LIÇÃO Nº 9 – FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ
Deus é fiel e os Seus filhos, participantes da Sua natureza, têm de ser igualmente fiéis.
INTRODUÇÃO
– Seguindo a sequência de Gl.5:22, estudaremos a sétima qualidade do fruto do Espírito, a fé, que, em diversas versões da Bíblia, é chamada de “fidelidade”, denominação que corresponde melhor ao sentido em que se emprega a palavra “fé” nesta passagem.
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A fé ou fidelidade é uma qualidade do Espírito voltada para a própria pessoa.
– A fé é um elemento fundamental na vida espiritual do crente, a ponto de a Bíblia dizer que sem fé é impossível agradar a Deus (cfr. Hb.11:6a).
Na caminhada para o céu, a “fé” é o combustível e sem esta fé jamais conseguirá chegar ao destino, ao fim das nossas almas: a salvação.
O apóstolo João também diz que a fé é a vitória que vence o mundo (I Jo.5:4), de forma que podemos muito bem inferir que todas as promessas maravilhosas feitas por Jesus à Igreja, constantes das sete cartas às igrejas da Ásia (Ap.2:7,11,17,26;3:5,12,21), estão destinadas somente aos que têm fé, vez que foram dirigidas aos que vencerem e só vence, como explica João, quem tem fé.
Por fim, não nos esqueçamos que, como diz Paulo, Deus só requer uma coisa dos crentes, que todos sejam fiéis (I Co.4:2).
Aprender sobre a fé e sobre o que é ser fiel, pois, é essencial para quem deseja viver eternamente com o Senhor.
I – OS SIGNIFICADOS BÍBLICOS DA FÉ
– “Fé” é uma das menores palavras da Bíblia Sagrada em língua portuguesa, mas seu tamanho é inversamente proporcional a seu profundo significado, ou melhor, significados, porque esta tão diminuta palavra encerra diversos significados no texto bíblico, sendo que nossa lição se deterá apenas em um deles, a saber, a fé enquanto uma das qualidades do fruto do Espírito.
– A palavra “fé” no Antigo Testamento (em hebraico “ ‘emun” – אמו ) aparece, explicitamente, apenas duas vezes, em Dt.32:20 (que, em português, nas Versões Almeida(corrigida, fiel, revista e contemporânea), é traduzido por ‘lealdade’ e na Século 21 “não se pode confiar”) e em Hc.2:4, o conhecido texto em que se diz que o justo viverá pela fé e que será, posteriormente, utilizado por Paulo na epístola aos Romanos como base de toda a sua dissertação a respeito da justificação.
Na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra só aparece, além de Hc.2:4, em I Sm.21:5, mas como parte da expressão “boa fé”, que, como já vimos na lição anterior, designa ingenuidade, inocência, benevolência. Como afirma o Novo Dicionário da Bíblia, porém, “…isso não significa, entretanto, que a fé não seja elemento importante no ensino do Antigo Testamento, pois ainda que a palavra não seja frequente, a ideia o é.
É usualmente expressa por verbos tais como ‘crer’, ‘confiar’ ou ‘esperar’, os quais ocorrem com abundância.(…) o exame cuidadoso revelará que, no Antigo Testamento, tal como no Novo, a exigência básica é a atitude correta para com Deus, isto é, a fé.…” (MORRIS, L.L. MORRIS. Fé. In: DOUGLAS, J.D. (org). O Novo Dicionário da Bíblia, p.605-6).
– Em o Novo Testamento, a palavra grega é “pistis” (πίστις) que, juntamente com o verbo e adjetivos correspondentes (“pisteuo” – πιστεύω e “pistos” – πιστός respectivamente), aparece dezenas de vezes (L.L. Morris, em o Novo Dicionário da Bíblia, fala que substantivo e verbo aparecem mais de 240 vezes e o adjetivo, 67 vezes). “…Essa ênfase sobre a fé deve ser vista em contraste com a obra salvadora de Deus, em Cristo Jesus.
No Novo Testamento, o pensamento que Deus enviou Seu Filho para ser Salvador do mundo é central.(…).
A fé é atitude mediante a qual o homem abandona toda confiança em seus próprios esforços para obter a salvação (…) É a atitude de plena confiança em Cristo, de dependência exclusiva d’Ele.…” (MORRIS, L.L. Fé. In: DOUGLAS, J.D. (org). O Novo Dicionário da Bíblia, p.606).
– Como já podemos perceber, a palavra “fé” traduz conceitos fundamentais, essenciais na revelação de Deus ao homem através da Sua Palavra e não é de admirar, portanto, que a palavra tenha servido para expressar diferentes conceitos, diferentes ideias.
Assim, antes que analisemos a fé como uma das qualidades do fruto do Espírito, é essencial que saibamos distinguir os diversos significados que a palavra “fé” traduz, a fim de que não façamos confusão com a ideia que estudaremos, que apenas um dos muitos conceitos que a palavra “fé” nos transmite ao longo do texto sagrado.
– O primeiro significado que temos da palavra fé é chamado pelos estudiosos da Bíblia de “fé natural”, expressão com a qual não concorda o teólogo Russell Norman Champlin, que considera que estamos, neste caso, apenas diante de “confiança” e não de fé. De qualquer maneira, esta “fé natural” é a crença que acompanha toda atividade humana.
O homem, por mais racional que seja, sempre é guiado por fé, pela confiança. Esta circunstância, aliás, tem sido admitida pelos cientistas e filósofos nos últimos tempos e é um dos principais pontos da discussão entre fé e razão, que tem tomado conta de centenas de mentes ao longo da história, notadamente após a evangelização do mundo e o predomínio do Cristianismo.
– A “fé natural” é a crença de que algo irá acontecer, crença esta baseada na habitualidade ou no raciocínio humano.
Assim, quando nos sentamos em uma cadeira, cremos que não iremos cair e que a cadeira nos aguentará, apesar de sermos mais pesados do que ela.
Quando estendemos um braço num ponto de ônibus fazendo sinal para que ele pare, cremos que o motorista irá parar e abrir a porta para que entremos e assim por diante.
Todas as ações humanas, umas mais, outras menos, é decorrente da confiança que se estabelece entre as pessoas e que é motivada pelo hábito, pela cultura e, por fim, pela própria razão humana.
Esta “fé natural” é própria de todo ser humano e essencial para a vida sobre a face da Terra. Esta fé nada representa no campo espiritual, é fruto da lógica humana.
Como vimos, os cientistas e filósofos têm chegado à conclusão de que toda atividade intelectual tem uma dose de fé, e esta fé é a fé natural, que, entretanto, não pode ser o critério, o parâmetro a ser seguido pelo servo de Deus.
É óbvio que o servo do Senhor também possui esta fé, pois se trata de um ser humano, mas não pode deixar que esta fé seja o seu guia exclusivo. Este, aliás, o sentido da afirmação de Paulo, de que devemos andar por fé e não por vista (II Co.5:7).
– É interessante notar que, na filosofia, na ciência e na teologia, os homens chegaram à
constatação, ainda que por outras vias que não a Bíblia Sagrada, da realidade da existência desta fé natural.
Os filósofos e cientistas, de forma consensual, têm reconhecido que todo conhecimento, ainda que procure ser criterioso e fundado em provas e demonstrações, depende de alguns pontos de partida, de alguns princípios que devem ser adotados sem comprovação, que devem ser aceitos.
Insistem eles que esta aceitação é resultado de uma “intuição”, de uma “evidência”, de uma “necessidade lógica”, mas, no fundo, o que se está a dizer é que, por mais que o homem exija provas e demonstrações para aceitar como verdadeiras algumas conclusões, jamais poderá partir do nada, deve, pelo menos, aceitar como verdadeiros alguns postulados, alguns princípios que não são capazes de qualquer demonstração, ou seja, deve crer em alguma coisa, sem o que não é possível qualquer atividade racional.
Esta crença, esta aceitação nada mais é do que o reconhecimento de que o homem precisa crer para desenvolver todas as suas potencialidades, de que o homem é dotado de uma fé que é indispensável para a sua própria existência.
Esta crença, fundamental e indispensável para todo o conhecimento, é o que caracteriza uma das faculdades do espírito humano.
– Esta “fé natural”, portanto, permite a todo ser humano ter a noção de que existe um único e verdadeiro Deus, que Se revela pela natureza e pela consciência (Rm.1:18-20; 2:14,15).
