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LIÇÃO Nº 8 – MOISÉS – SUA LIDERANÇA E SEUS AUXILIARES

 lição 08

Moisés foi preparado para ser o líder de seu povo desde o seu nascimento.

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro de Êxodo, estudaremos a liderança de Moisés e seus auxiliares, com centro no capítulo 18 daquele livro.

– Moisés foi preparado para ser o líder de seu povo desde o seu nascimento.

I – O PREPARO DE MOISÉS PARA LIDERAR ISRAEL

– Seguindo o critério adotado pela CPAD, faremos uma interrupção na sequência do livro de Êxodo para estudarmos a liderança de Moisés e seus auxiliares, tendo como centro o capítulo 18 do livro, que já comentamos, ainda que brevemente e fora da perspectiva ora enfocada, na lição 6.

– Como temos visto ao longo deste trimestre, e é o subtítulo do tema, no livro de Êxodo vemos um grande desenvolvimento no processo de formação da nação israelita, vez que é neste livro que vemos como Deus formou três dos quatro elementos necessários para que se tenha uma nação, quais sejam, o povo, a cultura e o governo. Somente o território ficou para ser dado a Israel e, mesmo assim, trata-se de um elemento que não é considerado indispensável para que se tenha uma nação, pois o território caracterizaria mais precisamente, segundo os estudiosos, o país ou o Estado.

– Neste processo de formação, um ponto que se deve aqui destacar foi o cuidado que Deus teve em preparar o governo de Israel. O Governo é “…a organização, que é a autoridade governante de uma unidade política”, “o poder de regrar uma sociedade política” e o aparato pelo qual o corpo governante funciona e exerce autoridade…” (Governo. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Governo Acesso em 24 dez. 2013).

– Como afirmou em Sua proposta a Israel no monte Sinai, o Senhor queria fazer de Israel um “reino sacerdotal” (Ex.19:6). “…Esta é a primeira vez que a palavra ‘reino’ aparece na Bíblia para referir-se ao governo divino e marca o começo do reino teocrático…” (BÍBLIA DE ESTUDO SCOFIELD, nota a Ex.19:6, p.83). Temos nitidamente aqui a demonstração de que Deus iria governar o povo, ou seja, estaríamos diante de uma “teocracia”. O governante do povo seria o próprio Deus, que, naturalmente, se serviria dos homens para a administração do Seu povo, para que estivessem à frente do povo, seguindo as orientações do Senhor.

– O Senhor, ao estabelecer o Seu governo sobre Israel, não desprezaria a própria estrutura social que se formara, com base na família, entre os israelitas. Quando chama Moisés no monte Horebe, o Senhor Se apresenta, por primeiro, como “o Deus de teu pai” (Ex.3:6), tendo mandado Moisés apresentá-l’O aos filhos de Israel como o “Senhor Deus de vossos pais” (Ex.3:15). Com esta expressão, o Senhor deixou bem claro que queria preservar toda a estrutura familiar e tribal que havia se formado durante a multiplicação do povo no Egito.

– É bem isso, aliás, que vemos no próprio limiar do livro de Êxodo, quando são identificados os nomes dos patriarcas e de suas respectivas casas, que haviam vindo para o Egito (Ex.1:1-6). A base de toda organização social é a família e não há sociedade que siga os parâmetros divinos se não se estruturar tendo como base a família, que até o governo divino estabelecido em Israel respeitou.

– Por isso, um líder jamais pode desconsiderar a estrutura familiar subjacente a toda sociedade e que, certamente, interfere na própria tessitura dos demais grupos sociais, inclusive a Igreja, que é formada de famílias. Esta desconsideração das famílias e do próprio ambiente familiar tem sido a razão da derrocada de muitos ministérios, de muitos líderes. Foi esta desconsideração familiar um dos fatores que fez com que Moisés fosse rejeitado pelo povo quarenta anos antes de sua chamada no monte Horebe. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Moisés mostrou ter aprendido bem esta lição, pois, quando foi para o Egito, sua primeira tarefa foi se reunir com os anciãos de Israel, ou seja, com os líderes das tribos e das famílias (Ex.4:28), tendo igualmente a eles se dirigido quando foi levar a proposta de Deus para o pacto com Israel no monte Sinai (Ex.19:7).
– Para que o Senhor pudesse governar sobre o povo de Israel, entretanto, seria preciso que se estabelecessem leis que regessem o povo, leis dadas pelo próprio Deus, bem como que houvesse homens que executassem e aplicassem estas leis. Como se não bastasse isso, indispensável que houvesse alguém que estivesse à frente do povo, inclusive para libertá-lo do Egito e para levá-lo até a terra de Canaã.

– Por isso, o Senhor providenciou a Israel um líder, a saber, Moisés, que foi escolhido pelo Senhor para esta tarefa desde o seu nascimento. Na lição 3, aliás, já vimos como o Senhor preparou Moisés para liderar o povo na tarefa da libertação.

– O cuidado divino para a preparação de Moisés, preparação esta que durou 80 anos, mostra-nos como é absolutamente necessário que o povo de Deus seja liderado por homens que tenham o devido preparo, não somente um preparo intelectual, mas, sobretudo, um preparo espiritual.

– Moisés foi preparado para a sua missão de liderar o povo desde o início. Por primeiro, nasceu em um lar onde seus pais eram piedosos e mantinham a confiança em Deus, já que decidiram continuar a ter filhos mesmo diante da grande perseguição que Faraó estava a empreender contra os hebreus. OBS: “…A fé dos pais resistiu o decreto de Faraó e salvou da morte a Moisés, que cresceu formoso e favorecido, pelo poder, pela riqueza e sabedoria, passando a ser considerado filho da herdeira do trono faraônico (Hb.11:25). A fé dos pais em importância, na formação do caráter dos filhos (II Tm.1:5). Antes de Moisés ir para casa da filha de Faraó, ficou em casa de sua mãe crente e o ensino e a educação que aí recebeu acompanharam durante toda a sua vida…” (NYSTRÖM, Samuel. Lição 1 – Antes ser maltratado com o povo de Deus. 02 jul. 1939. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, p.852).

– Como se isto fosse pouco, ao terem o filho, notaram que ele era “formoso”, ou seja, discerniram que havia algo diferente naquele menino e, por isso, o esconderam por três meses. Depois, quando viram que não era possível mais fazê-lo, confiaram na Providência Divina, e o puseram em um pequeno cesto, nos juncos do rio, no local onde havia de se banhar a filha de Faraó, crendo que o Senhor poderia conservar-lhe a vida. OBS: A palavra traduzida por “formoso” (na NVI, “bonito”) é a palavra hebraica “tob”, que significa “bom”, como, aliás, está na Bíblia Hebraica.

A propósito desta passagem, ainda se manifesta o Talmude: “…Tem sido ensinado, R. Meir diz: Seu nome era ‘Tob”[bom]; R. Judá diz: Seu nome era Tobias; R. Neemias diz:[Ela previu que ele seria] dotado do dom profético; outros dizem: ele nasceu circuncidado e os Sábios declaram: no tempo em que Moisés nasceu, a casa inteira se encheu de luz — está escrito aqui: E vendo que ele era bom, e onde mais está escrito: ‘E Deus viu a luz que era boa’ (Gn.1:4)…” (Sotah 12a) (tradução nossa de texto em inglês disponível em: http://www.come-and-hear.com/sotah Acesso em 26 dez. 2013).

– Depois, como resposta à fé de Anrão e Joquebede, o Senhor fez com que Moisés fosse educado, em sua primeira infância, nos princípios e valores do povo de Israel, nas promessas divinas dadas aos patriarcas. É na primeira infância que se forma o caráter do ser humano e foi fundamental para Moisés esta criação num berço piedoso, pois foi este caminho que lhe foi ensinado, do qual ele jamais se esqueceu (Pv.22:6), que lhe fez, posteriormente, renunciar a ser chamado filho da filha de Faraó e os tesouros do Egito, para ser maltratado com o povo de Deus (Hb.11:24-26).

