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LIÇÃO Nº 8 – A EVANGELIZAÇÃO DOS GRUPOS RELIGIOSOS

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Evangelizar é a pregação de Cristo, não de uma religião.

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INTRODUÇÃO

– A religiosidade é uma característica intrínseca do ser humano.

– Evangelizar é a pregação de Cristo, não de uma religião.

I – RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE

– Na sequência do estudo dos aspectos específicos da evangelização, estudaremos a evangelização dos grupos religiosos.

– A religião está presente em todas as sociedades humanas. O ser humano é religioso.

Esta circunstância está sobejamente demonstrada pelos cientistas sociais, sejam sociólogos, sejam antropólogos, que sempre encontram um aspecto religioso em todas as culturas, mesmo as consideradas mais primitivas.

– A palavra “religião” vem do latim “religio” que, por sua vez, tem origem no verbo “religare”, que significa “religar”, “ligar novamente”.

A religião nada mais é que a tentativa do ser humano de se ligar novamente com Deus, é uma tentativa de restabelecimento da comunhão com o Senhor, que se perdeu com o pecado.

– O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27) e, como tal, foi feito, a exemplo do seu Criador, para viver em comunhão, não só entre os de sua espécie, mas com o próprio Deus, pois Deus é uma realidade de comunhão entre as três Pessoas divinas, que são o único Senhor.

– O homem foi feito para se relacionar com o seu Criador, tanto que, uma vez posto no Éden, recebia uma visita diária de Deus (Gn.3:8).

Com o pecado, no entanto, ocorreu a morte, ou seja, a separação entre Deus e o homem (Is.59:2), o que, sem dúvida, representou uma significativa perda na própria estrutura humana, que, feita para viver com seu Criador, d’Ele ficou separado.

– Esta ausência da comunhão com Deus, que representou a própria inoperância e inatividade do espírito, que é a parte do ser humano que faz a ligação com o Criador, fez exsurgir um “vazio” no interior do ser humano, vazio este que não pode ser preenchido somente pelo Senhor.

É o que acertadamente se denomina de “um vazio do tamanho de Deus”.

– Esta carência existente no ser humano é que explica o surgimento da religião, que nada mais é que uma tentativa do homem de restabelecer esta comunhão perdida com o Senhor.

Separado da divindade, o homem tenta, por seus próprios meios e recursos, encontrar uma forma de restabelecer esta ligação, esta comunhão perdida com o pecado.

– “Religião” é uma tentativa de religação a Deus, mas, como bem sabemos, o homem, por si só, não pode se unir a Deus, pois não tem como extirpar o pecado, a sua natureza pecaminosa, pois quem comete pecado é escravo do pecado (Jo.8:34) e, portanto, vive no maligno (I Jo.5:19), sem condições de se libertar deste jugo.

– A religião, portanto, de um lado, é uma comprovação da necessidade que o homem tem de Deus, uma demonstração de que o homem foi criado para viver em comunhão com o Senhor, sendo, sob este aspecto, algo bom, algo recomendável.

– Entretanto, de outro lado, a religião se apresenta como mais uma ação humana que está sob o engano, sob a mentira satânica de que pode o homem viver sem Deus, pode o ser humano resolver seus problemas independentemente do Senhor, pois, ao tentar religar-se a Deus por iniciativa própria, como se isto fosse possível sem a assistência divina, sem a participação divina.

– Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo, ao descrever a degeneração da humanidade, a corrupção geral do gênero humano, aponta como o primeiro degrau da perdição humana o estabelecimento de uma religião, pois diz que os homens, “tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (Rm.1:21-23).

– O que o apóstolo Paulo nos ensina aqui é que, mesmo sentindo a necessidade de Deus, a carência decorrente da perda da comunhão pelo pecado, a humanidade, em vez de buscar a presença de Deus, reconhecer-Lhe a glória e majestade, preferiu criar, por iniciativa própria, uma forma de se chegar a Deus sem depender de Deus e isto fez com que surgisse uma religião que construiu uma divindade à imagem e semelhança do homem, que se considerasse como divino algo que era mera criatura, o que levou ao surgimento da idolatria e à adoração como deuses de criaturas: animais e homens.

