Lição 7 – Poder sobre as doenças e morte
Jesus, enquanto homem, cheio do Espírito Santo, teve poder sobre as doenças e morte.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do evangelho segundo Lucas, estudaremos hoje o poder que Jesus teve sobre doenças e morte.
– Jesus, enquanto homem, foi cheio do Espírito Santo e esta virtude O fez ter poder sobre as doenças e morte.
I – A ORIGEM DAS DOENÇAS E DA MORTE
– Na sequência do estudo do Evangelho segundo Lucas, estudaremos hoje a respeito do poder sobre as doenças e a morte que o Senhor Jesus demonstrou em Seu ministério terreno.
– Os Evangelhos mostram, com absoluta clareza, que Jesus, em Seu ministério terreno, provou que era o Messias precisamente porque operou sinais, prodígios e maravilhas, mostrando, assim, que era o profeta que já fora anunciado por Moisés quando este se despedia do povo de Israel.
Com efeito, o líder israelita disse que o Senhor levantaria um profeta como ele (Dt.18:15), ou seja, um profeta que fizesse sinais e maravilhas como fez Moisés (Dt.34:10,11).
– Precisamos, desde já, lembrar que Jesus, em Seu ministério terreno, não operou milagres usando dos Seus atributos divinos, mas, sim, enquanto homem, porquanto foi cheio do Espírito Santo e, em razão da virtude do Espírito Santo, operou tais maravilhas (At.10:38).
É por isso, aliás, que diz que Seus discípulos fariam maiores obras que as que Ele realizou (Jo.14:12), pois tais obras foram feitas pela humanidade de Jesus, como uma demonstração de que o homem, em comunhão com Deus, pode, pelo Espírito Santo, operar sinais e maravilhas para confirmar a Palavra de Deus (Mc.16:20).
OBS: “…As obras maiores aludidas as realizou por meio dos apóstolos, e, pelo contrário, sem referir-se só a eles, acrescenta: ‘O que crê em mim’. Ouve, pois: ‘O que crê em Mim fará também as obras que faço’. Primeiro as faço Eu, depois também as fará ele. Que obras são estas senão as de fazer um justo de um ímpio?
Isto, certamente, é que o realiza Cristo nele, mas não sem ele. Eu diria sem dúvida alguma que isto é maior do que criar o céu e a terra porque ‘céus e terras passarão’ (Cf. Mt.254:35), mas a salvação e a justificação dos predestinados permanecerão.
Mas os anjos do céu são obra de Cristo. Faz acaso maiores obras que esta o que coopera com Cristo para sua justificação? Julgue quem possa se é maior obra criar os justos que justificar os ímpios. Certamente, se uma e outra supõem igual poder, a última é obra de maior misericórdia. Mas nada nos obriga a pensar que a frase ‘fará maiores obras do que estas’ abarque todas as obras de Cristo.
Talvez o disse referindo-Se às obras que então fazia. E, então, realizava palavras de fé, e, sem dúvida, pregar palavras de justiça – coisa que Ele fazia sem nós é menos que justificar o ímpio, coisa que Ele faz em nós, de tal modo que nós também o façamos.…” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica III, q.43, a.4. n.864. Cit. Lc. 6:18,19. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Além de ser um sinal que autenticava a Sua condição de Messias, o Senhor Jesus, ao realizar curas e ressuscitar mortos, também demonstrou que Ele era a “semente da mulher” prometida no jardim do Éden ao primeiro casal por Deus, que viria desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8), entre os quais se encontram as doenças e a morte.
– Com efeito, quando vemos a criação do homem, notamos que ele foi criado para viver com Deus e em plena saúde. No Éden, o primeiro casal não sofria qualquer enfermidade. Deus lhes deu condições para que tivessem plena saúde física, moral e espiritual.
– Observamos que, ao formar o jardim no Éden, o Senhor fez questão de plantar ali toda árvore agradável à vista, e boa para comida, a árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:9).
– Ao plantar uma árvore agradável à vista, Deus estava cuidando do bem-estar psíquico e mental do ser humano. Todos nós sabemos que causa um bem-estar à nossa mente a visualização de um ambiente natural, a contemplação da natureza. Por isso, criava Deus condições, no Éden, para que o homem se sentisse bem mentalmente, garantindo-lhe a saúde mental.
– Mas o Senhor também cuidou da saúde física do ser humano, pois também plantou toda árvore boa para comida ao primeiro casal. Todos sabemos que a alimentação é uma condição indispensável para termos uma boa saúde física e Deus cuidou para que o primeiro casal tivesse uma alimentação perfeita, que lhe propiciasse sempre a saúde física.
– O Senhor, por fim, plantou no jardim do Éden a árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal, que falam da comunhão com Deus e da obediência ao Senhor, cuidando, assim, da saúde espiritual do homem.
Por meio da árvore da vida, o primeiro casal usufruía do desfrute da eternidade, mantinha Sua comunhão com Deus, tinha acesso à dimensão eterna, enquanto que a árvore da ciência do bem e do mal era a demonstração da soberania de Deus e da necessidade que tinha o homem de obedecer-Lhe para manter a vida eterna, a comunhão com o Senhor.
– Vemos, pois, que, na inocência, o ser humano tinha plenas condições de manter uma vida saudável, não havendo qualquer lugar para a enfermidade e para a morte, pois havia um ambiente de plena comunhão com Deus.
– No entanto, quando o primeiro casal pecou, esta condição se deteriorou. Como consequência do pecado, o homem passou a sofrer o desgaste do seu corpo, ele passou a envelhecer e a estar sujeito não só a doenças, como à inevitável morte física, que foi estabelecida como juízo em virtude da desobediência do homem (Gn.3:19).
– Em virtude do pecado, o homem passou a sofrer a corrupção do seu corpo e estar sujeito a enfermidades e, por fim, estar sujeito à morte física. Somos pó e deveremos tornar ao pó, já que o homem perdeu acesso à árvore da vida e se tornou escravo do pecado. As doenças e a morte, portanto, são consequência do pecado, a que estão sujeitos todos os homens.
– Jesus veio desfazer as obras do diabo e, portanto, Seu ministério terreno tinha de mostrar que as doenças e a morte física poderiam ser superadas, como sinal de que o Senhor era realmente o Messias, a “semente da mulher” que veio restaurar a amizade entre o homem e Deus, Aquele que viria trazer a libertação da doença e da morte física.
