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LIÇÃO Nº 9 – A LIMITAÇÃO DOS DISCÍPULOS

lição 09

Jesus, o homem perfeito, ensina-nos como buscar a perfeição.

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INTRODUÇÃO  

– Na sequência do estudo do evangelho segundo Lucas, analisaremos as limitações dos discípulos.   – Jesus, o homem perfeito, ensina-nos como buscar a perfeição.

I – O HOMEM PERFEITO ENSINA-NOS A BUSCAR A PERFEIÇÃO  

– Temos visto ao longo deste trimestre letivo em que estamos a estudar o Evangelho segundo Lucas que o médico amado mostra Nosso Senhor e Salvador como sendo o homem perfeito, o último Adão, aquele homem sem pecado que veio restaurar a comunhão entre a humanidade pecadora e Deus.

– Ao mesmo tempo em que Lucas apresenta o Senhor Jesus como o homem perfeito, também o mostra como sendo um homem compassivo, que veio ao encontro do homem a fim de restaurar-lhe a dignidade perdida com o pecado.

– Já no “Magnificat”, o cântico de Maria, é dito que o Senhor elevaria os humildes, encheria de bens os famintos e auxiliaria Israel, recordando da Sua misericórdia (Lc.1:52-54), deixando bem claro que Sua missão era levar o homem perdido ao mesmo “status” que Ele possuía enquanto homem, ou seja, o de tornar o homem novamente imagem e semelhança de Deus. Como diz o professor ALRS, responsável pelo canal EBD Tube do YouTube, “Jesus Se fez como nós para que nós fôssemos como Ele”.

– Assim, não é surpresa que, ao longo de sua narrativa, Lucas venha mostrar simultaneamente a excelência e a perfeição de Cristo e a imperfeição dos demais homens, em especial de Seus discípulos, que necessitavam aprender com Jesus a ser perfeitos.

– Como vemos no “Benedictus”, o cântico de Zacarias, é necessário que o homem seja liberto da mão dos seus inimigos para que sirva ao Senhor sem temor em santidade e justiça perante Ele todos os dias da nossa vida (Lc.1:74,75), sendo mister que empreguemos força para entrar no reino de Deus (Lc.16:16).

– Jesus veio, com Seu exemplo e vida, abrir um caminho para a salvação do homem, salvação que é poderosa (Lc.1:69), mas que é oferecida a homens débeis e frágeis, que precisam reconhecer a sua debilidade e fragilidade e, assim, atender ao chamado divino, alcançando a restauração da dignidade espiritual perdida.

  – Ao longo de seu relato, Lucas mostra claramente que os que se acham autossuficientes, os que acreditam não necessitar de qualquer ajuda, não alcançam a salvação. O Senhor veio dissipar os pensamentos dos corações dos soberbos (Lc.1:51) e envergonhar aqueles que se envergonhassem de Suas palavras (Lc.9:26).

– Por isso mesmo, não esconde Lucas as limitações dos discípulos de Jesus, a fim de mostrar não só a singularidade da perfeição de Cristo, mas também para comprovar a compaixão e a misericórdia do Senhor em apontar e suprir as carências e necessidades apresentadas pelos Seus discípulos, porquanto é no reconhecimento destas fragilidades e no atendimento às orientações do Senhor que se conseguiria obter o caminho para a perfeição, aberto pelo próprio Cristo Jesus.

– Já na pregação de João Batista, o evangelista mostra que os homens não passavam de “uma raça de víboras”, que estava destinada à ira vindoura (Lc.3:7), pois toda carne necessitava da salvação de Deus (Lc.3:6).

 Para tanto, deveriam produzir frutos dignos de arrependimento, de nada valendo a descendência biológica de Abraão (Lc.3:8). Esta circunstância abrangia toda a humanidade, desde os cidadãos comuns (Lc.3:11), como os excluídos da sociedade, como os publicanos, como também os soldados, que gozavam de posição social privilegiada na Roma imperial (Lc.3:12,13).

– São estas carências, limitações e necessidades que, brevemente, haveremos de apresentar no evangelho segundo Lucas, limitações, carências e necessidades que são inerentes à natureza humana e que precisam ser combatidas, neste esforço diuturno que tem o servo de Jesus na sua peregrinação terrena em direção aos céus.

II – A NECESSIDADE DA ABNEGAÇÃO E OS EFEITOS DA SUA FALTA: O DESEJO DE SER MAIOR E O SECTARISMO  

– A primeira limitação dos discípulos é evidenciada no contexto da revelação dada a Pedro de que Jesus era o Cristo de Deus. Lucas não diz que a afirmação de Pedro era fruto de uma revelação, como se diz explicitamente em Mt.16:17, mas, bem ao contrário, afirmou que Jesus, após esta afirmação de Pedro, disse aos discípulos que a ninguém referissem isso, tendo, em seguida, revelado que importava que o Filho do homem padecesse muitas coisas e fosse rejeitado dos anciãos e dos escribas, morto e ressuscitasse ao terceiro dia (Lc.6:18-22).

Só depois de consumada esta obra, seria o tempo de anunciar isto aos homens.

– Jesus era o Cristo de Deus e, por isso mesmo, teria de sofrer, morrer e ressuscitar ao terceiro dia para cumprir a Sua missão e diferente caminho não estava traçado para os Seus discípulos.

– Em Lc.9:23-27, o Senhor mostra a necessidade que temos de segui-l’O. Jesus dizia a todos que quem quisesse vir após Ele, deveria negar a si mesmo, tomar cada dia a sua cruz e segui-l’O.

