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LIÇÃO Nº 8 – PAULO, O DISCIPULADOR DE VIDAS

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da vida e do ministério do apóstolo Paulo, hoje analisaremos o trabalho de Paulo no ensino da Igreja.

– Paulo foi ensinador e doutor na Igreja.

I – A NECESSIDADE DO ENSINO NA IGREJA

– A pregação do Evangelho é o anúncio das boas-novas de salvação, é levar a mensagem que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e leva para o céu, mensagem esta que, pregada pela Igreja, é misturada com a fé salvadora pelo Espírito Santo (Hb.4:2), que convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8), levando-o ao arrependimento.

Segue-se, então, o perdão dos pecados, a conversão, a justificação, a adoção como filho de Deus e a santificação posicional. Aquele que crê em Jesus como seu único e suficiente Salvador nasce de novo, da água e do Espírito, passa a pertencer à Igreja, passa a ser um filho de Deus.

– Entretanto, assim como ocorre na vida física, também na vida espiritual temos que aquele que acabou de nascer, ou seja, o “neonato” (ou recém-nascido), é alguém que não tem condições de, imediatamente, andar por si só, viver por conta própria, caminhar com suas próprias forças até o dia em que se encontrará com o Senhor nos ares.

A vida espiritual, ensinam-nos as Escrituras, é um combate diuturno contra o mal e o pecado, uma luta sem tréguas, em que “remamos contra a maré”, contra o curso deste mundo
(Ef.2:2).

– Quando alguém se converte a Cristo e nasce de novo, é um recém-nascido, é uma pessoa que não tem conhecimento algum a respeito das coisas de Deus, a respeito da vida com o Senhor Jesus.

Embora tenha recebido uma nova natureza, embora seu espírito tenha se ligado novamente a Deus, ante a remoção dos pecados, é um ser humano e, como tal, precisa ser ensinado a respeito do Senhor, ensino este que deve ser proporcionado pela Igreja, que é a quem o Senhor cometeu esta tarefa sobre a face da Terra. Jesus é quem salva, mas é a Igreja quem deve “fazer discípulos”, quem deve “ensinar”.

– Esta realidade espiritual notamos em diversas passagens do ministério terreno de Jesus. Quando o Senhor chamou os Seus primeiros discípulos, ao chamá-los, disse que os faria “pescadores de homens” (Mt.4:19; Mc.1:17), ou seja, embora eles tivessem deixado tudo para servir a Jesus, ainda não eram “pescadores de homens”, algo que deveria ser aprendido, que demandaria tempo e esforço tanto por parte do Senhor, quanto dos Seus “discípulos”.

– Aliás, o fato de os seguidores de Jesus serem chamados de “discípulos” é mais um fator para nos demonstrar que o crescimento espiritual não é imediato e exige o ensino da doutrina. “Discípulo” significa “aluno”, “aquele que aprende”.

Jesus, a exemplo dos mestres judeus do seu tempo (os chamados “rabis”, hoje denominados de “rabinos”), era seguido pelos seus “alunos”, ou seja, por aqueles que queriam aprender as lições do mestre, por aqueles que esperavam aprender do mestre o conteúdo das Escrituras. João tinha os seus discípulos (Mt.9:14),

assim como Jesus. Estes “discípulos” eram pessoas que, fundamentalmente, queria aprender com Jesus, tinham interesse em tomar conhecimento daquilo que Jesus lhes queria transmitir e, por causa deste interesse, recebiam a revelação daquilo que estava oculto às demais pessoas (Mt.13:10,11).

– Ser “discípulo” de Jesus é querer aprender de Jesus e o próprio Jesus enfatizou que é necessário que aprendamos d’Ele se quisermos encontrar descanso para as nossas almas (Mt.11:29). Somente sendo

“discípulo”, ou seja, querendo aprender a respeito de Jesus, que nada mais é que aprender a respeito das Escrituras (Mt.22:29; Jo.5:39), é que teremos acesso à verdade e, por isso, seremos santificados (Jo.17:17), daremos fruto a ponto de sermos reconhecidos como filhos de Deus (At.11:26) e, por causa disto, desfrutaremos da vida eterna com o Senhor (Mt.13:23,43).

– O salvo é nascido da água e do Espírito, ou seja, é gerado de novo por causa da Palavra de Deus, a que ele deu crédito e que proporcionou a regeneração (Ef.5:23; Tt.3:5), mas é indispensável que, além de termos nascido, nós, também, tenhamos crescimento espiritual, crescimento este que se dá somente pela graça e pelo conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Ef.4:15,16; II Pe.3:18).

