LIÇÃO Nº 9 – PAULO E SUA DEDICAÇÃO AOS VOCACIONADOS
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da vida e ministério de Paulo, analisaremos a dedicação que o apóstolo teve para com os vocacionados.
– Paulo foi um formador de obreiros.
I – PAULO, FORMADOR DE TIMÓTEO
– Na sequência do estudo da vida e ministério de Paulo, veremos hoje uma faceta do ministério de Paulo que foi muito importante, qual seja, a sua dedicação aos vocacionados, o seu papel de formador de obreiros.
– Temos visto ao longo deste trimestre que Paulo ocupa uma posição importantíssima na história da Igreja, pois foi o vaso escolhido pelo Senhor Jesus para tornar o Cristianismo uma religião universal (At.9:15), deixando de ser apenas a “seita dos nazarenos” (At.24:5).
– A posição de Paulo, portanto, é realmente singular na história da Igreja, porquanto tinha um papel específico, que não haveria de ser repetido posteriormente.
Sendo assim, seria de se imaginar que o apóstolo não tivesse preocupação com o futuro da obra do Senhor, uma vez que sua função era irrepetível.
– No entanto, Paulo tinha plena consciência de que, apesar de seu papel especialíssimo, era, como os demais crentes, apenas um membro em particular do corpo de Cristo (cfr. I Co.12:12,14,27) e que, portanto, deveria promover não só a união mas a edificação e crescimento deste corpo (Ef.4:15,16).
– Esta consciência de que cada salvo é membro em particular do corpo é absolutamente necessária para a realização da obra do Senhor, porquanto, quando nos damos conta de que somos membros uns dos outros, além de desenvolvermos o amor fraternal e nos estimularmos à comunhão, também entendemos que a obra de Deus é maior do que nós e que, portanto, precisa seguir além de nossa peregrinação terrena, caso Jesus não venha buscar a Sua Igreja em nossa geração.
– Paulo sabia da importância de se preparar as gerações futuras para a obra de Deus, de se estar atento às vocações do Senhor. Ele próprio, tendo sido chamado pelo Senhor para ser o vaso escolhido entre os gentios, precisou de Barnabé para que pudesse ter “seu lugar ao sol” na igreja (cfr. At.9:27;11:25).
– Temos de ser dirigidos pelo Espírito Santo, porque somos filhos de Deus (Rm.8:14), e, por isso mesmo, temos a necessidade de sermos sensíveis ao Senhor com relação às vocações que Ele faz no meio da Sua Igreja, para que, reconhecendo aqueles que são chamados, possamos dar-lhes a devida formação e capacitação para que desempenhem as tarefas que o Senhor lhes dá em Sua obra.
– Assim como Paulo era cuidadoso no discipulado de vidas, assim como queria que todos os salvos tivessem a imagem de Cristo, também se dedicou para que os chamados para a obra exercessem as funções, buscando sempre prepará-los no sentido de que pudessem bem desempenhar o seu ministério.
– É importante observarmos que todos os servos do Senhor, sendo membros em particular do corpo de Cristo, têm algo a realizar na obra de Deus.
– Verdade é que, normalmente, consideramos que “obreiros” sejam apenas os ministros, aqueles que são separados para exercer as funções ministeriais (diáconos e presbíteros, com seus muitos títulos: pastores, evangelistas, anciãos, bispos etc.). A Declaração de Fé das Assembleias de Deus, de modo muito feliz, afirma:
“…O termo ‘obreiro’ é genérico e usamos praticamente para todos os cargos e funções na Igreja…” (XIV, p.135). Assim, costuma identificar o “obreiro” como alguém que tenha algum cargo ou responsabilidade na igreja local.
– No entanto, não é apenas o “obreiro” que tem tarefas a realizar na seara do Mestre. A Igreja é considerada como um “corpo” (I Co.12:12,27), como um “edifício” (I Co.3:9) e como “lavoura” (I Co.3:9) e estas três figuras mostram, claramente, que cada salvo tem algo a realizar, pois, num corpo, todo membro exerce uma função; num edifício, toda pedra tem um papel e, por fim, numa lavoura, toda planta produz algo.
