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Lição 06 — A fidelidade dos obreiros do Senhor

A obra de Deus deve ser realizada coletivamente.

INTRODUÇÃO

– Na continuidade do estudo da carta de Paulo aos filipenses, estudaremos hoje a parte final do segundo capítulo, em que Paulo relata a cooperação de Timóteo e de Epafrodito.

– A obra de Deus deve ser realizada coletivamente, pois todos somos membros em particular do corpo de Cristo.

I – A DEPENDÊNCIA DO CRISTÃO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS MEMBROS DA IGREJA

– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos filipenses, estudaremos a parte final do segundo capítulo (Fp.2:19-30), ocasião em que o apóstolo, após ter dito qual era o comportamento que esperava ver nos crentes de Filipos, quando os visse novamente, após ser libertado da prisão, relata àquela igreja o trabalho e a cooperação de dois obreiros que com ele estavam em Roma, a saber: Timóteo e Epafrodito.

– O fato de Paulo mencionar a respeito destes dois amados irmãos e de reconhecer o grande empenho que estavam a ter naqueles momentos tão difíceis do ministério do apóstolo, é mais uma evidência de que a obra de Deus não se realiza solitariamente, de que dependemos todos uns dos outros.
– O próprio Paulo já havia ensinado isto à igreja em Corinto quando, ao escrever a primeira epístola canônica àqueles crentes, que viviam em perigoso estado de divisão (I Co.1:12,13; 3:3), demonstrara que a Igreja é o corpo de Cristo e cada um dos salvos, seus membros em particular (I Co.12:27).

– O apóstolo já ressaltara nesta carta aos filipenses, como já tivemos ocasião de verificar em lições anteriores, a necessidade de que houvesse unidade na Igreja para que todos possam ter o mesmo espírito e, por conseguinte, combatam juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho (Fp.1:27).

– Ao contrário da igreja que estava em Corinto, a igreja em Filipos sempre tinha dado demonstração de unidade, tanto que sempre ajudara o ministério do apóstolo Paulo ao longo dos anos, reconhecendo também o seu lugar junto à Igreja universal, tanto que o apóstolo, logo no limiar de sua epístola, faz questão de ressaltar a sua alegria pela cooperação que tinham eles na evangelização (Fp.1:5).

– No entanto, como o apóstolo não se cansava de dizer as mesmas coisas, pois isto era segurança para os crentes (Fp.3:1), fez questão de falar a respeito da necessidade da unidade que deveria haver entre os irmãos, como também da própria fidelidade na cooperação, e, para tanto, faz questão de dar os exemplos concretos de duas pessoas bem conhecidas pelos filipenses: Timóteo e Epafrodito.

– Quando de seu ensino aos coríntios, Paulo fez questão de mostrar que o corpo de Cristo é um só, mas os membros, muitos e que, assim como ocorre com o organismo humano, cada membro tem uma função específica, que é exclusiva mas absolutamente necessária para o bem-estar de todo o corpo.

– Precisamos, em nossos dias, rememorar este ensino de Paulo, pois, infelizmente, o individualismo e o egoísmo têm encontrado lugar em muitas igrejas locais, causando imenso prejuízo a toda a obra de Deus.

– Cada um dos salvos é, como afirma o apóstolo dos gentios, “batizado em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebidos de um Espírito, porque também o corpo não é um só membro, mas muitos” (I Co.12:13,14).

– A partir do momento em que cremos em Jesus como único Senhor e Salvador, somos “mergulhados” neste corpo, passamos a fazer parte dele, pois nascemos de novo (Jo.3:3), somos “novas criaturas” (II Co.5:17; Gl.6:15), criaturas estas que passam a ser “partes do corpo de Cristo”, passam a ser “membros em particular deste corpo” e, como tal,passam a realizar uma determinada função específica neste corpo, dependendo, pois, dos outros membros para continuar a sobreviver.

– Esta analogia que Paulo faz da Igreja como sendo o corpo de Cristo não tem sido compreendida por muitos. A partir do instante em que ingressamos no corpo de Cristo, como “novas criaturas”, perdemos a nossa “autonomia”, ou seja, aquela independência que nos fazia viver dizendo que não precisávamos de Deus, pois, na ilusão do pecado, na ignorância espiritual, vivíamos como se Deus não existisse, como se fôssemos iguais a Deus, sabendo o bem e o mal, crendo na mentira satânica contada desde os primeiros pais (Gn.3:5).

– Deixamos de ser pessoas autossuficientes para reconhecermos que precisamos de Jesus, que, sem Ele, nada podemos fazer (Jo.15:5), d’Ele dependendo para viver, tanto que não mais vivemos, mas é Cristo quem vive em nós (Gl.2:20), pois Ele é a vida e a luz dos homens (Jo.1:4; 14:6).

– Esta dependência não se dá apenas em relação a Cristo, visto que passamos a ser varas da videira verdadeira (Jo.15:1,4,5), mas, também, dos demais salvos em Cristo Jesus, visto que, como varas da videira, como membros em particular do corpo de Cristo, não só dependemos apenas da cabeça, mas, igualmente, do bem- estar de todos os demais membros.

– Como “novas criaturas”, como membros em particular do corpo de Cristo, não podemos realizar todas as funções do organismo vivo, mas somente aquela que nos é determinada pela cabeça e, para que sobrevivamos, dependemos da boa realização das funções por parte dos outros integrantes do corpo. Somos agora apenas “partes” deste corpo, que necessitam das outras partes para sobreviver.

– Assim, não dependemos apenas de Cristo mas, também, dos demais irmãos, dos outros salvos, o que nos mostra que não é possível servirmos a Cristo Jesus senão por meio da Igreja, deste corpo único de Cristo, corpo este que se apresenta visivelmente através das igrejas locais.

– Não é por outro motivo que, na vida cristã, há uma série de recomendações para que o cristão sempre esteja à disposição do outro, que viva na dependência do outro, a começar do novo mandamento que nos deixou o Senhor Jesus que nos manda amar uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12,17), mandamento este exarado no contexto já mencionado da nossa condição de sermos varas da videira verdadeira.