Eis o motivo pelo qual Deus poderá condenar legitimamente todos os que O rejeitarem, pois todo homem é capaz de ter a noção de que Deus existe e que é galardoador dos que O buscam, em virtude da “fé natural” imprimida em cada ser humano (Hb.11:6).
A tradição judaica diz que foi através deste caminho que Abrão chegou à conclusão de que havia um único Deus e que não poderia aceitar o politeísmo existente em Ur dos caldeus.
Todavia, esta “fé natural” só leva o homem à conscientização de que precisa se aproximar de Deus, mas é incapaz de lhe propiciar a salvação.
OBS: “…[Abraão, observação nossa] Era homem muito sensato, muito prudente e de muito grande espírito e tão eloquente que podia persuadir tudo o que queria.
Como nenhum outro o igualava em capacidade e em virtude, ele deu aos homens conhecimento da grandeza de Deus muito mais perfeito do que o tinham antes.
Foi ele primeiro que ousou dizer que existe um só Deus, que o Universo é obra das Suas mãos e que é unicamente à Sua bondade e não às nossa próprias forças que devemos atribuir toda a nossa felicidade.
O que o levava a falar dessa maneira, era, depois de ter atentamente considerado o que se passa sobre a terra e sobre o mar, o curso do sol, da lua e das estrelas, que ele tinha facilmente deduzido que há um poder superior que regula seus movimentos, e sem o qual todas as coisas cairiam na confusão e na desordem; porque elas por si mesmas não têm poder algum para nos proporcionar os benefícios que delas haurimos, mas elas os recebem dessa potência superior, à qual estão absolutamente sujeitas, o que nos obriga a honrar somente a Ele e a reconhecer o que lhe devemos por contínuas ações de graças.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas I, 7, 22. In: História dos hebreus, v.1, p.31).
– O segundo significado da palavra “fé” é a “fé salvífica” ou “fé salvadora”. Lewis Sperry Chafer diz que a “fé salvadora” é “…a confiança entretecida nas promessas e nas provisões de Deus a respeito do Salvador que faz o eleito repousar e confiar no Único que pode salvar…” (Teologia sistemática, t.4, v.7, p.131), ou seja, é a crença de que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador de nossas vidas.
Quando alguém dá crédito à pregação do Evangelho, considera-se um pecador e se arrepende dos pecados e crê que Jesus pode perdoá-los e se submete à vontade de Deus, crendo que Jesus pode dar-lhe a vida eterna e levá-lo ao céu, age com a “fé salvadora” ou “fé salvífica”.
– Esta fé não nasce no homem, mas é dom de Deus (Ef.2:8). Através da Palavra de Deus (Rm.10:17), o Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8-11) e, deste modo, o homem crê e, mediante esta fé, é justificado (Rm.5:1), ou seja, posto numa posição de justo diante de Deus, o que lhe permite ter paz, isto é, comunhão com Deus, sendo vivificado em Cristo. Esta fé é a que concede salvação para o homem.
– A fé salvadora é um dom de Deus (Ef.2:8). É a capacidade que Deus dá ao homem para crer que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador e, portanto, que devemos nos arrepender de nossos pecados e passar a servir-Lhe, passando a fazer a Sua vontade. Quando o homem pecou, perdeu a condição de poder retornar a uma vida de comunhão com Deus.
O pecado fez separação entre Deus e o homem não tinha como salvar-se. Por isso, o próprio Deus deu-lhe a boa notícia (o evangelho), ainda no jardim do Éden, de que alguém, da semente da mulher, iria esmagar a cabeça da serpente e triunfar sobre o mal, proporcionando um meio de o homem recuperar a comunhão perdida com Deus.
Para que o homem possa salvar-se, além de Jesus ter vindo ao mundo e morrido em nosso lugar, é preciso que sejamos convencidos de que somos pecadores e nos arrependamos e este convencimento exige a crença na obra salvadora de Jesus.
Esta crença, esta fé, que nos traz a salvação, vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). Esta fé não é de todos (II Ts.3:2), ao contrário da fé natural.
– A fé salvadora vem uma vez ao homem e realiza a obra da salvação. É pontual, ou seja, ocorre quando alguém crê em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.
É o dom divino que propicia a reconciliação entre Deus e o homem. É quem promove a justificação do homem e estabelece a comunhão, a paz entre ele e Deus.
A partir daí, surge uma confiança pessoal em Deus, mas esta confiança já não é a fé salvadora, mas, sim, o terceiro tipo de fé, de que iremos tratar a seguir.
– O terceiro significado da palavra “fé” é o que Lewis Sperry Chafer denomina de “fé mantenedora ou santificante” e o pastor Antonio Gilberto de “fé ativa”. Esta fé é exercida diariamente pelo salvo, após ter aceito Jesus como seu Senhor e Salvador.
É a confiança pessoal em Cristo que decorre da salvação, é a crença que “…segura o poder de Deus para a vida diária de uma pessoa. É esta vida vivida na dependência de Deus, que opera um novo princípio de vida (Rm.6,4).
O justificado, por ter se tornado o que é pela fé, deve continuar no mesmo princípio de total dependência de Deus.…” (CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática, t.4, v.7, p.132).
Esta fé é o combustível que nos leva a caminhar em direção a Jerusalém celestial. É o elemento que nos faz superar todos os obstáculos e a enxergar as circunstâncias sob o prisma espiritual.
Foi esta fé que fez com que os antigos vencessem todas as dificuldades e agora aguardassem o seu aperfeiçoamento com a Igreja, como nos mostra o escritor aos Hebreus no “capítulo da fé” (o capítulo 11 da epístola aos Hebreus).
É esta fé que nos faz vencer o mundo (I Jo.5:4). Sendo um desdobramento da salvação, esta fé é própria dos salvos.
– Dizem os lexicógrafos que um dos significados de “fé” é “confiança absoluta (em alguém ou em algo), crédito”.
Ora, é precisamente este o significado em que se deve entender fé enquanto “fé ativa” ou “fé mantenedora ou santificante”.
Trata-se da atitude de confiança em Deus, de crédito à Sua Palavra, às Suas promessas. Somente podemos dizer que temos fé se dermos crédito à Palavra de Deus e dar crédito à Palavra de Deus é fazer o que Ele manda ali.
Muitos, nos nossos dias, procuram, de todas as formas, desacreditar as Escrituras Sagradas, questionando sua autenticidade, sua correção, tão somente para justificar suas ações em desacordo a elas, tão somente para procurar justificativas para suas condutas e pensamentos que estão em desacordo com o que manda a Bíblia Sagrada.
Todavia, só pode agradar a Deus quem tem fé e ter fé é dar crédito, confiar em alguém e somente podemos dizer que confiamos em Deus se dermos crédito à Sua Palavra.
– Esta “fé santificante”, que é a “confiança”, é, no Antigo Testamento, a palavra hebraica “batach” (בטח ), cujo significado é “correr em busca de refúgio [mas não tão apressadamente (…), estar confiante ou seguro…” (Dicionário do Antigo Testamento, verbete 982. In: Bíblia de Estudo Palavra Chave, p.1551). É, como se observa no Sl.37:5, uma atitude posterior à salvação, quando “se entrega o caminho ao Senhor”. É um “caminhar diário” em direção a Deus, “no passo do gado” (Gn.33:14), uma contínua aproximação a Deus, um continuado renunciar-se a si mesmo e uma constante realização da vontade do Senhor em nossas vidas.
– O quarto significado da palavra “fé” é o “dom espiritual da fé”, O dom espiritual da fé (I Co.12:9) é um dos chamados dons de poder que o Espírito Santo deixa à disposição da Igreja.
Trata-se de uma confiança extraordinária, especial que faz com que pessoas tenham uma crença pontual além dos limites do imaginável e que, mediante esta confiança, realizem coisas que estão além do alcance da imaginação humana.
Temos sempre ouvido ações e gestos de servos do Senhor que, tomados pelo Espírito com uma fé excepcional, agem de acordo com a vontade de Deus e servem para a Sua glorificação.
Assim, por exemplo, agiu Paulo no navio que o levava a Roma, ao usar de autoridade para impedir que algum mal se fizessem aos presos e, assim, sendo um simples prisioneiro, dirigir e comandar a própria salvação de todos os que ali estavam(At.27:30-36).
Esta fé é apenas daqueles salvos que são aquinhoados pelo Espírito Santo com este dom e devem exercê-lo sempre em vista do consolo, admoestação e conforto da Igreja.
