Sem categoria

LIÇÃO Nº 8 – COMPROMETIDOS COM A PALAVRA DE DEUS


O verdadeiro pentecostalismo é comprometido com a Palavra de Deus.

INTRODUÇÃO

– Paulo denomina a Igreja de “coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3:15). Como corpo de Cristo, que é a Verdade (Jo.14:6), a Igreja é a única instituição sobre a face da Terra que pode viver a verdade e, por isso, sustentá-la e defendê-la num mundo que vive enganado pelo pai da mentira.

– Como guardiã da verdade e se santificando nela (Jo.17:17), a Igreja tem a difícil tarefa de proclamar, sustentar e defender a sã doutrina, a Palavra de Deus. Lamentavelmente, porém, nos dias de apostasia em que vivemos, cada vez mais notamos o abandono da verdade por milhares de sedizentes cristãos.

Para acessar o apêndice dessa lição “APÊNDICE Nº 1 – O FALSO PENTECOSTALISMO: AS CHAMAS DO FOGO ESTRANHO” – Clique aqui

I – O QUE É DOUTRINA E O SEU PAPEL NA IGREJA

– Doutrina é palavra de origem latina, cujo significado é “conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas”.

Em latim, “doctrina” significa “ensino, instrução dada ou recebida, arte, ciência, doutrina, teoria, método”.

Assim, a doutrina é um ensinamento, uma instrução que alguém dá a outrem. Aliás, a palavra “doctrina” é derivada de “docere”, que significa ensinar.

Doutrina, portanto, é um ensinamento, um ensino, uma instrução que alguém que sabe (o sábio ou “doutor”) dá a alguém que não sabe
(o aprendiz).

– Vemos, portanto, pelo seu significado latino, que “doutrina” significa ensino e, portanto, quando falamos em “doutrina bíblica” estamos a falar no “ensino da Bíblia”.

Ora, a Bíblia é a Palavra de Deus e, portanto, o “ensino da Bíblia” nada mais é que o ensino da Palavra de Deus, o ensino de Deus ao homem.

“Doutrina”, portanto, é o ensino que Deus dá ao homem a partir da Sua Palavra, da revelação divina à humanidade, que consta da Bíblia Sagrada.

– Ora, se a doutrina é a Palavra de Deus e esta Palavra, como nos ensinou Jesus, é a Verdade (Jo.17:17), quando o apóstolo Paulo denomina a Igreja de “coluna e firmeza da verdade”(I Tm.3:15), está a dizer que a Igreja é a “coluna e firmeza da doutrina”, ou seja, cabe à Igreja sustentar e manter a doutrina, a Palavra de Deus.

– A primeira vez que surge a palavra “doutrina” nas Versões Almeida (Revista, Corrigida, Fiel e Contemporânea) é em Dt.32:2, onde, no cântico de Moisés, consta a expressão “goteje a minha doutrina”,

palavra que é a tradução de “leqach”(חקל), cujo significado é “ensino”, “instrução”, tanto que a palavra é traduzida por “ensino” em outras versões bíblicas (como a Tradução Brasileira, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje e a Nova Versão Internacional).

Neste primeiro aparecimento da palavra, ainda que em um contexto poético, percebe-se claramente que Moisés considera que todos os ensinos que havia dado ao povo de Israel, ensinos estes que eram resultado da revelação divina ao próprio Moisés,

constituíam ensinos que deveriam ser continuamente ministrados ao povo e que representavam para este povo a sua própria fonte de vida, a sua própria renovação, pois deveriam estes ensinos “gotejarem”, ou seja, pouco a pouco, de forma contínua e permanente, cair sobre o povo, a fim de lhe dar vida, assim como a chuva e o orvalho, pela manhã, fazem em relação à terra.

– Esta expressão de Moisés, também, mostra-nos que a doutrina é algo que vem do alto, que vem do céu, seja na forma de chuva, seja por meio da condensação do vapor d’água encontrado no ar(o orvalho), indicando-se que a doutrina não é obra do homem, mas resultado da revelação divina, de um ensino vindo diretamente da parte do Senhor.

– Por fim, a expressão de Moisés dá-nos a nítida noção de que o trabalho da doutrina é manter a vida e uma vida renovada no ser humano, pois é comparada ao chuvisco sobre a erva e a gotas d’água sobre a relva. Todos nós já divisamos, pela manhã cedinho, o orvalho que está a manter molhadas as ervas e a relva, mantendo-as bem verdes, dando-lhes vida, vigor e exuberância (i.e., beleza).

Os campos verdes, pela manhã, aquele frescor que sentimos quando nos encontramos em uma área verde logo pela manhã, que tão bem nos faz à saúde, é o resultado desta ação refrescante da chuva e do orvalho.

Este é o papel da doutrina em nossa vida espiritual: refrigério para a nossa alma, renovação de nossas forças espirituais, concessão de beleza e de prazer aos nossos corações e a todos quantos travam contacto conosco.

Bem se vê, portanto, que bem ao contrário dos que dizem que a doutrina torna o homem insensível a Deus, vemos que o papel da doutrina é precisamente o de nos conceder vida, vida abundante, refrescor e sensibilidade diante de Deus e dos homens.

– Por isso, a Igreja, na sua função de “coluna e firmeza da verdade”, faz com que o refrigério de Cristo alcance as vidas humanas.

Ao defender a sã doutrina, a Igreja não está fazendo outra coisa senão levar aos homens o amor de Deus, o consolo do Senhor, a felicidade e a dignidade de que o homem é tão carente, separado que está de seu Criador pelo pecado.

Não é outro o sentido da pregação de Pedro, registrada em At.3:19, quando disse aos ouvintes que deveriam se arrepender e se converter, para que os pecados fossem apagados e viessem os tempos do refrigério pela presença do Senhor.

– O refrigério pela presença do Senhor é algo que somente advém ao ser humano mediante o ensino da Palavra de Deus, mediante a ministração da doutrina. Jesus, mesmo, afirmou que somente encontraríamos descanso para as nossas almas quando aprendêssemos dEle, que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).

“Refrigério”, como sabemos, é o “ato ou efeito de refrigerar(-se); sensação agradável produzida pela frescura; consolo, alívio de qualquer natureza; conforto moral “.

Somente através do “refrigério”, conseguimos ter a mudança de nosso caráter, tornando-o o nosso “eu”, sem empenho, arrefecido, esfriado, pois “refrigério” vem da palavra latina “frigere”, que tem, entre outros significados, o de esfriar, perder o empenho, arrefecer.

– Jesus afirmou que, para nós O seguirmos, precisamos renunciar a nós mesmos. Quem não renuncia a si mesmo não pode ser discípulo de Jesus (Mt.16:24; Lc.14:33).

Para renunciarmos a nós mesmos, temos de fazer com que o velho homem, a velha natureza seja crucificada com Cristo (Gl.2:20) e isto só é possível se tivermos o refrigério pela presença do Senhor, ou seja, o aprendizado de Cristo, o que se dá única e exclusivamente pela doutrina.

É preciso que soframos a sã doutrina (II Tm.4:3), isto é, que suportemos a doutrina, que nos submetamos a ela, pois só assim teremos descanso para as nossas almas, só assim manteremos o velho homem, a natureza pecaminosa sob domínio do Espírito Santo e poderemos servir a Jesus até o dia da glorificação.

– Esta tarefa da ministração da doutrina é mais uma das missões destinadas pelo Senhor Jesus à Igreja. O Senhor constituiu na Igreja pessoas para esta tarefa de ministrar a Palavra de Deus, pessoas a quem deu os dons ministeriais (Ef.4:11-16), a fim de que os salvos possam se tornar verdadeiros e genuínos discípulos do Senhor Jesus e cresçam espiritualmente, formando Cristo em cada um deles (Gl.4:19).

– A segunda vez que vemos a palavra doutrina nas Versões Almeida é em Jó 11:4 (é importante lembrarmos que Jó seja, talvez, o livro mais antigo da Bíblia e, portanto, a sua referência seria anterior mesmo a de Dt.32:2), que é a mesma palavra “leqach” já mencionada.

