LIÇÃO Nº 7 – RUTE, UMA MULHER DIGNA DE CONFIANÇA
Rute mostra a credibilidade que deve ter o servo de Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam o caráter do cristão, estudaremos a vida de Rute.
– Rute mostra a credibilidade que deve ter o servo de Deus.
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I – O QUE É SER DIGNO DE CONFIANÇA
– Na sequência do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam o caráter do cristão, estudaremos a vida de Rute.
– A vida de Rute mostra-nos como o servo de Deus deve ter uma conduta que transmita credibilidade a todos que nos cercam.
Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que credibilidade é “atributo, qualidade, característica de quem ou do que é crível; confiabilidade”. “Confiabilidade”, por sua vez, diz o mesmo dicionário é “qualidade do que é confiável; fiabilidade; grau de fidelidade de uma informação em relação ao original; capacidade de uma unidade funcional desempenhar, com um mínimo de falhas ou avarias, dada tarefa sob certas condições e dentro de um período determinado.”
– Verificamos, pois, que dizer que alguém é “digno de confiança” (e o nosso comentarista exalta esta qualidade em Rute, sendo, pois, este o ponto que devemos verificar em sua vida para termos um caráter do cristão) é alguém que merece crédito, em quem se pode acreditar e, para que isto aconteça, exige que tenhamos um “grau de fidelidade”, que tenhamos, em nós mesmos, a “marca do original”. Mas que é este “original”?
– Ora, para sabermos o que é este “original” cuja fidelidade devemos ter para podermos ser “confiáveis”, temos de reportar à criação do homem, porquanto saber o que é “original” é irmos até a “origem”.
A narrativa bíblica da origem do homem mostra-nos que Deus fez o homem à Sua imagem conforme a Sua semelhança (Gn.1:26) e é bem por isso que Salomão nos diz que Deus fez o homem reto (Ec.7:29).
– O homem foi feito, então, para ser um “reflexo” de Deus, algo que, na face da Terra, reportasse ao Criador, fizesse lembrar o Supremo Ser.
Por isso mesmo, entre os atributos dados ao homem estava o livre-arbítrio, a capacidade de escolher entre o bem e o mal, a moralidade, até porque Deus é um ser moral e dotado de liberdade.
– Também, por força desta “imagem e semelhança de Deus”, o ser humano foi, também, dotado de “criatividade”, da capacidade de criar, assim como o Senhor, que é o Criador de todas as coisas, sendo, porém, evidente que o homem somente poderia criar algo a partir do já existente, vez que se tratava ele próprio de uma criatura de Deus.
– No entanto, o homem fez mau uso de seu livre-arbítrio e acabou por pecar, sendo alijado da comunhão com Deus e distorcendo esta “imagem e semelhança de Deus”. Não deixou de ser “imagem e semelhança de Deus”, mas uma imagem distorcida, que passou a ter uma pálida impressão do seu Criador, já que, como diz Salomão, “buscou muitas invenções” (Ec.7:29).
– Em virtude disto, perdeu-se muito o “grau de fidelidade” desta “imagem”, tendo sido necessário que o Senhor Se fizesse carne, através da Pessoa do Filho, para que pudéssemos ter uma referência do que é ser “imagem e semelhança de Deus”.
Cristo, então, veio ao mundo para ser a “expressa imagem de Deus” (Hb.1:3), que refletisse como espelho a glória de Deus (II Co.3:18), n’Ele habitando a plenitude da divindade (Cl.1:19).
– A partir do exemplo de Cristo Jesus, podemos agora, imitando-O (I Co.11:1), seguindo as Suas pisadas (I Pe.2:21), fazendo o que Ele fez (Jo.13:15), refletir como espelho a glória de Deus (II Co.3:18), ser luz do mundo (Mt.5:16), a fim de que os homens possam ter conhecimento de quem é Deus e de como devemos viver para glorificá-l’O.
– Ser digno de confiança, portanto, é a capacidade de desempenhar, com um mínimo de falhas ou avarias, as tarefas que nos são dadas pelo Nosso Senhor e Salvador ao longo de nossa peregrinação terrena, a fim de que cumpramos o Seu propósito salvífico não só nosso mas de toda a humanidade.
II – A INFIDELIDADE DE ELIMELEQUE
– Esta credibilidade é ilustrada pelo comentarista do trimestre na história de Rute, que é contada pelo livro de mesmo nome, cuja autoria é atribuída, pela tradição judaica, a Samuel, que teria escrito o livro para mostrar a intervenção divina na escolha de Davi como rei de Israel, rei que foi ungido pelo próprio profeta (I Sm.16).
Há quem entenda que o livro tenha tido sua redação final pelo profeta Isaías, com base em II Cr.32:32, como afirma Finnis Jennings Dake, “in verbis”:…A versão Berkeley também omite a palavra ‘e’ [em II Cr.,32:32, observação nossa], que na versão está em itálico, significando que foi acrescida pelos tradutores.
Pode-se presumir, a partir disso, que Isaías poderia ter escrito a história de Israel em sua forma final como a encontramos hoje nos livros de Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis, exceto pelos 4 ou 5 últimos capítulos de 2 Reis, que registram coisas acontecidas depois de sua época.…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, nota c a II Cr.32:32, p.753).
OBS: Reproduzimos aqui o que diz o Talmude a respeito: “…Quem escreveu as Escrituras? (…) Samuel escreveu o livro que leva o seu nome, o livro de Juízes e o livro de Rute…” (Baba Bathra 14b) (Disponível em: http://www.come-and-hear.com/bababathra/bababathra_14.html Acesso em 29 ago. 2016) (tradução nossa de texto em inglês).