– Para que haja crescimento espiritual, portanto, é necessário que a Igreja ensine os crentes a ter uma vida espiritual, que ensinem aos crentes o que é viver com Cristo, o que é andar segundo o espírito, o que é ser um verdadeiro, genuíno e autêntico discípulo de Jesus.

Quem deve ensinar tais coisas ao que aceitou a Cristo é a Igreja, pois para isto é que o Senhor edificou a Sua Igreja. Como já temos estudado neste trimestre, não é possível para o homem, criado como um ser social, que viva sozinho e sozinho sirva ao Senhor.

Assim, como a vida espiritual deve ser feita na igreja, em grupo, assim também é a este grupo, à Igreja que cabe a responsabilidade de ensinar os salvos, de “fazer discípulos”.

– Quando uma pessoa nasce de novo, encontra-se na mesma posição de Lázaro ressuscitado. Jesus, depois de quatro dias, quando o corpo de Lázaro já estava em decomposição, mostrou o Seu poder sobre a morte, fazendo-o ressurgir dos mortos.

Milagrosamente, Lázaro saiu da sepultura com vida. Entretanto, é interessante notar que Lázaro foi para fora da sepultura, mas se encontrava ainda todo enfaixado, conforme os costumes judaicos de preparação do cadáver.

Jesus não determinou que Lázaro fosse daquele jeito para casa nem tampouco Se incumbiu de desligar o ex-defunto. Mandou que aquelas pessoas que estavam ali vendo o milagre tratassem de tirar as faixas de Lázaro, de modo que ele próprio (Lázaro) fosse para a sua casa (Jo.11:44).

– Assim ocorre com o novo convertido: só Jesus poderia trazê-lo à vida, ou seja, salvá-lo; mas cabe a nós que estamos com Jesus neste mundo tomar as providências necessárias para que o novo crente se desligue de tudo aquilo que estava relacionado com a vida sem Cristo, ou seja, com a morte espiritual, para que ele, individualmente, siga em direção à sua casa, onde já o aguarda o Salvador. Aleluia!

– A Igreja, portanto, tem uma função importantíssima e indelegável: o de ensinar as pessoas a servir a Cristo, a caminhar com o Senhor. Para que a pessoa aprenda a servir ao Senhor, é preciso que conheça as Escrituras, pois são elas que testificam de Cristo (Jo.5:39).

Para que a pessoa aprenda a servir ao Senhor, é necessário que não erre e somente não erraremos se conhecermos a Palavra do Senhor (Mt.22:219; Mc.12:24). Por isso, a tarefa de ensino da Igreja é a do ensino da Palavra de Deus, do ensino das Escrituras.

– A Igreja que não ensinar a Palavra de Deus aos seus integrantes, a começar dos novos convertidos, não estará cumprindo a sua tarefa sobre a face da Terra.

Não basta pregar o Evangelho, mas é necessário que, uma vez as pessoas se decidindo por Cristo, sejam elas devidamente ensinadas na Palavra do Senhor, tenham conhecimento das Escrituras, sem o que não se tornarão discípulos de Jesus e quem não for discípulo de Jesus não entrará no céu, pois só aqueles que assim se comportarem poderão dar fruto e, portanto, ser considerados como justos e resplandecerem no reino do Senhor, como o Senhor deixou claro na interpretação que deu da parábola do joio e do trigo.

II – PAULO, O ENSINADOR DA IGREJA

– Tendo estudado Paulo, o apóstolo, ou seja, o plantador de igrejas, agora nos debruçaremos sobre o Paulo ensinador e mestre, pois, além de ser ele “o apóstolo dos gentios “, foi também “o doutor dos gentios” (I

Tm.2:7; II Tm.1:11).

– O Senhor preparou Paulo desde o ventre da sua mãe para exercer o ministério que lhe estava reservado pela Divina Providência (Gl.1:15) e esta preparação é patente no que toca ao papel que Paulo teria no ensino da Palavra de Deus na Igreja, tanto em seu tempo quando em todo o tempo em que a Igreja ficar sobre a face da Terra.

