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LIÇÃO Nº 8 – O PODER DE JESUS SOBRE A NATUREZA E OS DEMÔNIOS

lição 08

Jesus, enquanto homem, cheio do Espírito Santo, teve poder sobre a natureza e os demônios.

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do evangelho segundo Lucas, estudaremos hoje o poder que Jesus teve sobre a natureza e os demônios. – Jesus, enquanto homem, foi cheio do Espírito Santo e esta virtude O fez ter poder sobre a natureza e os demônios.

I – O PODER DE JESUS SOBRE A NATUREZA

 – Na sequência do estudo do Evangelho segundo Lucas, estudaremos hoje o poder que Jesus teve sobre a natureza e os demônios, ou seja, os relatos de milagres realizados pelo Senhor Jesus com relação às forças da natureza e aos poderes demoníacos.

– Devemos lembrar, por primeiro, que o Senhor é o criador de todas as coisas (Gn.1:1), de modo que a natureza é Sua criação. Sendo assim, não há porque duvidarmos que o Senhor tem domínio sobre as forças da natureza, de sorte que pode, sim, nela interferir, sempre que o quiser, notadamente para fazer notório o Seu poder e comprovar a Sua soberania para o homem.

– Ao criar o homem, Deus lhe deu o domínio sobre as criaturas terrenas (Gn.1:26-28), sendo este, aliás, um dos aspectos da imagem e semelhança de Deus imprimida no ser humano.

O homem deveria administrar a criação terrena em nome de Deus e, por isso, a natureza lhe estava sujeita, sempre agindo em favor da ação humana.

– No entanto, com o pecado, esta situação se modificou e a natureza passou a ser hostil ao homem, com ele concorrendo, tornando-se um obstáculo para a própria sobrevivência humana, que deveria lutar contra as forças da natureza para poder alcançar o seu próprio sobreviver (Gn.3:17,18).

O pecado gerou, entre outras consequências, a maldição da terra e a criação passou a gemer aguardando a sua redenção (Rm.8:19-22).

– Como temos visto, Jesus, sendo o Cristo, o Messias, tinha de enfrentar e desfazer tudo quanto foi feito pelo pecado. Sua missão era tirar o pecado do mundo (Jo.1:29) e, por conseguinte, todos os efeitos gerados pelo pecado.

Assim, também faz parte de Sua tarefa a redenção da natureza, algo que, entretanto, somente se dará de modo pleno quando do estabelecimento do Seu reino milenial.

No entanto, durante Seu ministério terreno, o Senhor Jesus deu demonstração cabal de que tinha poder sobre a natureza, de que era capaz de redimir a natureza.

Assim como em relação às doenças e à morte física, o Senhor Jesus Se mostrou como o homem perfeito que, cheio do Espírito Santo, mostrou poder sobre as enfermidades, promovendo curas, bem como sobre a morte física, ressuscitando mortos, como sinal e demonstração de que, quando da glorificação, doenças e morte física serão totalmente debelados, também com relação às forças da natureza, o Senhor Jesus mostrou ter domínio sobre eles, sendo o homem perfeito, o último Adão, que tinha domínio sobre a natureza, redenção esta que será definitiva quando do estabelecimento de Seu reino milenial.

– Não é por acaso, portanto, que os evangelhos registram milagres de Jesus Cristo sobre os poderes da natureza, precisamente para demonstrar que Ele é o Messias prometido, Aquele que restaurará não só a humanidade, mas também a natureza que, por causa do pecado, ficou maldita e geme aguardando a manifestação dos filhos de Deus.

– O primeiro milagre de Jesus sobre as forças da natureza mencionado por Lucas é o acalmar da tempestade, que se encontra em Lc.8:22-25, episódio que não é exclusivo deste evangelho, sendo episódio também registrado tanto por Mateus quanto por Marcos.

– Lucas registra que, num daqueles dias, Jesus entrou num barco com Seus discípulos, tendo-lhes dito para que passassem para a outra bando do lago de Genesaré, que é o Mar da Galileia, tendo todos partido. – Como afirma William Hendriksen (1900-1982), Lucas “…ao escrever ‘em um daqueles dias’, mostra que não lhe interessa o tempo exato em que esse acontecimento se deu.

(…) Tudo o que interessa a Lucas é mostrar como Jesus Se revelou, a si, Seu poder e Seu amor, durante uma violenta tempestade.…” (Lucas. Trad. de Válter Graciano Martins, , v.1, p. 584).

– Lucas, neste relato, faz questão de mostrar a humanidade de Cristo Jesus. Ele entrou no barco juntamente com Seus discípulos, sem qualquer diferença entre Ele e eles.

Para passar para o outro lado do lago, precisava, assim como Seus discípulos, entrar no barco.

– Lucas, então, diz que, quando os discípulos e Jesus partiram, para fazer a travessia do mar da Galileia, o Senhor Jesus adormeceu, enquanto os discípulos faziam a navegação.

Temos aqui mais uma demonstração da humanidade de Cristo: Ele não era pescador, não tinha habilidade para fazer a navegação, algo que ficou sob a responsabilidade dos Seus discípulos que eram pescadores e que tinham habilidade e experiência em a navegação naquele lago (muito provavelmente, Pedro, Tiago e João, que eram os discípulos de Jesus que tinham tal experiência, já que tinham sido pescadores ali cf. Lc.5:1-11).

– Além de não cuidar da navegação, o Senhor Jesus, como qualquer ser humano, cansado das muitas atividades, adormeceu, pois estava cansado e precisava de um descanso.

Não se vê, portanto, qualquer diferença entre Jesus e os demais seres humanos, a não ser no que concerne ao pecado. Embora não tivesse pecado, Jesus estava num mundo que se encontrava degenerado, amaldiçoado por causa do pecado e que, portanto, gerava cansaço nas pessoas, pois o ser humano, com o suor do seu rosto, tem de ganhar o seu pão, mediante um trabalho penoso, que exige descanso.

 – É elucidativo que, como afirma Russell Norman Champlin(1933- ), “…Este é o único trecho dos evangelhos que fala de Jesus a dormir. Ele era um verdadeiro homem, e não um anjo a desempenhar um papel.

Sendo homem, Ele estava sujeito às debilidades humanas, ao cansaço e a outras provas(…).

A importância central teológica da humanidade de Cristo é que, assim como Ele participou perfeitamente da nossa natureza, assim também, no plano da redenção, participaremos da natureza d’Ele, o que significa a participação na divindade, conforme se vê ousadamente afirmado em II Pe.1:4…” (O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, com. Luc.8:22, v.2, p.84).

– Observa William Hendriksen: “…Essas palavras não deixam a impressão de que o Mestre adormeceu assim que (ou quase imediatamente) o barco zarpou?

Imediatamente ele caiu em profundo sono, mostrando com isso quão cansado estava; mostrando também que sua confiança no Pai celestial – Seu próprio Pai – era inabalável.…” (op.cit., v.1, p.585).

 – Enquanto Jesus adormecia e os discípulos navegavam, sobreveio uma tempestade no lago, fenômeno natural que não era desconhecido dos discípulos. Com efeito, ensina a geografia e a climatologia que o mar da Galileia é sujeito sempre a estas tempestades. “…O mar da Galileia está localizado ao norte do vale do Jordão. Tem cerca de 21 km de comprimento e doze de largura.

Está aproximadamente a 220 m abaixo do nível do Mediterrâneo. Seu leito é uma depressão rodeada por colinas, especialmente na margem oriental,com seus penhascos escarpados. Quando as correntes frias descem do monte Hermom, cerca de 3.000 m de altura, ou de outros lugares através de passagens estreitas e se chocam com o ar quente que fica sobre o lago, sua velocidade o converte em vento impetuoso.