– Com esta afirmação, o Senhor deixa bem claro que há necessidade de todo ser humano iniciar uma jornada no seguimento dos passos de Jesus. Como homem perfeito, Cristo veio dar o exemplo de como se deve viver sobre a face da Terra e este exemplo precisa ser seguido (I Pe.2:21). É um ato de vontade que se abre a todos os seres humanos, mas que deve se iniciar com a negação de si mesmo, a abnegação.

– Jesus mostra-nos que não temos condição de traçar a nossa própria senda de salvação, que somos incapazes de, por nós mesmos, alcançar a vida eterna e que não temos sequer um referencial a seguir. Por isso, Ele, o Santo de Deus (Lc.1:35) veio a este mundo, para nos indicar que caminho devemos seguir, como devemos proceder e, uma vez decididos a fazê-lo, impõe-se que sigamos as Suas pisadas, que, mediante o exemplo por Ele deixado, passemos a viver como Ele viveu, a andar como Ele andou (I Jo.2:6), pois teremos o mesmo destino que Ele teve, ou seja, a glória celestial.

– É interessante observar que o Senhor, bem ao contrário dos triunfalistas de hoje em dia (e esta lição, aliás, é um desmentido categórico do triunfalismo…), mostra que a decisão de seguir as pisadas de Cristo exige que cada um tome a sua cruz.

Assim como Jesus teve de tomar a cruz para cumprir a Sua missão salvífica, cada um de Seus discípulos também deve fazê-lo, ainda que, sabidamente, a cruz de cada um seja infinitamente mais leve que a tomada pelo Senhor.

– A vida espiritual não é um fato isolado, não se dá pela decisão de seguir a Jesus e, com ela, a garantia de que já se está na glória eterna, mas, sim, um caminhar de cada dia, uma tomada de cruz a cada dia para que cheguemos até o fim, com a glorificação, último estágio do processo da salvação. Como ensina Cirilo de Jerusalém (313-386): “…[Jesus] havia predito a Seus discípulos que convinha que Ele sofresse as calúnias

dos judeus, que fosse morto e ressuscitasse ao terceiro dia. Mas, para que não cressem que Jesus padecia tudo isto pela salvação do mundo e que a eles lhes seria permitido viver uma vida cômoda, diz que é necessário que cada um ascenda aos graus de perfeição, por meio de iguais sofrimentos, quando deseja participar de Sua glória. Por isso segue: ‘E dizia a todos’…” (Catena áurea. Lc.9:23-27. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c498.html Acesso em 23 mar. 2015).

– “…1) Negar-se a si mesmo é despedir-se. Dar adeus à vontade própria, às inclinações e aos desejos pessoais, essa é a “negação de si mesmo” que nos cabe realizar. Negar-se a si mesmo significa viver como se não nos importássemos mais conosco e nossa vontade.

2) Tomar sobre si a cruz refere-se ao fardo que devemos nos dispor a carregar. A cruz é a mais infame pena de morte que jamais existiu. Jesus compromete os seus com a morte. Ao mostrar-lhes o desfecho que esperava por ele em Jerusalém, asseverou-lhes: ‘Minha cruz mostra a vocês para onde eu conduzo.

Vocês estão seguindo atrás de mim como expulsos, malditos, condenados à morte, iguais àqueles que carregam sua cruz para o local de execuções. Para essas pessoas, o mundo passou e a vida está encerrada; o que ainda têm diante de si é somente infâmia, dor e morte.’…” (RIENECKER, Fritz. Lucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p. 139).

– Os discípulos de Jesus Cristo não podem, por si sós, alcançar a vida eterna. Precisam trilhar os mesmos passos já tomados pelo seu Senhor e não podem ter bom êxito se não se negarem a si mesmos, se não renunciarem ao próprio “eu”.

Temos, pois, uma grande limitação: o “eu”, a natureza pecaminosa que Jesus não possuía e contra a qual deveremos lutar diuturnamente para sermos bem sucedidos na vida espiritual.

– A abnegação deve ser de tal ordem que devemos sempre nos considerar “servos inúteis”, visto que tudo o que fizermos para o Senhor não será motivo para nossa autoglorificação.

 É esta a nossa real posição, pois, tudo quanto fizermos na obra do Senhor, nada mais será do que cumprimento do dever e, por isso mesmo, não teremos que nos gloriar a respeito do que tiver sido realizado, pois nenhum senhor glorifica o seu servo por ter feito aquilo que foi mandado fazer (Lc.17:7-10).

Como bem diz John Nelson Darby: “…quando tivermos feito tudo o que nos for ordenado, teremos feito apenas o nosso dever…” (Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr. Martins do Vale, p.110).

– Depois de mostrar a necessidade que temos de evitar o “eu”, de negarmos a nós mesmos, Lucas registra um caso específico em que isto não se deu entre os discípulos e que deve ser sempre evitado por quem quiser chegar aos céus. É o desejo de ser maior, que o médico amado aponta como tendo existido entre os discípulos em duas passagens: Lc.9:46-48 e Lc.22:24-30.

– Na primeira passagem, que o evangelista situa no contexto da transfiguração e da cura do jovem lunático, houve uma discussão entre os discípulos sobre qual deles seria o maior.

– Mesmo no colégio apostólico, surgiu a discussão de quem seria o maior discípulo de Cristo Jesus. Lucas diz que Pedro havia afirmado que Jesus era o Cristo de Deus, tendo ele, juntamente com Tiago e João sido chamados para irem ao monte e ali, diante deles, Jesus Se transfigurou.

