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LIÇÃO Nº 1 – PARÁBOLA: UMA LIÇÃO PARA A VIDA

 

ESBOÇO Nº 1

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Após termos estudado sobre o livro de Levítico, o que foi muito proveitoso para nos autoavaliarmos a respeito de nossa adoração e serviço a Deus, ingressaremos agora, neste último trimestre de 2018, no estudo das parábolas de Jesus, um estudo que nos fará melhor compreender as realidades espirituais e que continuará o nosso processo de reflexão e aprimoramento de nossa conduta diária, fazendo-nos fechar este ano letivo com chave de ouro.

     John Nelson Darby, o grande pregador e estudioso das Escrituras que, na Inglaterra, no início do século XIX, constituiu-se num marco do estudo da Bíblia Sagrada e na conscientização de que partíamos para o final de nossa dispensação, escreveu que “…duas coisas são então postas em evidências na narrativa do Evangelho.

A primeira é o poder que acompanha a proclamação do reino, facto anunciado em dois ou três versos, sem qualquer outro pormenor.

O reino é proclamado em actos de poder que chamam a atenção de todo o país, de todo o território do antigo Israel. Jesus aparece diante deles investido desse poder.

Segunda (capítulos 5 a 7) [do livro de Mateus, observação nossa] é o carácter do reino, anunciado no sermão da montanha…” (Estudos sobre a Palavra de Deus, Mateus-Marcos. Trad. de Martins do Valle, p.53-4).

 Esta observação de Darby foi sintetizada por Lucas na abertura do livro de Atos dos Apóstolos, quando disse que, no seu primeiro livro, ou seja, o evangelho, havia narrado não só o que Jesus havia começado a fazer, mas também a ensinar (At.1:1), definindo, assim,

o ministério de Jesus como sendo um ministério de ações e de ensinos baseados nestas ações, o que fazia com que Seu ensino, ao contrário dos dos escribas e fariseus, fosse um ensino com autoridade (Mt.7:28,29).

 Nesta Sua tarefa de ensinar, Jesus Se utiliza do expediente das parábolas e ao fazê-l’O nos revela inúmeras circunstâncias a respeito de Seu caráter e de Seu propósito que, nós, como Seus imitadores (I Co.11:1), devemos reter para termos êxito em nosso ministério.

 Em primeiro lugar, ao Se utilizar do expediente das parábolas, Jesus mostra que não tinha intenção alguma de causar escândalo ou Se mostrar como alguém totalmente rebelde à orientação dos antigos.

Embora o método de parábolas tenha sido praticado pelo Senhor Jesus com tanta maestria e esplendor que, inevitavelmente, ainda hoje, quando falamos em parábolas, associemos esta figura ao ministério de Jesus, o fato é que a parábola não foi uma criação do Senhor, mas se tratava de um método muito comum entre os escribas e mestres israelitas, para não falar até nos povos antigos, em geral.

O Antigo Testamento, mesmo, registra, segundo R.N. Champlin, 11(onze) parábolas.

Desta maneira, ao usar do método das parábolas, Jesus mostra que não inovava, se bem que, como ninguém, usaria este método.

 Em segundo lugar, ao usar do método das parábolas, Jesus mostra que Seu interesse era descrever realidades espirituais, que estavam acima da compreensão humana, de um modo que pudesse ser acessível a todos os Seus ouvintes. 

 As parábolas eram histórias retiradas do cotidiano, do dia-a-dia dos Seus contemporâneos, cuja profundidade é mostrada com elementos absolutamente triviais e simples. As parábolas são uma das mais eloquentes demonstrações da “simplicidade que há em Cristo” (II Co.11:3 “in fine”).

 Ao contemplarmos as parábolas de Jesus, devemos sempre lembrar que o ministério do ensino na Igreja deve ser exercido com simplicidade, pois não será o hermetismo, a complicação, a erudição excessiva que conferirá profundidade ao ensino, e as parábolas são a prova disto.

     O ensino da Palavra de Deus deve ser universal, deve visar a todos os que se dispuserem a ouvi-lo e nós temos o dever de transmitir a Palavra da forma mais acessível possível, de modo a que sejamos entendidos pelos homens.

A mensagem do Evangelho é para todo o mundo, para toda a criatura (Mc.16:15) e, por isso, temos de usar de uma linguagem facilmente acessível, como eram as parábolas.

     Em terceiro lugar, ao usar parábolas em Seu ensino, Jesus confirma que veio para todos os homens, não para alguns escolhidos.

Trazendo ensinos que eram acessíveis a todos, o Senhor deu real oportunidade a pessoas de todas as camadas sociais, grandes e pequenos, sábios e indoutos, homens e mulheres, para que O conhecessem e a Seu Pai.

Estudar as parábolas do Senhor, portanto, faz-nos ver, de forma ao mesmo tempo simples e profunda, quanto Deus está interessado em que O conheçamos e quanto Ele nos ama.

Por fim, assim como Jesus utilizou de realidades do cotidiano das pessoas para ensinar as verdades eternas, também precisamos, na atualidade, contextualizar a Palavra de Deus, que permanece para sempre, fazendo com que as parábolas sejam, também, fontes de ensinos preciosos para os nossos dias, até porque, como ensinava Salomão, “não há nada de novo debaixo do sol” (Ec.1:9,10).

     A capa do trimestre mostra-nos u’a mão aberta, repleta de sementes, que parecem estar sendo lançadas, a nos lembrar a parábola do semeador, a primeira parábola de Jesus que consta tanto do Evangelho segundo Mateus (Mt.13:1-23) quanto do Evangelho segundo Marcos (Mc.4:120),

 que são tidos como os mais antigos evangelhos, episódio, inclusive, em que os evangelistas explicam qual a razão pela qual o Senhor Jesus Se utilizava deste método de ensino, que faz com que a parábola do semeador seja como a parábola modelo de todo esta forma de ensino adotada por Nosso Senhor e Salvador.