 Os ventos violentos açoitam as águas com fúria, provocando grandes ondas que golpeiam a proa e os costados de toda embarcação que porventura esteja sulcando a superfície de suas águas.…” (HENDRIKSEN, William. Lucas. Trad. de Válter Graciano Martins, v.1, p.586).

– A vinda da tempestade, a princípio, não causou temor aos discípulos, que acostumados estavam com esta situação, já que tinham vivido anos naquele mar.

No entanto, a tempestade fugiu ao controle daqueles experientes navegantes. Eles experimentavam, naquela tormenta, a realidade da perda do controle da natureza por parte do gênero humano, em virtude do pecado.

As forças da natureza se lhe sobrepunham e o barco estava se enchendo de água, estando a ponto de afundar, de ir a pique.

– Vencidas as habilidades humanas, não restou aos discípulos senão despertar a Jesus, a quem não tinham recorrido logo no início da tempestade certamente porque viram em Cristo apenas um carpinteiro, filho de carpinteiro que nada entendia de navegação.

No entanto, diante da exaustão e do esgotamento dos recursos humanos, os discípulos, então, se chegaram a Jesus e O despertaram e, em desespero, clamaram: “Mestre, Mestre, perecemos”.

 – Como afirma Matthew Henry (1662-1714): “…O modo correto de termos os nossos temores silenciados é levá-los a Cristo, e colocá-los diante d’Ele. Aqueles que com sinceridade chamam o Senhor Jesus Cristo de Mestre, e com fé e fervor o invocam como o seu Mestre, podem ficar seguros de que Ele não os deixará perecer.

Não haverá alívio para as pobres almas que estão sob um senso de culpa, e um medo da ira, até que se cheguem a Cristo, chamando-O de Mestre, e dizendo: ‘Se Tu não me ajudares serei rapidamente destruído’.…” (Comentário Novo Testamento – Mateus a João – edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p. 581).

 – Afirma Cirilo de Jerusalém (313-386) que esta dificuldade passada pelos discípulos tinha o propósito de aumentar-lhes a fé e mostrar que o Senhor Jesus não só beneficiava as pessoas que iam ao Seu encontro, mas era capaz também de beneficiar os Seus discípulos. Há momentos em nossas vidas que precisamos nós mesmos ter a experiência do poder de Jesus e não apenas vê-lo em outras pessoas.

OBS: Eis o ensino de Cirilo: “…Como os discípulos viam que todos recebiam benefícios de Cristo, convinha também que eles se deleitassem com os que receberam à sua vez; porque ninguém considera igualmente as coisas que se fazem nos corpos alheios, como as que se fazem no seu próprio.

Por isso, o Senhor expulsou a seus discípulos os perigos do mar e da tempestade. Donde segue: “E aconteceu que um día entrou Ele e Seus discípulos em um barco e lhes disse: passemos à outra banda e partiram”.…” (Catena áurea. Lc.8:22-25. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c490.html Acesso em 17 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– No mesmo sentido, John Nelson Darby (1800-1882) assim leciona: “…Se os discípulos estão ali por causa de Jesus e com Ele, Ele também está lá e com eles!

O poder d’Aquele por amor de Quem eles estão na tormenta também lá está, para os proteger.

 Eles estão juntamente com o Senhor, no mesmo barco! E se, considerados separadamente, entregues a si próprios, eles podiam perecer, nos desígnios de Deus, eles estavam associados com Jesus.

 A presença do Senhor era para eles sempre garantia. O Senhor permite a tempestade. Mas Ele próprio está no barco — e quando Ele despertar e Se manifestar, tudo ficará calmo!……” (Estudos sobre a Palavra de Deus – Lucas e João. Trad de Dr. Martins do Vale, p.69).

– Jesus, então, levantou-Se e repreendeu o vento e a fúria da água, tendo então cessado tanto um quanto a outra, fazendo-se bonança (Lc.8:24).

– A expressão utilizada por Lucas, no sentido de que o Senhor Jesus “repreendeu” o vento, deu margem a que certos comentaristas entendessem que a tempestade e a fúria da água tivessem sido causadas por Satanás e por demônios, entendendo alguns que isto se fazia porque se queria opor a ida de Jesus até o outro lado do mar da Galileia, onde iria libertar um endemoninhado.

No entanto, não parece ser esta a melhor interpretação. Para tanto, valer-nos-emos do ensino de William Hendriksen.

– Diz este conhecido comentarista do Novo Testamento: “…Qual foi a causa dessa tormenta? Alguns têm expresso a opinião de que Satanás teria participação nisso.

Em abono dessa teoria apresentam-se os seguintes argumentos: 1. Jó 1.12, 19 pressupõe que foi Satanás que provocou um grande vento que soprou do deserto. 2.

No presente relato, fica em evidência que na região pela qual o grupo estava velejando existiam muitos demônios (veja v. 30). 3. O versículo 24 afirma que Jesus ‘repreendeu’ o vento etc. Cf. Marcos 4.39: ‘Fique em silêncio’.

Essas expressões implicam que ele estava falando a objetos inanimados. Entretanto, esta linha de argumentação é bastante frágil, porque: 1. Segundo Jó 28.25, é Deus e não Satanás, que está no controle dos ventos.

Veja também Salmo 48.7; 78.26; 104.3; 107.25; 135.7; 147.18; 148.8; Isaías 11.15; Jeremias 10.13; Amós 4.13; Jonas 1.4; 4.8. 2. Que esses demônios tivessem algo que ver com a vinda dessa tempestade não está declarado. 3. Veja sobre o versículo 24.

Portanto, é muito mais razoável a teoria segundo a qual foi Deus que fez uso das forças físicas que ele mesmo havia criado, empregando-as para a realização de Seu próprio propósito.

As assim chamadas ‘leis da natureza’ são, acima de tudo, Suas leis…” (op.cit, pp.585-6).

 – Russell Norman Champlin também é da mesma opinião, “in verbis”: “…O ‘folclore’ antigo dizia que a influência dos demônios causava ‘temporais súbios’ como aquele aqui descrito, mas não há qualquer prova, nos evangelhos, de que isso está em foco.

O fato de que Jesus ‘repreendeu’ à tempestade, como se fora uma pessoa, não aprova essa superstição.…” (op.cit., com. Lc.8:22, v.2, p.84).

 – Devemos, ainda, tomar cuidado com a interpretação de que a tempestade fora provocada pelo demônio ou era a própria ação de demônios, porque tal entendimento está de acordo com um dos falsos ensinos trazidos pela teologia da confissão positiva, qual seja, de que, com o pecado, a Terra foi entregue ao diabo, o que, sabidamente, não corresponde à realidade.

O diabo domina sobre o mundo espiritual, que está no maligno, mas não sobre a natureza, que, embora atingida pelo pecado, continua sob o domínio de Deus (Sl.24:1).

– Imediatamente, após repreender o vento e a tempestade, o Senhor Jesus fez uma indagação aos discípulos: “Onde está a vossa fé?”.

Esta expressão do Senhor Jesus mostra, com clareza, que, se os discípulos tivessem fé, poderiam ter vencido a tempestade, a mostrar, portanto, que Jesus agiu ali como homem, não como Deus, pois não podia usar atributos divinos em Seu ministério terreno, a fim de vencer, como homem, o pecado e a morte, garantindo-nos, pois, plena salvação.

 Exemplo disso foi a fé do apóstolo Paulo que fez com que toda a tripulação e passageiros daquele navio viessem a se alimentar, mesmo em meio a tamanha e prolongada tempestade, na certeza de que navio se perderia mas não as pessoas (At.27:21-27).