Quando retornaram do monte, Jesus Se deparou com o jovem lunático, que os outros nove discípulos não tinham sido capazes de libertar. Todas estas situações geraram, entre os discípulos, a discussão a respeito de quem seria, dentre eles, o maior.

– É importante observar que Lucas diz que Jesus percebeu que havia esta discussão entre eles não porque tivessem vindo debater este assunto com o Mestre, mas “pelo pensamento de seus corações”.  Marcos é explícito ao afirmar que a discussão se deu na ausência de Cristo (Mc.9:33,34).

– A discussão sobre quem é maior, que sempre existe no meio do povo de Deus, sempre se dá na ausência de Jesus.

Quando estamos na presença do Senhor, sentimos a Sua majestade e glória, não há sequer espaço para que alguém se considere superior ao outro. Por isso é fundamental que, no dia-a-dia da obra do Senhor, estejamos sempre na presença de Cristo, pois assim não cederemos à tentação de comparações entre nós e acabemos por iniciar uma discussão inútil e extremamente daninha como a que tiveram os discípulos com o objetivo de saber quem é o maior.

– Lucas, ao afirmar que Senhor havia notado esta discussão por meio do pensamento dos seus corações, mais uma vez estava a autenticar a Deidade de Jesus, como no episódio da cura do paralítico (Lc.5:22), a mostrar que, além de ser homem perfeito, Cristo Jesus é também Deus, pois só Deus pode conhecer os pensamentos dos corações (I Sm.16:7).

– Jesus acabara de dizer, após a cura do jovem lunático, que seria entregue nas mãos dos homens (Lc.9:45) e os discípulos, indiferentes a esta afirmação, que o médico amado diz que não fora compreendida por eles, começaram a disputar entre si para saber quem era o maior deles.

 Como afirma William Hendriksen: “…Jesus dissera – e bem recentemente – “Deixem que estas palavras penetrem bem em seus ouvidos: O Filho do homem está para ser traído e entregue nas mãos dos homens” (9.44).

A continuação é chocante: 46. Ora, suscitou-se uma disputa entre eles sobre qual deles seria o maior. De um lado, maravilhoso autossacrifício; do outro, vil egocentrismo.…” (Lucas. Trad de Válter Graciano Martins, v.1, p.690).

– Esta é uma consequência do não reconhecimento da necessidade da abnegação de que já se tratou. Quando não damos ouvido ao negar-se a si mesmo exigido de Jesus, que nos leva ao caminho do autossacrifício, lamentavelmente passamos para o egocentrismo e surgem as disputas e dissensões que tão mal fazem à obra do Senhor e ao povo de Deus.

– Os dias em que vivemos são dias de individualismo e egoísmo (II Tm.3:1-4) e, por causa disso, são tantas as manifestações de egocentrismo que levam a cada vez mais disputas entre os discípulos de Cristo Jesus para saber quem é o maior.

 Daí a proliferação de denominações, ministérios e “igrejolas”. Todos querem ser os maiorais, todos querem se sobressair, esquecidos de que o caminho de Cristo é o caminho da humilhação, o caminho do esvaziamento, o caminho do autossacrifício.

– Jesus, sabendo os pensamentos dos corações dos discípulos, tomou um menino e o pôs junto de si, tendo, então, ensinado que qualquer que recebesse aquele menino em Seu nome, recebe-l’O-ia e que quem recebesse a Cristo, receberia Àquele que O enviara, pois só é grande aquele que entre os discípulos de Jesus for o menor.

– Jesus mostra, com esta lição, que a lógica do reino de Deus é inversa à do mundo. Enquanto, no mundo, as pessoas querem ser os maiorais, na Igreja de Cristo Jesus grande é aquele que for o menor de todos, que aceitar Se humilhar, assim como fez o Senhor (Fp.2:3-8).

 Lucas, neste ensino, evoca, certamente, o ensino de Paulo que, precisamente por defender o seu apostolado, põe-se como o mais inferior de todos os crentes (I Co.4:9).

– Este tema será retomado em Lc.22:24-30, quando, novamente, já na última páscoa, Jesus torna a dizer que padeceria tudo quanto estava determinado e que haveria de ser traído, os discípulos, indiferentes à iminência do início da paixão e morte do Salvador, começam novamente a discutir, criando, mesmo, uma contenda, para saber qual deles era o maior (Lc.22:24).

– Jesus, então, diante desta contenda estabelecida, muito provavelmente na Sua presença, voltou a ensinar que a lógica existente no reino de Deus é diferente da que existia entre os gentios.

 Enquanto que os gentios tinham a lógica do poder, em que os reis dominam sobre os súditos, na Igreja, bem ao contrário, deve vigorar a lógica do serviço, segundo a qual quem é maior é quem deve servir aos outros. O próprio Jesus põe-se como exemplo, pois, embora sendo o maior de todo o grupo, era Ele quem havia servido a páscoa para todos.

– Como observa Matthew Henry: “…Ele não foi ríspido com eles, como seria de se esperar (pois já os tinha repreendido frequentemente quanto a este mesmo assunto), mas mostrou-lhes com brandura quão pecaminosa e tola era esta disputa…” (Comentário bíblico Novo Testamento Mateus a João edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior,  p.710).

Vemos, mais uma vez, a compaixão do Mestre que, sabendo que isto era uma limitação própria da natureza humana pecaminosa, age com brandura, procurando dar o caminho para que tais atitudes fossem abandonadas por Seus discípulos.

– Se Jesus, que era o maior de todos, serviu aos Seus discípulos, os discípulos deveriam seguir-Lhe o exemplo e também servir aos outros, sabendo que é desta atitude de serviço que dependerá o bom êxito da jornada de fé, que termina com a glorificação.