Aqui, um dos “amigos” de Jó, Zofar, acusa Jó de dizer que a “sua” doutrina era pura e que ele se sentia limpo aos olhos de Deus.

A palavra “doutrina”, aliás, também é empregada pela Tradução Brasileira, pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje e pela Nova Versão Internacional. Temos o mesmo significado do texto anterior.

Embora se esteja a referir a um conjunto de ensinos de Jó, Zofar está a considerar que o patriarca é presunçoso ao querer dizer que seus ensinos são provenientes da parte de Deus. Doutrina continua a ser considerada como um ensino vindo da parte de Deus, um ensinamento com origem no céu.

– Dentro deste sentido, vemos que a doutrina não é algo que venha da Igreja, mas algo recebido do céu para a Igreja.

A Igreja é apenas a guardiã, ou seja, a instituição destinada a guardar os ensinos divinos e a divulgá-los para os homens.

Não é a Igreja quem cria doutrinas, mas ela apenas transmite aquilo que foi ensinado pelo Senhor Jesus e que é constantemente lembrado e anunciado pelo Espírito Santo ao povo de Deus (Jo.14:26; 16:13-15).

– Isto se torna ainda mais evidente quando vamos ao Novo Testamento e ali observamos que a palavra grega “didaché”, que é a palavra grega para “doutrina”, possui um significado passivo, ou seja, em muitas ocasiões seu significado é “o que é ensinado”, como a demonstrar que a “doutrina” não é algo que seja criação humana, mas, sim, algo que é recebido pelo homem da parte de Deus.

A “doutrina”, portanto, não é algo que venha da imaginação ou da mentalidade de um homem, mas, sim, única e exclusivamente aquilo que tem origem em Deus.

Não foi à toa que, no mesmo evangelho segundo Mateus, vemos a expressão esclarecedora do Senhor:
“aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas”
(Mt.11:29b).

– Este é o mesmo significado que encontramos nos outros dois evangelhos sinóticos. Em Marcos e em Lucas, a doutrina é apresentada como o conjunto de ensinamentos de Cristo, ensinamentos estes que causavam admiração por parte do povo, que também sentia que era um ensino que vinha de quem tinha autoridade, ou seja, de quem vivia aquilo que ensinava (Mc.1:27; 4:2; 11:18; Lc.4:32).

– Não é diferente no evangelho segundo João. Neste evangelho, escrito para mostrar que Jesus é o Filho de Deus, está uma das mais importantes afirmações bíblicas a respeito da doutrina. Interpelado sobre Seus ensinos, o Senhor Jesus limitou-se a dizer: “…A Minha doutrina não é Minha, mas dAquele que Me enviou.

Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo.” (Jo.7:16,17).

– Jesus mostra-nos, claramente, que a Sua doutrina outra não era senão a doutrina do Pai. A doutrina não fala do próprio doutrinador, mas, sim, de Deus e somente quem vivenciar a doutrina, quem nela crer e por ela viver, verá que esta doutrina é a verdade, que esta doutrina é a vontade de Deus. A doutrina é a manifestação da vontade de Deus para o homem.

Seguir a doutrina é seguir a vontade de Deus para o homem e é por isso que muitos se têm levantado contra a doutrina, porque ela implica na renúncia do eu, na renúncia do ego, na renúncia de nós mesmos, sem o que é impossível seguir a Jesus (Mt.16:24). Daí porque Jesus foi interrogado pelo sumo sacerdote a respeito de Sua doutrina (Jo.18:19).

– Se temos a doutrina de Cristo, se a seguimos, não podemos, portanto, ser diferentes. A doutrina tem de ser a mesma e, neste passo, os doutrinadores não podem querer aparecer ou dizer o que é certo ou o que é errado, como muitos têm feito e já o faziam nos tempos apostólicos, onde já se registravam doutrinas de homens (Mt.15:9; Mc.7:7; Cl.2:22) e até doutrinas de demônios (I Tm.4:1).

Devemos permanecer na doutrina de Cristo, pois quem não persevera nesta doutrina não tem a Deus (II Jo.9).

– Assim como Jó, a Igreja deve reconhecer que os ensinos provêm de Deus e que, portanto, não podemos alterá-los nem tampouco deles nos apropriarmos a ponto de gerarmos novas doutrinas, novos ensinos.

É completamente equivocado o ensino de que a Igreja possui um “Magistério” e é capaz de gerar uma “tradição”que tem o mesmo valor da Palavra de Deus, como defendem os romanistas e os ortodoxos. Como grupo social, não há como deixar de verificar que as igrejas locais criam costumes e tradições, que, para não gerar escândalo nem tropeços na vida espiritual dos seus integrantes, devem ser observados.

No entanto, tais costumes e tradições jamais podem se equiparar à Palavra de Deus, que é a sã doutrina, o único fundamento da Igreja, que nunca pode ser removido (I Co.3:11).

A Igreja é a coluna e firmeza da verdade, tem a missão de sustentar e se manter na verdade, mas não é a Verdade, que é somente Cristo Jesus, seu Sumo Pastor.

– Um dos grandes erros do povo de Israel foi edificar um conjunto de tradições e de normas que sufocaram a Palavra de Deus (Mt.15:1-20).

Jesus censurou os judeus por causa deste comportamento, comportamento este que, lamentavelmente, também se imiscuiu no meio daqueles que cristãos se dizem ser, a ponto de vários segmentos da denominada Cristandade hoje terem erigido as suas tradições e costumes ao mesmo nível da Palavra de Deus, quando não acima da própria Palavra.

Tal comportamento é exatamente o oposto do que o Senhor exige da Sua Igreja, que é o de sustentar, acima de tudo o que há, a Palavra de Deus, a exemplo do que faz o próprio Deus (Sl.138:2).

– Em Pv.13:14, na Versão Almeida Revista e Corrigida bem como na Almeida Fiel e Corrigida, a palavra “doutrina” é utilizada para traduzir “torah”(חדת), palavra que é comumente traduzida por “lei”, mas cujo significado é mais precisamente “instrução”, “ensino”.

Aqui se diz que “a doutrina do sábio” é fonte de vida para se desviar dos laços da morte. A doutrina do sábio não é, propriamente, do sábio, pois, como nos ensina o próprio proverbista, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv.9:10), no que é acompanhado pelo salmista (Sl.111:10).

Portanto, a “doutrina do sábio” outra não é senão a Palavra de Deus e só ela é capaz de dar origem à vida e nos desviar dos laços da morte. A doutrina, como se vê, portanto, é o próprio fator criador da vida espiritual e da sua manutenção até o fim.

OBS: A propósito, ensina-nos Nathan Ausubel que a Bíblia, para os judeus, no seu sentido singular de Torah, “…tem sido considerada pelos fiéis como redentora, quando entendida como forma total de vida…” (AUSUBEL, Nathan. Bíblia. In: A JUDAICA, v.5, p.77).

– Jesus, certa feita, disse que tinha vindo para trazer vida e vida em abundância (Jô.10:10). Disse, também, que Ele próprio era a vida(Jo.14:6), bem como o pão da vida(Jo.6:48).

Ao Se dizer a vida, também disse ser a verdade (Jo.14:6) e a verdade, disse em outra oportunidade, é a Palavra de Deus(Jo.17:17).

Por isso, a doutrina, enquanto ensino da Palavra de Deus, só pode, mesmo, ser a fonte de vida, de modo que não tem qualquer sentido alguém vir a dizer que o estudo, o aprendizado da Palavra de Deus seja causa de morte (interpretando, fora de contexto e sem qualquer fundamento, a expressão “a letra mata” de II Co.3:6).

Bem ao contrário, é a doutrina quem nos desvia dos laços de morte, pois só o conhecimento da doutrina da Palavra de Deus nos impede de sermos enganados pelas falsas doutrinas, heresias e modismos que proliferam com cada vez maior intensidade à medida que se aproxima o dia da volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– A Igreja, ao ensinar a sã doutrina, portanto, está sendo motivo de vivificação dos homens, estando aí, aliás, como veremos na próxima lição, um dos elementos fundamentais para o exercício da missão dinâmica da Igreja, ou seja, da manutenção dos crentes como “pedras vivas” do edifício de Deus, do avivamento espiritual.