– A exemplo do que ocorreu com Moisés, que o Senhor, para que bem pudesse liderar o povo de Israel, preparou para que fosse instruído em toda a ciência dos egípcios (At.7:22), o que significava, no tempo dele, a excelência do conhecimento humano até então existente, também, com relação a Paulo,

quis o Senhor que fosse ele formado em todo o conhecimento filosófico e religioso de seu tempo, tendo nascido e sido criado em Tarso, centro filosófico estoico de renome na época, bem como formado na lei de Moisés em Jerusalém aos pés de Gamaliel (At.22:3), que era simplesmente o grande mestre da lei naquele tempo (At.5:34).

– Todo este conhecimento adquirido antes de sua conversão não era em vão, mas uma eficaz preparação para que pudesse ele desempenhar, na medida querida pelo Senhor, a tarefa do ensino na Igreja, até porque seria ele o grande doutrinador do povo de Deus, precisamente por ter a cabal revelação do significado da nova aliança em Cristo Jesus (Ef.2-3), de seu papel transcultural.

– Neste propósito divino, o Senhor o fará testemunhar as disputas havidas entre Estêvão e os judeus gregos nas sinagogas de Jerusalém (At.6:9) e particularmente o último sermão do primeiro mártir do Cristianismo (At.7:2-55), cuja influência na vida de Paulo é inegável, como podemos atestar pelo sermão que o apóstolo fez na sinagoga de Antioquia da Pisídia (At.13:16-41).

– Ao se converter, portanto, não é de se espantar que logo vá pregar nas sinagogas de Damasco, em disputas com os judeus, pregando que Jesus era o Cristo (At.9:20,22), o que iria repetir em Jerusalém (At.9:29).

– Já neste primeiro momento, notamos na vida de Paulo um importante papel de ensinador. Tanto em Damasco quanto em Jerusalém, ainda que novo na fé, utilizando-se do conhecimento escriturístico que possuía, o apóstolo interpreta as Escrituras a partir da pessoa de Jesus Cristo.

Paulo é extremamente cristocêntrico, bem entende o que o Senhor Jesus dissera a respeito das sagradas letras, que elas testificam d’Ele (Jo.5:39).

– Paulo, desde os primórdios de sua jornada de fé, tinha como foco de toda a Palavra de Deus a pessoa de Cristo Jesus e esta já é uma importante lição que temos de ter. Paulo buscava Cristo nas Escrituras e, ao ensiná-las, tinha como único objetivo fazer com que Cristo fosse formado em cada um de seus ouvintes (cfr. Gl.4:19).

– Paulo vivera num ambiente em que se exaltava o conhecimento intelectual como um objetivo em si mesmo. Era proveniente tanto do ambiente filosófico grego, e, ainda mais, do estoicismo, escola filosófica que considerava que o primado da razão era a fonte da felicidade e o objetivo de todo ser humano (cfr. I Co.1:22), como do ambiente farisaico, onde o conhecimento da lei e a observância escrupulosa da “cerca da Torá”

(mandamentos criados pelos homens para prevenção do cumprimento dos mandamentos divinos) eram também a razão de ser da vida. 

– Entretanto, ao ter um encontro pessoal com Jesus, o apóstolo aprendera que o conhecimento intelectual como um fim em si mesmo é meramente um “esterco”, um “lixo” (cfr. Fp.3:8), ou seja, algo que não tem em si mesmo qualquer valor, se não tiver por finalidade nos levar até a Cristo, Ele, sim, sabedoria, justiça, santificação e redenção feito por Deus para nós (I Co.1:30).

– Não foi por acaso que, após esta iniciação no ensino da Palavra em que, ainda com pregações e disputas, o apóstolo mostrava Cristo nas Escrituras, o Senhor Jesus vai levar o apóstolo a um tempo de introspecção e de aprofundamento no estudo das Escrituras, que são estes três anos de “repouso sabático” em que Paulo fica isolado, tendo experiências diretas com o Senhor Jesus e aprimorando o seu cristocentrismo na forma de ler e compreender as Escrituras (Gl.1:15-18).

– É interessante notar que este período de três anos é resumido pelo apóstolo como o tempo em que Deus revelou Seu Filho em Paulo (Gl.1:16). Temos aqui uma importantíssima definição do que seja o “discipulado”.

– Paulo é por muitos considerado um “apóstolo do Cordeiro” e, mesmo que assim não seja considerado, é um “apóstolo do Espírito Santo” diferenciado, precisamente porque teve um contato direto e pessoal com o Senhor
Jesus, que não se limitou ao episódio de sua conversão (cfr. At.26:16; I Co.11:23).