– O quinto significado da palavra “fé” é a “fé como crença”, ou seja, como diz Chafer, “.um anúncio doutrinário ou um credo que é algumas vezes conhecido como a fé.…” (op.cit., p.132).
Este significado é encontrado em At.6:7. Fé aqui pode ser considerado como o conjunto de doutrinas em que se crê, como o credo.
– O sexto significado da palavra “fé” é a chamada “fé servidora” ou “fé que serve”, que, segundo Chafer, é aquela “…que contempla como verdadeiro o fato dos dons divinamente concedidos e todos os detalhes a respeito da designação divina para o serviço.
Esta fé é sempre uma questão pessoal, e assim um crente não deveria se tornar um padrão para outro.
Esta fé com sua característica pessoal pode ser mantida inviolada, pois o apóstolo Paulo diz: ‘A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus.’ (Rm.14,22).
Grande prejuízo pode vir se um cristão imita outro em questão de designação para o serviço.…” (op.cit., p.132). Esta fé, como se percebe, é a confiança que existe por parte do crente no cumprimento da obra do Senhor. É um dos aspectos da “fé ativa” mencionada pelo pastor Antonio Gilberto, que diz respeito ao serviço que temos de fazer na obra do Senhor.
É a crença na orientação dada pelo Espírito Santo no desempenho das tarefas a nós cometidas pelo Senhor ao longo da nossa existência sobre a face da Terra. É um reflexo de nossa obediência e submissão ao Senhor.
Podemos, assim, dizer que, após a salvação, mediante a fé salvadora, a fé se desdobra no nosso relacionamento cotidiano com Deus em “fé mantenedora”, que nos mantém no caminho estreito e a “fé servidora”, que nos permite, como membros do corpo de Cristo, que nos mantenhamos obedientes e submissos à vontade do Senhor.
– O sétimo significado da palavra “fé” é a “ fé-qualidade do fruto do Espírito Santo”, que ilustre comentarista prefere denominar de “fidelidade”, mencionada em Gl.5:22, como, aliás, é como se traduz a palavra “pistis” na maior parte das traduções das Escrituras (Almeida Atualizada, Almeida Século 21, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira, Nova Versão Internacional, Bíblia de Jerusalém, King James Atualizada, entre outras).
– A fé fruto do Espírito Santo (Gl.5:22) é o resultado da transformação operada pela salvação.
Quando cremos em Cristo, tornamo-nos uma nova criatura (II Co.5:17) e passamos a ter um novo caráter, uma nova conduta, a apresentar novas qualidades, entre elas, a fé, que nada mais é do que um comportamento de quem tem confiança em Deus, que tem consciência de que Deus está no controle de todas as coisas, tanto assim que esta qualidade do fruto do Espírito está relacionada com a bem-aventurança dos que são injuriados e perseguidos (Mt.5:12).
Esta fé também não é de todos, mas só daqueles que creram em Jesus e foram nascidos da água e do Espírito (Jo.3:8), daqueles que foram gerados de novo para uma viva esperança, para uma herança incorruptível(I Pe.1:3,4) e que se constitui num dos instrumentos para a nossa perseverança (I Pe.1:5).
É deste significado de fé que se constitui no âmago de nosso presente estudo.
II – OS SIGNIFICADOS DE FIDELIDADE
– O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa dá, entre os muitos significados de fé, o de “compromisso assumido de ser fiel à palavra dada, de cumprir exatamente o que se prometeu”.
Por sua vez, o mesmo dicionário identifica “fidelidade” como sendo “característica, atributo do que é fiel, do que demonstra zelo, respeito quase venerável por alguém ou algo; lealdade”.
Percebe-se, portanto, que a ideia de fidelidade está vinculada à ideia de compromisso, ou seja, a uma persistência num acordo, num pacto que foi firmado entre duas partes.
– Ora, é precisamente este o sentido da fé ou fidelidade enquanto fruto do Espírito Santo.
Quando somos salvos, passamos a ser participantes da natureza divina (II Pe.1:4) e, sendo assim, temos de assumir o mesmo caráter de Deus, já que, em nós, foi restaurada a imagem e semelhança de Deus, que deve ser refletida por nós aos homens (Mt.5:16; II Co.3:18).
– Uma das principais características divinas é a Sua imutabilidade. Deus não muda e n’Ele não há sombra de variação (Tg.1:17).
A Bíblia ressalta, ainda, que Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8).
Desta maneira, o salvo não pode, também, no tocante aos valores morais e espirituais, sofrer qualquer variação. Tem de ser firme, tem de manter a sua posição, custe o que custar, aconteça o que acontecer.
– Esta firmeza é o respeito, o zelo ao compromisso assumido, que é a fidelidade, como vimos na definição supra.
A fé enquanto fruto do Espírito traz ao homem esta atitude de firmeza, de imutabilidade, que o leva a manter as suas posições apesar das circunstâncias adversas.
O homem que morará no santo monte do Senhor é aquele, diz o salmista, que “mesmo que jure com dano seu, não muda” (Sl.15:4 “in fine”).
– A fé é, portanto, enquanto fruto do Espírito, a característica de manutenção dos compromissos assumidos diante do Senhor e de imutabilidade de suas posições frente aos desafios e obstáculos que se lançam diante do crente.
Quando observamos a galeria dos “heróis da fé” no capítulo 11 dos Hebreus, vemos que a fé existente naqueles homens fez com que tivessem eles atitudes firmes, imutáveis, que não se alteraram mesmo diante das tribulações e das dificuldades apresentadas, que, aliás, chegaram mesmo a levar, algumas vezes, os fiéis à morte.
Entretanto, a fidelidade não se abala mesmo diante da morte, tanto que o próprio Senhor, em Sua carta à igreja de Esmirna, reconhece esta circunstância, prometendo, porém, aos que forem fiéis até a morte, a coroa da vida (Ap.2:10).
– A fé importa em tomada de posição firme ante o compromisso assumido com o Senhor quando de nossa salvação. Ao aceitarmos a Cristo como nosso Senhor e Salvador, a exemplo do que fez Israel quando do pacto que selou com Deus no deserto, dizemos ao Senhor: “tudo o que o Senhor tem falado, faremos” (Ex.19:8 “in medio”).
O próprio Jesus afirma que só seremos Seus amigos se fizermos o que Ele manda (Jo.15:14).
Ora, como o Senhor é sempre o mesmo, Sua Palavra não muda, permanece para sempre (I Pe.1:25), de sorte que não temos dificuldade em saber o que devemos fazer.
Por isso, Paulo dizia que não se cansava de ensinar aos crentes as mesmas coisas (At.13:42; Fp.3:1).
– Falar de imutabilidade de posição e de firmeza nos nossos dias é algo difícil de se pensar, pois o mundo defende exatamente o oposto.
Estamos na “era da flexibilização”, onde tudo pode ser modificado, alterado, onde se defende a “tolerância” e a “flexibilidade”. Entretanto, devemos lembrar que não é isto que ensina a Palavra de Deus.
É evidente que o mundo está sujeito à mudança, que o homem é, por natureza, mutável, que as relações sociais, políticas e econômicas são sujeitas a alterações e devem, mesmo, se modificar, pois o homem é imperfeito e esta sua imperfeição abre espaço para que haja uma contínua alteração.
Até mesmo no campo espiritual há espaço para mudança, pois a Bíblia diz que o homem deve atingir a perfeição espiritual, tanto que, para isto, Cristo dotou a Igreja de dons ministeriais (Ef.4:12,13).
– Todavia, a mudança prevista nas Escrituras é uma mudança com vistas a atingirmos o alvo que é a plenitude de Cristo em nós.
Devemos ser iguais a Cristo, atingir a Sua estatura, a medida de Cristo. Portanto, o que temos de mudar é o que há em nós para sermos iguais a Cristo e não mudar os princípios e os valores que nos foram ensinados e revelados através da Palavra de Deus.
Nosso mudar é um caminhar em busca da perfeição e a perfeição está em Cristo e quem nos diz quem é Cristo e como devemos viver para sermos como Ele é a Bíblia Sagrada, as Escrituras que d’Ele testificam (Jo.5:39).
– Por isso, não podemos permitir que o “espírito da flexibilização” venha a habitar na Igreja ou em nós mesmos.
Não podemos mudar a Palavra de Deus e esta Palavra permanece para sempre. Repudiemos, portanto, as inovações, as novidades, os modismos e modernismos que querem encontrar guarida na Igreja e na nossa vida.