– A religiosidade do ser humano, conquanto fosse um elemento que poderia fazer com que o homem buscasse a Deus, acabou servindo de mais um motivo de engano, de aprofundamento no pecado, pois, ainda crendo na mentira satânica de que poderia viver independentemente de Deus, tenta o ser humano construir uma religação com a divindade que não tivesse qualquer participação divina e, deste modo, acaba por construir falsos deuses, tornando as criaturas como sendo uma divindade.

– A religião, portanto, em vez de aproximar o homem de Deus, afastou a humanidade ainda mais do seu Criador, gerando a idolatria, consequência da insensatez do homem que, cegado pelo deus deste século (Cf. II Co.4:4), passou a tentar obter sua ligação com o sobrenatural e a eternidade por meios próprios.

 Como afirma o poeta sacro Almeida Sobrinho: “Com ofertas e obras mortas, sacrifícios sem valor, enganado, pensa o homem, propiciar seu Criador.

Meios de salvar-se inventa, clama, roga em seu favor, a supostos mediadores, desprezando o Deus de amor” (segunda estrofe do hino 18 da Harpa Cristã).

– Notamos, então, que as religiões são construções humanas que buscam se religar à divindade a partir do ser humano, o que é uma vã tentativa, vez que o homem não pode isto fazer, pois Deus lhe é superior e não pode o homem alcançar, por suas próprias forças, a divindade. Trata-se, portanto, de um meio enganoso, em que se busca preencher o “vazio do tamanho de Deus” que há no ser humano, mas em vão.

– Uma religação entre homem e Deus somente pode ser feita com iniciativa em Deus, pois Deus pode Se aproximar do homem, pode tomar a iniciativa de restabelecer a comunhão perdida com o pecado, e não vice-versa.

Foi isto, aliás, que o Senhor prometeu quando da queda da humanidade, por meio do “protoevangelho” (Gn.3:15), disse que a semente da mulher restauraria a amizade entre Deus e o homem.

– A verdadeira religião, pois, tem de ter origem em Deus e é isto que vemos revelado na Bíblia Sagrada, Deus providenciando o restabelecimento da amizade com Deus e o homem através de Cristo Jesus, a semente da mulher, o único que pode fazer a verdadeira ligação entre Deus o homem (I Tm.2:5).

– Portanto, vemos que há uma situação diametralmente oposta entre pregar a Jesus Cristo, Aquele que faz a ligação entre Deus e o homem, a partir do Senhor e pregar alguma religião, propagar alguma religião, que parte do homem buscando, em vão, chegar a Deus.

– Cristo Jesus é quem faz a religação entre Deus e o homem, de modo que existe, sim, uma verdadeira religião, tanto que Tiago a menciona, ao dizer que “a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg.1:27).

– Ora, esta “religião pura e imaculada” nada mais é que a expressão do amor a Deus e do amor ao próximo, que são os dois grandes mandamentos da lei que Deus deu ao povo de Israel (Mt.22:36-40), mandamento este que foi sintetizado pelo Senhor num só, o “novo mandamento”: “Que vos amei uns aos outros assim como Eu vos amei” (Jo.15:12).

– Destarte, vemos que, na perspectiva divina, o mais importante é que passemos a ter uma comunhão efetiva com Deus que, sendo amor, fará com que não somente amemos a Ele como também ao próximo, exercendo, assim, a verdadeira religião, que, como Tiago diz, é “pura e imaculada”, ou seja, está separada do pecado.

II – A EVANGELIZAÇÃO DOS GRUPOS RELIGIOSOS

– Visto o que representa a religião e a religiosidade do ser humano, temos, de imediato, uma consideração para fazer quando tratamos da evangelização de grupos religiosos: há uma perspectiva completamente oposta entre pregar o Evangelho e pregar qualquer doutrina religiosa, pois a pregação do Evangelho parte de Deus, enquanto que a doutrina religiosa parte do homem.