– Mas não se tem apenas a obrigação de amar o cristão ao outro como Cristo o amou, mas, ao longo das Escrituras, vemos que os servos de Cristo Jesus devem se amar cordialmente uns aos outros (Rm.12:10; 13:8; I Ts.4:9; I Pe.1:22; I Jo.3:11,23; 4:7,11); não se devem julgar uns aos outros (Rm.14:13); receber-se uns aos outros (Rm.15:7); admoestar uns aos outros (Rm.15:14; Cl.3:16); saudar uns aos outros (Rm.16:16); servir-se uns aos outros pelo amor (Gl.5:13); não morder nem se devorar uns aos outros (Gl.5:15); não se irritar nem invejar uns aos outros (Gl.5:26); suportar uns aos outros em amor (Ef.4:2; Cl.3:13); perdoar uns aos outros (Ef.4:32; Cl.3:13); sujeitar-se uns aos outros no temor de Deus (Ef.5:21); não mentir uns aos outros (Cl.3:9); ensinar uns aos outros (Cl.3:16); consolar uns aos outros (I Ts.4:18); exortar uns aos outros (I Ts.5:11; Hb.3:13); edificar uns aos outros (I Ts.5:11); considerar uns aos outros (Hb.10:24); confessar as culpas uns aos outros (Tg.5:16); orar uns pelos outros (Tg.5:16).

– Notamos, pois, que a dependência em relação aos demais irmãos é imensa a partir do momento em que ingressamos no corpo de Cristo, de modo que não temos como criar, em nós, se realmente somos salvos, qualquer comportamento de autossuficiência, de individualismo, como, infelizmente, temos visto muitos agirem nestes dias tão difíceis em que vivemos.

– A vida cristã é uma vida necessariamente comunitária, pois não é bom que o homem esteja só (Gn.2:18), e, por isso, precisamos estar sempre servindo a Deus em uma igreja local, sendo uma falácia a teoria do “self- service”, ou seja, do “cultuar a Deus sozinho”, como muitos têm vivido na atualidade. Precisamos uns dos outros e, por isso, não é possível alcançarmos a salvação a não ser vivendo na dependência dos demais membros em particular do corpo de Cristo.

– Paulo reconhecia esta dependência e, ao longo da epístola aos filipenses, não cessa de lembrar que os crentes de Filipos eram participantes de seu ministério, que, apesar de ter sido chamado pelo Senhor para evangelizar os gentios, nada teria feito sozinho, em tudo era dependente das orações e da cooperação dos demais salvos, em especial, da igreja em Filipos.

– Por isso mesmo, quando termina seu relato a respeito do que esperava ver no comportamento de cada crente filipense, dá dois exemplos concretos de cooperação de dois obreiros bem conhecidos daqueles irmãos, a fim de que, pelo exemplo daqueles homens, eles permanecessem não só com uma vida virtuosa, mas com uma vida virtuosa comunitária, como deve ocorrer em todos os que servem a Jesus Cristo.

– Sabendo que seria liberto desta prisão, como o Senhor o havia revelado, o apóstolo não deixa de considerar o fator tempo, ou seja, embora tivesse consciência de que o Senhor o libertaria e que, uma vez mais, iria rever os crentes de Filipos, Paulo entendeu que isto ainda poderia durar um certo tempo (a justiça já era lenta naquela época…) e o abalo dos filipenses exigia, de pronto, um tratamento, visto que a “esperança demorada enfraquece o coração” (Pv.13:12).

– Por isso, resolveu não só escrever a epístola que estamos a estudar, mas que ela fosse imediatamente levada aos filipenses por Epafrodito, que havia sido enviado pelos próprios filipenses para levar uma ajuda financeira ao apóstolo, cuja saúde se deteriorara e quase morrera, o que aumentou ainda mais a angústia e preocupação dos crentes de Filipos.

– Mas, além de mandar Epafrodito, com a sua epístola, Paulo também planejou a ida de Timóteo, que era o coautor da epístola (Fp.1:1), antes do próprio apóstolo, a fim de que os ânimos dos filipenses fossem ainda mais fortalecidos, antes da chegada do próprio apóstolo àquela colônia romana.

– Paulo aqui, portanto, demonstra que não se achava o único e exclusivo servo de Deus, não tendo qualquer sentimento de autossuficiência ou de superioridade, bem diferente dos “falsos apóstolos” que estão hoje a infestar o meio evangélico.

– Embora o apóstolo soubesse que fosse da vontade de Deus a sua libertação e que ele ainda mais uma vez veria os crentes de Filipos, nem por isso entendeu que só a sua presença pessoal seria capaz de dar novo alento à fé daqueles crentes, mesmo sendo ele o fundador daquela igreja.

– Como é belo quando os obreiros do Senhor reconhecem que, apesar de toda a honra que lhes é devida pelo incessante trabalho realizado em prol da seara do Mestre, não são eles insubstituíveis nem imprescindíveis para a realização desta mesma obra. Como é belo quando os grandes homens de Deus sabem que têm de se cercar de pessoas igualmente idôneas que podem, na sua ausência, realizar esta mesma obra, porque ela é de Deus e não dos homens.

– Em nossos dias, infelizmente, não são poucos os obreiros que concentram em suas mãos todas as atividades, que não admitem a cooperação livre e dedicada de outras pessoas e, como consequência, fazem a obra de Deus sofrer grandemente, pois os homens têm limitações e não podem estar, ao mesmo tempo, em vários lugares. Como se isso fosse pouco, a falta de exercício por parte dos demais obreiros, faz com que, na falta daquele líder centralizador, a obra de Deus fique acéfala e muitos problemas exsurjam daí, visto que os sucessores e auxiliares não foram devidamente exercitados no desempenho à frente do rebanho do Senhor.

– Paulo não era destes homens, mas, bem ao contrário, sabendo que não poderia estar de imediato com os crentes de Filipos, resolve mandar, por primeiro, a Epafrodito, que inclusive seria o portador da epístola (Fp.2:25) e, em seguida, Timóteo, que, com o próprio Paulo, estivera no início do trabalho em Filipos (At.16:3,9,10).