– Destarte, conquanto nesta lição nos debruçaremos sobre os que têm chamada ministerial, ou seja, aqueles que, para nos utilizarmos uma vez mais da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, exercem
“…autoridade no que diz respeito ao serviço do culto coletivo e às questões doutrinárias e administrativas…” (DFAD XIV, p.135), não pensemos que os demais não tenham algo a realizar, uma tarefa a desempenhar, até porque, lembremos que, na parábola dos talentos, o Senhor deu ao menos um talento para os Seus servos, ninguém ficou sem coisa alguma (Mt.25:14,15).
– Paulo aprendeu esta lição com Barnabé, que, com sua visão espiritual, pôde entender o papel que o Senhor tinha destinado ao apóstolo, crendo nas palavras que o próprio Jesus dissera a Ananias e, por isso mesmo, investiu naquele homem que tanto tinha perseguido a Igreja antes de sua conversão.
– Assim, já no início de sua segunda viagem missionária, a primeira em que assumia o papel de protagonista, pois, como sabemos, na primeira viagem missionária era ele tão somente auxiliar de Barnabé, Paulo demonstra este cuidado em saber a respeito das vocações do Senhor.
– Ao chegar a Derbe e Listra, buscando “confirmar as igrejas” (At.15:41), o apóstolo mostra o seu cuidado para com a identificação dos vocacionados, tanto que lhe é mostrado o jovem Timóteo, filho de um pai grego e de uma mãe judia, que estava a se destacar em Listra, que dava bom testemunho (At.16:1) e que foi apontado por profecia como um chamado (cfr. I Tm.4:14) e que bem militaria na obra do Senhor (I Tm.1:18).
– Paulo investigou a vida do rapaz, tendo descoberto que ele tinha tido, desde sua infância, uma formação nas sagradas letras, tanto por meio de sua mãe, Eunice, que era judia mas havia se convertido a Cristo, como de sua avó materna Loide (cfr. II Tm.1:5).
– Observemos que Paulo, assim como Barnabé, tinha uma visão espiritual. Timóteo tinha algumas características que, num olhar humano, lhe eram grandemente desfavoráveis.
– Por primeiro, era um “mestiço”, ou seja, seu pai era grego e sua mãe, judia. Tal circunstância fazia com que Timóteo não fosse bem recebido nem na comunidade judia, porque não fora circuncidado, muito provavelmente por causa da oposição de seu pai; nem tampouco na comunidade grega, uma vez que sua mãe, cujo nome era Eunice, era judia e fizera questão de ensinar-lhe as sagradas letras, assim como sua avó materna Loide (cfr. II Tm.1:5).
– Por segundo, era jovem, muito provavelmente alguém recém saído da adolescência e tal circunstância, numa sociedade que primava pela concessão da autoridade apenas aos mais idosos, tanto que, nas igrejas gentílicas fundadas por Barnabé e Paulo foram eleitos “anciãos” para dirigi-las (At.14:23), evidentemente descartava a possibilidade de Timóteo exercer qualquer função proeminente na obra do Senhor.
– Por terceiro, tudo indica que Timóteo era alguém que se dedicava a atividades físicas, quiçá a algum esporte olímpico (cfr. I Tm.4:8), em mais uma provável influência paterna, o que também o podia pôr sob suspeita, já que tais atividades estavam relacionadas com os cultos dos deuses gregos.
– No entanto, Paulo tinha a “visão de Barnabé” (cfr. At.11:23) e tal visão, nitidamente espiritual, enxergou em
Timóteo uma pessoa chamada por Cristo para o ministério, tanto que se ateve ao bom testemunho que dele davam os irmãos em Listra e em Icônio (At.16:2), testemunho este confirmado por profecia (cfr. I Tm.4:14).
– Paulo, então, não teve dúvidas em incluir o jovem Timóteo em sua comitiva e, de imediato, o circuncidou (At.16:3). Mas por que Paulo, que tanto defendera que os crentes não estavam debaixo da lei, circuncidou a Timóteo?
– O texto bíblico diz: “por causa dos judeus que estavam naqueles lugares, porque todos sabiam que seu pai era grego” (At.16:3).
