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LIÇÃO Nº 8 – JESUS VIVEU A EXPERIÊNCIA HUMANA

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo de Apologética Cristã, veremos como Jesus efetivamente Se humanizou.

-Jesus é Deus feito homem.

I – A HUMANIDADE DE JESUS É UMA REALIDADE

-Prosseguindo o estudo da Apologética Cristã, analisaremos a experiência humana de Jesus. Já temos visto que uma das características distintivas da fé cristã é a crença de que o Salvador Se fez homem, ou seja, de que Deus Se fez homem.

-Esta noção de um Deus-homem é peculiar ao Cristianismo, porquanto é decorrência da própria singularidade da religião verdadeira, aquela que tem origem em Deus. É Deus quem vem religar o homem a Si e não o homem que, por suas próprias forças, cria uma forma de se religar ao seu Criador.

-Diante desta circunstância, não há como isto ser feito sem que Deus desça ao nível do ser humano, visto que é infinitamente superior ao homem, que, como diz o salmista no Salmo 8, é algo insignificante, já que não passa de “homem mortal” e, como tal, nada teria em si para que o Senhor dele Se lembrasse nem para que o visitasse (Sl.8:3,4).

-Entretanto, Deus demonstrou todo Seu amor para com o homem, não só descendo ao nível do ser humano, mas Ele próprio Se fazendo homem para que, como tal, pudesse não só pagar o preço dos pecados da humanidade, como também vivenciar toda a humanidade e de forma eviterna.

-Como bem afirmou Sadhu Sundar Singh (1889-1929), “o apóstolo dos pés sangrentos”: “…o amor sem limites de Deus foi manifestado na encarnação e redenção, que sob outras circunstâncias teriam permanecido encobertos; e em segundo lugar, os redimidos, depois de terem provado a amargura do pecado desfrutarão mais ricamente da felicidade do céu, assim como após um sabor amargo a doçura do mel dá maior deleite. Porque no céu eles não pecam mais, mas em mansidão e obediente amor eles servem ao seu Deus Pai, e habitam com Ele em alegria para todo o sempre.…” (Aos pés do Mestre. Trad. A voz do vento.com, p.31).

-Deus SE revela como amor (I Jo.4:8) e, em virtude deste amor para com o homem, manifesta, no dia mesmo da queda do homem, que era Seu desejo salvar todos os homens (I Tm.2:3,4) e tal amor Se demonstraria precisamente pela encarnação do Verbo, tanto que é dito pelo Senhor que a salvação se faria mediante “a semente da mulher”, que, inclusive, teria seu calcanhar ferido pelo diabo (Gn.3:5).

-É este o sentimento de Cristo Jesus, como nos afirma o apóstolo Paulo, que, sendo Jesus em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo- se semelhante aos homens e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz (Fp.3:6-8).

-O texto bíblico diz que Jesus não teve por “usurpação” ser igual a Deus, que é a palavra grega “harpagmos” (ἁρπαγμὸs), cujo significado é “agarrar com força, roubo. Em o Novo Testamento, utilizado de modo figurado para designar o objeto de pilhagem, algo a ser avidamente cobiçado” (Dicionário do Novo Testamento, verbete 725. Bíblia de Estudo Palavras-Chave, p.2092).

-Cristo Jesus, mesmo sendo Deus, não Se agarrou à Sua divindade, abriu mão da glória divina, para Se fazer homem e, como tal, apenas como homem enfrentar a existência terrena para que, como homem, vencesse o pecado e a morte, redimindo toda a humanidade, permitindo que todo ser humano se fizesse irmão de Jesus (Rm.8:29; Hb.2:11) e, por conseguinte, filho de Deus (Jo.1:12; Rm.8:14,15).

-Não é à toa que, na primeira tentação após a unção de Jesus pelo Espírito Santo para exercer Seu ministério, o diabo ataca este ponto, querendo que Jesus afirmasse a Sua divindade fazendo com que as pedras se tornassem pães, já que estava sentindo fome (Mt.4:3; Lc.4:3).