Tanto assim é que aos discípulos estava destinado o reino, assim como o Pai havia destinado o reino ao Senhor Jesus, tendo, ademais, prometido Cristo que os Seus apóstolos julgariam as doze tribos de Israel (Lc.22:29,30).

– Outra consequência da falta de abnegação dos discípulos de Cristo é o sectarismo, ou seja, a atitude de excluir todos quantos não fazem parte de nosso grupo, de se distanciar da sociedade onde vivemos, achando- nos superiores aos demais.

– Os discípulos do Mestre adotaram uma atitude sectarista logo após terem discutido entre si quem era o maior. Diz-nos Lc.9:49,50 que João se gabou diante do Senhor por  ter proibido, junto com outros discípulos, alguém que expulsava demônios em nome de Jesus mas que não pertencia ao grupo dos discípulos, achando que, com isso, estavam zelando por Cristo e por Seu grupo.

No entanto, o Senhor os repreendeu, dizendo que não deveriam ter proibido a pessoa de fazer isto, já que quem não é contra nós, é por nós.

– Vemos aqui, claramente, que a dimensão do reino de Deus extrapola as organizações humanas que são criadas para pregar o Evangelho e fazer a obra do Senhor. Os grupos sociais estabelecidos estão aquém do reino de Deus e, por isso, não podemos ser sectaristas, achar que somente a nossa denominação, o nosso ministério serve a Deus e que só os seus participantes chegarão à glória celestial.

 Quem não é contra Jesus, é por Jesus e, portanto, devemos ter a humildade de reconhecer que somos apenas servos e que o Senhor conhece todas as coisas e quem comanda a Sua obra.

– Quando renunciamos a nós mesmos, não temos este tipo de orgulho que é nefasto e só contribui para criar embaraços à obra de Deus.

 Façamos o que o Senhor nos manda fazer, sirvamo-l’O de coração inteiro, obedeçamos à Sua voz, sem nos preocuparmos com que outros estejam fazendo, sem julgarmos as obras de outros, pois dependemos inteiramente da graça e misericórdia de Deus e não temos a mínima condição de esquadrinharmos os caminhos do Senhor, de podermos compreender a obra que Ele está a realizar na humanidade.

– “…Que gênero de atitude é essa contra o qual Jesus adverte nesse pequeno parágrafo? Resposta: atitude de intolerância, exclusivismo tacanho. É o tipo de estado mental que já estava presente durante a antiga dispensação. Eldade e Medade, que bem definidamente são filhos de Deus e genuínas testemunhas, por uma razão ou outra, permaneceram no acampamento em vez de irem à tenda ou tabernáculo onde poderiam estar sendo esperado.

Talvez não tivessem ouvido a convocação. No acampamento, porém, no meio do povo, estão profetizando. Muito excitado, um jovem mexeriqueiro corre a levar a notícia às autoridades. ‘Eldade e Medade profetizam no arraial’. Mesmo Josué considera que isso é algo terrível. Ele diz: ‘Moisés, meu senhor, proíbe-lho’.

 Moisés, porém, responde: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.26-29). Ainda hoje esse espírito de exclusivismo tacanho é às vezes confundido com lealdade à igreja ou à denominação de alguém. Ouvimos pessoas dizerem: ‘Nossa denominação é a mais pura manifestação do corpo de Cristo na terra’.

Enquanto estivermos nesta terra pecaminosa, um terreno em que a hipocrisia nos altos escalões frequentemente corrompe não só a vida política, mas até mesmo a eclesiástica, não seria melhor deixar esses juízos para Deus? Não sejamos mais restritivos que Moisés. Não sejamos menos compreensivos que Paulo (Fp 1.14- 18).

Sigamos o ensino de Jesus e, ao mesmo tempo que mantenhamos o que consideramos a pureza doutrinal, estendamos a destra de fraternidade a todos os que amam o Senhor Jesus Cristo e edifiquemos sobre o firme fundamento de sua Palavra infalível. Fazendo isso, oremos para que sejamos instrumentos na condução de outros no caminho da salvação, para a glória de Deus (ICo 9.19, 22; 10.31, 33).…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., v.1. p. 694).

III – A NECESSIDADE DA LONGANIMIDADE E OS EFEITOS DA SUA FALTA: A OBRIGATORIEDADE DO PERDÃO, A NECESSIDADE DO ACRÉSCIMO DE FÉ E A CONSEQUENTE NECESSIDADE DE ORAÇÃO E JEJUM  

– Mas há um outro fator que limitava os discípulos e que, de certo modo, é também um efeito do egocentrismo: a falta de longanimidade, a falta de misericórdia, a falta de amor para com o próximo. Ao contrário do Senhor Jesus, que se compadecia de todos os homens, a ponto de perdoá-los e resolver morrer em seu lugar, os discípulos tinham imensa dificuldade em perdoar e em ser longânimos para com o próximo.

– O primeiro sinal desta falta de longanimidade e de compaixão para com o próximo vemos logo no início da narrativa do ministério de Jesus em Jerusalém, pois, como sabemos, Lucas constrói seu relato em três lugares: Nazaré, Cafarnaum e Jerusalém. Pois bem, quando Jesus resolve ir para Jerusalém (Lc.9:51), tem de passar por Samaria.

– Ao passar por Samaria, Jesus não foi bem recebido pelos samaritanos, negando pousada ao Senhor, apesar de Ele ter mandado mensageiros para que, naquela aldeia de samaritanos, lhes fosse preparada pousada (Lc.9:52).