Paulo sabia que o que importava era a chamada divina que Timóteo tinha, por isso o colocou em sua comitiva, para prepará-lo, para formá-lo, mas, conhecendo que vivemos num mundo que, além de estar no maligno, tem suas regras, costumes e tradições, o apóstolo sabia que o jovem Timóteo enfrentaria enormes problemas e dificuldades, além de preconceitos e a circuncisão diminuiria uma boa parte deles, uma vez que, tendo mãe judia, era ele legalmente um judeu e, como todo judeu, deveria ser circuncidado.
– Temos aqui uma primeira lição: devemos preparar os vocacionados para a realidade sócio-cultural em que eles desempenharão as suas tarefas na obra de Deus. Não somos do mundo, mas estamos no mundo, e não se pode deixar o vocacionado à margem dos ditames existentes.
– Paulo começava o seu trabalho missionário sempre em uma sinagoga, era a porta de entrada pela qual anunciava o Evangelho. Como, então, ter ao seu lado um judeu incircunciso? Como trazer o desenvolvimento de Timóteo sem retirar as desvantagens que aquele jovem possuía diante dos preconceitos existentes?
– Além da circuncisão, que resolvia um problema cultural e de aceitação social do jovem Timóteo, Paulo também teve o cuidado de separá-lo formalmente para o ministério, tendo o jovem recebido a imposição das mãos do presbitério da igreja de Listra e Icônio (cfr. I Tm.4:14).
– É importante aqui lembrar que o nome “Timóteo” tem o significado de “honrado por Deus” ou “que adora a Deus”, e vemos isto nitidamente na vida deste servo de Deus que, em meio a uma situação sócio-cultural tão adversa, é chamado pelo Senhor e posto ao lado do apóstolo Paulo, para realizar uma grande obra para Cristo.
– Ao longo de todo o seu ministério, vemos o grande cuidado que Paulo teve com Timóteo, ensinando-o passo a passo, moldando este que viria a ser um grande obreiro. Em Filipos, não temos menção de Timóteo.
O apóstolo soube preservá-lo, de modo que não sofreu os embates da prisão e dos açoites, pois o apóstolo soube, juntamente com Silas, estar à frente de toda a empreitada, sabendo do caráter de iniciante que tinha o jovem.
– Em Bereia, também, previdentemente, o apóstolo mandou que Timóteo ficasse com Silas ali, enquanto ele ia por mar, fugindo dos judeus de Tessalônica que tinham vindo buscá-lo em Bereia e, chegando a Atenas, já estando seguro, mandou chamá-lo.
– É extremamente necessário que os vocacionados, ainda novatos no ministério, sejam poupados de situações delicadas. Estejam a acompanhar os obreiros mais experientes, mas não devem ser postos à frente dos embates, quando podem ser poupados. É o momento em que devem aprender com o exemplo dos mais experientes, ficando na retaguarda.
– Quando Paulo se reencontra com Timóteo em Corinto, sendo impedido para voltar a Tessalônica, manda que Timóteo para lá se dirija, a fim de confortar os irmãos tessalonicenses, que estavam sendo perseguidos por seus concidadãos, uma vez que o apóstolo era impedido de para lá ir (I Ts.3:1-3).
– Foi o primeiro “teste de fogo” do jovem obreiro. Ir em nome do apóstolo para confortar irmãos que estavam sendo cruelmente perseguidos por seus concidadãos.
Paulo, ao mencionar este episódio na primeira carta que escreveu aos tessalonicenses, chama Timóteo de “nosso irmão, ministro de Deus e nosso cooperador no evangelho de Cristo” (I Ts.3:2).
– Vemos aqui como Paulo via os vocacionados a quem se dedicava. Em primeiro lugar, via-os como
“irmãos”. Paulo sabia que cada salvo era seu irmão e que Jesus é o primogênito de todos estes irmãos (Rm.8:29).
– Jamais devemos nos esquecer que somos iguais diante de Deus e que o Senhor não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34. Rm.2:11; Ef.6:9; Cl.3:25; I Pe.1:17). Em sendo assim, não é porque estejamos em posição de autoridade que iremos fazer dos outros nossos servos, pois um salvo não pode ser servo de homens (I Co.,7:23).