II – TIMÓTEO, O FILHO NA FÉ DO APÓSTOLO PAULO

– Assim, o apóstolo Paulo, em sua carta, anuncia que, em breve, mandaria Timóteo para que estivesse com os irmãos em Filipos. Timóteo estava junto do apóstolo em Roma, sendo um cooperador extremamente fiel de Paulo desde o início da segunda viagem missionária (At.16:1-3).

– Timóteo, cujo nome significa “honrado por Deus”, era um mestiço, pois sua mãe, Eunice, era judia (II Tm.1:5), mas seu pai, cujo nome ignoramos, era grego (At.16:1), que morava na cidade de Listra . Vemos, portanto, que, já no lar de Timóteo, tudo contribuiria para que aquele menino não fosse educado segundo os princípios judaicos, já que se vivia uma sociedade patriarcal, onde a predominância do homem era evidente.

– No entanto, Eunice, ajudada por sua mãe e avó de Timóteo, Loide (II Tm.1:5), soube educar Timóteo nos caminhos do Senhor, sendo certo que Eunice creu em Jesus Cristo como Senhor e Salvador, tanto que é chamada de “crente” nas Escrituras (At.16:1).

– Logo vemos que toda a vida cristã exemplar de Timóteo teve origem em seu lar, um lar espiritualmente dividido, mas, mesmo assim, Eunice, com todas as dificuldades existentes, pôde transmitir a seu filho a fé em Cristo Jesus, o que fundamental para que aquele menino se tornasse um dos maiores cooperadores do apóstolo Paulo e, ele próprio, se tornasse um grande obreiro, pois tudo indica que Timóteo se tornou o pastor de Éfeso, uma das principais igrejas do primeiro século.

– Para que tenhamos bons obreiros na igreja do Senhor, portanto, é mister que os pais ajam como fez Eunice, ou seja, que doutrinem seus filhos desde a mais tenra infância, que se dediquem ao ensino da Bíblia Sagrada aos seus filhos, apesar de todas as dificuldades existentes, que não podem ser consideradas maiores que as vividas por Eunice.

– Eunice não tinha o apoio da comunidade judaica, já que havia se casado com um gentio. Como se isto fosse pouco, seu filho não era circuncidado (pois quem o circuncidaria seria o próprio Paulo, como se vê de At.16:3), o que fazia com que Eunice fosse considerada uma verdadeira renegadora do judaísmo pela comunidade judaica de Listra.

– Eunice, também, não tinha o apoio da comunidade grega, pois era considerada uma “bárbara”, uma estrangeira que, inclusive, não havia aderido ao paganismo, pois se mantinha fiel às sagradas letras, à Palavra de Deus.
– Tudo indica, também, que Eunice não tinha o apoio sequer de seu marido que, embora tivesse casado com ela, não lhe permitiu que circuncidasse a Timóteo e, com toda certeza, tentava inculcar na mente do menino os valores e o “modus vivendi” grego, como podemos verificar das próprias ilustrações dadas pelo apóstolo a seu filho na fé, como a do atleta, inclusive aconselhando o jovem a que não desse muito valor aos exercícios físicos (I Tm.3:8), uma das características da mentalidade grega.

– Todavia, diante de todas estas dificuldades, Eunice soube seguir o exemplo de sua mãe, Loide, tendo conseguido superar tudo para instruir Timóteo no caminho em que ele devia andar e, por isso, quando ele amadureceu, não se esqueceu dele (Pv.22:6).

– Temos, também, amados irmãos, agido desta maneira? Muitos criticam a qualidade dos obreiros na igreja do Senhor em nossos dias, fazendo comparações com os nossos pioneiros e pais na fé, dizendo haver uma “decadência espiritual” em nosso meio, mas, indaga-se, fizemos o trabalho que Eunice e Loide fizeram com relação a Timóteo? Temos feito a nossa parte de dar a educação doutrinária a nossos filhos que, se Jesus não voltar, estarão sendo os obreiros da próxima geração? Pensemos nisto!

– O fato é que, quando Paulo esteve em Listra, acompanhado de Silas, no início da sua segunda viagem missionária, pôde conhecer a Timóteo e ter tanto dos crentes de Listra quanto de Icônio relatos a respeito do bom testemunho que tinha aquele jovem, relatos tão impressionantes e vigorosos, que fizeram com que o apóstolo decidisse levá-lo em sua companhia para a viagem (At.16:1-3).

– Vemos, pois, que um obreiro precisa ser, primeiramente, formado e, depois, dar indicação de que Cristo nele está para que possa ser levado ao ministério. Timóteo teve formação desde o berço e esta formação foi tal que apresentou aos crentes um testemunho que o habilitou para que se tornasse um cooperador do apóstolo.

– Paulo não levou em consideração a etnia de Timóteo, tampouco a sua situação financeira ou, mesmo, a sua idade. Paulo levou em conta a vida espiritual daquele jovem, vendo-o devidamente preparado nas sagradas letras e tendo uma vida cristã comprovada. Serão estes, aliás, os requisitos que recomendará o próprio Timóteo verificar para a separação ao ministério (I Tm.3:1-13).

– Em nossos dias, porém, além de não mais haver o mesmo cuidado da formação dos filhos nos lares, a separação ao ministério tem sido, muitas vezes, norteada por interesses outros que não o da vocação pelo Senhor e o da apresentação de um bom testemunho e o resultado é o que estamos a contemplar, ou seja, centenas e centenas de obreiros mal preparados, sem qualquer vocação, que tão somente atendem aos interesses escusos que os levou à separação. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Assim que chamado a pertencer à equipe de Paulo, Timóteo foi circuncidado pelo apóstolo (At.16:3), circunstância que causa espécie, já que o apóstolo estivera em Jerusalém para defender a tese, que foi vencedora, de que os cristãos não se encontravam mais debaixo da lei de Moisés, sendo que Paulo estava a passar por Listra e Icônio exatamente para dar conhecimento àqueles crentes do que se decidira em Jerusalém.

– No entanto, esta perplexidade é logo dissipada pois o próprio texto sagrado nos esclarece que esta circuncisão foi feita por causa dos judeus, pois todos sabiam que o pai de Timóteo era grego e, como a resistência dos judeus era muito grande ao trabalho do apóstolo, entendeu Paulo por bem circuncidar a Timóteo para que não se tivesse um motivo de escândalo.