Quem pretende mudar a Palavra do Senhor apenas está indicando que já foi cortado da videira verdadeira, pois uma das qualidades do fruto do Espírito é a fidelidade, que é uma atitude de imutabilidade quanto aos princípios e valores escriturísticos, que é uma atitude de firmeza, de repúdio à mudança.
– Exemplo do que significa querer inovar no nosso relacionamento com Deus vemos no episódio da morte de Uzá, quando Davi trazia a arca para Jerusalém (II Sm.6:1-9; I Cr.13).
Diz-nos a Bíblia que a arca era levada num carro novo, uma inovação já que a lei determinava que fosse conduzida pelos sacerdotes nos ombros.
O resultado foi a morte de Uzá e a interrupção do culto que se desenrolava ao longo do caminho para Jerusalém. Deus mostrou, assim, nitidamente que não Se agrada de inovações que vão contra o que está estabelecido em Sua Palavra.
– Esta firmeza na vida do crente faz com que ele se relacione também desta maneira com os outros.
Sendo imutável no seu relacionamento com Deus e consigo mesmo, o crente é, também, firme no seu relacionamento com os outros e aí vemos um outro aspecto da fidelidade, que é a lealdade.
Lealdade é entendida como sendo “fidelidade aos compromissos assumidos, caráter do que é inspirado por este respeito ou fidelidade”, sendo palavra que se origina de “legal + dade”, ou seja, é a observância de uma lei, de uma regra, de um acordo.
– O crente tem de ser leal, ou seja, deve cumprir com os compromissos assumidos diante de Deus e dos outros homens.
A lealdade é um dos aspectos da fidelidade, aquele que diz respeito a nosso relacionamento com outrem. Em Dt.32:20, no cântico de Moisés, é dito que Israel seria desleal, porque se esqueceria da Rocha que o havia gerado, do Deus que o havia formado (Dt.32:18).
Esta deslealdade, como se verifica, foi o fato de Israel não ter cumprido o compromisso assumido com o Senhor em Ex.19:6, quando afirmou que faria tudo o que Senhor havia falado.
Entretanto, como bem sabemos, a geração que assumiu este compromisso, cedo se distanciou do Senhor, como vemos a partir do episódio do bezerro de ouro.
O escritor aos hebreus diz que a geração do êxodo não entrou na Terra Prometida por causa da sua incredulidade (Hb.3:19), ou seja, por causa da sua falta de fé. A deslealdade nada mais é que produto da falta de fé.
– Ser leal é cumprir os compromissos assumidos, é observar os preceitos e normas estabelecidos. O crente é leal, em primeiro lugar, ao Senhor e, em segundo lugar, ao próximo.
Na Bíblia, temos vários exemplos de servos de Deus que demonstraram a sua lealdade não só para com Deus como para com o próximo.
Daniel e seus amigos são exemplos de lealdade, pois, mesmo na corte babilônica, assentaram no seu coração não se contaminar com o manjar do rei e, já dotados de posição na corte, mantiveram esta resolução, mesmo diante das ameaças da fornalha de fogo ardente ou da cova dos leões (Dn.1:8-17).
Davi demonstrou sua lealdade para com Jônatas, fazendo bem a Mefibosete, mesmo depois que Jônatas havia morrido e não havia qualquer força ou circunstância que pudesse forçá-lo a cumprir a promessa feita a seu amigo, promessa, aliás, que não teve qualquer outra testemunha a não ser o próprio Deus (I Sm.20:11-17; II Sm.9:1-13). Temos sido leais? Temos cumprido com os compromissos assumidos?
– A lealdade é tão importante na vida do cristão que Jesus proibiu terminantemente que o crente faça juramentos (Mt.5:34-36), pois, a um verdadeiro filho de Deus, basta a palavra que for dita.
Quando juramos, reconhecemos que precisamos de algo superior a nossa palavra para confirmarmos o que estamos a prometer, reconhecemos que nossa palavra não tem força suficiente para se impor.
Todavia, o crente em Cristo Jesus não pode jurar, ou seja, o crente em Cristo tem de ter uma conduta, uma credibilidade tal que sua palavra é suficiente, bastante. O falar do crente deve ser sim, sim, não, não.
Tudo o que vem além disto, que é contrário à fidelidade, tem procedência maligna (Mt.5:37).
– Uma das características dos homens ímpios é o fato de serem “infiéis nos contratos” (Rm.2:31), “traidores” (II Tm.3:4), “nuvens levadas pela força do vento” (II Pe.2:17) e “nuvens sem água, levadas pelo vento de uma a outra parte”(Jd.12), ou seja, pessoas que não cumprem com os compromissos assumidos, que faltam à confiança neles depositada.
Assim, uma característica do verdadeiro servo de Deus é ser cumpridor de seus deveres, de suas obrigações.
Um verdadeiro cristão nada pode dever a não ser o amor (Rm.13:8). É inadmissível que um cristão ligado na videira verdadeira seja um devedor contumaz, um indivíduo que não tenha crédito na sociedade onde viva, alguém cuja palavra nada valha.
O crente é leal, porque produz o fruto do Espírito e um dos gomos deste fruto é a fidelidade.
OBS: Por isso mais do que acertada a providência que alguns ministérios tem tomado de exigir, dos indicados à separação para o ministério, certidões dos cartórios de protestos de títulos e dos órgãos de proteção ao crédito.
O cristão verdadeiro produz o fruto do Espírito e o crente tem de mostrar que é fiel, que é leal, que é cumpridor de suas obrigações.
A deslealdade é um indício de que a pessoa não está ligada à videira verdadeira, pois foi Jesus quem disse que pelos frutos conheceríamos os salvos e os ímpios (Mt.7:20)
– Fidelidade, também, significa “observância da fé jurada ou devida”. Ser fiel é não só cumprir os compromissos assumidos como também observar a fé, entendido aqui fé como o conjunto de doutrinas e preceitos que aceitou.
É este o sentido que vemos Paulo empregar quando exortou os coríntios a que se examinassem para ver se permaneciam na fé (II Co.13:5). Observar a fé é não somente ouvir a Palavra de Deus, mas ser dela praticante (Tg.1:22).
A sabedoria do construtor mencionado por Jesus no sermão do monte estava em que havia ouvido e observado a Sua doutrina (Mt.7:24,25).
Somente edificamos a nossa casa sobre a Rocha, quando cremos em Jesus, quando damos crédito aos Seus mandamentos.
A fidelidade não está, apenas, em cumprirmos os compromissos assumidos, mas em viver de acordo com a vontade de Deus, de agir de modo a cumprirmos, exatamente, com o que foi proposto pelo Senhor.
A fidelidade enquanto lealdade é uma reação ao compromisso que assumimos, é uma resposta ao que prometemos. A fidelidade enquanto observância da fé devida é uma ação, uma iniciativa de fazermos somente aquilo que é segundo a vontade do Senhor.
– Fidelidade também é, segundo os dicionaristas, “constância nos compromissos assumidos com outrem”, “constância de hábitos, de atitudes”.
Não basta assumirmos um compromisso com alguém e cumpri-lo, nem mesmo tomar a iniciativa de fazer algo de acordo com a vontade de Deus, mas é indispensável, para que haja fidelidade, que haja “constância”, ou seja, assiduidade, frequência, prosseguimento, continuidade. Jesus disse aos esmirnitas que eles deveriam ser fiéis “até a morte”, ou seja, até o fim(Ap.2:10). Paulo afirmou, no final de sua vida, que havia “guardado a fé” (II Tm.4:7).
Ainda Paulo, quando escrevia aos coríntios, afirmou que eles precisavam ser “firmes e constantes” (I Co.15:58).
Não basta que tenhamos uma ação isolada de lealdade ou de observância de um mandamento divino, mas isto tem de ser algo constante, algo sempre presente em nossas vidas.
A fidelidade implica em constância, em continuidade. O profeta Ezequiel é claro ao afirmar que uma vida justa que não for constante leva à perdição, se o momento da morte for, precisamente, o da falta de continuidade (Ez.18:24).
OBS: Esta noção de fidelidade, aliás, ficou evidenciada no campo comercial, como se pode ver pelos “cartões de fidelidade” que foram lançados por algumas administradoras de cartões de crédito e pelo próprio conceito de “fidelidade do cliente”, algo que tem sido perseguido no mundo dos negócios, notadamente na área da publicidade e propaganda.