– Como afirma Dake, “…o livro de Rute é um simples registro histórico da vida em Israel durante o período dos juízes, ilustrando a lei da remissão do parente mais próximo, registrando a história da mulher gentia da genealogia de Jesus Cristo e atualizando a genealogia de Davi – de Perez a Davi…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, p.467).
Vê-se, pois, por esta afirmação, que este livro tem muito a nos ensinar a respeito da Divina Providência, pois mostra como o plano da salvação se desenrola mesmo em uma época assaz complicada do ponto de vista espiritual como era a época dos juízes.
– Rute é o oitavo livro da Bíblia e, segundo Dake, tem 4 capítulos, 85 versículos, 16 perguntas, 30 ordens e 2 promessas, sendo certo que é o primeiro livro das Escrituras sem profecia ou mensagem particular de Deus por um profeta de Israel, circunstância, aliás, que realça o papel da Divina Providência, já que vemos o agir direto de Deus nas circunstâncias sem que, para tanto, haja um mensageiro que revele algo ao povo.
O próprio livro, escrito por um profeta, trata de revelar, posteriormente, este agir divino em prol do Seu povo, no silêncio e na ausência de “holofotes”. Nosso Deus continua o mesmo. Como afirma conhecido cântico: “Quando Deus fica em em silêncio é porque está trabalhando”.
– Para entendermos o pano de fundo do livro de Rute, é mister que compreendamos o período dos juízes, porquanto assim quis o próprio autor do livro, ao dizer que os acontecimentos a serem retratados se dariam “nos dias em que os juízes julgavam” (Rt.1:1).
– Os juízes foram libertadores que Deus levantou ao longo de um período de duração controversa entre os estudiosos, desde a morte de Josué até o início do reinado de Saul, época em que houve um círculo vicioso na história israelita, pois, em virtude da ausência de educação doutrinária nas famílias, geração após geração caía na idolatria,
levando o Senhor a permitir a opressão da população por nações estrangeiras, o que forçava o povo a clamar a Deus em busca de libertação, clamor que era atendido com a escolha de um juiz, que libertava o povo, mas que, logo em seguida, tornava a pecar e assim sucessivamente, o que se encontra retratado em Jz. 2:10-23.
OBS: Apesar das controvérsias existentes, e pertinentes, se tomarmos por base I Rs.6:1 e a informação de Flávio Josefo de que Josué governou por 25 anos (Antiguidades Judaicas V, I, 193. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.110), chegamos à conclusão de que o período dos juízes durou 301 anos.
É importante, porém, observar que o próprio Flávio Josefo diz que a construção do templo por Salomão ocorreu 569 anos depois da saída do Egito (Antiguidades Judaicas VIII, 2, 327. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.177), ou seja, uma diferença de 112 anos em relação a I Rs.6:1.
– Vivia-se, pois, um tempo em que, pela falta de ensino da lei de Moisés aos filhos, havia uma instabilidade espiritual muito grande em Israel, fazendo com que as novas gerações se deixassem influenciar facilmente pelos costumes e crenças dos povos que viviam em torno de Israel e pelos habitantes primitivos de Canaã que não haviam sido destruídos pelos israelitas e que viviam no meio deles.
Este estado de coisas, que levava o povo ao pecado e à desobediência, exigia da parte do Senhor o cumprimento do que havia sido estatuído no chamado “pacto palestiniano” (Dt. 27 e 28), com a sobrevinda de maldições sobre o povo, a começar pela privação da chuva, que transformava os céus em “céus de bronze” e a terra em “terra de ferro” (Dt. 28:23,24), o que era fatal para a própria sobrevivência da nação, que, sem a chuva, não tinha como alimentar-se.
– É importante aqui observar que este castigo decorrente da desobediência estava, como vimos, vinculado ao “pacto palestiniano”, que, previsto por Moisés, foi efetivamente firmado já nos dias de Josué, quando o povo entrou na Terra Prometida (Cf. Js.8:30-35), de sorte que não tem qualquer respaldo bíblico a sua transferência automática para a Igreja, como costuma ser feito pelos teólogos da prosperidade e da confissão positiva.
As ações divinas no “pacto palestiniano”, relacionadas com a obediência como condicionante a uma fartura material na Terra, servem apenas como sombras da realidade espiritual para a Igreja, para a nossa dispensação, até porque a Igreja, ao contrário de Israel, não tem qualquer promessa de uma terra, de um local físico.
Bem ao contrário, o Senhor Jesus diz que o Seu reino não é deste mundo (Jo.18:36) e o apóstolo Paulo diz que aguardamos a cidade celestial (Fp.3:20), sendo esta também a visão dos patriarcas, como Abraão, de que somos “descendentes espirituais” (Cf. Gl.3:9; 4:28), como nos ensina o escritor aos hebreus (Hb.11:8-10,13-16).
– Era exatamente esta a circunstância que vivia o povo de Israel quando do início do registro do livro de Rute.
Diz o escritor que havia uma fome na terra (Rt.1:1), fome esta que grassava precisamente na cidade de Belém, na tribo de Judá. Grande ironia, pois “Belém” significa “casa de pão” (“Beth Lehem” – ביתלהם ) e estava a faltar pão precisamente no lugar que, por sua fartura, foi conhecida como a casa do pão.
– Diante desta fome, um homem daquela cidade resolveu partir de Israel, deixar a Terra Prometida e mudar-se para Moabe, levando consigo tanto a sua mulher quanto os seus dois filhos.
Este homem chamava-se Elimeleque, nome cujo significado é “Deus é o meu rei”. Outra ironia: o homem cujo nome reportava a soberania divina, exaltava o Senhor como Aquele que governava não só o povo de Israel mas todas as coisas, diante da fome havida na terra, sabedor de que isto era fruto de uma atitude de desobediência do povo em relação ao Senhor, simplesmente deixa Deus de lado e resolve imigrar para uma terra gentílica, para outro país.