OBS: “…Jesus podia esperar dos discípulos uma fé que superava até mesmo o mais extremo perigo de vida. Seu clamor de aflição atesta incredulidade…” (RIENECKER, Fritz. Lucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p. 127).

– Nesta expressão de Jesus, também, está a demonstração de Seu poder e de Seu amor. “…E então Jesus lhes pergunta:

“Onde [está] sua fé?” Como se quisesse dizer: A tranquilização da tempestade e a suavização das ondas não lhes ensinaram que este seu Mestre é não só muito poderoso, mas também muito amoroso? Portanto, sua resposta não deveria ser a confiança de uma criancinha? É também possível que ao perguntar: ‘Onde está sua fé?’ Jesus estivesse Se referindo tanto ao seu temor recente como ao seu temor presente.

Se esse for o caso, Sua pergunta significaria: “CoMigo como seu Senhor e Protetor, por que vocês tiveram medo da tempestade, e por que ainda estão com medo só porque Eu a acalmei? Onde está sua confiança infantil?…” (HENRDRIKSEN, William. op.cit., p. 589).

 – Jesus, ao repreender a tempestade e a fúria da água, mostra a Seus discípulos que, se tivermos fé, poderemos superar os obstáculos trazidos pelas forças da natureza, pois estas estão sob o controle e domínio de Deus, que sempre quer o nosso bem, de modo que não precisamos nos afligir com a ação das forças naturais, devendo confiar em Deus que nos fará superá-las, desde que confiemos em Cristo e busquemos o Seu refúgio, desde que a Ele recorramos.

– Com a bonança imediata, os discípulos se interrogam: “…quem é Este, que até aos ventos e à agua manda e lhe obedecem?” (Lc.8:25).

Percebem, portanto, que o Senhor Jesus era um homem diferente, que tinha plena comunhão com Deus, o homem perfeito que podia agir sobre a natureza, alguém que era um com o Pai, que podia bem controlar as forças naturais. Como ensina Russell Norman Champlin: “…As palavras

-0 Que homem é este?, nas mãos dos evangelistas, tencionam levar os leitores a responderem: ‘Não é um homem comum, mas dotado de significação cósmica’.

Uma rara majestade há neste relato, que os céticos e liberais têm procurado destruir, chamando-o de mito ou produto da imaginação. Mas por que pensaríamos que o grande Jesus, cheio do Espírito de Deus, não poderia ter feito tal prodígio?

 Todos os homens poderiam fazê-lo, se vivessem perto de Deus como Ele vivia. Ou haveríamos de supor que Deus não pode operar através de um homem desse modo, sobretudo através de Seu Filho divino e Messias nomeado?…” (op.cit., com. Lc.8:25, p.84).

OBS: “…Agora a tempestade tinha passado. E aqueles que a haviam temido, com muita razão temeram aquele que a tinha apaziguado, e diziam uns aos outros: Quem é este? Eles também poderiam ter dito: Quem é Deus como Tu?

Porque aplacar o ruído dos mares, o ruído das suas ondas, é uma prerrogativa exclusiva de Deus, Salmos 65.7.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.581).

– A expressão utilizada pelos discípulos “Quem é Este” faz um paralelo com a expressão dos israelitas ao verem o maná, quando este caiu pela primeira vez no deserto (Ex.16:15). Aliás, a palavra “maná” significa precisamente “que é isto” em hebraico ‘man’.

O maná é mais uma demonstração do poder de Deus sobre as forças naturais e o próprio Jesus mostra que se tratava de uma figura d’Ele próprio em Jo.6:49-51.

Jesus é, pois, Aquele homem em perfeita comunhão com o Pai e que, como Filho, controla a tempestade e o vento, mostrando que o homem em comunhão com Deus pode pedir à Deidade que, tendo controle sobre as forças da natureza, façam com que o homem possa suplantá-las, numa antecipação da redenção da natureza que ocorrerá plenamente no reino milenial de Cristo.

 – É, assim, neste sentido, que a Deidade de Jesus é mostrada juntamente com Sua humanidade neste episódio do acalmar da tempestade. Jesus, como homem perfeito, em plena comunhão com Deus, invoca a Deus e Este controla a tempestade, Deus Este que é, também, o próprio Filho, em perfeita união com o Pai. Como diz Beda (673-735):

“…Assim, nesta navegação, o Senhor demonstra as duas naturezas em uma só Pessoa, já que Ele, que dorme como homem, apazigua como Deus o furor do mar com a Palavra.…” (Cátena áurea. Lc.8:22-25. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c490.html Acesso em 17 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

 – Esta Palavra que apazigua a tempestade é o Verbo, o Filho de Deus, Aquele que sustenta todas as coisas da natureza (Hb.1:3). Como ensina Ambrósio (340-397) :”… Como é que aqui se dorme durante a tempestade? Para expressar a segurança do poder, dormindo só, intrépido, enquanto todos temiam; mas descansava com o sonho do corpo, atento ao mistério da divindade, pois nada se faz sem o Verbo.…” (Cátena áurea. Lc.8:22- 25. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c490.html Acesso em 17 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

Assim Jesus nos mostra que, quando estivermos em comunhão com Ele, poderemos, sim, suplantar as forças naturais, ainda que invocando o Verbo Eterno, pois só Ele tem domínio sobre a natureza, já que sem Ele nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”).

 – A segunda passagem em que Lucas nos mostra ter havido controle de Cristo sobre as forças naturais é em Lc.9:10-17, quando o Senhor realiza o milagre da multiplicação dos pães.

Lucas registra apenas uma das duas multiplicações dos pães e está em foco aqui a primeira multiplicação, pois se trata da multiplicação de cinco pães e dois peixes (Lc.9:13), enquanto que a segunda multiplicação envolveu sete pães e quantidade não especificada de peixes (Mt.15:34; Mc.8:5,7).

– Lucas retrata que este episódio se deu depois que os doze apóstolos retornaram de sua missão evangelizadora, oportunidade em que Jesus os levou para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. Lucas chama os doze de “apóstolos”, porque eles haviam sido “enviados” pelo Senhor para a realização daquela obra, porque eram “representantes oficiais” do Senhor.

OBS: “… Jesus certamente estava familiarizado com a ideia de representantes autorizados, algo conhecido no mundo de Sua época, bem como do conceito do Antigo Testamento de pessoas formalmente enviadas por uma autoridade para realizar uma missão em um local diferente, com poderes de representação e ação, como se fosse a própria autoridade que o havia enviado…” (LOPES, Augustus Nicodemus. Apóstolos:a verdade bíblica sobre o apostolado, p.38).

– Esta iniciativa de Jesus de levar os discípulos para um lugar deserto mostra a necessidade que temos de descansar, mesmo ao realizar a obra de Deus. Como diz William Hendriksen: “…Não se deve trabalhar sem descansar; viver ocupado sem um intervalo; realizar todos os árduos deveres pertencentes à atividade ministerial ou missionária e não fazer um retiro para relaxamento, discussão, oração e meditação.

Até mesmo Jesus, por causa do pesado fardo que tomara sobre si, necessitava de um período de retiro (4.42). O mesmo vale para os discípulos. Foi por isso que ele os convidou a retirar-se com ele para um lugar remoto onde pudessem descansar.…” (op.cit., p.635).

– A multidão, porém, foi até onde estava Jesus e lá o Senhor lhes falou a respeito do reino de Deus e sarava os que necessitavam de cura.. O dia começava a declinar e, então, diante do horário avançado, os doze apóstolos chegaram até Jesus e lhe disseram que despedisse a multidão para que eles procurassem nas aldeias e nos lugares em redor comida e abrigo (Lc.9:12).