– É evidente que devemos observar o princípio da autoridade, pois ele foi estabelecido pelo Senhor (Rm.13:1,2). Paulo sabia que tinha autoridade sobre Timóteo, autoridade instituída pelo próprio Deus, mas isto não o autorizava, em absoluto, de deixar de reconhecer que ele era irmão de Timóteo e que o primogênito entre os irmãos é o Senhor Jesus.
– Nos dias hodiernos, muitos obreiros não aceitam ser chamados de “irmãos”, exigem ser chamados pelos seus títulos. Comportamento estranho, pois se somos “irmãos” é porque somos irmãos de Jesus Cristo e quem não for irmão de Jesus no céu não entrará. Pensemos nisto!
– Mas Paulo também chama Timóteo de “ministro de Deus”. Além de irmão de Cristo e também do próprio apóstolo, Timóteo era um ministro, um servo do Senhor.
Ele tinha uma chamada da parte de Deus. Se Paulo o estava formando, se ele estava a auxiliar Paulo naquele momento, isto não retirava o fato de que quem o havia chamado e a quem ele servia era o Senhor Jesus.
Por isso, Timóteo estava a serviço de Paulo, naquele seu aprendizado, enquanto fosse a vontade do Senhor, porque Timóteo servia ao Senhor, não a Paulo.
– Os obreiros precisam entender que seus auxiliares são como filhos. Ficam apenas um tempo conosco, depois devem seguir as suas próprias carreiras, as suas próprias vidas ministeriais e os mais experientes devem tão somente abençoá-los e deixá-los seguir.
– Por fim, Timóteo foi chamado de “nosso cooperador no evangelho de Cristo”. Em último lugar, Paulo fala do relacionamento que havia entre ele e Timóteo. Nesta relação, Timóteo é “cooperador de Paulo no evangelho de Cristo”.
Também aqui vemos a total ausência de possessividade no trato de Paulo com Timóteo. Ele não é chamado de “servo”, mas, sim, de “cooperador”, ou seja, aquele que trabalha junto, aquele que também trabalha, que está ao lado. É como “cooperador” que Paulo identifica Timóteo para a igreja em Roma
(Rm.16:21).
– Na dedicação aos vocacionados, os obreiros mais experientes devem delegar tarefas para os mais jovens, conforme a sua capacidade, não podem ser centralizadores ao extremo.
Como costuma se dizer, “aprende-se na prática” e, portanto, faz-se necessário que os obreiros mais jovens recebam delegações, para que possam exercer o seu ministério.
Pouco a pouco devem receber responsabilidades, para que, no momento em que tiverem de assumir suas próprias atividades, não estejam completamente inexperientes e sem vivência.
– A cooperação de Timóteo era “no evangelho de Cristo”, ou seja, ele era chamado para exercer as atividades próprias do reino de Deus, não para cuidar de assuntos particulares do apóstolo, não para ser um “empregado doméstico”, como muitos na atualidade. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Timóteo foi a Tessalônica e, depois, ao retornar, prestou contas ao apóstolo do que havia ali encontrado (I Tm.3:6) e o relatório do jovem obreiro foi importantíssimo pois, com base nele, o apóstolo irá escrever a sua primeira carta, dando início ao ministério epistolar que tem sido o responsável pelo ensino da Igreja durante milênios.
– A presença de Timóteo em Tessalônica foi tão importante, que o apóstolo fez questão de pô-lo juntamente com ele e Silas como autores das duas cartas que enviou aos tessalonicenses (I Tm.1:1; II Ts.1:1), a reconhecer que, ao confortar os irmãos de Tessalônica, Timóteo como que completara a obra evangelizadora efetuada por Paulo e Silas ali, pois, como se sabe, não pudera o apóstolo, em Tessalônica, realizar o trabalho do discipulado plenamente, o que somente terminaria com as duas epístolas que escreveu.
– O bom formador de vocacionados faz com que estes complementem o próprio trabalho efetuado pelo formador. Devem os mais jovens ser treinados deste modo: como aqueles que completam o que é iniciado pelo mais experiente.
– Em Corinto, este papel de complementação será ainda mais desenvolvido. Paulo pregou e ensinou em Corinto, conforme a ordem dada pelo Senhor Jesus (At.18:9-11) mas não o fez sozinho, foi ajudado neste mister por Silas e por Timóteo (II Co.1:19).