– Isto faz com que tenhamos, na evangelização, uma perspectiva atenta, pois não podemos querer trazer uma mensagem religiosa, ou seja, que busque mostrar que o homem salvo é melhor do que os demais, que está a seguir uma “verdadeira religião”, porquanto não é de “religiões” que falamos quando pregamos o Evangelho, mas, sim, de uma pessoa, de Cristo Jesus, que fez a religação entre o homem e Deus.

– A evangelização dos grupos religiosos não pode se dar no âmbito da religião, na discussão de dogmas, de teses ou de crenças. Se o fizermos, estaremos admitindo que a religião tem algum papel salvífico, algum significado espiritual, o que é precisamente o que contrário do que diz o Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.

– Por isso, muito acertadamente, ter nosso comentarista dito que não se deve “discutir religião” quando se for evangelizar pessoas religiosas, grupos religiosos, pois isto seria inútil, uma vez que se manteria a crença, a falsa crença de que a religião tem algum valor espiritual, de que a religião é um meio válido para a salvação.

– Há um grave risco para os salvos em Cristo Jesus, qual seja, o de passar a achar que precisam ser religiosos e que a religiosidade os poderá salvar.

Quando assim agem, acabam por transmitir as pessoas a necessidade de uma religiosidade, do cumprimento de um conjunto de regras, como se isto fosse necessário para a salvação, como se fosse a essência da vida eterna.

– Este foi o erro do povo judeu. Tendo recebido a lei do próprio Deus, acabou por entender que, pelo simples fato de serem os receptores da lei e por procurarem cumprir os 613 mandamentos, já estavam salvos por conta disso.

Por serem religiosos, tornaram-se inimigos do Evangelho, a ponto de se oporem ao ministério terreno de Cristo e de pedirem a Sua condenação à morte.

– O fato de haver várias religiões já é uma demonstração de que isto nada tem que ver com o Evangelho, pois a verdade é única e não contempla variedade. As religiões são muitas exatamente porque são construções humanas, vãs tentativas de se produzir a religação com Deus a partir do homem.

– Por isso, nenhuma religião pode trazer salvação ao homem. A verdadeira religião, que é a religação entre Deus e o homem através de Cristo Jesus, é uma consequência da salvação, não a própria salvação.

Praticamos a verdadeira religião, a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, porque fomos salvos por Cristo e passamos a amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos em virtude de ter sido derramado em nós o amor de Deus pelo Espírito Santo (Rm.5:5).

 Nós só amamos a Deus e ao próximo porque Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19).

– Na evangelização, portanto, não podemos ficar nos perdendo num embate entre dogmas e crenças religiosas, pois isto seria desviar o assunto e permanecer no patamar meramente humano, quando pregar o Evangelho é pregar o reino de Deus, Cristo Jesus e a Palavra de Deus.

– O apóstolo Paulo aconselha firmemente os seus filhos na fé Timóteo e Tito a jamais se enveredarem por este caminho, notadamente com os judeus, que, como vimos, recebeu a própria lei da parte de Deus, mas que passaram a ser religiosos, ao verem na lei um fim em si mesmo, uma forma de religação com o Senhor e não um caminho para chegarem a Cristo, o que efetivamente faria a religação (Gl.3:24,25).

É o que vemos em passagens como I Tm.1:4-6; II Tm.2:14 e Tt.3:9,10.

– É lamentável verificarmos que muitos que pretendem evangelizar se percam em discussões intermináveis a respeito de dogmas e de crenças com as pessoas evangelizadas que professam alguma religião, discussões que não levarão a lugar algum e que não promoverão qualquer resultado prático, a não ser uma possível contenda que gere inimizades e escândalos, o que, à evidência, não é conveniente a um servo do Senhor (Tt.2:23,24).

– O objeto da evangelização é mostrar Cristo para as pessoas e a necessidade que elas têm de se arrepender dos seus pecados e a pessoa religiosa, via de regra, acha que, por seguir uma religião, crer em alguns dogmas, efetuar algumas práticas, já alcançou o favor divino e, por isso, já tem a sua salvação garantida.

Discussão com base em dogmas e crenças nunca levará as pessoa ao arrependimento dos pecados.

– Devemos apresentar Jesus Cristo às pessoas religiosas e, para tanto, faz-se mister sabermos como a religião da pessoa a ser evangelizada vê a pessoa do Senhor Jesus.