– Aqui vemos, mais uma vez, o apóstolo Paulo mostrando que dependemos uns dos outros e que não podemos nos comportar de modo individualista e egoísta na obra do Senhor. Não podemos ser instrumento de escândalo (Mt.18:7) e isto Timóteo aprendeu no próprio ato em que foi separado para o ministério, submetendo-se à circuncisão, para que não fosse motivo para fazer outros tropeçar na fé (Rm.14:13-17).

– O fato é que Timóteo, já incorporado à equipe do apóstolo, com ele esteve na fundação da igreja em Filipos, de modo que os crentes filipenses bem conheciam aquele obreiro e também haviam contemplado o seu bom testemunho e o seu zelo pela obra do Senhor.

– Timóteo era pessoa de confiança do apóstolo, tanto que iria para Filipos para que o apóstolo tivesse notícia dos negócios e de como os filipenses estavam, o que daria a Paulo um bom ânimo (Fp.2:19).

– Isto já nos mostra que Timóteo era um homem fiel, em cuja palavra se podia confiar. Paulo tinha absoluta certeza que Timóteo lhe relataria exatamente o que estava ocorrendo em Filipos, era um homem cujo falar era sim, sim, não, não (Mt.5:37; Tg.5:12), como convém a todos os que servem a Jesus.

– Será que somos pessoas de confiança? Será que sempre falamos a verdade, aquilo que vemos e ouvimos? Ou já temos nos tornado inventores de males (Rm.1:30), pessoas cujo falar não inspira confiança, já que são mentirosas e, portanto, comprometidas com o diabo, que é o pai da mentira (Jo.8:44)?

– Timóteo, além de ser alguém que falava a verdade e em cuja palavra se podia confiar, também era alguém que se importava com os outros, que tinha amor fraternal. O apóstolo diz que “a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado” (Fp.2:20).

– Timóteo era um verdadeiro pastor, alguém que se preocupava com o estado das suas ovelhas, alguém que tinha por objetivo na vida apascentar o rebanho do Senhor, querendo o seu progresso espiritual e que estivesse ele caminhando firmemente para o encontro com o Senhor nos ares no dia do arrebatamento da Igreja.

– Paulo via como Timóteo tinha preocupação com o estado daqueles crentes, pois se sentia participante da evangelização daquela colônia romana, a sua primeira experiência no campo missionário. Certamente, sempre que tinha oportunidade, o jovem Timóteo era visto pelo apóstolo perguntando a respeito dos irmãos filipenses, de como estavam, não sendo demais imaginar que perguntasse particularmente por alguns irmãos que havia conhecido quando esteve ali na companhia do apóstolo.

– Este cuidado de Timóteo pelos irmãos, pelo estado espiritual dos irmãos, explica porque, vez ou outra, era ele quem o apóstolo enviava para verificar como estavam os irmãos das igrejas fundadas por ele (At.19:22; I Co.4:17; 16:10; I Ts.3:2,6).

– Timóteo não era fiel nas palavras, mas também fiel ao Senhor que o chamara para o santo ministério (I Tm.4:14), pois o pastor fiel é aquele que procura saber qual é o estado de suas ovelhas , que põe o coração nelas (Pv.27:23), pois deve prestar contas delas ao Senhor (Hb.13:17).

– O Senhor bem observa como os pastores estão a cuidar do rebanho que apascentam, que não é do pastor, mas, sim, de Deus (I Pe.5:2), pois para isto foram chamados. Pastores devem cuidar, em primeiro lugar, do rebanho, do seu estado espiritual e não, como muitas vezes tem ocorrido, tão somente da administração da organização, sendo meros administradores, meros gestores.

– Como bem afirmou o pastor Altair Germano, um dos maiores ensinadores das Assembleias de Deus na atualidade, “…Gestor cuida de coisas, pastor cuida de ovelhas. Gestor visita obras, pastor visita ovelhas. Gestor administra os negócios, pastor alimenta as ovelhas.…” (Pastor ou gestor. Disponível em: http://www.altairgermano.net/2010/02/gestor-ou-pastor.html Acesso em 06 jun. 2013).

– Timóteo dava muito valor ao seu chamado para o ministério e, por isso, cuidava das pessoas, queria saber de seu estado, sendo este um dos principais aspectos de sua fidelidade ao Senhor. Que bom seria se todos os obreiros fossem assim…

– O Senhor está atento para o comportamento dos obreiros com relação às Suas ovelhas. O profeta Ezequiel é prova disto, quando traz uma duríssima mensagem aos maus pastores de seu tempo, porque apascentavam a si mesmos, ou seja, tinham cuidado apenas de si, mas não estavam a cuidar do povo de Israel (Ez.34:1-6).

– Cuidar das ovelhas, segundo depreendemos desta mensagem profética, é, em primeiro lugar, não explorá- las. Os maus pastores do tempo de Ezequiel comiam a gordura e se vestiam da lã, degolando, ainda, o cevado, mas não apascentavam as ovelhas (Ez.34:3).

– Como é triste verificarmos, em nossos dias, centenas e centenas de obreiros que querem ser servidos pelas ovelhas, que querem tão somente retirar delas o meio de sobrevivência e, mais do que isto, a partir dos recursos econômico-financeiros das ovelhas terem uma vida regalada e de luxo, muito superior ao que teriam como não ostentassem uma posição eclesiástica.

– Não estamos aqui a dizer que os obreiros não possam ser assalariados, como alguns chegam a defender, pois a Bíblia Sagrada é clara ao dizer que o obreiro é digno do seu salário (Lc.10:7; I Tm.5:18), mas existe uma diferença entre a dignidade do salário e a exploração desenfreada para que se tenha uma vida regalada e de luxo sem qualquer preocupação para com os servos do Senhor postos sob seus cuidados.

– O obreiro é digno do seu salário, mas o salário é o pagamento por um serviço e o que se tem visto, hodiernamente, é que muitos estão a auferir grandes somas sem que estejam a trabalhar para que façam jus a este numerário. “Obreiro” é aquele que trabalha, não aquele que tão somente deseja que outros trabalhem para si.