– Esta experiência que teve Timóteo em Corinto foi de grande valia e lhe trouxe credibilidade junto àquela igreja, tanto que Paulo pôde mandá-lo àquela igreja complicada, mais de uma vez, para resolver problemas e executar missões específicas, como a coleta para os pobres da Judeia (I Co.4:17; 16:10), tendo também sido posto como remetente da segunda carta àquela igreja (II Co.1:1).
– Nestes gestos, vemos outra atitude que Paulo tinha para com os vocacionados que formava: o reconhecimento.
Paulo reconhecia o empenho e o esforço de seus cooperadores, mostrando isto publicamente, como na colocação de Timóteo como coautor de suas cartas às igrejas em que o seu cooperador havia tido atuação destacada.
– Quando estava em Éfeso, Paulo, ante os problemas que surgiram em Corinto, como já dissemos, para lá mandou Timóteo (At.19:22), e mais de uma vez, a nos mostrar como Timóteo estava se desenvolvendo na vida ministerial, a ponto de já poder atuar como “delegado apostólico”, ou seja, alguém que, em nome do apóstolo, ia às igrejas para resolver problemas e superar dificuldades.
– Em At.19:22, é dito que Timóteo era um dos que serviam a Paulo e alguém poderá dizer que isto contraria o que afirmamos acima. Ledo engano, porém, de quem assim pensa.
A ideia aqui de serviço é a ideia já dita a respeito de autoridade, autoridade que não se confunde com posse; autoridade que é feita nos limites estabelecidos por Deus, ou seja, dentro dos próprios parâmetros reconhecidos pelo próprio Paulo: alguém sob autoridade mas que não deixa, por causa disso, de ser irmão de Jesus Cristo e do apóstolo, ministro de Deus e cooperador do apóstolo no evangelho de Cristo.
– Tanto Timóteo era servo de Paulo que o acompanhou em sua viagem a Jerusalém, onde o apóstolo é preso. Prova disso é que é mencionado por Paulo na epístola aos romanos (Rm.16:21), que foi escrita quando Paulo se dirigia para Jerusalém, pois seu plano era ir para Roma assim que entregasse o que havia recolhido para os pobres de lá (Rm.15:23-25).
– Timóteo será o companheiro de Paulo durante todo este tempo de prisão, tanto que é mencionado como coautor de três das cartas da prisão (Fp.1:1; Cl.1:1; Fm.1), tendo, mesmo, Paulo dito que breve mandaria Timóteo para Filipos, a fim de confortar aqueles irmãos (Fp.2:19), ocasião, aliás, em que, em mais um gesto de reconhecimento, afirma que Timóteo é um verdadeiro filho que dele cuidava como de um pai, já o chamando de experiente, dizendo também que estava ele a cuidar de seus negócios, sendo uma pessoa desprendida, que cuidava daquilo que era de Cristo Jesus (Fp.2:20-23).
– Paulo, nestas palavras, mostra-nos qual deve ser o objetivo da formação de vocacionados: fazê-los ter experiência com Deus e a aprender que se deve buscar o que é do interesse de Cristo Jesus e não os seus próprios interesses.
– O vocacionado para o ministério precisa ser alguém que tenha experiência com o Senhor. Verdade é que todo salvo precisa ter experiência com Deus, pois, como já tivemos ocasião de estudar neste trimestre, a vida cristã é uma contínua aproximação ao Senhor, a ponto de não mais vivermos, mas Cristo viver em nós.
– No entanto, aquele que é chamado para ter autoridade na igreja mais do que nunca deve ter experiência, não pode ser alguém que seja neófito na fé (I Tm.3:6), alguém que primeiramente seja provado e que, então, sirva, demonstrada a sua irrepreensibilidade (I Tm.3:10). Cristo precisa estar nele formado para que possa assumir uma posição desta natureza.
– Mas, além de experiência, é preciso que busca os interesses de Cristo Jesus e não os seus próprios, o que não deixa de ser, também, um aspecto da maturidade espiritual, porque o desinteresse é característica de quem desenvolve em si o amor de Deus (I Co.13:5).