Uma igreja local que não prioriza a doutrina é uma igreja que está se adaptando ao modelo da “igreja de Sardo”, uma igreja que tem nome de que vive, mas que está morta, pois sem doutrina, não há possibilidade de vida espiritual (Ap.3:1).

– Em Pv.16:23, a Versão Almeida Revista e Corrigida utiliza a palavra “doutrina”, que é a mesma palavra hebraica “leqach”.

Entretanto, tal versão ficou isolada nesta tradução, pois a Versão Atualizada traduziu o termo por “persuasão”, a Fiel e Corrigida por “ensino” e a Edição Contemporânea por “instrução”.

De qualquer modo, em que pese o isolamento da versão, temos aqui um outro ensino relevante a respeito da doutrina.

É a circunstância de que a doutrina vem do coração, ou seja, o que o sábio ensina é o que lhe vem do coração e, sabemos, que o princípio da sabedoria é o temor do Senhor.

Por isso, o que vem do coração do sábio é o que aí foi colocado pelo próprio Espírito Santo e, portanto, temos que a doutrina nada mais é que o resultado da operação do Espírito Santo na vida de alguém.

O próprio Jesus nos ensina isto ao dizer que o Espírito Santo, que Ele mandaria para ficar com os Seus servos, nos ensinaria todas as coisas e nos faria lembrar de tudo quanto Jesus, a Palavra, havia dito (Jo.14:26).

Vemos, pois, que a doutrina nada mais é que o resultado do ensino do Espírito Santo, o nosso Mestre por excelência.

Mais uma vez, portanto, sem qualquer fundamento quem acha que o estudo doutrinário é uma exaltação humana. Bem ao contrário, o que temos é uma demonstração de submissão do homem, de reconhecimento da soberania e supremacia divinas.

– A palavra “doutrina” reaparece na Versão Almeida Revista e Corrigida em Is.29:24, onde, mais uma vez, traduz “leqach”, sendo seguido pela Fiel e Corrigida, já que a Atualizada e a Edição Contemporânea traduzem o termo por “instrução”.

No texto, é dito que os murmuradores aprenderiam doutrina quando houvesse a santificação que o profeta prometia para o povo do Senhor.

A santificação e o temor a Deus fariam com que os murmuradores, ou seja, aqueles que se queixam de Deus, que se rebelam contra o Senhor, viessem a aprender “doutrina”.

Vemos que a “doutrina” só é aprendida por quem se separa do pecado, por quem se submete ao Senhor, por quem prima por uma vida de comunhão com Deus.

Por isso, sentimos muita preocupação ao saber que muitos crentes, na atualidade, fogem dos “cultos de doutrina”, dos “cultos de ensino”, prova de que não estão a se santificar.

– A Versão Almeida Revista e Corrigida menciona “doutrina” em Is.42:4, para traduzir, desta feita, “torah”, sendo seguida pela Versão Atualizada.

Já a Edição Contemporânea e a Fiel e Corrigida preferiram traduzir o termo por “lei”, mas, como dissemos supra, o termo “torah”, embora tenha adquirido a conotação de “lei” tem como seu significado o de “instrução”, de “doutrina”.

OBS: “…Há entre muitos judeus, e também cristãos, uma noção errônea muito difundida de que a tradução exata de ‘Torah’ é ‘Lei’.

Esse erro, provavelmente involuntário em sua origem, foi sem dúvida cometidos pelos tradutores judeus de Alexandria, no século III a.E.C., que prepararam a versão grega da Bíblia, denominada Septuaginta.

Estimulados, provavelmente, pela predileção pela lei característica do ambiente cultural helenista, traduziram de maneira incompleta o conceito da palavra hebraica, fazendo-a aparecer como ‘Lei’.

Uma vez que a versão Septuaginta das Escrituras era quase universalmente usada pelos judeus fora da Judéia e das regiões de língua aramaica do mundo greco-romano — poucos judeus ali sabiam hebraico ou mesmo aramaico (targum) — era natural que a tradução de Torah como ‘Lei’ entrasse nas obras judaicas pós-bíblicas escritas em grego ou traduzidas do hebraico para a língua grega.(…).

O conceito de Torah entre os judeus, no entanto, é muito mais amplo e mais profundo do que tão somente a ‘Lei’: no seu sentido etimológico completo, ‘Torah’ também tem a conotação de ‘doutrina’, ‘instrução’ e ‘orientação’.

Mesmo o exame mais superficial do Pentateuco comprova que a Torah tenta ser um inspirado guia absoluto para toda a crença e o culto, e abranger todas as ramificações da conduta individual e social. É, portanto, uma supersimplificação encarar a Torah como sendo somente ‘Lei’.

A Torah também é uma crônica genealógica dos primórdios de Israel e inclui as biografias de seus ilustres antepassados e dos primeiros líderes.

Além disso, é um sermão fervoroso: ensina e moraliza ininterruptamente. Exorta, incansavelmente, o israelita como indivíduo como a coletividade inteira de Israel, a esquivar-se das más ações e tomar os caminhos da verdade, da virtude, da misericórdia e da justiça, imitando os próprios atributos de Deus; a abandonar a adoração de ídolos e a encontrar Deus vivo na prática do preceito

‘Ama teu próximo como a ti mesmo’, o qual, como disse Rabi Akiva no século II, é o princípio central da religião judaica.…” (AUSUBEL, Nathan. op.cit., p.81-2).

– Ao nos depararmos com este texto do profeta Isaías, vemos claramente que o Servo do Senhor prometido para o futuro seria alguém que traria a “doutrina” de Deus para as ilhas, isto é, até as extremidades da Terra.

Neste texto, vemos que a missão de Jesus, o Messias, o Servo do Senhor, era o de levar a “doutrina” do Senhor para toda a Terra, “torah” que havia sido dada inicialmente só a Israel. Por isso, ao iniciar Sua pregação, o Senhor conclamou Seu povo ao arrependimento e a crer no Evangelho(Mc.1:14,15), o mesmo que determinou que fizéssemos depois de Sua ascensão ao céu (Mc.16:15).

O “evangelho” é a “doutrina de Cristo”, é a “doutrina de Deus”. Por isso, não podemos crer em qualquer outra doutrina, em qualquer outro evangelho, ainda que seja trazido por anjos (Gl.1:8).

– Esta doutrina foi mantida pelos apóstolos e tal circunstância nos mostra, claramente, que é a doutrina que deve ser seguida pelo povo de Deus, pela Igreja.

A primeira nota característica que se escreve a respeito dos salvos reunidos para fora do mundo, a partir do dia de Pentecostes, foi o fato de que “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At.2:42). Na igreja primitiva, o trabalho dos crentes outro não era senão encher Jerusalém da doutrina (At.5:28).

A preocupação dos apóstolos era orar e ensinar a Palavra de Deus à igreja, ou seja, dar doutrina (At.6:2,4).

Com estas informações que nos vêm do texto sagrado, temos alguma dúvida por que a igreja prosperava e a todo instante o Senhor acrescentava aqueles que haviam de se salvar (At.2:47) ? Simplesmente porque dava o primeiro lugar, em sua atividade, à doutrina!

– Esta primazia da doutrina foi sempre uma característica da igreja nos tempos apostólicos. Vemos que o procônsul Sérgio Paulo se admirou da doutrina pregada por Paulo (At.13:12), que não era de Paulo, mas do Senhor, como também, em Atenas, quiseram os filósofos do Areópago ter conhecimento da nova doutrina, precisamente a que era ensinada pelo apóstolo (At.17:19).

Paulo, por sinal, em seus escritos, sempre demonstrou sua preocupação para que a doutrina tivesse sempre um espaço privilegiado não só na vida de cada crente, mas nas igrejas locais, pois entendia que ser salvo era ter adotado uma nova doutrina (Rm.6:17),

que os inimigos dos crentes são os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina (Rm.16:17), que um culto não tem sentido se não houver doutrina (I Co.14:6,26), que a vida familiar deve ser construída, notadamente a educação dos filhos, pela doutrina do Senhor (Ef.6:4), que a vida do ministro está indissociavelmente vinculada ao ensino e à observância da sã doutrina (I Tm.1:3,10; 4:6,16; 5:17; 6:1,3; II Tm.4:2,3; Tt.2:1,7,10).