– Mas, ainda nos reportando à mensagem profética, vemos que apascentar as ovelhas é “fortalecer o fraco”, “curar o doente”, “ligar o quebrado”, “trazer o desgarrado” e “buscar o perdido” (Ez.34:4).

– O pastor fiel conhece as ovelhas do Senhor que estão sob seus cuidados e, por isso, em primeiro lugar, sabe quando alguma delas está fraca, doente e quebrada, sendo sua função proporcionar meios pelos quais haja fortalecimento, cura e ligadura.

– O pastor fiel deve tratar as ovelhas do Senhor, dando-lhes o alimento, que é a Palavra de Deus, bem como tendo uma vida de oração para que, com sabedoria, possa promover as necessárias curas e ligaduras nas ovelhas que se encontram espiritualmente doentes e machucadas pelo cotidiano penoso de aflições que passamos nesta nossa peregrinação terrena.

– Para fortalecer a ovelha fraca, curar a doente e ligar a quebrada, torna-se necessário alimentá-la e isto exige do pastor um tratamento particularizado, a ministração da Palavra, o aconselhamento, a visita, a oração conjunta, a demonstração de afeto, enfim, uma comprovação do amor fraternal, o que existia na vida de Timóteo, que não somente perguntava a respeito dos crentes, mas, também, ia visitá-los e verificar “in loco” a situação.

– Agora, para fortalecer o fraco, é mister que o pastor esteja forte, ou seja, ele próprio tenha se alimentado da Palavra e tenha uma vida de oração que o permita ter condições de entregar ao rebanho aquilo que ele mesmo recebeu do Senhor, pois não se pode ensinar algo que não se tenha aprendido, recebido (I Co.11:23).

– Neste ponto, lamentavelmente, temos visto o fracasso de muitos obreiros, pois não têm eles qualquer vida de comunhão com Deus, qualquer intimidade com o Senhor e, portanto, estando fracos e espiritualmente doentes e quebrados, não têm, mesmo, como fortalecer os fracos, curar os doentes e ligar os quebrados.

– Mas, além disso, o profeta Ezequiel nos diz que apascentar o rebanho de Deus é “trazer o desgarrado” e “buscar o perdido” (Ez.34:4). O próprio Jesus, quando ensinou a parábola da ovelha perdida, mostra que o bom pastor é aquele que vai atrás da ovelha perdida, sem medir esforços para isto (Mt.18:12,13; Lc.15:4-7).

– Mas, para trazer a desgarrada e buscar a perdida, torna-se necessário que o pastor tenha conhecimento de quem são suas ovelhas. O pastor da parábola de Jesus sabia que tinha cem ovelhas e, ao contá-las, quando entravam elas no aprisco, notou a falta de uma e foi buscá-la.

– Hoje em dia, porém, não é difícil encontrarmos pastores que não sabem sequer quem são os integrantes do rebanho do Senhor que estão sob seus cuidados. As megaigrejas são locais de um tratamento de massa, totalmente impessoal, onde não há controle algum dos membros. Muitos se desviam dos caminhos do Senhor e não são sequer notados como ausentes.

-Na mensagem profética dada a Ezequiel, o Senhor mostra todo o Seu desagrado com os pastores que deixam as ovelhas se espalharem e ficarem à mercê das feras do campo (Ez.34:5). Cuidado, pastores, o Senhor está vendo esta situação!

– Mas, apascentar o rebanho é “não dominar sobre elas com rigor e dureza” (Ez.34:4), algo que também é mencionado pelo apóstolo Pedro (I Pe.5:3). O pastor fiel deve saber que as ovelhas não são suas, mas, sim, do Senhor e que, portanto, como depositários, devem cuidar delas com todo zelo e carinho, para que elas sejam apresentadas ao seu dono no momento apropriado, devidamente saudáveis, fortes e no aprisco.
– Timóteo tinha cuidado em saber do estado das ovelhas, pois bem sabia que elas precisavam ser apresentadas ao Senhor em bom estado, daí porque não buscava os seus próprios interesses, mas tão somente os de Cristo Jesus (Fp.2:21).
– Para que alguém ser um pastor fiel, que não seja repreendido duramente pelo Senhor, faz-se mister que não busque satisfazer os seus interesses, mas, sim, que busque servir aos interesses de Cristo Jesus.

– O amor de Deus que é posto em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5), é um amor desinteressado (I Co.13:5). Por isso, o servo de Jesus nunca busca satisfazer o seu ego, ou ser servido, mas, imitando a Cristo, busca servir aos outros, vive para o serviço (Mt.20:28; Mc.10:45).

– Bem se vê, portanto, que aqueles que se utilizam da obra de Deus para satisfazer os seus interesses, que, mediante a obra do Senhor, estão a angariar algo para si (dinheiro, fortuna, posição, fama, popularidade, poder etc. etc. etc.), são pessoas completamente desvirtuadas, que não agradam a Deus e que, por isso mesmo, não podem ser considerados legítimos obreiros do Senhor, mas são, na verdade, “inimigos da cruz de Cristo”, como o próprio apóstolo nomeará nesta mesma carta aos filipenses (Fp.3:18,19). OBS: Neste aspecto, interessante aqui mencionar o que disse a respeito o atual chefe da Igreja Romana, conforme notícia que se transcreve na parte pertinente: “…O Papa Francisco fez uma dura crítica ao “carreirismo eclesiástico”, nesta manhã, 28/05, durante a tradicional Missa que celebra na Casa Santa Marta. O Santo Padre disse na sua homilia que”quem acompanha Jesus como um ‘projeto cultural’, usa esta estrada para subir na vida… o cristão, porém, segue Jesus por amor”. Francisco ainda frisou que o seguimento de Jesus não implica poder, porque “o seu caminho é o da cruz”. Para o Papa, o anúncio cristão deve ir “aos ossos, ao coração”.…” (CHRISTO nihil praeponere. Para Francisco critica o ‘carreirismo eclesiástico’. Disponível em: http://padrepauloricardo.org/blog/papa-francisco-critica-o-carreirismo-eclesiastico Acesso em 06 jun.2013) (destaque original). Infelizmente, isto não ocorre apenas na Igreja Romana…

– Timóteo era, também, uma pessoa experiente. O apóstolo diz que todos os filipenses sabiam da sua experiência. Esta experiência, naturalmente, não foi percebida pelos filipenses quando Timóteo esteve com Paulo na fundação daquela igreja, visto que, naquela oportunidade, Timóteo era um novato.

