque a salvação advém da fé em Cristo e a fé vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17).

O próprio Paulo mostra-nos ser este o itinerário ao dizer que se é necessário invocar o nome do Senhor para ser salvo, como invocar/ao em quem não creram? E como crerão naquele de que não ouviram? E como ouvirão senão há quem pregue? (Rm.10:14).

 

– O plantador de igrejas, portanto, deve ser, antes de tudo, um anunciador do Evangelho, alguém que pregue a Palavra de Deus, que pregue a Jesus, sem o que não há que se falar em plantação de igrejas.

– Um outro elemento que vemos na plantação de igrejas é que se deve evitar que se envie uma pessoa sozinha para tal mister.

O Espírito Santo chamou a Barnabé e a Paulo (At.13:2), lembrando-nos que o Senhor Jesus, no “estágio de evangelização” a que submeteu Seus discípulos, também os mandou ir de dois em dois (Lc.10:1).

– Numa tarefa extremamente árdua e que trará oposição e repúdio de muitos, é indispensável que haja o companheirismo, pois é melhor serem dois do que um (Ec.4:9-12), uma vez que, desta maneira, é gerado um clima de resistência, perseverança e resiliência, que são absolutamente imprescindíveis para que se possa ter sucesso na realização da obra do Senhor.

– É nesta situação, inclusive, que se tem a participação da mulher na atividade missionária, porque este companheirismo necessário se tem na figura do casal um fator ideal, uma conformação das mais desejadas, como vemos, por exemplo, nos casos de Priscila e Áquila (At.18:2,18,26; Rm.16:3).

– Como não deixar de ver que parte do sucesso e êxito empreendido por Daniel Berg e Gunnar Vingren no desbravamento do evangelho pentecostal no Brasil se deu em função deste companheirismo igualmente estabelecido pelo Espírito Santo?

– Tendo este ponto de contato com a sociedade por intermédio da sinagoga, onde podia se fazer ouvir a sua mensagem, Paulo, com plena consciência de que não seriam todos os que creriam na pregação (cfr. Rm.10:16), sabia que não poderia permanecer muito tempo utilizando-se deste espaço.

– Iniciando a pregação pela sinagoga, Paulo conseguia espaço para pregar, posteriormente, aos gentios, seja num ambiente inicialmente amistoso, como ocorreu em Antioquia da Pisídia (At.13:42-44), seja em ambiente hostil como ocorreu em Icônio (At.14:1,2).

– O fato é que, pregada a Palavra, Paulo reunia os que haviam crido (At.13:43) e, então, começava a estruturá-los numa igreja local, assim como Barnabé havia feito em Antioquia.

– O texto bíblico diz que Barnabé, ao chegar a Antioquia da Síria, Barnabé viu a graça de Deus, alegrou-se e exortou a todos que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor (At.11:23) e, mais do que depressa, trouxe Paulo de Tarso para com ele ensinar, durante todo um ano, aqueles neoconversos, que, por causa disso, passaram a se chamar cristãos (At.11:25,26).

– Em Antioquia da Pisídia, os dois apóstolos “repetiram a dose”. Àqueles que passaram a segui-los, ambos os exortaram a que permanecessem na graça de Deus (At.13:43).

– O que se nota, portanto, é que, após a pregação do Evangelho, quando surgem os primeiros convertidos, o plantador de igreja deve reuni-los e iniciar o trabalho de exortação para a permanência na graça de Deus.

A igreja local é a reunião dos salvos por Cristo num determinado lugar que, reunidos, devem se ajudar uns aos outros para que permaneçam na graça de Deus.

– Após a pregação da Palavra, o plantador de igrejas deve promover a reunião dos conversos e exortá-los a permanecer na graça de Deus. Este momento é crucial na plantação de igrejas, pois é o instante em que se forma propriamente a igreja, que são os “reunidos para fora”.

– Com a conversão, veem as adversidades, porque o salvo passa a ser um “corpo estranho” no mundo e é inevitável a reação do maligno, onde jaz este mundo. Por isso, é extremamente necessário que haja o ânimo, o estímulo e o incentivo para que se mantenha, para que se permaneça na graça de Deus, onde entramos pela fé em Cristo Jesus (Rm.5:1).

 

– Paulo e os que se converteram com a sua pregação bem vivenciaram isto. Já em Antioquia da Pisídia, tiveram a oposição dos judeus (At.13:45,50), o que se repetiu, e de forma mais acentuada em Icônio (At.14:2) e ainda mais intensa em Listra, onde Paulo, inclusive, foi apedrejado (At.14:19).

– Se não fossem exortados a permanecer na graça de Deus, estes novos convertidos certamente sucumbiriam na fé, pois que ânimo poderiam ter tais pessoas ao verem os que lhes pregaram o Evangelho sendo perseguidos e tendo, inclusive, de fugir das cidades onde estavam?

– Neste ponto, vemos que, ao lado da exortação para que permaneçam na graça de Deus, é indispensável que haja o discipulado. Barnabé, assim que iniciou este trabalho em Antioquia da Síria, foi buscar Paulo em Tarso para que ambos ensinassem os discípulos (At.11:25,26).