Como afirma Fritz Rienecker (1897-1945): “…Jesus dedica-Se às massas como mestre e médico, até a noite (cf. Mt 14.14; Mc 6.34). O dia findava.

Os discípulos estavam preocupados porque a fome inexorável poderia inquietar o povo e arruinar qualquer ensinamento. Para evitar qualquer constrangimento, pediram a Jesus que despedisse o povo.…” (op.cit., p.136).

– Os apóstolos, mesmo tendo vindo de uma missão em que puderam experimentar o poder de Jesus sobre as enfermidades e sobre os demônios, não podiam raciocinar que poderiam suplantar as forças naturais, superando a dificuldade natural que era a de estarem em lugar deserto onde não havia qualquer possibilidade de a multidão saciar a sua fome, visto que haviam ali ficado o dia inteiro sem se alimentar, muito menos que pudessem achar algum abrigo.

 Os apóstolos colocavam-se debaixo do domínio da natureza, não podiam perceber que ali estava o Senhor que poderia ultrapassar os limites naturais.

OBS: “…O problema com esses discípulos era que todos tinham concentrado a atenção na grande multidão faminta. Tinham esquecido de Jesus, de seu poder e de seu amor. Esse esquecimento da parte deles era injustificável.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., v.1, p.639).

 – Jesus, então, desafiadoramente diz que eles deveriam dar de comer àquela multidão e, de imediato, os doze disseram que só tinham ali cinco pães e dois peixes e, portanto, somente poderiam alimentar aquela multidão se tivessem condições de comprar comida para toda aquela gente, que eram quase cinco mil homens, fora as mulheres e crianças.

– Os discípulos, apesar do que já haviam feito, não podiam entender que era possível a realização de um milagre sobre as forças naturais naquela situação.

 O Senhor, então, manda que os discípulos mandassem a multidão se assentar em ranchos de cinquenta em cinquenta. “…o Senhor quer dar-lhes uma nova e muito especial prova do poder e da presença divina que ali se encontrava; tinha sido dito que, no tempo da bênção de Israel por Jeová, quando Ele fizesse florir a coroa de Davi, o Eterno fartaria de pão os Seus pobres (Salmo 132).

E Jesus fá-lo agora! Mas há mais: vemos também que, em todo este Evangelho, Jesus exerce esse poder na Sua humanidade, pela energia ilimitada do Espírito Santo.

 Daí uma bênção maravilhosa para nós, concedida segundo os soberanos desígnios de Deus, pela perfeita sabedoria de Jesus na escolha de Seus instrumentos.

Ele quer que sejam os discípulos a distribuírem o pão. Todavia, é bem o Seu poder que realiza o milagre, porque os discípulos não enxergavam nada para além daquilo que os seus olhos podiam avaliar.

Aliás, embora seja o Senhor que tudo sacia, em a Natureza que Ele revestiu, toma sempre lugar sob a dependência: retira-Se com os Seus discípulos e, lá longe, afastado da multidão, ora ao Pai (verso 18).…” (DARBY, John Nelson. op.cit., p.72).

 – Jesus não poderia, de forma alguma, despedir a multidão. Mesmo sendo um período de descanso, quando a multidão ali chegou, o Senhor a atendeu. Agora, que estava faminta, não poderia simplesmente despedi-la. Mais uma vez, Lucas mostra a compaixão do Senhor Jesus pelo homem, Seu profundo amor e é por este amor e compaixão que produzirá o milagre, suplantando as leis naturais.

– Após todos terem se assentado, o Senhor tomou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu e os abençoou, tendo-os partido e dado aos Seus discípulos para os porem diante da multidão, tendo todos comido e se saciado, sobrando doze cestos de pedaços.

– Ao orar a Deus, antes de iniciar a realização do milagre, mais uma vez temos demonstrada a humanidade de Cristo.

Não se tratava aqui de uma retomada da glória de que o Senhor havia Se despojado quando da encarnação, mas de uma demonstração de fé em Deus e de que, em comunhão com o Senhor, quando movidos pelo amor e pela compaixão, podemos, sim, suplantar as forças naturais, sendo ouvidos por Deus para que o milagre aconteça.

OBS: “…Os quatro evangelistas devem ter ficado impressionados com o fato de Jesus proferir uma oração de gratidão antes de multiplicar o alimento, porque todos eles relatam o fato.(…)

É costume judaico proferir uma oração de bênção ou de gratidão antes da refeição. A oração atraiu uma bênção maravilhosa para um alimento tão insignificante.

O pouco de comida serviu para saciar milhares. Jesus, que não realizara o milagre para saciar Sua própria fome ao ser tentado pelo diabo, fez uso de Seu poder miraculoso para saciar os outros, os muitos. Até mesmo sobraram doze cestos, cheios de bocados.…” (RIENECKER, Fritz. op.cit., pp.136-7).

 – Tanto assim é que o Senhor apenas partiu os cinco pães e os peixes (Cf.Mc.6:41), logo em seguida, mandou que os próprios discípulos os distribuíssem e estes puderam ver que, por suas mãos, o milagre era realizado. Enquanto cada um entregava a porção do pão para as pessoas da multidão, o pão se mantinha em suas mãos de modo milagroso, de modo maravilhoso. É por nossas mãos que o Senhor quer fazer maravilhas, amados irmãos!

“…Pensemos na vastidão do poder de Jesus, que pode produzir alimento suficiente e instantâneo para tão grande multidão!…” (CHAMPLIN. Russell Norman. op.cit. com. Lc.9:14, p.92).

– João Crisóstomo (347-407) bem diz que, ao entregar os pedaços de pães e os peixes na mão dos apóstolos, Jesus os honra, mas também faz com que jamais se esquecessem daquele milagre.

Ao mesmo tempo, “…não faz do nada aqueles alimentos para dar de comer à multidão a fim de fechar a boca do maniqueu [adepto da heresia do maniqueísmo-observação nossa], o qual diz que toda criatura é alheia a Ele. E também para demonstrar que quem dá de comer é o mesmo que disse: ‘Produza a terra’ (Gn.1:11).

Multiplica também os peixes para dar a entender que não só estende Seu domínio sobre a terra, mas também aos mares. Já tinha feito milagres em benefício dos enfermos, agora o faz em benefício dos que não estão enfermos, mas que necessitam de alimento…” (Mat. hom, 50. In: Cátena áurea. Lc.9:10-17. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c496.html Acesso em 17 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

 – Em mais uma oportunidade, pois, Lucas nos revela o poder de Jesus, enquanto homem cheio do Espírito Santo, sobre as leis naturais.

 – A terceira e última passagem em que Jesus é mostrado por Lucas como tendo poder sobre as forças da natureza é em Lc.9:28-36, que nos fala a respeito da transfiguração, um episódio em que Jesus revela toda a Sua deidade aos Seus discípulos mais íntimos, Pedro, Tiago e João, desfazendo os limites entre o natural e o sobrenatural, a ponto de dialogar com Moisés e Elias, que estavam no “mundo d’além”, no “mundo vindouro”, como chamavam os judeus à dimensão eterna.

– Mesmo neste momento singular de Seu ministério terreno, em que a humanidade de Cristo é absorvida pela Sua deidade, vemos que isto não se dá como uma simples demonstração da glória divina, mas, sim, depois que o Senhor passara um momento de oração (Lc.9:28,29). O homem perfeito é um homem de oração e, como tal, é que Jesus terá o momento da absorção momentânea desta humanidade pela Deidade, a fim de mostrar a Sua glória aos Seus discípulos íntimos, fato que jamais seria esquecido deles, pois é mencionado tanto por João (Jo.1:14) quanto por Pedro (II Pe.1:16,17).