– O autor aos hebreus também demonstrou sua preocupação para com a doutrina, mostrando ser ela o verdadeiro alicerce que impede a apostasia do crente (Hb.6:1,2).

O apóstolo João, também, mostrou a necessidade de o crente sempre observar a sã doutrina e nela perseverar (II Jo.2,9), bem assim, no Apocalipse, registrando as palavras do Senhor Jesus para as igrejas da Ásia, mostrou quão abominável é ao Senhor que os santos se desviem dos santos caminhos por causa de outras doutrinas (Ap.2:14,15 e 24).

II – IGREJA: COLUNA E FIRMEZA DA VERDADE

– Pelo que pudemos observar pelas referências bíblicas relacionadas à doutrina, esta é uma das principais tarefas da Igreja, que foi mesmo denominada de “coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3:15).

Uma das razões de ser da Igreja, portanto, é a de sustentar e manter a Palavra de Deus, que é a Verdade (Jo.17:17).

– A palavra “coluna” traduz o grego “stylos” (στυλος), cujo significado vem da arquitetura e da engenharia.

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “coluna” é “suporte vertical, cilíndrico ou quase cilíndrico, usado como ornato em edificações e monumentos ou como elemento de sustentação para partes elevadas de um edifício, abóbadas, arcos etc., e consta geralmente de base ou pedestal, fuste e capitel.”

A palavra vem do latim “columna”, que tem a mesma origem de “columen”, que deu origem à palavra “cume”, que significa topo, ponto mais alto e elevado.

– Como podemos verificar, uma “coluna” é uma peça que tem o papel de suportar algo, de sustentar algo que está acima de si.

É ela quem mantém de pé aquilo que é sustentado, estando ela própria numa posição vertical. Ao se dizer que a Igreja é a coluna da verdade, a Bíblia Sagrada mostra-nos, em primeiro lugar, que a Igreja deve se manter em pé, não pode se dobrar, não pode se manter curvada, mas deve se manter com firmeza sobre o solo, a fim de poder sustentar aquilo que está acima de si, que é a verdade.

– Estar de pé é uma exigência de todo aquele que pertence à Igreja (I Co.10:12). Estar em pé é não cair, ou seja, estar em pé é se manter fiel a Deus, não ceder ao pecado nem às tentações, pois cair é se submeter, novamente, à vontade da carne, ao domínio do pecado e do mal (Mt. 6:13 APF, NVI, TB). Estamos em pé quando mantemos a nossa fé em Deus (II Co.1:24).

Estamos em pé quando tomamos cuidado de nós mesmos e somente o fazemos quando tomamos cuidado da doutrina (I Tm.4:16).

– Para ser coluna, é preciso que tomemos a posição vertical. Mas a coluna somente toma a posição vertical se estiver fundada em um solo forte, resistente, que possa lhe dar fundamento. A coluna, para ficar em pé, deve estar sobre a rocha (Mt.7:24).

Somos postos na rocha quando aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador e retirados do charco de lodo do pecado (Sl.40:2).

Mas, depois de ali termos sido postos por Deus, é necessário que firmemos os nossos passos e isto somente se dá quando confiamos em Deus e passamos a demonstrar esta nossa fé nEle mediante a guarda dos Seus mandamentos, pois só assim permaneceremos no Senhor (Jo.15:10).

É desta maneira que, devidamente fundados em Cristo, a pedra principal de esquina (I Pe.2:6), deixamos o mundo de trevas e passamos para a luz (Jo.3:21).

Tornamo-nos, assim, luz e, como toda luz, não ficamos escondidos debaixo do alqueire, i.e., de uma vasilha (Mt.5:15), mas somos colocados numa posição vertical, para sermos vistos pelos homens, assim como as colunas eram vistas nas edificações dos tempos apostólicos, nas construções do chamado período helenístico (período iniciado com Alexandre, o Grande e que vai até a queda de Roma, entre os séculos III a.C. e V d.C.).

Ao assumirmos a posição vertical, passamos a ser vistos por todos, tornamo-nos a luz do mundo e nossos passos e obras são presenciados por todos, pois estamos no velador, isto é, no candeeiro, que, como sabemos, é a figura da Igreja, não só a universal como também a local (cfr. Ap.1:20).

– Temos, pois, que o primeiro papel da Igreja, como coluna da verdade, é a de praticar a sã doutrina, seguir os ensinamentos de Cristo Jesus, produzir o fruto do Espírito Santo, guardar as Suas palavras.

A doutrina inicia-se não apenas pelo aprendizado intelectual, pelo ouvir a Palavra de Deus, mas pela prática, pela sua observância, por um viver de acordo com a vontade do Senhor.

A sã doutrina deve ser sustentada, em primeiro lugar, pelo testemunho da Igreja, por uma vida que corresponda ao que é ensinado pela Palavra de Deus.

– Com Jesus, nosso exemplo (I Pe.2:21), não foi diferente. A multidão ficou admirada de Sua doutrina não pelo que Ele dizia, mas, principalmente, pela autoridade demonstrada no ensino (Mt.7:28,29), autoridade esta que se resumia a um fator muito simples: Jesus, ao contrário dos escribas e fariseus, vivia o que ensinava (Mt.23:2,3).

De igual modo, a Igreja, corpo de Cristo, tem de viver aquilo que prega, sem o que não poderá se constituir em coluna da verdade, pois a coluna tem de estar na posição vertical e, se não viver o que pregar, o que ensinar, estará a pecar e o pecado fará com que a igreja local ou o crente, individualmente considerado, esteja prostrado, caído, sem ter como se erguer e levantar.

– A falta de uma vida de santidade, de uma vida separada do pecado é o primeiro fator para que se levantem, no meio do povo de Deus, falsos mestres e falsos doutores.

Como nos ensina o apóstolo Paulo, os falsos doutores surgem porque há pessoas que querem viver de acordo com as suas concupiscências, ou seja, de acordo com os seus pecados (II Tm.4:3,4).

– É verdade que o surgimento dos falsos mestres, doutores e profetas é um fenômeno relacionado com o término desta dispensação, algo predito pelas Escrituras, mas não devemos nos esquecer que sua proliferação está diretamente vinculada ao esfriamento do amor de quase todos os cristãos (Mt.24:12).

O esfriamento do amor nada mais é que deixar de observar a sã doutrina, pois a prova que damos de que amamos a Jesus é por meio da obediência à Sua Palavra (Jo.14:15; 15:9,10).

– Nestes últimos dias, muitos têm permitido que o pecado venha a esfriar o seu amor a Deus e, como consequência disto, passam a amar o mundo e o que no mundo há, numa clara demonstração de que o amor do Pai já neles não está (I Jo.2:15).

Em virtude disto, como amam o mundo e o pecado (pois no mundo só há a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – I Jo.2:16), não aceitam mais sofrer a sã doutrina, não querem saber de viver separados do pecado e, por isso, enganam-se a si mesmos amontoando para si falsos doutores, que tragam mensagens que os estimule a continuar pecando, achando que, mesmo assim, poderão servir a Deus.

– Assim, um dos principais motivos para a proliferação dos falsos mestres, apóstolos, profetas e doutores nos nossos dias é a circunstância de que há cada vez mais pessoas que estão a esfriar o seu amor para com Deus, a deixar de observar a doutrina, a deixarem a sua posição vertical de colunas, para se prostrarem ao pecado e ao mal, pois quem pratica o pecado, torna-se servo dele (Jo.8:34).

– A primeira característica da Igreja como coluna da verdade é, portanto, manter-se fiel ao Senhor, obediente à Sua Palavra, separando-se do mal e do pecado, mantendo-se como o remanescente fiel, que não contaminou os seus vestidos e que, por isso, andarão de branco com o Senhor (Ap.3:4).