– É interessante notar que, no Novo Testamento, o verbo “pisteuo”, quando empregado no tempo presente, sempre o é numa ideia de continuidade, a nos indicar que “…a fé não é uma fase passageira.
Mas é uma atitude contínua.…”(MORRIS, L.L. Fé. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia, p.607). A propósito, Paulo afirmou que no Evangelho se descobre a justiça de Deus “de fé em fé”, “…que significa literalmente ‘ fé do começo ao fim’.
O justo deve viver sempre pela fé e, assim fazendo, continua a viver uma vida espiritualmente cada vez mais rica.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. Rm.1.17, p.1694).
– Fidelidade também é “compromisso que pressupõe dedicação amorosa à pessoa com quem se estabeleceu um vínculo afetivo de alguma natureza”. Neste ponto, vemos, claramente, que a fidelidade é fruto, é consequência, é efeito do amor.
O amor é o fruto por excelência, ou seja, é o verdadeiro pressuposto para todas as demais qualidades do fruto do Espírito. Somente apresentaremos fidelidade se tivermos amor por quem somos fiéis.
Isto é bem ilustrado no caso do casamento: o dever de fidelidade conjugal é consequência única e exclusiva do amor que um cônjuge nutre pelo outro. Somente seremos fiéis a alguém, se amarmos este alguém.
Os estudiosos da publicidade e da propaganda têm, nos últimos tempos, enfatizado a necessidade de se criar um vínculo afetivo entre o consumidor e um determinado produto, sem o que não será possível se estabelecer fidelidade no consumo.
– Fidelidade também é “característica de um sentimento que não esmorece com o decorrer do tempo”, ou seja, fidelidade é algo que não envelhece, que não sofre os efeitos do tempo.
Isto é importante, porque muitos acham que a fidelidade ou aumenta, ou diminui com o tempo.
Verdade é que a fidelidade pode aumentar. Os próprios discípulos de Jesus pediram ao Senhor que se lhes acrescentasse a fé (Lc.17:5) e o próprio Senhor afirmou que a fé tem diferentes graus, pois falou de pequena ou pouca fé (Mt.8:26), de fé grande (Mt.15:28).
– A possibilidade de aumento da fé está evidenciada na figura da mostarda, que, sendo a menor das sementes, produz a maior das hortaliças. Jesus disse que a nossa fé deve ser assim, ou seja, ter a capacidade de crescer e se tornar a maior das nossas qualidades espirituais (Mt.13:31,32; 17:20).
Entretanto, não é o tempo que faz aumentar ou diminuir a fidelidade, mas uma continuidade de comunhão com Deus.
Quando vemos pessoas que, no ministério de Jesus, foram tidas como de grande fé, eram, via de regra, pessoas que não tinham uma vida religiosa segundo os padrões judaicos (a mulher cananeia, o centurião romano, que nem mesmo judeus eram), enquanto que os discípulos, que estavam ao lado do Senhor, vez por outra, são chamados de homens de pouca fé (Mt.6:30; 8:26; 14:31; 16:8; 17:20; Lc.12:28).
Isto é a prova indelével que “tempo de casa”, que religiosidade não demonstram fidelidade, nem são critérios para isto, pois a fidelidade independe do tempo.
O tempo apenas serve para denotar a fidelidade no aspecto da constância, é mais um fator que exige a sua prática do que que indique a sua presença.
OBS: Os mais longos reinados da história de Judá, os de Manassés e de Uzias, são exemplos de que tempo nada tem a ver com fidelidade.
Uzias era fiel ao Senhor, que o fez prosperar, mas, depois, se ensoberbeceu e morreu leproso, afastado do trono.
Manassés, por sua vez, foi um dos mais impiedosos reis de Judá, tão mau que Deus o entregou nas mãos dos seus inimigos.
Porém, no cárcere se humilhou e se arrependeu e, por isso, foi reconduzido ao trono, onde passou seus dias finais servindo a Deus.
– Fidelidade, ainda, é “compromisso rigoroso com o conhecimento; exatidão, sinceridade”, significado, aliás, que levou, na física, a se considerar como fidelidade:
- a) característica de um sistema de reprodução acústica, relacionada com a capacidade deste em reproduzir, com maior ou menor exatidão, as componentes de frequência de um sinal acústico, mantendo as intensidades relativas destas componentes (por isto se diz que um aparelho de som tem “alta fidelidade”);
- b) em uma balança, propriedade que esta tem de assumir uma única posição, ou fornecer a mesma leitura, quando submetida repetidas vezes às mesmas forças.
– Este significado de fidelidade mostra-nos, claramente, que a fidelidade se traduz por um compromisso rigoroso com a Palavra de Deus, com uma busca incessante para se conhecer e se saber o que Deus deseja de nós, qual é a Sua vontade, algo que é revelado sobretudo pela Palavra de Deus.
A fidelidade exige um aprendizado contínuo e sincero das Escrituras, que se tenha uma vida que não vá além do que está escrito (I Co.4:6).
Somente assim, seremos um “instrumento de alta fidelidade”, ou seja, uma pessoa que transmita aos outros, com exatidão, a frequência de Jesus Cristo, a Sua mensagem.
Somente assim poderemos ser pessoas que sempre forneçam a mesma posição, a posição da vontade de Deus, ainda que sejamos submetidos a diversas forças, a diversas situações.
Como dizem os inspirados poetas Nils Katsberg e Emílio Conde, na letra do hino 342 da Harpa Cristã, quando aceitamos a Cristo, somos afinados pelo Senhor, passamos a ter nova harmonia e tom, mas isto somente se dará se formos fiéis.
III – A FIDELIDADE DE DEUS
– Quando observamos a etimologia (ou seja, a origem) da palavra “fidelidade”, encontramos que fidelidade vem do latim “fidelitas” que, por sua vez, é palavra derivada de “fidelis”, cujo significado é “’em que se pode ter confiança, fiel, leal, sincero’ “.
A fidelidade, portanto, é a qualidade de ser fiel, de crer em alguém em que se pode ter confiança.
– A fidelidade na Bíblia é sempre a fidelidade a alguém. Quem é fiel é fiel a alguém, a algo, pois a ideia de fé envolve a crença em alguém.
Por isso, Jesus disse aos discípulos que eles deveriam ter fé EM DEUS (Mc.11:22). Isto é importante porque, lamentavelmente, tem se difundido a ideia de que a fé é uma substância, é algo autônomo, uma força que funciona por si só e que os crentes possuem a partir do momento em que são salvos e que precisa ser apenas “declarada”, “dita”.
“…A fé não é um truque realizado com nossos lábios, mas uma expressão falada que surge da convicção de nossos corações. A ideia de que a confissão de fé é uma ‘fórmula’ para conseguir as coisas de Deus não é bíblica.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Confissão de fé (dinâmica do Reino), p.1013).
Mas, se fidelidade é o resultado de se ter alguém que é digno de confiança, quem é este alguém?
Como vimos, é o próprio Deus e podemos ser fiéis, porque Ele é fiel, pois, como diz a Bíblia, se formos infiéis, Ele continua fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).
– A fidelidade é fruto do Espírito Santo porque Deus é fiel. Deus é fiel e, por isso, podemos almejar a fidelidade em nossa vida espiritual.
“…A fé apenas flui para Ele por causa da fidelidade que flui d’Ele….”(BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Confissão de fé (dinâmica do Reino), p.1013).
Se voltamos a ser exata imagem e semelhança de Deus no instante da salvação, temos de ser fiéis, porque o Senhor é fiel.(Dt.7:9; II Co.1:18; I Ts.5:24; II Ts.3:3; Hb.10:23; I Pe.4:19; I Jo.1:9; Ap.19:11).
OBS: “…As ideias básicas da fidelidade de Deus são que o Senhor não é arbitrário nem displicente, antes é sempre confiável quanto a tudo que diz e prometeu. Deus tem aplicado essa qualidade para benefício dos homens.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.30).
– Sabemos que Deus é fiel, em primeiro lugar, porque a Bíblia Sagrada, como mostram as referências do item anterior, assim o afirmam, o que é suficiente para que creiamos que Ele é fiel.
Entretanto, não é só porque está escrito que o Senhor é fiel que temos como demonstrar que Ele é fiel, ainda que isto fosse bastante. Todavia, há ainda outros pontos que demonstram a fidelidade do Senhor.