– Como ensina Matthew Henry: “…a narrativa da transfiguração de Cristo, que teve o propósito de manifestar um pouco da Sua glória, na qual Ele virá para julgar o mundo, da qual Ele recentemente esteve falando, o que era, consequentemente, um estímulo para que os Seus discípulos sofressem por amor a Ele, e que nunca se envergonhassem d’Ele.(…) não obstante o fato do Senhor Jesus estar vestido com um corpo, e nos dando alguma ideia da glória à qual Ele entrou em Sua ascensão, e na qual Ele agora aparece dentro do véu.

Este lindo episódio da transfiguração também serviu para aumentar e estimular as nossas esperanças e expectativas a respeito da glória que está reservada para todos os crentes no estado futuro.…” (op.cit., p.589). – Jesus revela a Sua deidade aos Seus discípulos íntimos, a nos provar que, se formos cada vez mais próximos ao Senhor, também veremos a Sua glória, algo que somente vem pela fé, como disse o próprio Senhor a Marta no episódio da ressurreição de Lázaro (Jo.11:40).

Quando mais nos aproximamos de Deus, mais Ele Se aproxima de nós (Tg.4:8). A oração é uma atitude que nos leva até a glória de Deus, que nos faz entrar no “Santo dos santos”, onde está a glória do Senhor (Hb.10:19-23).

– Apesar de ter mostrado toda a Sua deidade aos discípulos, a ponto de não só fazer resplandecer a Sua glória, como também poder entrar em diálogo com pessoas que se encontravam na dimensão eterna, a saber, Moisés e Elias, o assunto tratado por eles era a morte de Cristo (Lc.9:30,31), a nos revelar que sem esta morte não poderíamos, em hipótese alguma, ter acesso à presença de Deus, à glória divina.

– Jesus apresenta-Se, portanto, como a ponte, o único elo entre este mundo e a glória divina, não havendo, pois, como se atingir o estado de glória a não ser por Ele. Gerou-se um ambiente tão agradável que Pedro quis construir três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra, para Elias, mas, quando dizia ele isto, sobreveio uma nuvem que os cobriu e o Pai, do meio dela, deu mais um testemunho de Jesus, dizendo ser Ele o Seu Filho que muito Lhe agradava e a quem se deveria escutar, tendo, então, cessado aquela manifestação, não vendo mais os discípulos senão o próprio Jesus, sem qualquer aparência gloriosa.

 – Jesus mostrava, assim, que, como homem perfeito, não só tinha controle sobre a natureza inanimada, mas, também, sobre a própria natureza humana, tanto que superava a Sua própria humanidade, para Se apresentar glorioso e em contato com o mundo dos mortos.

A própria natureza humana pode ser sobreposta pelo poder de Jesus. Aleluia! – Por Cristo Jesus, também, havemos de superar, um dia, a natureza humana e passaremos a ter um corpo glorificado, no qual adentraremos na glória de Deus para todo o sempre, como nos ensina o apóstolo Paulo (I Co.15:50-56).

Por isso, devemos nos manter constantes, servindo ao Senhor, aguardando aquele dia (I Co.15:57,58) e repetindo as palavras do poeta sacro José Teixeira de Lima: “Na presença estar de Cristo em Sua glória, que será, lá no céu, em pleno gozo, minha alma O verá. Face a face espero vê-l’O, no além do céu de luz; face a face em plena glória, hei de ver o meu Jesus” (primeira estofe e refrão do hino 118 da Harpa Cristã).

 II – O PODER DE JESUS SOBRE OS DEMÔNIOS

– Tendo visto os três episódios em que Lucas mostra Jesus tendo poder sobre a natureza, agora veremos as ocasiões relatadas pelo evangelista em que o Senhor mostra Seu poder sobre os demônios.

– Antes de analisarmos propriamente as passagens do terceiro evangelho a respeito, devemos nos lembrar que o mal também é uma criatura divina, como se lê claramente em Is.45:7.

Mas, como podemos entender que o Senhor, que é bom (Lc.18:19), possa criar o mal, já que do puro ninguém pode tirar o imundo (Jó 14:4)? – Logo no limiar do relato da criação, é dito que o Senhor criou céus e terra (Gn.1:1), dando, pois, a entender que tudo quanto existe nos céus foi obra de Deus.

Na dimensão celestial, as principais criaturas divinas são os anjos, chamados de “filhos de Deus” no livro de Jó (Jó 1:6; 2:1 e 38:7), livro que nos dá conta de que foram eles criados antes da própria terra.

 – Tais anjos foram criados com livre-arbítrio, pois eram, a exemplo de Deus, seres morais e, portanto, podiam escolher entre o bem e o mal. Um deles, que a Bíblia denomina de “querubim ungido” (Ez.28:14), escolheu o mal, quis ser superior a Deus e, nesta sua escolha, que era uma possibilidade criada pelo próprio Deus, acabou gerando nele mesmo a iniquidade (Ez.28:15), que passou a ser não mais uma possibilidade, mas, sim, uma realidade, dando origem ao mal, opção que foi seguida por um terço das criaturas celestiais (Ap.12:4).

Entende-se, pois, porque Deus criou o mal: criou o mal apenas como uma possibilidade, que se tornou uma realidade no instante em que o querubim ungido se rebelou contra Deus e foi, neste ponto, seguido pela terça parte dos anjos.

– O mal, portanto, não é uma força impessoal ou mesmo uma força que se equipare ao bem e que seria um dos lados do universo. Não, não e não!

O mal é algo que está perfeitamente sob o controle de Deus, que o previu como uma possibilidade e que se torna realidade no momento em que o querubim ungido escolhe rebelar-se contra Deus.

O mal, portanto, é uma realidade produzida no interior do querubim ungido, que se tornou o diabo e Satanás, que controla e domina sobre a terça parte dos seres celestiais que o seguiram neste intento de revolta, convencidos que foram por ele nesta fracassada tentativa de se voltar contra Deus, sendo este o significado da “multiplicação do comércio” mencionada em Ez.28:16.

 – Já condenado por Deus, quando de sua rebelião, o diabo e seus anjos estão a aguardar a execução desta pena, pois já está preparado um lugar para eles cumprirem a pena do tormento eterno, qual seja, o fogo eterno (Mt.25:41), também chamado de lago de fogo e enxofre (Ap.20:10).

– O diabo, a antiga serpente (Ap.12:9), fonte de todo o mal realizado, também convenceu o primeiro casal a se rebelar contra Deus e, estes, tentados, acabaram por pecar, dando origem, então, ao mundo espiritual que está no maligno (I Jo.5:19), onde é ele o príncipe (Jo.12:31; 14:30; 16:11), onde é ele o deus (II Co.4:4).

– Enquanto príncipe deste mundo e deus deste século, o diabo domina os seres humanos que, com sua natureza pecaminosa, herdada de Adão, não pode escolher o bem, mas tão somente o mal, ficando, por isso, separados de Deus (Is.59:2).

Há, assim, uma amizade entre o diabo e os seres humanos, consequência do pecado, amizade que faz com que os homens fiquem presos ao pecado, nada façam senão os desejos pecaminosos (Gn.4:7).

– Neste engano constante que o diabo impõe aos homens, que se acham capazes de viver sem Deus, não demorou muito para que os seres humanos fossem a tal ponto ludibriados que passaram a crer que podiam manipular as forças da natureza, por meio de magia e feitiçaria, que nada mais é do que a invocação dos poderes demoníacos, visto que, enquanto seres angelicais, o diabo e seus anjos são maiores do que os seres humanos (Sl.8:4,5).

