LIÇÃO Nº 8 – O CUIDADO COM A LÍNGUA
A vida cristã depende do controle da nossa língua pelo Espírito Santo.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos hoje a passagem de Tg.3:1-12, onde o irmão do Senhor fala da necessidade que temos de manter nossa língua sob controle.
– A vida cristã depende do controle da nossa língua pelo Espírito Santo.
I – O PAPEL DA LINGUAGEM NO SER HUMANO
– Dando sequência ao estudo do livro de Tiago, hoje trataremos de um tema que foi minudentemente tratado na epístola, na passagem de Tg.3:1-12, referente ao cuidado que devemos ter com o nosso falar. O irmão do Senhor mostra que o controle sobre a língua é fundamental para que tenhamos uma vida cristã autêntica.
– Antes de tratarmos do que o irmão do Senhor diz a respeito deste importante aspecto da vida sobre a face da Terra, vamos fazer uma sucinta, brevíssima análise a respeito do papel que a linguagem exerce no ser humano, no papel que o próprio Deus reservou ao falar na própria humanidade.
– Quando Deus criou o homem, fê-lo um ser inteligente, e, para mostrar ao homem que ele era um ser racional, mandou que ele desse nome aos animais (Gn.2:19,20). Nete gesto, o Senhor mostra-nos que a linguagem, a capacidade de criar palavras e de elaborar um discurso é a principal manifestação da inteligência, da racionalidade humana.
– A palavra revela-se, assim, o meio principal pelo qual o homem dá demonstração de sua racionalidade, de sua especificidade em relação a todas as demais criaturas terrenas, pois, por ser capaz de criar palavras, de manifestar seu raciocínio por intermédio do falar, mostra sua condição de coroa da criação terrena e de um ser diferenciado.
– Por isso mesmo, embora os demais seres também tenham rudimentos de expressão e de comunicação entre si, nenhum deles consegue, de forma alguma, elaborar um idioma como o homem, criar palavras, fazer com que haja concatenação de ideias e transmissão daquilo que está em seu interior (pensamentos, desejos, sentimentos) para o mundo exterior, pois é isto que a língua realiza, faz com que aquilo que era interno se torne “comum”, conhecido de todos.
– Não é difícil entender, portanto, porque, nas Escrituras Sagradas, as expressões “boca”, “lábios” e “língua” se refiram a esta mente do homem, a seu raciocínio, a sua conformação interior que se exterioriza, como meio de expressão do que está no seu íntimo, daquilo que lhe é essencial, que a mesma Bíblia Sagrada chama de “coração” e “rins”.
– O falar do homem é, portanto, a manifestação da sua própria individualidade, é a exposição daquilo que ele é verdadeiramente no íntimo, é a revelação daquilo que está no chamado “homem do lado de dentro”. As palavras de alguém, portanto, refletem o seu estado interior, a sua essencialidade, o seu caráter.
– Parece-nos que os antigos gregos tinham também esta noção, na medida em que se utilizavam de uma mesma palavra, “logos”, para expressar tanto a razão, tanto o raciocínio, quanto a própria palavra, o próprio discurso. “Logos” em grego tanto significa “razão”, “raciocínio” (daí, por exemplo, a palavra “lógica”), como, também, “palavra”, “discurso” (daí, por exemplo, “diálogo”, “monólogo”), a demonstrar que, na verdade, é através da linguagem que nó expressamos a razão, que os diferencia dos demais seres criados sobre a face da Terra.
– Quando Deus mandou que Adão desse nome aos animais, também fez mostrar ao homem que ele era superior às demais criaturas terrenas, pois o ato de dar nome é um ato que indica autoridade, supremacia. Bem sabemos que esta superioridade era somente em relação aos demais seres criados sobre a face da Terra, não significava, em absoluto, uma independência, uma autonomia em relação ao Criador.
– Todavia, por ter sido enganado pelo diabo e acreditado poder viver sem Deus, o primeiro casal pecou e, ao cair em pecado, teve também um desvirtuamento em relação ao uso da linguagem, que passou a ser empregada para o mal, para uma vã tentativa de se construir uma vida independente de Deus.
– O resultado disso é que a língua, que era uma expressão do domínio do homem sobre a criação terrena, passou a ser um instrumento de escravidão do homem em relação ao pecado e ao mal. O homem perdeu o controle da língua, sendo dominado por ela, na verdade, sua língua passou a ser uma manifestação do domínio do pecado sobre o homem.
– É neste sentido, aliás, que devemos entender o estudo de Tiago, o irmão do Senhor, a respeito da língua, na conhecida passagem de Tg.3:1-12. Tiago, que o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da CGADB, costuma chamar de “doutor em língua”, é bem claro ao nos ensinar que a língua, apesar de ser um pequeno membro do corpo, é de dificílimo controle, sendo que, quem consegue dominá-la, é “varão perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg.3:2).
– O Senhor Jesus, mesmo, salientou este aspecto do falar na vida do ser humano, ao dizer que o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca (Mt.15:11), precisamente porque o que sai da boca é aquilo que procede do coração, a fala é a exteriorização de tudo quanto está em nosso íntimo (Mt.15:17-20).