Para evangelizar grupos religiosos, é importante termos algum conhecimento da religião da pessoa evangelizada, a fim de que possamos entender qual a visão de mundo e da salvação que a pessoa tem, não para discutir com ela a respeito de seus dogmas e crenças, mas para saber qual é o entendimento da pessoa com referência à salvação e à eternidade.

– Tem-se, aqui, a importância do estudo da heresiologia, ou seja, o estudo das falsas doutrinas, das falsas religiões, cujo intuito é ter algum conhecimento a respeito das diversas ideias religiosas que surgiram ao longo da história da humanidade, a fim de que, sabendo precisamente o ponto-de-vista de cada uma delas, tenhamos condição de evangelizar as pessoas religiosas, mostrando-lhes a verdade do Evangelho e o caráter vão de suas crenças.

– Neste passo, aliás, é de se verificar que, muitas vezes, a pessoa abordada não tem conhecimento profundo da doutrina religiosa que professa, tendo um conhecimento superficial.

Sem que haja qualquer contenda, quando se verificar se este o caso, deve-se, nas Escrituras, inclusive incentivando a própria pessoa evangelizada a manusear o texto sagrado, mostrar-lhe a verdade bíblica para que ela própria chegue à conclusão de que a verdade não é aquilo que lhe disseram e que ela tenta transmitir.

– Esta mesma conduta deve ser observada quando fomos abordados por grupos religiosos. Uma das características das pessoas religiosas é buscar novos adeptos, numa “evangelização às avessas”, notadamente as chamadas “seitas”, ou seja, grupos religiosos normalmente fechados, que buscam trazer para si mais seguidores.

– Nesta abordagem, somente devemos iniciar um diálogo que signifique um verdadeiro “contra-ataque”, se tivermos pleno conhecimento das Escrituras e se pudermos conduzir o diálogo não para um debate doutrinário, mas, sim, para a salvação na pessoa de Cristo Jesus.

Identificada a religião daquele que nos abordou, e com este conhecimento, teremos uma chance sem igual de falar-lhe do amor de Deus e do Evangelho.

– Este embate entre verdade e falsidade, aliás, é algo que não pode ser perdido de vista pelo evangelizador quando estiver a se aproximar de grupos religiosos.

Jesus Cristo é a verdade (Jo.14:6) e, portanto, pregar a Cristo é pregar a verdade, enquanto que as religiões, por serem várias, são, nitidamente, uma expressão da falsidade, do engano satânico que repercute na vã tentativa de preencher o “vazio do interior do homem que é do tamanho de Deus”.

– O fato é que vivemos uma época de resgate da religiosidade, pois o pensamento racionalista e materialista, que via na religião um “estado primitivo” da humanidade que haveria de ser superado, mostrou-se equivocado.

 Quando o homem buscou viver “sem religião”, com base na razão, na ciência e na filosofia, tivemos grandes tragédias na humanidade, como as duas guerras mundiais e a perspectiva da destruição da humanidade no período denominado de Guerra Fria, entre 1946 e 1989.

– O resultado disto foi o reconhecimento de que o homem deve buscar uma dimensão que vá além do material e, neste passo, teve grande papel a chamada Nova Era, um movimento sincrético religioso surgido no final do século XIX, sob o comando de Helena Blavastky (1831-1891), em que se passou a difundir a ideia de que “todas as religiões levam a Deus”, que toda religião é válida para se chegar a Deus.

– Ante a falência do pensamento racionalista e antirreligioso, a religiosidade tem, ultimamente, ganhado terreno, mas, dentro desta perspectiva relativista, de dar validade a toda e qualquer religião, tanto que se está em busca de um “diálogo inter-religioso”, de uma união de todas as religiões naquilo em que elas “têm em comum”, que é um decisivo passo para o surgimento da “religião do Anticristo”, aquela religião que levará toda a humanidade a adorar o Anticristo e o diabo, religião que se implantará, por meio do Falso Profeta, depois do arrebatamento da Igreja (Ap.13:4,4-6,11-15).