– Em meio a magia e a feitiçaria, o homem, na verdade, acaba se pondo a serviço dos demônios e aí temos a figura da possessão e da opressão demoníacas, circunstâncias em que o diabo e seus anjos passaram a dominar sobre uma pessoa.

– Jesus, dentro de Sua missão de desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8), tinha, também, de mostrar o Seu poder sobre os demônios, libertando os homens tanto da opressão quanto da possessão demoníacas. Com efeito, em nenhum outro momento, a Bíblia registra que tenha ocorrido expulsão de demônios, também chamada de exorcismo.

 – É o próprio Jesus quem diz que um dos sinais da chegada do reino de Deus era a expulsão de demônios (Mt.12:28; Lc.11:20).

Assim, o fenômeno da expulsão de demônios somente chegou efetivamente com a vinda do Messias, com a chegada de Cristo Jesus em Seu ministério terreno.

 – Verdade é que, desde Salomão, segundo Flávio Josefo, havia notícia da prática de exorcismo por parte dos judeus. No entanto, tal prática era bem diferente daquilo que foi instaurado pelo Senhor Jesus.

Diz Josefo a respeito disto: “…Deus lhe havia dado perfeito conhecimento da natureza e de suas propriedades sobre o que ele escreveu um livro; empregou esse conhecimento em compor, para utilidade dos homens, diversos remédios, dentre os quais alguns tinham mesmo a força de expulsar os demônios, que estes não se atreviam a voltar.

Tal maneira de expulsá-los está ainda em uso entre os da nossa nação…” (Antiguidades Judaicas VIII, 2, 324. In: História dos hebreus. Trad de Vicente Pedroso, v.1, p.176).

Certamente é a este tipo de exorcismo que Jesus Se refere em Mt.12:27, bem como faziam os exorcistas mencionados em At.19:13.

 – O exorcismo judeu, portanto, não era senão a utilização de práticas mágicas e de variantes da feitiçaria existente nos outros povos, que, certamente, foi criada por Salomão no período em que caiu em idolatria. Como ensina Russell Norman Champlin: “…Os judeus aqui referidos evidentemente eram exorcistas profissionais, que haviam ficado profundamente impressionados com o poder exibido pelo apóstolo Paulo na expulsão dos demônios.

E sabendo que ele assim agia através do poder do nome de Jesus, resolveram acrescentar o nome de Jesus às invocações que consideram eficazes para tais coisas.

O descobrimento de vários papiros de origem não-cristã, acerca de antigos ritos mágicos, tem-nos demonstrado que o nome de Jesus foi incorporado a tais sistemas.…” (op.cit. com. At.19:13, v.3, p.415).

– Até a vinda de Cristo, portanto, havia somente um embuste, fabricado pelo próprio inimigo de nossas almas, que fazia crer que as pessoas podiam expelir os espíritos malignos, mas o verdadeiro poder sobre os demônios, a verdadeira libertação somente veio com o Senhor Jesus, Este, sim, o único que poderia libertas as almas oprimidas pelo diabo.

 Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro, na casa de Cornélio, ao resumir o ministério terreno de Jesus, disse que Ele foi ungido com Espírito Santo e com virtude, fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo (At.10:38).

– Pela própria expressão do apóstolo Pedro, que foi registrada pelo próprio Lucas, vemos, com clareza, que o poder de Jesus sobre os demônios é mais um poder que Lhe foi concedido pelo Espírito Santo, agindo Jesus, portanto, como homem, tanto que puderam também os discípulos, em o nome de Jesus, expulsar demônios (Lc.10:17).

– Como em todo o seu evangelho, Lucas sempre vai mostrar Jesus expulsando demônios não para demonstração de poder, mas, sim, como consequência de Seu amor e compaixão para com os que se encontravam miseravelmente oprimidos por Satanás e seus anjos.

– A primeira expulsão de demônios narrada por Lucas encontra-se em Lc.4:33-36, quando Jesus expulsa um demônio de um homem na sinagoga.

É elucidativo que o primeiro endemoninhado seja liberto dentro de uma sinagoga, um lugar sagrado, onde as pessoas vinham adorar a Deus e ouvir a Sua Palavra, a nos mostrar que o diabo não tem medo de templos, nem de lugares destinados ao culto a Deus.

 – Devemos, mesmo, amados irmãos, ficar precavidos com esta circunstância, pois, máxime nos dias de apostasia em que vivemos, não é difícil encontrarmos a ação de espíritos enganadores durante os cultos nas igrejas locais. Aliás, foi o que disse o apóstolo Paulo em I Tm.4:1.

Precisamos ter muito discernimento espiritual para distinguirmos quando é Deus que está atuando e quando são os demônios. Que Deus nos guarde, amados irmãos!

– Jesus entrou na sinagoga e o espírito que dominava o homem exclamou em alta voz: “Ah! Que temos conTigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus” (Lc.4:34). Jesus, porém, sem Se importar com a “propaganda” feita pelo demônio, mandou que ele se calasse e saísse daquele homem, tendo, então, o demônio lançado o homem por terra e saído dele sem lhe fazer mal.

 – Neste episódio, vemos a grande astúcia de Satanás e de suas hostes. Jesus não havia dirigido palavra àquele homem, mas o demônio quis fazer uma “propaganda” de Jesus, quis criar uma circunstância em que o Senhor Se envaidecesse e Se mostrasse como o Messias para toda aquela gente que se encontrava na sinagoga.

 – Jesus, porém, não aceitou este pseudo-louvor, esta “ajudazinha” do inimigo. Não abriu qualquer diálogo com o espírito imundo, tendo simplesmente mandado que ele se calasse e saísse daquele homem.

Neste momento, vemos outra característica do demônio: ele sempre quer fazer espetáculo, quer impressionar.

 Lançou o homem por terra, mas, ante o poder de Jesus, não pode fazer mal àquele homem, simplesmente tendo saído dele, diante da autoridade do Senhor. – Devemos aprender com Jesus.

 No nome do Senhor, devemos tão somente mandar que o demônio saia da pessoa, não dando margem seja à vaidade, seja ao espetáculo. É lamentável vermos, em nossos dias, verdadeiros “shows” que são feitos para expulsar demônios, algo que serve apenas para a autoglorificação de quem expulsa e para a satisfação do demônio que quer nada mais, nada menos senão o encobrimento do nome de Jesus e que se perca a oportunidade para a glorificação do Senhor.

– Ante a libertação daquele homem, todos ficaram espantados na sinagoga e diziam uns aos outros a respeito do poder da Palavra que mandava com poder e autoridade para que os espíritos imundos saíssem e eles saíam.

– Este mesmo poder que Jesus exerceu está à nossa disposição em nossos dias. O próprio Lucas registra que o Senhor, ainda em Seu ministério terreno, delegou tal autoridade tanto aos doze apóstolos (Lc.9:1), quanto aos outros setenta discípulos (Lc.10:17).

 Este é um sinal que segue os que creem em Jesus (Mc.16:17), mas, infelizmente, é algo que vem rareando em nossos dias, precisamente por falta de busca do poder de Deus por parte dos que cristãos se dizem ser.

Que busquemos ao Senhor para que possamos, assim como Ele, expulsar demônios para que o nome de Jesus seja glorificado. – O segundo episódio de expulsão de demônios relatado por Lucas encontra-se em Lc.8:26-39, que é conhecido como o episódio do endemoninhado gadareno, visto que Jesus agiu em Gadara, que Lucas menciona como sendo a “terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia” (Lc.8:26).