– É preciso observar que esta atitude de Elimeleque, de imigrar para outro país, era uma demonstração inequívoca de descrença em Deus e de total desconsideração da sua condição de integrante de um povo que era propriedade peculiar de Deus entre todos os povos.
Naquele tempo, havia a crença de que os deuses eram nacionais, de que cada um devia obedecer ao deus da terra onde vivia (observemos o gesto de Naamã de levar um pouco de terra de Israel para a Síria depois que se converteu ao Senhor – II Rs.5:17) e, embora o israelita soubesse que havia um único e verdadeiro Deus, também era conhecedor de que a terra de Canaã havia sido dada a Israel pelo próprio Senhor e que ali deveria o israelita ficar para poder cumprir o propósito divino para a sua vida.
Ademais, sabiam todos os israelitas o que ocorrera com Abrão quando este, ainda um peregrino, sem direção divina, partira de Canaã para o Egito.
– Esta situação de descrença de Elimeleque não foi algo repentino ou abrupto. Ao vermos os nomes que deu a seus filhos, já percebemos no coração daquele homem de Belém de Judá um certo inconformismo com as dificuldades materiais que estava a passar.
Com efeito, seus filhos foram chamados de “Malom”, cujo significado é “doença” e “Quiliom”, cujo significado é “definhamento”.
Nota-se, portanto, que, ao dar nome a seus filhos, Elimeleque como que demonstra o seu desagrado com a sua vida, não se dando conta de que eventuais dificuldades decorriam da desobediência do povo, da falta de consideração de Deus como o rei de Israel, a quem se devia obedecer e temer, como, aliás, declarava o próprio nome deste pai de família belemita.
– Há um grande risco quando passamos a enxergar o mundo apenas pelas circunstâncias que nos cercam, quando passamos a andar por vista e não por fé, exatamente o oposto do que se exige de um servo do Senhor (II Co.5:7).
Se quisermos reduzir tudo ao raciocínio humano, se quisermos compreender o mundo apenas dentro de uma esfera humana, desconsiderando as coisas espirituais e a intervenção e soberania divina, somente traremos para nós doença e definhamento espirituais, numa visão que nos causará imensos prejuízos, que poderão ser irreversíveis e selarem a nossa eternidade sem Deus.
Levantemos nossas cabeças, tenhamos uma visão de fé, uma visão espiritual, uma visão de Jesus (Cf. Lc.21:28; Hb.12:1).
Necessitamos de uma visão vertical. Atendamos ao chamado do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “ Levantai, levantai vossos olhos para o céu donde Jesus virá; levantai, levantai, a redenção breve se fará” (refrão do hino 323 da Harpa Cristã).
– Elimeleque, entretanto, não quis saber das promessas divinas para os israelitas, da sua própria condição de israelita, mas, sim, diante da fome na terra, resolveu sair de Israel, partir para Moabe, porque entre os moabitas havia fartura material.
Elimeleque repete, assim, a mesma atitude de Ló, tendo uma visão puramente horizontal da vida, vendo apenas as necessidades materiais como relevantes, pouco se importando com os compromissos assumidos diante de Deus.
Revela, assim, não ter fidelidade, o que, certamente, o impedia de ser uma pessoa que adquirisse credibilidade.
– Nos dias em que vivemos, em que há grande facilidade de comunicações e de transportes, é cada vez mais comum a migração ou a imigração, o deslocamento das pessoas para regiões onde as condições de vida sejam melhores, onde há maiores oportunidades de sobrevivência.
À evidência, não podemos considerar que tais atitudes sejam errôneas ou reprováveis, mas o servo do Senhor não pode, simplesmente, tomar a decisão de mudar de lugar de habitação, de mudar de cidade, estado ou, até mesmo, país, levando em conta tão somente aspectos materiais, levando em consideração apenas o comer, o beber e o vestir, pois, agindo assim, estará dentro de uma mentalidade gentílica, de uma mentalidade de quem não crê em Deus (Mt.6:31,32).
Devemos sempre buscar a direção e orientação divinas, não temendo a fome que haja no lugar onde estivermos se o Senhor nos mandar ficar ali mesmo.
– Elimeleque já sabia de antemão que este gesto de imigração não era agradável ao Senhor, contrariava o pacto estatuído com o povo de Israel tanto no Sinai quanto em Ebal e Gerizim, mas o fato é que, totalmente alheio a estas circunstâncias espirituais, preferiu ir para Moabe, preferiu a fartura material.
– Elimeleque, sua mulher Noemi e seus filhos, Malom e Quiliom, mudaram-se para Moabe e, diz o texto sagrado, “ficaram ali”.
Esta expressão é extremamente elucidativa: houve um ânimo definitivo de permanência em Moabe, um total esquecimento da Terra Prometida, uma disposição de se manter indefinidamente na terra estrangeira.
– Elimeleque resolveu, então, prover-se por conta própria, tomar ele próprio a decisão de sustento de sua família, deixando de lado todas as promessas e compromissos com Deus.
Pouco importava se estava a viver entre gentios, entre idólatras, entre pessoas que, inclusive, eram proibidas de entrar na casa de Deus (Dt.23:3,4), diante do fato de que haviam tentado destruir o povo de Israel, seja desvirtuando-o no episódio de Baal-Peor, seja negando-se a fornecer água para o povo quando este peregrinava no deserto.
– Lamentavelmente, não são poucos os que, dizendo-se servos do Senhor, comportam-se da mesma maneira em nossos dias.
Acham-se autossuficientes para resolver os problemas decorrentes de sua vida material, de sua vida secular, pouco se importando com os compromissos assumidos diante de Deus, com as atitudes que devem ter por serem membros do povo do Senhor.