– Nos dias em que vivemos, dias da iminência do arrebatamento da Igreja, vemos, como nunca, como o inimigo de nossas almas tem se utilizado da linguagem para perverter os homens, para mantê-los alheios à verdade, que é Cristo Jesus (Jo.14:6).
– Desde os estudos filosófico-científicos, até a manipulação deslavada dos meios de comunicação de massa, há todo um movimento para fazer crer ao homem que a linguagem é autônoma em relação à realidade, que ela pode, por si só, empreender uma verdade, que ela se basta. Assim, por meio do uso das palavras, tenta-se construir um mundo de ilusão e onde reinam a paz, a harmonia e a bondade (veja-se a “síndrome do politicamente correto” que campeia em nosso mundo na atualidade), tudo com o fim de manter o homem na mentira de que pode viver sem Deus e sem salvação.
– Ao mesmo tempo em que se constrói esta ilusão de uma linguagem desprendida da realidade e que se basta por si só, também se verifica, ante o aumento da imoralidade, o relaxamento da linguagem, a invasão da obscenidade e do chulo na comunicação, inclusive entre os que crentes se dizem ser, sem falar na verdadeira imbecilização da própria comunicação, que beira, mesmo, a irracionalidade. Este é o triste nível em que se encontra a humanidade perdida e iludida pelo adversário.
– Contra todo este estado de coisas, levanta-se o Senhor que, querendo, como quer, salvar o homem e ensiná-lo a como saber viver sobre a face da Terra, conhecendo a grande importância deste dom que nos deu, que foi o de expressar uma linguagem racional, ter deixado, notadamente no livro de Provérbios, lições preciosas sobre o cuidado que temos de ter ao falar.
II – A RESPONSABILIDADE DE SER MESTRE
– Após ter mencionado que a fé sem obras é morta, o irmão do Senhor toca num assunto que, para o ambiente judaico, era sobretudo importante: a condição de ser mestre.
– Como é sabido, desde o retorno do cativeiro da Babilônia, os judeus passaram a dar grande importância aos “doutores da lei” ou “escribas”, ou seja, aqueles que estudavam a lei e as ensinavam ao povo, atividade que se tornou relevante a partir do momento em que o povo judeu deixou de falar o hebraico, língua em que estavam redigidas as Escrituras, a exigir, portanto, que o conteúdo e sentido do que estava escrito, e que era lido nas sinagogas, fosse explicado pelos entendidos nas Escrituras.
– Os escribas ou “doutores da lei” prosseguiam o trabalho de Esdras que, por ordem do rei da Pérsia, foi até Jerusalém para ensinar o povo na lei de Moisés (Ed.7:1-10). Esdras, que, por isso mesmo, é conhecido como o “segundo Moisés”, dá início, então, a uma tradição de mestres que ensinavam o povo a lei do Senhor, mantendo, assim, vivo o compromisso assumido entre Deus e Israel.
– Não é à toa que o Senhor Jesus tenha sido reconhecido como mestre durante o Seu ministério terreno, título, aliás, que sempre foi aceito e assumido por Cristo durante o Seu ministério terreno (Mt.8:19; 9:11; 10:24,25; 12:38; 17:24; 19:16; 22:16,24,36; 23:8,10; 26:18 etc.), visto que demonstrava ter amplo conhecimento das Escrituras, explicando-as ao povo.
– “…A imagem principal do rabino [‘professor’ ou ‘mestre’ – observação nossa] em todos os séculos é o de um mestre dos preceitos da Torah e do cumprimento de sua prática diária. O precursor e o ‘beau ideal’ desta figura tradicional foi o maior de todos os mestres: Moisés. Em todas as gerações, os judeus se referem carinhosamente a ele como Mosheh Rabenu — ‘Nosso Mestre Moisés’…” (AUSUBEL, Nathan. Rabi ou rabino. In: A JUDAICA, v.6, p.700) (destaques originais).
– Como se pode perceber nesta afirmação do enciclopedista judeu Nathan Ausubel, a figura do mestre dos preceitos da lei sempre foi uma figura importante no ambiente judaico, e a posição de Moisés como o principal dos mestres entre os judeus é ratificada pelo Senhor Jesus, quando chama de “cadeira de Moisés” a posição ocupada pelos escribas e doutores da lei (Mt.23:2).
– No entanto, havia uma diferença marcante entre os ensinos do Senhor Jesus e os ensinamentos dos escribas e doutores da lei, que o próprio Cristo faz questão de distinguir no seu mais duro discurso, relatado em Mt.23. O Senhor mostra claramente que os escribas e doutores da lei, embora ensinassem a lei, não a viviam, não a seguiam, de modo que deveríamos observar tudo quanto eles dissessem, mas não viver como eles viviam, pois eles ensinavam, embora não praticassem (Mt.23:3-5).
– Esta circunstância não foi despercebida pela multidão que ouvia o Senhor Jesus, pois as Escrituras nos afirmam que o povo se admirou da doutrina de Cristo, não pelo seu conteúdo, que, a rigor, era o mesmo que a dos escribas e doutores da lei, ainda que tivesse aprofundado o próprio sentido da lei, mas, sim, porque Cristo, antes de tudo, fazia aquilo que Ele ensinava (At.1:1), de modo que Seu ensino tinha autoridade, ao contrário do que era dado pelos mestres judaicos (Mt.7:28,29).