-Esta ação de Satanás revela que é base da obra salvífica de Jesus este gesto divino de descer ao nível humano, de renunciar à glória divina e de, como homem, viver sobre a face da Terra, para assumir o lugar do pecador e torná-lo novamente amigo de Deus.

-Ao notar que, como homem, Jesus estava a sentir fome, depois de quarenta dias de jejum, a nos mostrar que Jesus realmente havia Se humanizado e passado a ter as experiências que todo ser humano tem, pois era fundamental para a salvação que tal se desse, que Jesus participasse das mesmas coisas próprias aos homens (Cf. Hb.2:14).

-Neste momento de fraqueza, o diabo se apresenta para que Jesus abrisse mão desta renúncia, agisse como Deus que era, o que faria com que toda a obra salvífica ruísse, pois Jesus tinha de vencer o pecado e a morte como homem, a fim de abrir um caminho para a humanidade, pois, se agisse como Deus, ficaria demonstrado que o homem não poderia pela fé em Jesus, chegar à vida eterna, pois o homem se salva pela fé, diante da graça de Deus, mas nunca deixando de ser homem.

-Jesus, então, em resposta ao diabo, mostrou que o homem não se alimenta só de pão, mas, também, da Palavra de Deus (Mt.4:4; Lc.4:4), que é possível sobreviver espiritualmente, uma vez crendo em Cristo, passando da morte para a vida (Jo.5:24), por intermédio da santificação na verdade, que é a Palavra de Deus (Jo.17:17).

-A vivência desta experiência humana por parte do Senhor Jesus é, portanto, fundamental para nos provar que é possível a salvação, desde que creiamos em Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador (Ef.2:8).

-Jesus é o verdadeiro homem, pois ninguém, nem mesmo Adão, vivenciou a humanidade em sua totalidade. Senão vejamos.

-Por primeiro, ao contrário de Adão, Jesus passou por todas as fases da vida humana. Foi gerado como um ovo no ventre de Maria por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), foi feto dentro daquele ventre (Lc.1:42), nasceu como bebê numa manjedoura, que teve de ser envolto em panos (Lc.2:7), tendo tido todo o desenvolvimento como criança, adolescente, jovem e adulto (Lc.2:51,52).

-Adão, assim como Eva, já foram criados como seres adultos, de forma que não tiveram a mesma experiência humana que Nosso Senhor e Salvador, que, desta maneira, foi o homem completo, total, que provou ser possível tornar-se homem e ser fiel a Deus, santo e perfeito até a morte.

-É bem por isso que podemos ter em Jesus o exemplo, como nos diz o apóstolo Pedro, podendo seguir as Suas pisadas (I Pe.2:21), imitando-O, como nos ensina o apóstolo Paulo (I Co.11:1) e olhando para Ele a fim de seguir a Sua trajetória rumo ao céu, como nos ensina o escritor aos hebreus (Hb.12:1,2).

-A experiência humana de Jesus, ademais, é também um fator de aumento da fé e da confiança a cada ser humano, porque, ao verificarmos que Jesus passou por uma completa e verdadeira experiência como homem, pode nos ajudar em todas as circunstâncias, visto que passou por todas as vicissitudes por que também passamos, sem nunca ter pecado (Hb.4:14-16).

-Foi este, aliás, o último ensino deixado por Jesus a Seus discípulos, antes de partir para o jardim de Getsêmane, ao afirmar que, no mundo, teriam eles aflições, mas que deveriam ter bom ânimo, pois Ele era vencedor (Jo.18:33), ou seja, tendo vivenciado a humanidade em sua totalidade, poderia ser exemplo a ser seguido.

Após ter ressuscitado, revela a Seus discípulos que Lhe fora dado todo o poder no céu e na terra, ou seja, Sua vitória como homem Lhe permitia, agora, nos ajudar plenamente em nossa jornada, para que, assim como Ele, fôssemos vencedores, vitória cuja possibilidade é por Ele mesmo avalizada nas Suas cartas às igrejas da Ásia Menor, na parte final de Sua revelação ao homem no livro do Apocalipse.