– É por este motivo que Jesus cura enfermidades e ressuscita mortos, para nos mostrar que é Ele o Salvador da humanidade, Aquele que veio nos dar novamente acesso a Deus, à vida eterna. Por isso, à evidência, os Evangelhos, que vieram narrar o ministério terreno de Jesus, são livros que relatam milagres de cura e de ressurreição de mortos.
– Lucas não foge a esta exigência, sendo certo que, como está a mostrar Jesus como o homem perfeito, o homem compassivo, descreve as curas e ressurreição de mortos sob este prisma, mostrando Jesus como o médico que veio curar as enfermidades, demonstrando o grande amor de Deus para com os homens.
– Não nos esqueçamos, entretanto, que o poder de Jesus para cura de enfermidades e para ressurreição de mortos não representa, de forma alguma, uma imunidade dos discípulos de Cristo às enfermidades e à morte física, como têm defendido os pregadores da teologia da confissão positiva.
As curas e ressurreições de mortos operadas pelo Senhor Jesus são sinais de Sua messianidade, não uma garantia de que os salvos não terão doenças nem morrerão fisicamente.
– A imunidade contra a doença e contra a morte física ocorrerá na glorificação, o último estágio do processo da salvação (Rm.8:30), de modo que os salvos em Cristo Jesus podem, sim, ficar doentes e morrer fisicamente.
– As curas e ressurreições de mortos operados por Jesus tinha o propósito maior de levar as pessoas à vida eterna, a conceder a tais pessoas a salvação. Tanto assim é que, em quase todos os milagres operados por Jesus, o Senhor faz questão de falar a respeito da salvação da pessoa curada (Mt.9:22; Mc.5:34; 10:52; Lc.7:50; 8:48; 17:19; 18:42), prova de que este era o alvo pretendido por Cristo. Como afirma Tomás de Aquino:
“…O poder divino operava em Cristo segundo era necessário para a salvação dos homens, por causa da qual havia encarnado. E, por isso, fez milagres com o poder divino, de tal maneira que não prejudicasse à fé na verdade de Sua carne…” (Suma Teológica III, q.43, a.3. n.864. Cit. Lc.6:18,19. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Os sinais, prodígios e maravilhas servem para confirmação da Palavra (Mc.16:20) e o objetivo da Palavra é levar aos homens à fé em Jesus (Rm.10:17), que nos trará a salvação (Rm.5:1; Ef.2:8).
II – AS CURAS NARRADAS POR LUCAS
– Temos já visto neste trimestre que Lucas apresenta Jesus como o homem perfeito, como o homem compassivo, como o médico que veio curar os homens do maior mal que aflige a natureza humana, que é o pecado. Como homem perfeito, em plena comunhão com Deus, Jesus é alguém que desfruta de comunhão com Deus e, portanto, em condições de estar cheio do Espírito Santo, tendo compaixão do próximo e lhe trazendo saúde física, moral e espiritual.
– Lucas, então, descreve curas realizadas pelo Senhor Jesus, sempre enfatizando este lado compassivo de Cristo, a revelar que as curas buscavam não uma demonstração de poder por parte de Nosso Senhor, mas, sim, uma comprovação do grande amor de Deus para com o homem, que quer religá-lo a Deus, prometendo não só a cura física imediata operada, mas a salvação da alma, que permitirá que, com a glorificação, estejamos não só livres de qualquer doença, mas também da condenação eterna.
– Já na sinagoga de Nazaré, Jesus revela que tinha vindo para curar os quebrantados do coração e dar vista aos cegos (Lc.4:18,19), operações que devem ser entendidas tanto no sentido físico quanto no sentido espiritual.
Tanto assim é que os nazaritas se revoltaram contra o Senhor quando Jesus disse que não faria muitos milagres ali (Lc.4:23-27), precisamente porque não havia ali fé suficiente para a realização de maravilhas (Mc.6:5,6).
– A primeira cura de enfermidade mencionada por Lucas foi a cura da sogra de Pedro (Lc.4:37-40), seguida da cura de várias enfermidades de pessoas que foram até a casa de Pedro em Cafarnaum. A sogra de Pedro estava com febre e o evangelista nos mostra que Jesus repreendeu a febre, após ter se inclinado para ela. Logo em seguida, a sogra de Pedro se levantou e serviu os que estavam na casa.
– Notemos, de pronto, que Jesus curou a sogra de Pedro porque algumas pessoas (talvez o próprio Pedro entre elas) rogou, pediu para que Jesus a curasse. Vemos aqui, portanto, de pronto, que há uma nítida demonstração de compaixão, de sentir aquilo que o próximo estava sentindo. As pessoas pediram a Jesus que curasse a sogra de Pedro, porque tinham amor por ela.
– Jesus, solidário com este sentimento, vai até onde estava a sogra de Pedro e se inclinou para ela (Lc.4:39). Jesus mostra aqui todo Seu cuidado, todo Seu amor. Ele foi até onde estava a sogra de Pedro e Se inclinou para ela. Demonstrou ter compaixão, mostrou ter carinho e zelo para com aquela mulher. As curas de Jesus são, sobretudo, demonstração do Seu amor para com o homem.
– Diante da cura da sogra de Pedro, a notícia se espalhou em Cafarnaum e, ao pôr do sol, vários enfermos vieram até a casa de Pedro e Jesus, impondo as mãos sobre cada um deles, curou a todos. Mais uma vez vemos o cuidado e o amor de Cristo, pois Ele impôs as mãos sobre cada um deles, tratou a cada um individualmente, embora fosse muitos, tendo curado a todos.
– Fritz Rienecker fala a respeito desta circunstância peculiar da crua de Jesus, que só se encontra no evangelho segundo Lucas, “in verbis”: “…Jesus impunha as mãos em cada doente, curando-o. Portanto, dedicou-se de forma muito especial a cada um.
Não realizava curas em massa. Jesus falou diante de milhares, mas seu alvo era a salvação da alma pessoal. Ainda hoje Jesus é assim. Seu olhar vê o todo e pousa sobre cada um dos seus. Dedica-se à alma individual como se estivesse exclusivamente à disposição dela. Está disponível para cada um e também para todos!