  O trimestre desenvolver-se-á com uma lição introdutória, que mostra a importância e o papel das parábolas no ensino de Jesus e, depois, estudaremos 12(doze) das 44(quarenta e quatro) parábolas de Jesus registradas nos Evangelhos.

     O comentarista do trimestre é o pastor Wagner Tadeu dos Santos Gaby, pastor-presidente das Assembleias de Deus em Curitiba/PR, mestre em Teologia e em Educação, que já comentou anteriormente as Lições Bíblicas, quando nos brindou com o estudo da missão integral da Igreja, no 3º trimestre de 2011,

 Que, ao término do trimestre, tenhamos não só aprendido as profundas realidades espirituais contidas nas parábolas do nosso Mestre, como também tenhamos aprendido com Ele como devemos ensinar a Sua Palavra diante dos homens, ou seja, com profundidade, mas sem nunca deixar a simplicidade que n’Ele há.

B) LIÇÃO Nº 1 – PARÁBOLA: UMA LIÇÃO PARA A VIDA

     Ao ensinar por parábolas, Jesus não somente nos ensina as verdades espirituais com simplicidade, como também nos ensina a como devemos ensinar.

 INTRODUÇÃO 

 – Jesus é o Mestre por excelência. O próprio Senhor reconheceu, mais de uma vez, durante o Seu ministério, esta Sua condição (Jo.13:13).

Tanto assim é que Lucas resumiu o ministério de Jesus como sendo composto de ações e de ensinos (At.1:1). O uso das parábolas é uma das maiores demonstrações da capacidade extraordinária do Mestre Jesus.

 – As parábolas de Jesus são um método e exemplo que nos mostram, claramente, que, no ensino da Palavra de Deus, jamais devemos menosprezar ou desprezar o ambiente cultural do ouvinte, como também nunca poderemos deixar de lado a necessidade extrema de nos fazer entendidos pelo auditório.

 I – O QUE É PARÁBOLA

 – A palavra “parábola” é grega. Vem de “parabolé” (παραβολή) que, por sua vez, é uma palavra composta de duas outras palavras, “para”(παρα) que quer dizer “ao lado de” e “bolé” (βολή), que era uma medida de distância correspondente um tiro de pedra (cfr. Lc.22:41).

Na verdade, “bolé” é derivado de “ballo” (βαλλω), que significa lançar, jogar, arremessar. A palavra “parábola”, portanto, tem o sentido de “lançamento ao lado”, “arremesso ao lado”, um “lançamento feito com desvio de alvo”, ou seja, uma “aproximação”, uma “comparação”. 

 – No Antigo Testamento, a palavra traduzida por parábola é “mashal” ( )משל , que sempre designa uma comparação, uma ilustração que é feita para trazer ensinamentos espirituais, quase sempre vinculados a profecias,

como nos ditos de Balaão (Nm.23:7,18;24:3,15,20),

de Jó (Jó 27:1 e 29:1)

ou nas profecias de Ezequiel(Ez.17:2; 18:2) e de

Habacuque (Hc.2:6)

ou pelo salmista (Sl.49:4).

O salmista, aliás, deixou registrado o uso de parábolas pelo Messias (Sl.78:2).

 – Por isso, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é dito que a parábola “…é uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia .…”.

A Bíblia On-Line da Sociedade Bíblica do Brasil define parábola como sendo “…geralmente história curta ou comparação baseada em fatos verdadeiros, com o fim de ensinar lições a respeito do Reino de Deus ou de sabedoria e moral.…”

Diante da dificuldade ou da profundidade da mensagem que se quer transmitir, a pessoa acaba usando de algo aproximado, de uma comparação com elementos conhecidos pelos receptores da mensagem, fazendo, assim,

com que a mensagem não seja transmitida com as ideias exatas, muitas vezes inatingíveis e incompreensíveis, mas através de uma aproximação, de uma comparação que consegue transmitir as ideias sem que a dificuldade delas impeça o conhecimento por parte do ouvinte.

Por isso, há um “desvio”, fica-se “ao lado” das ideias, mas o “lançamento” é feito, a transmissão é efetuada.

– O uso de parábolas é uma forma bem antiga de transmissão de conhecimentos entre os homens. Tendo criado o homem à Sua imagem e semelhança, Deus tinha plena consciência de que o homem não tinha condições de compreender o seu Criador em sua totalidade e,

portanto, cremos que, já no jardim do Éden, quando o homem recebia a presença de Deus na viração do dia, o Senhor já Se comunicava com Ele por meio de comparações, de aproximações, a fim de que se fizesse conhecido.

Não é à toa que o Senhor quis deixar demonstrada a necessidade de obediência e submissão a Ele por parte do homem através de uma árvore, como era a árvore do conhecimento do bem e do mal, que nada mais era que um símbolo da obediência.

Deus criou o expediente da árvore da ciência do bem e do mal para que o homem pudesse entender o que é obedecer, bem como compreendesse o seu lugar no universo.

Deus sempre nos fala com aproximações, sempre nos transmite o Seu conhecimento por intermédio de comparações, pois não temos como compreendê-l’O em Sua plenitude.

 O apóstolo João, mesmo, admite que só quando formos glorificados teremos condições de vê-l’O como Ele é (I Jo.3:2) e, mesmo assim, de forma imperfeita, pois ninguém pode conhecer a Deus senão o próprio Deus (I Co.2:11).