– Quando Tiago passa a falar sobre os mestres, está continuando o seu raciocínio a respeito da necessidade de uma fé autêntica, que é acompanhada de obras que a manifestem.
– Ora, se qualquer salvo em Cristo Jesus precisa demonstrar a sua fé através de boas obras, frutos que revelem que seu interior é realmente habitado pelo Espírito Santo e que se está diante de uma nova criatura, é evidente que aquele que queira ser mestre, tenha de ter uma conduta ainda mais exemplar, pois, caso contrário, estará sujeito à mesma condição dos escribas e doutores da lei judaicos, que haviam sido duramente repreendidos pelo Senhor Jesus.
– Tiago está a advertir que aqueles que desejavam ser mestres na Igreja, deveriam saber que seriam sujeitos a maior juízo da parte do Senhor Jesus, que, como o maior de todos os mestres, ensinou com autoridade precisamente porque antes fazia para depois ensinar e assim deviam ser todos aqueles que ocupassem tal posição no povo de Deus.
– Tiago mostra que, na Igreja, não havia lugar para escribas e doutores da lei que apenas ensinavam, mas não viviam o que ensinavam. No povo de Deus da nova aliança era absolutamente intolerável que houvesse mestres que não vivessem aquilo que ensinavam e, se assim procedessem, seriam alvo de um duro e implacável julgamento divino, pois, da mesma maneira que o Senhor Jesus havia reprovado severamente os escribas e doutores da lei judeus, também haveria de censurar duramente aqueles que se arvorassem como mestres em Sua Igreja e não tivessem uma conduta ilibada e de boa reputação.
OBS: “…Não apenas os judeus do tempo de Jesus (Mt 23.7), mas também a igreja primitiva, davam grande proeminência ao ofício do ensino.Um mestre tinha autoridade e influência, e muitas pessoas procuravam obter essa posição.2 Tiago adverte seus leitores a não desempenharem o papel de mestre, a menos que estejam plenamente qualificados.
Ele se inclui na discussão e chama a atenção para o resultado que acabara vindo: “sabemos que havemos de receber maior juízo”. Jesus diz: “Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus” (Mt 5.19; ver 18.6). Portanto, ensinar é uma grande responsabilidade com conseqüências duradouras, pois, no dia do julgamento, Deus pronunciará o veredito (Rm 14.10-12).…” (KISTEMAKER, Simon J. Tiago e epístolas de João. Comentário do Novo Testamento. Digitalizado por Kerix Digital, p.147).
– Ser mestre no meio do povo de Deus é se sujeitar a esta absoluta necessidade de se viver como exemplo, de ser um grande produtor de boas obras, de estar sempre pronto a sofrer a “poda de Jesus” para produzir mais e mais fruto (Jo.15:2).
– Ser mestre é ter condição de reproduzir as palavras do apóstolo Paulo, que mandou que os crentes o imitassem, pois era ele imitador de Cristo (I Co.11:1). Paulo, inclusive, faz questão de dizer que os crentes de Corinto lembravam-se dele, ou seja, do seu modo de viver, da sua maneira de ser e, com base nesta lembrança, praticavam os preceitos que ele lhes havia entregado (I Co.11:2).
– É oportuno verificar que Tiago, na condição de pastor da igreja em Jerusalém e, “ipso facto”, o principal mestre dos crentes naquela igreja, podia dizer o que estava a dizer, pois, relata o historiador Flávio Josefo, que toda a cidade de Jerusalém testemunhava a piedade do irmão do Senhor, a ponto de ter se indignado com a sua morte por ordem do sumo sacerdote Anano que, por este motivo, acabou, inclusive, sendo destituído de seu cargo.
OBS: “…Anano, um dos de que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos os judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros: acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento.
Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis. Mandaram secretamente pedir ao rei Agripa que ordenasse a Anano nada mais fazer de semelhante, pois o que ele fizera, não se podia desculpar.
Alguns deles foram à presença de Albino, que então tinha partido de Alexandria, para informá-lo do que se havia passado e dizer-lhe que Anano não podia nem devia ter reunido aquele conselho, sem sua licença. Ele aceitou suas ideias e escreveu a Anano, encolerizado, ameaçando castigá-lo. Agripa, vendo-o tão irritado, tirou-lhe a grã-sacrificadura, que exercera somente durante quatro meses, e a deu a Jesus, filho de Daneu.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas, Livro XX, cap.8, n.856. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.2, p.203).
– Tiago reproduz aqui o ensino do Senhor Jesus no sermão do monte a respeito da justiça que deve ter todo aquele que O servir. Disse o Senhor que quem não exceder em justiça aos escribas e fariseus de forma alguma entrará no reino dos céus (Mt.5:20).
– Esta afirmação do Senhor mostra-nos que a graça é muito mais exigente do que a lei. Com efeito, se não formos seguidores da doutrina de Cristo desde o nosso interior, seguindo a vontade de Deus desde o seu âmago, a partir de uma comunhão com Deus, o que ocorre somente mediante a fé em Jesus, que exige o arrependimento dos pecados, a nos conceder o perdão divino, que nos faz ser alcançados pela misericórdia do Senhor (Pv.28:13), jamais poderemos alcançar a salvação, que se concluirá com a nossa glorificação (Rm.8:30).