Os outros dois evangelhos sinóticos não mencionam a imposição das mãos. Lucas não deve ter acrescentado esse detalhe por conta própria. Logo, tinha uma testemunha especial. Esse gesto é o símbolo da transmissão, seja de cargo (1Tm 5.22; etc.), de bênção (Gn 48.14; etc.), de culpa (Lv 4.4,15,24), de dom (2Tm 1.6), ou, como aqui, da dádiva do poder e da saúde (At 9.17; etc.).
Verdade é que Jesus também poderia ter curado apenas através da palavra (Lc 7.6-10), e até mesmo por meio de um simples ato de vontade (Jo 4.49s). No entanto, o principal é que há um aspecto genuinamente humano nessa imposição da mão sobre a cabeça daquele a quem se devota o sentimento de apreço.
É um movimento de amor. Dessa maneira Jesus visa estabelecer um laço pessoal com o enfermo, pois não visa meramente curar, mas conduzir de volta para Deus!…” (RIENECKER, Fritz. Lucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.80).
– Este mesmo cuidado devemos ter com relação aos enfermos. Jesus deu aos Seus discípulos o poder de curar enfermos (Mc.16:18), mas tal poder deve ser exercido não como demonstração de poder e de exaltação do servo de Deus, mas com amor e compaixão junto aos enfermos.
Devemos impor as mãos sobre os enfermos, a cada um deles, inclinarmo-nos a cada um, termos compaixão pelo próximo, pois assim o Senhor operará e alcançaremos a glorificação o nome do Senhor.
– A segunda cura relatada por Lucas é a cura de um leproso, em uma das cidades da Galileia (Lc.5:12- 16). Lucas faz questão de dizer que aquele homem estava “cheio de lepra” e, violando a própria lei, prostrou-se sobre o seu rosto e pediu ao Senhor que fosse limpo, se esta fosse a Sua vontade.
OBS: “…A cura do leproso deve ter acontecido nas cercanias de Cafarnaum ou na própria Cafarnaum. O texto grego descreve de forma palpável a surpresa causada pelo imprevisto e terrível aspecto. O enfermo estava lá sem que alguém o tivesse visto aproximar-se. Com certeza isso era uma surpresa, afinal ele havia transgredido os preceitos da lei.
A expressão grega pleres lepras (cheio de lepra), que pode ser traduzido por “coberto de lepra de alto a baixo”, é um termo técnico médico. A lepra já havia atingido o último estágio. Completamente sem esperança, o infeliz estava entregue à morte. O expulso buscava a Jesus, provavelmente porque já havia ouvido muito acerca dele, a fim de obter dele ajuda e cura.…” (RIENECKER, Fritz. op.cit., p.87).
– Jesus demonstra aqui, mais uma vez, a Sua compaixão. Segundo a lei, o leproso não poderia se aproximar das pessoas sadias, devendo sempre exclamar “imundo” para que as pessoas dele se afastassem e ele pudesse, então, seguir o seu caminho (Lv.13:44-46).
No entanto, aquele homem veio ao encontro do Senhor, embora cheio de lepra, e o Senhor não Se afastou dele, mas, antes, disse que era da Sua vontade que o leproso fosse limpo e o curou, cura, aliás, que aumentou a Sua fama e fez com que muitos outros doentes O procurassem e fossem curados.
– Logo após a notícia da cura do leproso e de outras pessoas, Lucas afirma que Jesus Se retirou para os desertos e ali orava (Lc.5:16). Vemos aqui mais uma demonstração de que Jesus agia, nas curas, como homem, e, para tanto, tinha de orar para Se fortalecer espiritualmente e, assim, ter “a virtude do Senhor para curar” (Lc.6:17).
– Temos aqui uma grande lição. Precisamos ter uma vida de oração, uma vida de santificação e de consagração para que “a virtude do Senhor para curar” esteja conosco. Não estamos a falar a respeito do dom de cura, que é dado soberanamente pelo Espírito Santo a alguns crentes (I Co.12:11), mas, sim, do sinal que segue a todos os que creem (Mc.16:17,18).
Não vemos hoje tantas curas operadas pelos servos de Cristo, porque não temos seguido o exemplo de Cristo de mantermos uma vida de oração e de santificação, para que tenhamos a “virtude do Senhor para curar”.
– Lucas, então, relata a cura do paralítico que foi levado por quatro amigos para dentro de uma casa onde Jesus ensinava para uma plateia que estava repleta de fariseus e doutores da lei , que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém.
Estes amigos tinham tanta compaixão por este paralítico que, não podendo entrar na casa onde Jesus estava, subiram no telhado daquela moradia e, pelo telhado, levaram aquele paralítico até a presença de Jesus (Lc.4:17-26).
– Em mais uma demonstração de compaixão, o Senhor Jesus, vendo a fé dos amigos do paralítico e do próprio paralítico, perdoou os pecados daquele homem e, ante a incredulidade de sua plateia, curou aquele paralítico para provar que tinha Ele poder para perdoar pecados.
Vemos, neste milagre, o Senhor Jesus mostrando o objetivo do milagre de cura de enfermidades era a salvação das pessoas, que a cura tem um valor instrumental na missão salvífica de Cristo, algo que tem sido esquecido em nossos dias.
Não é à toa que o lema das Assembleias de Deus é “Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e brevemente voltará”. A mensagem principal é a da salvação, a cura é uma confirmação da redenção do homem, da salvação.
– Devemos observar aqui que o gesto daqueles amigos do paralítico contrariava uma crença disseminada entre os judeus de que a doença era decorrência de pecado e que, portanto, o doente não era merecedor de compaixão, mas, sim, de repreensão, de censura.
Ao levar em conta a fé dos amigos do paralítico, Jesus mostra Seu agrado para com uma atitude de misericórdia em relação ao pecador e não de censura e condenação. Como diz Fritz Rienecker: “…Com Jesus, porém, foi diferente.
Ele alegra-se imensamente com a ação desses homens. Nesse empenho, que ultrapassa todos os escrúpulos comuns, ele constata fé, mais precisamente uma fé viva, que é tudo que ele espera das pessoas. A fé viva rompe todos os empecilhos, passa “por pedra e aço”. Para o doente com certeza significava muito sofrimento chegar a Jesus por uma via tão incomum.