II – EPISÓDIOS BÍBLICOS QUE ATESTAM A HUMANIDADE DE JESUS

-Temos visto que o fato de Jesus ter Se humanizado, não Lhe retirou a natureza divina. Foi esta a afirmação solene que se declarou no Concílio de Niceia, convocado por pressão do imperador romano Constantino, em 325 d.C., quando não se criou dogma algum, mas apenas se afirmou o que já constava das Escrituras, ou seja, na linguagem do próprio Concílio:

“Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas.

E, por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus: e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Maria Virgem, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras; E subiu aos céus, onde está sentado à direita de Deus-Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim”.

-Esta declaração é parte do chamado “Credo Niceno-Constantinopolitano” ou “Símbolo da Fé”, que se encontra, como apêndice, na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, Declaração esta que assim se expressa no item 3 do seu Cremos:

“[CREMOS] no Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, plenamente Deus, plenamente Homem, na concepção e no seu nascimento virginal, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e em sua ascensão vitoriosa aos céus como Salvador do mundo (Jo.3:16-18; Rm.1:3,4; Is.7:14; Mt.1:23; Hb.10:12; Rm.8:34 e At.1:9)”.

-A mesma Declaração de Fé também afirma: “CREMOS, professamos e ensinamos que o Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus [Jo.20:31] e o único mediador entre Deus e os seres humanos [I Tm.2:5; Jo.14:6], enviado pelo Pai para ser o Salvador do mundo [I Jo.4:14], verdadeiro homem e verdadeiro Deus: ‘e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém’ (Rm.9:5).

Cremos na concepção e no nascimento virginal de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme as Escrituras Sagradas e anunciado de antemão pelo profeta Isaías [Is.7:14; Mt.1:23], e que ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria [Mt.1:20; Lc.1:34,35].

Gerado do Espírito Santo no ventre dela [Mt.1:18], nasceu e viveu sem pecado: ‘como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado’ (Hb.4:15); que foi entregue nas mãos dos pecadores para ser crucificado pelos nossos pecados, mas ressuscitou corporalmente dentre os mortos ao terceiro dia [I Co.15:34] e ascendeu ao céu [Lc.24:51], onde está à direita do Pai, e de onde intercede por nós [Rm.8:34] e voltará para buscar a Sua Igreja [Jo.14:3]” (DFAD IV, p.49).

-A maior prova de que a declaração resultante do Concílio de Niceia não foi qualquer inovação, mas mera afirmação do que já constava na Bíblia Sagrada é a circunstância de que muitos são os episódios na Bíblia Sagrada que mostram que Jesus realmente Se humanizou. Vejamos alguns.

-A concepção de Jesus (Lc.1:31) é a primeira demonstração de que Jesus Se humanizou, como já dito supra. Como todo e qualquer ser humano, Jesus foi concebido no ventre de Sua mãe, ainda que não por força de fecundação de um espermatozoide e de um óvulo, mas por obra e graça do Espírito Santo, a exemplo do que ocorreu com Adão.

-A propósito, quando do anúncio da concepção de Jesus, vemos claramente que, ao contrário do que muitos andam dizendo por aí, inclusive alguns sedizentes “evangélicos”, a Bíblia deixa-nos claro que Jesus, assim que concebido, era um ser totalmente distinto de Sua mãe, como nos mostra o episódio do encontro de Maria com Isabel, retratado em Lc.1:39-45.

-Destarte, assim que concebido no ventre de Sua mãe, o ser humano é uma vida completamente distinta de sua mãe, de modo que defender o aborto sob o argumento de a “mulher tem direito sobre o seu próprio corpo” é uma grande mentira, pois o ser concebido não é parte do corpo da mulher, mas uma vida completamente independente. Fujamos, pois, destes “abortistas”, principalmente dos que se dizem “evangélicos”.