 – A parábola é, assim, uma forma de transmissão de conhecimento e de verdades através de aproximações, do uso de elementos que já são conhecidos do ouvinte, a fim de que ele possa entender, com clareza, a profundidade do que será transmitido.

Os povos da Antiguidade fizeram uso desta técnica a fim de poder transmitir, ao longo das gerações, os conhecimentos que haviam adquirido a respeito do mundo e a respeito de Deus. 

– Embora tenham uma certa semelhança, as parábolas distinguem-se de algumas figuras que também compõem o que se passou a denominar de “linguagem simbólica”.

Aliás, a palavra “símbolo” tem a mesma raiz da palavra “parábola”, sendo, nada mais, nada menos, como explica R.N. Champlin, “comparar uma coisa com outra ao lançá-las uma junto com a outra”.

“…Símbolo é algo que sugere outra coisa mediante um relacionamento, uma associação, como, por exemplo, um leão simbolizando a coragem…” (Símbolo. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.212).

A linguagem simbólica “…permite a expressão de realidades humanas que não podem ser comunicadas pela linguagem referencial…” (MALANGA, Eliana Branco. A Bíblia hebraica como obra aberta: uma proposta interdisciplinar para uma semiologia bíblica, p.34).

Como ensinou o psicanalista Carl Jung, “…por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente.

Esta é uma das razões   por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens…” (Chegando ao inconsciente. In: O Homem e seus símbolos, p.21).

 – Na linguagem simbólica, que é a linguagem de parte preponderante da Bíblia Sagrada (e nem podia ser diferente, pois, sendo, como é, a Palavra de Deus, sem o simbolismo não haveria como Deus Se revelar ao homem), não há apenas o uso de parábolas, mas também surgem outras manifestações que, entretanto, com as parábolas, não se confundem.

 – A primeira figura que temos é a fábula. Fábula é narração popular ou artística de fatos puramente imaginados, curta narrativa, em prosa ou verso, que tem entre as personagens animais que agem como seres humanos, e que ilustra um preceito moral.

As fábulas, embora tragam, também, lições de moral para os seus ouvintes, são narrativas fantásticas, onde, via de regra, os animais são dotados de humanidade durante o enredo.

São conhecidas as fábulas do grego Esopo (620-564 a.C.) e do francês Jean de La Fontaine (16211695).

Uma parábola não se confunde com uma fábula, pois não se utiliza deste instrumento da fantasia, do total descompromisso com a realidade que cerca o ouvinte. Pelo contrário, ainda que se trate de uma história imaginária, como diz R.N. Champlin, na parábola “…admite a probabilidade, ensinando mediante ocorrências imaginárias, mas que jamais fogem à realidade das coisas…” ( Parábola. In: op.cit., v.5, p.57).

OBS: Alguns estudiosos da Bíblia, por causa disto, entendem que a chamada “parábola de Jotão” (Jz.9:7-15) seria uma fábula, uma vez que haveria aí a personificação de árvores.

– A segunda figura que não se confunde com a parábola é a alegoria, que é o modo de expressão ou interpretação usado no âmbito artístico e intelectual, que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada e em que cada elemento funciona como disfarce dos elementos da ideia representada.

Bem se vê que a parábola guarda muita semelhança com a alegoria, foi até mesmo, pelos dicionaristas, entendida como uma narrativa alegórica, mas aí é que está a diferença entre a parábola e a alegoria.

Enquanto a parábola é uma história, é uma narrativa, a alegoria é meio de expressão ou de interpretação, ou seja, a alegoria é um método de agir, é um meio empregado para se transmitir uma ideia.

Quando ocorre por meio de uma história, temos uma parábola, mas a alegoria pode ser utilizada de outras formas, como, por exemplo, através de uma interpretação de um texto.

Assim, por exemplo, quando analisamos o tabernáculo de Moisés e nele percebemos uma figura, um símbolo de Jesus Cristo, estamos fazendo uso da alegoria, sem que estejamos fazendo uma parábola.

OBS: “…A parábola não é a mesma coisa que a alegoria. A alegoria interpreta a si mesma, tão somente substituindo as personagens reais por outras.

Na alegoria, as personagens fictícias são dotadas das mesmas características das pessoas reais, sem qualquer tentativa de ocultar ou para ilustrar por meio de símbolos.

A parábola ilustra por meio de símbolos, como, por exemplo, ‘o campo é o mundo’, ‘o inimigo é o diabo(…). A parábola é uma narrativa séria, colocada na esfera das probabilidades, (…).

Talvez a alegoria não seja muito diferente disso, excetuando o fato de que pode indicar uma história criada, dotada de mais símbolos comparativos.…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Parábola. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.57).

Há “…alegoria quando se usa cada uma das figuras de linguagem com detalhes particulares unindo uma verdade à outra.

Por exemplo, Jesus usou bastante desta figura de linguagem em João 6 e apenas começou a  explicar esta passagem a partir dos versos 47 a 68.…” (ROCHA, A. Nelson. 2ª Pedro da Bíblia Rhema Di Nelson: a graça que a nós foi profetizada, p.24-5 – arquivo do revisor – obra ainda no prelo, publicado com autorização do autor).

 – A terceira figura que não se confunde com a parábola é o mito, que é o relato fantástico de tradição oral, geralmente protagonizado por seres que encarnam, sob forma simbólica, as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana,

narrativa acerca dos tempos heroicos, que geralmente guarda um fundo de verdade ou, então, relato simbólico, passado de geração em geração dentro de um grupo, que narra e explica a origem de determinado fenômeno, ser vivo, acidente geográfico, instituição, costume social etc.