Foi deitado no meio do grande número de presentes, exposto aos olhares de todos. Uma vez que segundo a concepção dos judeus a enfermidade sempre era decorrência do pecado, enfrentar o público ao dirigir-se ao Senhor era duplamente difícil para o enfermo, pois ele se apresentava como pecador não somente perante o Redentor, mas perante todo o povo presente.
No entanto, afastou de si qualquer preocupação com pessoas. Agora havia a oportunidade de um encontro com Jesus. Por princípio é improvável e impossível que o paralítico tenha se deixado levar como se fosse um pedaço de pau, carregado para qualquer lugar, e levado literalmente para cima e para baixo no local em que Jesus atuava e ensinava.
– Pelo contrário, parece de fato ter sido sua coragem de fé o motivo desse empreendimento. Conforme já assinalamos, Jesus viu na fé não meramente o anseio de restauração de um enfermo, mas o anseio de reconciliação de uma alma ciente de sua culpa e ávida por salvação, que havia enveredado por esse genial e aéreo caminho de refúgio.
De fato ele reconhecia nesse grupo audacioso a fé coletiva, dizendo ao enfermo: “Homem, teus pecados estão perdoados!”…( RIENECKER, Fritz. op.cit., p.90).
– Em seguida, o próximo milagre de cura mencionado por Lucas é a cura de um homem que tinha a sua mão direita mirrada, ocorrido numa sinagoga num dia de sábado (Lc.6:6-11). No relato de Lucas, vemos a contradição que existia entre Jesus e os fariseus. Enquanto Jesus sentia compaixão pelos enfermos, os fariseus estavam interessados em acusar o Senhor, vendo se Ele curaria aquele homem no sábado.
– Esta circunstância trazida pelo evangelista permite-nos até especular que os fariseus haviam colocado aquele homem ali exatamente para que Jesus o curasse para ter de que O acusar. Enquanto os fariseus se preocupavam em acusar Jesus, Jesus estava interessado em curar as enfermidades.
Será que temos nos comportado como os fariseus, querendo acusar as pessoas que têm confiado em Deus e sido instrumentos de curas em nossos dias, em vez de termos também compaixão pelos enfermos e buscarmos a presença do Senhor para que os enfermos sejam curados? Pensemos nisto!
– Jesus, porém, sabendo o mau intento dos fariseus, mandou que o homem se pusesse de pé no meio da sinagoga e mandou que ele estendesse a mão, tendo sido a mão curada. Antes, porém, o Senhor mostrou toda a incredulidade dos fariseus, revelando que não era ilícito de forma alguma fazer o bem no sábado, que o mandamento do sábado não poderia ser usado para prejudicar alguém.
OBS: “…O sentido implícito (infelizmente ocultado pelos judeus) do sábado é que o verdadeiro amor a Deus e o verdadeiro amor ao próximo sejam restabelecidos. Pelo fato de que o verdadeiro amor visa salvar a vida e não deixá-la perecer, Jesus mostra que seu alvo último, e por isso também o alvo do amor (afinal, ele é o amor), é a restauração e a convalescença de tudo aquilo que “aqui claudica, geme e suplica”.
De forma poderosa, Jesus mostra-se desde já como o restaurador de toda a criação de Deus. Irrompeu o ano da graça do Senhor (Lc 4.16-19). Em seu sábado os judeus haviam deixado o homem “ressecar”.
– O Senhor do ano da graça, porém, com o verdadeiro e eterno sábado, não há de deixar os humanos ressequir-se perpetuamente, mas os fará “reerguerem-se” para a verdadeira vida, para o verdadeiro rigor e a beleza divina.…( RIENECKER, Fritz. op.cit., p.96).
– Lucas, então, antes de relatar o chamado “sermão da planície”, faz questão de dizer que, naquele lugar plano, havia se ajuntado uma multidão que viera de toda Judeia, de Jerusalém e da costa marítima de Tiro e de Sidom, com o objetivo de serem curados de suas enfermidades e não saíam decepcionados, pois Jesus a todos curou, pois d’Ele saía virtude para curar (Lc.6:18,19).
– A cura seguinte relatada por Lucas é a do servo do centurião em Cafarnaum (Lc.7:1-10). Mais uma vez aqui vemos a ação da compaixão, tanto de Jesus quanto do próprio centurião.
– O centurião deveria ser a maior autoridade militar romana na cidade de Cafarnaum, pois, como centurião, era o comandante de cem soldados romanos e Cafarnaum não era uma cidade que tivesse mais de cem soldados romanos para garantir a ordem e a segurança do poder romano naquela cidade.
– Tal centurião revelou ser um homem compassivo e amoroso, porquanto se preocupou com a enfermidade de um servo seu, de um escravo, que se encontrava doente e moribundo, um comportamento incomum para um romano, que não tinham, no mais das vezes, qualquer consideração por seus escravos. Este homem, porém, ao ouvir falar de Jesus, de Suas curas, pediu que anciãos dos judeus fossem ao encontro de Cristo, pedindo em favor da cura de seu servo.
– Os anciãos dos judeus, então, foram ao encontro de Jesus e o Senhor, então, atendeu a este pedido, em mais um gesto inusitado, já que o centurião era um gentio, tanto que os anciãos tentaram convencer Jesus a atender o pedido do centurião mostrando que se tratava de um amigo dos judeus.
Cristo, porém, não atendeu ao pedido por causa do testemunho dado pelos anciãos, mas porque era compassivo e amoroso para com todos os seres humanos.
– Jesus, então, foi em direção à casa do centurião e este, ao saber disto, disse que o Senhor não precisaria ir até sua casa, comprometendo-se diante da própria sociedade, já que não era lícito a um judeu ir a casa de um gentio (Cf. At.10:28), mas que uma só palavra seria suficiente para que seu servo fosse curado. Jesus, então, exaltou a fé daquele homem e efetuou a cura à distância.
– Lucas, então, relata curas diversas que Jesus fez diante dos discípulos de João Batista (Lc.7:21-23), para comprovar que Ele era o Messias que havia sido anunciado pelo próprio João Batista, em mais uma demonstração que tais sinais e maravilhas tinham o propósito de mostrar ao povo de Israel a Sua messianidade.