Em se tratando de obtenção de benesses materiais, de um bem-estar econômico-financeiro, tudo fazem, sem qualquer crise de consciência e ainda atribuem a Deus eventuais vantagens que obtenham com suas negociatas e condutas antibíblica. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Entretanto, a fartura material que provavelmente foi alcançada por Elimeleque pouco durou. O ânimo decidido de permanecer em Moabe fica evidenciado pelo fato de que tanto Malom quanto Quiliom, os filhos de Elimeleque, terem se casado com moabitas e formado família em Moabe, como que renegando, de modo definitivo, a sua origem israelita e as promessas do Deus de Israel. Estavam decididos a morar e a fazer descendência em Moabe.
Por um punhado de pão, abriam mão das bênçãos espirituais. Repetiam, praticamente, o gesto de Esaú que, por um prato de lentilhas, abriu mão da primogenitura, das promessas de Deus feitas a Abraão e Isaque (Gn.25:31-34).
Pessoas que desprezam as “coisas de cima” pelas coisas desta vida são profanas (Hb.12:16) e não podemos jamais tomar uma atitude destas, sob pena de selarmos a nossa perdição eterna, pois o profano é o contrário do sagrado, do santo e sem a santificação jamais veremos o Senhor (Hb.12:14).
– Tanto assim é que, lamentavelmente, Elimeleque morreu em Moabe e, logo depois, tanto Malom quanto Quiliom, depois de um período de quase dez anos ali (Rt.1:3).
Assim, se chegou a haver alguma fartura material neste gesto de Elimeleque (o que é improvável, já que, como pai de família, sua morte gerou evidente prejuízo à família e os dois filhos, mesmo tendo casado, e até porque casaram, não tiveram condição de, em espaço curto de tempo, auferir, numa terra estrangeira, uma proeminência material), esta logo se esvaiu, sem deixar qualquer rastro, qualquer proveito, tanto que o texto bíblico é claro ao dizer que, com a morte dos homens, as mulheres ficaram desamparadas (Rt.1:5).
– A busca da provisão por conta própria, do bem-estar material à revelia do Senhor, em total desconsideração da Sua Palavra e das Suas promessas sempre termina em morte e em fracasso. De que adiantou o gesto de Elimeleque de deixar a terra de seus pais, a terra que lhe havia sido concedida por Deus e partir para Moabe? Absolutamente nada!
Elimeleque e seus filhos Malom e Quiliom morreram, deixando não só Noemi, a mãe, desamparada como, ainda mais, as duas moabitas que haviam se casado com os filhos de Elimeleque, Orfa e Rute.
Além de trazer desgraça para os integrantes da família, isto se ampliou para duas moradoras de Moabe que haviam resolvido compartilhar suas vidas com os moços israelitas imigrantes.
– Quando não seguimos a direção divina, quando nos distanciamos do Senhor, deixamos de ser bênção para ser maldição. Triste é a situação daquele que se torna um profano, daquele que visa tão somente bem-estar material!
– Alguém poderá, porém, objetar, dizendo ter conhecimento de muitos ímpios que alcançam prosperidade material e que não geram situações como a que ocorreu na família de Elimeleque.
A estes, convidamos que leia o Salmo 73, onde o salmista Asafe, ao perceber esta mesma situação, entrou em crise espiritual, quase que se desviando, por ver este estado de prosperidade material dos ímpios.
No entanto, quando entrou na casa do Senhor, pôde entender que o fim destes ímpios é triste, pois é a perdição eterna, a morte, como aconteceu com Elimeleque, pois todas as riquezas, luxo e poder acumulados serão totalmente inúteis para definir uma eternidade aprazível para quem agir. Não nos deixemos iludir, amados irmãos!
– O livro de Rute começa, assim, mostrando a ilusão e a insensatez de se tentar buscar uma provisão por conta própria, em contraditoriedade aos mandamentos divinos, às promessas do Senhor, pois o resultado disto tudo será apenas um: morte e desamparo de todos quantos foram inseridos neste malsinado projeto.
III – A FIDELIDADE DE NOEMI E DE RUTE
– Diante do infortúnio vivido na família, Noemi, a última remanescente israelita, resolve retornar para Israel.
Parece que, de todos os quatro israelitas imigrantes, Noemi era a única que havia mantido alguma crença em Deus, alguma recordação de Suas promessas, já que Rute, sua nora, quando se nega a deixá-la, faz menção do Deus de Israel, revelando assim que teve conhecimento de quem era o Deus dos israelitas através da própria Noemi (Cf. Rt.1:16).
– Noemi percebera a ilusão de se tentar a provisão por conta própria e resolveu retornar para Israel, mesmo na condição de viúva desamparada, crendo que, em Israel, sua situação seria bem melhor do que em Moabe, até porque o Senhor já havia dito que era o Deus dos órfãos e das viúvas (Dt.10:18; Sl.68:5).
Além do mais, tivera notícia de que Belém havia tornado a ser “casa de pão”, de que a fome passara em Israel (Rt.1:7)
– Noemi resolve retornar para Israel e suas noras também resolveram segui-la. Noemi, porém, sabendo que suas noras eram moabitas e, portanto, não seriam bem-vindas em Israel, resolve ir sozinha para Belém.
Tratava-se de uma difícil decisão, já que Noemi havia se afeiçoado a suas noras e agora resolvia voltar para Israel em total e absoluta solidão.
– Suas noras, a princípio, relutaram em deixar Noemi, que, assim, fazia jus ao significado de seu nome que é “agradável”, “atraente”.
A companhia de Noemi fazia bem, mesmo diante de circunstâncias tão adversas. Será que podemos ter a mesma reação das pessoas que nos cercam, que convivem conosco? Pensemos nisto!