O mito, como se pode observar, é, assim como a parábola, uma história, uma narrativa, mas cujo objetivo é, diferentemente da parábola, a exaltação de um herói ou a explicação de um determinado estado de coisas que hoje se apresenta.

O mito é mais uma tentativa de explicação de uma determinada situação através de uma história, muitas vezes fantástica, que justificaria o atual estado de coisas. A parábola é, antes, um ensino do que uma explicação, a transmissão de uma verdade e não uma justificativa do que hoje existe.

 – A quarta figura que não se confunde com a parábola é o conto, entendido como a     narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação (com espaço geralmente limitado a um ambiente), unidade de tempo, e número restrito de personagens, relato intencionalmente falso e enganoso; mentira, embuste, treta.

Enquanto um texto literário, a parábola aproxima-se do conto, embora seja muito mais breve que o conto, pois é uma história com pequeno número de personagens, com a unidade já mencionada.

Mas, enquanto o conto é apenas uma narrativa, e, no mais das vezes, sem qualquer compromisso com a verdade, a parábola procura ser um meio de transmissão de conhecimento moral e espiritual, o que o distingue do conto.

OBS: Por falar em conto, aqui também incluímos o que se costumou denominar de “estória”, palavra originária do inglês “story”, que se incorporou no vocabulário de nossa língua para denominar uma narrativa de ficção.

– Por fim, a quinta figura que não se confunde com a parábola é o provérbio, que é a máxima expressa em poucas palavras.

O provérbio, assim como a parábola, procura transmitir, com aproximação de ideias, um ensino moral e, por vezes, espiritual.

Mas o provérbio é apenas uma frase, apenas uma declaração, enquanto que a parábola tem uma narrativa, tem um enredo, é uma história que transmite esta lição de moral.

Por isto, o livro de Provérbios é um excelente manual de sabedoria mas é totalmente diferente das parábolas de Jesus.

 – Temos, portanto, que a parábola é uma história, que, embora imaginária, tem um compromisso com a realidade, descreve algo que pode até acontecer, mas que encerra um ensinamento profundo, uma verdade espiritual que jamais pode ser negligenciada pelo ouvinte.

É, portanto, um ensino que se faz através de comparação, de aproximação de ideias tiradas do cotidiano, do dia-a-dia do ouvinte e cuja função principal é transmitir conhecimentos muito superiores à capacidade humana: as verdades divinas, as verdades espirituais.

Daí, porque, no estudo das parábolas, termos a consciência de que se está diante de uma comparação, que encerra preciosos ensinamentos morais e espirituais, que devem e podem ser apreendidos por qualquer um que esteja disposto a aprender de Cristo Jesus.

OBS:  “…As parábolas podem ser símiles[comparações, observação nossa] simples ou narrativas elaboradas, cujos detalhes envolvam alguma espécie de conotação moral ou espiritual.

Na interpretação das parábolas, não podemos esquecer a ‘lição principal’ sem entrar em maiores detalhes, que servem apenas para preencher uma história aceitável, mas que não se revestem de qualquer sentido especial…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Parábola. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.57).

 II – AS PARÁBOLAS NA BÍBLIA    

– Sendo preponderantemente escrita em linguagem simbólica, a Bíblia Sagrada não deixaria de ter parábolas, até porque, entre os israelitas, sempre foi este um modo de ensino das verdades eternas.

Esta técnica, que é anterior a Jesus Cristo, permanece até hoje entre os rabinos judeus, que está repleta de narrativas deste gênero nos seus escritos (a começar do Talmude, o segundo livro mais sagrado do judaísmo).

 – “…Os eruditos alistam onze parábolas no Antigo Testamento:

1- Os moabitas e os israelitas. O narrador foi Balaão, no monte Pisga (Nm.23:24).

2- As árvores que escolheram um rei. Foi contada por Jotão, no monte Gerizim (Jz.9:7-15), parábola que alguns consideram como sendo uma fábula[observação nossa].

3- A ovelha e o pobre. Foi narrada pelo profeta Natã, em Jerusalém (II Sm.12:1-5)

4- O conflito entre irmãos. Uma mulher de Tecoa contou-a a Jerusalém (II Sm.14:9)

5- O prisioneiro que escapou. Um jovem profeta, perto de Samaria, apresentou essa parábola (I Rs.20:25-49)

6- O espinheiro e o cedro. O rei Joás a contou, em Jerusalém (II Rs.14:9)

7- A videira que deu uvas bravas. Isaías contou essa parábola, em Jerusalém (Is.5:1-7).

8- As águias e a vinha (Ez.17:3-10)

9- Os filhotes de leão (Ez.19:2-9)

10 – O caldeirão fervente (Ez.24:3-5)

11 – Israel como a vinha perto da água (Ez.24:10-14), estas quatro últimas foram proferidas pelo profeta Ezequiel, no cativeiro da Babilônia[observação nossa]. .…” ( CHAMPLIN, Russell Norman. Parábola. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.63)

 – Notamos sempre que, no Antigo Testamento, quase sempre a parábola está vinculada ao ofício profético.

Eram os profetas, no mais das vezes, quem usavam deste expediente para trazer suas mensagens ao povo, a mostrar, assim, que a parábola era um meio pelo qual o Senhor procurava transmitir um ensinamento, uma orientação, fazer uma advertência para o Seu povo.

Na antiga aliança, esta era a função do ofício profético, que era o porta-voz do Espírito do Senhor para Israel. A parábola, assim, desempenha este papel de comunicação direta entre Deus e o homem.

 – Deste modo, vemos que Jesus não poderia deixar de usar do expediente das parábolas na pregação do Evangelho.