– Assim também fez Paulo em todas as igrejas que plantou. O apóstolo não deixava a cidade enquanto não tivesse ensinado “os rudimentos da doutrina de Cristo” (Hb.6:1), o “leite” (I Co.3:2), que nada mais é que o discipulado, o ensino primeiro da doutrina, a fim de que a pessoa possa se preparar para descer às águas do batismo (Mt.28:19).

– Paulo dava grande valor a este trabalho, não só porque foi a primeira tarefa a que se dedicou uma igreja local, em Antioquia da Síria, mas porque sabia que o ensino da Palavra é indispensável para que se tenha um sadio crescimento espiritual, para que se tenha a sobrevivência da nova criatura, pois é por meio do “leite racional” que se obtém o crescimento espiritual (I Pe.2:2).

– Assim como os mamíferos, entre os quais o ser humano, necessitam, num primeiro momento, para sobreviver, após o nascimento, de se alimentar com leite de sua mãe, o novo convertido precisa ser alimentado com o “leite racional”, com “os primeiros rudimentos das palavras de Deus” (Hb.5:12),

a fim de que tenham o necessário para poderem se desenvolver e alcançar a maturidade espiritual, que nada mais é que o conhecimento básico para poderem iniciar sua vida cristã e se alicerçarem na rocha que é Cristo Jesus (Mt.7:24-27; I Co.10:4).

– Esta preocupação de Paulo será revelada explicitamente no texto sagrado no episódio que envolveu a cidade de Tessalônica, na sua segunda viagem missionária, onde o apóstolo não pôde fazer o trabalho do discipulado como desejava, porque, em virtude da perseguição, teve de sair daquele lugar antes do tempo (At.17:1-10).

– Paulo não se conformava em não ter terminado o trabalho do discipulado e tentou, por algumas vezes, retornar até Tessalônica, a fim de concluir aquela tarefa, mas, como bem afirma, foi impedido por Satanás (I Ts.2:17,18), tendo, inclusive, mandado para lá Timóteo (I Ts.3:2).

Vemos, pois, quão grande valor dava Paulo a esta tarefa do discipulado e devemos, também neste ponto, imitá-lo.

– Lamentavelmente, em nossos dias, nota-se uma total despreocupação com o discipulado, atividade que, não raras vezes, simplesmente inexiste nas igrejas locais.

O novo convertido é completamente deixado à mercê, sendo obrigado a se alimentar de “sólido mantimento”, o que pode, inclusive, levá-lo à morte. O resultado é que temos um crescente número de crentes espiritualmente fracos, sem firmeza, presas fáceis do maligno.

– Ao término da primeira viagem missionária, Barnabé e Paulo retornaram às igrejas que haviam plantado (Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe). É interessante notar que, na volta, os crentes são chamados de

“discípulos” (At.14:21), porque agora já tinham sido discipulados, porque agora já tinham aprendido a Palavra de Deus, os rudimentos da doutrina de Cristo.

– Como último ato da plantação de igrejas, Barnabé e Paulo, após terem confirmado o ânimo dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, inclusive lembrando-os de que, por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus, promoveu a eleição de anciãos na igreja, ou seja,

escolheram-se os primeiros líderes, que, a partir de então, dirigiriam as igrejas já formadas. Como apóstolos que eram, Barnabé e Paulo não tinham que ficar à frente de cada igreja local, mas, sim, dirigidos pelo Espírito Santo, ver quem eram os escolhidos para pastorear aquelas igrejas (At.14:23).

 

– Em seguida, obedientemente, retornaram para a igreja de Antioquia da Síria, que era a igreja que os havia enviado, a fim de que pudessem relatar todo o trabalho feito. Barnabé e Paulo eram apóstolos mas, por isso mesmo, eram vinculados a uma igreja local, estavam também submetidos a autoridade, e deviam, como homens fiéis que eram, prestar contas de suas atividades (At.14:26-28).

– Depois de algum tempo, resolveram fazer uma nova viagem missionária e, neste momento, por causa de Marcos, Barnabé e Paulo se desentenderam, de modo que Barnabé, acompanhado de Marcos, partiu para Chipre, enquanto que Paulo, que escolheu a companhia de Silas, foi novamente visitar as igrejas que havia plantado.

– Vemos que, depois de se ter deixado cada igreja local com sua liderança, deve o plantador de igrejas, posteriormente, voltar a visitá-las, inspecioná-las, uma vez que é responsável por elas, pelo seu papel de “pai espiritual”.

– A plantação de igrejas traz, sim, uma autoridade espiritual a quem a planta, pois o apóstolo é um “fundamento” daquela igreja (Ef.2:20), mas tal autoridade nada tem que ver com exercício do poder, como entendem os “apóstolos hodiernos”, que, aliás, têm predileção por esta figura precisamente porque enxergam nela uma “fonte de poder eclesiástico”.

– Barnabé e Paulo queriam retornar às igrejas fundadas para ver como eles estavam (At.15:36). Seu propósito era saber se estavam permanecendo na graça de Deus, como havia sido exortado, nada mais que isso.