– A formação do caráter é fundamental para que se tenha uma boa liderança. Um dos mais famosos escritores sobre este tema na atualidade, o norte-americano James C. Hunter(1955- ), assim define liderança: “…A habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força do caráter. Nesta definição, as palavras fundamentais são habilidade, influenciar e caráter…” (Como se tornar um líder servidor: os princípios de liderança de O monge e o executivo. Trad. de A.B. Pinheiro de Lemos. 5.ed., p.18). Diz ainda este consultor: “…Não podemos esquecer que liderança é caráter em ação, assim como desenvolvimento de liderança e desenvolvimento de caráter são a mesma coisa…(op.cit., p.29).

– Em seguida, Moisés foi preparado intelectualmente para comandar o povo, sendo “instruído em toda a ciência do Egito”, o que o tornou “poderoso em suas palavras e obras” (At.7:22). Na posição de filho da filha de Faraó, Moisés era um príncipe, muito provavelmente preparado até para ser o próximo Faraó, o que lhe deu acesso a todo o conhecimento do Egito, que, então, era o nível mais alto de conhecimento humano existente. Quando há o desígnio divino para a preparação, sempre se tem a melhor preparação, pois o Senhor sempre faz o melhor em prol do Seu povo.

– O exemplo que o Senhor nos dá na preparação de Moisés é uma evidente e explícita demonstração de que não pode, em absoluto, reinar entre nós um anti-intelectualismo, que, infelizmente, predominou e ainda tem um grande número de adeptos nas Assembleias de Deus. A ideia de que o “estudo” e a “formação acadêmica” são fatores que prejudicam a vida espiritual é mais uma das ciladas do inimigo de nossas almas em que se têm enredado muitos dos que cristãos se dizem ser.

– Deus quer que os Seus filhos sejam pessoas bem preparadas, que tenham condições de acessar o conhecimento que o próprio Deus fez com que o homem tivesse a respeito da natureza e da sociedade, pois a investigação de tudo quanto existe, a atividade científica foi uma “…enfadonha ocupação [que] deu Deus aos filhos dos homens para nela os exercitar” (Ec.1:13).

– Notadamente, para aqueles que estarão à frente do Seu povo, tal preparação é imprescindível. O apóstolo Paulo, ele próprio um homem que foi também especialmente preparado por Deus para a grande obra que teria de realizar, foi claro a seu filho na fé Timóteo, quando disse que ele deveria ser obreiro aprovado, que manejasse bem a palavra da verdade (II Tm.2:15) e, para tanto, deveria ser alguém que persistisse em ler, exortar e ensinar (I Tm.4:13) e, sabemos todos, que, para ensinar, é absolutamente necessário que antes se aprenda.

– A formação de Moisés em toda a ciência do Egito é a prova de que alguém para liderar o povo de Deus precisa ter condições de enfrentar os que não servem a Deus em igualdade intelectual. Não se pode admitir que se tenham líderes à frente do povo de Deus menos preparados do que os líderes incrédulos.

– Moisés teve, assim, o que o pastor Aldery Nelson Rocha, em reunião de obreiros na Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP, em 2 de dezembro de 2013, denominou de “carreira vocacional”, que o fez guindar as principais posições no reino do Egito.

– No entanto, quando já tinha quarenta anos de idade, Moisés, ciente de seu chamado para libertar Israel (cf. At.7:23-25), recusou ser chamado filho da filha de Faraó e ter, por um tempo, o gozo do pecado, para, então, procurar libertar o seu povo da opressão em que vivia (Hb.11:24-26). OBS: “…Moisés, aos quarenta anos, via, diante de si, dois povos: um, donde ele descendia, cujos costumes de vida e cujo Deus ele conhecia, desde a sua meninice. Ouvia, como menino, as aflições que seu povo passava; mas, também, via a fé que neles havia. O outro povo era também seu, mas, por adoção: povo rico, forte, dominador de sua raça, sábio nas ciências do mundo — um verdadeiro contraste dos escravos que faziam tijolos para a grandeza de seus dominadores. Assim, ainda hoje, existem dois povos: um com visão terrestre, e outro, com a visão celeste…” (NYSTRÖM, Samuel. Lição 1- Antes ser maltratado com o povo de Deus. 02 jul. 1939. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, p.853)

– Moisés tinha preparo intelectual suficiente e, segundo a tradição judaica, a própria formação militar para poder liderar uma revolta.

OBS: “…A fronteira do Egito tinha sido devastada pelos etíopes, que lhes estão próximos; os egípcios marcharam contra eles com um exército, mas foram vencidos num combate e retiraram-se com desonra. Os etíopes, orgulhosos com tão feliz êxito julgaram que seria covardia não aproveitar de sua boa sorte e se vangloriavam, com persuasão de poder conquistar todo o Egito. (…). Assim, eles avançaram até Mênfis, chegando até o mar(…). O rei não teve dificuldade em julgar por essas palavras, que Moisés era o hebreu de que se tratava no caso, o qual o Céu destinava para salvar o Edito e ele pediu à sua filha para fazê-lo general de todo o exército.(…). Pode-se imaginar com que prazer Moisés obedeceu às ordens do rei e da princesa que lhe eram tão gloriosas(…). Esse excelente general apenas foi posto à frente do exército, logo se fez admirar por sua prudência.(…) [Moisés] deu-lhes combate e os [os etíopes] dispersou, fazendo-os perder a esperança de se tornarem senhores do Egito. Tão grande vitória não reteve seus projetos; entrou no país deles, tomou várias cidades, saqueou-as e fez grande mortandade…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas II,5, 88. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.57).

– No entanto, se tinha o preparo intelectual para esta tarefa, Moisés ainda não estava espiritualmente preparado para a missão que Deus lhe dera. Tinha, sim, o conhecimento dos princípios e valores de Israel; tinha, sim, a consciência de sua chamada para libertar o povo, mas Moisés era ainda apenas um “chefe”, alguém que sabia mandar, que tinha conhecimento para mandar, mas, ainda, não era um líder.

– O líder não é alguém que saiba dar ordens, que saiba mandar, mas, muito pelo contrário, é alguém que sabe levar as pessoas para a direção pretendida, para a direção almejada, mas com persuasão, ou seja, através do convencimento. O líder não dá ordens que devem ser cumpridas de fora para dentro, mas, sim, alguém que faz com que as pessoas sintam a necessidade de seguir aquela direção e, assim, de dentro para fora cumpram a ordem recebida. OBS: “…O que define a palavra liderança é a capacidade influenciar os outros para o bem. As equipes realmente eficazes não são comandadas por ditadores ou autocratas. Na verdade, nas comunidades que surgem naturalmente todos são líderes, assumindo, cada um, a responsabilidade pessoal pelo sucesso da equipe.…” (HUNTER. James C.op.cit., pp.20-1).

– Moisés, ao ver um hebreu sendo maltratado por um egípcio, usou de toda a sua habilidade militar e matou o egípcio (Ex.2:11,12). No dia seguinte, ao ver dois hebreus discutindo, resolveu impor-se como mediador entre eles, mas os dois contendores se uniram contra Moisés, não aceitaram se submeter a ele e ainda o acusaram do homicídio perpetrado no dia anterior. Com todo o seu conhecimento e posição, Moisés não só não foi entendido pelo povo de Israel como ainda perdeu a sua posição, passando a ser perseguido por Faraó (Ex.2:13- 15).