– O Pai não muda e n’Ele não há sombra de variação (Tg.1:17), Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8), o Espírito Santo, também, é o mesmo e o único que opera na Igreja (I Co.12:11).
Ora, esta imutabilidade leva-nos à conclusão de que Deus, as três Pessoas, é fiel, pois, conforme vimos, todo aquele que não muda, que mantém firme a sua posição é fiel.
– Deus cumpre os compromissos que assume, é leal. Todos os pactos constantes na Bíblia que foram firmados entre Deus e o homem sempre tiveram, da parte de Deus, Seu pleno cumprimento.
No Éden, Deus prometeu vida ao homem enquanto ele não comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que foi rigorosamente cumprido. Antes do dilúvio, prometeu salvar Noé e sua família na arca, o que cumpriu e, posteriormente, prometeu nunca mais destruir a Terra com um novo dilúvio, o que tem se cumprido desde então, pois nunca mais houve um dilúvio universal.
A Abraão, homem sem filhos e já idoso, prometeu uma descendência como a areia do mar e que dele sairiam povos e reis.
Deus tem cumprido este compromisso, como podem testemunhar os milhões de judeus e árabes que hoje existem, como também os reis da Jordânia, da Arábia Saudita, do Marrocos, do Kuwait e os emires dos Emirados Árabes Unidos, para ficar apenas no dia de hoje.
– A Israel, Deus prometeu que seria Sua propriedade peculiar, Seu reino sacerdotal e tem cumprido até aqui a Sua parte no pacto, preservando a nação israelita, apesar da incredulidade dela, ao longo dos séculos, de forma evidentemente miraculosa, como foi a restauração do Estado de Israel na Palestina, como prova de mais um compromisso que Deus tem cumprido, a de entregar a Terra de Canaã a Israel.
A Davi, prometeu que Sua descendência governaria eternamente sobre Israel e sabemos que a vinda de Cristo, que descendente é de Davi e vivo está, é a demonstração do cumprimento desta promessa, pois para sempre o Senhor reinará sobre Israel.
Aos homens, prometeu perdão dos pecados aos que crerem em Jesus Cristo e tem cumprido este compromisso, como nós mesmos somos testemunhas, pois fomos alcançados por este amor e por este perdão e hoje desfrutamos da comunhão com o Senhor.
– À Igreja, prometeu o revestimento de poder e os dons espirituais, e todos os dias crentes têm confirmado o cumprimento por parte de Deus deste Seu compromisso. Nosso Deus é Aquele que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). É um Deus leal, portanto.
– Deus sempre observa a Sua Palavra, faz parte de Sua natureza não negar a Si mesmo (II Tm.2:13).
Deus jamais deixa de observar aquilo que Ele próprio determinou. A criação é um exemplo do que estamos a dizer. Todas as coisas foram criadas pelo Senhor, que as sustenta a todo instante (Mt.6:25-30; Hb.1:13).
O Senhor sustenta, ainda, o homem, apesar de este ter pecado, providenciando meios para que possa continuar a existir sobre a face da Terra. Aliás, o salmista, mais de uma vez, reconhece este sustento do Senhor (Sl.63:8;66:9; 119:117; 145:14).
Jesus, quando Se humanizou, foi o único a cumprir integralmente a lei (Mt.5:17). Em momento algum, Jesus pecou (Jo.8:46;Hb.4:15).
Ora, como vimos, observar aquilo a que se obrigou outra coisa não é senão fidelidade e, portanto, também sob este prisma chegamos à conclusão de que Deus é fiel.
– Deus não muda, como já vimos, mantém-se constante, n’Ele não há sombra de variação(Tg.1:17).
A Bíblia é o registro da persistente demonstração de amor de Deus aos homens, da incessante e incansável demonstração de amor para com a humanidade e, em particular, para com a Sua propriedade peculiar, Israel.
Mais de uma vez nas Escrituras, vemos o Senhor dando notícia da Sua contínua oferta de perdão e de reconciliação em direção ao homem (Dt.1:30-33; Sl.136; Ed.9:9-15; Ne.9).
Deus constantemente está a falar ao homem, está a oferecer o perdão ao homem, está a fazer maravilhas em favor do homem.
Esta constância do Senhor é demonstrada pelo fato de, neste exato momento, o Filho e o Espírito Santo estarem intercedendo por nós, meros transgressores e que nem sabemos como convém pedir ao Pai (Is.53:12; Rm.8:26,27).
Esta constância é mais uma demonstração da fidelidade de Deus.
– Observemos que a constância de Deus resulta do Seu caráter e jamais pode ser interpretada como uma submissão de Deus ao homem.
Deus não muda e faz sempre as mesmas coisas, Seu caráter O impede de Se modificar, mas isto não significa, em absoluto, que Ele esteja submisso às nossas vontades.
Muitos têm interpretado a constância divina como a obrigação de Deus agir desta ou daquela maneira para satisfazer os desejos e os caprichos dos Seus servos.
Deus é constante, não muda, mas não somos nós quem estabelecemos o que Ele deve fazer.
Ao longo do texto sagrado, vemos Deus Se mantendo sempre o mesmo, sem que, para tanto, recorresse sempre aos mesmos mecanismos para prevalecer a Sua vontade, nem que Se limitasse ao tempo humano para que isto ocorresse.
Por exemplo, ao sentenciar que a casa de Eli seria destituída do sacerdócio, não o fez de imediato, tendo decorridos longos oitenta anos para que isto acontecesse. De nada adiantaria os homens da outra linhagem sacerdotal (que viria a ser a linhagem de Zadoque, o primeiro a assumir o sumo sacerdócio, oitenta anos depois) exigir de Deus que cumprisse a Sua Palavra, pois tudo tem um tempo determinado para todo o propósito debaixo do céu (Ec.3:1).
Deus é fiel e cumpre os Seus compromissos, é constante, mas também é soberano e, por isso, faz o que promete, mas como e quando quiser. Lembre-se disto e não se deixe iludir pelos pregadores que confundem a constância divina com uma “obrigação” que Deus teria para com o homem.
Deus é fiel porque a Sua natureza o exige e é fiel a Ele próprio e não aos caprichos dos homens.
– Deus é amor (I Jo.4:8 “in fine”) e provou Seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8) e tem demonstrado este amor por intermédio da obra que vem realizando através da Igreja, que, com o Espírito Santo, tem pregado o Evangelho, ou seja, esta boa notícia de que Deus ama o homem e providenciou a sua salvação por intermédio de Cristo Jesus, confirmando a palavra com os sinais que, por toda a parte, tem mostrado poder de Deus.
Por força deste amor, Deus cumpriu o que havia prometido no Éden ao primeiro casal, ou seja, que da semente da mulher surgiria um que esmagaria a cabeça da serpente. Este já surgiu e, realmente, derrotou a morte e o inferno e, agora, à destra de Deus, intercede por nós e aguarda a ordem para vir buscar a Sua Igreja. Esta dedicação amorosa de Deus ao homem, que O fez enviar Seu Filho para morrer por nós, o que foi estritamente cumprido por Cristo, é mais uma demonstração da Sua fidelidade.
OBS: “…O amor de Deus é que governa a Sua fidelidade. Ele Se comprometeu a fazer o bem para os homens e Ele sempre fará, conforme o Evangelho nos mostra…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.30).
– Deus é atemporal, ou seja, o tempo nada é para Ele e esta circunstância é bem demonstrada não só na Bíblia Sagrada, mas na própria história da humanidade.
Ao longo dos séculos, o Senhor tem cumprido os Seus compromissos, tem cumprido as Suas promessas, sem qualquer variação ou mudança.
Se é verdade que fala de muitas maneiras, o fato é que, nestas muitas maneiras, sempre fala a mesma coisa. Se é verdade que tem mudado o modo de Se comunicar com o homem e de Se revelar a ele, também não é menos verdadeiro que estas mudanças de forma são a manutenção do Seu propósito, são a demonstração da conservação de Sua vontade e de Seus desígnios.
A nós, nestes últimos dias, tem falado pelo Filho que, através do Seu corpo, a Igreja, e do Espírito Santo, a Pessoa divina que tem a tarefa de glorificá-l’O e de manterem vivas e presentes as palavras pelo Filho proferidas, tem mostrado que o propósito de Deus não muda através dos tempos.
Desde a revelação do Filho já se passaram quase dois mil anos, mas tudo aquilo que o Senhor prometeu está se cumprindo dia após dia.