– Esta recusa era resultado do conflito que havia entre judeus e samaritanos, que nem sequer se comunicavam (Cf.Jo.4:9) e o Senhor Jesus demonstrava que estava a caminho de Jerusalém para adorar (Lc.9:53).

– Diante desta atitude, Tiago e João, de imediato, “cheios de poder de Deus”, disseram a Jesus se Ele não queria que eles pedissem para que fogo descesse do céu e consumissem aqueles samaritanos, assim como o profeta Elias havia feito (Lc.9:54).

O Senhor, então, os repreendeu e lhes disse que eles não sabiam de que espírito eram, porque o Filho do homem não havia vindo para destruir as almas dos homens, mas para salvá- las.

– Não podemos querer responder a injúria de que somos vítimas com outra injúria. Não podemos pretender responder o mal com o mal, mas, sim, devemos responder o mal com o bem (Rm.12:21).

– Tiago e João, movidos pelo zelo religioso e se considerando grandes discípulos (afinal de contas, não tinham visto a Cristo glorificado no monte?), acham-se superiores aos samaritanos e querem vingar-se da “desonra” causada a Cristo Jesus.

 No entanto, não tinham percebido que pertenciam à Igreja e, como tal, não podiam ser vingativos, mas, sim, amorosos, não podiam buscar “fazer justiça”, mas, sim, levar a misericórdia aos perdidos.

– Muitos dos que cristãos se dizem ser possuem este mesmo espírito de vingança e de “fazer justiça”, não tendo qualquer misericórdia para com os incrédulos, para com aqueles que, por ignorância e tradição religiosa, causam males aos servos de Deus.

Querem tratar tais pessoas “com fogo do céu”, com destruição, não sabendo que, como membros do corpo de Cristo, temos, isto sim, de procurar salvar estas pessoas, arrebatando-as do fogo do inferno (Jd.23).

Devemos, como diz Judas, ter piedade destas pessoas, tendo misericórdia com temor deles, sem que isto signifique que participemos de sua vida pecaminosa.

– Neste passo, também, temos outra limitação dos discípulos, que é a questão do perdão, que é tratada em Lc.17:1-10. Jesus é bem claro ao dizer que devemos repreender o irmão que peca contra nós, devendo, porém, perdoar-lhe se ele se arrepender.

– Se temos de ser tolerantes e longânimos para com os incrédulos, com relação aos irmãos, que já são conhecedores da Palavra de Deus, temos de repreender sempre que ele pecar contra nós. Tem sido algo que, lamentavelmente, tem desaparecido de nossas igrejas locais, onde se confunde longanimidade e amor com tolerância com o pecado.

Não podemos tolerar pecado de quem se diz cristão e participa conosco de nossa igreja local. Ele deve ser repreendido, deve ser disciplinado. Percebamos, aliás, que, ao contrário do que andam ensinando por aí, não é o Espírito Santo quem deve repreender o irmão, mas nós mesmos, os seus irmãos. Jesus diz que devemos repreender o irmão que peca contra nós.

– No entanto, esta repreensão não deve ser “o fogo do céu destruidor” pretendido por Tiago e João para com os samaritanos. Nosso espírito não é de morte, mas, sim, de vida e de salvação. O irmão deve ser, sim, repreendido, mas, se se arrepender, deve ser perdoado (Lc.17:3).

– Precisamos ser perdoadores, amados irmãos. Há muitos que se dizem filhos de Deus mas não perdoam pessoa alguma e, deste modo, filhos de Deus não são, pois o filho tem a mesma natureza do pai e o nosso Deus é perdoador, é grandioso em perdoar (Is.55:7).

O Senhor Jesus deixou bem claro que quem não perdoa seu irmão, também não será perdoado por Ele (Mt.6:14,15). Muitos que dizem professar a fé cristã não atingirão a glorificação pelo simples fato de que deixaram de perdoar os seus irmãos. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– O Senhor Jesus disse aos discípulos que eles deveriam perdoar o mesmo irmão todas as vezes que ele pecar contra nós. Ainda que peque contra nós sete vezes no dia, se vier pedir perdão estas sete vezes, sete vezes devemos perdoar-lhe. A expressão “sete vezes” aqui significa a totalidade, não um número máximo.

– A lição dada por Jesus foi extremamente difícil, pois, entre os doutores da lei, havia uma linha de interpretação de que o máximo que uma pessoa poderia ser perdoada por alguém era de sete vezes, com base em Pv.24:16. O Senhor Jesus, porém, amplia esta concepção, mostrando que o perdão é infinito, sempre deve ser dado quando pedido.

– “…A graça é a força da evolução cristã e lhe fornece as regras de conduta. Portanto, não é impunemente que se desprezam os mais fracos, e devemos perdoar aos nossos irmãos sem constrangimento, se nos tiverem ofendido…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr. Martins do Vale, pp.109-10).

– A dificuldade foi tanta que os próprios discípulos, diante deste ensino de Cristo, admitiu outra limitação, qual seja, a falta de fé, tanto que pediram ao Senhor que se lhes acrescentasse a fé (Lc.17:5).

– Ante a sincera afirmação dos discípulos de que, para poderem perdoar, precisavam de acréscimo de fé, o Senhor Jesus disse que a fé de Seus discípulos devem ser como o grão de mostarda, pois, se assim for, poderiam eles realizar maravilhas, como, por exemplo, mandar que uma amoreira se desarraigasse e se plantasse no mar (Lc.17:6).

– Precisamos aqui, ademais, afastar uma interpretação equivocada, que diz que se a nossa fé for do tamanho do grão de mostarda, que é o menor grão entre todas as hortaliças, já seremos capazes de realizar maravilhas.