Como diz Charles Spurgeon: “…Nosso velho provérbio diz que ações falam mais alto que palavras, então, uma resposta em Suas ações seriam mais eloquentes com estes inquiridores do que mesmo uma resposta nas próprias palavras do Senhor.
Ele os convidou a olhar pas evidências de Sua messianidade, que lhes deu pelos Seus sinais miraculosos…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de Lc.7:18-50 – apêndice ao sermão A glória de Cristo coroado, p.6. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols49- 51/chs2876.pdf Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).
– Além da prova da messianidade, este episódio reforça a instrumentalidade que ocupavam os milagres de Jesus em Seu ministério. É o que nos ensina William Hendriksen, “in verbis”: “…Então os emissários de João recebem a incumbência de voltar e contar a João o que eles pessoalmente testemunharam (viram e ouviram): (pessoas) cegas estão recobrando sua vista, os coxos estão andando etc.
A omissão do artigo no grego faz com que toda a ênfase recaia sobre a trágica condição dessas pessoas. ‘[Os] mortos ressuscitam’ é um eco da ocorrência em Naim. Esse é certamente o clímax; aqui a sentença deve terminar, porque não pode haver obra maior do que a de ressuscitar os mortos.
Assim poderíamos arrazoar. Mas o evangelista inspirado que ora relata as palavras de Cristo o sabe melhor. A ressurreição de mortos não é o clímax. Há algo ainda maior, a saber: “aos pobres estão sendo pregadas as boas-novas”. Essa é a maior de todas as obras.…”(Lucas. Trad. de Valter Graciano Martins. Digitaliz. por Kerix Digital, v.1, p.528).
– Lucas, então, narra a cura da mulher do fluxo de sangue (Lc.8:43-48), uma mulher que, também pela lei, não podia estar no meio da multidão nem sequer tocar na orla do vestido de Jesus, pois era cerimonialmente imunda (Lv.15:25-28).
Tendo gasto todos os seus recursos com os médicos, sem que tivesse sido curada, resolveu buscar a Jesus e conseguiu ser curada. O Senhor, porém, sabendo que d’Ele havia saído virtude, fez com que aquela mulher se revelasse e lhe deu, então, a salvação.
Temos aqui mais uma demonstração do amor e compaixão de Cristo, bem como a instrumentalidade da cura em relação à salvação. Jesus não Se preocupou em ser considerado imundo pela mulher lhe ter tocado, mas, sim, em salvar aquela alma, além de curá-la. Será que temos esta mesma compaixão?
– A próxima cura a ser narrada por Lucas é a cura de um hidrópico, na casa de um dos principais dos fariseus, num dia de sábado (Lc.14:1-6). Vemos aqui, uma vez mais, uma possível cilada dos fariseus contra o Senhor, vendo se Ele haveria de “quebrar o sábado”, curando um enfermo, já que era absolutamente incomum que um doente pudesse estar na casa de um fariseu, ainda mais um dos principais dos fariseus.
– O próprio Jesus, vendo esta circunstância, indagou os fariseus a respeito da licitude da cura no sábado e, diante do silêncio dos fariseus, curou aquele homem, tendo, então, despedido aquele homem e, ainda, ensinado aqueles homens que, como a lei permitia que, no sábado, podia ser um animal retirado de um poço em que havia caído, à evidência a lei permitia que um homem fosse curado.
– Neste gesto, Jesus mostrava, uma vez mais, que o amor e a compaixão era o móvel para as Suas curas, que tinham o propósito de mostrar o grande amor de Deus para com a humanidade, que tinha a salvação como Seu alvo.
– Esta instrumentalidade da cura fica bem evidenciada no relato de Lucas a respeito da cura de dez leprosos, numa certa aldeia quando Jesus ia para Jerusalém (Lc.17:11-19). Os leprosos, cumprindo a lei mosaica, de longe, sem se aproximarem de Jesus, pediram que fossem curados e o Senhor, então, prontamente os atendeu, mandando que fossem se mostrar aos sacerdotes, expressão que significava que seriam limpos, pois o leproso só poderia ir ao sacerdote quando estivesse limpo (Lv.14).
– Um daqueles leprosos, que era samaritano, ao perceber que estava limpo, voltou até onde estava Jesus, glorificando a Deus pela cura. Jesus estava no mesmo lugar e, quando este chegou, o Senhor lhe perguntou a respeito dos outros nove, que não haviam sido gratos e não haviam voltado para agradecer. Somente este samaritano teve seus pecados perdoados, prova de que o alvo de Cristo era a salvação, não a cura física.
– O milagre de cura seguinte que é relatado por Lucas é a cura do cego de Jericó (Lc.18:35-43). Jericó era uma cidade amaldiçoada (Js.6:26,27), tanto que Jesus somente foi até ela uma única vez. No entanto, também à cidade amaldiçoada o Senhor Jesus havia vindo, e, quando lá esteve, também ouviu o clamor daquele cego que, sabendo que Ele estava passando pela cidade, pediu a sua cura, apesar de toda a oposição da multidão, que mandava que aquele homem se calasse. Jesus revela, mais uma vez, a Sua compaixão.
Se até aqui vimos milagres operados pela reunião da compaixão dos homens e de Jesus, neste milagre, vemos que a compaixão de Jesus permanece mesmo quando a dos homens cessa. Jesus manda que chamassem o cego e Ele o cura, a mostrar que o amor de Deus existe mesmo quando não há amor entre os homens.
– A próxima cura relatada por Lucas é a cura da orelha direita do servo do sumo sacerdote (Lc.22:50,51). Um dos discípulos tentou impedir a prisão de Jesus, usando de uma espada que tinha, espada esta que foi usada para cortar a cabeça do servo do sumo sacerdote, que deveria estar à frente do soldados, tendo o referido servo conseguido desviar-se da espada, tendo ferida apenas a sua orelha, que foi cortada.
Jesus, porém, repreendeu o gesto do discípulo e curou a orelha do servo do sumo sacerdote, gesto que, certamente, fez com que os discípulos O abandonassem, vendo que “a causa estava perdida”.