– Moisés, então, começa o segundo estágio de sua preparação, quando aprendeu a ser pastor, a ser um líder. Nos quarenta anos subsequentes, Moisés foi para o deserto, onde, no silêncio, nos momentos de reflexão, na falta de poder e de posição, aprendeu a depender de Deus, a ter paciência e mansidão, a suportar as dificuldades e adversidades, a não se sentir dono de si nem dos outros. OBS: “…A função do verdadeiro líder é identificar-se com o que está para fazê-lo cada vez melhor(…). Assim como o orador deve meditar sobre o tema de seu discurso, vivendo-o, pesquisando ou indo aso locais sobre os quais deva falar, ou ainda idealizando, no tempo e no espaço, como os fatos se deram, para falar com convicção e sentimento a respeito deles, o líder não deve apenas estudar os assuntos que se lhe apresentam, mas vivê-los para com eles vibrar e poder falar a ponto de suscitar a inteligência em seus mais rudes liderados. Assim, a obra poderá ser vivenciada e desejada em seus corações. Este foi o segredo de grandes líderes (…). Moisés, que também nasceu como fruto de uma adversidade, era filho de escravos hebreus, estudou por ter sido criado pela filha do faraó do Egito e por fim se tornou o maior líder religioso de seu tempo.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Os dez mandamentos de um líder idôneo para o século XXI: o sucesso só depende de você!; deixe aflorar o seu potencial. Osasco: Novo Século, 21006, p.18).

– Moisés fora educado para ser um rei, para mandar e desmandar, já que, no Egito, a ideia era de que o governante era um verdadeiro deus, o dono de todos os seus súditos. No entanto, Moisés tinha de liderar um povo cujo rei seria Deus, tinha de aprender a ser um simples administrador, um mordomo. Daí porque ficou por quarenta anos na “escola do deserto”.

– Quando Deus Se apresenta a Moisés no monte Horebe, Moisés já tinha aprendido o que necessitava na sua “carreira espiritual”, como a denominou o pastor Aldery Nelson Rocha no estudo já mencionado. Moisés agora não era um homem que se impunha aos outros, mas, pelo contrário, era humilde, consciente de sua incapacidade, alguém que reconhecia tanto a sua dependência de Deus como a de que precisava ter o reconhecimento e a ajuda dos outros.

– Quando interpelou aqueles contendores hebreus, Moisés já foi dizendo: “Por que feres o teu próximo?” (Ex.2:13). Em resposta, foi-lhe dito: “quem te constituiu por maioral e juiz entre nós” (Ex.2:14). Moisés, embora o fizesse por consciência da chamada que recebera de Deus, quis se impor aos hebreus, totalmente despreocupado com o pensamento e percepção do povo. Um verdadeiro líder não impõe a sua liderança, ainda que chamado por Deus, mas precisa se fazer reconhecer como tal diante do povo, precisa ter capacidade de comunicação ao povo daquilo que recebeu da parte do Senhor.

– Agora que é chamado por Deus, Moisés, mostrando todo o seu amadurecimento espiritual, diz ao Senhor que tinha de se apresentar ao povo, que não bastava a sua palavra, o seu preparo. Vemos como agora Moisés sentia a necessidade de convencer o povo, de se mostrar como alguém mandado por Deus, alguém que era mero administrador da vontade divina, não o dono da situação.

– Nos dias de hoje, não é diferente e, poderíamos dizer, é ainda mais necessário que assim se faça, pois, na Igreja, os líderes são ministros de Deus (Rm.15:16; Ef.3:7; Cl.1:7,23; 4:7; I Ts.3:2; I Tm.4:6), ou seja, servos, meros administradores do rebanho que pertence a Cristo (I Pe.5:2). Como servos, os líderes devem se portar de tal maneira que o povo possa perceber que estão ali em nome do Senhor Jesus, que é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), mostrando ao povo a legitimidade de sua chamada, sabendo comunicá-la. OBS: “…Ministros não pretendem ser uma classe de seres sagrados como os brâmanes da Índia — a única vantagem que possuem é que o Senhor fala por eles em conformidade com o dom do Espírito Santo.

Nossas faces estão sem véu quando falamos para Deus e por Deus — e entre nossos irmãos, escondamos qualquer coisa que possamos clamar superioridade para nós mesmos…” (SPURGEON, Charles. (O brilho da face de Moisés. Sermão pregado em 18 maio 1890. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols34-36/chs2143.pdf , p.2. Acesso em 24 dez 2013) (tradução nossa de texto em inglês) (destaques originais).
– Diante deste pedido de Moisés, o Senhor não só Se fez a conhecer pelo Seu nome a Moisés (Ex.3:13,14), como também Lhe deu poder para fazer sinais e prodígios diante do povo, a fim de confirmar a Sua chamada (Ex.4:1-9). Deus não muda e continua a agir do mesmo modo em nossos dias: a liderança precisa ter intimidade com o Senhor, conhecê-l’O, o que somente se faz mediante meditação nas Escrituras e uma vida de oração (At.6:2,4), intimidade que fará com que realize sinais e maravilhas no meio do povo, confirmando, assim, a chamada recebida (At.5:12).

– Mas Moisés, mostrando estar realmente preparado para guiar o povo, também apresentou um outro obstáculo, qual seja, o da necessidade de manter com o povo uma comunicação. Considerou-se “pesado de língua”, pois, depois de quarenta anos no deserto, não tinha mais os modos e a eloquência seja para falar para o povo de Israel, seja para falar com Faraó. O Senhor atendeu a mais este pedido de Moisés e lhe deu Arão para ser seu porta-voz, prova de que é indispensável que o líder, após se fazer reconhecido pelo povo, mantenha sempre um canal de comunicação para com este mesmo povo.

– A comunicação foi garantida não só pela presença de Arão, mas, principalmente, pelo fato de que Deus, bem considerando o pedido de Moisés, disse que Ele seria com a boca de Moisés (Ex.4:15). A liderança do povo de Deus precisa estar em completa sintonia com o Senhor, somente falando aquilo que Deus mandar. A direção de Deus é indispensável para que se desempenhe bem a liderança no meio do povo do Senhor.

II – A LIDERANÇA DE MOISÉS É APRIMORADA COM AUXILIARES

– Moisés fez-se reconhecer como líder no meio de Israel, fazendo os sinais necessários para a sua confirmação (Ex.4:31), mas, quando veio a opressão mais acirrada, o povo o acusou (Ex.5:20,21). Moisés abalou-se, mas, em vez de fugir, como fizera no passado quando confiara em seu braço apenas, foi buscar ao Senhor. Agora sabia que não era o dono da situação, o “chefe”, mas o mordomo de Deus e, portanto, foi buscar em Deus a solução dos problemas e das crises. Assim deve agir sempre o líder do povo de Deus: buscar em Deus a solução dos problemas e das crises.

– Devidamente orientado por Deus, Moisés pôde ordenar as pragas sobre o Egito e, com esta demonstração de poder, pôde ser, uma vez mais, angariar a confiança do povo de Israel, que lhe obedeceu em tudo quanto determinou com relação à páscoa (Ex.11:2,3). É na obediência a Deus que a liderança se firma diante do povo de Deus e isto não se dá sem resistência inicial, sem a necessidade de uma maior aproximação do líder em relação a Deus e fiel observância de Sua orientação.

– É por isso que o escritor aos hebreus diz que Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar (Hb.3:5). Moisés assumiu a sua condição de servo, aprendeu que deveria sempre buscar a orientação de Deus e não modificar coisa alguma que lhe fosse falado e mandado pelo Senhor.

– Assim, embora tivesse ele sido o portador de sinais para que o povo de Israel cresse que ele haveria de ser o libertador, não hesitou em obedecer a Deus no sentido de mandar que Arão fizesse o milagre de tornar a vara em serpente diante de Faraó (Ex.7:9,10), como também que realizasse as três primeiras pragas sobre o Egito (Ex.7:19; 8:5,16). Pensando do ponto-de-vista humano, Moisés poderia questionar isto, pois, afinal de contas, quem havia sido chamado para liderar fora ele e ele precisava se fazer reconhecido pelo povo que lhe dera as costas. No entanto, Moisés foi obediente e não temeu entregar a Arão esta incumbência, por ser esta a vontade de Deus.