Não é isto que vemos nas Escrituras Sagradas, porquanto, por mais de uma vez, o Senhor repreender quem tinha pouca fé e é óbvio que uma fé do tamanho de um grão de mostarda é uma fé pequena, que não gera senão a repreensão do Senhor (Mt.6:30; 8:26; 14:31; 16:8; 17:20, Mc.4:40; Lc.8:25; 12:28).

– Ter a fé como um grão de mostarda é ter uma fé que se permita desenvolver, pois o grão de mostarda, embora seja a menor semente entre as hortaliças, é, também, a que gera a maior das hortaliças, pois a mostarda é a maior de todas elas (Mc.4:31,32).

 Assim, ter fé como um grão de mostarda é ter uma fé que se desenvolverá, que é capaz de crescer e se tornar uma fé grande, algo que sempre foi alvo de louvor por parte do Senhor Jesus (Mt.8:10; 9:2,22,29; 15:28; Mc.2:5; 5:34; 10:52; Lc.5:20; 7:9,50; 8:48; 17:19; 18:42).

OBS: Este, aliás, é o ensino de João Crisóstomo (347-407): “…Faz menção da mostarda porque esta semente, ainda quando seja muito pequena, é a mais fecunda de todas. Dá a conhecer, portanto, que um pouco de sua fé pode muito. Se os apóstolos não transportaram uma árvore, não os acuseis, por não disse: trasladareis, mas: podereis trasladar, mas não fizeram porque não era necessário, tendo feito coisas de maior importância…( In Matthaeum hom.58. In: Catena áurea. Lc.17:5,6. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c569.html Acesso em 24 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Precisamos aumentar a nossa fé e isto não se faz por nós, mas, sim, por Cristo Jesus. Os discípulos tinham percebido que a fé provém de Deus (Ef.2:8) e que, portanto, somente poderiam adquiri-la e desenvolvê-la por intermédio de uma ação direta do Senhor em suas vidas.

 Para tanto, necessitamos da Palavra de Deus, do Evangelho, que não só nos traz a fé a nossos corações (Rm.10:17), como também nos faz desenvolvê-la (Rm.1:16,17).

– A fé desenvolve-se, portanto, ao longo de nossa peregrinação terrena, quando nos aproximamos mais e mais do Senhor Jesus. A fé aumenta quando nos santificamos, de modo que os meios de santificação são formas de crescermos na fé. Assim, além da Palavra de Deus (Jo.17:17), são fatores que nos fazem desenvolver na fé: a oração (I Tm.4:5), que deve ser aliada à prática do jejum (Lc.5:35); o temor a Deus (II Co.7:1) e a participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:27-30).

– Exsurge daí outra limitação dos discípulos, qual seja, a necessidade que têm de viver em oração e em jejum. Jesus, mesmo, deixou o exemplo de homem de oração, sendo esta uma constante que Lucas mostra em seu evangelho. Com efeito, o Senhor Jesus é mostrado por Lucas como um homem de oração (Lc.5:16; 6:12; 9:16; 10:21; 11:1; 22:17,41; 23:46).

– Os discípulos sentiram a necessidade de orar, de ter uma vida de oração, tanto que, após Jesus ter orado, num determinado dia, pediram-Lhe que os ensinasse a orar (Lc.11:1), oportunidade em que o Senhor lhes ensinou o Pai nosso, que é a oração do Senhor ou oração dominical (Lc.11:2-4), que não é uma reza a ser repetida, mas, sim, o modelo de oração, onde aprendemos a adorar, agradecer, pedir e a necessidade de termos da parte de Deus a disposição de perdoar.

– Esta oração, como já dissemos, deve ser acompanhada do jejum, pois o jejum é uma necessidade também para os discípulos de Jesus. O Senhor disse que, quando fosse tirado fisicamente do meio de Seus discípulos, eles teriam necessidade de jejuar (Lc.5:33-35).

– Somos limitados, não podemos produzir fé em nós mesmos, e, por isso, temos necessidade da Palavra de Deus, da oração e do jejum para podermos desenvolver a nossa fé e, deste modo, termos condição de agradarmos ao Senhor (Hb.11:6).

IV – A NECESSIDADE DA VIDA ESPIRITUAL SINCERA E O EFEITO DA SUA FALTA: NECESSIDADE DE TEMOR A DEUS E NÃO AOS HOMENS, A NECESSIDADE DE NOS DESPRENDERMOS DOS BENS MATERIAIS  

– Mas não basta suprirmos a necessidade da abnegação bem como da longanimidade, deixando de nos sentirmos superiores aos outros, de dar vazão ao eu e tendo uma vida de santificação. Torna-se, também, necessário que tenhamos uma vida espiritual sincera, uma vida verdadeira diante de Deus e dos homens.

– O Senhor Jesus mandou que Seus discípulos se acautelassem do “fermento dos fariseus”, que é a hipocrisia (Lc.12:1). Precisamos ser verdadeiros, ou seja, vivermos aquilo que pregamos, que era, precisamente, o grande erro dos fariseus que, apesar de extremamente religiosos e serem até referência de santidade na sociedade judaica do tempo de Jesus, eram hipócritas, pois pregavam, mas não viviam aquilo que pregavam (Cf. Mt.23:2,3).

– Para entrar no reino de Deus, é preciso empregar força (Lc.16:16) e esta força é o esforço da santificação e da coerência entre nossas obras e nossas palavras, sem o que seremos tão somente hipócritas, alvo da mais severa censura por parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Lc.11:37-53).