– A exemplo dos doze, Paulo foi instruído diretamente por Cristo, com Ele aprendeu, e por um período similar ao dos doze (já que o ministério terreno de Jesus teve três anos e meio de duração aproximadamente), tendo sido, pois, um “discípulo” do Senhor. E, para Paulo, isto fez com que “Deus revelasse Cristo nele”.

– Ser discípulo de Jesus é ser aprendiz de Nosso Senhor e Salvador e este aprendizado nos leva a que Cristo seja revelado em nós e, deste modo, nos conformamos à imagem de Cristo, tornamo-nos semelhantes a Ele, parecidos com Ele, de tal maneira que passamos a ser identificados como irmãos do Senhor, como filhos de Deus, como “cristãos”, isto é, “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo” (Rm.8:29; Jo.1:12,13; At.11:26).

– Tendo aprendido quem é Jesus, tendo se conformado à imagem de Cristo, tendo se tornado um cristão, Paulo estava, assim, preparado para ensinar os outros aquilo que havia aprendido, e, então, Barnabé vai buscá-lo em Tarso para que fosse, juntamente com ele, discipular os novos convertidos em Antioquia (At.11:25,26).

– Começa o trabalho do discipulador Paulo. Durante todo um ano, o futuro apóstolo se mostra como um mestre, como um ensinador da Palavra de Deus. Inicia seu trabalho, que perduraria durante toda a sua vida, de discipular vidas, de formar Cristo em cada uma delas, de gerar novos cristãos.

– Notamos, portanto, que, para que alguém possa discipular, é preciso, primeiramente, que seja um discípulo. Esta verdade já se apresentara nas Escrituras ainda no tempo da lei, quando é dito aos pais israelitas que eles deveriam ter a lei em seus corações para que as pudessem intimar para seus filhos (Dt.6;6,7; 11:18,19).

– Não é possível darmos aquilo que não temos. Destarte, quem não tem Cristo formado nele, quem não tem Cristo revelado em si, não pode, em absoluto, formar Cristo ou revelar Cristo no outro. É por isso que Tiago, o irmão do Senhor, diz que o mestre receberá mais duro juízo (Tg.3:1), porquanto, ao abrir a sua boca para ensinar, procurarão nele a pessoa de Jesus e, pergunta-se, será que a encontrarão?

– Paulo foi exitoso nesta sua primeira experiência de discipulador. Após um ano de ensino, o texto sagrado nos diz que os crentes de Antioquia passaram a ser chamados pelos seus concidadãos de “cristãos” (At.11:26).

– “Cristão” significa “pequeno Cristo”, “parecido com Cristo”. Quando a população de Antioquia começa a chamar aqueles salvos de “cristãos”, eles estão a testemunhar que aquelas pessoas eram parecidas com Jesus, assemelhavam-se a Ele, eram como que “reproduções” de Jesus.

– Mas alguém pode perguntar: mas Jesus esteve algum dia em Antioquia? Como as pessoas de Antioquia conheciam Jesus, já que o ensino de Paulo àqueles crentes deve ter ocorrido por volta de 43, ou seja, 14 anos após a morte, ressurreição e ascensão do Senhor, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen.

– Jesus nunca esteve em Antioquia, mas os crentes anunciavam o Evangelho naquela cidade e, por meio da pregação, as pessoas ficaram a conhecer quem era Jesus e, ao fazerem o paralelo entre o Jesus pregado e anunciado pelos salvos e o modo de vida daqueles homens e mulheres chegaram à conclusão de que os crentes viviam como Jesus, imitavam a Jesus e, por isso, passaram a chamá-los de “cristãos”.

– Paulo, ao ensinar aqueles crentes, fê-los viver como Jesus, conformou a sua imagem a de Cristo, revelou Cristo neles, formou Cristo neles. É este o objetivo, a finalidade, o propósito do discipulado, que será sempre perseguido pelo apóstolo ao longo da sua carreira.

– Paulo já é contado, em Antioquia, como um dos profetas e mestres que havia naquela igreja (At.13:1). Ao ser separado para apóstolo, juntamente com Barnabé, que também era profeta e mestre, parte em sua primeira viagem missionária também levando consigo estes dons.