– No entanto, ao longo do seu ministério, os crentes de Filipos puderam acompanhar o crescimento espiritual daquele jovem e como, ao longo de todos aqueles anos, adquirira ele experiência, de modo que se tornava uma pessoa de credibilidade e de confiança não só para o apóstolo mas também para os próprios crentes filipenses.

– A experiência é algo que precisa ser buscado na vida cristã, máxime daqueles que são chamados para estar à frente do rebanho do Senhor. E a experiência não vem senão depois de se ter superado as etapas das tribulações e da paciência.

– Muitos obreiros, assim que chamados ao ministério, logo desanimam e há até aqueles que não só param a sua vida ministerial como apostatam até da fé, precisamente porque não suportam as tribulações que passam a sofrer logo após o início de sua carreira como obreiros. No entanto, tais tribulações são absolutamente necessárias, pois, sem elas, não se desenvolverá a paciência de onde virá a necessária experiência, que dará o devido amadurecimento ao obreiro na seara do Mestre.

– Vivemos num tempo em que tudo se entende imediato e instantâneo. É a época do “fast food”, da comunicação imediata independentemente da distância, mas, nas coisas de Deus, isto não se dá deste modo.

Tudo é gradual e respeita não ao tempo dos homens, mas, sim, ao tempo de Deus, o chamado “kairós”. Aprendamos isto, amados irmãos!

– Timóteo, aos olhos dos filipenses, com quem mantinha estreito contato, ainda que não estivesse em Filipos durante todo o tempo, mas pelo seu zelo e cuidado com as ovelhas do Senhor, foi visto como um homem que passou por tribulações e adquiriu paciência, que nada mais é que é “…uma virtude de manter um controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo. Consiste basicamente de tolerância a erros ou fatos indesejados. É a capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda ordem, de qualquer hora ou em qualquer lugar. É a capacidade de persistir em uma atividade difícil, tendo ação tranqüila e acreditando que irá conseguir o que quer, de ser perseverante, de esperar o momento certo para certas atitudes, de aguardar em paz a compreensão que ainda não se tenha obtido, capacidade de ouvir alguém, com calma, com atenção, sem ter pressa, capacidade de se libertar da ansiedade.” (Paciência. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paci%C3%AAncia Acesso em 07 jun. 2013).

– Através desta paciência, Timóteo tornou-se experiente e, em tal experiência, pôde servir com o apóstolo Paulo no evangelho, como filho ao pai (Fp.2:22).

– Muito interessante a expressão utilizada pelo apóstolo. Timóteo havia servido “com o apóstolo”, ou seja, Paulo também servia aos irmãos, também tinha um amor desinteressado e não procurava ser servido. Conquanto fosse apóstolo e, à primeira vista, o líder de toda aquela equipe, não passava de um servidor, servindo ao lado de seus cooperadores. Temos visto em nossas lideranças atualmente?

– Timóteo era um pastor fiel porque serviu com o apóstolo como “um filho ao pai”. Timóteo tinha respeito, honra e obedecia ao apóstolo. Tinha pelo apóstolo um amor como de um filho ao pai, o que era correspondido por Paulo, que não titubeava em chamá-lo de “filho na fé” (I Tm.1:2). Era um relacionamento marcado pelo amor mútuo, pelo respeito e consideração, em que Timóteo aprendia a sã doutrina e como ser um bom ministro de Cristo junto a Paulo e Paulo não o irritava, mas como que “criava” aquele jovem obreiro para servir na igreja do Senhor.

– Como é bom que, entre os obreiros, haja este mesmo amor fraternal entre os obreiros mais antigos e os mais novos, com estes servindo como filhos aos pais àqueles. O que se vê, entretanto, em nossos dias, é que, não raras vezes, os obreiros mais velhos são simplesmente descartados, postos à margem, muitas vezes sem nem condições mínimas de digna sobrevivência, completamente desprezados pelos obreiros mais novos, muitos dos quais foram levados ao ministério por estes que hoje são escanteados.

– Os obreiros mais novos não devem proceder como Roboão, que desprezou o conselho daqueles anciãos que haviam servido seu pai Salomão e, por causa disso, acabou por perder o reino (I Rs.12:1-25). Nunca nos esqueçamos de que as cãs são coroa de honra, quando elas se acham no caminho da justiça (Pv.16:31).

– Paulo não mandava Timóteo de imediato para Filipos porque o jovem obreiro lhe era muito útil, tanto que estava a cuidar dos negócios do apóstolo (Fp.2:23). Paulo sabia que podia contar com aquele jovem, pois era como um filho para ele, tendo, pois, absoluta confiança para com ele.

– Timóteo era um pastor fiel porque estava sempre a servir o apóstolo, o seu pai na fé, fosse qual fosse a circunstância. Paulo se encontrava preso e o fato de Timóteo ser seu homem de confiança certamente trazia problemas para o próprio Timóteo. Quem gostaria de ser tido como homem de confiança de uma pessoa que se encontrava presa como era o caso do apóstolo?

– Timóteo, inclusive, por causa desta estreita ligação com o apóstolo acabou sendo preso (Hb.13:23), mas, nem por isso, deixou de servir a Paulo e de lhe ser fiel. Quantos que, na atualidade, negam, a exemplo de Pedro, não só o Senhor Jesus mas também os servos de Jesus que estavam a auxiliar apenas para “escapar com vida” das dificuldades que a amizade com aqueles homens de Deus poderiam lhe criar na sociedade?

– Timóteo foi fiel a Paulo até a morte deste, pois é a ele que o apóstolo escreve a sua última carta, sabendo que iria morrer mas ainda pedindo ao jovem obreiro que fosse ter com ele, inclusive lhe trazendo os livros, inclusive os pergaminhos, como a capa que havia deixado em Trôade (II Tm.4:13), o que, certamente, foi feito por Timóteo. Que exemplo a ser seguido!