– Se qualquer salvo tem de exceder em justiça os próprios mestres judaicos, pois tem de demonstrar a sua fé através da prática de boas obras, pois, caso contrário, esta fé será somente uma ilusão, um discurso vazio, quanto mais aqueles que assumirem a posição de mestres, que tiverem de ensinar os preceitos divinos aos salvos. Estes, sem dúvida alguma, receberão mais duro juízo da parte de Deus, pois têm a responsabilidade de serem exemplos, serem referência para os seus alunos, para os seus discípulos.
– Vemos, portanto, como é dura a missão do mestre na Igreja. Aqueles que o Senhor escolhe para este ministério (Ef.4:11) devem estar cientes de que lhes foi dado um grave encargo, uma responsabilidade muito grande, devendo, por isso mesmo, ter integral dedicação a esta tarefa (Rm.12:7), dedicação esta que não se resume em um intenso estudo das Escrituras e de sua interpretação, o que é absolutamente necessário e indispensável, mas que deve, sobretudo, demonstrar-se por uma vida piedosa, por uma vida de efetiva imitação de Cristo Jesus, pois, para que o ensino tenha autoridade, faz-mister que o mestre tenha o mesmo comportamento do Senhor: primeiramente fazer para depois ensinar.
– Vemos, portanto, amados irmãos, como é grande a responsabilidade dos professores da Escola Bíblica Dominical, que devem ser estes mestres, pessoas que tenham a noção da sua posição na igreja local, tendo uma vida piedosa, autêntica, verdadeira, repleta do poder de Deus, pois não podem, em absoluto, ensinar aquilo que não vivem, ensinar aquilo que não praticam, pois, se assim o fizerem, estarão sujeitos ao duro juízo da parte de Deus e, como diz o escritor aos hebreus: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb.10:31). Que Deus guarde a cada professor de EBD!
III – O NECESSÁRIO CONTROLE DA LÍNGUA
– Ao falar sobre os mestres, que são aqueles que ensinam a Palavra de Deus, aqueles que falam, o irmão do Senhor, então, passa a falar a respeito da língua, da absoluta necessidade de se ter o controle deste pequenino mas tão importante membro de nosso corpo, pois, como já vimos supra, é através da fala que exteriorizamos a racionalidade humana, o que nos distingue das demais criaturas terrenas e nos faz capazes de operar não só o domínio da criação terrena mas, também, o exercício de nosso livre-arbítrio e, por conseguinte, de nosso relacionamento com Deus.
OBS: “…Considerando que o mestre usa palavras constantemente, esta é uma área especialmente perigosa para ele. Tropeçamos em muitas coisas, mas os erros mais difíceis de evitarmos são aqueles que envolvem a língua. Assim, o homem que consegue controlar a sua língua é cognominado de perfeito varão. Tendo domado o membro mais rebelde, ele é capaz de refrear também todo o seu corpo.…” (Tiago – Comentário Bíblico Moody, p.16 – edição digital)
– Tiago reconhece, de pronto, que todos nós tropeçamos em muitas coisas. O irmão do Senhor admite, uma vez mais, a imperfeição do homem e a necessidade de ele caminhar em direção à perfeição, que é, propriamente, a peregrinação terrena do salvo em direção ao céu.
– O irmão do Senhor mostra que não podemos esperar crentes perfeitos, pois a perfeição é um limite a ser buscado pelo salvo em Cristo Jesus, que, no entanto, deve entender que tal estágio somente será obtido quando da glorificação, quando do arrebatamento da Igreja, quando adentrarmos na dimensão eterna.
– No entanto, Tiago afirma que existe um ponto na vida cristã que pode nos dar uma segurança nesta caminhada à perfeição, que é o controle da língua. Diz o irmão do Senhor: “Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg.3:2b).
OBS: “…Duas grandes reflexões nos sugerem estas palavras [Tg.3:2-5, observação nossa]: 1) que é enorme a difusão do vício da língua. Todos os homens — confirma o profeta — são enganosos (Sl.116:11). É este talvez o único pecado que a todos alcança (Rm.3:4 e s); 2) Que dele se derivam males incalculáveis.
Um homem maledicente pode arruinar a riqueza, a fama, a vida e mesmo a salvação eterna, tanto assim é que, feridos pelas injúrias dos que as fazem, deixam-se dominar, por sua vez, por sentimentos de ira e vingança, como por si mesmos que, vencidos por uma vingança mal entendida, não se reduzirá facilmente a satisfazer a seus agravados.…” (Catecismo Romano, cap. VIII – O oitavo mandamento do Decálogo – I. O significado e valor do mandamento. Cit. Tg.3:1-10, n.3800. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 26 jun. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).
– O domínio da língua é um elemento que nos permite ter segurança e firmeza nesta caminhada rumo à perfeição, neste contínuo aperfeiçoamento dos santos. Havendo o domínio da língua, diz Tiago, estaremos nos conduzindo celeremente a uma maior intimidade com Deus. OBS: “…Para Tiago, para ser um cristão verdadeiro não basta apenas a teologia ortodoxa, é preciso também uma língua controlada.…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo, p.59).