– Dizemos dons porque temos aqui dois dons: o dom de ensino e o dom de mestre. O dom de ensino, um dom assistencial (Rm.12:7) é um dom didático, é a capacidade de transmissão de conhecimento, de fazer as pessoas compreenderem as coisas espirituais, as coisas de Deus, enquanto o dom de mestre é mais profundo, é a capacidade de revelar as profundidades das Escrituras para a igreja, a fim de aprimorá-la espiritualmente.

– Paulo tanto possuía um dom quanto o outro. Se ensinava os rudimentos das doutrinas de Cristo a todos os que ganhava para Cristo, tanto tinha profundas e tremendas revelações, como podemos ver em suas epístolas (cfr. II Pe.3:15),

lembrando que Paulo foi inspirador escritor das Escrituras e que, portanto, trouxe melhor compreensão sobre o significado da Igreja e da graça de Deus, mas que, em nossos dias, os mestres não têm esta inspiração, que se encerrou com a completude do cânon, nada, portanto, podendo ser acrescentado às Escrituras, mas somente explicado pelos mestres a partir de então.

– Já em Antioquia da Pisídia, vemos o discipulador Paulo em ação. É dito que, após o anúncio do Evangelho na sinagoga, alguns judeus e prosélitos religiosos seguiram Barnabé e Paulo (At.13:43), ou seja, passaram a ser discipulados por eles, não tendo sido diferente em Icônio (At.14:3).

– É bom deixar registrado que este modo de agir de Barnabé e Paulo, na primeira viagem missionária, não se constituía em qualquer inovação ou invenção deles, pois este era o padrão da igreja desde o dia de Pentecostes: pregação, ensino, realização de sinais, prodígios e maravilhas e comunhão (At.2:42-47; 5:42).

– Na segunda viagem missionária, não foi diferente. Paulo, em Tessalônica, também discipulou os crentes que havia ganhado para Cristo, mas teve de interromper este discipulado abruptamente por causa da perseguição (At.17:4-10).

– É neste ponto que temos explicitado o cuidado que o apóstolo tinha com o discipulado. Impedido de completar o discipulado em Tessalônica, ele tenta, de todas as formas, voltar para lá, sem êxito (I Ts.2:17-3:5).

– Paulo preocupava-se com os tessalonicenses pois, sem que eles tivessem sido devidamente ensinados na Palavra, estavam agora a padecer perseguição e tal circunstância poderia levá-los à perda da fé, já que não tinham ainda amadurecido suficientemente para suportar os embates da vida cristã.

– Ao dar o ensino por meio da parábola do semeador, o Senhor Jesus mostrou o grande risco de não se ter o discipulado, o ensino da Palavra para alguém que se converte. Quando a pessoa não é discipulada, quando não se lhe dá o ensino da Palavra que, como martelo esmiúça a penha (Jr.23:29), o crente não é arraigado em Cristo, não tem raiz em si mesmo e o resultado disto é que, assim como a semente que caiu nos pedregais, ao chegar a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende e advém o fracasso espiritual (Mt.13:20).

– Vemos também, neste episódio da vida do apóstolo, que o grande interessado em que não haja o discipulado é Satanás (cfr. I Ts.2:18) e não é para menos pois, em havendo o discipulado, o salvo fica mais resistente aos ataques do maligno e, mais do que isto até, adquire vida abundante.

– Mas por que o Senhor permitiu que Satanás impedisse Paulo de retornar a Tessalônica se o discipulado é tão importante e essencial?

Porque, ao não conseguir retornar àquela cidade, Paulo se viu obrigado a escrever uma carta àqueles crentes, carta que foi logo seguida de outra e, deste modo, iniciou-se o “ministério epistolar” do apóstolo, segundo alguns começou a redação do Novo Testamento, e, assim, Paulo começou a ensinar não apenas os crentes que ganhava para o Senhor Jesus mas os crentes de todas as épocas e de todos os lugares de toda a Igreja. Aleluia!

– Paulo não era apenas aquele que estava a ensinar os que evangelizava, mas passava a ser o grande doutrinador de toda a história da Igreja, continuando a ensinar geração após geração até o dia do arrebatamento da Igreja.

– Depois de passar por Atenas, onde deu “uma aula” no Areópago, o grande centro da sabedoria grega de então, onde ganhou alguns para Cristo, certamente os tendo discipulado, o apóstolo vai para Corinto, onde ficou por um ano e seis meses, precisamente para ensinar aquela igreja que ele mesmo plantara (At.18:11).