– Noemi, no entanto, mostrou às suas noras que não havia qualquer sensatez no gesto de elas lhe seguirem.
Se Noemi arrumasse um marido naquele mesmo dia e concebesse e tivesse filhos, como poderia dá-los às suas noras?
Não havia qualquer perspectiva material de vida e de sobrevivência digna para as noras na companhia de Noemi. Era melhor que ficassem em Moabe e ali tentassem arrumar novos maridos, seguindo cada uma a sua vida.
– Ante esta constatação, Orfa, uma das noras de Noemi, que também tinha apenas uma visão horizontal da vida, que não havia se sensibilizado com a história do Deus de Israel que, assim como fizera a Rute, Noemi contara, deixa sua sogra e volta para Moabe.
Era uma decisão de quem continuava buscando a provisão por sua própria conta, segundo os ditames da mentalidade gentílica, onde o comer, o beber e o vestir são o objetivo da existência, onde tudo se resume a este mundo, à dimensão terrena.
– Interessante observar que o significado de “Orfa” é “pescoço”.
Orfa tinha uma “visão de pescoço”, ou seja, não enxergava as coisas como realmente elas são, tinha uma visão puramente horizontal, como tinha sido o caso de seu sogro, seu marido e seu cunhado. Será que temos “visão de pescoço”, amados irmãos?
É precisamente a mentalidade hoje vigorante entre os milhões de adeptos da teologia da prosperidade e da sua coirmã, a teologia da confissão positiva, que reduzem Jesus apenas como um instrumento para as coisas desta vida.
São, no dizer do apóstolo Paulo, os “mais miseráveis de todos os homens” (I Co.15:19).
– Rute, porém, teve outro comportamento. Embora estivesse na mesma condição de Orfa, insistiu em seguir Noemi, não querendo mais seguir os “deuses de Moabe”, mas, sim, o Deus de Israel, aquele único e verdadeiro Deus que lhe havia sido anunciado por sua sogra.
Rute adotou o Deus de Israel como o seu Deus, o povo de Israel como o seu povo, mesmo sabendo que os moabitas não eram bem vistos em Israel, mas porque crera neste Deus e, quiçá, percebera que toda a tragédia familiar era decorrência na descrença neste Senhor.
Rute, assim, confirmava o significado de seu nome, “vistosa”, ou seja, aquela que atraia vista, que é agradável a ver.
Rute via o sobrenatural, via além das circunstâncias naturais. Assim deve ser o servo do Senhor: andar por fé e não por vista (II Co.5:7).
– Diante da decisão inamovível de Rute, Noemi conformou-se e permitiu que Rute fosse com ela para Israel (Rt.1:18).
– Ao chegar a Belém, a recepção não foi das melhores. Toda a população reconheceu Noemi, mas se espantou com a sua situação. O texto dá a entender que Noemi chegara bem diferente daquela “agradável” e “atraente” que partira dez anos atrás.
Houve uma comoção por parte do povo de Belém e, tanto assim foi, que a própria Noemi, reconhecendo a degradação sofrida, pede aos seus conterrâneos que passem a chamá-la de “Mara”, que significa “amarga”, revelando, assim, que se encontrava numa situação diametralmente oposta, absolutamente contrária ao que dizia o seu nome.
– É importante observar que Noemi estava plenamente consciente da sua dura condição. Era uma pessoa “amarga”, que não tinha qualquer motivo para se alegrar, precisamente porque o Senhor Todo-Poderoso a havia afligido (Rt.1:21).
Noemi entendera que a ação de seu marido havia contrariado a vontade divina e que não se poderia ter bênção divina diante de tal contraditoriedade. É preciso lembrarmos de onde caímos para voltar a desfrutar da benevolência divina (Ap.2:5).
– Chegando a Belém, totalmente desamparada e sem condições de sobrevivência e ainda acompanhada de sua nora, uma estrangeira, cuja nacionalidade era repugnada pelos israelitas, que poderia Noemi fazer?
Noemi, já idosa e sem condições para trabalhar, não tinha o que fazer, mas Rute, que havia aprendido com sua nora a respeito dos costumes, tradições e leis hebraicas, bem sabia o que podia fazer: recolher as respigas, pois se estava no princípio da sega das cevadas (Rt.1:22-2:1,2).
– A atitude de Rute revela algumas lições importantes quando estamos a tratar a respeito da aquisição de credibilidade.
Rute cria que o Deus de Israel poderia prover a ela e a sua sogra. Noemi também tinha esta crença e sua afirmação aos belemitas era a prova de que bem sabia que agora estava a voltar ao centro da vontade de Deus, o Deus que amparava a viúva.
– No entanto, também tinham aquelas duas mulheres a perfeita noção dos parâmetros estabelecidos por Deus para o sustento dos homens e estes parâmetros começam com o princípio do trabalho, instituído por Deus ainda no Éden, quando mandou que o homem lavrasse e guardasse o jardim (Gn.2:15).
Este mesmo princípio foi reafirmado por Deus quando da queda do homem, ao determinar que ele deveria obter seu sustento do suor do seu rosto (Gn.3:19).
– O trabalho é a forma criada por Deus para que o ser humano obtenha seu sustento sobre a face da Terra. Ao trabalhar, aliás, o homem se assemelha a Deus, que é um ser que trabalha (Jo.5:17).
O próprio Senhor Jesus, que é o nosso exemplo (I Co.11:1; I Pe.2:21), foi um homem experimentado nos trabalhos (Is.53:3), alguém que era conhecido na cidade onde viveu a maior parte de sua vida terrena, como um trabalhador (Mt.13:55; Mc.6:3). Como chegou a afirmar o ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Paulo VI, o trabalho foi uma das maiores lições deixadas por Cristo durante o silêncio de 18 anos que cerca a Sua vida, desde o episódio de Seu encontro com os doutores em Jerusalém até o Seu batismo e início do Seu ministério público.