Sendo um de Seus ofícios o ofício profético, Cristo teria, mesmo, de, a exemplo dos profetas que o antecederam, também usar deste método que, afinal de contas, era um método bem conhecido do povo israelita.

Tendo a missão de fazer conhecido o Pai aos homens (Jo.15:15), o Senhor tinha de trazer Deus ao nível do intelecto humano e isto impunha o uso de uma linguagem que fosse acessível ao ser humano.

O uso das parábolas, portanto, era um dos mais apropriados, porque, além de ser conhecido da população em geral, dava plenas condições para que houvesse a compreensão da parte dos ouvintes. 

 – O uso das parábolas por Jesus foi tão intenso que há, mesmo, quem associe esta técnica a Jesus, achando que tivesse sido Ele o seu inventor, tanto assim que a própria palavra “parábola” passou a ter o significado de narrativa alegórica que encerra um preceito religioso ou moral, especialmente as encontradas nos Evangelhos, como diz o Dicionário Houaiss, ou seja, quando se fala, hoje em dia, em parábola, pensa-se, de imediato, em uma parábola que tenha sido contada por Jesus.

 – Os eruditos divergem quanto ao número de parábolas que os Evangelhos registram.

Entendem alguns que as parábolas seriam 30(trinta), enquanto outros chegam até ao número de 41(quarenta e uma) ou 45 (quarenta e cinco) parábolas de Jesus, todas elas constantes dos chamados “evangelhos sinóticos”, ou seja, Mateus, Marcos e Lucas, evangelhos que têm como objetivo principal fazer um resumo histórico da vida de Jesus sobre a face da Terra,

diferentemente do evangelho segundo escreveu João, que, sem se preocupar em fazer uma síntese biográfica do Senhor, tenta apenas mostrar a Sua divindade, através dos Seus discursos e de sete milagres escolhidos pelo apóstolo evangelista. Assim, em João, em lugar das parábolas, temos discursos.

 – Eis a relação das parábolas de Jesus nos Evangelhos, segundo o pastor Elias R. de Oliveira (http://vivos.com.br/parabolas-de-jesus/ Acesso em 30 jul. 2018):

01 – O Semeador  (Mt.13.5-8; Mc.4:3-20);

02 – O Joio (Mt. 13.24-30);

03 – O Grão de Mostarda (Mt. 13.31,32; Mc.4:30-32; Lc.13:18,19);

04 – O Fermento (Mt. 13.33; Lc.13:20,21);

05 – O Tesouro Escondido (Mt. 13.44);

06 – A Pérola (Mt. 13.45,46);

07 – A Rede (Mt. 13.47-50);

08 – A Ovelha Perdida (Mt. 18.12-14; Lc.15:3-7);

09 – O Credor Incompassivo (Mt. 18.23-35);

10 – Os Trabalhadores da Vinha (Mt. 20.1-16);

11 – Os Dois Filhos (Mt. 21.28-32);

12 – Os Lavradores Maus (Mt. 21.33-46; Mc.12:1-12; Lc.20:9-19);

13- As Bodas (Mt. 22.1-14);

14 – As Dez Virgens (Mt. 25.1-13);

15 – Os Talentos (Mt. 25.14-30);

16 – A Semente (Mc. 4.26-29);

17 – Os Dois Devedores (Lc. 7.41-43);

18 – O Bom Samaritano (Lc. 10.25-37);

19- O Amigo Importuno (Lc. 11.5-8);

20 – O Rico Louco (Lc. 12.16-21);

21 – A Figueira Estéril (Lc. 13.6-9);

22 – A Grande Ceia (Lc. 14.16-24);

23 – A Dracma Perdida (Lc. 15.8-10);

24 – O Filho Pródigo (Lc. 15.11-32);

25 – O Administrador Infiel (Lc. 16.1-9);

26 – O Rico e Lázaro (Lc. 16.19-31);

27 – Os Servos Inúteis (Lc. 17.7-10);

28 – O Juiz Iníquo (Lc. 18.1-8);

29 – O Fariseu e o Publicano (Lc. 18.9-14);

30 – As Dez Minas (Lc. 19.12-27).

 – Russell Norman Champlin, ao lado destas 30(trinta) parábolas, entendemos que com razão, ainda considera mais 12(doze), a saber:

os dois alicerces (Mt.7:24-27),

remendo novo em vestes velhas (Mt.9:16, Mc.2:21, Lc.5:36),

vinho novo em odres velhos (Mt.9:17; Mc.2:22; Lc.5:37,38),

o espírito imundo (Mt.12:43-45, Lc.11:24-26),

a figueira florescente (Mt.24:32,33; Mc.13:28,29; Lc.21:29-31),

o dono de casa e o ladrão (Mt.24:42-44, Lc.12:36-40),

o mordomo sábio (Mt.24:45-51; Lc.12:42-48);

as ovelhas e os bodes  (Mt.25:31-37),

os servos vigilantes (Mc.13:34-37; Lc.12:35-38),

o conviva importuno (Lc.14:7-11);

a torre (Lc.14:28-30) e o

rei em preparativos de guerra (Lc.14:31-33).

Champlin, porém, considera que a parábola dos talentos e das dez minas seja a mesma parábola, daí porque entender haver 41 e não 42 parábolas nos Evangelhos.

 – Já a Sociedade Bíblica do Brasil, na sua Bíblia On-Line, entende que as parábolas são 45 (quarenta e cinco), acrescentando à relação de Champlin as seguintes parábolas:

coisas novas e coisas velhas (Mt.13:51,52),

jejum e casamento (Mt.9:14,15; Mc.2:18-22; Lc.5:33-35) e os

meninos na praça (Mt.11:1619; Lc.7:31-35).