– Timóteo, estando em Roma com o apóstolo, que se encontrava preso, não buscava os seus próprios interesses, não foi dirigir alguma igreja ou buscar “um lugar ao sol”, longe da prisão de Paulo, mas passou a cuidar da pessoa do apóstolo, com todas as implicações que isto poderia causar, pensando apenas no bem da obra de Deus e isto enquanto algumas pessoas chegavam até a pregar o Evangelho movidos por sentimentos mesquinhos e reprováveis (cfr. Fp.1:15,17).
– Nesta sua dedicação pelo apóstolo, parece que chegou a ser, inclusive, preso, mas conseguiu ser solto (Hb.13:23).
– Já maduro espiritualmente, Timóteo podia agora enfrentar os embates que, no início de sua carreira ministerial, não poderia suportar. Paulo, felizmente, havia aprendido esta verdade que, no início da sua própria vida ministerial, não havia compreendido bem, como se verifica no episódio de João Marcos, que, novato, não pôde suportar a dureza da missão e que, por isso, foi rejeitado por Paulo, tendo sido esta a causa da separação dele e Barnabé, mas cujo valor reconheceria no ocaso de sua vida (At.13:13; 15:36-39; II Tm.4:11).
– Esta maturidade espiritual de Timóteo será revelada quando da soltura do apóstolo de sua primeira prisão. Paulo manda que Timóteo vá assumir a direção da igreja de Éfeso, em virtude dos problemas ali existentes (I Tm.1:3), uma árdua tarefa, já que, como profetizado pelo próprio Paulo anos antes, depois de sua partida dali surgiriam lobos cruéis que não perdoariam o rebanho (At.20:29).
– Esta tarefa era tão árdua que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu a primeira carta a Timóteo, que é a sua primeira epístola pastoral, onde dá riquíssimas orientações ao seu cooperador e filho na fé de como deveria se conduzir diante da igreja de Éfeso, tendo, uma vez mais, o Espírito Santo brindado a igreja com o cuidado do apóstolo para com os vocacionados, deixando registrado o ensino de Paulo a Timóteo mas que serve a todos os vocacionados de todo o período da Igreja sobre a face da Terra.
– Por fim, demonstrando que o relacionamento que tinha com Timóteo era um verdadeiro relacionamento de pai com filho, já preso novamente, o apóstolo escreve uma outra carta a ele, mas agora uma carta de despedida, em que pede a companhia do seu cooperador nos seus últimos momentos de vida (II Tm.4:9,13).
– Ali o apóstolo mostra a Timóteo que já era ele um formador de novos obreiros, incentivando-o a confiar a homens fiéis tudo quanto havia aprendido com ele, Paulo (II Tm.2:1), pois assim deve ser a marcha da Igreja sobre a face da terra, uma ininterrupta transmissão da doutrina de Cristo de geração em geração, transmissão esta que deve ser baseada no exemplo de quem transmite e na fidelidade e idoneidade de quem aprende.
II – PAULO, O FORMADOR DE TITO, TÍQUICO E ERASTO
– Paulo não foi apenas formador de Timóteo. Ao longo de seu ministério, Paulo sempre esteve cercado de cooperadores, que ajudou a formar como obreiros na casa do Senhor.
– Além de Timóteo, que, sem dúvida alguma tem destaque neste grupo, tivemos outros que mencionaremos, ainda que ligeiramente.
– O primeiro deles é Tito. As Escrituras não nos indicam quando Paulo conheceu Tito ou de que lugar era ele. Sabe-se que era gentio (Gl.2:3), de modo que foi salvo provavelmente em sua primeira viagem missionária, tanto que foi seu companheiro quando foi a Jerusalém por ocasião do concílio que decidiu não estarem os crentes gentios submetidos à lei de Moisés (Gl.2:1).
– Tito é chamado por Paulo de “meu verdadeiro filho”, a nos mostrar como o apóstolo tinha um relacionamento pessoal, familiar com os seus cooperadores, tanto que trata a Tito como a Timóteo, ou seja, como “filhos”.
Nesta espécie de tratamento, vemos o cuidado que o apóstolo tinha com os vocacionados, procurando-lhes orientar de forma plena, realmente educá-los na vida cristã e na vida ministerial.