OBS: “O Senhor nunca Se esquece da Sua bondade. Seus inimigos procuram a morte do justo e Este cura as feridas dos que O perseguem” (BEDA. Catena áurea. Lc.22:47-53. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c617.html Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Esta cura do servo do sumo sacerdote revela como a cura é instrumental em relação à vontade de Deus. Jesus cura o servo do sumo sacerdote, que estava ali para O prender para que a vontade de Deus se cumprisse, para que Ele fosse preso e morresse por nós, mas também para que Seus discípulos não fossem igualmente presos ou culpados de algum crime, pois isto contrariaria o plano divino em relação a eles.
Há, portanto, curas que não representam a salvação do que foi curado, mas, sim, que servem como meio para impedir que se deixe de cumprir a vontade divina.
OBS: “…A orelha tinha sido decepada e estava pendendo por um fio de pele (Lenski)? Seja como for que se conceba isso, Lucas, sendo ele mesmo alguém que curava, informa que Jesus tocou a orelha do homem e o curou.
Não havia a probabilidade de que se pudesse reportar com veracidade que Jesus tivesse pessoalmente feito algo errado ou que permitisse que algo errado feito por outro ficasse sem ser retificado. Além do mais, uma vez mais vemos Jesus como o grande Compassivo e Curador, o Salvador, e isso não só no tocante à alma (no caso de todo aquele que põe nele sua confiança), mas inclusive ao corpo. Veja Mateus 4.23; Lucas 4.40; 7.21; Atos 2.22; 10.38.…” (HENDRIKSEN, William. Lucas. Trad. de Válter Graciano Martins. Digitaliz. por Kerix Digital, v.2, p.598).
III – AS RESSURREIÇÕES DE MORTOS NARRADAS POR LUCAS
– Lucas também narra milagres de ressurreição de mortos operados por Jesus, a mostrar que Ele veio resgatar o homem e, como tal, operou milagres de ressurreição para mostrar que Ele também veio suplantar a morte física, consequência do pecado.
– As ressurreições de mortos eram mais uma demonstração da messianidade de Cristo e de Sua superioridade em relação ao próprio Moisés, já que este não ressuscitou qualquer morto, como também Sua superioridade em relação a Elias e a Eliseu, que foram os únicos profetas do Antigo Testamento a operar tal milagre. Entretanto, enquanto Elias ressuscitou uma pessoa e Eliseu, duas, Jesus operou três milagres de ressurreição de mortos, dois dos quais narrados no evangelho segundo Lucas.
– O primeiro milagre de ressurreição narrado por Lucas é o do filho da viúva de Naim (Lc.7:11-17), onde se demonstra a compaixão de Jesus. A narrativa mostra que Jesus, passando pela cidade de Naim, na Galileia, teve compaixão de uma mulher que levava seu filho para ser sepultado.
Jesus, ao encontrar aquela multidão que acompanha o féretro, dirigiu-Se à mulher e disse para que ela não chorasse. Jesus moveu-Se de compaixão, pois sabia que aquela mulher era viúva e estava levando seu único filho para ser sepultado.
OBS: “…Essa cidade [Naim] não é mencionada em qualquer outro trecho das Escrituras. Porém tem sido identifica com Naim, uma aldeia cerca de dez quilômetros a suleste de Nazaré, e a quase cinco quilômetros a nordeste de Solém, o lugar onde tinha habitado a mulher sunamita, quando Eliseu lhe ressuscitou o filho.…” (CHAMPLIN, Russell Norman.
Naim. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.4, p.445) (destaque original). “…Naim era uma cidade da Galileia que distava duas léguas do monte Tabor. “ (BEDA. Catena áurea. Luc.7:11-17. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c481.html Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– É importante aqui vermos a observação do comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714), “in verbis”: “…Podemos muito bem imaginar quão profunda era a tristeza dessa pobre mãe por seu único filho (esta tristeza é descrita como a expressão da maior das tristezas – Zacarias 12.10), e era ainda mais profunda por ser ela uma viúva.
Aquela pobre mulher foi se separando gradativamente daqueles que lhe eram próximos e queridos, e agora o seu bem-estar chegava ao fim. Muitas pessoas da cidade estavam com ela, apresentando as suas condolências pela sua perda, e confortando-a.
Cristo mostrou a Sua piedade e o Seu poder ao ressuscitá-lo, para que pudesse dar uma amostra de ambos, que brilham tão gloriosamente na redenção do homem. (1) Veja quão afetuosa é a Sua compaixão para com os aflitos (v. 13). (…)(2)
Veja como as Suas ordens triunfam até mesmo sobre a própria morte (v. 14)…” (Comentário bíblico Novo Testamento – Mateus a João – edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior. Digitaliz. por Escriba Digital, p. 598).
OBS: Como afirma João Crisóstomo (347-407): “…Consolando assim a tristeza e fazendo cessar as lágrimas nos ensina a consolar-nos da perda de nossos defuntos esperando a sua ressurreição…” (Catena áurea. Lc.7:11-17. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c481.html Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Jesus, então, foi até o esquife onde estava o jovem e mandou que ele se levantasse e o mesmo ressuscitou, tendo, então, o Senhor o entregado a sua mãe. Jesus mostra, então, Seu poder sobre a morte física, que era realmente o Messias, mas que o que O motivava não era a demonstração de poder, mas a compaixão para com aquela viúva, que era representante, juntamente com o órfão, da classe mais desamparada da sociedade. Como diz Beda (673-735):
“…Disse o evangelista que o que primeiro moveu o Senhor foi a misericórdia, quando viu a mãe e que depois ressuscitou o filho para dar-nos, por um lado, um modelo de misericórdia e, por outro, um motivo de crer em Seu poder maravilhoso…” (Catena áurea Lc.7:11-17. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c481.html Acesso em 09 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Como consequência deste grande milagre, Jesus foi reconhecido como um grande profeta que havia se levantado em Israel e que Deus havia visitado o Seu povo. Este era o propósito deste milagre: mostrar que Jesus era o Cristo.
– O outro milagre de ressurreição de mortos mencionado no Evangelho segundo Lucas é a ressurreição da filha de Jairo (Lc.8:49-56). Aqui, também, Jesus, movido por compaixão, atende ao pedido de Jairo, principal da sinagoga de Cafarnaum, e vai até a sua casa, visto que sua filha estava moribunda.
– No caminho, alguns chegam e dizem para que Jairo não mais importunasse o Senhor pois sua filha já havia morrido, ocasião em que Jesus diz a Jairo que somente cresse. Jesus estava a dizer que não tinha apenas a virtude do Senhor para curar, mas, também, para ressuscitar mortos.