– O Senhor já estava a indicar a Moisés que não se faz a obra de Deus de forma solitária, sem auxiliares. Se Arão fora chamado, a pedido de Moisés, para ser seu porta-voz, passou a ser, também, companheiro de Moisés nos sinais e maravilhas, a fim de que o próprio Moisés aprendesse que a obra de Deus se deve fazer conjuntamente, ainda que cada um tenha uma determinada chamada, uma determinada vocação (I Co.7:20).

– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo comparou a Igreja ao corpo humano, mostrando que o povo de Deus é um organismo, uma unidade, mas que se constrói através da diversidade, visto que, no corpo, os órgãos, tecidos e células têm funções diferentes, estruturas diferenciadas, mas todos, nas suas diferenças, constroem uma unidade, que é o corpo (I Co.12:12-30).

– Na quarta e quinta pragas, foi Moisés quem fez os sinais, seguindo, assim, a ordem determinada por Deus. Na sexta praga, porém, Moisés e Arão agiram juntos, enquanto que nas na sétima, oitava e nona pragas, a ação, uma vez mais, foi de Moisés. Por fim, na última e maior das pragas, a ação foi direta de Deus. Com isto, Moisés aprendeu que deveria, em certas ocasiões, agir sozinho; em outras, delegar funções e, em outras ainda, agir em conjunto com seus auxiliares.

– Na travessia do Mar Vermelho, Moisés deu outra mostra de que havia se tornado um líder. Após a estupenda vitória que o Senhor havia dado, manifestando a Sua glória, Moisés fez um cântico e convidou todo o povo a cantar com ele, para celebrar aquela grande vitória. Moisés não quis os louros da vitória para si, mas, entendendo que o nome do Senhor tinha de ser glorificado, no momento mesmo em que o povo lhe reconhecia a liderança de modo consolidado (Ex.14:31), fez com que todo o povo glorificasse a Deus.

– Moisés entendeu que era apenas um servo de Deus e, portanto, toda a glória e admiração do povo deveriam ser devotados para o Senhor. Assim, cheio do Espírito Santo, Moisés fez um cântico e fez com que todo o povo o cantasse em honra e louvor ao Senhor.

– Como seria bom que toda liderança entendesse que é mero ministro de Cristo e despenseiro dos mistérios de Deus (I Co.4:1) e que, portanto, tem de levar todo o povo a cultuar única e exclusivamente a Deus, não caindo na tentação de se tornar um “ícone”, como muitos que encontramos, atualmente, entre os que cristãos se dizem ser. Moisés era avesso ao culto à personalidade e aproveitou a ocasião em que a sua liderança se consolidou para levar todo o povo a glorificar a Deus, a primeira vez em que isto ocorreu de forma unânime entre os filhos de Israel.

– É de se ressaltar, ademais, que Moisés entoou este cântico, que é o primeiro cântico das Escrituras, a primeira manifestação do Espírito Santo deste modo na história da humanidade, a nos mostrar o nível da espiritualidade de Moisés. Moisés primeiro cantou e depois levou o povo de Israel a cantar com ele. O líder precisa estar em um nível espiritual acima do povo que lidera, precisa ter condições de ser imitado em sua fé (Hb.13:7).

– Na peregrinação em direção ao Sinai, Moisés continuou se conduzindo bem, buscando sempre a Deus nos momentos de crise (Ex.14:13-15; 15:25; 16:4-6; 17:4), como também tendo o auxílio de Arão, a quem, por exemplo, incumbiu a tarefa de dizer ao povo que se aproximassem de Deus, ocasião em que a glória do Senhor apareceu na nuvem em resposta às murmurações do povo no deserto de Sim (Ex.16:9,10).

– No entanto, após a contenda em Refidim, que, inclusive, mudou o nome do lugar para Massá e Meribá (Ex.17:7), Amaleque veio guerrear contra Israel. Naquele momento, diante da iminência da guerra, Moisés não assumiu, como seria de se esperar, o comando das tropas, mas incumbiu Josué, um jovem da tribo de Efraim, para fazê-lo (Ex.17:9).

– Moisés, que fora um grande general no Egito (segundo a tradição judaica), decidiu não ir à frente do povo para a peleja. Por quê? Entendem alguns que isto se deveu à sua idade, 80 anos (Ex.7:7), que já não mais lhe permitia estar à frente do povo na peleja e, por isso, escolheu para estar à frente dos soldados a Josué, que, certamente, havia se distinguido nesta tarefa quando ainda se encontrava no Egito.

– Outros, porém, entendem que a idade não foi o motivo que levou Moisés a não liderar o povo, já que, quarenta anos depois, quando estava bem mais idoso, ele próprio liderou o povo na conquista dos reinos de Siom e de Ogue (Dt.3:1-3).

– Talvez, Moisés, sabendo que a guerra contra Amaleque era resultado da própria contenda que o povo fizera contra Deus e contra ele, tenha entendido que a melhor maneira de ajudar o povo seria intercedendo por ele, já que esta batalha era fruto da desobediência do povo, deixando, assim, a tarefa propriamente militar para outra pessoa, que tivesse o melhor preparo para tanto.

– Moisés parecia ter aprendido que o governo não era solitário, que havia necessidade de ajuda de outros, além da dependência de Deus. Assim, subiu ao monte para interceder pelo povo, acompanhado tanto de Arão, quanto de Hur (Ex.17:10), que é, pela vez primeira, aqui nomeado, ele que era o maioral da tribo de Judá (Ex.31:12) e que a tradição judaica identifica como sendo marido de Miriã. OBS: “…Logo depois, os dois exércitos chocaram-se com extremo ardor, de parte a parte, e, como os chefes tudo haviam feito para animá-los, o combate foi muito acirrado. Moisés, por sua vez, combatia com suas orações, tendo notado que quando suas mãos estavam erguidas para o céu, os seus levavam a melhor e, quando, ao invés, o cansaço o obrigava a abaixá-las, os amalequitas levavam vantagem, rogou a Arão seu irmão, que sustentasse um de seus braços e a Hur, seu cunhado, que tinha desposado Miriã, sua irmã, que sustentasse o outro.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas III, 2, 109. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.67).

– Mesmo combatendo com suas orações, Moisés pôde perceber que, quando suas mãos estavam levantadas, o povo de Israel prevalecia, mas, quando ele as abaixava, os amalequitas é que tinham vantagem. Por isso, Arão e Hur ajudaram a Moisés, fazendo-o assentar uma pedra, que puseram debaixo dele, em como sustentando as mãos de Moisés e, deste modo, Josué pôde desfazer a Amaleque e a seu povo, ao fio da espada (Ex.17:10-13).

– O Senhor dava uma importante lição a Moisés, no sentido de que ele deveria ter a ajuda de outros tanto para o desempenho das tarefas seculares, como também das tarefas espirituais. Arão e Hur tiveram de participar da oração de Moisés, tiveram de propiciar condições para que Moisés tivesse condições de vencer o cansaço natural para poder interceder pelo povo, enquanto que Josué o exército guerreavam contra o inimigo.

– Somente quando há união de esforços, o Senhor pode conceder a vitória. É muito triste vermos, na atualidade, pessoas que não se importam em ter a ajuda dos liderados e dos companheiros, nem tampouco que estejam a interceder em prol daqueles que se encontram na batalha do dia-a-dia contra o inimigo, pois nossa luta não é contra a carne nem contra o sangue, mas contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:10-12).

– Quando tudo demonstrava que Moisés entendera que o Senhor queria que compartilhasse a administração do povo de Israel com outras pessoas, as circunstâncias demonstraram que isto não ocorrera ainda. O fato é que, mesmo diante do episódio da guerra contra Amaleque, Moisés tomou para si todas as atribuições judiciais, de modo que passou a julgar todas as causas entre o povo, como pôde verificar seu sogro Jetro, quando trouxe a família de Moisés de volta para o líder, no deserto, quando se encontrou com ele, na jornada que o povo fazia em direção ao Sinai (Ex.18:13-17).