– O evangelizador de grupos religiosos deve ter esta consciência, buscando enaltecer a religiosidade, pois ela é uma comprovação da necessidade que o homem tem de se relacionar com Deus, buscando mostrar ao evangelizando que a religião é vã, em si mesma não propicia a salvação e que se faz necessário receber a Cristo Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador.

– O evangelizador jamais pode adotar o ponto-de-vista relativista hoje vigente em matéria de religião. Não se pode ter uma atitude relativista, pois isto seria negar a Cristo, seria negar a própria mensagem a ser veiculada.

Eis porque não se pode fazer qualquer evangelização dentro de uma perspectiva “ecumênica” ou “de diálogo inter-religioso”, como muitos estão a fazer, sob o pretexto de se conseguir uma aproximação dos grupos religiosos.

 O relativismo nega a verdade do Evangelho e aceitá-lo é querer tirar de algo impuro, algo que seja puro e imaculado, o que é impossível (Jó 14:4).

– A abordagem a ser feita na evangelização dos grupos religiosos será sempre através de um ponto de contato entre a religiosidade da pessoa e a mensagem do Evangelho. Foi o que sempre fizeram os apóstolos.

– No dia de Pentecostes, Pedro usou das Escrituras para mostrar à sua plateia judaica Cristo Jesus.

A evangelização dos judeus deve ser feita desta maneira, ou seja, é preciso sempre usar das Escrituras, que os judeus reconhecem ser a Palavra de Deus (“in casu”, o Antigo Testamento, a chamada “Tanach”), para nelas mostrar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o Senhor e Salvador do mundo, como sempre fez o apóstolo Paulo, desde quando ainda estava em Damasco depois de sua conversão (At.9:20; 13:14-43).

– Na evangelização de judeus, portanto, há de se mostrar, no Antigo Testamento, que Deus ama o Seu povo, que Deus ama o homem e que Jesus é o Messias, Aquele que havia sido prometido para restaurar a amizade entre o homem e Deus e que a Sua vinda, primeiramente como sofredor, para só depois, no final dos tempos, vir como Rei, é o assunto e o que se encontra nas Escrituras.

– Com relação aos gentios, o apóstolo Paulo dá-nos, também, exemplo de como nos aproximarmos e abordarmos grupos religiosos.

Em Atenas, o apóstolo pôde verificar a religiosidade daquela gente e fez um ponto de contato entre esta religião e a mensagem do Evangelho, que era o culto ao “Deus desconhecido” e, a partir daí, elaborou o seu sermão no Areópago.

– A partir deste ponto de contato, sem ofender os dogmas e as crenças dos atenienses, Paulo lhes mostrou a Cristo, identificando, na religião, o que o missionário canadense Don Richardson denominou de “o fator Melquisedeque”, fazendo alusão ao fato de Abrão ter identificado em Melquisedeque, o rei de Salém, a figura do sacerdote do Deus Altíssimo (Gn.14:18-20).

– Estudando e conhecendo as diversas religiões, devemos verificar quais são os pontos de contato entre a mensagem do Evangelho e os dogmas e crenças religiosos, para, a partir daí, mostrar a Jesus Cristo aos religiosos que se pretendem evangelizar.

– A atitude de humildade e de reconhecimento da incapacidade humana e da majestade e soberania de Deus é um elemento absolutamente essencial na evangelização de pessoas religiosas, pois a religiosidade, normalmente, traz um sentimento de soberba e de autossuficiência que deve ser prontamente evitado e desconsiderado na evangelização.

– Por isso é importante saber qual o papel que se dá a Cristo em cada religião, a fim de que, a partir do próprio conceito religioso do evangelizando, possamos apresentar-lhes a Jesus como único Senhor e Salvador.

– Não se trata de reconhecer qualquer elemento verdadeiro neste ponto de contato, mas de poder, a partir da própria experiência religiosa do evangelizando, apresentar-lhe a Cristo e, por conseguinte, mostrar o caráter vão da religiosidade e a necessidade de uma real e profunda salvação.

– Se, com os judeus, temos uma base comum que é a crença de que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus e que Jesus é o Messias, o que, de certo modo, facilita a evangelização, com demais grupos religiosos isto é mais difícil e deve ser feito de modo criterioso e dedicado.