– Paulo iria mandar Timóteo, assim que ele cuidasse dos negócios do apóstolo, mas o desejo do apóstolo era ver pessoalmente aos filipenses (Fp.2:24), pois, como pastor fiel que era, também queria ver o estado de suas ovelhas e não somente ter notícias dela.

III – EPAFRODITO, UM VERDADEIRO PASTOR QUE DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS

– Mas, como Timóteo não poderia ser mandado de imediato, o apóstolo Paulo, sabendo da urgência de retomar o ânimo dos crentes filipenses, decide que iria ao encontro daqueles cristãos Epafrodito, ele próprio um dos integrantes da igreja de Filipos, que tinha sido mandado pela igreja para levar recursos ao apóstolo em Roma (Fp.2:25).

– Epafrodito era outro homem que tinha a confiança da igreja em Filipos, assim como Timóteo, tanto que era tinha o escolhido para ir a Roma e levar os recursos para o apóstolo, prova de que se tratava de alguém de extrema confiança daqueles irmãos.

– Normalmente, quem é escolhido para enviar recursos econômico-financeiros a alguém é uma pessoa que goza da confiança de todos. Alguém que é reputado como honesto, fiel e cuidadoso, pois, naquele tempo, não se tratava apenas de encontrar alguém que se sabia que não iria desviar o dinheiro a ser encaminhado ao apóstolo, mas, também, e alguém que fosse prudente e cauteloso o suficiente para que não fosse alvo de ladrões ao longo das estradas então existentes.

– Quanta falta faz para as igrejas, na atualidade, a existência de Epafroditos, pessoas idôneas, honestas e prudentes, que podem bem conduzir os recursos econômico-financeiros das igrejas locais, de modo a que a obra de Deus possa ser realizada e aqueles que vivem da obra sejam devidamente remunerados e sustentados para que a evangelização seja realizada.

– Pouco se sabe a respeito da vida de Epafrodito, cujo nome significa “encantador”, “belo”. Sabe-se apenas que foi enviado pelos crentes de Filipos para saber do apóstolo Paulo em Roma, bem como para lhe levar recursos que pudessem suprir as suas necessidades naquele momento tão angustiante de sua vida.

– O nome de Epafrodito é de origem gentílica, pois significa “pertencente a Vênus”, o que certamente indica que era filho de pais que não eram cristãos, pelo menos na época em que ele nasceu. Era, portanto, um filipense que havia sido ganho para Jesus por força da pregação do apóstolo e da que desencadeou depois da evangelização daquela colônia romana.

– Muitos querem dizer que se trata da mesma pessoa de Epafras, mencionada em Cl.1:17 e 4:12, aquele obreiro que foi responsável pela evangelização de Colossos, mas não há qualquer evidência disto, sendo, pois, mera conjectura que não deve ser tida como verdadeira, até porque não faria muito sentido que Epafrodito tivesse deixado os crentes de Colossos para atender a um pedido dos crentes de Filipos para ir a Roma levar ajuda para o apóstolo.

– Epafrodito também era um obreiro experimentado. O apóstolo o chama de “meu irmão, cooperador e companheiros nos combates” (Fp.2:25).

– Isto nos mostra que Epafrodito, a exemplo de Timóteo, também era alguém que estava acostumado a servir e a enfrentar todas as dificuldades. Nunca havia deixado o apóstolo sozinho, seja em Filipos, seja agora em Roma. Era uma pessoa que tinha aprendido a servir e que o estava a fazer, mesmo diante das circunstâncias adversas. Não tinha tido medo de, como filipense e, portanto, como alguém que gozava da cidadania romana, ser tido como um ajudador de um prisioneiro na capital do Império.

– Será que podemos ser assim chamados pelos que conosco labutam na obra do Senhor? Será que temos sido “irmãos, cooperadores e companheiros nos combates” daqueles que servem a Deus conosco? Ou temos sido omissos, pessoas que sabem muito criticar o que os outros estão fazendo para Jesus, mas que não ajudam neste embate, preferindo nos esconder diante dos incrédulos, amando mais a glória dos homens do que a glória de Deus (cfr. Jo.12:43)? Tomemos cuidado, amados irmãos!

– O fato é que, em chegando a Roma, Epafrodito cumpriu fielmente o encargo que lhe fora dado pelos crentes de Filipos. Foi ao encontro do apóstolo e lhe deu aquilo que a igreja de Filipos lhe havia mandado, sem se importar com o que a guarda pretoriana pudesse achar, nem o que poderia advir deste seu gesto. Seu compromisso era com Deus, com o apóstolo e com a igreja de Filipos tão somente. Que exemplo a ser seguido!

– Entretanto, quando Epafrodito chegou, pôde ver a real situação do apóstolo. Verificou que os recursos que haviam sido enviados ao apóstolo não eram abundantes e que a necessidade era grande. Assim, num gesto de amor e desprendimento, o próprio Epafrodito abriu mão daquilo que lhe fora dado para seus próprios gastos e manutenção em favor do apóstolo (Fp.2:30).

– Com efeito, como bem ensinava o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), quando o texto sagrado diz que Epafrodito não fez caso de sua vida para suprir para com o apóstolo a falta do serviço dos filipenses (Fp.2:30), indica que Epafrodito, ao perceber a circunstância por que vivia Paulo, abriu mão daquilo que lhe fora dado para sua própria subsistência em favor de Paulo, o que teria sido uma das causas de sua doença, que quase o levou à morte (Fp.2:27).

– Epafrodito era um obreiro fiel, porque não fez caso de sua vida para servir e, como nos ensina o Senhor Jesus, o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas (Jo.10:11). Epafrodito expôs-se à morte para poder dar o necessário ao apóstolo e, assim, não descumprir o compromisso que assumira junto aos filipenses.

– O contexto da passagem bíblica permite-nos inferir que Epafrodito não foi o único que foi enviado pelos filipenses para suprir as necessidades do apóstolo, pois Paulo afirma que tinha conhecimento de que os crentes de Filipos tinham sabido da doença de Epafrodito, o que lhes aumentou a angústia e tristeza, prova de que outras pessoas tinham vindo depois de Epafrodito por ordem da igreja de Filipos e, assim, terem tido notícia da doença do mesmo, que o impedia, inclusive, de regressar a Filipos, embora fosse este o seu grande desejo (Fp.2:26).