– Moisés havia tomado uma decisão que o equiparava ao Moisés de quarenta anos atrás, quando quis ser juiz do povo ao querer encerrar uma contenda entre dois israelitas. Agora, assumia sozinho todo o encargo de julgar as causas do povo, um povo que tinha cerca de três milhões de pessoas.

– Jetro bem verificou que o que Moisés fazia não era bom, visto que isto significaria a falência da justiça no meio do povo, já que Moisés era incapaz de, sozinho, julgar todas as causas, que, deste modo, ficariam sem julgamento, dando uma sensação de impunidade e de falta de leis, algo extremamente prejudicial para uma nação.

– Jetro fez ver a Moisés que a centralização não é um correto meio de administração. Não se pode administrar o povo de Deus solitariamente (Ex.18:18). O líder devia viver na prática da liderança os dois mandamentos fundamentais da lei que Deus haveria de dar ao povo: o amor a Deus e o amor ao próximo (Mt.22:37-40). O bom líder é aquele que aprende tanto a depender de Deus, seguindo-Lhe a orientação, como também a depender do próximo, distribuindo tarefas e funções aos seus irmãos.

– Na Igreja, não é diferente. Os líderes devem cumprir o mandamento que o Senhor Jesus nos deixou, ou seja, amar-nos uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12), mandamento que encerra ambas as dependências, já que Cristo, que é Deus, nos amou, devemos, pois, amá-l’O, já que Ele nos amou primeiro (I Jo.4:19), como também amarmo-nos uns aos outros, aprendendo, assim, a depender também dos outros.

– Jetro fez ver a Moisés que sua liderança impunha que ele se dedicasse a cuidar apenas das causas maiores, que deveria ser o mediador entre Deus e o povo, o que lhe exigia dedicação às coisas sagradas (coisas estas que havia muito aprendido com o próprio Jetro, que era sacerdote), deixando as coisas de menor importância aos cuidados de juízes que fossem devidamente escolhidos para estes negócios.

– A centralização geraria somente o desfalecimento do líder e do povo, com grande prejuízo a todos, já que a lei não se faria sentir, como também a própria liderança não teria condições de dar conta daquilo a que havia sido precipuamente chamada.

– É bom lembrar que o Senhor já dera estatutos e ordenança ao povo de Israel em Mara (Ex.15:25), de modo que já havia um corpo mínimo de normas a reger o povo, normas estas que deveriam ser aplicadas, para que não se tivesse desordem e confusão.

– Moisés, demonstrando ser uma pessoa humilde, ouviu os conselhos de seu sogro e criou, então, um sistema judicial para auxiliá-lo no governo dos filhos de Israel, constituindo maiorais de dez, maiorais de cinquenta, maiorais de cem e maiorais de mil, que seriam “cabeças sobre o povo”, auxiliando-o no governo. Moisés passou somente a cuidar dos “negócios graves”, podendo, então, subsistir e, desta forma, trazer paz ao povo para que pudessem ir até Canaã (Ex.18:22,23).

– Moisés demonstra aqui uma outra qualidade do verdadeiro e genuíno líder: o de saber ouvir os outros. Não há líder que tenha sucesso se não estiver sempre pronto a ouvir os outros, mesmo que eles sejam aparentemente mais simples e menos sábios que o próprio líder. Como afirma João Crisóstomo: “…Moisés, o sábio, o espírito esclarecido, o amigo de Deus, o chefe de um tão grande povo. Entretanto, não era pouca coisa receber uma lição de um bárbaro, de um ignorante. Os milagres assombrosos que ele fizera, a grandeza do poder que exercera não o incharam, ele não ficou corado por ter sido repreendido na presença de seus subordinados. Ele compreendeu que seus grandes prodígios não o impediam de ser sempre um homem e, por conseguinte, de ignorar muitas coisas e recebeu, com doçura, o conselho que se lhe deu.…” (Terceira homilia. Citação de Ex.18:1-27. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês).

– Como afirma João da Cruz, muitas vezes, Deus não fala diretamente ao homem, mas usa alguém para fazê- lo: “…Deus, embora tivesse relações tão íntimas com Moisés, nunca lhe havia dado o conselho tão salutar que lhe deu Jetro, seu sogro, induzindo-o a escolher outros juízes para ajudá-lo nos seus afazeres, para o povo não ficar esperando da manhã à noite (Ex.18:21,22). Deus aprovou esta sábia medida, que não quisera aconselhar diretamente a Moisés; porque era conselho ao alcance do raciocínio e juízo humano. Do mesmo modo, tudo o que nas visões e palavras interiores pode ser resolvido por meio humano, não o costuma Deus revelar; sua intenção é que os homens recorram a esse meio, a não ser nas coisas da fé, superiores a todo juízo e toda inteligência criada, sem todavia, lhes serem contrárias.…” (Subida do Monte Carmelo, II,2. In: Obras completas, p.286).

– Como afirma João de Ávila, citando Agostinho: “…’Fujamos de tais tentações , que são soberbíssimas e perigosas. Antes pensemos como o mesmo apóstolo Paulo que, ainda que prostrado e ensinado com voz celestial (At.9:6,11), contudo foi enviado ao homem para receber os sacramentos e incorporado à Igreja. E o centurião Cornélio foi enviado a São Pedro (At.10:5), não somente para receber sacramentos , mas para ouvir dele no que havia de crer, amar e esperar. Porque se não falasse Deus aos homens por boca de homens, a condição dos homens seria uma coisa muito abatida.

E como se teria a verdade do que está escrito em I Co.3:17: que o templo de Deus é santo, que somos nós, se não desse Deus respostas deste templo, que são os homens, mas tudo o que Ele quisesse que os homens aprendessem, teria de dizer desde o céu e por meio de anjos? E também a mesma caridade não teria entrada para que se comunicassem os corações de uns com os outros, se os homens não aprendessem com outros homens. São Felipe foi enviado ao eunuco (At.8:27) e Moisés recebeu o conselho de seu sogro Jetro (Ex.18:24)’…” (Audi Filia, 54. Citação de Ex.18:1-27. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 dez. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol). Assim, é necessário que o líder saiba que Deus também fala por boca de outros homens e que, portanto, é preciso ter uma audição bem aguçada para poder bem liderar.

– Era preciso que a carga de Moisés fosse levada também por outros, pois, se assim não ocorrer, não há paz no meio do povo de Deus, não há condições para que o povo possa caminhar seguramente para o seu destino.

– Como seria importante as lideranças perceberem que a descentralização é absolutamente necessária para que haja paz no meio do povo de Deus e para que o povo de Deus possa caminhar rumo ao céu. O aperfeiçoamento dos santos, a edificação do corpo de Cristo se dá com os dons ministeriais, que são distribuídos por todo o povo de Deus, que não fica apenas com o líder maior (Ef.4:11-16). Por esta falta de percepção, muitas igrejas locais, na atualidade, estão desfalecendo, ingressando em intrigas e divisões, impedindo o povo de seguir adiante. OBS: Bernardo de Claraval não hesitou em repreender o Papa Eugênio III precisamente por causa do grande número de tarefas que o chefe da Igreja Romana estava tendo, sem tempo para se dedicar ao que realmente era importante: “…tenho receio de que, no meio de Vossas ocupações sem número, se perca a esperança de vê-las ter um fim, e Vós acabeis por fazê-las e por Vos endurecer ao ponto de nada possa mais fazer-Vos sentir uma útil e justa dor(…). Se Vós me permitis de tomar emprestado e endereçar-Vos a linguagem de Jetro (Ex.18:18), Vós Vos consumireis num trabalho insensato que não é próprio senão para atormentar o espírito, esgotar o coração e Vos fazer perder a graça…” (Os cincos livros da consideração de São Bernardo, primeiro Abade de Clairvaux ao Papa Eugênio III, I, 2. Citação de Ex.18:1-27. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês). Que bom seria que muitos de nossos líderes atentassem para este sábio conselho, antes que percam a graça de Deus…

– Jetro fez ver a Moisés que havia necessidade de distribuir as tarefas judiciais com outros, mas outros que fossem qualificados, de modo a que a tarefa de julgamento fosse devidamente desempenhada.