 – Somos do entendimento de que há 44 parábolas, pois concordamos com a enumeração feita por Champlin e pela Sociedade Bíblica do Brasil.

Entretanto, achamos que a parábola dos talentos é diversa da parábola das dez minas e que a história de rico e Lázaro não é uma parábola, mas uma história verídica narrada por Jesus, tanto que uma personagem é chamada pelo nome, o que não ocorre em nenhuma outra parábola.

 – Fato interessante diz respeito à ausência de parábolas no evangelho segundo João. Verdade é que, em a narrativa do evangelista, encontramos, por três vezes, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra “parábola” (Jo.10:6; 16:25,29).

– No primeiro caso, o evangelista chama de “parábola” a afirmação de Jesus de que é ladrão e salteador aquele que não entra pela porta das ovelhas, ao contrário do pastor, que entra pela porta.

Tem-se aqui, na verdade, um símile, tanto que a palavra original aqui é “paromoios” (παρόμοιος), cujo significado é o de “similar”, “quase igual”, “igual”.

Símile é “ uma comparação de dois elementos/objetos de diferentes contextos, mas que possuem alguma característica comum, estabelecendo a semelhança” (Símile, o que é? Disponível em: https://www.figuradelinguagem.com/gramatica/simile-o-que-e-para-que-serve-qualimportancia/ Acesso em 31 jul. 2018).

 – Em Jo.16:25, novamente o termo empregado é “paromoios”, querendo, com isto, dizer que o Senhor Jesus estava se utilizando de comparações para explicar o sentimento dos discípulos, comparando ao sofrimento que tem a mulher antes do parto, que sente dor que se torna em alegria quando nasce a criança, dizendo que, desta mesma maneira, os discípulos se entristeceriam em virtude de Sua paixão e morte mas, depois, ficariam alegres com a Sua ressurreição. 

 – Em Jo.16:29, depois de Jesus ter dito aos discípulos que tinha vindo do Pai e iria para Ele, os discípulos afirmaram que Jesus havia falado, desta feita, abertamente, sem fazer comparações, mais uma vez sendo utilizado no texto o termo “paromoios”.

 – Como explica Herbert Lockyer: “…O termo traduzido por parábola em “Jesus lhes propôs esta parábola” (Jo 10:6) constitui um provérbio, e é a mesma palavra usada em dois outros lugares como provérbio (Jo 16:25, 29).

Em todos os três, o termo não é parabólico, mas paronímico, que significa “um discurso à margem”.

A primeira palavra da qual temos “parábola” implica “colocar ao lado de” ou “desenhados juntos, a semelhança que é mostrada por uma ilustração posta ao lado”.

A segunda palavra da qual temos “provérbio” significa “fazer algo como alguma outra coisa”.

Aqui a ideia é de semelhança e tanto faz tratarse de uma pintura, história ou ditado. Embora a inteira omissão de todas as parábolas sinóticas em João seja evidente, ainda assim o quarto evangelho não é de modo algum desprovido de um rico simbolismo.

“Todo o evangelho de ponta a ponta é tomado pela representação simbólica”. Dean Farrar diz que “o arranjo do livro é totalmente construído com referência direta aos números sagrados, três e sete”.

Portanto, através de sete símbolos que presentemente discorreremos, Cristo mostra o que ele é para o seu povo crente. João registra mais das palavras reais de

Jesus do que os outros três evangelistas e, dentre seus discursos, temos catorze parábolas germinais.…” (Todas as Parábolas da Vida. São Paulo: Vida, 2006 apud Ausência de Parábolas em João. Disponível em: https://evangelho-de-joao.blogspot.com/2013/05/ausencia-de-parabolas-em-joao.html Acesso em 31 jul. 2018).

 III – POR QUE JESUS ENSINOU POR MEIO DE PARÁBOLAS?

 – Visto que o Senhor usou do método de parábolas como ninguém para ensinar os Seus discípulos, alguém pode indagar: por que Jesus usou deste expediente, por que não teria sido “mais claro” nos Seus ensinamentos, ainda mais quando parece que o uso de parábolas era para que o Senhor não fosse entendido por Israel (cfr. Mt.13:10-17)? Não seria este um contrassenso diante da missão de Jesus aqui na Terra?

 – Em primeiro lugar, devemos observar que Jesus usou parábolas em Seus ensinos para cumprir a Palavra de Deus.

Como diz o apóstolo e evangelista Mateus, Jesus usou parábolas para cumprir o que d’Ele estava escrito no Sl.78:2 (Mt.13:34,35). Jesus veio cumprir as Escrituras e, por isso, tinha de ensinar por parábolas, pois assim estava escrito.

 – Em segundo lugar, Jesus tinha uma tarefa singular em Seu ministério: fazer o Pai conhecido dos homens (Jo.15:15), proclamar o Evangelho(Mc.1:15; Lc.4:43), ou seja, dizer ao mundo que Ele havia vindo para salvar o mundo e tirar dele o pecado (Jo.1:29; 3:17).

Para trazer o conhecimento do Pai ao homem, Jesus tinha de ser, antes de mais nada, Mestre. Por isso, das noventa vezes em que alguém se dirigiu ao Senhor Jesus nos Evangelhos, em sessenta delas foi chamado de mestre. Mestre, ao lado de Senhor, foi um título que Jesus jamais negou receber (Jo.13:13).

OBS: “…Nunca Jesus repreendeu aquele que O chamavam de Mestre ou Ensinador. Pelo contrário, parecia aceitar de bom grado este título…” (HURST, D.V. E ele concedeu uns para mestres. Trad. de Gordon Chown, p.15).