– Os muçulmanos, por exemplo, embora sejam também monoteístas, têm uma outra base de crença, que é o Alcorão, livro supostamente ditado pelo anjo Gabriel a Maomé, que apresenta diversas histórias bíblicas, ainda que, via de regra, distorcidas.

– Deve-se, portanto, na evangelização dos muçulmanos, tentar obter-se um ponto de contato entre a religião muçulmana, o que consta no Alcorão, e a mensagem de Cristo Jesus, lembrando-se que, entre os islâmicos, Jesus é um Profeta, um profeta importante, mas não mais do que um profeta.

– Não se deve, na evangelização de um muçulmano, evidenciar a falsidade da qualidade de profeta de Maomé, ou ofender aqueles que os islâmicos consideram ser “o último e maior profeta”, devendo-se falar de Cristo e de Sua condição de Senhor e Salvador do mundo, algo a ser introduzido a partir da própria realidade vivida pelo muçulmano em suas crenças.

– Deve-se salientar que o islamismo tem sido a religião que mais cresce no mundo e que está fortemente embasada na ideia de uma salvação pelas obras, notadamente os chamados cinco pilares (profissão e aceitação do credo, oração, caridade, jejum e peregrinação a Meca), o que mostra que se trata de uma religião firmada na crença de que o homem pode, por seus méritos, alcançar a comunhão com Deus.

– Dentro desta ideia, deve-se, na evangelização, concentrar esforços na exaltação das boas obras mas, ao mesmo tempo, na sua total incapacidade de fazer reverter o caráter pecaminoso da humanidade, a necessidade do reconhecimento dos pecados (conceito existente no islamismo) e do arrependimento, pois a salvação somente se dá na pessoa de Jesus.

– Falando em salvação pelas obras, é esta, também, a tônica da maior parte das religiões existentes, destacando-se, na realidade brasileira, o espiritismo, em todas as suas vertentes.

Neste ponto, também, é de se realçar a excelência de Jesus Cristo (o que é admitido por muitos espíritas, notadamente os kardecistas) e a Sua condição superior a de um simples “espírito evoluído” ou “iluminado”.

Deve-se, quando se trata de evangelização de espíritas, com muito cuidado mas firmeza, mostrar da ilogicidade da ideia da reencarnação, bem assim da possibilidade de o homem tudo entender o que Deus faz, o que nega a própria divindade.

– Esta mesma conduta há de ser seguida na evangelização de pessoas que professem as chamadas religiões orientais, muitas das quais possuem alguma espécie de espiritismo nelas embutida, entendido aqui como a crença de que pode haver comunicação entre vivos e mortos.

III – A EVANGELIZAÇÃO DE ATEUS E SEDIZENTES CRISTÃOS

– Outro ponto importante a se observar é a evangelização de ateus e racionalistas, ou seja, pessoas que sejam contrárias à religião, que tenham um sentimento de aversão a toda e qualquer religião, que entendam que Deus não existe ou, se existe, é-nos totalmente indiferente (os chamados agnósticos).

– O discurso ateísta tem aumentado nos últimos tempos, notadamente a partir do século XXI, embora, como já tenhamos dito, tenha sofrido um recuo depois das tragédias trazidas pelo culto à razão no século XX.

No entanto, notadamente ante o desenvolvimento do movimento comunista, é um pensamento que tem dominado parte considerável das pessoas.

– Na evangelização de um ateu, é preciso, antes de mais nada, verificar que, na verdade, os ateus são, sim, religiosos, apesar de dizerem não o ser. Com efeito, o ateu não é simplesmente uma pessoa que diz que Deus não existe, mas alguém que se arvora em um verdadeiro deus, ou, ainda, que adota como deu uma determinada doutrina supostamente científica.

– Assim, é interessante observar que os ateus ou se erigem como “donos da verdade”, pondo-se como estabelecedores de seus próprios princípios ou, então, creem em “verdades científicas”, com uma fé maior até do que a de um crente, como é o caso, por exemplo, da crença de que o mundo é fruto do acaso.