– Jesus chega até a casa de Jairo, diz que a menina apenas dormia e é zombado pelos que ali estavam. Nesta Sua afirmação, porém, há uma grande realidade espiritual que deve ser entendida pelos salvos em Cristo Jesus.
A morte física para um salvo é apenas um sono, que findará no dia do arrebatamento da Igreja. Como ensina Matthew Henry: “…Mas Cristo lhes disse: Não choreis; não está morta, mas dorme. O Senhor queria dizer, no caso dela em particular, que ela não estava definitivamente morta, mas que logo seria ressuscitada, de forma que seria para os seus amigos como se ela tivesse dormido por algumas horas.
Mas isto é aplicável a todos os que morrem no Senhor; portanto, não devemos nos entristecer por eles como aqueles que não têm esperança, porque a morte é apenas um sono para eles, não só como um descanso de todos os trabalhos pesados dos seus dias e do tempo; mas haverá uma ressurreição, pela qual caminharemos e viveremos para todas as glórias da eternidade.
Esta foi uma palavra consoladora que Cristo disse a estes pranteadores, ainda que eles maldosamente achassem um absurdo, tentando ridicularizar a sua Palavra, e rissem dele; mas o Senhor não lhes disse mais nada, para não lançar pérolas aos porcos.…” (op.cit., p.584).
– Acompanhado de Pedro, Tiago, João e os pais da menina, Jesus vai até o quarto onde estava a menina e manda que ela se levante, tendo ela, então, levantado e Jesus mandado que lhe dessem de comer.
– Nos dois episódios de ressurreição, vemos, mais uma vez, o imenso cuidado e compaixão do Senhor. Jesus, tanto para o filho da viúva de Naim quanto para a filha de Jairo, dirige-Se aos mortos onde estavam e manda que eles se levantassem.
Isto mostra o mesmo cuidado que Jesus tinha para com os enfermos. Jesus não tratava com massas, mas tratava individualmente, tinha um cuidado todo especial com cada um que era objeto de Seu amor e de Sua misericórdia.
– Em ambos os episódios, Jesus toca o morto, o que era cerimonialmente vedado (Nm.19:11), numa clara demonstração de Sua compaixão e de Seu cuidado para com o que precisa de um milagre da parte de Deus. Jesus tocou os mortos para lhes dar vida e, portanto, Sua operação suplantava o próprio cerimonial da lei.
Em vez de ser imundo por tocar um morto, Jesus devolvia a vida ao morto, dando motivo para glorificação do nome do Senhor, a mostrar, assim, que viera para retirar a separação que havia entre Deus e o homem. Era Ele, sem sombra de dúvida, a “semente da mulher” que havia restaurado a amizade entre Deus e a humanidade!
– Em ambos os episódios, Jesus manda que as pessoas se levantassem e mostra que não só os ressuscitou, como também os curou de toda e qualquer doença que tinham. O filho da viúva de Naim começou a falar, assim que se assentou ainda no esquife onde se encontrava e a filha de Jairo foi se alimentar, a mostrar que já tinha saúde, pois só pessoas saudáveis têm apetite. Trata-se, pois, de uma obra completa.
– Em ambos os episódios, Jesus mandou que os mortos se levantassem. Como diz Matthew Henry, ao comentar a ressurreição do filho da viúva de Naim: “…O chamado do Evangelho para todos, para os jovens em particular, é: Levanta-te, levanta-te dos mortos e Cristo te dará luz e vida.
O domínio de Cristo sobre a morte foi evidenciado pelo efeito imediato da sua palavra (v. 15). Aquele que estava morto sentou-se. Temos a graça de Cristo? Vamos mostrá-la. Outra evidência de vida foi que ele começou a falar; pois sempre que Cristo nos dá vida espiritual, Ele abre os lábios em oração e louvor.…” (op.cit., p.572).
Vemos, aqui, mais um ecoar dos ensinos de Paulo no evangelho segundo Lucas, pois o apóstolo dos gentios foi quem disse para despertarmos dentre os mortos, pois Cristo nos esclarecerá (Ef.5:14).
IV – JESUS TRANSMITE O PODER DE CURA DE ENFERMIDADES AOS SEUS DISCÍPULOS
– Mas Lucas não se restringe a mostrar que Jesus veio curar enfermidades e ressuscitar mortos. Também nos relata que este poder que havia sobre Jesus também estava à disposição de Seus discípulos.
– Ao comissionar os doze discípulos para o “estágio” de seu discipulado, Jesus deu-lhes poder para curarem enfermidades, enviando-os a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos (Lc.9:1,2).
– De igual modo, quando o Senhor comissionou outros setenta discípulos para ir adiante dele nas cidades e lugares por onde passaria, também lhes deu poder para curar enfermos e pregar o Evangelho (Lc.10:9), em mais um “estágio” que era dado a Seus discípulos, e aqui não estamos a falar dos apóstolos, mas de outros discípulos.
– Em seu Evangelho, Lucas diz que houve este “estágio”, esta preparação dos discípulos para que curassem enfermidades, mas, em Atos dos Apóstolos, o médico amado mostra que, a partir do dia de Pentecostes, deveria ser esta uma constante na Igreja, que deveria pregar o Evangelho e curar enfermos (At.1:8; 2:43; 5:12,16; 6:8; 8:6,13; 14:3; 15:12).
– Tal circunstância mostra-nos, portanto, que a missão completa dos discípulos de Jesus não é apenas o de pregar o Evangelho, mas, também, de confirmar a palavra que é pregada com sinais, prodígios e maravilhas, entre os quais se destaca a cura de enfermos.
– Não há como se cumprir a missão dada pelo Senhor se, ao lado da pregação do Evangelho, não houver, também, curas de enfermidades. Jesus salva, mas também cura enfermidades e, para tanto, devemos buscar o poder que Jesus deixa à disposição de Seus discípulos, de Seus servos.
– Notemos, amados irmãos, que este poder de cura de enfermidades não era para ser efetivado tão somente até o final dos tempos apostólicos, até que se completasse a revelação da Bíblia Sagrada, como afirmam os chamados “cessacionistas”, que entendem que, após ter sido as Escrituras completadas com o livro do Apocalipse, não há mais espaço para esta operação de maravilhas, que seria adstrito apenas aos apóstolos.