– Esta sinceridade leva-nos a temer verdadeiramente a Deus e não aos homens. Precisamos amar a Deus sobre todas as coisas e, por isso, o verdadeiro e genuíno discípulo de Cristo tudo deixa para seguir ao Senhor (Lc.14:26).

– Esta atitude faz com que não temamos os homens, mas a Deus; não temamos o diabo, mas a Deus. O Senhor diz que devemos temer Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno (Lc.12:4,5).

Temos de obedecer a Deus, sabendo que Ele tem o pleno controle sobre todas as coisas (Lc.12:6-9). É Deus quem nos justifica (Rm.8:33), de sorte que não devemos jamais nos separarmos de Deus, pois ninguém poderá nos separar d’Ele (Rm.8:35-39).

– Temos, pois, imensa necessidade de estarmos em comunhão com o Senhor, de conhecer-Lhe a vontade, para que possamos fazê-la e isto implica numa vida de santificação, para que possamos andar na luz como Ele na luz está (I Jo.1:7).

– A hipocrisia religiosa é deletéria e tola, pois o Senhor Jesus é claríssimo ao afirmar que nada há encoberto que não haja de ser descoberto, nem oculto, que não haja de ser sabido, porque tudo o que em trevas dissermos, à luz será ouvido e o que falarmos ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado (Lc.12:2,3).

Quem confessa a Cristo diante dos homens, também o Filho do homem confessará o seu nome diante dos anjos de Deus, mas quem negar a Cristo, também o Senhor o negará diante dos anjos de Deus (Lc.12:8,9). Precisamos viver na terra na perspectiva da eternidade, sabendo que nossa decisão diante de Cristo e de Sua Palavra selará o nosso destino eterno. Temos feito isto?

– Para tanto, devemos ter um olho bom, pois a candeia do corpo é o olho (Lc.11:34), sendo certo que, se nosso olho for bom, todo o corpo o será e poderemos ser verdadeiras luzes neste mundo tenebroso (Lc.11:34-36).

Temos agido desta forma? Ou nossos olhos têm nos levado para uma vida de pecado que desmente tudo quanto falamos a respeito da Palavra de Deus? Pensemos nisto!

OBS: Orígenes de Alexandria (182-254) assim comenta esta passagem: “…Isto é, se teu corpo sensível se faz resplandecente, uma vez iluminado pela candeia, de tal modo que não fica em ti membro algum obscurecido, com muito mais razão, quando não pecas, resplandecerá todo o teu corpo espiritual, de modo que seu resplendor poderá comparar-se a uma candeia brilhante; e a luz do corpo, antes obscuro, dirigir-se-á aonde queira o entendimento…” (Cat. graec. Patr. In: Catena áurea. Lc.11:33-36. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c525.html Acesso em 24 mar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Neste temor a Deus, inclusive, faz com que não temamos sequer nos apresentar diante das autoridades e correr risco de vida, e, ainda mais, quando formos conduzidos a tais magistrados, também não ficaremos preocupados com o que dizer, mas, totalmente guiados pelo Espírito Santo, falaremos aquilo que convém falar (Lc.12:11,12).

– Nos dias em que vivemos, lamentavelmente muitos têm se submetido ao “politicamente correto”, medindo suas palavras e procurando, inclusive, pregar o Evangelho segundo os ditames estabelecidos pelo mundo, pela “ditadura do relativismo moral”. Temem antes aos homens que a Deus e isto não agrada ao Senhor.

Temos de falar a verdade, logicamente com prudência, mas não uma prudência e uma medida de palavras ditadas pelo mundo, mas consoante a sabedoria que Deus nos dá liberalmente (Tg.1:5,6), deixando-nos orientar exclusivamente pelo Espírito Santo.

– A vida espiritual sincera obriga-nos, também, a nos desprender dos bens materiais. Em dois episódios no Evangelho segundo Lucas vemos bem esta necessidade.

– No primeiro episódio, uma pessoa da multidão pede a Jesus que Ele fosse o árbitro na contenda que estava aquela pessoa tendo com seu irmão, porque queria que o seu irmão repartisse a herança com ele.

Diante deste pedido, o Senhor Jesus disse que não havia sido constituído juiz naquele litígio e conta a parábola do rico insensato, com o objetivo de ensinar que a vida humana não se resume aos bens que possui (Lc.12:13- 21).

– Jesus foi enfático ao mostrar que não podemos nos prender aos bens materiais, que não podemos pôr o nosso coração nas coisas desta vida, sob pena de colocarmos em risco a nossa salvação.

– Muitos, nos dias de hoje, estão a agir como aquele homem da multidão. Querem que Jesus lhes forneça riquezas materiais, mas não foi para isto que o Senhor veio ao mundo. Muito pelo contrário, o Senhor veio nos salvar da avareza, que é idolatria (Cl.3:5), mostrando-nos que muito mais importante é sermos ricos para com Deus (Lc.12:21).

– “…É um louco, alguém que foi julgado por Deus, e considerado louco. E, assim, este homem é declarado publicamente: louco. Este é o caminho e o fim de tal homem. Observe aqui:

  1. A descrição de um homem cujos únicos interesses são terrenos: Ele junta tesouros para si mesmo, para o corpo, para o mundo, para si mesmo em oposição a Deus, para o seu próprio eu que deveria ser negado.

 (1) E seu erro considerar que a sua carne seja a sua própria pessoa, como se o corpo fosse o homem. Se o “eu” (a essência do ser) for corretamente afirmado e entendido, é somente o verdadeiro cristão que junta tesouros para si mesmo, e age sabiamente de forma a beneficiar a si mesmo, Provérbios 9.12.