– Diz a sociologia que há duas espécies de grupos sociais: o grupo social primário, onde os integrantes compartilham as suas vidas, sentimentos, desejos e têm uma verdadeira vida em comum, de que é exemplo a família; e os grupos secundários, onde o relacionamento não chega ao compartilhamento de vidas, é baseado em metas, finalidades, objetivos, de que é exemplo o local de trabalho.
– A formação de vocacionados, como, aliás, todo e qualquer relacionamento em uma igreja local deve ser um relacionamento de “grupo social primário”, pois aqui está a essência da própria Igreja, que é um corpo, como, aliás, é descrito ter ocorrido na igreja de Jerusalém (At.2:42-47).
É muito triste verificarmos que, em muitos lugares, o relacionamento existente entre os obreiros é meramente profissional, empresarial… Que Deus nos guarde!
– Tito é, também, chamado por Paulo de “meu irmão” (II Co.2:13), a confirmar aqui que, assim como considerava Timóteo como “irmão”, acima de tudo, também o fazia em relação a Tito, revelando ser, pois, esta uma prática comum e corriqueira da parte do apóstolo para com os seus cooperadores. Jamais devemos nos esquecer que cada salvo é um irmão de Cristo Jesus.
– Tito, assim como Timóteo, foi sendo pouco a pouco envolvido na obra de Deus. Vai ao concílio de Jerusalém como mero acompanhante de Barnabé e de Paulo (Gl.2:1).
Ali o jovem obreiro pôde presenciar os embates de Barnabé e Paulo com os judaizantes, bem como as declarações de Pedro e de Tiago, bem como o Espírito Santo dirigiu a todos para que se entendesse não estarem os crentes gentios submetidos à lei de Moisés.
– Com o tempo, porém, Tito já teria mais desenvoltura, tanto que o apóstolo disse ter ficado preocupado quando, indo para Trôade, a fim lá pregar o Evangelho, não encontrou ali Tito (II Co.2:12,13), prova de que este seu cooperador tivera o propósito de ali pregar, já tendo, assim, condições de fazê-lo.
– Quando o apóstolo estava na Macedônia, em meio aos embates que enfrentava em Tessalônica e em Bereia, eis que surge Tito, que veio consolá-lo (II Co.7:6).
Paulo aqui revela que o formador não pode se apresentar como um “supercrente”, como “alguém acima de qualquer dificuldade”, mas como um ser humano normal, que, embora tenha a autoridade sobre os formandos, não deixa de depender deles, pois, em Cristo, somos membros uns dos outros (Rm.12:5; Ef.4:25).
– Paulo não se sentiu diminuído por ter sido consolado por Tito, por ter recebido a ajuda de um cooperador seu e o diz exatamente numa carta onde está a defender o seu apostolado perante a igreja de Corinto.
– Em Corinto, Paulo, aliás, vai se utilizar de Tito mais de uma vez nos embates que teve com aqueles crentes.
Tudo indica que foi Tito o portador da chamada “carta severa”, a epístola não constante das Escrituras em que o apóstolo teria repreendido duramente os crentes de Corinto (cfr. II Co.2:3,4), tendo tido êxito em consolar os coríntios (II Co.7:7-11).
– Paulo também designou Tito para cuidar da coleta para os pobres de Jerusalém em Corinto (II Co.8:6), sendo certo que Tito era uma pessoa que aprendera com Paulo e, a exemplo de Timóteo, estar preocupado com o bem-estar material e espiritual dos crentes (II Co.8:16,17), tendo sido exortado, ou seja, estimulado, incentivado e animado por Paulo a realizar esta tarefa (II Co.8:17).
– Aqui vemos que o formador não é apenas um atribuidor de tarefas, alguém que dá ordens. Muito mais do que isto, o formador de vocacionados precisa mostrar aos seus formandos a importância e o significado daquilo que se está pedindo a fazer, como isto é importante para o reino de Deus e como isto contribuirá para o aprimoramento do jovem obreiro. É crucial ao formador ter o dom da exortação (Rm.12:8).