-Outro episódio que nos mostra que Jesus Se humanizou, foi a própria gestação de Maria, que foi como qualquer outra. Tendo ficado com Isabel por cerca de três meses (Lc.1:56), retornou e foi recebida por José, graças à intervenção divina (Mt.1:20-25), tendo, então, chegado o momento de nascer, nascimento este que foi igual ao de qualquer outro ser humano.

-Maria deu à luz a Jesus (Mt.1:25; Lc.2:6,7). Nada nas Escrituras atesta que tal nascimento tenha sido “virginal”, ou seja, que Maria tenha se mantido virgem após o nascimento de Jesus, antes, pelo contrário, as Escrituras demonstram que isto não ocorreu e que Maria não só manteve relações sexuais com José, como teve outros filhos. O fato de Jesus ter nascido é mais uma prova de Sua humanidade (Mt.2:1; Lc.2:11).

-Assim, quando falamos em nascimento virginal, estamos a dizer que Jesus nasceu de uma virgem, mas jamais que Sua mãe tenha se mantido virgem após o Seu nascimento.

-Ao nascer, Jesus Se tornou membro de uma família (Mt.1:18-25), o que revela, também, a Sua humanidade. Com efeito, enquanto Deus, não tem genealogia, não tem origem, pois é eterno (Hb.7:3).

-Entretanto, enquanto homem, Jesus teve mãe (Lc.2:5-7) e um “pai social”, ainda que não biológico (Lc.3:23). Jesus não só teve família, como cumpriu rigorosamente todos os Seus deveres familiares (Lc.2:51; Jo.19:26,27). Como se costuma dizer, enquanto Deus, Jesus tem Pai, mas não tem mãe; enquanto homem, Jesus tem mãe, mas não tem pai.

-Sem qualquer base bíblica, portanto, a atribuição de qualquer valor espiritual à maternidade de Maria, porquanto o pertencimento de Jesus a uma família é um aspecto de Sua humanidade, aspecto este que se findou com a morte do Senhor na cruz do Calvário.

-Tanto assim é que, antes de morrer, Jesus entregou Maria aos cuidados de João, passando, então, Maria, a partir daquele instante, a ser mãe de João e não mais mãe de Jesus.

-Os relacionamentos familiares são relacionamentos restritos a esta Terra, algo que cessa nesta dimensão terrena (Mt.22:30; Lc.20:34-36; Rm.7:1-3). Por isso, não tem qualquer sentido intitular-se Maria como “Mãe

de Deus” e, além disso, construir virtudes e funções espirituais concernentes à salvação a Maria por ter sido ela a mãe de Jesus.

-Jesus teve um nome (Mt.1:21), o que também demonstra a Sua humanidade. Embora Seu nome tenha sido dado pelo próprio Deus, conforme anunciado pelo anjo Gabriel (Lc.1:31; 2:21), é este também um fator que denuncia a Sua humanidade.

-Ter um nome é algo próprio do homem (Gn.2:20; 3:20), tanto que, quando os salvos forem inseridos na eternidade, deixarão o nome que tinham na vida debaixo do sol, recebendo um novo nome (Ap.2:17).

O próprio Jesus, ao vencer o mundo e o pecado, recebeu um nome que é sobre todo o nome (Fp.2:9-11). Quando voltar em glória com os santos para salvar Israel, o nome que ostentará será o de Verbo de Deus (Ap.19:13).

-Outro fator a demonstrar a humanidade de Jesus é a Sua genealogia, decorrência do fato de ter tido uma família. A Bíblia nos apresenta duas genealogias de Jesus: a jurídica, presente em Mateus, interessado em demonstrar que Jesus é o Messias, o descendente do trono de Davi (Mt.1:1-17) e a biológica, presente em Lucas, interessado em mostrar que Jesus é o Filho do homem, o homem perfeito, a semente da mulher, o segundo Adão (Lc.3:23-28). Ter genealogia é ter origem e a circunstância de Jesus ter origem indica que Ele Se fez homem, foi feito criatura.

-Mas Jesus também teve uma profissão secular (Mc.6:3), demonstrando que assumiu a humanidade também na necessidade de trabalhar para sobreviver (Gn.3:17-19).