– No entanto, no evangelho segundo Lucas e no livro de Atos dos Apóstolos, vemos que os sinais e maravilhas não estavam adstritos apenas aos doze e a Paulo, os apóstolos do Cordeiro. Com efeito, já no Evangelho, vemos que este poder foi dado aos doze mas também aos “outro setenta”, que não eram apóstolos mas que também receberam tal poder.
– No livro de Atos, também, vemos que não apenas os apóstolos faziam sinais e maravilhas, mas também outros que não eram dos doze nem Paulo, como é o caso de Estêvão e de Filipe, a provar, portanto, que não se trata de uma operação exclusiva dos apóstolos e que o fato de não haver mais apóstolos a partir de João isto não significa, em absoluto, que não esteja à disposição da Igreja o poder de curar enfermos, um sinal que segue a todo o que crê (Mc.16:17,18).
– A cura de enfermidades e a ressurreição de mortos continuam a ser operações que servem para a confirmação da Palavra (Mc.16:20), operações que comprovam a messianidade de Jesus e que veio Ele para salvar a humanidade e trazer a comunhão com Deus, tirando o pecado do mundo e dando a vida eterna a todos quantos creem em Seu nome.
– Há, ainda, outro ponto que deve ser enfocado. O Evangelho não veio apenas para trazer a salvação da alma e a vivificação do espírito, mas também restaurar o corpo. Como dizia o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), “o mesmo Jesus que veio salvar a alma, veio também curar o corpo”, como deixa claro o salmista no Sl.103:3 e o profeta Isaías em Is.53:4,5.
OBS: Reproduzimos aqui parágrafo interessante do Catecismo da Igreja Romana, que nos incentiva a cumprir este aspecto da missão salvífica de Cristo: “«Curai os enfermos!» (Mt.10:8). A Igreja recebeu este encargo do Senhor e procura cumpri-lo, tanto pelos cuidados que dispensa aos doentes, como pela oração de intercessão com que os acompanha.
Ela “crê na presença vivificante de Cristo, médico das almas e dos corpos, presença que age particularmente através dos sacramentos e de modo muito especial da Eucaristia, pão que dá a vida eterna (Jo.6:54,58) e cuja ligação com a saúde corporal é insinuada por São Paulo (I Co.11:30)” (§ 1509 CIC).
– É evidente que, tanto quanto a salvação da alma e a vivificação do espírito, a total libertação do corpo somente se dará com a glorificação, de modo que o fato de Jesus curar além de salvar não significa que haja uma imunidade dos crentes perante doenças e perante a morte física, como ensinam equivocadamente a teologia da confissão positiva.
Em Lucas, como diz William Hendriksen, “…vemos Jesus como o grande Compassivo e Curador, o Salvador, e isso não só no tocante à alma (no caso de todo aquele que põe nele sua confiança), mas inclusive ao corpo.
Veja Mateus 4.23; Lucas 4.40; 7.21; Atos 2.22; 10.38.…” (Lucas. Trad. de Válter Graciano Martins. Digitaliz. por Kerix Digital, v.2, p.598). A cura de enfermidades é uma demonstração do grande amor de Deus, mas isto não retira a realidade de que, enquanto não formos glorificados, ficaremos doentes e até morreremos fisicamente, pois a morte é o último aguilhão a ser retirado do povo de Deus (I Co.15:54-56).
– O Catecismo da Igreja Romana bem analisa este aspecto, que vale a pena reproduzir, por sua biblicidade: “Comovido por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos doentes, como também faz Suas as misérias deles: «Tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças» (Mt. 8:17) (Cf. Is.53:4).
Ele não curou todos os doentes. As curas que fazia eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e sobre a morte, mediante a Sua Páscoa.
Na cruz, Cristo tomou sobre Si todo o peso do mal (Is.53:4-6) e tirou «o pecado do mundo» (Jo.1:29), do qual a doença não é mais que uma consequência. Pela Sua paixão e morte na cruz. Cristo deu novo sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à Sua paixão redentora” (§ 1505 CIC).
– Lucas diz que de Jesus saía virtude para curar a todos (Lc.6:19) e isto é uma demonstração de que da Igreja, que é o corpo de Cristo (I Co.12:27; Ef.4:12), deve continuar saindo virtude para curar os enfermos.
O Catecismo da Igreja Romana identifica esta “virtude” com os “sacramentos”, mas, na verdade, esta “virtude” é a virtude do Espírito Santo, o poder de Deus deixado à disposição dos salvos em Cristo Jesus para provarem a redenção da humanidade por Cristo. A cura de enfermidades é uma das provas de que Jesus veio salvar o mundo e, quando exercemos tal poder, tornamo-nos eficazes e eficientes testemunhas de Cristo Jesus (At.1:8).
OBS: Reproduzimos aqui o parágrafo do Catecismo da Igreja Romana: “Frequentemente, Jesus pede aos doentes que acreditem (Cf. Mc. 5:34,36; 9:23). Serve-se de sinais para curar: saliva e imposição das mãos (Cf. Mc.7:32-36; 8:22-25), lodo e lavagem (Cf. Jo. 9:6-15).
Por seu lado, os doentes procuram tocar-Lhe (Cf. Mc. 3:10; 6:56), «porque saía d’Ele uma força que a todos curava» (Lc.6:19). Por isso, nos sacramentos, Cristo continua a «tocar-nos» para nos curar.” (§ 1504 CIC).
– Na glorificação, que ocorrerá quando do arrebatamento da Igreja, as doenças e a morte física serão finalmente derrotadas e todos os crentes, em corpos glorificados, completamente curados e, se tiverem morrido, ressuscitados, encontrar-se-ão com o Senhor nos ares para viver eternamente com o Senhor (I Co.15: 51-56; I Ts.4:13-18).
– Devemos, pois, buscar a Deus em oração, como fazia o Senhor Jesus, para que tenhamos “a virtude do Senhor para curar” e, através da cura de enfermidades, levarmos as pessoas a reconhecer que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador da humanidade.
Há absoluta necessidade de realização de sinais e maravilhas em nosso meio para que possamos, com eficiência e eficácia, cumprir o ide de Jesus. Temos feito isto?
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco