LIÇÃO Nº 2 – A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO
O culto levítico foi estatuído por Deus.
INTRODUÇÃO
– O culto levítico foi estatuído por Deus.
– Assim, apesar de ser temporário no plano da salvação, era um culto belo e que trazia a glória de Deus ao povo de Israel.
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I – BELEZA E GLÓRIA
– Dando início ao estudo do livro de Levítico, estudaremos a beleza e a glória do culto levítico.
– Quando falamos no culto levítico, nossa tendência é de menosprezá-lo, pois se trata do culto válido e estatuído para a dispensação da lei, que, sabemos todos, é uma aliança inferior à graça, que foi suplantada pela nova aliança estabelecida por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Mt.26:28; Mc.14:24; Lc.22:20; I Co.11:25; II Co.3:6), “o novo concerto”, que veio substituir aquele que havia envelhecido e perto estava de acabar (Jr.31:31-33; Hb.8:6-13).
– Esta é, aliás, uma das razões pelas quais alguns consideram sem importância a leitura e o estudo do livro de Levítico, já que parte substancial do livro diz respeito ao cerimonial do culto vigente no tempo da lei e é natural que se diga que, como as cerimônias da antiga aliança foram superadas pela morte de Cristo no Calvário e a instauração de uma nova dispensação, não se teria qualquer motivo para se debruçar sobre os mandamentos concernentes ao culto.
– Tal entendimento, entretanto, se, por um lado, permite que não se caia no outro extremo, qual seja, o de recuperação indevida do ritual e do cerimonialismo da lei para a adoração a Deus na atualidade, comportamento tão em voga nos dias hodiernos,
onde os “judaizantes” estão a confundir a adoração em espírito e em verdade determinada pelo Senhor a partir de Sua obra salvífica (Jo.4:23,24) com práticas que não mais vigoram e não fazem qualquer sentido em nossos dias; de outro lado,
tendem a uma igualmente indevida desconsideração, pois, não podemos nos esquecer de que o culto levítico foi estabelecido por Deus e, como tal, tem imenso valor e reflete não só a beleza mas a própria glória divina.
– O limiar do livro de Levítico já seria suficiente para que não incorrêssemos neste equívoco do menosprezo, visto que é dito: “E chamou o Senhor a Moisés, e falou com ele da tenda da congregação, dizendo” (Lv.1:1).
– Bem se vê, pois, que Moisés se encontrava na tenda da congregação, tenda que armara assim que voltara com as primeiras tábuas da lei, que quebrara ao se indignar ao ver o povo pecando com o bezerro de ouro (Ex;33:7),
quando o Senhor passou a lhe descrever com se faria o culto a Deus diante daquela novel situação criada com o fracasso de Israel como nação sacerdotal e a escolha de Levi como a tribo sacerdotal e da família de Arão como a linhagem de sacerdotes.
– Ora, a tenda da congregação era o lugar onde Deus falava com Moisés (Nm.7:89), de modo que temos a constatação que a determinação do culto e o seu regramento vieram diretamente do Senhor, o que faz com que o culto seja algo divino e, como tal, não pode, em absoluto, ser menosprezado.
– Os mandamentos cerimoniais fazem parte da lei e o apóstolo Paulo foi claríssimo ao afirmar que “a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom (Rm.7:12).
Destarte, o culto levítico é santo, justo e bom, tem procedência divina e nada que vem da parte de Deus pode ser menosprezado e, menos ainda, desprezado. É algo que tem de ser levado em consideração e ter, da parte daqueles que servem ao Senhor, o devido respeito e admiração.
– Quando falamos em beleza, falamos de algo que diz respeito à divindade, pois, como afirma o filósofo italiano Umberto Eco (1932-2016), “belo – junto com gracioso, bonito ou sublime, maravilhoso, soberbo e expressões similares – é um adjetivo que usamos frequentemente para indicar algo que nos agrada.
Parece que, nesse sentido, aquilo que é belo é igual àquilo que é bom e, de fato, em diversas épocas históricas criouse um laço estreito entre o Belo e o Bom” (apud VILAS BÔAS, Eduardo. O conceito de belo na estética grega. Disponível em: https://www.audaces.com/o-conceito-de-belo-na-estetica-grega/ Acesso em 03 maio 2018).
– Ora, este laço estreito entre o belo e o bom faz com que tenhamos a relação entre o belo e o divino, visto que a bondade é algo inerente a Deus (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19).
– Quando encontramos, no texto bíblico, a palavra “beleza”, é ela a palavra hebraica “hdharah” ( ), חדר “…substantivo feminino que significa adorno, glória.
Esta palavra procede do verba hadhar, que significa honrar ou adorar e está associado ao substantivo hebraico hadhar, que significa majestade. Em quatro das cinco ocorrências desta palavra, ela aparece no contexto de adoração ao Senhor, na ‘beleza da santidade’ (I Cr.16:29; II Cr.20:21[‘majestade santa’]; Sl.29:2; 96;9).
Em outras ocasiões, a palavra expressa a glória que os reis encontram na multidão do povo (Pv.14:28).…” (Bíblia de Estudo Palavra-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 1927, p.1602).
– A beleza, portanto, a partir de uma aparência física, de uma harmonia de formas e de detalhes, leva à ideia de conformidade com a natureza, com o Criador, a uma comunhão, a um reconhecimento da soberania divina, que nada mais é que um ambiente de adoração.
– Por isso, o culto levítico é, sim, dotado de beleza, como haveremos de ver, e também eis o motivo pelo qual, nos dias em que vivemos, dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12), há um verdadeiro “culto à feiura”,
uma apologia à deformidade, ao bizarro, ao grotesco, notadamente nas artes, e isto tudo porque a feiura é o contrário da beleza e temos, assim, a nítida ação do espírito do anticristo, que se levanta contra tudo o que diz respeito ao divino, inclusive o belo, o bom.
– Mas, além de termos de ressaltar a beleza do culto levítico, como uma evidência de sua procedência divina, não podemos deixar de observar que o culto levítico também é dotado de glória.
– Moisés foi chamado por Deus na tenda da congregação, onde o Senhor fazia descer a Sua glória, na coluna de nuvem (Ex.33:10).
Assim, por ter provindo do próprio Deus, o culto levítico também é dotado da glória divina, e isto não pode ser desconsiderado também.
– “Glória”, que é a palavra hebraica “kabhodh” (כבדר), cujo significado é de “peso”, “…mas somente em sentido figurado num bom sentido, esplendor ou copiosidade – glorioso, gloriosamente, glória, honra, honroso. Substantivo masculino singular que significa honra, glória, majestade, riqueza.…” (Bíblia de Estudo Palavra-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 3519, p.1700).
– “…A glória consiste em honra exaltada, em louvor ou reputação, ou em alguma coisa que ocasiona o louvor ou é o objeto desse louvor. (…). A própria presença de Deus pode ser chamada de glória, por causa de seu estado exaltado.…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Glória. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, pp.912-3).
– Não é surpresa, portanto, que a glória de Deus se tenha manifestado precisamente na primeira cerimônia do culto levítico, quando da inauguração do tabernáculo (Ex.40:34,35; Lv.9:22-24).
– Desde que a glória de Deus se manifestou quando da instalação do culto levítico, confirmando a sua procedência divina, não há como menosprezá-lo ou desconsiderá-lo, como muitos fazem, sem deixar, no entanto, de entender seu caráter transitório e que seu estudo, doravante, tem a ver com os ensinos que ele pode nos dar em o nosso culto racional, em nossa adoração em espírito e em verdade que devemos oferecer ao Senhor.
– Outro elemento que nos permite verificar que o culto levítico possui tanto beleza quanto glória é a sua própria condição de tipologia de Cristo, Cristo que é chamado, pelo profeta Isaías, de “Renovo do Senhor, cheio de beleza e de glória” (Is.4:2). Assim, o próprio papel tipológico do culto impõe que seja ele composto de beleza e de glória.
II – A BELEZA DO CULTO LEVÍTICO
– Já vimos que o belo está intimamente relacionado ao bom, como nos dá conta a própria filosofia ao longo dos séculos. Dizia o filósofo Plotino (204-270):
“Eis o que experimentamos quando entramos em contato com a beleza: o maravilhamento, um súbito deleite, o desejo, o amor e uma alegre excitação.”, como também, “As mentes que se elevam para além do reino dos sentidos encontram uma beleza na conduta de vida:
em atos, caráteres, bem como a encontram nas ciências e nas virtudes. Há uma beleza anterior a essa?” (apud FERREIRA, Allan Júnio. Da beleza sensível ao Belo inteligível: a compreensão de beleza e feiura em Plotino. 7 abr. 2014. Disponível em: http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2558 Acesso em 03 maio 2018).
– Neste pensamento do filósofo que é um dos expoentes da chamada escola neoplatônica, que muito influenciou os primeiros pensadores cristãos, vemos que o belo gera uma admiração que permite vislumbrar para além do sensível e que tem o condão de permitir a busca do que realmente é belo, que é o viver de acordo com a virtude, o de buscar a retidão e a justiça, que seria a “beleza primeira” no dizer do filósofo egípcio de língua grega.
– Deus, a partir mesmo da criação, faz com que o homem tenha uma admiração pela beleza das coisas criadas, a fim de que, por meio delas, possa contemplar não só a existência mas a majestade divina, levando-o, a exemplo de outro filósofo, o alemão Immanuel Kant (1724-1804), a se perguntar quem fez tantas belezas que contemplamos no universo e quão belo deve Ele ser, já que criou coisas tão admiráveis e excelentes.
– O apóstolo Paulo foi bem claro ao mostrar que a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça manifesta a ira de Deus precisamente porque a humanidade, tendo visto a manifestação de Deus por meio da criação, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis, recusam-se a glorificá-l’O, preferindo esconder-se em vãos discursos, que tão somente revelam o obscurecimento dos corações impenitentes (Rm.1:18-21).
– O Senhor, querendo manifestar toda a Sua beleza e bondade ao povo que havia escolhido para ser Sua propriedade peculiar dentre os povos, fez questão de elaborar um culto que apresentasse toda esta beleza, um culto que já na aparência refletisse o belo, belo que, como sabemos, é nada mais, nada menos que uma manifestação do divino.
– Por isso, quando Moisés sobe ao monte para receber mandamentos da parte do Senhor, foi-lhe apresentado o modelo do tabernáculo, que deveria ser seguido à risca (Ex.25:9).
Ora, por se tratar de uma cópia de um santuário celestial (Hb.9:24), só por isso já podemos entender como a beleza cercava todo o culto levítico, visto que tudo o que há na dimensão celestial é infinitamente belo e esplêndido.
– Mas, para que não se tivesse qualquer dúvida a respeito da beleza que deveria ter o culto levítico, não só o Senhor deu o modelo do tabernáculo a Moisés, a fim de que se fizesse cópia daquilo que já havia no céu, como também capacitou sobrenaturalmente aqueles que deveriam confeccionar as peças do tabernáculo.
– O próprio Deus disse a Moisés quem deveria coordenar tal trabalho artístico, a saber, Bezaleel e Aisamaque, que o texto sagrado dizem ter sido cheios pelo Espírito de Deus de sabedoria, entendimento e ciência em todo o artifício, para inventar invenções, para trabalhar em ouro, em prata e em cobre, e em pedras para engastar, e em madeira, em toda obra esmerada, bem como para ensinarem a outros tais técnicas (Ex.35:30-35).
– A beleza existente no tabernáculo não era, portanto, algo proveniente do próprio ser humano, mas algo sobrenatural, decorrente da própria ação do Espírito Santo na vida não só de Bezaleel e de Aisamaque, mas daqueles que os auxiliaram. Era algo vindo do céu, a evidenciar que a beleza de tal culto estava muito além da capacidade humana, do que o homem pudesse fazer por suas próprias mãos.
– Este cuidado divino, aliás, não ficou apenas neste período do culto levítico. Quando Salomão inicia a construção do templo, temos que também tudo foi feito consoante a orientação divina, pois, não só a planta do templo e toda a sua estrutura,
além de obedecer ao modelo do tabernáculo, era decorrente de planos efetuados por Davi que agiu não como rei ou idealizador da obra, mas como profeta, como se verifica do que está escrito em passagens como I Cr.25:1; 28:11,12 e II Cr.29:25 e, na construção do templo,
na parte concernente às peças sagradas, também se utilizou de alguém dotado de habilidade sobrenatural para tanto, Hirão, também chamado de Hurão-Abiú (I Rs.7:13,14; II Cr.2:13), a indicar, também, a beleza sobrenatural na confecção de tais peças.
– O cuidado divino não ficou apenas neste ponto. Quando o primeiro templo foi destruído, Deus cuidou para que todas as peças, com exceção da arca do concerto, fossem transportadas para Babilônia (II Rs.25:13,14),
onde ficaram durante todos os setenta anos do cativeiro (Dn.5:2,3), tendo, posteriormente, sido levados de volta para Jerusalém (Ed.1:7-11) e que tornaram a ser usados no culto no segundo templo até a sua destruição no ano 70 pelo general romano Tito, que viria, depois, a ser imperador.
– A partir das peças utilizadas nas cerimônias, peças estas elaboradas por quem recebeu capacidade sobrenatural, diretamente do Espírito Santo, vemos quão belo era o culto levítico e como sua sublimidade superava a tudo quanto havia sido feito até então em termos religiosos em todas as nações.
– Temos aqui, aliás, uma lição importantíssima. Se o culto levítico, feito em um santuário terrestre, refletia toda esta beleza, teve o cuidado divino para que as peças fossem elaboradas com uma capacitação sobrehumana, proveniente do próprio Espírito Santo, como deve ser o nosso culto racional, a nossa adoração nos dias hodiernos, em plena dispensação da graça?
– As peças do tabernáculo foram produzidas por uma capacitação do Espírito Santo, peças estas que tipificavam a Cristo, como, aliás, o tabernáculo como um todo.
Hoje em dia, somos nós a casa do Senhor (Hb.3:6), o templo do Espírito Santo (I Co.6:19), a morada de Deus no Espírito (Ef.2:22). Mas temos sido objeto da capacitação sobrenatural do Senhor?
– Temos tido, porventura, o cuidado de nos apresentarmos “belos” diante do Senhor? A beleza das peças do tabernáculo foi resultado direto da ação do Espírito Santo na vida de Bezaleel, Aisamaque e de seus auxiliares.
Eles receberam de Deus aquela capacitação para realizarem todas aquelas complexas e minuciosas características de cada uma das peças do tabernáculo, algo que homem algum poderia, por força própria, realizar.
– E nós, como temos nos apresentado para sermos “instrumentos de justiça” (Rm.6:13). Temos sido fruto da plenitude do Espírito Santo em nós mesmos?
Jesus foi o primeiro a Se apresentar como o templo de Deus num corpo humano (Jo.2:20,21) e foi esta afirmação, aliás, que se tornou a principal acusação para tentar alicerçar a Sua condenação perante o Sinédrio (Mt.26:60,61).
– Entretanto, Jesus, ao Se dizer o templo de Deus, podia fazê-lo pois tinha a plenitude do Espírito Santo (Is.11:1,2; Lc.4:1). E nós, será que podemos dizer que somos templos do Espírito Santo? Será que podemos afirmar que somos a casa do Senhor, a morada de Deus no Espírito?
– O culto levítico revelava na beleza das peças do tabernáculo toda a presença do Espírito Santo, o caráter sobrenatural das cerimônias ali realizadas, era um indicador, como diz Plotino, de que havia uma “beleza primeira”, que se manifestava no belo que era divisado não só nas peças do tabernáculo, como nos demais elementos do culto.
– O culto levítico tinha a sua beleza calcada na sobrenaturalidade do que havia sido elaborado nas peças do tabernáculo ( e quando falamos peças, não estamos nos referindo apenas à arca, aos altares, ao candelabro, à mesa dos pães da proposição, às cortinas e aos véus e demais objetos, mas também às vestimentas sacerdotais), ou seja, era algo decorrente da ação do Espírito Santo na vida daqueles que haviam elaborado tais objetos.
– Com muito maior razão, a beleza do nosso culto racional tem de estar firmada na ação do Espírito Santo em nossas vidas, na sobrenaturalidade que nos domina, que nos fez entrar em comunhão com o Senhor, pelo sangue de Cristo, que nos faz ser, doravante, novas criaturas, feitas para a glória de Deus, “imagem de Cristo” (Rm.8:29), “cristãos” (At.1:26), ou seja, “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”.
– Mas temos sido mesmo estes “instrumentos de justiça”? Estamos realmente a revelar a “beleza de Cristo” em nossas vidas? Não há como podermos oferecer sacrifícios agradáveis a Deus se não tivermos esta condição de “novas criaturas”, que é o que realmente importa na vida cristã (Gl.6:15).
– Entretanto, e aqui se tem algo extremamente importante, esta beleza não se apresentava de modo luxuoso, nem como ostentação. Havia beleza, mas não suntuosidade ou luxo, coisas que não se confundem. A beleza existia, era sobrenatural, mas estava sempre aliada à simplicidade.
– É interessante observar que o tabernáculo, olhado do lado de fora, não apresentava qualquer admiração ou interesse.
Quem olhasse para a cobertura do tabernáculo, notaria que se tinha, na parte superior e, portanto, a que era visível, era de couro de texugo (Ex.26:14; 36:19), algo que não tinha qualquer atração ao olhar, a lembrar, inclusive, a pessoa de Cristo, que não tinha parecer nem formosura (Is.53:2), que não se destacava dos demais pela beleza ou porte físicos, tanto que teve de ser identificado por Judas, no momento da traição, com um beijo (Mt.26:48).
Aliás, a simplicidade é uma das qualidades de Cristo e da qual jamais devemos nos apartar (II Co.11:3; Cl.3:22).
– A beleza do tabernáculo era notada de dentro para fora. Como já se disse, na parte superior da cortina do tabernáculo tinha-se a rústica pele de texugo, que não despertava atração alguma.
No lado descoberto do tabernáculo, no pátio, tínhamos tanto o altar de cobre quanto a pia de cobre, que também não despertavam qualquer atração, até porque o cobre nem muito precioso era, nem tampouco se tinha um clima de ostentação ou admiração, até porque o altar exalava um forte cheiro de carne, já que ali eram oferecidos continuamente os sacrifícios de animais trazidos pelos israelitas.
– Havia, portanto, um verdadeiro “clima de matadouro” no pátio do tabernáculo, local que não causava admiração ou qualquer atração a quem quer que seja.
– Tudo isto se alterava, no entanto, quando se entrava no lugar santo, o primeiro dos dois compartimentos cobertos do tabernáculo, onde, aí sim, do lado de dentro do primeiro véu, já se divisavam peças que eram cobertas de ouro, como o altar de incenso (Ex.30:1-3), a mesa dos pães da proposição (Ex.25:23,24), ou mesmo de ouro, como era o caso do candelabro (Ex.25:31).
– Por fim, no lugar santíssimo, onde somente entrava o sumo sacerdote uma vez ao ano por ocasião do dia da expiação, estava a arca, igualmente coberta de ouro (Ex.25:10,11), que possuía argolas de ouro (Ex.25:12) e cuja tampa, o propiciatório, também era de ouro puro (Ex.25:17-22).
– Esta mesma beleza se repetiu no templo de Salomão (considerada como uma das sete maravilhas do mundo antigo), em que se tinha até uma certa suntuosidade, que, entretanto, uma vez mais, estava circunscrita à parte coberta do templo, onde ficavam os lugares santo e santíssimo, suntuosidade que se espalhou por toda a construção, incluindo o pátio,
quando da reforma feita por Herodes, o Grande, e que trouxe grande orgulho e admiração por parte dos israelitas, inclusive dos discípulos de Jesus (Mt.24:1; Mc.13:1; Lc.21:5), o que foi solenemente ignorado pelo Senhor, que, inclusive, profetizou a destruição de tudo aquilo (Mt.24:2; Mc.13:2; Lc.21:6).
– Igualmente vistosas eram as vestimentas sacerdotais. As vestes do sumo sacerdote eram particularmente admiráveis: um peitoral, um éfode, um manto, uma túnica bordada, uma mitra e um cinto.
No peitoral, havia pedras preciosas do juízo de Urim e Tumim, com anéis de ouro ligando uma pedra a outra, sem falar na mitra, onde havia uma lâmina de ouro onde estava gravado “Santidade ao Senhor” (Ex.28:4-43).
– As vestimentas sacerdotais foram feitas com muito esmero, com diversos pormenores, sendo que o sumo sacerdote, em todos os ofícios, deveria estar convenientemente trajado para fazê-lo.
– As vestes dos demais sacerdotes eram mais simples, mas, igualmente, havia um regramento a respeito, devendo os sacerdotes se vestir com túnicas de linho, mitras de linho fino e cintos de obra de bordador.
– Sempre que tinham de entrar no lugar santo, os sacerdotes deveriam lavar-se na pia de cobre e pôr as suas vestes, a fim de que oficiassem e, quando saíssem do lugar santo ou do ofício, deveriam igualmente mudar de vestes, pois se tratava de verdadeiro “uniforme de trabalho”.
– Era expressamente vedado que se pudesse ver a nudez do sacerdote enquanto estivesse oficiando (Ex.20:26), a mostrar que, no serviço a Deus, é imperioso que se esteja convenientemente trajado.
– De igual maneira, não podemos, em nosso culto racional, agradar a Deus se formos achados nus (II Co.5:3), e seremos achados nus se não tivermos vigilância durante a nossa peregrinação terrena (Ap.16:15).
– O principal traço das vestimentas sacerdotais era a sua cor. Eram de linho fino as túnicas, tanto do sumo sacerdote quanto dos sacerdotes, como também os cintos e mitras dos sacerdotes. O que se realça, portanto, não é luxo ou ostentação, mas a brancura das vestes.
– Tem-se, aqui, mais uma vez, a predominância da simplicidade (mesmo o sumo sacerdote, com suas vestes peculiares, tinha como maior realce na vestimenta, a túnica de linho fino, que cobria a maior parte do seu corpo), sendo que o linho significa a justiça dos santos (Ap.19:8), enquanto que a brancura tem a ver com a pureza, com a santidade (Ap.3:4).
– A beleza está, portanto, muito menos vinculada à aparência, que, como já visto, não tem nada de admirável e de atraente, mas, muito mais, à pureza, à santidade, o que é até intuitivo, uma vez que se está a copiar o culto celestial, onde incessantemente se ressalta a santidade do Senhor (Is.6:3; Ap.4:8).
– Tanto assim é que, na maior parte das vezes em que exsurge a palavra “beleza” no texto sagrado, está ela vinculada à santidade, pois se fala em adoração a Deus na “beleza da Sua santidade” (I Cr.16:29; Sl.29:2; 96:9).
– Tanto é aí que se encontra a beleza do culto que, mesmo em meio a todos os rituais e a todo o cerimonial, o Senhor, por meio do profeta Isaías, disse ser abominável o culto porque não era ele acompanhado da santidade nem da pureza (Is.1:11-31).
III – A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO
– Já vimos que a glória é o esplendor, a presença de Deus e que o culto levítico foi estatuído pelo próprio Deus, tanto que o livro de Levítico é o próprio ditado de Deus a Moisés de como se deveria fazer a adoração ao Senhor.
– O culto levítico é a reprodução do próprio culto incessante que ocorre na dimensão celestial, tanto que o tabernáculo é cópia do santuário celestial, como deixa bem claro o escritor aos hebreus, como também o apóstolo João, quando descreve o culto que viu ocorrer no céu após o seu arrebatamento em espírito para lá, como nos dá conta os capítulos 4 e 5 do livro do Apocalipse.
– Só por este ponto, tem-se a consciência de que o culto levítico efetivamente traz para si a manifestação da glória divina e o Senhor quis deixar isto bem claro.
– Assim, quando da inauguração do tabernáculo, a glória de Deus se manifestou. Montado o tabernáculo, a nuvem cobriu a tenda da congregação e a glória do Senhor encheu o tabernáculo, de maneira que Moisés não pôde entrar na tenda da congregação (Ex.40:34,35).
– Não bastasse isso, quando Arão foi fazer o primeiro sacrifício, após a sua consagração, ao sair da tenda da congregação, na companhia de Moisés, e ter abençoado o povo, a glória do Senhor apareceu a todo o povo e fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto e gordura sobre o altar (Lv.9:24).
– Vê-se, assim, que o fogo que deveria queimar os sacrifícios foi acendido pelo próprio Deus, por isso tal fogo não era estranho e jamais poderia ser apagado (Lv.6:12).
Tratava-se de fogo divino, a mostrar, claramente, a presença de Deus em todo o procedimento dos sacrifícios, a mostrar que se estava ali efetivamente cobrindo pecados, aplacando-se a ira divina, aguardando-se o momento em que os pecados da humanidade seriam tirados de forma definitiva e permanente.
– O mesmo se deu quando se inaugurou o templo. Naquela oportunidade, quando a arca foi levada para o lugar santíssimo pelos sacerdotes, uma nuvem encheu a casa do Senhor e os sacerdotes não puderam se ter em pé para ministrar por causa da nuvem, porque a glória do Senhor a enchera (I Rs.8:10,11; II Cr.5:11-14)
– Não houve a presença de Deus para acender o fogo, pois o fogo que ardia no altar de cobre era o mesmo fogo que havia sido acendido anteriormente, quando da inauguração do tabernáculo, que se mantinha ardente desde então.
– Quando da inauguração do segundo templo, porém, não se fez presente Deus, a Sua glória não encheu o templo, talvez tendo sido um dos motivos pelos quais os mais antigos choraram quando daquela efeméride (Ed.3:12,13).
– No entanto, ainda quando o templo ainda não havia sido complementado, o Senhor fez questão de esclarecer o povo de Israel o que se passava, por intermédio do profeta Ageu, que disse que, apesar da aparente indiferença divina para com o segundo templo, seria a sua glória maior do que o do primeiro templo (Ag.2:9),
o que se entende pelo fato de ter sido, neste segundo templo, que se deu a presença corporal de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cujo zelo pela casa foi testemunhada por todos os israelitas, em especial as lideranças (Zc.8:2; Jo.2:17).
– Também, por ocasião deste segundo templo, temos, ainda, a ausência da arca, que se perdeu após a destruição do primeiro templo, já que ela não é relacionada entre os elementos transportados do templo pelos babilônios, como também que se tenha iniciado os sacrifícios sem que se tivesse um fogo acendido pelo próprio Deus, já que, durante os setenta anos do cativeiro, não houve qualquer sacrifício oferecido, tanto que, em Babilônia, é que surgem as sinagogas, locais onde se procedia a um culto de estudo das Escrituras, sem a parte sacrificial, exatamente como se faz no judaísmo desde a diáspora, ou seja, da expulsão dos judeus de Israel, ocorrida a partir de 135 e que perdurou até o surgimento do Estado de Israel em 1948.
– Tudo isto, entretanto, não quer dizer, em absoluto, que não havia a glória divina no segundo templo.
Além da presença do próprio Deus feito homem, foi neste segundo templo que ocorreu o rasgo do véu, após a morte de Cristo na cruz do Calvário, como a prova cabal de que o pecado do mundo havia sido tirado pelo Cordeiro de Deus (Jo.1:29; Mt.27:50,51; Mc.15:37,38; Lc.23:45,46).
É no templo que o Senhor demonstra a realização do que era tipificado no culto levítico e de modo absolutamente compatível com o próprio culto.
– A ligação da glória de Deus com o templo e, portanto, com o culto levítico era tamanha que os discípulos se reuniam precisamente no templo para suas reuniões (At.5:12) e, se nisto, existem dados culturais, próprios de um período inicial de nova dispensação, que levou, inclusive, a alguns cristãos judaizantes, máxime em Jerusalém,
o fato é que isto se deve, precipuamente, à circunstância de que o culto levítico trazia, sim, a glória divina ao homem, Deus Se fazia presente em tal liturgia e nada mais lógico que se procurasse estar diante do Senhor dentro das balizas produzidas no culto levítico.
– A presença da glória de Deus no culto levítico também se fez sentir em situações de correção e disciplina da parte do Senhor, como no episódio da morte fulminante dos sacerdotes Nadabe e Abiú (Lv.10:1,2) ou a morte dos que seguiram a Coré em sua rebelião (Nm.16).
Deus estava sempre presente e acompanhando todas as cerimônias e rituais, zelando e velando pelo cumprimento da Sua Palavra (Jr.1:12).
– Igualmente, a presença da glória de Deus nos elementos pertinentes ao culto levítico se fizeram sentir até entre os gentios, como, por exemplo, no episódio da tomada da arca do concerto pelos filisteus e os problemas que tiveram eles enquanto estiveram de posse da arca,
numa clara demonstração divina de zelo e cuidado pelos elementos cúlticos que Ele mesmo determinou para o povo de Israel (I Sm.5:1-6:12), ou ainda, quando da irregular ida da arca da casa de Obede-Edom para Jerusalém, já no reinado de Davi (II Sm.6; I Cr.13).
– A propósito, tais episódios bem demonstram que a glória do culto levítico se devia única e exclusivamente pela presença do Senhor e não por qualquer valor intrínseco que tivessem os objetos utilizados no culto.
Tanto assim é que de nada adiantou aos israelitas levarem a arca do concerto para o campo de batalha contra os filisteus, pois foram derrotados apesar de a arca ali estar, pois não era papel da arca servir de amuleto ou de talismã para Israel, mas esta mesma arca, quando foi tida como um “troféu de guerra”, foi motivo de grandes aflições para os filisteus que, no entanto, bem entenderam que não foi a arca quem produziu tais males a eles, mas única e exclusivamente o Senhor.
– É importante fazer tal observação pois, em nossos dias, muitos estão a repetir a mesma confusão que tiveram os israelitas nos dias de Eli, achando que a adoção dos objetos cúlticos determinados por Deus tem algum valor na adoração ao Senhor, o que se trata de um duplo equívoco:
primeiro, o culto levítico encerrou o seu tempo quando Cristo Jesus morreu na cruz do Calvário, implantando a nova aliança; segundo, nem mesmo durante a dispensação da lei, tinham tais objetos algum valor intrínseco na adoração a Deus, mas apenas tipificavam o que estava por vir e, mais do que isto, nada significariam se o Senhor não estivesse presente, se não houvesse a Sua glória.
– É lamentável vermos hoje milhares e milhares de pessoas querendo visitar templos de Salomão, tocar e se prostrar diante de arcas do concerto, numa atitude idolátrica e que não tem senão uma consequência: a perdição eterna.
Entendamos, pois, o verdadeiro sentido e significado do culto levítico para dele podermos extrair as lições e princípios que são indispensáveis para que tenhamos um culto racional ao Senhor, uma adoração em espírito e em verdade.
– Assim como no culto levítico, e com muito maior razão ainda, já que estamos no cumprimento da promessa que era tão somente tipificada no culto levítico, também devemos ter um culto que traga a glória de Deus, que tenha a presença de Deus.
– A propósito, em nosso dia-a-dia, temos de levar os homens a glorificar a Deus por causa de nossas boas obras (Mt.5:16), sendo certo que foi a glorificação do Pai a constante na vida terrena de Cristo sobre a face da Terra (Jo.17:4).
– Não há porque, então, deixar de ter a presença de Deus em nosso culto, culto que não se dá num lugar predeterminado, pois adoramos ao Pai em espírito e em verdade, em todo e qualquer lugar, pois, como já se disse supra, somos nós o templo do Espírito Santo, a morada de Deus no Espírito (Jo.4:23,24; I Co.6:19; Ef.2:21,22).
– A glória aparecerá quando estivermos a cultuar a Deus segundo a Sua vontade, em plena santidade e expressando aquela beleza interior que Ele requer de nós, que é a pureza e obediência à verdade. É esta a grande lição que nos dá o culto levítico e que mostra a necessidade e o valor do estudo do livro de Levítico.
IV – OS ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO
– A beleza e a glória do culto levítico evidenciam-se pelos seus elementos, que aqui serão resumidamente analisados.
– O primeiro elemento do culto levítico eram os sacrifícios, sendo, aliás, pela sua disciplina que começa o livro de Levítico. A palavra “sacrifício”, que tem a mesma raiz de “sacerdote”, ou seja, “sac(r)-“, cujo significado é “sagrado”, é uma ação que torna algo sagrado.
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa considera “sacrifício” como sendo “oferenda ritual a uma divindade que se caracteriza pela imolação real ou simbólica de uma vítima ou pela entrega da coisa ofertada”, a “renúncia voluntária ou privação voluntária por razões religiosas, morais ou práticas”.
– A palavra hebraica utilizada para “sacrifício” é “zebhah” (זבח), cujo significado é “matança, i.e., carne de um animal”. No sacrifício, portanto, há uma morte, tem-se uma atitude que envolve vida.
– Desde o momento da queda do homem, o sacrifício mostrou ser uma necessidade para o culto a Deus, porquanto o próprio Senhor afirmou que a restauração da amizade entre Deus e a humanidade se daria por meio de um sacrifício, o “ferimento do calcanhar da semente da mulher” (Gn.3:15). Como se não bastasse isso, para solucionar um problema decorrente do pecado, qual seja, a nudez do primeiro casal, o próprio Deus providenciou a morte de um animal, para de sua pele fazer túnicas (Gn.3:21).
– Esta ideia do sacrifício ficou bem assentada no primeiro casal, tanto que seus filhos sacrificavam na adoração ao Senhor (Gn.4:3,4), sendo uma atitude que encontramos em todos os homens que adoraram a Deus ao longo da história da humanidade, como Noé (Gn.8:20,21), Abraão (Gn.12:8), Isaque (Gn.26:25) e Jacó (Gn.35:7).
– O culto é, sempre, um sacrifício, pois devemos nos lembrar que Deus é o dono da vida e que deseja nos dar a vida eterna, que nada mais é que a comunhão com Ele, estar ao lado d’Ele desde agora e por toda a eternidade, mas que, por termos pecado contra o Senhor, estamos d’Ele separados (Is.59:2), separação que é a morte. Assim, para que passemos da morte para a vida, mister que haja o derramamento de sangue (Hb.9:22), que é a vida (Gn.9:4), que haja o sacrifício.
– O culto levítico, repetindo o que já ocorria nas dispensações anteriores, relembra esta realidade do sacrifício, da necessidade que houvesse a entrega da vida para que tivéssemos vida.
– Mas os sacrifícios não eram apenas de animais ou por causa do pecado. Também havia sacrifícios de louvor e de gratidão ao Senhor, as chamadas “ofertas pacíficas”, bem como, também, ofertas de vegetais, de manjares, em gratidão, também, ao que o Senhor havia proporcionado ao povo.
O sacrifício também é uma demonstração de desprendimento e de reconhecimento do senhorio divino, a renúncia de si mesmo, a morte para nós e a entrega para Deus.
– Por isso, mesmo depois da morte de Jesus na cruz do Calvário, que representa este sacrifício que nos dá vida, antes só anunciado e tipificado tanto nas dispensações anteriores quanto no culto levítico, ainda temos o culto como sacrifício, o sacrifício do nosso corpo, a entrega da nossa vida, não para morrer fisicamente, mas para servir a Deus (Rm.6:12,13;12:1; Hb.13:5; I Pe.2:5).
– Além dos sacrifícios, o culto levítico também tinha solenidades, ou seja, cerimônias formais, com a presença de público, determinadas pelo Senhor e que serviam para celebrações especiais, como, por exemplo, as festas das primícias, semanas, trombetas e tabernáculos, o dia da expiação, entre outras (Lv.23).
– Nas ocasiões especiais do calendário, voltava-se para o Senhor, lembrando ser Ele o Criador de todas as coisas.
A fixação do tempo por parte do culto é uma característica presente em todas as civilizações, como observou o sociólogo judeu-francês Émile Durkheim (1858-1917), a nos lembrar que Deus é eterno e que somos Suas criaturas e, portanto, submetidas ao tempo por ora.
– Ainda hoje, o culto a Deus tem solenidades, como, por exemplo, as duas ordenanças estabelecidas pelo Senhor Jesus (batismo nas águas e ceia do Senhor), ocasiões especiais em que, de maneira formal, louvamos a Deus por uma circunstância de nosso relacionamento com Ele, por Suas obras e maravilhas, por Sua fidelidade.
– No culto levítico, também, havia a presença do louvor em forma de música, o que, aliás, foi formalizado nos dias de Davi, que não fez isto por ser ele mesmo um músico (I Sm.16:17,18), mas sim, por expressa determinação divina (II Cr.29:25).
– A música é, com razão, considerada a mais espiritual das artes, pois não demanda de uma base material para ocorrer, sendo certo que, nos céus, há sempre louvor em forma de música (Ap.5:8-10), de modo que não há como se ter um culto a Deus sem que se tenha a música como seu elemento integrante.
– No culto levítico, também, havia a exposição da Palavra de Deus. Aliás, uma das solenidades do culto levítico era, a cada sete anos, na festa dos tabernáculos, a leitura de toda a lei para todo o povo (Dt.31:9-13), a fim de impedir que algum israelita e até mesmo o estrangeiro que vivesse em Israel deixasse de conhecer todo o teor da lei.
– Um importante trabalho dos sacerdotes e dos levitas era o de ensinar ao povo a lei do Senhor, mesmo fora das cerimônias no tabernáculo ou no templo, como podemos ver em passagens como II Cr.17:7-9, papel que era exercido pelos sacerdotes que não estavam no turno no templo como também por aqueles que já haviam superado a idade de 50 anos, que era a idade limite para oficiar no templo ou tabernáculo (Nm.4:3; 8:25).
– Esta exposição da Palavra era tão importante e presente no culto levítico que, com a destruição do primeiro templo, continuou a ser praticada pelos judaítas no cativeiro, tendo, então, surgido a chamada “casa de estudo” (Bet Há-Midrash ou Bet Ha-Talmud), que deu origem à “sinagoga”, que continuou a existir mesmo após a construção do segundo templo e que perdura até os dias de hoje, onde há o estudo das Escrituras por parte do povo judeu.
– Por fim, outro elemento do culto é a bênção, que foi determinada pelo próprio Deus, que mandou que o sumo sacerdote a proferisse todas as vezes em que estivesse a despedir o povo que havia se ajuntado para adorar ao Senhor (Nm.6:23-27).
Quando da inauguração do tabernáculo, a glória do Senhor apareceu, como já vimos supra, logo depois da impetração da bênção (Lv.9:23,24).
– Tais elementos persistem no culto até os dias de hoje, pois são componentes da adoração ao Senhor, não importando a dispensação em que nos encontramos, pois Deus é o mesmo e não muda (Ml.3:6; Tg.1:17).
Por isso, o apóstolo Paulo, ao elencar os elementos que compõem o nosso culto coletivo, alistou praticamente o que se está a analisar aqui, pois disse que, quando nos ajuntamos, cada um de nós tem de ser salmo (louvor em forma de música), doutrina (exposição da Palavra), revelação, língua e interpretação (I Co.14:26).
– O sacrifício, como já vimos, existente agora apenas na forma pacífica, não deixa de se fazer presente na forma de purificação do pecado na celebração da ceia do Senhor, quando o sacrifício de Jesus no Calvário é lembrado 9i Co.11:26), sendo a própria ceia, como o batismo, solenidades que ainda persistem.
– Por fim, a bênção é outro elemento que ainda perdura, já que, pelo que nos mostram as epístolas, notadamente as paulinas, era este o costume dos homens de Deus já no início da história da Igreja, inclusive a chamada “bênção apostólica”, com a qual Paulo encerra a sua segunda carta aos coríntios.
– O culto levítico foi instituído por Deus e, portanto, com ele temos muito a aprender como cultuar ao Senhor.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2448-licao-2-a-beleza-e-a-gloria-do-culto-levitico-i