– Quem domina a língua, diz Tiago, consegue dominar o corpo inteiro. Quem deixa a sua língua sob controle do Espírito Santo, faz com que todo o seu ser esteve sob o domínio do Espírito Santo, porquanto a língua é o órgão que faz com que exteriorizemos o nosso próprio “eu”, o nosso ser, a nossa vontade, a nossa razão, os nossos sentimentos. Assim como as obras revelam a fé que há em nós, a língua revela aquilo que somos, aquilo que está em nosso interior. Por isso, quem não tropeça em palavra é aquele que está sob completo domínio de Deus, que demonstra, através de seu falar, quem realmente somos.
– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus disse que “o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca isso é o que contamina o homem” (Mt.15:11), tendo Ele mesmo explicado esta afirmação que causou espécie entre os discípulos, da seguinte forma: “Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e é lançado fora? Mas o que sai da boca procede do coração e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem, mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem” (Mt.15:17-20).
– Conforme vemos neste precioso ensino do Senhor, o falar é decorrência do que há em nosso interior. O falar denuncia, manifesta aquilo que está em nós e, por isso mesmo, Tiago afirma que quem tem um falar de acordo com a vontade de Deus, um falar controlado pelo Espírito Santo, tem-se a comprovação de um total domínio do Senhor em nosso ser.
– Por isso mesmo, como afirma o evangelista Luiz Henrique de Almeida Silva, o pioneiro do estudo da Escola Bíblica Dominical na internet, o sinal do integral domínio do Espírito Santo sobre a vida de alguém, que é o revestimento de poder, o batismo com o Espírito Santo, é, precisamente, o falar em línguas estranhas, pois a língua é, indubitavelmente, o único órgão a se render ao Senhor, pois é ela o membro pelo qual se exterioriza o nosso “eu”, a nossa individualidade.
– Tiago, usando das costumeiras ilustrações dos sermões judaicos, faz, então, uma comparação entre a língua e o freio que é posto na boca dos cavalos. Um pequenino freio, posto na boca dos cavalos, controla todo o corpo do animal; assim também, a língua, embora seja um pequenino membro, controla todo o nosso organismo, fazendo com que o corpo seja ou um instrumento de justiça, ou um instrumento de iniquidade (Rm.6:6-13).
– Em outra ilustração, o irmão do Senhor compara a língua ao leme de uma nau, ou seja, de uma embarcação. O leme é um pequeno objeto que dirige toda a embarcação, por maior que ela seja. É o leme quem dá a direção, o sentido da rota do navio. A língua, também, é quem dá toda a direção do ser, pois é através dela que se demonstra qual o nosso real relacionamento com Deus.
– Numa outra ilustração, a língua é comparada por Tiago a um fogo que incendeia todo um bosque, algo que vemos, com frequência, nos noticiários, notadamente em regiões onde escasseia a chuva e que causa grandes incêndios, de dificílimo controle, como as que costumam ocorrer na Califórnia, nos Estados Unidos e na Austrália, mas, também, em regiões do cerrado brasileiro, em épocas de estiagem.
– Uma pequena fagulha de fogo numa região seca provoca incêndios que, para serem controlados, exigem um enorme esforço, às vezes mobilizando centenas de bombeiros e milhares e milhares de litros de água. A língua, embora seja um pequenino membro, também pode causar enormes prejuízos, com a destruição de muitas vidas, caso ela não esteja sob o controle do Espírito Santo, mas, sim, sob o controle da carne, do mundo e do pecado.
– Tiago mostra que a língua pode ser a demonstração de uma vida que se encontra em sequidão espiritual. Assim como uma pequena fagulha numa mata seca pode causar um enorme incêndio, que destruirá tudo que encontrar pela frente, a língua de alguém que não se encontre nos “pastos verdejantes” também poderá causar um enorme prejuízo espiritual.
– Ao comparar a língua como um fogo que incendeia um grande bosque, o irmão do Senhor ensina-nos que a primeira providência que devemos ter para que a nossa língua não seja “inflamada pelo inferno” (Tg.3:6), é não estarmos em estado de sequidão espiritual. Uma fagulha não produz um grande incêndio no bosque, se o bosque estiver verdejante, se houver umidade.
– Ora, para que o bosque esteja verdejante, faz-se necessário que estejamos sendo guiados pelo Senhor, que é o nosso pastor, que nos faz deitar a pastos verdejantes e nos guia mansamente a águas tranquilas, refrigerando a nossa alma (Sl.23:1-3).
– Somente quando nos deixamos guiar pelo Senhor, quando seguimos a Sua direção, podemos ter um ambiente interior que impede que a língua seja utilizada como instrumento de destruição não só de nossas vidas espirituais, como também daqueles que nos cercam.
– Não é por outro motivo que devemos fazer tudo quanto o Senhor nos mandar, que devemos segui-l’O, pois, caso contrário, a língua, este último órgão resistente de nossa individualidade, será inflamada pelo inferno e produzirá grande estrago em nossa vida espiritual.
– Para seguir a Cristo Jesus, é indispensável que neguemos a nós mesmos (Mt.10:38; Mc.8:34; Lc.9:23), que renunciemos a nós mesmos (Mt.16:24; Lc.14:33). Esta autonegação, esta autorrenúncia tem como ponto final a entrega de nossa própria língua ao controle do Espírito Santo, visto que se trata do último foco de resistência de nossa individualidade, pois é o membro pelo qual exteriorizamos quem realmente somos.