 – Uma das características fundamentais do mestre é ter e compreender os alvos do seu ministério de ensino.

Jesus, o Mestre dos mestres, tinha esta compreensão e sabia que tinha de fazer o Pai conhecido dos homens.

Ora, para tanto, era necessário que se desse atenção especial aos alunos, pois ele é, como diz D.V. Hurst, o mais importante dos três ingredientes da situação do ensino (ao lado do mestre e da aula).

Para que o aluno fosse o elemento mais importante, Jesus tinha que Se fazer entendido e compreendido por eles e isto só seria possível se descesse ao nível do aluno, ou seja, se Se utilizasse de um método a que o aluno estivesse acostumado e de elementos que permitissem que o aluno entendesse as verdades espirituais a respeito de Deus.

OBS: “…O emprego contínuo que Jesus fez das parábolas está em perfeita concordância com o método de ensino ministrado ao povo no templo e na sinagoga.

Os escribas e os doutores da Lei faziam grande uso das parábolas e da linguagem figurada, para ilustração das suas homilias.

Tais eram os Hagadote dos livros rabínicos. A parábola tantas vezes aproveitada por Jesus, no Seu ministério (Mc 4.34), servia para esclarecer os Seus ensinamentos, referindo-se á vida comum e aos interesses humanos, para patentear a natureza do Seu reino, e para experimentar a disposição dos Seus ouvintes (Mt 21.45; Lc 20.19).…” (OLIVEIRA, Elias R. de. Parábolas de Jesus. Disponível em: http://vivos.com.br/parabolas-de-jesus/ Acesso em 31 jul. 2018).

 – Numa análise do sistema de ensino então existente em Israel, vemos, claramente, que, para atingir estes objetivos, Jesus tinha de usar as parábolas, pois era o método que, a um só tempo, permitiria que todo o povo de Israel, que eram os Seus potenciais alunos (Jesus havia vindo para as ovelhas perdidas da casa de Israel – Mt.15:24; Jo.1:11),

pudesse ter real acesso ao conhecimento do Pai, seja pelo fato de que já estavam acostumados a este método de ensino, seja porque a linguagem empregada permitiria uma fácil compreensão de todos quantos quisessem aprender.

Notamos, portanto, que Jesus quer que o ensino da Sua Palavra se faça de modo claro e acessível a todos os ouvintes, respeitando-se, pois, as condições culturais, educacionais e sociais dos ouvintes.

 OBS: “…O professor precisa conhecer o aluno. Foi escrito acerca de Jesus:’ O próprio Jesus …os conhecia a todos.

E não precisava de que alguém Lhe desse testemunho a respeito do homem, porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana’ (Jô.2:24,25).

Jesus conhecia a psicologia do ser humano e manifestou este conhecimento no Seu modo de tratar com eles. Conhecia as leis do ensino e ensinava à altura.

Conhecia as necessidades e os impulsos básicos dos seres humanos, oferecendo-lhes completa satisfação.

Conhecia as tendências emocionais dos homens e as levou em consideração. Jesus ensinava o aluno, não ensinava lições, sendo portanto de importância primária o Seu conhecimento do aluno. Será que o mestre de hoje, que quer produzir nas vidas do alunos os mesmos resultados de Jesus, pode trabalhar sem levar isto em conta ?…” (HURST, D.V. op.cit., p.58).

 – Através das parábolas, Jesus usou de elementos e de situações do dia-a-dia dos Seus ouvintes para transmitir conhecimentos profundos a respeito de Deus e do relacionamento de Deus com os homens.

As coisas espirituais estão acima da capacidade do homem natural, pois elas se discernem espiritualmente e, sem o Espírito de Deus, não há como o homem entender as coisas divinas (I Co.2:9-16).

O homem, no pecado, não tem o Espírito Santo e, portanto, é preciso que o ensino a respeito de Deus se faça mediante instrumentos que permitam ao homem, ao ouvir pela Palavra de Deus, entender o que se está pregando, para que possa receber a fé, que é dom de Deus, e, assim, se arrepender, querendo, dos seus pecados e alcançar a salvação.

Ao usar das parábolas, Jesus impediu que houvesse um bloqueio, que tornasse inacessível a Palavra de Deus ao ser humano. 

 – Mas dirá alguém que o que estamos a falar não tem fundamento bíblico, pois, no trecho já referido, Mateus informa que Jesus falava por parábolas para que não fosse compreendido, tanto que só explicava as parábolas para os discípulos.

Esta forma de entender, aliás, é muito difundida entre os espíritas kardecistas, segundo os quais, as parábolas de Jesus seriam a prova evidente de que haveria, nos ensinos de Jesus, um conhecimento exotérico, referente à exposição pública dos ensinos de Jesus e um conhecimento esotérico, reservado apenas para os discípulos de Cristo, para os “iniciados nos mistérios”.

Um entendimento desta ordem, porém, daria razão ao pensamento de que somente os “iniciados” teriam acesso a Deus, o que, evidentemente, não é o que proclama a Bíblia Sagrada, que diz que Jesus veio salvar a todos os homens indistintamente.

Mas, e a pergunta persiste, como entender, então, o trecho bíblico de Mt.13:10-15?

 – Jesus ensinou por parábolas porque o povo de Israel não poderia ter qualquer desculpa com relação à rejeição do Messias.

Ao ensinar por parábolas, Jesus ensinava usando de imagens que todos pudessem compreender.

“…Durante Seu ministério, Cristo proferiu muitas parábolas. Através deste ensino ele manifestou o princípio de Sua própria missão no mundo; tomou a nossa natureza e habitou entre nós, a fim de familiarizar-nos com Sua vida e caráter.