OBS: Reproduzimos aqui trecho da alocução de Paulo VI feita em Nazaré, no dia 5 de janeiro de 1964: “…Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim.
Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.…” (Disponível em: http://outeirodagloria.org.br/mons-sergio/das-alocucoes-do-papa-paulo-vi-alocucao-pronunciada-em-nazare-a-5-de-janeiro-de-1964/ Acesso em 29 ago.2016).
– Ao procurar a provisão por meio do trabalho, Rute mostra que precisamos nos assemelhar ao Senhor para termos credibilidade.
Não há como sermos críveis e confiáveis se não buscarmos imitar o Senhor e, em nosso caso, tal imitação impõe que sigamos os passos de Jesus, que, como já vimos, sempre foi um trabalhador.
Sem trabalho, não há como termos a bênção divina, como sermos por Ele abençoados, pois os preguiçosos são pecadores e, deste modo, estão contrariando a Palavra de Deus não tendo como agradar ao Senhor, portanto.
As Escrituras contêm diversas repreensões aos preguiçosos (Pv.6:6,9; 10:26; 12:27; 13:4; 15:19; 19:24; 20:4; 21:25; 22:13; 24:30; 26:13-16), considerando-os ímpios, pessoas que rejeitam a sabedoria, ou seja, que rejeitam a Deus.
– Nos dias em que vivemos, ganha casa vez mais realce a mentalidade que considera como ideal de vida aquela vida em que não se precisa trabalhar, em que se tenham ociosidade e muito dinheiro, o tão procurado estado de “sombra e água fresca”, algo que, entretanto, é totalmente contrário ao estatuído por Deus, algo que é diametralmente oposto à moral, à ética bíblica.
Tomemos cuidado, pois, amados irmãos, com esta mentalidade, que, não por acaso, é o que se propaga na teologia da prosperidade.
– Mas, além da observância do princípio do trabalho, Rute demonstra, com sua atitude de participar da respiga da colheita, uma profunda humildade e, neste passo, uma vez mais imita o Senhor, procura ser uma “imagem e semelhança de Deus”, porquanto o Senhor Jesus, “expressa imagem de Deus”, é exemplo de humildade, tanto que mandou que aprendêssemos d’Ele, que é “manso e humilde de coração” (Mt.11:29).
– O instituto da respiga, previsto na lei de Moisés, determinava que os segadores não poderiam recolher as espigas que caíssem durante a colheita, nem tampouco as que estivessem nos cantos do campo, para que elas pudessem ser livremente colhidas pelos pobres, órfãos e viúvas (Lv.23:22).
Ao se submeter a esta posição, Rute assumiu que se tratava de uma pessoa necessitada, de uma viúva desamparada e que necessitava da caridade pública.
– Precisamos ser humildes para adquirirmos credibilidade, até porque uma das primeiras características do servo de Deus tem de ser a “pobreza de espírito”, também denominada de “humildade de espírito” (Mt.5:3).
– A arrogância, a soberba são atitudes completamente contrárias ao caráter de quem é salvo, é uma atitude de um “filho do diabo” (I Jo.3:8-10), pois foi o acusador o primeiro a manifestar tal sentimento no universo (Is.14:13,14).
Não nos esqueçamos do que diz o proverbista: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv.16:18).
– Havia, ainda, porém, uma terceira qualidade na atitude de Rute: a confiança em Deus. Ao se dispor a fazer a respiga da colheita, Rute demonstrou ter fé em Deus, Aquele que dizia ser o sustento das viúvas.
Rute sabia que era estrangeira, que sua nacionalidade a impedia, inclusive, de comparecer perante o Senhor no tabernáculo, mas, como havia adotado o Deus de Israel como o seu Deus, sabia que o Senhor não a desampararia e forneceria o sustento necessário tanto para ela quanto para sua sogra.
Rute confiou em Deus, a despeito das circunstâncias sociais adversas existentes. Para agradarmos a Deus, precisamos ter fé (Hb.11:6), mas confiança em Deus não nos dispensa de trabalhar e de sermos humildes. Lembremos disso!
– Noemi autorizou Rute a efetuar a respiga da colheita e aqui temos um outro princípio importante, máxime em se tratando de relações familiares, que é o princípio da autoridade.
Rute respeitou Noemi, que era a sua sogra, quem detinha, no momento, a autoridade naquela família. Pediu permissão a Noemi para agir. Se quisermos ter credibilidade e ser dignos de confiança, devemos atender ao princípio da autoridade, até porque é Deus quem constitui as autoridades (Rm.13:1).
– Noemi e Rute prosseguiam, portanto, na sua tomada de decisão diametralmente oposta a que havia sido tomada, dez anos antes, por Elimeleque.
Em vez de dar as costas ao Senhor, as duas mulheres passam a seguir a vontade do Senhor, a crer na Sua provisão, a se colocar nas mãos de Deus, fazendo precisamente aquilo que o Senhor havia ordenado na Sua lei. Que exemplo a ser seguido!
Obedeçamos a Deus, observemos a Sua Palavra e, certamente, desfrutaremos do Seu cuidado, da Sua proteção.
– Este cuidado de Deus para com os que O servem, para com os que O temem é bem retratado no Salmo 107, de autoria desconhecida, onde o salmista dá alguns exemplos de pessoas que, por temerem ao Senhor, foram libertos de suas angústias e necessidades.
O salmista cita os “que andavam desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários, que não acharam cidade que habitassem famintos e sedentos” (Sl.107:6);
o “que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em aflição e em ferro” (Sl.107:10);
“os loucos, por causa do seu caminho de transgressão e por causa de suas iniquidades” (Sl.107:17),
“os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas” (Sl.107:23).