– Segundo William Hendriksen, “…Era uma região de túmulos, alguns deles provavelmente vazios, covas lavradas nos paredões de rocha que se erguem desde a orla oriental do lago.

O território estava localizado na região fronteira à Galileia. Uma colina muito íngreme caía quase verticalmente até à própria orla da água (v. 33). A informação combinada apresentada no texto indica Khersa, situada diagonalmente fronteira a Cafarnaum.…” (op.cit., v.1, pp.583-4).

– Assim que Jesus desceu em terra, vindo do outro lado do mar da Galileia, onde, aliás, ocorreu o episódio supramencionado do acalmar da tempestade, veio ao Seu encontro um homem que era possesso de demônios e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.

 – O endemoninhado veio em direção a Jesus e se prostrou diante de Cristo, exclamando com grande voz: ‘Que tenho eu conTigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?

Peço-Te que não me atormentes’. Esta atitude daquela legião de demônios não era qualquer “reconhecimento” da soberania de Jesus, mas mais uma cilada para que o Senhor Se envaidecesse e, inclusive, mantivesse a possessão demoníaca que tanto maltratava aquele homem.

 – Esta ação, explica-nos Lucas, era consequência da ordem que o próprio Jesus havia tomado de ordenar a expulsão daqueles espíritos. Jesus ensina-nos que devemos ter grande discernimento.

 O Senhor ordenou a expulsão daqueles demônios antes mesmo que aquele pobre homem se aproximasse, vindo dos sepulcros.

– A possessão demoníaca era terrível, já que não se tratava de um único espírito imundo, mas de vários. O homem, pela sua ferocidade, era preso com grilhões e cadeias pelos que habitavam naqueles lugares, mas conseguia, com força descomunal, quebrar tudo isto e era impelido pelos demônios para os desertos.

 – Não podemos, portanto, subestimar o poder demoníaco, visto que ele é superior ao dos homens. Somente o nome de Jesus segura os demônios, nada mais. Em nossos dias, há pessoas querem “domesticar” demônios com alternativas humanas (temos notícia até de pessoas dando tranquilizantes a endemoninhados, como se isto resolvesse alguma coisa…).

 Aprendamos com esta passagem que nada, a não ser o nome de Cristo, pode expulsar demônios. Só ele tem autoridade para expulsar demônios, ninguém mais. – Jesus, então, em vez única em todas as expulsões de demônios, inicia um rápido diálogo com aqueles espíritos imundos, tão somente para que todos que estavam a ver a cena soubessem que ali não estava apenas um espírito, como, astutamente, havia se manifestado a legião em sua exclamação em alta voz.

Jesus, então, dirige-se aos demônios e manda que lhe dissessem seu nome, tendo, então, eles confessado que seu nome era “legião”, confirmando que se tratava, pois, de muitos demônios.

– Os espíritos imundos, então, que haviam pedido para não sair do homem, pediram para que não fossem mandados para o abismo, pedindo que lhes fosse permitido entrar numa vara de porcos que pastava por ali, tendo o Senhor Jesus concedido tal pedido e, então, os demônios saíram do homem e a manada se precipitou de um despenhadeiro no lago, afogando todos aqueles porcos.

 – Tal episódio ensina-nos várias coisas. A primeira é que não devemos dialogar com demônios, como alguns fazem por aí. O objetivo de Jesus neste rápido diálogo era apenas para mostrar que se tratava de muitos demônios, para que o episódio do afogamento dos porcos não fosse interpretado como poder descomunal daqueles espíritos imundos.

 A expulsão de demônios deve apenas glorificar o nome do Senhor, não podendo ser usada como oportunidade para envaidecimento do servo de Deus e, muito menos, para “propaganda” dos demônios.

OBS: “…Jesus queria revelar ao possesso a gravidade de sua condição. Com o fim de livrá-lo dela, ele deseja acalmá-lo e fortalecer a consciência de sua própria personalidade.

 Ele quer “tirá-lo de debaixo”, isto é, quebrar o vínculo de sua estreita associação – quase identificação – com o demônio, ou demônios, que por tanto tempo exercera domínio sobre ele.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., v.1, p.595).

 – A segunda lição deste episódio é que Jesus tem pleno poder sobre os demônios e que, portanto, o mal, como já dissemos, é um poder pessoal, ao contrário das forças da natureza e que o mal não está no mesmo nível do bem.

Muito pelo contrário, o mal é subordinado ao poder divino, tanto que os demônios tiveram de sair daquele homem, apesar de não o quererem, bem como somente não foram levados para o abismo porque lhes foi concedido ir para os porcos.

Por que Jesus permitiu tal coisa? Porque esta incorporação nos porcos reafirmava o caráter imundo daqueles animais e punha fim a uma evidente violação da lei, pois se estava a criar porcos quando os porcos eram animais imundos para os judeus (Lv.11:7).

 – A terceira lição deste episódio é que o objetivo dos demônios não é outro senão a morte e a destruição. Uma vez incorporados nos porcos, o que fizeram aqueles demônios?

Simplesmente afogaram todos aqueles animais. Por isso, devemos ter compaixão e amor pelos endemoninhados, sabendo que, se não forem libertos dos demônios, serão destruídos e mortos fisicamente, após muito sofrimento, pois é só isso que fazem os demônios, é sua única missão. Já condenados à perdição, procuram levar consigo todos quantos seres humanos puderem.

– Em contraste, aquele homem, que andava nu e que tantas vezes tinham os demônios tentado matar, foi totalmente restabelecido a seu perfeito juízo e, quando os moradores de Gadara chegaram, uma vez avisados por aqueles que cuidavam dos porcos, viram o homem vestido, assentado aos pés de Jesus, ou seja, aprendendo com o Senhor (Lc.8:35).

 – Ao ver tal cena maravilhosa, que mostra como Jesus veio transformar e libertar o homem, o que fizeram os gadarenos? Pediram que Jesus Se retirasse deles!

Mesmo vendo o poder transformador de Cristo, eles preferiam continuar com a imundície, ali bem representada pela criação de porcos. Assim é a reação que muitos têm tido em relação a Jesus: mesmo vendo o poder libertador de Cristo, preferem continuar com o pecado.

 – O homem que havia sido libertado, sentindo a rejeição daquela gente, quis retirar-se junto com o Senhor Jesus, mas o Senhor mandou que ele ficasse em Gadara e contasse aos seus conterrâneos as coisas que Deus lhe havia feito, tendo ele se tornado um pregador naquelas regiões.

– É isto que Jesus faz com o homem: transforma um possesso em um pregador do Evangelho.

Jesus continua a fazer isto em nossos dias. Entretanto, temos ido ao encontro destas pessoas possessas, num momento em que a possessão demoníaca aumenta consideravelmente, já que estamos no momento final desta dispensação, num período imediatamente anterior ao arrebatamento da Igreja?

A propósito, também durante o ministério terreno de Cristo, aumentou consideravelmente a ação demoníaca, como uma tentativa de resistência à ação do Messias, mas, como vemos, isto foi infrutífero, pois o poder de Jesus é superior ao dos demônios.

– A terceira narração de expulsão de demônios em Lucas encontra-se em Lc.9:37-45, quando se tem a cura do jovem lunático, ocorrência que se deu logo após a transfiguração de Jesus, assunto já tratado acima.