A preservação da doutrina depende, em primeiro lugar, portanto, da observância da Palavra de Deus, de santidade, de sinceridade de vida, de uma vivência das Escrituras Sagradas.

– Mas a coluna não só tem de estar fundada na rocha e se manter numa posição vertical, como também deve ser o elemento de sustentação do que lhe está acima, “in casu”, da verdade. A Igreja não só deve estar em pé, mas deve sustentar a verdade.

– “Sustentar” é “segurar por baixo, carregar com o peso de; suster, suportar; evitar a queda, manter o equilíbrio de; segurar no alto, levar nas mãos; portar, carregar; manter a resistência a; resistir, aguentar(-se); dar ou receber alimentação; alimentar(-se), nutrir(-se); matar a fome; satisfazer por muito tempo as necessidades de alimento”.

– A Igreja tem o dever de carregar o peso da Palavra de Deus, o que Jesus denominou de “tomar a cruz” (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). Quem não toma a cruz, não pode ser considerado discípulo de Cristo (Mt.10:38; Lc.14:27).

– Suportar a Palavra de Deus, tomar a cruz nada mais é que observar a Palavra de Deus no dia-a-dia, demonstrar a sua fé em Cristo fazendo aquilo que Ele nos manda em Sua Palavra, ainda que isto represente desvantagens momentâneas e temporárias.

Cumprir a Palavra de Deus tem um peso, traz um grande ônus para o servo do Senhor. Por isso, tanto Ezequiel quanto João, quando instados, em visão, a comer um livrinho, verificaram que este livro, era doce como mel em suas bocas (Ez.3:3; Ap.10:9), mas, para João, o livrinho tornou-se amargo no seu ventre (Ap.10:10).

Isto nos diz que falar a Palavra de Deus é algo suave, agradável, mas cumpri-la é difícil e causa constrangimentos, dissabores e aflições.

– No entanto, a coluna é feita para suportar o peso do que lhe está acima. A Igreja foi feita para suportar o peso da Verdade, ou seja, de Cristo, da Palavra de Deus.

Por causa desta obediência às Escrituras e do amor a Cristo, que se mostra e prova pela guarda de Seus mandamentos, temos de tomar a cruz e sofremos o ódio de todos quantos nos cercam e que, por não terem qualquer compromisso com o Senhor e com a verdade, perseguem-nos e querem apenas o nosso mal (Jo.15:18-23). Como corpo de Cristo, assim como a cabeça, nada temos com o príncipe deste mundo (Jo.14:30).

– A Igreja, portanto, tem de suportar o peso da Palavra de Deus e sofrer a inimizade do mundo e viver em constante luta com os valores, crenças e princípios mundanos.

A coluna da verdade suporta a doutrina, aguenta o peso da Palavra de Deus e nada tem com o mundo ou com o pecado. Quem procura contemporizar com o pecado, quem procura conviver com o mundanismo e apresenta tolerância com a concupiscência, já não é mais coluna, pois a coluna tem de suportar a verdade e não a mentira.

– Prega-se, hoje em dia, um Evangelho de facilidades, de prosperidade, de leveza, de “sombra e água fresca”.

Este, porém, não é o genuíno e autêntico Evangelho. O Evangelho pregado por Cristo exige de nós que tomemos a cruz e que estejamos em constante batalha contra as portas do inferno (Mt.16:18; Ef.6:12).

Ser coluna é suportar a Verdade, é suportar a sã doutrina, não o pecado. Não podemos aceitar as astutas ciladas do diabo, que procura estabelecer “tréguas” e “cessar-fogo” com os crentes, engodando-os, pois não é possível haver comunhão entre a luz e as trevas.

– Os que não suportam mais a sã doutrina, como já se disse supra, acabam amontoando para si doutores conforme as suas próprias concupiscências, acabam negando o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmo repentina destruição (II Pe.2:1).

Deixam de adorar a Deus e preferem desfrutar da glória efêmera dos reinos deste mundo, adorando ao diabo, o deus deste século, ainda que indiretamente (Mt.4:8,9). São as astutas ciladas do adversário que, infelizmente, têm seduzido a muitos.

– Uma das grandes armadilhas lançadas pelo adversário para fazer com que muitos deixem de suportar a Verdade são as riquezas desta vida.

Quem ama as riquezas (denominadas nas Escrituras de “Mamom”), jamais amará ao Senhor (Mt.6:24) e, por isso, muitos, querendo ser ricos, caem em tentação, em laço e em muitas concupiscências nocivas e loucas (I Tm.6:9).

Não suportam, assim, a doutrina, pois não amam mais a Deus e, por isso, passam a amar as riquezas desta vida, a amar o dinheiro. Seu fim, infelizmente, será a perdição eterna, pois se desviam da fé (I Tm.6:10), ficando do lado de fora da Jerusalém celestial, já que todo avarento é idólatra (Cl.3:5; Ap.21:8; 22:15).

– Aqueles, porém, que suportarem a Verdade, que aguentarem as dificuldades da vida, mesmo as de ordem econômico-financeira, estes serão vencedores e estarão com o Senhor para todo o sempre, pois devemos ajuntar o nosso tesouro no céu (Mt.6:20,21).

– Sustentar é, também, portar, carregar, levar nas mãos, manter a resistência, resistir. A Igreja tem o dever de carregar a Verdade, de proclamar a Verdade, de resistir com a Verdade a todos os ataques da mentira, a todos os dardos inflamados do inimigo. A Bíblia é clara ao dizer que devemos resistir ao diabo e que só assim ele fugirá de nós (Tg.4:7; I Pe.5:8,9).

– A resistência ao diabo dá-se através do uso da Palavra de Deus, da sua proclamação, do seu ensino, como Jesus nos provou quando de Sua tentação.

A Igreja deve sempre, em todas as ocasiões, proclamar a Palavra de Deus e dizer aos homens qual é a vontade de Deus sobre todo e qualquer assunto, sobre toda e qualquer questão que se levante entre os homens.

– A Igreja deve manter-se intolerante com o pecado, o que não significa que deva ser intolerante com os pecadores.

A Igreja não pode se excluir da sociedade, pois está no mundo, mas jamais pode compactuar com o pecado, pois não é do mundo. Cabe à Igreja sempre manter-se como porta-voz do Senhor, resistindo bravamente a toda investida do adversário, a toda distorção das Escrituras, a toda heresia e falsa doutrina que se apresente.

– A Igreja é o sal da terra e, como tal, deve preservar o alimento, impedir a sua deterioração. Não deve permitir que a sã doutrina, formada pelos asmos da sinceridade ( I Co.5:8), seja misturada com o fermento dos fariseus(Mc.8:15; Lc.12:1).

Por isso, tem a Igreja de defender a doutrina, de contradizer todo e qualquer ensinamento falso, mostrando, nas Escrituras, a Verdade e a vontade de Deus aos homens.

– Ser coluna da verdade é defender a verdade, é defender a fé cristã. Temos aqui a chamada “missão apologética da Igreja”.

A Igreja deve defender a sã doutrina, mostrando aos hereges, uma e outra vez, onde estão errados, a fim de que possam se converter e retornar à ortodoxia doutrinária, mas sem contender e sem criar pelejas e debates intermináveis, que não produzam qualquer edificação.

É por isso que o apóstolo Paulo recomenda a Tito que admoeste o herege uma e outra vez, mas que, depois, verificada a sua apostasia, seja ele evitado, pois debates intermináveis, polêmicas doutrinárias não devem ser perseguidas quando se verifica que não produzirão qualquer edificação espiritual, pois o convencimento não se dá por força do intelecto ou da razão humanas, mas única e exclusivamente por meio do Espírito Santo (I Tm.1:3,4; 6:3-5).

– Vivemos dias de proliferação dos falsos ensinos, que surgem a cada instante em número cada vez maior, pois o espírito do anticristo já está à solta para enganar a tantos quantos negligenciem no estudo da doutrina (II Ts.2:7-12; I Jo.2:18,19; 4:1-3).