– A descentralização não é mera delegação de tarefas a outras pessoas, mas a delegação de tarefas a pessoas devidamente preparadas, que possam desempenhar bem o encargo que estão a receber. É preciso ter critério para a escolha dos auxiliares, critério este que é dado por Deus.

– Jetro, usado por Deus neste mister, elencou quais deveriam ser os predicados que deveriam ter os juízes a ser constituídos por Moisés sobre o povo: capazes, tementes a Deus, homens de verdade e aborrecedores da avareza (Ex.18:21).

– O primeiro requisito era a capacidade. Somente poderiam exercer a função quem tivesse capacidade, ou seja, que tivessem conhecimento necessário para aplicar a lei e julgar as causas. A capacidade significa o devido preparo para o exercício de uma tarefa. Como o próprio Moisés havia sido intelectual e secularmente preparado para exercer a liderança, assim deveriam, também, os maiorais ser devidamente preparados para que tivessem a necessária capacidade para o exercício de suas funções. OBS: “…homens capazes, homens de bom senso, que entendessem sobre os negócios, e homens corajosos, que não fossem intimidados por olhares de censura ou clamores. Mentes claras e corações determinados fazem bons juízes…” (HENRY, Matthew. Comentário sobre a Bíblia toda. Com. Ex.18:13-27. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/18.html Acesso em 24 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês) (destaque original)

– Nos dias em que vivemos, nota-se o despreparo de muitos que são postos em diferentes funções no meio do povo de Deus, o que, certamente, somente contribui para o prejuízo do povo de Deus. O critério bíblico para a constituição de “cabeças sobre o povo” é o devido preparo, entendido aqui como o preparo intelectual, o preparo secular.

– O segundo requisito era o temor a Deus. Aqui, da mesma forma que ocorrera com Moisés, é indispensável que se tenha um “preparo espiritual”, que a pessoa seja alguém que tenha intimidade com o Senhor, que saiba escutá-l’O e atender à Sua Palavra. Não é possível ter qualquer função no povo de Deus se não se é temente ao Senhor, se não se é obediente à Sua Palavra e se tenha um modo de viver de acordo com a Sua vontade. OBS: Como diz Matthew Henry: “…crer que há um Deus acima deles, cujos olhos estão sobre eles, para quem eles devem prestar contas e de cujo julgamento eles temem. Homens conscientes, que não ousam fazer uma coisa básica, caso eles não possam fazê-la secreta ou seguramente. O temor a Deus é aquele princípio que melhor fortificará um homem contra as tentações da injustiça…” (HENRY, Matthew. end.cit.).

– O terceiro requisito era o de ser homem de verdade, que os comentaristas judeus interpretam como sendo o portador de palavras confiáveis, ou seja, pessoas que sejam sinceras, que vivam de acordo com o que falam, que tenham um bom testemunho diante do povo, que demonstrem ser verdadeiros servos do Senhor. É fundamental que quem exerça qualquer função no povo de Deus seja pessoa que tenha uma vida que possa ser imitada e que confirme sua fé em Deus. OBS: “…homens de verdade, cujas palavras se podem tomar, em cuja fidelidade se pode confiar, que jamais mentirá, trair a confiança ou agir de forma insidiosa…” (HENRY, Matthew. end.cit.) (destaque original).

– O quarto requisito era o de ser um aborrecedor da avareza, ou seja, alguém que não amasse o dinheiro, que não se deixasse subornar. O amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males e que leva ao desvio espiritual (I Tm.6:9,10). Somente pode ter uma função no povo de Deus quem não tem a intenção de fazer desta função um meio de ganho econômico-financeiro, um “meio de vida”. Lamentavelmente, nos dias em que vivemos, são muitos, mas muitos mesmo, os que se tornaram “profissionais eclesiásticos” e, como tal, pervertem o próprio sentido do ministério na casa de Deus. OBS: “…que aborreçam a avareza, não apenas não procurar por subornos nem almejar enriquecer, mas aborrecer o simples pensamento de fazer estas coisas; está pronto a ser um magistrado, e somente quem arremessa para longe de si o ganho de opressões, o que sacode das suas mãos todo o presente (Is.33:15)…” (HENRY, Matthew. end.cit.) (destaques originais)

– A estes auxiliares seriam cometidos os “negócios pequenos”, as questões de somenos importância, que não careciam de um pronunciamento direto de Deus, vez que já devidamente explanados e explicitados nos estatutos e ordenanças dados pelo Senhor. Assim, a lei seria bem aplicada a todos, e rapidamente, trazendo paz ao povo, enquanto que Moisés poderia se dedicar à tarefa da intercessão do povo junto a Deus e dos “negócios graves”.

– O povo passou a ter julgamentos durante todo o tempo (Ex.17:26). A lei mostrou-se plenamente aplicável, houve paz e todos puderam, então, sem desfalecimento, ver a instauração da ordem e da paz em Israel.

– Mas não foi somente aí que Deus ensinou a Moisés a necessidade da descentralização. Na própria entrega da lei, o Senhor fez ver a Moisés que Arão deveria subir com ele o monte, antes de o povo o fazer (Ex.19:24), como já a anunciar a Moisés que, na liderança, deveria haver companheirismo e não, solidão.

– Verdade é que o povo não quis subir ao monte e que se retirou, ficando de longe, mas, mesmo assim, o Senhor mandou que Moisés subisse ao monte, na companhia de Arão, Nadabe, Abiu e setenta dos anciãos de Israel (Ex.24:1). Todos eles viram o Deus de Israel e, debaixo de seus pés havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do céu na sua claridade, tendo ali comido e bebido (Ex.24:9-11).

– Mais uma vez se demonstrava que a liderança não se faz de modo solitário, que todos os líderes devem se cercar de auxiliares que, juntamente com eles, possam vislumbrar a glória de Deus, possam ver o Senhor, num ambiente de comunhão, pois é isto que representa a comida e bebida ocorrida ali no monte.

– Todos precisam compartilhar da mesma visão, que é a visão de Deus. Os líderes, por serem aqueles que estão à frente do povo, devem ser os primeiros a ver e enxergar o que Deus quer lhes mostrar, para que, então, repassem ao povo tal visão e, desta forma, todos possam ser devidamente persuadidos de que devem caminhar naquele sentido.

– Não estamos aqui, entretanto, respaldando ensinamentos equivocados, notadamente os que advêm do chamado “movimento celular”, que dizem que os líderes têm a “visão”, que somente a eles é dada, visão que deve ser seguida pelos liderados, de modo cego e inquestionável.

– A cena no monte Sinai era decorrência da entrega da lei. O povo deveria todo subir ao monte (Ex.19:13), mas eles se recusaram a tanto (Ex.20:18,19). Mesmo assim, o Senhor, então, mandou que Moisés subisse ao monte, na companhia de Arão, Nadabe, Abiú e de setenta dos anciãos de Israel.

– Hoje, estamos na dispensação da graça, onde todos são reis e sacerdotes por meio de Cristo Jesus (Ap.1:6). Deste modo, todos podemos subir o monte, todos podemos chegar à presença do Senhor, através do novo e vivo caminho que Cristo nos abriu pela Sua morte e ressurreição (Hb.10:19-23). Não há mais espaço para que somente alguns tenham “visão” de Deus e outros tenham de segui-la cegamente.