(2) O pecador erra ao fazer de sua principal atividade a ganância por ajuntar para a carne, acumulando riquezas passageiras para si mesmo. Todo o seu trabalho é para a sua boca (Ec 6.7), ao fazer uma provisão para a carne.

(3) O seu erro é considerar estas coisas como seu tesouro, porque elas serão utilizadas para o mundo, para o corpo, e para a vida que existe agora. Estas são as riquezas em que os ímpios confiam, e os recursos que eles gastam, as riquezas para as quais eles dirigem as suas afeições.

(4) O maior erro de todos é que ele não se preocupa em ser rico para com Deus, rico de acordo com o critério de Deus. O fato de Deus nos considerar ricos nos torna ricos (Ap 2.9), ricos nas coisas de Deus, ricos na fé (Tg 2.5), ricos em boas obras, ricos nos frutos de justiça (1 Tm 6.18), ricos nas graças, nas consolações, e nos dons espirituais.

Muitos que têm abundância deste mundo são completamente destituídos daquilo que irá enriquecer as suas almas, que os farão ricos para com Deus, ricos para a eternidade. 2. A loucura e a infelicidade de um homem cujos únicos interesses são terrenos: Assim é aquele.

O nosso Senhor Jesus Cristo, que sabe qual será o fim das coisas, nos informou aqui qual será o seu fim. Note bem, é uma loucura indescritível da maioria dos homens idealizar e buscar as riquezas deste mundo mais do que as riquezas do outro mundo, aquilo que é meramente para o corpo e para o tempo, mais do que aquilo que é para a alma e para a eternidade.…( HENRY, Matthew. op.cit., p. 624).

– Em seguida à parábola do rico insensato, ainda tratando deste assunto provocado por aquele homem da multidão, o Senhor Jesus mandou que não ficássemos apreensivos pela nossa vida terrena, com o alimento, com o nosso corpo ou com nosso vestido, pois a nossa vida é mais do que o sustento, o corpo ou a veste (Lc.12:22,23).

Devemos confiar em Deus e saber que Ele é a nossa provisão, que Ele tem pleno controle sobre todas as coisas e que devemos, por isso mesmo, buscá-l’O prioritariamente, sabendo que Ele suprirá as nossas necessidades (Lc.12:31).

– Não devemos nos preocupar com as coisas desta vida porque o Senhor nos deu o reino. “…Deus tem um Reino reservado para todos aqueles que pertencem ao pequeno rebanho de Cristo, uma coroa de glória (1 Pe 5.4), um trono de poder (Ap 3.21).

Estas são riquezas inalcançáveis, que muito excedem os tesouros peculiares dos reis e províncias.(…). O Reino é d’Ele e, será que Ele não pode fazer o que quiser com aquilo que é Seu? [5] As esperanças e expectativas de fé do Reino devem calar e acabar com os temores do pequeno rebanho de Cristo neste mundo.

1Não temais as dificuldades, porque, embora devam vir, elas não se colocarão entre vós e o Reino, que é certo, e que está perto’ (Este não é um mal do qual valha a pena tremer ao se pensar, pois ele não pode nos separar do amor de Deus).

‘Não tenhais medo de passardes necessidades daquilo que vos for bom, porque, se for do agrado do vosso Pai vos dar o Reino, não precisareis duvidar de que Ele vos sustentará mesmo em meio às maiores dificuldades’…” (HENRY, Matthew. op.cit., p. 626).

– Vivemos dias em que o materialismo tem tomado conta de muitos que cristãos se dizem ser, que querem que o Senhor Jesus lhes dê prosperidade material, sendo verdadeiros servos de Mamom, ou seja, das riquezas, e tendo a Jesus como o mero instrumento para chegarem ao seu deus.

Não é isto, porém, que nos ensina o Evangelho e Lucas o mostra muito bem: devemos ajuntar tesouros nos céus, buscar as coisas que são de Deus, pois quem serve às riquezas nunca servirá a Deus (Mt.6:24).

– Esta circunstância vemos, claramente, no segundo episódio tratado por Lucas a este respeito, que é o encontro de Jesus com o mancebo de qualidade (Lc.18:18-30), que é chamado por Lucas de príncipe (Lc.18:18).

Tratava-se de alguém desejoso de herdar a vida eterna e que dizia cumprir todos os mandamentos. No entanto, o Senhor Jesus percebeu qual era o obstáculo para que aquele religioso alcançasse a sua salvação. Mandou, então, que vendesse tudo quanto tivesse, repartisse entre os pobres e teria, então, um tesouro no céu, devendo, então, passar a seguir a Cristo (Lc.18:22).

– Entretanto, ao ouvir esta afirmação de Jesus, o príncipe ficou triste, porque era muito rico, não atendendo ao chamado de Cristo.

 Jesus, então, disse que seria extremamente difícil que os que tivessem riquezas entrassem no reino de Deus, porque o apego aos bens terrenos impede os homens de alcançar a salvação, pois temos de nos desapegar de tudo quanto existe neste mundo para que recebamos mais, não só neste mundo, mas também na vindoura vida eterna. Estamos dispostos a isto?

– Lucas mostra-nos, portanto, que Jesus, o homem perfeito, estava desejoso que chegássemos à perfeição e, por isso mesmo, mostrou todas as nossas debilidades para que, n’Ele, pudéssemos crescer espiritualmente e chegarmos até a estatura de Cristo.

Estamos crescendo espiritualmente? Temos admitido as nossas limitações e recorrido ao homem perfeito que pode nos levar ao seu nível? Pensemos nisto!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

Site: http://portalebd.org.br/files/2T2015_L9_caramuru.pdf

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