Todos estes, quando passam a temer ao Senhor, são alvo da benignidade divina, que, aliás, é o tema do salmo, pois o cantor sacro convida todos a louvar o Senhor por ser Sua benignidade para sempre (Sl.107:1).
Vemos, pois, que o primeiro caminho para desfrutarmos da provisão divina, uma vez tendo entrado em desobediência, é o arrependimento e o pedido de perdão dos pecados, a nossa santificação.
IV – DEUS CONCEDE CREDIBILIDADE A RUTE E NOEMI
– Rute, devidamente autorizada, começou a apanhar as espigas no campo após os segadores e lhe caiu em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da geração de Elimeleque.
Vemos aqui já em ação a Divina Providência. Em resposta às atitudes agradáveis ao Senhor de Rute, Deus faz com que Rute vá recolher espigas precisamente no campo de um parente de Elimeleque, que haveria de remi-la posteriormente.
Como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva: “Deus começa quando nós começamos”.
– Rute não sabia que o campo era de Boaz e também não escolheu onde trabalhar. Submeteu-se a um “sorteio”, às regras do lugar, dando graças a Deus por não ter sido excluída diante de sua condição de estrangeira.
Temos aqui mais uma atitude de quem quer ser digno de confiança: a prudência.
O Senhor Jesus manda que sejamos prudentes como as serpentes (Mt.10:16), pois somos enviados como ovelhas no meio de lobos e a prudência, ao lado da simplicidade (que é a humildade já analisada há pouco) são os elementos que nos impedem de ser devorados pelo inimigo ao longo desta nossa peregrinação terrena.
Salomão, aliás, disse que a prudência é a “ciência do Santo” (Pv.9:10), ou seja, quem conhece a Cristo, o Santo (Lc.1:35), quem tem intimidade com Ele sempre será prudente.
– “Boaz” significa “nele há força”, “a força está nele”, a indicar, portanto, que era Boaz a pessoa escolhida pela Divina Providência para mudar o quadro em que se encontravam aquelas duas viúvas que, por querer se assemelhar ao Senhor, trocariam a “doença” (Malom) e o “definhamento” (Quiliom), surgidos da desconsideração da Palavra de Deus, por uma nova circunstância de bênção e de fortalecimento.
Por causa da obediência a Deus, da confiança no Senhor e da adoção dos princípios do trabalho e da humildade, Noemi e Rute haviam encontrado “a força”, que mudaria para sempre as suas vidas e histórias.
– Rute trabalhava com dedicação. Eis outra lição que nos ensina como devemos proceder se quisermos ter credibilidade.
Não basta apenas trabalhar, mas é preciso que trabalhemos com dedicação, com ânimo, sabendo que não estamos prestando serviços a homens, mas, sim, a Deus (Ef.6:5-8), sabendo que a recompensa pelo nosso esforço vem de Deus. Temos de trabalhar com boa vontade, com gratidão, sabendo que tudo provém de Deus, pois tudo é d’Ele (Sl.24:1) e é mister que Lhe sejamos gratos por tudo que recebemos, pois coisa alguma é nossa, sendo apenas administradores de toda a boa dádiva que vem do Pai das luzes (Tg.1:17).
– A disposição de Rute era tanta que despertou a atenção de Boaz, que perguntou quem era aquela moça, tendo então lhe sido dito que era a viúva de um dos filhos de Elimeleque.
Mas, além de identificar a linhagem da moça, o moço de Elimeleque ainda realçou a disposição de Rute, que estava a trabalhar desde a manhã, praticamente sem descanso.
Boaz, então, já sabendo tratar-se de uma pessoa de sua família e de sua disposição, foi ao encontro de Raquel e a mandou que permanecesse no seu campo, tendo, ainda, dado ordens para que ninguém tocasse nela, ou seja, que ninguém fosse se insinuar ou criar obstáculos ao seu serviço, permitindo, ainda, que tomasse água nos vasos onde bebiam os seus empregados.
Rute passou a ser tratada como se fosse uma empregada, não como uma necessitada que estava a recolher as espigas.
– Rute, então, diante de tamanha benevolência de Boaz, caiu aos pés de Boaz, demonstrando gratidão e perguntando o porquê daquela atitude e, então, Boaz lhe disse que tinha sabido de sua conduta para com Noemi de como havia se submetido a viver entre os israelitas por amor a sua sogra, tendo, então, pedido a Deus que galardoasse o seu feito (Rt.2:8-12).
– Neste gesto de Boaz, vemos mais uma manifestação da Divina Providência. Por ter agido com dedicação ao trabalho, humildade e confiança em Deus, Rute alcançou a benevolência dos justos, e, mais do que isto, a intercessão de Boaz, que pediu a Deus que galardoasse a Rute e a Noemi.
O Senhor põe à disposição dos Seus servos a intercessão e benevolência dos justos e isto é uma ação importantíssima a favor do que serve a Cristo, pois “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg.5:16 “in fine”).
– Rute agradece a Boaz e diz ter sido consolada por ele. Rute sabia, agora, que já tinha um meio de sustento, que o Senhor provera a subsistência dela e de sua sogra. Chegada a hora da refeição, Boaz convidou Rute a se alimentar junto com os segadores.
Este gesto é de fundamental importância, pois a refeição, para os israelitas, era sagrada e uma demonstração de comunhão.
Rute foi devidamente integrada na casa de Boaz, passando a ser considerada como um integrante do grupo social.
Como se isto fosse pouco, Boaz deu ordem a seus moços para que propositadamente deixassem cair mais espigas, para que Rute as pudesse apanhar e, deste modo, tivesse mais mantimento a levar para a sua casa.