-Jesus foi, antes de tudo, um trabalhador, tanto materialmente falando, como, também, espiritualmente (Jo.5:17). Trabalhar é uma das atividades que faz o homem semelhante a Deus, é um dos aspectos da imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26).

-Ao contrário do que muitos pensam, trabalhar não é consequência do pecado, pois o homem foi posto no mundo para trabalhar e, com seu trabalho, dignificar e glorificar ao seu Criador (Gn.3:15). Jesus foi um trabalhador, tanto que, entre os seus “conterrâneos” de Nazaré, era identificado como “o carpinteiro, filho do carpinteiro” (Mt.13:55; Mc.6:3).

-Ser trabalhador é demonstrar humanidade e, mais do que isto, uma humanidade que se porta segundo os propósitos divinos. Como estão longe deste modelo os ociosos, os preguiçosos, os aproveitadores que sob a falsa rubrica de “pessoas que vivem da obra” nada mais são que vagabundos, que desordenados (I Ts.4:11; II Ts.3:6-10), que estão tão somente a escandalizar e a explorar a igreja do Senhor. Sejamos trabalhadores como foi Jesus!

-Outra demonstração da humanidade de Jesus está na circunstância de que foi cumpridor dos deveres cívicos (Mt.12:19-21;17:24-27; 22:15-21; Jo.19:6). Seja diante das autoridades religiosas judaicas, seja diante dos dominadores romanos, Jesus sempre cumpriu os seus deveres, mostrando que estava sujeito às autoridades constituídas por Deus (Rm.13:1,2).

-Embora nunca negasse Sua condição divina, como vemos seja no diálogo que manteve com Pôncio Pilatos (Lc.23:3; Jo.18:35-38) ou no episódio das didracmas do templo (Mt.17:24-27), Jesus nunca deixou de Se submeter às autoridades, revelando, assim, o Seu esvaziamento, a Sua autolimitação.

-Muitos, pelo contrário, inclusive em muitas igrejas locais, preferem aceitar a oferta satânica de poderio ilusório (Mt.4:8,9), não se guardam do “fermento de Herodes” (Mc.8:15), cavando para si mesmos a perdição eterna. Que Deus nos guarde!

-Outra demonstração da humanidade de Jesus está no fato de que a Bíblia nos mostra que, durante o Seu ministério terreno, o Senhor teve cansaço (Mt.8:24; Jo.4:6).

-Ora, sabemos que Deus não Se cansa (Is.40:28), de forma que o fato de Jesus ter Se cansado demonstra que assumiu integralmente a humanidade. Não há como, pois, dizer como os gnósticos que Jesus era apenas um espírito evoluído, um “fantasminha camarada”, que parecia ter assumido a forma humana, mas que de fato não a tinha.

-Como admitir, então, que Jesus tivesse cansado, a ponto, inclusive, de dormir em virtude deste cansaço? Isto é uma prova indelével de que Jesus veio em carne (I Jo.4:2,3).

-Nota-se, aliás, em alguns escritos do Novo Testamento, principalmente de João, uma ênfase nesta encarnação de Jesus, por causa de um movimento denominado “gnosticismo”.

-O gnosticismo era uma doutrina religiosa já existente antes do ministério terreno de Cristo, mas que se inseriu no meio dos cristãos, causando dúvidas e incertezas na igreja primitiva, pois os gnósticos diziam que a matéria era má e que, portanto, ninguém que fosse dotado de um corpo físico poderia ser um “espírito evoluído”, um “aeon”.

-Entendiam, assim, que Jesus nunca poderia ter sido homem, se era um “espírito evoluído”, se era o Messias. A influência perturbadora dos gnósticos se faz sentir quando vemos que Paulo e João, em seus escritos, atacaram diretamente este entendimento que, com algumas variações, ainda está presente, atualmente, entre os kardecistas e outros segmentos espiritualistas, que negam que Jesus tenha sido um homem, mas teria sido tão somente um “espírito evoluído”.

-Houve, mesmo, quem quisesse distinguir entre Jesus e o Cristo, este Cristo seria este “espírito evoluído” que teria vindo para a “progressão espiritual da humanidade”.