– O salmista Davi é claríssimo ao dizer que o Senhor nos faz deitar em verdes pastos, ou seja, para que estejamos num ambiente que impede a propagação da menor fagulha com efeito destruidor, torna-se necessário que nos coloquemos nos braços de Cristo, que Ele nos leve para onde Ele bem desejar. O salmista diz que Ele nos faz deitar em pastos verdejantes, ou seja, a ação é d’Ele, não nossa. Não escolhemos para onde ir, Ele nos leva para o lugar onde, sob os Seus cuidados e proteção, não temos risco de ver nossa língua se transformando em fogo destruidor.
– Os pastos onde o Senhor nos põe são verdejantes e, deste modo, podemos nos alimentar convenientemente, podendo nos fortalecer, enquanto somos cuidados pelo Senhor. Isto nos mostra que, para termos uma língua controlada pelo Espírito Santo, temos de ter contato com a Palavra de Deus, que é o nosso alimento espiritual cotidiano, diário (Mt.4:4).
– Para aprender a ter uma língua controlada pelo Espírito Santo, para termos um falar conveniente e que demonstre a nossa santidade, faz-se mister que ouçamos a Palavra de Deus, que estejamos prontos para ouvir e tardios para falar (Tg.1:19), como, aliás, ensinou o próprio Tiago no início de sua epístola, como já tivemos ocasião de estudar em lição anterior.
– Quando nos dispomos a ouvir a voz do Senhor, a Sua Palavra, mas ouvir no sentido que diz o próprio irmão do Senhor, ou seja, ouvir no sentido de atender e praticar, não sendo mero ouvinte esquecido (Tg.1:22-25), somos levados aos pastos verdejantes, somos guiados mansamente a águas tranquilas e, deste modo, por mais que o inferno queima inflamar a nossa língua, tudo será debalde, pois, onde não há região seca, o fogo não consegue se implantar e se alastrar.
– Vemos aqui mais uma figura a respeito da santificação pela Palavra de Deus, que o próprio Senhor Jesus intercede para que ocorra em cada um de Seus discípulos (Jo.17:17). Por meio da Palavra de Deus, somos postos em pastos verdejantes e, desta maneira, criamos uma situação que neutraliza toda a ação maligna no intento de nos desviar da fé através do mau uso da língua, de uma utilização da língua que signifique a transformação de nosso ser em instrumento de iniquidade.
– O escritor aos hebreus diz que sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14) e esta verdade fica bem ilustrada pela passagem em que estamos a meditar. Quando renunciamos a nós mesmos para ir após o Senhor, deixamo-nos levar para os pastos verdejantes, ou seja, passamos a ouvir e a praticar a Palavra de Deus e, desta maneira, podemos iniciar nossa caminhada rumo ao céu, aproximando-nos cada vez mais do Senhor, mediante a prática constante e cada vez mais intensa daquilo que o Senhor nos manda fazer.
– Quando renunciamos a nós mesmos, devemos tomar a nossa cruz e o que isto significa senão fazer a vontade de Deus, já que a cruz era a vontade de Deus para o Senhor Jesus? Fazer a vontade de Deus é cumprir a Palavra, o que se faz mediante a rejeição de toda a imundícia e superfluidade de malícia (Tg.1:21), que é precisamente o que o apóstolo Paulo denomina de “nossa crucificação com Cristo” (Gl.2:20).
– Não é possível seguir a Jesus, trilhar o mesmo caminho que Ele trilhou, que O levou até a direita do Pai, se não cumprirmos a Palavra de Deus, se não nos deixarmos conduzir a águas tranquilas, se não desfrutarmos do refrigério de Cristo, que Pedro, na pregação após a cura do coxo da porta Formosa do templo, denominou de “tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At.3:19).
– Quem segue a Cristo, ou seja, cumpre a Palavra, renunciando a si mesmo e tomando a sua cruz, passa a estar nestes pastos verdejantes, ao lado das águas tranquilas, desfrutando do refrigério da alma por parte do Senhor e, num ambiente de “umidade espiritual”, não se tem como a língua contaminar o corpo e ser inflamada pelo inferno, levando-nos a “um mundo de iniquidade”.
– A língua aqui representa o velho homem, o homem carnal, que, morto em seus delitos e pecados, anda segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que opera nos filhos da desobediência (Ef.2:1,2). Ela é o membro que exterioriza toda esta natureza pecaminosa que herdamos de nossos primeiros pais (Gn.5:3), natureza esta que é totalmente inutilizada e neutralizada pela nova criatura nascida em Cristo Jesus (II Co.5:17).
– Esta natureza pecaminosa não pode ser dominada pelo próprio homem. Tiago mostra que, embora o homem possa dominar todas as criaturas terrenas, pois foi assim criado por Deus, não pode, entretanto, com suas próprias forças, dominar a natureza pecaminosa que nele habita, devendo, para isto, ter fé em Cristo Jesus, o único que o liberta do pecado (Jo.8:32-36).