Cada vez mais, mormente agora que nos aproximamos do final desta dispensação, vemos que as palavras de Jesus não hão de passar.
Na nossa vida, a cada momento, vemos que o tempo efeito algum tem nas promessas que recebemos do Senhor e isto é mais uma demonstração da Sua fidelidade.
– Por fim, a fidelidade é um compromisso rigoroso com o conhecimento, é exatidão, é sinceridade.
Ora, ninguém é mais rigoroso com o cumprimento da Palavra de Deus que o próprio Deus, que, inclusive, dizem as Escrituras, pôs a Sua Palavra acima de todo o nome (Sl.138:2 “in fine”).
Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir. Jesus foi o único que cumpriu a lei e a Palavra do Senhor tem se cumprido na vida de todos os homens em todos os tempos. Sim, embora nem todos os homens cumpram a Palavra de Deus, ela se cumpre na vida de todos os homens.
A vida de Cristo é um exemplo marcante de cumprimento das Escrituras. Tudo quanto Cristo fez ou praticou enquanto esteve entre nós havia sido vaticinado nas Escrituras e foi rigorosamente cumprido.
Na cruz, perto de Sua morte, quando completaria a obra que Lhe havia sido dada pelo Pai, o Senhor exclamou “tenho sede” e esta exclamação tinha apenas um objetivo: cumprir as Escrituras (Jo.19:28).
Parece-nos ver o Senhor crucificado verificando, em Seu íntimo, tudo quanto deveria ser cumprido e observar que ainda faltava um ponto que ainda não havia se cumprido, aquele que constava do Sl.69:21 e, assim, Se submeteu a receber fel e vinagre em Seus lábios, para cumprir toda a Escritura. Isto é fidelidade, isto é o que devemos aprender com o Senhor Jesus!
IV – OS PRINCÍPIOS DA FIDELIDADE
– Se somos filhos de Deus, devemos ser fiéis porque Deus é fiel, fidelidade esta que foi demonstrada há pouco.
Esta característica do fruto do Espírito, voltada para a própria pessoa, acaba trazendo alguns efeitos, algumas consequências que são inevitáveis e indissociáveis da sua existência em nós e, por isso, existem certas coisas que deveremos observar para saber se somos, ou não, fiéis ao Senhor.
– A primeira observação que deve ser feita é que não é possível ser fiel sem que se tenha amor.
Conforme já dissemos neste estudo, somente se desenvolve fidelidade a alguém se este alguém é amado.
O fundamento da fidelidade conjugal é o amor e, por isso, não podemos concordar com aqueles que entendem que relacionamentos outros além do casamento sejam válidos para um verdadeiro servo do Senhor.
Um verdadeiro filho de Deus não teve assumir compromissos solenes e reais, se é verdadeiramente um filho de Deus, se produz o fruto do Espírito.
Alguém se dizer cristão e se negar a assumir, sob a forma de casamento, um relacionamento com uma pessoa com quem convive, é uma pessoa que não demonstra ter amor por esta pessoa, porque não quer assumir o compromisso da fidelidade.
Quem ama faz questão de assumir o compromisso da fidelidade, mesmo que isto o leve à morte.
– Na sua inspirada alegoria sobre a vida cristã, O Peregrino, John Bunyan chama de Fiel precisamente o crente que é morto por causa da sua fé.
A fidelidade está vinculada com a imutabilidade de posição, como vimos, o que indica que jamais se terá qualquer alteração de atitudes por causa da mudança das circunstâncias.
A fidelidade é imune a circunstâncias. Todas as vezes que Jesus repreendeu Seus discípulos por serem homens de pouca ou pequena fé, o que estava em questão era, precisamente, a alteração de disposição ou de ânimo por parte deles em virtude das circunstâncias.
Circunstância é aquilo que está em volta de nós, mas a fidelidade não as considera, não existe em função delas.
Por isso, o salmista diz que os que confiam no Senhor são como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre (Sl.125:1).
– Os sofrimentos, as calúnias, as injúrias, as ameaças, a miséria, a incompreensão, tudo isto não é capaz de modificar a fidelidade do verdadeiro cristão, que não olha para o que está em volta de si, mas, sim, para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:2).
A nossa fé nasce, é sustentada, desenvolve-se e termina em Jesus Cristo, o nosso único alvo, a nossa única orientação. Nada neste mundo pode influir na nossa fidelidade.
– Por causa disto, a fidelidade não pode ser diminuída nem alterada diante do sofrimento.
O sofrimento é uma oportunidade em que Deus permite que nós avaliemos o nosso grau de fidelidade a Ele. O crente que é verdadeiramente fiel não modifica o seu relacionamento com Deus quando está diante do sofrimento.
O crente não se afasta de Deus, mas, pelo contrário, d’Ele se aproxima no momento da tribulação.
A provação é uma demonstração da nossa fidelidade. Ainda mencionando a obra de Bunyan, o Peregrino, vemos que, ao iniciar sua jornada de fé, “Cristão” se faz acompanhar de “Flexível”. Entretanto, quando chegaram ao “pântano da desconfiança”, “Flexível” imediatamente abandona “Cristão” e volta para a sua casa, porque é alguém que não tem firmeza, não é fiel.
Assim também muitos, na primeira dificuldade, abandonam a jornada para o céu, porque são volúveis, porque sua fidelidade não é real, mas depende das circunstâncias.
Devemos firmar nossa fé em Cristo Jesus e somente n’Ele, não nos benefícios que o Evangelho pode fornecer.
– O grande equívoco da “teologia da prosperidade” é, precisamente, este: o de pregar os benefícios do Evangelho e não o Evangelho.
O sofrimento vem, dele ninguém está livre, e é neste momento que saberemos se temos, ou não, fidelidade ao Senhor.
– A fidelidade está relacionada, também, à fé. Já vimos que a fé salvadora é aquela que, vindo da parte de Deus, propicia que nos arrependamos dos nossos pecados e, assim, alcancemos a salvação.
Ora, esta fé salvadora gera, em nós, a fidelidade. A fidelidade é o resultado, o efeito da fé salvadora em nossas vidas. Porque cremos que Jesus é o nosso Senhor e Salvador, desenvolvemos uma vida de lealdade para com Deus, somos firmes em nossas posições, leais, constantes e observadores das normas e mandamentos, tanto os da Palavra de Deus, quanto os estabelecidos na sociedade onde vivemos. Sem fé, não é possível haver fidelidade.
– A fidelidade faz com que o homem seja um cidadão exemplar na comunidade onde vive. Com efeito, por ser fiel, o servo de Deus é cumpridor de seus deveres e não melhor cidadão senão aquele que cumpre as suas obrigações perante os homens e perante o Estado.
O homem fiel é um cidadão de respeito na comunidade, alguém em que se pode confiar, alguém com quem se pode contar.
Nos dias em que vivemos, em que cada vez menos pessoas são cumpridoras de seus deveres, a presença da fidelidade nos filhos de Deus é grande anúncio da salvação em Cristo Jesus.
– É, por isso, que vemos com preocupação o número de crentes que não apresentam esta qualidade do fruto do Espírito.
Não cumprem sequer com as suas obrigações perante a igreja local, que dirá em relação aos incrédulos.
Devemos ser cumpridores de nossas obrigações, tais como o cumprimento das tarefas que nos foram cometidas nas atividades da igreja local. Como está a nossa frequência a cultos, ensaios e reuniões?
E a pontualidade nos cultos, ensaios e reuniões? Somos dizimistas? Cumprimos os votos feitos diante do Senhor? Fazemos aquilo que temos prometido aos nossos irmãos? Somos leais aos oficiais e ministros da igreja local? Tudo isto é demonstração de fidelidade.
OBS: “…A fidelidade do crente reflete-se no serviço prestado ao Senhor, 2Co. 2.17. Homens e mulheres devem ser fiéis em tudo, I Tm.3.11. Nos compromissos, horários, dízimos, ofertas, testemunhos etc.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.31).
– A fidelidade, também, faz-nos lembrar a nossa condição de mordomos. O homem é mordomo de Deus, pois foi constituído para dominar sobre a criação existente na Terra.
Ora, o mordomo tem de ser fiel, porque é um mero guardião das coisas que lhe foram entregues pelo proprietário. Na ciência jurídica (o direito), esta entrega em confiança dos bens pelo proprietário a alguém é chamado de “depósito” e a pessoa em que se confia a entrega dos bens é chamada de “depositário”.