É a ideia do “Cristo cósmico”, que tem sido desenvolvida ultimamente pelo movimento “Nova Era”, que entende que, ao longo da história, teria havido “Cristos”, pessoas que teriam vindo promover a evolução espiritual da humanidade, estando eles a aguardar o próximo “Cristo”, que seria o “Maytreia”, que é ninguém nada mais nada menos que o Anticristo, cuja manifestação é iminente.

-É a doutrina que se encontra atrás da ideia das “oito colunas da sabedoria”, “a grande cripta dos grandes filósofos”, defendida pela Maçonaria, onde estariam os “Cristos”, a saber:

Confúcio, Zoroastro, Buda, Moisés, Hermes Trismegistus, Platão, Jesus, Maomé e a “Estrela”, a “nona coluna”, “…o resultado final dos ensinamentos desses grandes construtores do espírito universal é demonstrado pelo aparecimento da Estrela, que é Gnose, Iluminação, Sabedoria, como a demonstrar que tudo que procuramos, seja qual for à religião que adotemos, é simplesmente a Verdade.…” (ANATALINO, João, apud Mestres do Universo. As oito colunas da sabedoria. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5219943 Acesso em 01 nov. 2024).

-Outro episódio que denuncia a humanidade de Jesus foi o fato de Jesus ter tido fome (Mt.4:2). Após quarenta dias de jejum, Jesus estava fisicamente combalido e tinha fome, tanto que foi com base nesta necessidade que o adversário iniciou a tentação no deserto.

Ao lado do poço de Jacó, além de sede, Jesus também teve fome. Ele, que era o pão da vida (Jo.6:48), submeteu-Se à fome por amor a cada um de nós. Aleluia! Observemos que, para mostrar que era humano e não um “espírito”, Jesus, mesmo depois de ressurreto, comeu (Lc.24:37-43).

-Além de fome, Jesus também teve sede (Jo.4:6; 19:28). Aquele que é a fonte de água viva (Jo.4:10,11; 7:38), também Se submeteu à sede por amor a cada um de nós. A sede que demonstrou sofrer durante a crucifixão, mostra como Jesus realmente Se humanizou, pois é uma reação característica de quem sofria este tipo de pena.

OBS: “…Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede.

Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. …” (BARBET, Dr. A dor da crucifixão: médico francês reconstitui a agonia de Jesus. Disponível em: http://www.lepanto.com.br/higgcruc.html Acesso em 27 nov. 2007).

-Mas Jesus Se humanizou e isto vai além de ter tido um corpo preparado para si. Na verdade, ao Se humanizar, Jesus recebeu não só um corpo, mas também uma alma e um espírito. Tendo alma, que é a sede da nossa personalidade, Jesus manifestou sentimentos (Mt.8:31; Mc.3:5; Lc.10:21; Jo.11:35), demonstrando tanto alegria, quanto tristeza, além de amor e compaixão.

-Esta é a prova de que Jesus era dotado de uma alma, alma que se angustiou até a morte na grande aflição do Getsêmane (Mt.26:38; Mc.14:34), onde, a propósito, derramou gotas de sangue em vez de suor, a demonstrar, uma vez mais, a Sua integral humanidade.

OBS: “Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo. Posso portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela. ‘Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra’. O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um clínico. O suar sangue, ou “hematidrose”, é um fenômeno raríssimo.

É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo.

O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.…” (BARBET, Dr. op.cit.)

-Outra demonstração da humanidade de Jesus foi o fato de Jesus ter sido tentado (Mt.4:1; Mc.1:13; Lc.4:2; Hb.2:18; 4:15). Deus não pode ser tentado (Tg.1:13), de sorte que a circunstância de Jesus ter sido tentado em tudo e durante todo o tempo é uma prova inequívoca de Sua humanidade.

-Entretanto, ao contrário do primeiro casal que, tentado no Éden, onde possuía tudo à sua disposição, o Senhor Jesus, mesmo no deserto, onde tinha carência de tudo, venceu o mundo e, por isso, pôde nos dar a certeza de que podemos vencer, enquanto seres humanos, o diabo e suas tentações.