OBS: “…A língua aparece primeiro para fazer o contraste: o homem pode dominar animais, mas a língua ninguém pode domar. Não está muito claro o que devemos enxergar no acréscimo que Tiago faz do termo anthrõpõn (“dos homens”) a oudeis (“nenhum”). Isto pode ser simplesmente uma continuação da ênfase na “espécie humana”, do v. 7.
Mas, Agostinho sugere uma interpretação mais sutil: “… ele não diz que ninguém pode domar a língua, mas nenhum dos homens; de modo que quando ela é domada, confessamos que isto se deu pela piedade, ajuda e graça de Deus” (De Nat et. Grat., c.15; Cf. Knowling, p.78)…” (MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário. Trad. de Robinson Malkomes. Série Cultura Bíblica – Vida Nova. Edição digital de Escriba Digital, p.126).
– O homem não tem poder de, por si só, controlar a natureza pecaminosa e esta natureza se revela através da língua, este membro que exterioriza o que há em nosso interior. O irmão do Senhor afirma que a língua está cheia de peçonha mortal (Tg.3:8), porquanto a natureza pecaminosa, a carne é a própria morte imposta à humanidade.
OBS: “…o homem é incapaz de controlar sua própria língua. Quando o homem pecou, perdeu a capacidade de governar a síi mesmo. Perdeu o controle de si mesmo e agora é governado por sua língua. O ser humano pode domar animais ferozes e poderosos, contudo não pode domar sua própria língua.…” (KISTEMAKER, Simon J. op.cit., p.155).
– Paulo, que mais esta vez concorda com Tiago, diz que os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne e tal inclinação é morte (Rm.8:5,6). Por isso, a língua, sendo o membro pelo qual se exterioriza esta realidade interior, está sempre cheia de peçonha mortal, porquanto é a própria demonstração da morte que existe naqueles que não têm a salvação em Cristo Jesus.
– Nenhum homem pode domar a língua, diz Tiago (Tg.3:8), porque homem algum pode salvar-se por si próprio. A salvação vem de Deus. Sem que o Senhor nos salve, crie em nós um novo homem, que esteja em comunhão com Ele, jamais poderemos domar a nossa língua, ou seja, jamais poderemos crucificar o velho homem e viver agora segundo o espírito, não segundo a carne.
– Assim, para que não tropecemos em palavra, caminhando assim para a perfeição, precisamos depender de Deus, devemos nos entregar ao Senhor, deixarmo-nos dominar pelo Espírito Santo. Mais uma vez, Tiago mostra que a vida cristã autêntica somente pode se construir quando negamos a nós mesmos, assumimos nossa imperfeição e a nossa necessidade de sermos servos de Cristo Jesus.
– Tiago, então, volta a insistir na necessidade de termos uma vida cristã autêntica, de aplicarmos a lei real, que é o amor ao próximo, prova de que temos o amor de Deus e que amamos a Deus, mesmo discurso que é retomado, anos mais tarde, pelo apóstolo João, que, não por outro motivo, é conhecido como o “apóstolo do amor”.
– Tiago afirma que não se pode bendizer a Deus e Pai com a língua e, simultaneamente, amaldiçoarmos os homens, com esta mesma língua, uma vez que os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus (Tg.3:9).
– Se, com a língua, bendizemos a Deus e Pai, chamamos a Deus de Pai, é porque estamos a dizer que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos de Deus, se estamos em comunhão com Ele, fazemo-nos participantes da Sua natureza (II Pe.1:4) e, deste modo, temos o mesmo amor que Deus para com todos os homens, amor este que se provou quando Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8).
– Se temos este amor que Deus tem em relação aos homens, como, então, podemos amaldiçoar os homens, que são estas criaturas extremamente amadas pelo Senhor? Como podemos amaldiçoar os homens, querer-lhes mal se recebemos o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5)? À evidência, isto é impossível!
– João, em sua primeira epístola, repete este mesmo ensinamento, ao afirmar que ninguém pode dizer que ama a Deus, que não vê, e dizer que aborrece o seu irmão, a quem vê (I Jo.4:20). O “apóstolo do amor”, aliás, é enfático ao afirmar que se trata de um mandamento do próprio Senhor: “quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (I Jo.4:21).
– Tiago afirma que não convém que de uma mesma boca proceda bênção e maldição, pois de uma fonte de um mesmo manancial não se pode ter, simultaneamente, água doce e água amargosa, como também não pode uma figueira produzir azeitonas ou a videira, figos, como também não pode a mesma fonte dar água salgada e água doce (Tg.3:10-12).
OBS: “…Seria uma monstruosidade, algo espantoso e de arregalar os olhos como antinatural e absurdo se uma figueira começasse a gerar azeitonas! E isto é exatamente tão antinatural como um cristão viver no pecado. Pode ele viver para produzir frutos de iniquidade em vez de frutos de justiça? Deus proíbe que isto seja assim!
Se uma figueira sempre produz azeitonas, nós temos boas razões para questionar se ela é uma figueira, pois uma árvore é conhecida pelos seus frutos. Então, quando alguém professa ser um cristão, mas vive de um modo mundano, há uma forte razão para achar que se trata de um mundano, apesar de sua profissão.