– Tudo indica que Tito tinha algum receio em realizar a coleta em Corinto, uma igreja que era muito ciosa com a questão da contribuição.
Há, inclusive, quem diga que Tito foi a Corinto para complementar o trabalho que Timóteo não teria sido exitoso em realizar e, por isso mesmo, Tito tinha receio de que, numa segunda ida a Corinto, e ainda para angariar recursos, houvesse grande probabilidade de fracasso, mas Paulo o fez dissuadir deste temor.
– Ao escrever a segunda carta aos coríntios, Paulo faz questão de enaltecer Tito, chamando-o de “meu companheiro e cooperador para convosco”, reafirmando, assim, a autoridade de seu formando junto àquela igreja.
Paulo considera Tito como “companheiro”, ou seja, aquele que tem comunhão com ele. Há extrema necessidade de o formador ter comunhão com os seus formandos, um relacionamento estreito, um compartilhamento de vida.
– Também, a exemplo de Timóteo, era “cooperador”, ou seja, alguém que trabalhava junto, que ajudava e o apóstolo fez questão de reconhecer que o árduo trabalho que tinha para com a igreja de Corinto era desempenhado também por Tito.
– Tito, a exemplo de Timóteo, também era alguém desprendido, que não visava nem buscava seus interesses, tanto que Paulo pôde mostrar aos coríntios que Tito jamais tinha se aproveitado daqueles irmãos e que, por isso mesmo, era pessoa acima de qualquer suspeita para recolher as ofertas aos pobres de Jerusalém (II Co.12:18).
– Paulo dera exemplo de desprendimento (cfr. II Co.11:8,9) e podia dizer que Tito seguia as suas pisadas (II Co.12:18). Um formador precisa, antes de tudo, ser um exemplo!
– Por fim, Tito foi, a exemplo de Timóteo, escalado também como “delegado apostólico” depois da primeira prisão de Paulo, tendo sido mandado pelo apóstolo para Creta a fim de ordenar as igrejas que ali havia (Tt.1:5), tendo, também, escrito uma carta para orientar como devia seu cooperador proceder nesta tarefa.
– Dali, posteriormente, foi mandado para a Dalmácia (Tt.4:10), passando então a desenvolver um ministério próprio, ante a morte de Paulo. A tradição diz que voltou para Creta.
– Outro cooperador de Paulo mencionado nas Escrituras é Tíquico, que é mencionado como tendo sido um dos companheiros de Paulo, “dos da Ásia”, quando este deixou Éfeso (At.20:4).
– Tíquico é chamado pelo apóstolo como “irmão amado e fiel ministro do Senhor” (Ef.,6:21) e, uma vez mais, vemos como Paulo considerava aqueles que estavam junto de si. Como irmão de Jesus e ministro do Senhor, amando o irmão e constatando a sua fidelidade ao Senhor. É esta a postura que devemos ter com nossos formandos: amá-los e procurar neles a fidelidade.
– Em Cl.4:7, Paulo volta a chamar Tíquico de “irmão amado” e “fiel ministro”, mas acrescenta que é “conservo no Senhor”. Mais uma vez o apóstolo se iguala aos seus cooperadores, lembrando a todos que servimos a Deus e que somos todos conservos, como, aliás, vai se considerar o anjo que acompanhava João nas revelações do Apocalipse (Ap.22:9).
Se até anjo se considera conservo, por que temos, hoje em dia, pessoas “tão importantes” que não aceitam sequer ser tratados como iguais? Pensemos nisto!
– Tíquico foi muito utilizado por Paulo para ir às igrejas a fim de confortar os irmãos durante a prisão do apóstolo e mesmo depois dela. Assim é que foi enviado para Éfeso (Ef.6:21; II Tm.4:12), Colossos (Cl.4:7) e Creta (Tt.3:12), onde provavelmente substituiu Tito na organização das igrejas.
– Por fim, façamos menção de Erasto, que é dito ser alguns dos que serviam a Paulo e que fez companhia a Timóteo na ida deste à Macedônia (At.19:22) e que foi deixado por Paulo em Corinto, quando este foi para Trôade, onde acabou preso pela segunda vez (II Tm.4:20).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6900-licao-9-paulo-e-sua-dedicacao-aos-vocacionados-i