– O que existe, isto sim, é que àqueles que estão à frente do povo, que sobre ele presidem (“presidir” é “estar à frente”) (Rm.12:8; I Ts.5:12), o Senhor lhes mostre primeiro o caminho a seguir, como, por exemplo, ocorreu com Paulo no início de sua segunda viagem missionária (At.16:9,10), visão a ser, depois, compartilhada com os auxiliares e com o povo em geral, mas que o Espírito Santo mostrará a todos, pois todos nós O temos em nosso ser (Jo.14:17), até porque o nosso livre acesso ao Senhor nos faz andar em comunidade, solidariamente (Hb.10:24,25).

– Moisés tanto aprendeu esta lição que, quando chamado pelo Senhor para subir ao monte, onde haveria de receber outras instruções, em especial, as referentes à edificação do tabernáculo, pôde fazê-lo sem qualquer temor, deixando Arão e Hur para cuidar, inclusive, dos “negócios graves”, durante a sua ausência (Ex.24:14), tendo subido ao monte na companhia de Josué, que ficou ao pé do monte a aguardar o líder.

– Moisés subiu sozinho ao cume do monte, onde entrou no meio da nuvem da escuridade, pois só ele poderia exercer esta função, vez que fora feito o medianeiro da aliança, consoante o pedido do próprio povo de Israel (Ex.20:19; Gl.3:19,20). Por isso, a descentralização não significa a omissão, a autorização para se fazer o que somente o líder pode fazer.

– Alguns podem dizer que a delegação feita por Moisés não foi correta, porquanto, na ausência de Moisés, ocorreu o episódio do bezerro de ouro, mas, em momento algum, o Senhor recriminou Moisés por ter deixado Arão e Hur para conduzir o povo.

– Pelo contrário, apenas demonstrou Sua insatisfação com o povo, sendo certo que Arão, mesmo diante de seu deslize, acabou sendo confirmado por Deus como sumo sacerdote, prova de que sua infração foi considerada menor, o que nos permite até concluir que há fundamento na tradição judaica, que entende que Arão agiu da forma que o fez temeroso de que fosse morto, caso não aceitasse a vontade do povo israelita, como dizem os israelitas ter acontecido com Hur que, por se opor ao plano de fabricação de deuses, teria sido morto pelos israelitas (na verdade, Hur não é mais mencionado nas Escrituras).

– Moisés não deixou de inquirir Arão a respeito do episódio do bezerro de ouro (Ex.32:21-24), prova de que o líder deve sempre chamar à responsabilidade seus auxiliares quando estes cometem algum deslize. Amizade e companheirismo não se confundem com omissão e leniência.
– Moisés tomou as providências que foram necessárias para a correção daquele grave erro e, depois, foi interceder em favor do povo diante de Deus. Moisés não tinha deixado de amar o povo por causa do pecado cometido, como também não tinha se arrependido de ter designado auxiliares para ajudá-lo.

– Tanto assim é que, depois de retornar da sua segunda ida ao monte Sinai, Moisés chamou Arão e os príncipes de Israel, para lhes falar tudo quanto Deus lhe havia falado no monte, prova de que não entendeu que tivesse errado ao compartilhar o encargo do povo com outros (Ex.34:32) e, um detalhe importante, fê-lo quando estava revestido da glória de Deus, tanto que seu rosto resplandecia (Ex.34:29,30).

– Os líderes devem seguir este exemplo dado por Moisés, de modo a que os seus liderados, a começar de seus auxiliares, possam ver em seu rosto a glória de Deus. Todos os salvos em Cristo Jesus devem resplandecer como espelhos a glória do Senhor (II Co.3:18), intermitentemente, através de boas obras (Mt.5:14-16), agindo como o Senhor Jesus, que, entre nós, ungido pelo Espírito Santo e com virtude, andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele (At.10:38).

– Moisés teve um resplendor temporário, mas, os líderes, na graça de Deus, não têm um resplendor que tenha de ser coberto por um véu, mas, com a cara descoberta, devem sempre resplandecer a glória do Senhor, algo que deve ser percebido por aqueles que lideram, a começar de seus auxiliares.

– Charles Spurgeon é categórico ao dizer que um dos motivos pelos quais Moisés teve a sua face resplandecente foi a sua humildade. “…O homem Moisés era muito humilde e sua humildade entrou em sua autoridade como em todos os atos da sua vida — temos certeza, então, que esta lembrança é para nosso proveito. Tenho medo, irmãos e irmãs, que, por isso, Deus não tem podido proporcionar que nossas faces brilhem — nosso orgulho cresceria demais. É necessário um espírito muito humilde e manso para suportar o brilho de Deus!

Nós temos lido apenas de dois homens cujas faces brilharam — e ambos eram muito humildes. Um é Moisés no Antigo Testamento; o outro, Estêvão, em o Novo Testamento, cujas últimas palavras comprovam sua humildade, pois, quando os judeus o estavam apedrejando, ele orou: ‘Senhor, não lhes imputes este pecado’…” (O brilho da face de Moisés. Sermão pregado em 18 maio 1890. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols34-36/chs2143.pdf , pp.1-2. Acesso em 24 dez 2013) (tradução nossa de texto em inglês). OBS: “… Os líderes humildes não se iludem sobre quem eles realmente são. Eles sabem que vieram ao mundo sem nada e que partirão sem nada e, por isso mesmo, aprenderam a se controlar e a não ser egoístas. Sua disposição para ouvir as opiniões dos outros, mesmo que sejam opiniões contrárias, mostra que esse tipo de liderança não procura o crédito e adulação para si mesma — daí sua capacidade de rir de si mesma e do mundo.…” (HUNTER, James C.op.cit., p.54).

– A humildade de Moisés, aliás, é um dos requisitos que o Talmude traz para todo aquele que tem a presença de Deus sobre si. Diz este que é considerado o segundo livro sagrado do judaísmo: “…Rabi Johanan disse: O Santíssimo, bendito seja Ele, faz a Sua Divina Presença repousar sobre aquele que é forte, saudável, sábio e humilde e todas estas qualificações são deduzidas de Moisés. Forte, porque está escrito: e estendeu a tenda sobre o tabernáculo [Ex.40:19]. E um Mestre disse: Moisés, nosso mestre, estendeu-a; e também está escrito: o comprimento de uma tábua será de dez côvados [Ex.26:16]. Talvez ela fosse comprida mas fina? Mas isto é derivado deste verso: Então peguei das duas tábuas, e as arrojei de ambas as minhas mãos, e as quebrei aos vossos olhos [Dt.9:17}. Então, foi ensinado: as tábuas tinham seis [côvados] de comprimento, seis de largura e
três de espessura. Saudável, [pois está escrito] Derruba-te, [interpretado] sejam teus os cavacos. Sábio: pois Rab e Samuel ambos disseram: Quarenta portões de entendimento foram criados no mundo e a ninguém foram dados a não ser a Moisés, pois foi dito, pouco menor que Deus o [Moisés] fizeste [Sl.8:5]. Humilde, pois está escrito: Ora, o homem Moisés era o varão mais humilde [Nm.12:3]…” (Nedarim 38a) (Disponível em: http://www.come-and-hear.com/nedarim/nedarim_38.html ) (tradução nossa de texto em inglês).

– Depois de falar com os auxiliares, Moisés dirigiu-se a todo o povo e lhes ordenou tudo o que o Senhor falara com ele no monte Sinai (Ex.34:32). O líder autêntico e legítimo deve sempre transmitir aquilo que o Senhor lhe der, a mensagem que o Senhor lhe conceder. Não é por outro motivo que os pastores das igrejas da Ásia Menor são chamados de “anjos da Igreja” (Ap.1:20), precisamente porque a tarefa primeira do ministro de Cristo Jesus é transmitir a mensagem do Senhor para o Seu rebanho.