-Ao se despir da Sua glória, ao Se esvaziar, Jesus passou a depender da ajuda de Deus (Mt.14:23). Jesus foi um homem de oração, que mantinha uma perfeita comunhão com o Pai (Jo.11:42).

-Esta comunhão estabelecida com o Pai durante o Seu ministério terreno era a comunhão do homem Jesus com Deus, não a comunhão que sempre existiu desde sempre entre o Filho e o Pai, que é resultado da Sua deidade.

-Com efeito, na oração sacerdotal, Jesus mostra que glorificou o Pai na Terra, consumando a obra que Lhe havia sido dada a fazer (Jo.17:4) e, por isso, pedia que houvesse a glorificação com aquela glória que Ele já havia desfrutado desde a eternidade passada (Jo.17:5).

-Vemos, portanto, que essa comunhão era resultado da submissão de Jesus à vontade do Pai, submissão essa feita enquanto homem, decorrência da obediência e da adoração a Deus ante as tentações.

É esta comunhão que devemos ter, também, com o Pai, uma comunhão possível, pois é a comunhão de um ser humano com Deus, na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Por causa disto, Jesus Se santificou (Jo.17:19), para nos dar o exemplo (I Pe.2:21-23), a fim de que também vençamos o mundo (Jo.16:33).

-Há muitos, na atualidade, que, por não compreenderem a dupla natureza de Jesus, acham que é impossível vencer as tentações, resisti-las. No entanto, a Bíblia afirma que não somos tentados além de nossa capacidade de resistência (I Co.10:13) e que a queda advém de nossa própria concupiscência (Tg.1:14-16).

-Jesus venceu o pecado enquanto homem, tendo, por isso, recorrido à ajuda de Deus, seja na oração, seja no conhecimento das Escrituras (Lc.4:17), cuja ignorância foi apontada pelo Senhor como a fonte do erro (Mt.22:29; Mc.12:24).

-Jesus tinha uma vida devocional exemplar, não só cumprindo toda a lei (Mt.5:17), o que Lhe era imposto, visto que havia nascido sob a lei (Gl.4:4), como também adotando os bons costumes de seu tempo (Lc.4:15,16).

Se Jesus teve de Se santificar, orar, conhecer as Escrituras e frequentar os cultos, como podemos achar que seremos vencedores se não fizermos isto? Que Deus nos desperte para esta necessidade, que tanto maior quanto se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja!

-Como ser humano, Jesus também teve um espírito (Mt.26:41; 27:50; Mc.14:38; Lc. 10:21; 23:46; Jo.11:33; 13:21; 19:30), que, com a Sua alma, formava o Seu homem interior. Em Seu ministério terreno, Jesus foi sempre guiado pelo Espírito Santo (At.10:38), prova de que, em Sua humanidade, o espírito dominava sobre a carne (Jo.6:63). Assim deve ser, também, na vida de cada crente (Rm.8:10).

-Outra prova da humanidade de Jesus é a Sua morte (Mt. 27:50; Mc.15:37; Lc.23:46; Jo.19:30,34; At.2:23; Fp.2:8). Enquanto Deus, Jesus jamais poderia morrer, porque Deus é eterno e a própria vida.

-Todavia, enquanto homem, embora não tivesse jamais pecado, Jesus morreu para que, pela Sua morte, pudéssemos ter vida. Jesus morreu, ou seja, enquanto homem, houve a separação de Seu corpo, que foi sepultado no sepulcro novo de José de Arimateia (Mt.27:58-60; Mc.15:42-46; Lc.23:52,53; Jo.19:38-42), e o Seu homem interior, entregue que foi, pelo próprio Senhor, a Deus no instante final de Sua existência terrena.

-Esta separação entre corpo e homem exterior é a morte física, morte que foi imposta aos pecadores, mas que foi assumida por Jesus como pagamento da nossa salvação.