Muitos, no entanto, apesar desta situação lamentável, têm se deixado intimidar pelo adversário e, covardemente, se calam diante das distorções doutrinárias, permitindo, inclusive, que verdadeiras “sinagogas de Satanás” sejam erigidas em suas igrejas locais (Ap.2:9; 3:9), tornando-as em verdadeiras “abominações da desolação” (Mt.24:15).

Como os sacerdotes apóstatas dos dias dos Macabeus e dos dias de Jesus, permitem que a casa de Deus deixe de ser casa de oração para ser covil de ladrões (Mt.21:13), para ser a abominação da desolação (Dn.11:21).

Estes tímidos, porém, pagarão caro por sua covardia, pois ficarão do lado de fora da Jerusalém celestial (Ap.21:8). Devemos, assim como o profeta, cuidar para sempre tirar a morte que se introduza dentro da panela (II Rs.4:40,41).

OBS: “…1.TÍMIDOS. Acreditamos que os tais sejam os apóstatas que, por covardia, viraram as costas ao combate da fé e que, em tempo de tribulação, abandonaram a Criusto e Seu testemunho, a fim de salvarem a pele. Negaram a Cristo na terra e, em conseqüência disso, serão negados no céu (Mt.10:33)…” (SILVA, Severino P. da. Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.267).

Cumprindo o que havia sido profetizado por Daniel, em Dn.11:21, o rei sírio Antíoco, o Grande, profanou o templo de Jerusalém, com a aquiescência da cúpula sacerdotal que havia apostatado do judaísmo, em 175 a.C., estabelecendo um culto ao deus grego Zeus.

O templo seria retomado pelos judeus em 166 a.C. e novamente dedicado a Deus, o que deu ocasião ao surgimento da festa da dedicação, mencionada em Jo.10:22. Este episódio histórico é figura do que o Anticristo fará com o terceiro templo, na metade da Grande Tribulação.

– A Igreja deve ter amplo conhecimento da Palavra de Deus, grande experiência com Deus através da prática da sã doutrina, para, com ousadia, proclamar a Verdade e defendê-la diante dos homens e de suas vãs filosofias, crendices, mitologias, religiões e doutrinas, cada vez mais numerosas. Entretanto, para que possamos defender a Bíblia, é preciso que creiamos nela.

A timidez somente desaparece quando surge a fé (Mc.4:40). É preocupante, porém, vermos hoje quantos mestres nas igrejas locais titubeiam e são visivelmente duvidosos no seu contacto com a Bíblia Sagrada.

Ensinam sem convicção e, não raras vezes, procuram esconder sua ignorância e falta de fé em expressões como “isto é mistério”, quando não recorrem à “tábua de salvação” mais comum que é Dt.29:29.

Isto, porém, não é ser coluna da verdade, não é suportar a verdade, não é resistir, não é defender a Palavra de Deus. A estes claudicantes, repetimos as palavras do Senhor a Tomé: “…não sejas incrédulo, mas crente.” (Jo.19:27 “in fine”).

– Sustentar tem o significado de nutrir, alimentar, matar a fome, satisfazer por muito tempo as necessidades de alimento.

A Igreja tem de alimentar os homens com a Palavra de Deus, pois a Palavra do Senhor verdadeiramente é comida (Jo.6:55). Não podemos viver espiritualmente sem o pão da vida, sem Jesus Cristo, que é o Verbo de Deus (Jo.1:1;6:35,48).

Ser coluna da verdade é ministrar a Palavra ao povo, é matar-lhe a fome e sede da Palavra de Deus, mantê-lo alimentado para o cotidiano de luta contra o mundo e o mal até a volta de Cristo. Por isso, os apóstolos dedicavam-se com zelo e prioridade ao ministério da Palavra (At.6:2,4).

– Todavia, como não deixamos de escrever seguidamente neste espaço, não é isso que temos presenciado em muitas igrejas locais, onde, como diz o professor Aristóteles Torres de Alencar Filho, há cada vez mais “louvorzão” e cada vez mais “palavrinha”. Muitos não têm mais alimentado o povo com a sã doutrina, com a

Palavra de Deus e o resultado é que muitos são crentes subnutridos ou desnutridos, cristãos que estão irremediavelmente comprometidos na sua saúde e desenvolvimento espirituais.

– O escritor aos hebreus foi claríssimo ao mostrar que o risco da apostasia que rondava aqueles crentes a quem escreveu a epístola era resultado direto de um crescimento espiritual defeituoso, consequência da falta de uma instrução doutrinária condizente (Hb.5:12-6:3).

De igual modo, o apóstolo Paulo apontou que os problemas sérios vividos pela igreja em Corinto era, também, produto de um defeituoso crescimento espiritual (I Co.3:1-3).

– Ser coluna da verdade é ministrar a Palavra, nutrir o povo de Deus com a Palavra, ensinar a Palavra, pregar a Palavra, admoestar e exortar com a Palavra.

Entretanto, nos dias em que vivemos, o tempo da Palavra vai diminuindo dia após dia em nossas reuniões, que, cada vez mais, é ocupado por um sem-número de atividades, cujo único propósito é enfraquecer o povo de Deus, que, sem Palavra, seguirá sendo um povo espiritualmente desnutrido.

Desnutrir nada mais é que nutrir-se mal, de forma inadequada, que deixar de se nutrir, que definhar por falta de alimentação apropriada ou por falta de víveres.

– Quando falamos em desnutrição, logo nos vêm à mente as figuras daqueles crianças esqueléticas do continente africano, testemunhas vivas do horror da fome, a grande vergonha da humanidade, a grande face da perversão gerada pelo pecado no meio dos homens.

Espiritualmente, estejamos certos, o Senhor vê muitos crentes em iguais condições, que estão a perecer de forma cruel no aspecto espiritual, porque não têm sido corretamente nutridos nas suas igrejas locais.

Vivemos praticamente os dias profetizados por Amós, que dizia que haveria tempo em que haveria fome e sede, não de pão, mas de ouvir a Palavra de Deus (Am.8:11,12).

– Mas, além de sustentar o que lhe está acima, a coluna também põe em evidência aquilo que está acima, tanto que a coluna fica imperceptível ante ao que lhe está acima. A coluna é feita para fazer sobressair e para que no topo esteja aquilo que está a sustentar.

Assim também, a Igreja não é feita para aparecer, não é feita para se sobressair, mas para que todos vejam, bem acima, em posição superior, a Verdade, ou seja, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– A Igreja é coluna da verdade e, portanto, faz sobressair o seu Senhor, faz com que os homens vejam a Cristo Jesus em Sua posição de majestade e glória.

Quando executamos as boas obras decorrentes de nossa vida de comunhão com Deus, não somos nós quem aparecemos, mas, sim, o nosso Pai que está nos céus, que é, então, glorificado pelos homens (Mt.5:16).

Somos apenas luzeiros (Fp.2:15 ARA), verdadeiros espelhos que refletem a glória de Deus(II Co.3:18), pois desaparecemos, já que não mais vivemos, mas Cristo vive em nós (Gl.2:20).

– Como são, portanto, totalmente diferentes da Igreja estes movimentos que se valem das imagens de homens, das chamadas “lideranças-ícone” para terem sucesso e êxito no meio dos homens.

Querem que seus movimentos apareçam, que seus líderes apareçam, insistindo mesmo que há a necessidade de ficarmos debaixo de “coberturas apostólicas”, de “unções dos líderes”, para termos comunhão com o Senhor, como se existissem outros mediadores.

Devemos tomar todo cuidado com o “culto da personalidade” que tem grassado em muitas igrejas locais, pois isto é idolatria e algo que nada tem que ver com o projeto divino para a Igreja, que é a de ser coluna da verdade, ou seja, de fazer sobressair única e exclusivamente o nome do Senhor Jesus.

Somos colunas, por isso, somos vistos pelos homens, mas eles não se impressionam conosco, mas, sim, com a Verdade que sustentamos, com o Rei dos reis e Senhor dos Senhores. Aleluia!

– Quando se deixa de dar o primeiro e único lugar ao Senhor Jesus, a doutrina é, fatalmente, deixada de lado e começam a surgir “revelações”, “evangelhos” e tantas invencionices humanas, para ocupar o lugar da sã doutrina.