– Na construção do tabernáculo, mais uma vez Moisés verificaria a necessidade de ter auxiliares para que a liderança fosse efetiva. O próprio Deus disse-lhe que havia chamado Bezaleel, neto de Hur, bem como Aoliabe, filho de Aisamaque, este da tribo de Dã, para que fizessem as peças do tabernáculo. Embora tivesse sido Moisés que contemplara o modelo, foi a estes dois homens que Deus deu sabedoria para que fabricassem as peças, eles mesmos devidamente auxiliados por outros homens, que também eram “sábios de coração” para fazer toda a obra para o serviço do santuário (Ex.36:1).

– Moisés recebeu o modelo do tabernáculo da parte de Deus, o próprio Senhor capacitou aqueles que deveriam fabricar as peças, como também fez com que o povo de Israel contribuísse com os materiais necessários para a edificação do tabernáculo. Todo o povo fez parte desta construção, a demonstrar que todo o povo é necessário para que Deus Se faça presente no meio dele. Temos tido esta consciência?

– Com a construção do tabernáculo, Moisés teve de constituir a Arão e a seus filhos como sacerdotes (Ex.28:1), passando, portanto, a não mais desempenhar as tarefas sacerdotais próprias do cerimonial da lei, que passaram a ser incumbência de Arão e de seus filhos.

– Arão, assim, deixava de ser apenas o porta-voz de Moisés, para passar a ser o sumo sacerdote. A repartição de funções é, portanto, imposta por Deus e devidamente acatada por Moisés, que jamais se arrogou o direito de exercer o sacerdócio, como poderia até, humanamente falando, reivindicar.

– Como é importante sermos obedientes a Deus e aceitarmos as modificações de “status” ao longo de nosso ministério. Moisés soube se adaptar às mudanças impostas pelo próprio Senhor, pois, acima de tudo, era alguém que era fiel ao Senhor e obediente às Suas instruções.

OBS: “…Às vezes abrir mão da liderança não significa incompetência. Há muitos fatores que podem justificar esta aparente incômoda situação, uma das coisas mais difíceis para nós é examinarmos a nossa própria capacidade. Temos que ser, ao mesmo tempo, observadores e objeto de observação (…) o líder idôneo tem a obrigação de se preocupar e, se necessário, se corrigir.

Ele precisa, uma vez por outra, fazer um balanço do seu modo de agir e cotejar os resultados positivos de seu trabalho e de seus liderados, para verificar os erros acasos praticados não resultaram de sua própria indolência, ou prepotência.(…). Se constatar deficiência em alguma coisa e for humilde o suficiente para pedir ajuda, a quem possa somar, verá que sua liderança o fortalecerá ante os seus liderados. Do contrário verá a sua liderança lhe escapar pelos vãos dos dedos, neste caso deve ter a coragem suficiente para abrir mão dela, em favor de alguém mais bem qualificado…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. op.cit., pp.25-6).

– Jamais vemos Moisés se indispondo com seus auxiliares por causa do crescimento deles diante de Deus. Muito pelo contrário, Moisés sempre foi um entusiasta de surgimento de novas lideranças, tanto que escolheu mancebos para que estivessem a seu serviço (Nm.11:28), um dos quais, aliás, haveria de ser o seu sucessor, a saber. Josué, filho de Num (Nm.27:18).

– O próprio Moisés, posteriormente, chegou mesmo a pedir ao Senhor que tivesse auxiliares na própria condução do povo, pois seu encargo era pesado, tendo o Senhor atendido a seu pedido e repartido do Espírito Santo que estava sobre Moisés com setenta anciãos do povo (Nm.11:14-17). Com este gesto, Moisés mostra ter entendido, claramente, que o povo de Deus não poderia ser guiado solitariamente, mesmo nos assuntos espirituais. Tanto assim é que, quando dois dos anciãos profetizam no arraial e Josué, com ciúme de Moisés, vai pedir ao líder que repreendesse aqueles anciãos, o próprio Moisés disse que seu desejo era que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhes desse o Seu Espírito (Nm.11:29).

– Este desejo de Moisés é uma realidade na Igreja, pois o Espírito Santo foi derramado sobre todos os salvos. Deste modo, não pode o líder, em absoluto, querer ser o depositário único do Espírito Santo, o único detentor da “visão”, como tem acontecido na atualidade. Todo o povo do Senhor é profeta e, portanto, todos devem se irmanar, na vontade de Deus, para realizar a obra do Senhor. O líder está à frente, mas não pode se considerar como o dono da verdade. Lembremos disto, senhores ministros!

– Liderança é a capacidade de influenciar outros e não se pode ter liderança sem que estes outros existam. A liderança exige altruísmo.”…‘Atender as necessidades dos outros’. Que bela definição de altruísmo: atender as necessidades dos outros! Quando menciono esse conceito durante os seminários que realizo, há uma pergunta frequente: ‘Antes mesmo de minhas próprias necessidades?’ Sempre respondo: ‘Antes mesmo de suas próprias necessidades, gafanhoto’. Quando você se candidata a líder, tem de fazer isso. A vontade de servir e de se sacrificar pelos outros, a disposição de abrir mão dos próprios anseios pelo bem maior — este é o verdadeiro altruísta e, em consequência, o verdadeiro líder.…” (HUNTER, James C.op.cit., pp.56-7).

– “…O verdadeiro líder deve-se ignorar. O que interessa mesmo é a obra, que, em qualquer circunstância, deve tender para o bem comum, para o interesse geral do grupo e da missão que a promove.(…). Se o líder não optar pelo interesse geral, deixará de ser uma pessoa em que se poderá confiar, por lhe faltar uma das condições mais elementares para o exercício do caro de liderança…” (CARVALHO. Ailton Muniz de. op.cit., pp.23-4).

– Moisés agiu desta maneira. Seu único intuito sempre foi levar o povo até a terra de Canaã, sempre tendo agido de modo a que este objetivo fosse alcançado. Chegou, mesmo, a pedir a Deus que seu nome fosse riscado do livro da vida caso o Senhor não quisesse mais levar o povo até Canaã, quando intercedeu por Israel depois do episódio do bezerro de ouro (Ex.32:32) e isto mesmo diante da oferta divina de que faria de Moisés uma grande nação após a destruição de Israel (Ex.32:10).

– Moisés, ao contrário de muitas lideranças na atualidade, não quis fazer do povo de Deus uma “empresa familiar”, mas antepôs o bem comum, o interesse geral, os outros acima de si mesmo. Por isso, foi ele fiel em toda a sua casa, como disse o escritor aos hebreus. Chegou até mesmo a nem sequer orar para entrar na Terra Prometida, depois de repreendido pelo Senhor a respeito (Dt.3:26), mas, nem por isso, deixou de se preocupar com a entrada no povo na Terra, a ponto de ter pedido a Deus um sucessor que pudesse levar a cabo o projeto da conquista (Nm.27:15-17).

– Este mesmo sentimento teve o Senhor Jesus, que Se entregou pela humanidade (Jo.10:18), doando-Se para que a humanidade pudesse ter comunhão com Deus. O próprio Senhor ensinou Seus discípulos que o conceito de liderança é conceito de serviço. Liderar é servir, “porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc.10:45). Devemos imitar a Cristo (I Co.11:1) e, deste modo, proceder da mesma maneira, sabendo que a liderança deve ser servidora, é tão somente um meio para servir aos outros. OBS: “…No livro de Mateus, no Novo Testamento, Jesus faz uma declaração definitiva sobre liderança. A passagem foi interpretada de várias maneiras, mas o fundamental é que Ele diz que qualquer um que deseje ser o líder deve primeiro servir. Se você quer liderar, deve servir.…” (HUNTER. James C. op.cit., p.42).

– Aprendamos, pois, como o Senhor Jesus e como Moisés a servirmos aos outros e, certamente, poderemos ser líderes exitosos foi Moisés e como é o Nosso Senhor e Salvador. Amém! Colaboração para o Portal Escola Dominical

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L8_caramuru.pdf

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