A lei exige que o depositário seja “fiel”, isto é, que, assim que reclamados os bens, ele prontamente os entregue ao proprietário. Se o depositário for infiel, ou seja, não entregar os bens quando reclamados, a lei determina a aplicação de sanções a este depositário.
Fidelidade, portanto, faz-nos lembrar que o que temos não é nosso, mas, sim, do Senhor, de quem é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam (Sl.24:1).
Como, então, podemos deixar de entregar aquilo que Deus nos deu? Como, então, podemos negar a Deus que tenha domínio sobre todos os aspectos de nossa vida?
Se os homens, sendo maus, consideram que a infidelidade no depósito é tão grave que permite até a retirada da liberdade do devedor, o que não pode fazer o Senhor de todas as coisas?
OBS: A infidelidade do depósito é tão séria que até bem recentemente era possível inclusive a prisão civil do depositário infiel, o que deixou de ocorrer no Brasil apenas a partir de 2009.
V – A FIDELIDADE E A BEM-AVENTURANÇA DOS INJURIADOS E PERSEGUIDOS
– A fé ou fidelidade, como vimos, é a firmeza, a lealdade, a observância de um compromisso, o resultado de uma dedicação amorosa a quem se vinculou afetivamente, um relacionamento de confiança em Deus em cada atitude, em cada gesto, em cada passo que é dado pelo crente nesta vida.
A fidelidade é o cumprimento do compromisso assumido, é a imutabilidade de porte e de conduta. Jesus é o exemplo maior de fidelidade, a ponto de Suas últimas palavras antes da morte terem sido “Está consumado”, ou seja, ele cumpriu tudo o que o Pai lhe havia determinado a fazer. Temos sido fiéis a Deus?
A fidelidade não leva em conta as circunstâncias que nos cercam, nem mesmo a nossa própria vida.
Daniel, por exemplo, foi fiel, mesmo que isto lhe tenha custado a cova dos leões. Como diz corinho que cantávamos na nossa infância na Escola Bíblica Dominical: “Fiel, ser fiel, fiel, ser fiel, crentes como Daniel, meus irmãos devemos ser!”
– A bem-aventurança da fidelidade encontra-se reproduzida no sermão do monte também. “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa” (Mt.5:12), disse Jesus.
– O primeiro ponto a apreciar é o de que a nossa fidelidade a Jesus ocasionará, inevitavelmente, o ódio do mundo contra nós (Jo.15:19-21).
Por isso, ao descrever esta bem-aventurança, Lucas começa dizendo que
somos bem-aventurados quando os homens nos aborrecem (Lc.6:22).
Não é possível falarmos em fidelidade sem que tenhamos uma conduta diferente da conduta do mundo, sem que haja um choque entre os nossos valores e os valores do mundo.
Não é possível comunhão entre a luz e as trevas. Retornando, ainda, à alegoria do Peregrino, de John Bunyan, vemos que a principal acusação que se fez a “Fiel” e que o levou à morte era, segundo o acusador “Inveja”, de que “Fiel” teria dito que “…Resumindo, direi que da própria boca do réu ouvi que o cristianismo e os costumes da nossa cidade da Vaidade são diametralmente opostos, não podendo de forma alguma harmonizar-se; do que se conclui, Sr. Juiz, que não só condena os nossos louváveis costumes, mas também a todos quantos os seguem e cumprem.…” (BUNYAN, John. O peregrino, p.57. Versão digitalizada por Carlos Boas).
Ser fiel é reconhecer que não há conciliação entre a luz e as trevas, que não é possível adotar os valores pecaminosos. Por isso, a fidelidade importa no aborrecimento do mundo em relação a nós.
– Este aborrecimento é seguido da separação (Lc.6:22). Assim como o filho de Deus se separa do pecado, uma vida de fidelidade faz com que o pecado, os pecadores gradativamente se separem de nós.
A Bíblia mostra que os homens não ousavam, não se atreviam a se misturar com a igreja de Jerusalém (At.5:13). Esta separação, como se vê, não é uma atitude que parta do crente, mas o resultado de um temor resultante da presença de Deus em nossas vidas.
Embora as pessoas não concordem com nosso modo de vida e o recrimine, respeitam-nos e nos têm em grande estima, reconhecendo que somos pessoas direitas e dignas de confiança.
A ausência desta separação nos nossos dias em muitos casos é uma demonstração da nossa falta de fidelidade. Será que a nossa plena aceitação entre os incrédulos não é sinal de que não temos sido fiéis?
– Depois da separação, vem a injúria, ou seja, somos agredidos moralmente, somos atingidos em nossa honra.
O diabo, nosso acusador (Ap.12:10) e pai da mentira (Jo.8:44), insufla aqueles que tem sob seu domínio para lançar falsidades contra o servo de Deus.
Sem dúvida, a injúria dói e, muitas vezes, é mais danosa e mais sofrida do que a própria eliminação física, como Jesus deixou claro no próprio sermão do monte, equiparando o caluniador ao homicida (Mt.5:22), mas isto é resultado da nossa fidelidade a Deus.
– Em seguida, vem a perseguição, que, aliás, é, por si só, uma bem-aventurança e aí está a relação entre a fidelidade e a paciência, pois a fidelidade faz surgir a tribulação que faz nascer em nós a paciência ou longanimidade.
A perseguição é um passo a mais neste processo de aborrecimento do fiel por parte do mundo pecaminoso, perseguição esta que se caracteriza pela mentira (o que não é de surpreender, pois levada a efeito pelo próprio pai da mentira).
Dirão todo o mal contra nós por causa de Jesus, por causa de nossa lealdade ao Senhor.
– Aqui, abrimos um parêntese, para mostrar que a bem-aventurança do crente fiel está relacionada a acusações infundadas, a injúrias, a mentiras que serão ditas a seu respeito por causa de sua vida de lealdade ao Senhor Jesus.
O texto sagrado é claro ao dizer que se trata de mentiras a respeito do crente por causa de sua vida de fidelidade. O nome do crente é rejeitado como mau por causa do Filho do homem (Lc.6:22), ou seja, diante de Deus, o nome não é mau, mas bom.
Não geram bem-aventurança as acusações verdadeiras que forem feitas pelo diabo, as demonstrações de atitudes pecaminosas feitas pelos crentes.
O diabo é enganador e, depois de ter tentado e vencido o homem na tentação, é o primeiro a promover o escândalo e a envergonhar o servo de Deus que não lhe resistiu.
Nestes casos, não temos qualquer bem-aventurança, pois somente é bem-aventurado aquele que for atacado injustamente, que for injuriado por ser fiel a Deus.
– Entretanto, devemos, diante destas dificuldades, exultar e nos alegrarmos, porque grande será o nosso galardão nos céus (Mt.5:12; Lc.6:23).
Parece ser um contrassenso esta ordem de Cristo para nossas vidas. Como poderemos nos alegrar num instante tão triste e penoso como este, em que somos injuriados, perseguidos e alvo de tantas mentiras? Como podemos ficar alegres quando somos atacados em nossa honra e integridade?
A fidelidade permite a apreensão desta alegria, porque o fiel, como vimos, não olha para as circunstâncias, mas, sim, para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, O Qual suportou a cruz e desprezou a afronta pelo gozo que Lhe estava proposto (Hb.12:2).
Quando temos a visão de fé, a visão do Cristo vitorioso, isto nos anima e nos permite ter alegria, manifestar a alegria que já temos, pois, como já estudamos, a alegria espiritual é também uma qualidade do fruto do Espírito. A fidelidade faz-nos lembrar que os profetas, apóstolos e demais servos do Senhor que foram vitoriosos no passado, também passaram por perseguições e isto não os impediu de prosseguir.
Podemos nos alegrar porque a fé é a vitória que vence o mundo. Vale a pena ser fiel e honrar a Deus em nossas vidas, pois Deus honra aqueles que O seguem (Jo.12:26).
OBS: “…Descobrimos aqui também que existem duas maneiras de Deus aplicar a fé em relação ao cristão.(…).
Há pessoas que são escolhidas para honrarem a fé, enquanto outras são determinadas por Deus para que a fé os honre. Em outras palavras: uns morrem na fé, e outros morrem pela fé.…” (SILVA, Severino Pedro da. Epístola aos hebreus: as coisas novas e grandes que Deus preparou para você, pp.209-10).
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.mediafire.com/file/r7s6u16z2w451ob/1T2017_L9_esbo%C3%A7o_caramuru.pdf