– Não havia interesse algum em submeter-lhes à sua obediência (tanto que haviam constituído líderes sobre eles antes de retornarem a Antioquia da Síria), muito menos de viverem às custas daqueles irmãos, como, mais de uma vez, Paulo fez questão de ressaltar (II Co.12:13; Fp.4:15; II Ts.3:7,8).

Muito diferente dos “apóstolos hodiernos”, que só querem ser “apóstolos” para terem poder e dinheiro…

– Na sua segunda viagem missionária, Paulo mostra bem em que consistia esta fiscalização. Em Derbe e Listra, ficou a saber da existência de um crente chamado Timóteo, acabando por incorporá-lo a sua comitiva.

Nota-se, pois, que o objetivo do apóstolo era ver o progresso das igrejas plantadas, como estava a obra de evangelização, como se dava o crescimento espiritual dos crentes, sempre se tinha a “visão de Barnabé” (cfr. At.11:23).

– Além disto, Paulo teve o cuidado, nesta segunda viagem missionária, de atualizar os irmãos a respeito das resoluções que haviam sido tomadas em Jerusalém, quando se deliberou que os crentes gentios não deviam se submeter à lei de Moisés, a mostrar que o plantador de igrejas,

respeitando as peculiaridades locais, deve sempre manter a unidade doutrinária, zelando para que se guarde a unidade do Espírito pelo vínculo da paz, porque a Igreja é una, porque há um só corpo, um só Espírito, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus e Pai de todos (Ef.4:3-6).

– A própria resolução tomada em Jerusalém, ao mesmo tempo em que mantinha a unidade doutrinária, também reconhecia a diversidade cultural, na medida em que dispensava os crentes gentios de se submeterem à lei mosaica, aos costumes estabelecidos em Israel.

O plantador de igrejas deve ser alguém que tenha esta visão transcultural, que transponha as barreiras culturais, apenas rejeitando os dados culturais que se contraponham a Palavra de Deus, porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Mt.15:32; Rm.14:17).

– O plantador de igrejas deve ter a direção do Espírito Santo para ter o equilíbrio entre a unidade doutrinária e a diversidade cultural, a fim de não confundir a doutrina com a cultura e, deste modo, prejudicar a evangelização, mas também não causar escândalo.

O mesmo Paulo que defendeu tenazmente, em Jerusalém, a não submissão dos gentios à lei de Moisés e, por causa disto, seria sempre o alvo dos judaizantes (At.15:1,2,12) e fazia questão de divulgar tais decretos aos crentes gentios (At.16:4), foi quem circuncidou Timóteo quando o integrou à sua comitiva missionária (At.16:3).

 

– Por vezes, a plantação de igrejas exige um trabalho pastoral, uma permanência maior do plantador de igreja naquela localidade, o que o faz exercer mais propriamente o ministério pastoral.

Foi o que aconteceu com Paulo em duas ocasiões: em Corinto, onde ficou por um ano e seis meses (At.18:1-11) e, depois, em Éfeso, onde ficou por três anos (At.20:31).

– Em Corinto, explicitamente o texto bíblico nos mostra que foi o próprio Senhor Jesus que, em visão, disse a Paulo que havia necessidade desta permanência, mesmo em meio a grande oposição que sofreu na sinagoga, a ponto de ter de se reunir na casa de Tito Justo, que havia se convertido, junto da sinagoga.

– O objetivo da permanência de Paulo era que o Senhor tinha muito povo naquela cidade e havia a necessidade de um maior e mais acurado ensino da Palavra de Deus.

– Quanto a Éfeso, vemos que o apóstolo percebeu, de pronto, que necessitaria de mais tempo para plantar igreja naquela cidade, que era a segunda maior cidade do Império Romano no seu tempo. Tanto que, tendo ficado pouco tempo ali, foi embora, dizendo que, se fosse da vontade de Deus, voltaria para ali (At.18:18-21).

– Quando retornou, portanto, fê-lo por orientação divina, já sabendo que deveria permanecer ali, tendo sido esta a sua terceira viagem missionária.

O objetivo de ter ficado ali por três anos, o mais longo tempo em seu ministério, era a circunstância de que Éfeso, além de ser a segunda cidade do Império, era um especial centro de idolatria e feitiçaria, que exigia do apóstolo um maior empenho e dedicação, tanto que é ali que o Senhor vai usá-lo como nunca antes em demonstração de poder (At.19:11).

– Notamos, portanto, que a plantação de igrejas, como qualquer outra atividade no reino de Deus, deve ser plenamente dirigida pelo Espírito Santo, não havendo “modelos prontos”, como, infelizmente, temos visto surgir nos últimos anos.

– Paulo, o mais exitoso de todos os “plantadores de igrejas”, mostra-nos que não há um modelo pronto, que não é possível criar-se estratégias humanas nesta matéria, mas que se devem ater a certos princípios, constantes das Escrituras, atuando em cada caso segundo a vontade do Senhor, que, afinal de contas, é o dono da obra, Aquele que envia o plantador de igrejas.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6858-licao-7-paulo-o-plantador-de-igrejas-i

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