Nesta vaidade de algumas lideranças, que tomam para si, indevidamente, a glória que somente caberia a Deus, também se manifesta a heresia, pois é próprio dos falsos mestres, doutores, apóstolos e profetas quererem ser o centro das atenções, ter seus discípulos à sua volta, o que faz com que, definitivamente, não se esteja diante de porção da única coluna da verdade.

– Mas a coluna, também, tem uma característica, que, aliás, é a que distingue do pilar: a coluna é usada como ornato em monumentos ou edificações, ou seja, serve para embelezar uma edificação, uma construção, tendo formas e proporções que realçam este papel estético, algo que não há no pilar, que é mero elemento de sustentação.

Sendo coluna da verdade, a Igreja serve para embelezar a verdade, ou seja, tem como função tornar agradável, atraente e formoso o Senhor Jesus, que é a Verdade.

– Em Seu ministério terreno, Jesus nunca Se distinguiu pela aparência física. O profeta Isaías afirma que Ele não tinha parecer nem formosura (Is.53:2).

Muitos procuram dizer que a cena descrita pelo profeta era a cena da paixão e morte do Senhor, quando já Se encontrava desfigurado pelas agressões violentas da soldadesca romana, mas o fato é que nada há nas Escrituras que demonstrem que Jesus Se distinguisse por Seu aspecto físico, tanto que o traidor Judas Iscariotes precisou beijar o Senhor para que os soldados judeus O prendessem (Mt.26:48; Mc.14:44).

– A beleza do Senhor diz respeito à Sua glória, como se vê no Monte da Transfiguração ou na Sua aparição na ilha de Patmos ao apóstolo Paulo. É esta beleza que deve ser realçada pela Igreja.

Faz parte da missão da Igreja sobre a face da Terra, o realce da glória de Deus, da formosura da santidade e do amor do Senhor.

Por isso, deve a Igreja dedicar-se à doutrina pois, através dela, poderá fazer com que os homens possam ver a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (II Co.4:4).

– Tudo o que de belo há para ser contemplado pela humanidade tem sua origem em Deus, como podemos verificar quando da contemplação da criação, das matas, florestas, paisagens naturais em geral, dos céus com seus corpos e astros.

Assim também, a Igreja, ao ser contemplada pelos homens, faz com que vejam a glória divina, a formosura do esplendor da glória de Deus, motivando, assim, o desejo e a esperança dos homens de poderem, uma vez mais, desfrutar da comunhão com o Senhor, arrependendo-se dos seus pecados.

– A Igreja é a expressão desta beleza espiritual, é espelho da glória de Deus e, por isso, desde sempre, é vista pelos incrédulos como um povo diferente e que, apesar das perseguições e incompatibilidades, é visto em grande estima (At.5:13).

– A importância de a Igreja ser a coluna da verdade sobre a face da Terra se ressalta na própria expressão do Senhor Jesus na Sua carta à igreja de Filadélfia, quando promete, aos vencedores, que eles serão “coluna no templo do Meu Deus” (Ap.3:12).

Somente quem tiver sido coluna da verdade sobre a face da Terra será digno de ser “coluna no templo de Deus” na Jerusalém celestial. Ser coluna, como adianta o Senhor, é receber o

nome de Deus, o nome da cidade de Deus e o novo nome do Senhor. Quem é coluna, como já vimos, não tem desejo de aparecer, quer apenas glorificar ao Senhor e, por isso, ao adentrar nos céus, vitorioso, receberá o nome de Deus, o nome da Jerusalém celestial e o novo nome de Cristo, pois terá servido fielmente ao Senhor e, como foi fiel no pouco, também o será no muito (Mt.25:21,23).

– Mas a Igreja não é só coluna da verdade. É também firmeza da verdade. A expressão “firmeza” é tradução do grego “hedraioma” (έδραίωμα), que significa “fundamento”, “alicerce”, “apoio”, “baluarte”.

Esta expressão mostra-nos que o Senhor conta com a Sua Igreja para mostrar-Se ao mundo sem Deus e sem salvação.

Assim como a Igreja ergue bem alto o Senhor para que todos O admirem e nEle creiam, por intermédio do testemunho, da obediência, da defesa e da glorificação do Senhor, Jesus, também, atua, por intermédio da Igreja, para confirmar a Palavra, para comprovar, por meio de sinais e maravilhas, que a Igreja está a dizer o que é verdadeiro.

– Ser “firmeza da verdade” é ser instrumento do Senhor para confirmação de tudo quanto tiver sido pregado e ensinado.

Por isso, quando os discípulos partiram por todas as partes, pregando a Palavra, o Senhor Jesus com eles cooperou, operando sinais e maravilhas, para confirmação da pregação do Evangelho (Mc.16:20).

– Ser “firmeza da verdade” é ter a experiência do poder de Deus na vida da Igreja, é se pôr à disposição do Senhor, em inteira certeza de fé, para que Jesus, dentro de Sua vontade soberana, atue de modo a confirmar tudo quanto for pregado.

Cabe à Igreja deixar-se usar pelo Senhor, confiar na Sua Palavra e fazer tudo aquilo que Ele tem mandado. Foi assim que fizeram os discípulos, é assim que têm os servos do Senhor feito durante estes quase dois mil anos de história da Igreja.

– O apóstolo Paulo pôde dizer aos irmãos que estavam em Corinto que a sua pregação não havia consistido apenas de belas palavras persuasivas, de uma técnica retórica que o apóstolo, formado na escola filosófica de Tarso, certamente tinha domínio.

Paulo, porém, tinha plena convicção que sua pregação fora confirmada pelo Senhor com demonstração de poder e do Espírito Santo (I Co.2:4), porque era ele “firmeza da verdade”, a base sobre a qual o Senhor poderia cooperar e confirmar a pregação do Evangelho.

– A doutrina, portanto, traz manifestação do poder de Deus, ao contrário do que muitos “fervorosos” têm pregado e afirmado nos nossos dias, especialmente entre os que se dizem “pentecostais”.

O poder de Deus é consequência de uma estruturação doutrinária, é uma confirmação de uma vida feita com prioridade e base na Palavra do Senhor.

Fora disso, teremos, muito certamente, um misticismo inócuo e que, como se tem visto ao longo dos séculos e, particularmente, nos dias em que vivemos, se degenera em feitiçaria e paganismo travestido de pregação do Evangelho.

– Temos sido coluna e firmeza da verdade? Estamos de pé diante do Senhor? Temos mostrado Cristo em nossas vidas? Temos defendido a Palavra de Deus? Temos impedido que a heresia e o mundanismo penetrem em nossas igrejas locais? Tomemos cuidado de nós mesmos e da doutrina.

III – PENTECOSTALISMO E O COMPROMETIMENTO COM A DOUTRINA BÍBLICA

– Visto tudo isto a respeito da doutrina e de como a Igreja é a “coluna e firmeza da verdade”, cabe-nos tão somente, em poucas palavras, mostrar que o verdadeiro pentecostalismo é o segmento que demonstra ser esta “coluna e firmeza da verdade”.

– Com efeito, são os pentecostais quem se apegam, com maior intensidade que os demais segmentos, ao teor das Escrituras, uma vez que não admitem quaisquer teorias, ensinos ou dogmas que não estejam na Bíblia Sagrada, como a ideia cessacionista de que os dons espirituais e o batismo com o Espírito Santo terminaram após o término da revelação das Escrituras.

– São também os pentecostais que dão ao livro de Atos dos Apóstolos um caráter normativo, que é negado pelos cessacionistas, que veem naquele livro apenas um registro histórico, de sorte que, uma vez mais são os pentecostais quem se aferram ao texto bíblico com maior intensidade.

– São também os pentecostais que, desde o primeiro instante, perfilharam fileiras junto aos chamados “fundamentalistas bíblicos”, que surgiram no final do século XIX, justamente quando aflorava o movimento pentecostal, crendo na inerrância e na inspiração plenária e verbal das Escrituras, coisa que está longe de ser consensual entre os cessacionistas, onde estão diversos teólogos liberais, bem como os neo-ortodoxos, que flexibilizam o caráter autoritário da Bíblia Sagrada.