-Apesar dos inúmeros testemunhos a respeito da morte de Jesus nas Escrituras, testemunho do próprio Jesus, que afirma que foi morto (Ap.1:18), o espírito do erro continua a propalar a ideia de que Jesus não chegou a morrer.

-Não são poucos os movimentos religiosos que negam a morte de Jesus. Muitos espíritas insistem em dizer que Jesus era um “espírito evoluído” e, portanto, jamais poderia ter morrido, embora isto tenha aparentemente ocorrido.

-Deste mesmo parecer são os muçulmanos, que afirmam que mataram outra pessoa em lugar de Jesus, que teve vida longa, morrendo em idade avançada. Tudo isto, porém, nada mais é que engano, pois Jesus realmente morreu, porque Se fez homem e semelhante aos irmãos.

OBS: O Corão nega que Jesus tenha sido crucificado: “…E por seu dito;’ Por certo, matamos o Messias, Jesus, Filho de Maria, Mensageiro de Allah’. Ora, eles não o mataram, nem o crucificaram, mas isso lhes foi simulado [nota 4 – O Islão prega que não foi Jesus crucificado, mas o foi, em seu lugar, um sósia].

E, por certo, os que discrepam a seu respeito estão em dúvida acerca disso [nota 5 – Alusão às divergências nascidas da dúvida dos cristãos quanto às circunstâncias da morte de Jesus Cristo, o que prova que o próprio Cristianismo não tem certeza absoluta a respeito].

Eles não têm ciência alguma disso, senão conjeturas, que seguem. E não o mataram, seguramente; Mas Allah ascendeu-o [nota 1 – Embora entenda a ascensão como fato incontestável, o Alcorão não oferece maiores informações sobre isso] até Ele. e Allah é Todo-Poderoso, Sábio…” (Tradução do sentido do Nobre Alcorão para a língua portuguesa com a colaboração da Liga Islâmica Mundial, realizada por Dr. Helmi Nasr 4:157-158, pp.159-160).

Bem se vê, pelas próprias notas da tradução oficial do Corão que os islâmicos inventam uma dúvida inexistente entre os cristãos e, ao mesmo tempo, afirmam uma ascensão que não explicam. Entretanto, cada vez mais pessoas no mundo acreditam neste absurdo. É o cumprimento de II Ts.2:10-12.

-Outra prova da humanidade de Jesus é a Sua ressurreição. Com efeito, o fato de Jesus ter ressuscitado pressupõe que tenha morrido, o que, como vimos, é uma demonstração de Sua humanidade.

-Mas, além disso, as Escrituras são claras ao dizer que Jesus foi ressuscitado por Deus (At.2:34; 13:30; Rm.8:11). Ora, se Jesus foi ressuscitado por Deus, isto significa que quem foi ressuscitado foi o homem Jesus e nem poderia ser diferente, vez que Deus jamais poderia morrer.

-Jesus foi ressuscitado para que se cumprissem as Escrituras (Lc.24:44-48) e, nesta ressurreição, Jesus é o primogênito dentre os mortos (Cl.1:18), as primícias dos que dormem (I Co.15:20), porque foi o primeiro homem a ressurgir em corpo espiritual (I Co.15:44), incorruptível (I Co.15:42), imortal (I Co.15:54).

-É importante observar que a humanidade de Jesus não terminou com a Sua morte, como muitos pensam. Ao ser ressuscitado, Jesus manteve a Sua humanidade, já, agora, porém, não mais esvaziada da Sua divindade, daí porque, a partir da ressurreição, estar em Jesus a Divindade e a Humanidade em plena atividade, pois Ele venceu a morte e o inferno (Ap.1:18).

-Tanto a humanidade de Jesus não terminou que a Bíblia diz que seremos semelhantes a Ele (I Jo.3:2) e que quem é o mediador entre Deus e os homens, na atualidade, é Jesus Cristo homem (I Tm.2:5), pois só o homem Jesus pode entender o pecador (Hb.2:10-18).

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/11249-licao-8-jesus-viveu-a-experiencia-humana-i

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