– Em sua terceira viagem missionária, Paulo vai a Éfeso e lá, começando, como sempre, disputando com os judeus na sinagoga, depois de três meses, passou a disputar na escola de um certo Tirano, mas separando os discípulos, a nos mostrar que se dedicava ao ensino deles com todo esmero (At.19:8,9).

– Na prisão, Paulo não deixou de ensinar, que o digam as cartas que escreveu tanto em Cesareia, como em Roma, e nas duas oportunidades em que foi preso. Era um homem vocacionado para o ensino, sendo o verdadeiro “doutor dos gentios”.

III – O ENSINO DE PAULO

– O objetivo de Paulo com o seu ensino era o de “formar Cristo” nos que havia ganhado para Cristo, “revelar Cristo neles”.

– Deste modo, o apóstolo buscava sempre revelar Cristo para os seus alunos, tinha um ensino cristocêntrico, procurando mostrar Jesus não só nas Escrituras, como no dia-a-dia de cada pessoa. Ele nada propunha saber senão Cristo e Este, crucificado (I Co.2:2).

– Para Paulo, a vida cristã é uma contínua aproximação com a pessoa de Jesus Cristo, um compartilhamento de vida com Jesus. A salvação começa com um encontro pessoal com Cristo e esta convivência tem de ir se estreitando a cada dia, a ponto de não mais vivermos, mas Cristo viver em nós (Gl.2:20).

– O teólogo inglês metodista James D.G. Dunn (1939-2020), ao estudar a expressão “em Cristo” e suas variantes nos escritos paulinos, afirmou que “…é importante compreender que grande parte da teologia de Paulo está contida neste motivo [“em Cristo” e suas variantes – observação nossa].

O fato de ser usado com referência à obra salvífica objetiva de Cristo é certamente da maior importância. Mas o motivo não pode ser limitado a isto, nem o resto do seu uso considerado como mero corolário (…) no coração do motivo encontra-se não meramente a fé em relação a Cristo, mas a experiência entendida como experiência do Cristo ressuscitado e vivo.

(…) Paulo evidentemente se sentiu arrebatado ‘em Cristo’ e conduzido por Cristo. Em certo sentido, experimentava Cristo como o contexto de todo o seu ser e agir.(…). Tudo isso torna difícil deixar de falar de algo como um sentido místico da presença divina de Cristo dentro e fora, estabelecendo o indivíduo em relação com Deus.

Assim também dificilmente podemos deixar de falar da comunidade, uma comunidade que se entendia não só a partir do evangelho que lhe dera existência, mas também a partir da experiência compartilhada de Cristo, que a mantinha unida.…” (A teologia de Paulo. Trad. de Edwino Royer. São Paulo: Paulus, 2003, pp.457-9).

– Assim, ensinar a Palavra de Deus, para Paulo, era ensinar quem era Cristo e levar as pessoas a conhecer a Jesus, a fim de que passasse não mais a viver mas a Jesus viver neles. Em outras palavras: fazer com que as pessoas passassem a viver como Jesus, a ser “cristãos”.

– Por isso, além do estudo nas Escrituras, mostrando, em cada parcela delas, onde estava Cristo, o apóstolo também tinha a preocupação de ser um exemplo, a fim de que, imitando a Cristo, pudesse ser imitado (cfr. I Co.11:1; Fp.3:17).

– Paulo ensinava não apenas pelas palavras, pelos argumentos, mas, também, com a sua vida. Assim devem ser os discipuladores: pessoas que, além de terem conhecimento doutrinário, tenham uma vida exemplar.

– Paulo imitava a Cristo e queria que os seus ouvintes também imitassem a Jesus e, se tivessem alguma dificuldade em fazê-lo de imediato, que se espelhassem nele, Paulo, que estaria a imitar a Nosso Senhor e Salvador.

– Ser cristão é “estar em Cristo”, é não mais viver, mas permitir que Cristo viva nele. Temos aqui a explicitação daquilo que Cristo ensinou, ou seja, que quem quiser ir após Ele, deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-l’O (Mc.8:34; Lc.9:23). A abnegação é a renúncia do próprio “eu” para que Cristo venha a viver em nós (Lc.14:27,33).

– Paulo esforçava-se por transmitir a todos os seus ouvintes a experiência pessoal que tivera com Cristo e, para tanto, queria que todos desfrutassem desta mesma experiência.