– Diante de todos estes fatos, fica evidente que o verdadeiro pentecostalismo é o segmento que mais preza e defende o texto bíblico, que está mais comprometido com a as Escrituras.

– A ideia fomentada pelos cessacionistas de que os pentecostais são avessos às Escrituras, optam por uma vida espiritual única e exclusivamente baseada na experiência não corresponde à realidade dos fatos, pois.

– O que fazem os pentecostais é aceitar experiências e manifestações sobrenaturais como sendo uma realidade na vida cristã, uma vez que ocorreram desde os primórdios da história da Igreja, até porque é a Bíblia quem diz que a atuação do Espírito Santo a partir do dia de Pentecostes perdurará até o arrebatamento da Igreja, não havendo sequer um texto que diga o contrário.

– Verdade é que, lamentavelmente, entre os pentecostais exsurgiu uma atitude anti-intelectualista, contrária ao estudo sistemático da Palavra de Deus, mas devemos notar que este pensamento, equivocado, voltou-se contra a teologia e nunca contra a Bíblia e, notadamente no que respeita ao Brasil, onde este fenômeno se apresentou com muito maior força, é resultado da associação entre teologia e liberalismo teológico, que já ocorrera entre os batistas suecos, de onde vieram os missionários pioneiros das Assembleias de Deus e da Igreja Batista Independente.

– Assim, a própria postura anti-intelectualista vivida em parte da história de algumas denominações pentecostais tinha a ver com a defesa do texto bíblico por parte dos pentecostais, que viam no estudo teológico uma fonte de ideias, dogmas e crenças que não tinham respaldo bíblico e que, por isso mesmo, deveria ser evitado pelos salvos.

– Como já dissemos supra, vivemos dias de apostasia espiritual e, para cumprimento da própria Palavra, não foram poucos aqueles que, saídos dos pentecostais, enveredaram por caminhos estranhos, que promoveram distorções doutrinárias e que fugiram da ortodoxia bíblica.

– Quando sociólogos passaram a denominar estes segmentos e movimentos de “neopentecostais”, embora tivessem sido infelizes na nomenclatura, porque, na verdade, não entendiam porque os pentecostais assim se chamavam, não deixam de trazer-nos uma constatação:

a de que estes movimentos e segmentos se desgarraram das origens e dos princípios que deram início ao movimento pentecostal.

– Antes de assim chamarem estes inovadores, que nada mais são que os falsos mestres, falsos cristos e falsos profetas prenunciados pelas profecias bíblicas, tais estudiosos chegaram a falar em “ondas pentecostais”, falando num “deuteropentecostalismo”, que, no Brasil, a partir da década de 1950, passou a enfatizar a cura divina e as profecias em detrimento do falar em línguas estranhas e que abrangem denominações como a Igreja do Evangelho Quadrangular, a Igreja O Brasil para Cristo, a Igreja Pentecostal Deus é Amor, a Igreja Unida (que se chamou Igreja Pentecostal Unida), entre outras.

– É de se ver que esta “segunda onda” se tornou conhecida por ter procurado evangelizar pelos meios de comunicação de massa, a começar do rádio, que era um meio até então desprezado e até combatido pelos “pentecostais clássicos”, que eram, fundamentalmente, as Assembleias de Deus, a Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Batista Independente, mas, em suma, não tinham crenças diferentes das do pentecostalismo clássico.

– No entanto, o pentecostalismo clássico, por seu comprometimento com as Escrituras, não promoveu esta inversão de prioridades, que pôs a cura divina e as manifestações espirituais acima da própria salvação das almas, preferindo manter o que se encontra na Bíblia a se fazer mais agradável e atraente às multidões, não abrindo mão do que está nas Escrituras para fins de marketing.

– Neste ponto, aliás, vemos aqui quase que uma reprodução dos grupos mencionados pelo apóstolo Paulo no início da sua primeira epístola aos coríntios, onde cita os judeus, os gregos e os mensageiros da palavra da cruz.

– Os judeus corriam atrás de sinais; os gregos, de sabedoria, enquanto que os cristãos pregavam a palavra da cruz, que era loucura para os gregos e escândalo para os judeus (I Co.1:17-24).

– Os verdadeiros pentecostais pregam a Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus. Assim, ao mesmo tempo em que não estão vinculados a dogmas e teorias fomentados nas academias teológicas, também não constroem sua fé em sinais, prodígios e maravilhas, embora creia que eles ainda existam e sejam importantes manifestações da presença de Deus em nós.

– Os verdadeiros pentecostais pregam a Cristo crucificado e, por isso mesmo, pregam as Escrituras, que são as fiéis testemunhas do Senhor Jesus (Jo.5:39) e esta Palavra é confirmada com sinais (Mc.16:20). Jesus é, assim, poder de Deus e sabedoria de Deus. Aleluia!

– A postura deuteropentecostal que, a exemplo dos judeus dos dias de Paulo, passou a dar uma indevida prioridade aos sinais abriu caminho para que surgisse a chamada “terceira onda do pentecostalismo”, que é chamada mais propriamente de “neopentecostalismo”, que fincou raízes no Brasil a partir do final da década de 1970, quando se adotaram os pensamentos doutrinários da teologia da prosperidade e da teologia da confissão positiva, que já grassavam em outros países, em especial nos Estados Unidos.

– A ênfase dada à cura divina na “segunda onda” permitiu que os ensinos heréticos da confissão positiva, que derivavam da falsa ideia de que a doença estava vinculada ao pecado e que o salvo não adoece, encontrassem guarida e fizessem com que tais distorções ganhassem adeptos e dessem origem a denominações como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça, a Igreja Mundial do Poder de Deus, a Igreja Apostólica do Trono de Deus e tantas outras.

– O “neopentecostalismo” nem pentecostalismo é, pois nem sequer se dá valor ao batismo com o Espírito Santo e, em certos casos, até mesmo aos dons espirituais.

Uma das mais conhecidas denominações neopentecostais, a Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, em seu credo doutrinário, explicitamente afirmar que “o batismo com o Espírito de Deus é um ato de graça e é realizado pelo próprio Senhor Jesus em todos aqueles que desejam ser purificados e também andar em santidade.

Por isso, a Universal fundamenta a sua fé e crença exclusivamente na Palavra de Deus, na Bíblia Sagrada”.

– Nota-se, pois, que a ideia que esta denominação dita neopentecostal tem do batismo com o Espírito Santo dissocia completamente do que ocorreu no dia de Pentecostes, de modo que não pode ser considerada pentecostal, muito menos “neopentecostal”.

– Na verdade, ela é cessacionista, pois eis o que diz o seu líder máximo: “…Atualmente, o Espírito de Deus continua falando, não mais por meio de sonhos, visões ou profecias. Mas, apenas, por intermédio da Sua Palavra – a Bíblia Sagrada.…” (MACEDO, Edir. Quando Deus fala. Disponível em: https://www.igrejauniversal.pt/quando-deus-fala/ Acesso em 12 nov. 2020).

– Em tais movimentos, temos assistido à completa distorção dos textos bíblicos completamente dissociadas das Escrituras, de tal sorte que há dificuldade até pertencentes ao próprio segmento evangélico ou protestante.

– Vemos, pois, que estes segmentos, que têm fugido do texto bíblico, não podem ser confundidos com o genuíno, autêntico e verdadeiro pentecostalismo, este, sim, fundamentado nas Escrituras, que são a sua única regra de fé e prática, como, aliás, diz o item 1 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus:

“[CREMOS] Na inspiração divina verbal e plenária da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (II Tm.3:14-17).

– Se existe um povo sedizente cristão que está comprometida integralmente com o texto bíblico é o povo genuinamente pentecostal. Amém.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6210-licao-8-comprometidos-com-a-palavra-de-deus-i-e-apendice-n-1-o-falso-pentecostalismo-as-chamas-do-fogo-estranho

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Iesus Kyrios

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading