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LIÇÃO Nº 8 – MISSIONÁRIOS FAZEDORES DE TENDAS

A missão transcultural pode ser não institucional.

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo sobre missões transculturais, veremos hoje como se pode fazer missão por meio do exercício profissional.

-A missão transcultural pode ser não institucional.  – A COMISSÃO CULTURAL

-“Comissão” é o “ato ou efeito de cometer, de encarregar, de incumbir”. “Comissão”, portanto, é uma incumbência, uma carga, uma responsabilidade que se dá a alguém, uma tarefa que se determina a alguém.

-Quando falamos, pois, em “comissão”, desde logo percebemos que estamos a falar de uma relação em que alguém, por ter condição superior, ordena a outrem que faça algo, que assuma alguma responsabilidade, que venha a executar alguma tarefa. Tem-se, pois, nitidamente, uma relação “de cima para baixo”.

-Tanto é assim que o direito, ao falar no “contrato de comissão”, diz que o “comissário”, ou seja, aquele que recebe a tarefa para cumprir, “é obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do comitente” (artigo 695 do Código Civil).

-Quando se fala em “comissão”, pois, tem-se que estamos a falar de um relacionamento entre Deus e os homens, uma relação vertical (isto é, “de cima para baixo”), visto que Deus é o Senhor, ou seja, o dono de todas as coisas que existem, eis que é delas o Criador (Sl.24:1).

-Quando Deus criou os céus e a terra, diz-nos a Bíblia Sagrada, também criou o homem, ser criado de forma singular, diferente das demais. Enquanto os demais seres terrenos foram criados pelo poder da Palavra, em relação ao homem, o Senhor fez de modo diverso, tendo, Ele próprio, formado o homem do pó da terra e soprado em suas narinas dando-lhe o fôlego de vida (Gn.2:7).

-Daí constar no item 2 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus:

“[CREMOS] Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas distintas que, embora distintas, são iguais em poder, glória e majestade:

o Pai, o Filho e o Espírito Santo; Criador do Universo, de todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt.6:4; Mt.28:19; Mc.12:29; Gn.1:1; 2:7; Hb.11:3 e Ap.4:11).”

-Esta diferença na criação do homem justifica-se pelo fato de que Deus, também, em relação ao homem, tinha uma tarefa diversa, distinta da dos demais seres criados sobre a face da Terra. Ao vermos a decisão divina para criar o homem, entendemos esta distinção.

-Ao resolver criar o homem, Deus determinou que o homem fosse o “dominador” de toda a criação terrena, que, por ter a imagem e semelhança de Deus, estivesse sobre toda a criação terrena, como um “mordomo” do Senhor de todas as coisas sobre a face da Terra (Gn.1:26-28).

-Deus, então, deu ao homem a tarefa de dominar sobre a criação terrena, de ser “mordomo” do Senhor sobre a Terra, tanto que, ao formar o jardim no Éden onde pôs o homem, deu-lhe a tarefa de cuidar daquele jardim, de lavrá-lo e guardá-lo (Gn.2:15).

-É esta tarefa de cuidar da criação terrena, de dominar sobre os demais seres da Terra, de ser o “mordomo” de Deus sobre a face do planeta que se denomina de “comissão cultural”.

-“Comissão” bem sabemos porque, já que se trata de uma tarefa, de uma incumbência, de uma responsabilidade que Deus deu ao homem, mas por que “cultural”?

-Cultura, como ensinam os antropólogos (a Antropologia é a ciência que estuda o homem na sua totalidade, ou seja, o homem e a suas obras, tendo como conceito fundamental o de “cultura”), é, segundo a clássica definição de Edward Burnett Tylor (1832-1917),

“…aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade…” (apud MARCONI, Marina de Andrade e PRESOTTO, Zélia Maria Alves. Antropologia: uma introdução, p.42). Assim, a cultura é um conjunto de ideias, abstrações e comportamento que os homens têm numa determinada sociedade.

-Ao determinar que o homem cuidasse da criação terrena, tanto lavrando como guardando o que havia criado no jardim do Éden, o Senhor deu ao homem condições para que, dentro da inteligência com que havia dotado, tomasse iniciativas que o permitisse executar a tarefa deixada por Deus a ele.

-Não foi por outro motivo que o Senhor mandou que Adão desse nome aos animais (Gn.2:19,20), precisamente para que, através deste gesto, o homem tivesse consciência de duas verdades, a saber:

a de que era superior aos demais seres terrenos (o ato de “dar o nome” reflete esta superioridade, esta autoridade) e a de que havia sido criado com inteligência, tendo, pois, criatividade, ou seja, a capacidade de criar coisas a fim de executar a tarefa que lhe havia sido dada, cometida pelo Senhor.

-Esta “criação humana”, ou seja, esta série de comportamentos, condutas e modos de viver surgidos a partir da inteligência humana, criações estas que têm por finalidade precisamente o cumprimento da tarefa deixada pelo Senhor ao homem de dominar sobre a criação terrena é o que compõe a “cultura”.

-Por isso, a tarefa deixada por Deus ao homem para lavrar e guardar o jardim do Éden é uma “comissão cultural”, pois se trata de uma tarefa, de uma incumbência que o homem deveria cumprir a partir do exercício da sua inteligência, daquela diferencial que Deus deu ao homem precisamente para cumprir aquilo que Deus lhe determinava fazer.

-É, portanto, a “comissão cultural”, uma tarefa que deveria ser cumprida a partir da “cultura”, ou seja, de todas as condutas, comportamentos e atitudes que o homem empreenderia para executar a tarefa que lhe havia sido cometida por Deus de “lavrar e guardar” a Terra.

-O cumprimento desta “comissão cultural”, entretanto, tinha um pressuposto, qual seja, o fato de o homem ter sido criado à imagem e semelhança de Deus (Cf. Gn.1:26,27).

-Somente em comunhão com o Senhor, o homem poderia cumprir, a contento, a “comissão cultural”. Tanto assim é que foi atendendo a um chamado de Deus e na companhia de Deus que o homem pôde dar nome aos animais, percebendo, neste gesto, a sua solidão, a sua insuficiência, solidão e insuficiência que somente puderam ser supridas pelo próprio Deus no ato de criação da mulher (Gn.2:21-25).

-Assim, embora fosse dotado de inteligência e capacidade para, a seu modo, dominar sobre a criação terrena e, desta forma, cumprir a “comissão cultural”, o fato é que o Senhor, desde logo, mostrou ao homem que havia a necessidade de o homem se manter em comunhão com o seu Criador para que pudesse executar esta tarefa.

-Por isso até o contato pessoal que o homem mantinha com o Senhor na viração do dia, pois, sem esta comunhão com o Senhor, não poderia desempenhar a “comissão cultural”. Tal realidade seria explicitada pelo Senhor Jesus nas Suas últimas instruções aos discípulos, ao lembrar-lhes que sem Ele nada poderia ser feito (Jo.15:5 “in fine”).

-Ao pecar, o homem perdeu a comunhão com o Senhor e, por causa disso, passou a estar sob o domínio do pecado (Gn.4:7; Jo.8:34), que o separa de Deus (Is.59:2).

O resultado disso é que a “comissão cultural” não pode mais ser devidamente cumprida, já que o pecado determina a própria formação da cultura por parte do homem, como vemos já na civilização caimita (Gn.4:17-24), cultura, aliás, que preponderou sobre a cultura da descendência de Sete (Gn.6:1,2), gerando um modo de vida que fez com que o Senhor destruísse a raça humana no dilúvio (Gn.6:5-7).

-A comunidade pós-diluviana não tardou em construir uma cultura contrária aos desígnios divinos, a ponto de o Senhor ter, também, destruído esta comunidade para não destruir o homem, com o juízo de Babel.

-Com a dispersão da comunidade única pós-diluviana após o juízo de Babel (Gn.11:9), naturalmente que os povos ali nascidos passaram a construir diferentes culturas, até porque a língua é um fator fundamental na formação de uma cultura e Deus confundiu as línguas, impondo, pois, uma diversidade cultural para o mundo, diversidade que tinha um ponto em comum: o impiedoso domínio do pecado.

-O plano de Deus para a salvação do homem, portanto, abrange, de forma inexorável, a “comissão cultural”, pois ela está prejudicada em virtude da queda do homem, da perda da comunhão do homem com Deus.

II– OCUPAÇÃO, PROFISSÃO E VOCAÇÃO

-Vemos que o primeiro casal se desincumbia, no Éden, de todas as tarefas da “comissão cultural”, tudo fazendo para “lavrar e guardar” aquele ambiente, na qualidade de “mordomo” do Senhor.

-Expulsos do jardim do Éden, o primeiro casal tinha de permanecer com esta tarefa (Cf. Gn.3:23), ainda que, agora, o trabalho tivesse passado a ser penoso e necessário à sobrevivência (Cf. Gn.3:17-19), já que o pecado trouxera, como consequência, a maldição da terra e a morte física, não tendo mais o homem acesso à árvore da vida.

-Logo no limiar da história da humanidade após a queda, verificamos que há, entre os homens, uma “divisão do trabalho”. Na primeira geração, já notamos que os dois irmãos, Caim e Abel, tinham atividades distintas: enquanto Caim era agricultor, Abel se dedicara à criação de animais (Gn.4:2).

-Este fenômeno é denominado “divisão do trabalho” e, consoante os sociólogos, é um fenômeno que se intensifica no desenvolvimento das sociedades, pois, com o aumento populacional e a própria criatividade humana, que vai aperfeiçoando o modo de vida sobre a face da Terra mediante a compreensão de tudo quanto sucede no planeta (Cf. Ec.1:13), as atividades vão se diversificando, sendo alteradas e as pessoas vão se dedicando a estas atividades, especializando-se.

-Assim, como já dissemos supra, ainda nos primórdios da história da humanidade, vemos a criação de atividades entre os homens (Gn.4:20-22), o mesmo ocorrendo na comunidade única pós-diluviana (Gn.10:9).

-Todo ser humano deve ter uma atividade. O trabalho faz parte da essência da humanidade, pois é um fator que o faz semelhante ao seu Criador, que é, sobretudo, um trabalhador (Jo.5:17) e sabemos que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27). Jesus, o homem perfeito, sempre foi, enquanto homem, um exímio trabalhador (Is.53:3; Mc.6:3; Jo.5:17).

-O trabalho é, mesmo, um dos princípios éticos estabelecidos por Deus ao ser humano, um dos pilares do “universo moral” criado para a humanidade, mas não nos deteremos neste aspecto, já que dele falaremos na próxima lição.

-De qualquer maneira, sendo um ser que tem de trabalhar (II Ts.3:10,11), o homem tem, porém, de fazer uma importante distinção entre três atividades que desempenhará ou poderá desempenhar neste trabalho, a saber: a ocupação, a profissão e a vocação.

-Ocupação, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “ato de trabalhar em algo; o próprio trabalho a ser executado ou que se executou; serviço; atividade, serviço ou trabalho principal da vida de uma pessoa”.

-A palavra, que tem como raiz “cap-“, cujo significado é de “tomar, apoderar-se”, mostra-nos que “ocupação” é aquilo que alguém faz, precisamente diante da necessidade que tem de sobreviver e a sobrevivência vem pelo trabalho, como determinado por Deus.

-A ocupação está, portanto, relacionada com aquilo que a pessoa faz para poder ter o seu sustento, uma atividade exercida porque ela se dispôs a fazê-lo, preencheu o lugar que estava disponível para o exercício de tal tarefa. Foi, aliás, esta a primeira das indagações feitas a Jonas pela tripulação do navio que tinha destino para Társis (Jn.1:8).

-Aliás, se formos ver o significado da palavra “ocupação” em Jn.1:8, veremos que se trata da palavra hebraica “m’la’khah” (מלאכה), veremos que se trata de “…representação, i.e., ministério, (de modo geral) emprego (nunca servil) ou trabalho (abstrato ou concreto); também propriedade (como resultado de trabalho) …” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 4399, p.1749).

-A ocupação, portanto, é um serviço, um emprego, o que não deixa de ter a sua importância, vez que, como vimos, trata-se de uma atitude em que o homem obedece à ordem divina estabelecida para a sobrevivência do homem sobre a face da Terra.

Neste passo, não devemos nos esquecer que, ao trabalharmos, ao exercermos uma determinada atividade, necessitamos fazê-la sob a compreensão de que estamos a cumprir uma determinação divina e nos assemelhando a nosso Criador.

-Entretanto, lamentavelmente, muitos veem a ocupação como um tormento, como um suplício. Na verdade, no mundo dominado pelo maligno, há uma verdadeira apologia do ócio, tanto que o grande sonho das pessoas é nada fazer e ter condições de sobreviver sem que seja necessário trabalhar.

-Trata-se, na verdade, de uma distorção da realidade, de mais uma expressão de rebeldia contra o Senhor, mais uma manifestação do desejo de independência de Deus, a mentira satânica que enganou o primeiro casal (Gn.3:5).

-O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho (1947-2022) dizia que este pensamento era bem presente entre os brasileiros. Segundo ele, particularmente em nosso país, o emprego é “…visto apenas como meio de subsistência e sem nenhuma importância própria no que diz respeito ao conteúdo.

A adaptação conformista a um emprego medíocre e sem futuro é considerado o máximo do realismo, a perfeição da maturidade humana. Tudo o mais é depreciado (e por isto mesmo hipervalorizado e ansiosamente desejado) como “diversão”.

Assim, entre o trabalho forçado e a diversão obsessiva (da qual o Carnaval é a amostra mais significativa), acumula-se na alma do brasileiro a inveja e uma surda revolta contra todos os que levem uma vida grande, brilhante e significativa, sobre os quais, mesmo quando são pobres, paira a suspeita de serem usurpadores e ladrões, pelo menos ladrões da sorte…” (Vocações e equívocos. fev. 2000. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/vocacoes-e-equivocos/ Acesso em 22 ago. 2023).

-Ao lado da ocupação, temos a profissão, que o mesmo Dicionário Houaiss define como “atividade para a qual um indivíduo se preparou e que exerce ou não”. A palavra tem o significado de “declaração, manifestação, promessa, anúncio, publicação”. A profissão é uma atividade que alguém promete que vai executar porque se preparou para isto e, por vezes, declara solenemente que irá exercê-la segundo as normas (formais ou não) existentes.

-A característica da profissão é que ela demanda um estudo, um aprendizado para o seu exercício e aí nos lembramos das “corporações de ofícios”, tão próprias da Idade Média na Europa, em que as pessoas aprendiam um determinado ofício (os aprendizes), depois passavam a executá-lo (os oficiais), até chegarem à posição de serem capazes de ensinarem outros a fazê-los (os mestres).

-Demétrio, um ourives da prata em Éfeso, que tomou a palavra para se manifestar contra Paulo e os cristãos naquela cidade, identifica-se como um profissional, porque havia aprendido a elaborar imagens de prata da deusa Diana (At.19:27).

-A palavra grega em foco é “meros” (μέρος), que tem o significado de “porção, cota, seção”, ou seja, é uma atividade surgida da divisão do trabalho e que compete a pessoas que foram devidamente preparadas para isto.

-Ter aprendido algum ofício era uma exigência que se fazia na cultura de Israel. Aprender um ofício era uma demonstração pública de que se tinha a disposição de trabalhar, que não se fugia ao trabalho e que, portanto, se estava a cumprir a vontade divina no sentido de obter o seu sustento pelo trabalho, fazendo-se semelhante ao Senhor.

-Também não nos aprofundaremos neste ponto, que será, também, tratado na próxima lição, mas a tradição judaica exigia que todo doutor da lei, todo mestre tivesse um ofício, exercesse um trabalho manual, tivesse uma profissão, sem o que não teria credibilidade para se dizer estudioso da lei de Moisés.

-Não é à toa que Paulo aprendera o ofício de fazer tendas (At.18:3), estando isto perfeitamente em consonância com a mentalidade vigente, visto que era nítido intuito do apóstolo ser um grande mestre da lei (At.22:3).

-Nota-se, pois, que a “profissão” é algo que é aprendido e a escolha decorre de aptidões próprias de cada pessoa, de suas habilidades, o que nos mostra que se tem aqui, mais uma vez, uma participação divina, pois tais dotes, habilidades e aptidões, em grande parte, são inatas à pessoa, pertencem à sua personalidade e, portanto, foram imprimidas pelo Senhor quando criou aquele indivíduo, os chamados “dons naturais” de cada pessoa.

-Verdade é que há situações em que a profissão escolhida não tem relação com os dons naturais nem com as aptidões da pessoa, que, por circunstâncias várias, acaba por optar por uma profissão que não está em correspondência com a sua personalidade, gerando-se aqui maus profissionais ou profissionais que deixam ou nunca chegam a exercer a profissão.

-O exercício profissional, porém, deve, igualmente, ser feito em uma perspectiva de cumprimento da vontade divina, porquanto se trata de realização de tarefas para as quais fomos credenciados pelo Senhor em nossa formação, é uma forma de exteriorização e de manifestação da semelhança divina mediante os talentos e dotes dados a nós por Deus.

-Por fim, temos a “vocação”. Como ensina o já mencionado Olavo de Carvalho: “…Vocação vem do verbo latino voco, vocare, que quer dizer ‘chamar’. Quem faz algo por vocação sente que é chamado a isso pela voz de uma entidade superior — Deus, a humanidade, a História, ou, como diria Viktor Frankl, o sentido da vida.

Considerações de lucro ou prazer ficam fora ou só entram como elementos subordinados, que por si não determinam decisões nem fundamentam avaliações. No mundo protestante, germânico, há toda uma cultura e uma mística da vocação, e a busca da vocação autêntica é mesmo o tema do principal romance alemão, o Wilhelm Meister de Goethe.

Nos países católicos a importância religiosa da vocação, consolidada na ética escolástica do ‘dever de estado’ (por exemplo, o dever dos pais de família, dos comerciantes, dos militares etc.), foi perdendo relevo depois do Renascimento, cavando-se um abismo cada vez mais fundo entre o sacerdócio e as atividades “mundanas”, esvaziadas de sentido na medida em que só o primeiro é considerado vocacional em sentido eminente…” (ibid.)

-Paulo fala que cada servo do Senhor recebe d’Ele uma vocação (I Co.7:20). Fomos chamados por Deus tanto para a salvação (Ef.1:18; 4:1; II Tm.1:9), como também para realizarmos a Sua obra, como o Senhor Jesus deixou claro no ensino das parábolas dos talentos (Mt.25:14-30) e das minas (Lc.19:11-27).

-A vocação está completamente voltada para o cumprimento da vontade divina, é a resposta ao chamado de Deus para cada um de nós, a realização, em nós, daquilo desejado pelo Senhor.

-Deste modo, quando fazemos aquilo para o que fomos chamados pelo Senhor, estaremos, evidentemente, agradando a Deus e sendo um fator para a Sua glorificação.

-Tal chamado não está relacionado tão somente a atividades que possam ser consideradas “espirituais”, porque ligadas diretamente a ações concernentes à pregação do Evangelho, expulsão de demônios, cura de enfermos ou realização de sinais, prodígios e maravilhas.

-Esta vocação está, também, relacionada com o exercício de tarefas “materiais”, “seculares”, porque, como nos ensina o apóstolo Paulo, tudo quanto fizermos, mesmo se for comida e bebida, deve ser feito para a glória de Deus (I Co.10:31).

III– A MISSÃO PELO EXERCÍCIO DA OCUPAÇÃO, PROFISSÃO OU VOCAÇÃO

-Muito feliz é a Declaração de Fé das Assembleias de Deus quando afirma: “…Entendemos que a função primordial da Igreja é glorificar a Deus: ‘quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus’ (I Co.10:31).

Isso é feito por meio da adoração, da evangelização, da edificação de seus membros e do trabalho social. A Igreja foi eleita para a adoração e louvor da glória de Deus [Ef.1:11- 12], recebendo, também, a missão de proclamar o evangelho da salvação ao mundo todo, anunciando que Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e que em breve voltará.

O evangelho é proclamado a homens e mulheres, sem fazer distinção de raça, língua, cultura ou classe social, pois ‘o campo é o mundo’ (Mt.13:38). Jesus disse: ‘Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações’ (Mt. 28:19 – ARA), e ‘ser-Me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra’ (At.1:8). Portanto, entendemos que é responsabilidade da Igreja a obra missionária…” (DFAD XI.6, pp.122-3).

-Precisamos ter esta consciência que a missão de cada membro em particular da Igreja de Cristo na face da Terra é glorificar a Deus. Foi isto que o Senhor Jesus veio fazer neste mundo (Cf. Jo.17:3).

-O homem foi criado para glorificar a Deus, o seu Criador, sendo esta a razão pela qual Deus quer que o homem esteja com Ele para todo o sempre (Cf. Ap.21:3).

Quando cremos em Jesus e retomamos a comunhão com o Senhor, passamos, desde já, a cumprir este propósito divino, passando a glorificar a Deus e a fazer com que os homens, ao nos verem e ouvirem, também glorifiquem ao Senhor (Mt.5:16).

-As boas obras que seguem necessariamente a quem tem fé em Jesus e alcança a salvação (Ef.2:8-10; Tg.2:14- 17) são um poderoso instrumento pelo qual as pessoas podem ver a Deus, contemplar a Sua existência e presença, levando as pessoas à Sua glorificação.

-Neste ponto, temos o que se costuma denominar de “testemunho mudo”, ou seja, aquele testemunho em que não há uma pregação do Evangelho por meio de palavras, mas, sim, por atitudes, pelo comportamento, que, a exemplo do ocorreu com o profeta Eliseu, fará com que as pessoas percebam estar diante de um servo de Deus, de um homem de Deus (II Rs.4:9).

-O amor de Deus que é derramado no coração do salvo pelo Espírito Santo (Rm.5:5), revela-se não por palavras, mas por obras (I Jo.3:18). Assim, quando alcançamos a salvação, passamos a ter uma conduta que fará com que as pessoas vejam o Senhor em nós e, por causa dessas mesmas obras, glorifiquem ao Senhor.

-Esta circunstância é a que fez o Setor de Educação Cristã da CPAD falar nos “missionários fazedores de tendas”, numa alusão ao apóstolo Paulo que, tanto em Tessalônica (I Ts.2:9,10) como em Corinto (At.18:1-3; II Co.11:8, 12:14), exerceu o seu ministério a partir do exercício da sua profissão de fabricante de tendas (At.18:3).

-Tanto em Tessalônica, quanto em Corinto, Paulo, mediante as circunstâncias peculiares tanto destes lugares quanto da sua própria situação naqueles instantes (como será melhor esclarecido na próxima lição), tendo de trabalhar para obter o seu sustento, aproveitou para fazer deste exercício profissional um meio para ganhar almas para o Senhor Jesus.

-Como nossa missão é glorificar a Deus, temos de fazê-lo no exercício de nossa ocupação, profissão ou vocação, e, quando dedicamos este nosso trabalho para a glória de Deus, tornamo-nos missionários, ganhadores de almas, verdadeiros missionários transculturais, porque estaremos num ambiente completamente distante da igreja, muitos dos quais com valores e objetivos corporativos que, não raras vezes, são diametralmente opostos aos do Evangelho, como costuma ocorrer, na atualidade, em grandes corporações empresariais, muitas delas capitaneadas por grupos e interesses profundamente envolvidos no desenvolvimento da agenda anticristã que tem tomado cada vez mais conta do mundo.

-A membresia tem de ter esta consciência de que são “missionários fazedores de tendas”, ou seja, de que, no seu ambiente de trabalho, e quanto mais distante for ele da realidade eclesiástica, é um missionário, alguém que está ali para que as pessoas possam ver a Deus e, ao ver as nossas boas obras, glorificarem ao nome do nosso Pai que está nos céus.

-Esta realidade foi muito bem entendida pelo apóstolo Paulo, que a descreveu explicitamente ao escrever sua carta aos efésios, lembrando aos escravos, que se constituíam na esmagadora maioria da população do Império Romano, que seu serviço aos seus senhores deveria ser feito sob a perspectiva de que não serviam a homens, mas, sim, a Deus.

-Com efeito, em Ef.6:5-7, o apóstolo dos gentios manda que os servos obedecessem a seus senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade do seu coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus, servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens.

-Quando exercemos uma tarefa, não o estamos fazendo para o nosso patrão, empregador, encarregado, superior hierárquico, mas, sim, para Deus, pois tudo o que fazemos é para a glória de Deus.

Por isso, precisamos desempenhar nossa atividade com dedicação, esforço, entrega mesmo, porquanto é o meio pelo qual podemos fazer refletir a glória do Senhor (II Co.3:18) para aqueles que, cegos espirituais, não conseguem ver o resplendor da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (II Co.4:4).

-As nossas boas obras fazem-nos luzes do mundo (Mt.5:14) e, por meio da nossa conduta, interrompemos as trevas espirituais em que estão imersos os incrédulos, dando-lhes a oportunidade de ver o reino de Deus, o esplendor do evangelho da glória de Cristo, o que lhes permitirá, ante esta visão, ter a oportunidade de crer em Jesus, nascer de novo e iniciar, juntamente conosco, a sua jornada para o céu.

-Assim, como a pregação do Evangelho traz a fé ao ouvinte (Rm.10:17), de igual maneira o nosso testemunho mudo também leva até o pecador a fé, de modo que ele pode, por meio da nossa conduta, ter este “lampejo da glória de Deus” e, a partir de então, querer saber a razão da esperança que há em nós, quando, então, teremos condição de evangelizá-lo (I Pe.3:15,16).

-Estes “missionários fazedores de tendas” precisam também ser acompanhados pela igreja local, que, ainda que não os tenha enviado para a pregação do Evangelho, deve apoiá-lo em suas iniciativas individuais e não institucionais para a colheita de almas para o reino de Deus, principalmente quando tal pessoa estiver em lugares distantes e avessos à própria evangelização, como são países em que é proibido falar de Cristo e do Evangelho.

-Assim como Paulo teve, por circunstâncias, ter de trabalhar e, a partir do seu trabalho secular, criou uma base para a evangelização, assim também estas pessoas, por intermédio de seu exercício laboral, podem efetuar um grande desenvolvimento do reino de Deus no local onde desempenham sua ocupação, profissão ou vocação.

-Esta circunstância mostra que a igreja pode fazer missões, e inclusive missões transculturais, de uma forma não institucional, ou seja, sem que haja o modo normal e comum, que é o de enviar alguém para um determinado local para ali, às expensas da Igreja, pregar o Evangelho, ganhar almas para o Senhor e implantar igrejas locais.

-A igreja pode apoiar aquele que, mesmo não tendo sido enviado por ela, estando em um local dela distante, física ou culturalmente, começar, pelo seu comportamento, a ganhar almas para o Senhor Jesus, como, aliás, fizeram aqueles crentes que foram para Antioquia e lá, por conta própria, começaram a evangelizar e a ganhar almas para o Senhor Jesus (At.11:20,21).

-Estes missionários não eram institucionais, não haviam sido enviados pela igreja de Jerusalém e, além do mais, “quebrando a tradição”, passaram a evangelizar gentios, entrando numa cultura diferente, sendo, assim, verdadeiros “missionários transculturais”.

-Quando a igreja em Jerusalém soube destas coisas, imediatamente encaminhou um missionário, Barnabé, para que observasse a situação e, deste modo, nasceu a igreja de Antioquia (At.11:22-26).

-Vemos, portanto, que a partir de missionários informais, houve a conversão de almas que, posteriormente, foram devidamente organizadas em igreja por um missionário formal, expediente que é muito comum de acontecer, notadamente em meio ao avivamento pentecostal, que já está a durar há mais de 120 anos.

-Com o grande aumento da perseguição, tem-se hoje que tal “missionário não institucional” será, sem dúvida, uma das principais formas pelas quais se poderão fazer missões transculturais no tempo final da dispensação da graça.

-Evidentemente, não podemos nos esquecer, conforme temos visto ao longo do trimestre, que uma coisa é sermos “evangelistas voluntários”, como denominava o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, ou seja, qualquer membro em particular da Igreja, a quem o Senhor incumbiu de pregar o Evangelho por todo o mundo a toda criatura e outra, bem diversa, são os “apóstolos”, ou seja, aqueles que são enviados especificamente pelo Espírito Santo para implantar igrejas em outras localidades.

-Como ocorreu em Antioquia, pode muito bem o terreno ser preparado por pioneiros, que estão cumprindo a Grande Comissão, e, então, o Senhor providenciar que venha até aquele local alguém com chamada específica para, ainda que de modo não institucional, implante ali uma igreja local, um missionário que, até por força das circunstâncias, tenha de ser um “fazedor de tendas” e que, por meio de seu labor, ganhe almas e organize igrejas, escondidas até, para Jesus. Estamos dispostos a contribuir para isto?

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9927-licao-8-missionarios-fazedores-de-tendas-i

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