– A Divina Providência não traz apenas o mantimento suficiente para o sustento de Rute e de Noemi, mas, também, trouxe integração social, comunhão e exercício de misericórdia por parte de Boaz àquelas mulheres.
Nosso Deus continua sendo o mesmo: quando Lhe somos fiéis e cumprimos a Sua Palavra, Ele movimenta pessoas e circunstâncias a nosso favor. Basta que entreguemos nosso caminho ao Senhor e Ele tudo fará (Sl.37:5).
– Rute trabalhou o dia todo, depois debulhou o que apanhou, o que dava praticamente um efa de cevada, cerca de 36 quilos! Que mulher trabalhadora! Que bênção!
– Noemi logo percebeu não só a dedicação da sua nora, mas também a benevolência do dono do campo, perguntando, então, de quem se tratava.
Ao saber que era Boaz, Noemi reconheceu a benignidade divina e teve a convicção de que não tivera confiado em Deus em vão, tendo, então, revelado a Rute o fato de Boaz ser um dos remidores da família.
Noemi orientou Rute a que continuasse trabalhando naquele campo e ela assim o fez tanto na sega da cevada quanto na sega do trigo.
– Terminada a colheita, Noemi, então, vendo a mão de Deus naquele negócio, orientou Rute para que pedisse a Boaz que remisse a família, casando-se com ela, dando a sua nora toda a maneira como faria tal pedido, de forma respeitosa e correta.
Rute, uma vez mais, obedeceu a sua sogra, seguindo todas as instruções recebidas e Boaz, que já tinha sentido atração por Rute, prometeu casar com ela, embora houve um remidor mais próximo.
– Boaz, então, cumpriu o prometido e foi até o remidor mais próximo e lhe fez a proposta para remir tudo quanto era de Elimeleque, ou seja, assumir o patrimônio de Elimeleque, sendo que, se o fizesse, deveria se casar com Rute, uma moabita.
O parente mais próximo não o quis e, assim, Boaz acabou remindo a família de Elimeleque, tomando o seu patrimônio e se casando com Rute.
– Rute, então, recebe da parte de Deus uma família, um marido, uma posição social elevada em Belém.
Aquela estrangeira que não havia se negado a ser uma viúva que recolhia espigas deixadas no chão, por ter confiado em Deus agora passava a ser a mulher de um grande proprietário, passava a pertencer à elite da cidade de sua sogra, perfeitamente integrada na sociedade de seu tempo, na sociedade do povo do seu Deus, o único e verdadeiro Deus, o Deus de Israel.
– Rute casou-se com Boaz e teve um filho, a quem deu o nome de “Obede”, cujo significado é “adorador”, “servo”.
Nota-se aqui que Rute mantinha sua condição de serva temente a Deus, de alguém que havia reconhecido que tudo vem de Deus e que tudo devemos a Ele, algo que também foi reconhecido por Boaz.
Este casal construía uma família debaixo das mãos do Senhor, uma situação diametralmente oposta a que havia sido construída, no passado, por Elimeleque.
É oportuno observar que, pelos costumes de então, a descendência de Rute seria a descendência do próprio Elimeleque. Através de Boaz, da remissão operada naquela família, da “força que nele estava”, Deus pôde finalmente ser o “rei” daquele lar e ter ali verdadeiros e genuínos “adoradores”, verdadeiros e genuínos “servos”.
– É por isso, aliás, que Noemi passou a carregar a criança em seus braços e se tornou a sua ama (Rt.4:16).
Ela, que pediu para ser chamada “Mara”, a “amarga”, porque havia voltado “vazia” e sem descendência, como também sem esperança de um dia voltar a tê-la, agora novamente era “doce” e “agradável”, sendo o Senhor louvado pelas mulheres de Belém porque fizera seu nome afamado em Israel e fora o “recreador da alma”, dando-lhe uma nora que era melhor do que sete filhos (Rt.4:14,15).
– Mas isto ainda era pouco. Rute não ficou sabendo, mas o escritor do livro faz questão de mostrar que o filho que teve com Boaz foi o avô de Davi, que viria a ser o grande rei de Israel (Rt.4:21,22).
Rute não só ganhou uma família mas a sua família passou a ser a família real.
– Mas isto também ainda era pouco. Algo que nem mesmo Samuel pôde saber e que nos é revelado pelo evangelista Mateus: Rute passou a pertencer à linhagem do Messias, passou a ser ancestral do Salvador do mundo, a pertencer à família do Cristo, d’Aquele que tiraria o pecado do mundo (Mt.1:5).
– A dedicação de Rute, sua confiança em Deus, fez com que o Senhor providenciasse para ela um lugar na linhagem do Salvador.
– O mesmo ainda acontece em nossos dias. Como assim? Quando agimos com desprendimento das coisas deste mundo, recebemos ao Senhor como nosso Deus, trabalhamos com dedicação, somos obedientes à Palavra, humildes e agradáveis ao Senhor (ou seja, agindo com fé), o Senhor também providencia a nossa remissão, faz-nos entrar em comunhão com Ele e nos faz pertencer à família de Cristo, que é a Igreja (Ef.2:19), de quem o Senhor Jesus não Se envergonha de chamar irmão (Hb.2:11).
– Noemi e Rute precisavam de uma família terrena e esta lhes foi providenciada, mas, muito mais do que isto, o Senhor fê-las tomar parte da família do Salvador.
O Senhor tem interesse em nos dar condições para que sejamos semelhantes a Ele e, assim, adquiramos credibilidade tal, que será obtida quando agirmos com trabalho, fé, dedicação, obediência e humildade, e, assim, poderemos, devidamente integrados ao corpo de Cristo, termos condições de levarmos muitas almas para, conosco, habitarem nas mansões celestiais.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/261-licao-7-rute-uma-mulher-digna-de-confianca-i