 – Quando Jesus desceu do monte na companhia de Seus discípulos íntimos (Pedro, Tiago e João), um homem da multidão foi ao encontro de Cristo pedindo que olhasse para o seu filho, que era único, pois um espírito o tomava e de repente clamava e o despedaçava até espumar e só o largava depois de quebrantado, tendo o homem pedido aos discípulos de Jesus (os nove que não haviam subido ao monte) e eles não tinham podido expulsar este demônio.

– O que observamos aqui é que, pelos sintomas mencionados por Lucas, estivéssemos diante de uma pessoa epiléptica.

Isto não significa que toda epilepsia é provocada por demônios, mas temos aqui a demonstração bíblica que algumas enfermidades são, sim, causadas ou potencializadas por espíritos demoníacos e devemos, portanto, ter o devido discernimento espiritual, pois Satanás também pode provocar doenças nas pessoas, como era o caso mencionado pelo evangelista Lucas nesta passagem.

 – Jesus, então, repreendeu os discípulos pela incredulidade deles. A exclamação de Jesus revelava o Seu desejo de que os discípulos crescessem espiritualmente.

Ele não estaria ali fisicamente com eles por muito mais tempo e era necessário que eles confiassem em Deus e pudessem realizar a obra.

Será que o Senhor, ao ver nossas igrejas locais, não está a exclamar do mesmo modo, vendo a nossa incredulidade que é tal que os demônios não tenham sido expulsos em nosso meio nestes dias de apostasia espiritual? Pensemos nisto, amados irmãos!

OBS: “…Quão deficientes eram os discípulos em sua fé. Embora Cristo tenha lhes dado poder sobre os espíritos imundos, eles não puderam expulsar este espírito maligno, v. 40. Eles não confiavam no poder que receberam e do qual deveriam tirar as suas forças, ou na comissão que lhes foi dada, ou ainda não se exercitaram em oração como deveriam ter feito; por isto Cristo os reprovou. O geração incrédula e perversa! O Dr. Clarke entende esta expressão como se o Senhor estivesse dizendo aos seus discípulos: “Ainda estais sem fé e cheios de falta de confiança, de forma que não podeis desempenhar a tarefa que eu vos dei?…” (HENRY. Matthew.op.cit., p.591).

– Jesus, então, mandou que lhe trouxesse aquele jovem. Ao se aproximar de Jesus o rapaz, o demônio o derrubou e o jovem convulsionou, tendo, porém, Jesus repreendido o espírito imundo, curando o menino e o entregando a seu pai. Como resultado disto, todos pasmaram da majestade de Deus.

– Vemos, mais uma vez aqui, como atua o demônio. Seu objetivo é a destruição e morte. Este espírito queria sempre matar e destruir aquele jovem, não tendo podido fazê-lo apesar de todos os esforços, porque havia um propósito divino de libertação, a nos mostrar que o mal é subalterno aos desígnios divinos, que jamais tem o mesmo poder do bem, como ensinam as falsas doutrinas do chamado dualismo, que se apresentam em religiões como o zoroastrismo e o taoísmo, sendo que esta última tanta influência tem tido em movimentos como a Nova Era em nossos dias.

– Outro elemento que tiramos deste episódio é que o demônio gosta de espetáculo, de impressionar pela aparência. O demônio, diante da aproximação do jovem a Jesus, derrubou e convulsionou o menino, querendo, com esta situação, abalar a fé e a confiança de todos na libertação.

Jesus não Se deixou levar por isto, tendo simplesmente repreendido o espírito, que teve de deixar o menino. Muito provavelmente foi esta circunstância que abalou a confiança e a fé dos discípulos que não puderam expulsar este espírito, embora os outros evangelistas tenham registrado, neste episódio, que o que faltou àqueles homens foi jejum e oração, pois tal espírito pertencia a uma casta que somente sairia com jejum e oração (Mt.17:21; Mc.9:29).

OBS: Tal justificativa nos textos dos outros evangelhos é objeto de considerações por alguns biblistas, entendendo que tal texto não seja autêntico, pois ausente em alguns manuscritos. – A quarta expulsão de demônios registrada por Lucas se vê em Lc.11:14-28, quando o Senhor Jesus expulsou um demônio que era mudo e, quando o demônio saiu, o mudo falou, tendo a multidão se maravilhado, mais um caso em que se tem uma enfermidade motivada por possessão demoníaca.

– Diante desta expulsão, alguns procuraram apresentar um argumento contrário a esta operação de Cristo, dizendo que Ele expulsava os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios, enquanto outros tentavam a Jesus pedindo-lhe um sinal do céu.

– Jesus, então, mostrou que a expulsão de demônios que Ele havia trazido era bem diferente das práticas exorcistas até então praticadas. Tratava-se de uma verdadeira libertação, de uma ação contra o reino de Satanás, mostrando que a expulsão de demônios é um sinal da vinda do reino de Deus.

 – A expulsão de demônios, ensina-nos o Senhor Jesus, é uma ação contra o reino do mal, que não permite qualquer manifestação pecaminosa, como a vaidade, o orgulho e o espetáculo.

 A expulsão de demônios tem como objetivo a retirada da “armadura satânica” e tudo quanto mostrar o que não é de Deus, evidentemente não é a operação de libertação genuína.

Devemos ter muito cuidado com os eventos de suposta libertação maligna que hoje tem ocorrido em muitos lugares e que não preenche estes requisitos estabelecidos pelo Senhor Jesus.

– A propósito, o Senhor Jesus mostra claramente que uma atitude desta natureza gera o risco de se ter um aprisionamento ainda maior das forças do mal, havendo um estado pior do que o primeiro, algo que, nestes dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, é evidenciado pela ação dos espíritos enganadores no meio dos que cristãos se dizem ser (I Tm.4:1).

OBS: “…A parábola de Jesus possui a seguinte relevância prática muito séria: quando a receptividade para Jesus não leva a uma decidida entrega a Deus e à obra dele, bem como a uma renúncia igualmente decidida ao arqui-inimigo de Deus, é justamente essa indecisão que prepara a melhor oportunidade para que as influências do maligno se apoderem do ser humano.…” (RIENECKER, Fritz. op.cit., pp.168-9).

 – A quinta e última expulsão de demônios narrada por Lucas encontra-se em Lc.13:10-17, quando se tem a cura de uma mulher paralítica em uma sinagoga num dia de sábado, onde temos mais um caso de enfermidade provocada por possessão demoníaca.

 – O evangelista diz que, enquanto Jesus ensinava na sinagoga, estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade já há dezoito anos. Jesus, então, pôs as mãos sobre a mulher e disse que ela estava livre daquela enfermidade, tendo a mulher se endireitado, tendo glorificado a Deus.

– Esta expulsão de demônios foi feita com imposição de mãos, porquanto havia uma enfermidade a ser curada mediante a libertação.

Jesus mostra, mais uma vez, a Sua compaixão e o Seu amor para com os oprimidos e os possessos. Será que temos amor e compaixão para com estas pessoas, em dias tão difíceis como os que vivemos, de escalada da atuação demoníaca, mais um sinal da iminência do arrebatamento da Igreja.

– A reação a esta expulsão foi a repreensão do príncipe da sinagoga por causa da cura ter se dado no dia de sábado, tendo, então Jesus repreendido esta dureza de coração, por meio do formalismo legal, declarando que ali havia uma possessão demoníaca que já durava dezoito anos e que era indispensável a sua libertação.

 A tal repreensão, todos os adversários de Cristo ficaram envergonhados e o nome do Senhor foi glorificado pelas ações de Cristo.

 – Este é o objetivo da expulsão de demônios, a libertação das pessoas que são oprimidas pelo diabo para que o nome do Senhor seja glorificado.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://portalebd.org.br/files/2T2015_L8_caramuru.pdf

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