– Que lindo gesto de amor este de Epafrodito! Um obreiro que não se preocupava em satisfazer a si mesmo, nem em cumprir tão somente aquilo que fora combinado com os filipenses, mas de realmente agradar a Deus e, deste modo, dar o necessário para o bem-estar do apóstolo, que era o objetivo de sua viagem a Roma.

– Temos nós agido deste modo, amados irmãos? Será que temos sido “bons pastores”, imitando, assim, a Jesus, que deu a Sua vida em resgate de muitos (Mt.20:28; Mc.10:45)?

– Já vimos, na lição anterior, que o apóstolo Paulo era dotado deste mesmo sentimento, tanto que não temia ser oferecido em libação sobre o sacrifício e serviço da fé dos filipenses (Fp.2:17). Temos tal disposição ou, diante de uma perseguição, negaremos o nome do Senhor e d’Ele teremos vergonha. Se nos envergonharmos d’Ele e de Seu nome, Ele também Se envergonhará de nós naquele dia (Mc.8:38). Tomemos cuidado! OBS: Recentemente, em mensagem profética proferida na ceia do Senhor, na igreja sede do Ministério do Belém, em São Paulo/SP, precisamente no dia 2 de junho de 2013, o Senhor advertiu que, brevemente, em nosso país, criarão leis para perseguir o povo de Deus e, então, o Senhor verá quem Lhe será fiel ou quem se envergonhará do Seu nome. De que lado estaremos, amados irmãos?

– Epafrodito, ao ver a situação do apóstolo, não pensou duas vezes: abriu mão de seu próprio sustento em prol das necessidades do apóstolo. O resultado disto foi que adoeceu e esteve à beira da morte, causando assim angústia e tristeza a todos, tanto ao apóstolo quanto aos crentes de Filipos.

– A este gesto de Epafrodito, correspondeu tanto o amor de Paulo quanto dos crentes de Filipos. Epafrodito era muito amado e, a começar do apóstolo, esta sua doença e proximidade da morte trouxe ao apóstolo uma profunda angústia e tristeza. Os crentes de Filipos, ao saberem da notícia, angustiaram-se também, e todos foram aos pés de Jesus. Como é bom quando os crentes oram em favor dos seus irmãos, pois a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos (Tg.5:16).

– A oração da fé salvará o doente (Tg.5:15) e o apóstolo diz que Deus Se apiedou de Epafrodito, do apóstolo e dos crentes de Filipos e, como resultado disto, Epafrodito sarou, de modo que o apóstolo pôde mandá-lo depressa, de volta ao convívio dos filipenses, como portador da epistola, afim de que houvesse menos tristeza por parte de Paulo e regozijo e alegria por parte dos filipenses (Fp.2:28).

– Vemos aqui mais uma demonstração do desapego e do amor desinteressado do apóstolo Paulo. A partida de Epafrodito para Filipos lhe traria “menos tristeza” mas “regozijo” por parte dos filipenses. Paulo queria a companhia de Epafrodito, amava-o muito e seu gesto de amor certamente havia aumentado ainda mais a afeição do apóstolo, mas Paulo se contentava em ter “menos tristeza” para que os filipenses tivessem “alegria”. – Paulo abriu mão da companhia de Epafrodito, resolveu ficar num estado de “menos tristeza” (já que Epafrodito havia sarado) para que os crentes de Filipos tivessem “alegria”. Temos agido assim, amados irmãos? Ou será que não abrimos mão de nossas satisfações, mesmo que isto represente o mal-estar daqueles que nos cercam? Somos altruístas como foi o apóstolo Paulo neste episódio?

– Temos aqui, aliás, a sexta alegria da carta de Paulo aos filipenses, a “alegria de receber um amado servo de Deus”. “…Epafrodito viera a Roma, enviado pelos irmãos filipenses, para servir a Paulo. Isso ele tinha feito com todo empenho. Adoecera, e tinha estado às portas da morte. Deus, porém, o poupou para alegria sua, alegria de Paulo e alegria dos irmãos filipenses. O processo contra Paulo estava na véspera de ser resolvido, e, por isso, Paulo espera em breve dispensar com os serviços de Epafrodito, e mandá-lo de volta para Filipos. Paulo pensa na alegria com que esse fiel servo de Cristo será recebido pela Igreja, e de como será honrado pelos irmãos. A alegria de receber e honrar um servo amado de Cristo.…” (SENA NETO, José Barbosa. Carta aos filipenses, a carta da alegria! Disponível em: http://prbarbosaneto.blogspot.com.br/2008/01/carta-aos-filipenses-carta-da-alegria.html Acesso em 07 jun. 2016).

– Temos também alegria em receber um amado servo de Jesus entre nós? Hoje em dia, infelizmente, não são poucas as igrejas locais que demonstram desagrado em receber um servo do Senhor no seu meio. Preferem pessoas que não sirvam a Deus mas que lhes digam coisas que são agradáveis, correm atrás de doutores conforme as suas próprias concupiscências (II Tm.4:3,4), mas devemos ter alegria quando recebemos um amado servo do Senhor, alguém que esteja comprometido com Cristo Jesus e mais ninguém. – O apóstolo Paulo, então, manda aos filipenses que recebessem Epafrodito com todo o gozo e que o tivessem em honra (Fp.2:29), pois havia provado a sua fidelidade e o seu amor para com Deus, para com o apóstolo e para com toda a igreja de Filipos. Será que poderemos ser assim recebidos em nossa igreja local?

– Esta expressão do apóstolo, por fim, ensina-nos que a honra que devemos dar aos nossos irmãos é decorrente das atitudes concretas que fizeram, do testemunho que deram, não por causa de títulos, posições ou laços de parentesco. Devemos dar honra a quem tem honra (Rm.13:7), mas a honra é um reconhecimento pelos atos praticados, pelo testemunho demonstrado. Pensemos nisto!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2013_L6_caramuru.pdf

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