– Os ateus, na verdade, procuram esconder, nesta sua descrença em Deus, frustrações e inconformismo com a própria incapacidade humana e devem ser abordados com muito cuidado, sem que se busque trazer argumentos racionais para a comprovação da existência de Deus.

O que se deve, sobretudo, é tentar, com ajuda do Espírito Santo, descobrir este ponto de frustração, de verdadeira revolta contra o Senhor e mostrar o grande amor de Deus e como Deus está disposto a salvar o homem na pessoa de Cristo Jesus.

– É comum, na evangelização de ateus, haver discussões a respeito da existência da injustiça e da dor no mundo, os terríveis erros cometidos em nome de Deus ao longo da história e coisas quetais.

O evangelizador deve reconhecer todos estes fatos mas mostrar que nada disso pode ser atribuído a Deus, mas é resultado da entrada do pecado no mundo e que o Senhor Jesus veio, precisamente, alterar este estado de coisas, mas que tudo quem que começar pelo homem.

– A evangelização de sedizentes cristãos é também um fator a ser levado devidamente em consideração.

O Cristianismo abrange um sem-número de segmentos e denominações, sendo certo que devemos nos preocupar em evangelizar aqueles que estão tão distantes da verdade bíblica que têm comprometida a sua salvação, vez que não creem, na prática, que Cristo é o único e suficiente Senhor e Salvador da humanidade.

– Destarte, devemos evitar gastar tempo precioso na tentativa de “evangelização de salvos”, tão somente porque não têm eles o mesmo entendimento das Escrituras que nós em pontos absolutamente secundários da doutrina e que não comprometem a salvação, como, infelizmente, vemos acontecer com frequência.

Evangelizar não é trazer pessoas para a nossa denominação, para o nossa organização religiosa, mas levá-las a Cristo.

– Lembramo-nos aqui, a propósito deste assunto, de corinho que se costuma cantar na apresentação de visitantes nos cultos, que, em certo momento, diz: “Não importa a igreja que tu és, se atrás do Calvário tu estás, Se o teu coração é igual ao meu, dá as mãos e meu irmão serás”.

Se a pessoa efetivamente crê que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador, é uma pessoa salva, pouco importando a sua denominação religiosa.

– Assim, em termos de segmentos ditos cristãos, devemos ter sempre o cuidado de verificar se a pessoa “está atrás do Calvário” ou se, tendo o nome de “cristã”, na verdade está a crer na salvação pelas obras, a adotar práticas diametralmente opostos ao que nos ensina a Palavra de Deus, tais como o uso de imagem de esculturas, a crença na intercessão de santos e de Maria, comunicação com mortos, admissão de pessoas em pecado na comunhão da igreja e coisas quetais.

– Nesta evangelização de sedizentes cristãos, devemos tomar como ponto de contato a crença em Jesus Cristo e levá-las às reais consequências, demonstrando que o Jesus constante das Escrituras, o Jesus revelado é bem diverso daquele que é transmitido e ensinado na doutrina religiosa professada pela pessoa evangelizada.

Deve-se apresentar Jesus e não ficar a discutir dogmas e crenças religiosas, deixando que o evangelizando, ele próprio, considere o equívoco daquilo em que crê.

– É por isso que não é medida que o evangelizador deve tomar, por exemplo, ao evangelizar um romanista, de ataque a Maria ou aos santos e de exigência de que haja a destruição de imagens de escultura ou ícones existentes na casa do evangelizando.

Devemos pregar o que está nas Escrituras, evitando criar melindres ou debates intermináveis, deixando que a própria Palavra e o Espírito Santo vá trabalhando na vida do evangelizado que, certamente, em se convertendo, tomará, por si mesmo, a iniciativa de abandono desta prática.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/attachments/article/1644/3T2016_L8_esbo%C3%A7o_caramuru.pdf – Acesso 16 de agosto de 2016.

Um comentário

  • ELIANE GOMES DE OLIVEIRA

    A Paz do Senhor, gosto muito dos estudos do Ev. Dr. Caramuru, procuro sempre bons comentários nos estudos para aplicar em minhas aulas.

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