Se é para nós o conhecermos por seus frutos, que é o infalível teste de Nosso Senhor, como podemos imaginar que ele é participante da vida divina pelas coisas que ele faz?…” (SPURGEON, Charles H. Figos e azeitonas. Sermão ministrado no Tabernáculo Metropolitano em Newington na noite de quinta-feira, 11 de setembro de 1879. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols55-57/chs3226.pdf , p.3, Acesso em 28 jun. 2014) (tradução nossa de texto em inglês) (destaques originais).
– Ao fazer estas ilustrações e demonstrar a impossibilidade de isto acontecer em a natureza, o irmão do Senhor está a retomar o que ele já afirmara anteriormente, ou seja, de que não existe uma fé apenas de palavras, mas uma fé efetiva que se manifesta em boas obras.
– Igualmente, ninguém poderá se dizer um homem espiritual, um autêntico servo de Deus, alguém que está salvo se sua língua não estiver sendo utilizada para bendizer não somente a Deus, mas também aos homens, ou seja, a língua revela quem somos, visto que é ela a exteriorização de nosso interior.
– O homem espiritual, que realmente tem o Espírito Santo nele, que é dominado pelo Senhor, que é servo de Deus e faz a vontade d’Ele, é alguém que tem o controle da língua, não pela sua própria força, pois isto é impossível, mas alguém que, por estar numa vida de comunhão com o Senhor, permite que o Espírito de Deus domine todo o seu ser e, desta maneira, a língua reproduzirá esta santidade, apenas bendizendo a Deus e aos homens, jamais fazendo da língua um instrumento de iniquidade, um meio de destruição de vidas.
– Já o homem carnal, que tem apenas aparência de religiosidade, mas que, na verdade, não serve a Deus, está d’Ele separado por causa da vida pecaminosa que leva, este sempre terá uma língua que, embora utilizada para bendizer a Deus, na sua falsa e vazia religiosidade, na verdade, é empregada como uma arma de destruição e de morte, como um instrumento satânico.
Por isso, embora na aparência de religiosidade, esteja sempre a bendizer a Deus, no seu comportamento para com o próximo revela de quem realmente se trata, de sorte que o seu maldizer dos homens demonstrará que se trata de alguém que nada tem de salvo, que nada tem de comunhão com o Senhor.
– Por isso mesmo, o Senhor Jesus, no sermão do monte, disse que homicida era tanto aquele que matava fisicamente o próximo, como aquele que falasse mal do semelhante, chamando-o de “louco” ou “imbecil” (que é o significado da palavra “Raca”), como se verifica de Mt.5:22. Aquele que maldiz o seu próximo revela que é um homem carnal, que se trata de alguém que não ama a Deus, que é dominado pelo pecado e que, portanto, usa a sua língua cheia de peçonha mortal para matar o próximo.
– É precisamente por este motivo, também, que o apóstolo João chama de homicida a todo aquele que aborrece o seu irmão (I Jo.3:15), pois, se aborrece a seu irmão, é porque não o ama e, se não o ama, nada tem de Deus, é um falso religioso, um ímpio, que se encontra dominado pelo pecado e, por isso mesmo, se torna um agente de Satanás, cujo trabalho outro não é senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
– O homem no pecado somente maldiz o seu próximo, porquanto, dominado que está pelo pecado, é pessoa individualista, orgulhosa, soberba e egocêntrica (II Tm.3:1-5). Somente Jesus Cristo, a semente de Abraão que fez benditas todas as famílias da terra (Gn.12:3), pode fazer com que esta atitude maldizente, inerente à natureza pecaminosa do homem, seja transformada em uma atitude abençoadora, pois, quando passamos a fazer parte do corpo de Cristo, assumimos a condição de descendência de Abraão, passando a ser uma bênção para todos os que nos cercam (Gn.12:2; Gl.3:29).
OBS: “…Que bênção você poder usar sua língua como uma fonte de refrigério para as pessoas, para abençoá-las, encorajá-las e consolá-las. Como é precioso trazer uma palavra boa, animadora e restauradora para uma alma aflita. A principal marca do cristão maduro é ser parecido com Jesus, o varão perfeito. Uma das principais características de Jesus era que sempre que uma pessoa chegava aflita perto dele saía animada, restaurada, com novo entusiasmo pela vida.
Quando as pessoas chegam perto de você, elas saem mais animadas e encantadas com a vida? Elas saem cheias de entusiasmo, dizendo que valeu a pena conversar com você? Você tem sido uma fonte de vida para as pessoas? Sua família é abençoada pelas suas palavras? Seus colegas de escola e de trabalho sâo encorajados com a maneira de você falar? ( LOPES,. Hernandes Dias. op.cit., p.68).
– Assim, embora não seja possível uma vida espiritual somente de palavras, estas mesmas palavras revelam o nosso interior e, por isso mesmo, tem-se mais uma evidência da espiritualidade do ser humano, mais um fruto pelo qual reconheceremos os verdadeiros servos do Senhor Jesus.
– Diante destes ensinos de Tiago, devemos nos esforçar para vivermos em comunhão com o Senhor, vivermos sob a completa direção e orientação do Espírito Santo e, deste modo, alcançarmos a santificação, para, assim, completamente dominados pelo Senhor, termos o controle de nossa língua e não sermos homicidas, matando, com a peçonha mortal da carne demonstrada em nossa boca, os homens que estão à nossa volta. Que Deus nos guarde!
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L8_caramuru.pdf