Assim, não se tratava apenas de mostrar, e ele o fazia, que Jesus era o tema das Escrituras, que as profecias todas convergiam para o Senhor, que não havia como negar ser Jesus o Senhor e Salvador da humanidade, mas também que era preciso ter uma experiência com o Cristo vivo e ressuscitado, que poderia estar em nós e conosco, fazendo-nos, desde já, gozar da vida eterna que Ele veio nos trazer.

– O discipulado na visão de Paulo é um diálogo entre o discipulador e o discipulado a respeito de Jesus, mas um diálogo que é, na verdade, a exemplo do que ocorreu com os discípulos no caminho de Emaús, um diálogo presenciado por Cristo e que passa a participar da troca de palavras entre discipulador e discipulado, até o mesmo em que Ele próprio Se revela a ambos, depois de ter feito arder o coração de ambos pelo caminho.

– Paulo queria mostrar Cristo aos seus ouvintes e fazê-los vê-l’O e desfrutar com Ele da mesma comunhão que ele próprio já tinha com o Ressuscitado.

Ninguém está aqui a desmerecer a profundidade intelectual do apóstolo, que era de todos conhecida, inclusive dos demais apóstolos (cfr. II Pe.3:15) e como isto é indispensável para que tenhamos o pleno conhecimento do plano de Deus para a salvação da humanidade, mas nada disso teria qualquer sentido se o objetivo não fosse levar com que os discipulados passassem a ter Cristo neles.

– É preciso saber quem é Jesus, como as Escrituras d’Ele testificam, como todas as sagradas letras convergem para Ele, o autor e consumador da nossa fé, mas não podemos nos esquecer de que Ele é uma pessoa, que quer Se relacionar conosco e que devemos compartilhar a nossa vida com Ele, não mais vivermos, mas Ele viver em nós.

– Foi muito feliz o comentarista ao intitular esta lição como “Paulo, o discipulador de vidas”, porque aqui se vê que o objetivo do discipulado é a transformação de vidas, é fazer com que as vidas passem a se desenvolver por Cristo, em Cristo e para Cristo, para a glória do Senhor, como disse o próprio apóstolo ao afirmar que quer comamos, quer bebamos, façamos tudo para a glória de Deus (I Co.10:31).

– Paulo queria que os seus ouvintes compreendessem que, a partir da conversão, nós vivemos para Deus (Rm.7:4; Gl.2:19; Ap.5:9), sendo este, aliás, um dos principais significados do batismo em águas (Rm.6:3-11).

– Daí a ênfase que Paulo dá, em seu ensino, ao sentido e significado da salvação, tendo-nos deixado esta obra-prima da soteriologia que é a carta aos Romanos, a nos mostrar que é absolutamente necessário estar cônscios de que somos “novas criaturas”, que a fé em Jesus nos justificou e nascemos de novo, pois quem está em Cristo nova criatura é (II Co.5:17) e é isto que é essencial (Gl.6:15).

– A vida cristã, portanto, é “andar em Espírito” (Rm.8:1), pois o filho de Deus é guiado pelo Espírito Santo (Rm.8:14), até porque somente é salvo aquele que é habitação do Espírito Santo (Rm.8:9) e, por ser templo do Espírito Santo, Cristo está nele e, por conseguinte, o pecado já não tem mais poder sobre tal pessoa (Rm.8:10).

– Discipular uma vida não é apenas mostrar-lhe quem é Jesus, mas fazê-lo conviver com Jesus e, mais do que isto, passar a não mais viver mas permitir que Jesus venha a viver nele. Quando assim fazemos, e só podemos fazê-lo se nós mesmos não mais estiver vivendo mas Jesus em nós, teremos sido exitosos em nossa tarefa, fazendo de alguém um cristão.

– Por fim, é importante observar que, embora Paulo fosse ensinador e mestre na Igreja, esta tarefa não é apenas do apóstolo ou de quem é chamado por Deus com os dons de ensino e de mestre.

Toda a Igreja é chamada a fazer discípulos na grande comissão, conforme se verifica de Mt.28:19,20 e o próprio Paulo diz que os crentes devem ensinar uns aos outros (Cl.3:16), de modo que todos, não de modo integral e total, como Paulo e os que o Senhor tem chamado e dado estes dons, em uma certa medida, precisamos mostrar Cristo aos outros, Cristo que deve estar em nós. Temos feito isto?

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6879-licao-8-paulo-o-discipulador-de-vidas-i

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