A divindade foi revelada na humanidade; da mesma forma que Deus revelou-se na semelhança de homem, e Seus ensinos seguia a mesma linha: do desconhecido para o conhecido, as verdades divinas eram reveladas por coisas terrenas com as quais o povo estava bem familiarizado. Cada aspecto da natureza era utilizado por Cristo para ilustrar verdades.

Os cenários da natureza criada por Ele, foram todos relacionados com uma verdade espiritual, de tal forma que a própria natureza está revestida das parábolas do Mestre.(…).

No ensino por parábolas, Jesus desejava despertar a indagação, despertar os indiferentes e impressionar-lhes o coração com verdade. Esse tipo de ensino era popular e atraía a atenção do povo.

O ouvinte sincero que desejava obter maior conhecimento e compreensão das coisas divinas, poderia compreender Suas palavras, pois o Mestre estava sempre pronto a explicá-las.…” (BRAVO, Margareth. O ensino mais eficaz. http://www.litoralvirtual.com.br/refletir/oensinomaiseficaz.html Acesso em 31 jul. 2018).

OBS: “Jesus adaptou Seus métodos de ensino à capacidade de entendimento daqueles que O seguiam. Ele não falou por meio de parábolas para confundir as pessoas, mas para desafiá-las a descobrir o significado das palavras que Ele proferia.

A maior parte dos ensinamentos de Jesus era contra a hipocrisia e as motivações erradas, características dos líderes religiosos judeus. Se Jesus tivesse falado abertamente contra eles, Seu ministério teria sido muito inábil. Aqueles que ouviam Jesus diligentemente sabiam do que estava falando.” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, com. Mc.4:33,34, p.1298).

 – Jesus não ensinou por parábolas para não ser compreendido, mas para mostrar que só não iria compreendê-l’O quem não o quisesse. Suas simples palavras podiam ser perfeitamente compreendidas por ouvintes sinceros, e torná-los sábios para a salvação.

Ao ensinar por parábolas, Jesus foi claro, Se fazia compreensível a todos, mas esta compreensão exigia, pelo uso do método das parábolas, uma disposição de aprendizado por parte dos ouvintes, uma vontade de um maior aprofundamento, tanto que somente os discípulos, depois de algumas parábolas,

demonstravam interesse em aprender as coisas de Deus e, assim, chegavam a pedir ao Senhor que lhes explicasse a parábola de forma mais minudente.

Jesus, assim, tinha o objetivo de mostrar claramente quem tinha e quem não tinha interesse em conhecer o Pai, em outras palavras, quem, realmente, amava a Deus, a ponto de não ser mais chamado servo, mas amigo do Senhor (Jo.15:15).

O próprio Senhor avisou que nada que fosse oculto deixaria de ser revelado (Lc.8:6-18), bastando tão somente que houvesse interesse por parte dos ouvintes.

OBS: “…As parábolas são histórias tiradas da vida diária para descrever e ilustrar certas verdades espirituais. Sua singularidade consiste em revelar a verdade aos espirituais e, ao mesmo tempo, ocultá-la aos incrédulos (Mt.13.11).…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. Mt.13:3, p.1414).

 – Temos, então, mais uma razão pela qual Jesus ensinava por parábolas. Ao aplicar este método de ensino, o Mestre deixava bem claro, patente aos olhos de todos, quem tinha interesse em conhecer a Deus e quem não o tinha, quem queria ser salvo bem como quem não queria.

É, por isso, que, ao final do sermão do monte, uma das Suas lições mais primorosas, Jesus equiparou aquele que ouvia e praticava as Suas palavras como o homem sábio que edificou a sua casa sobre a rocha.

Ouvir Jesus é muito mais do que ouvir um Mestre, do que assistir a uma aula, mas é tomar uma decisão a favor ou contra o reino de Deus, a favor ou contra a salvação.

Por isso, até, alguns estudiosos das Escrituras entendem que Mateus somente passou a registrar as parábolas mais importantes de Jesus a partir do capítulo 13, logo após ter anunciado a grande oposição que começava contra o ministério do Senhor, a começar de Sua própria casa.

OBS: “…Abordando esta última fase do ministério de Jesus na Galileia, podemos medir o caminho percorrido. ‘Desde o início de Sua manifestação aos Seus contemporâneos (3,13) [Mt.:13 – observação nossa], Sua presença sempre punha novamente em questão todos os que Ele encontrava.

Ele provocava reações, tomadas de posição em relação a Ele, e sentimentos que provocava pouco a pouco uma separação entre Seus ouvintes.

Imperceptivelmente no início, depois mais nitidamente, a partir das controvérsias do cap.12, aparecia uma oposição entre os chefes religiosos de Israel(escribas e fariseus), enquanto, do seio das multidões que O ouviam, e se maravilhavam, sobressaía pouco a pouco um grupo de discípulos’ (J.Radermakers, 173) [RADERMAKERS, J. Au fil de l’évangile selon saint Mathieu, p.173 – observação nossa].

Aos Seus discípulos confiou antecipadamente sua autoridade para anunciarem o Reino de Deus.

Nesta primeira etapa, Jesus tenta um derradeiro esforço junto às multidões, mas sem ilusões, porque não podem ‘compreender’ (uma das palavras-chave desse conjunto, que não encontrarmos em outro lugar em Mateus); os fariseus vão obstinar-se ainda mais; quanto aos discípulos, eles se manifestam aqui como grupo bem constituído; eles ‘compreendem’, tanto que poderão logo, pelos lábios de Pedro, confessar sua fé.…” (V.V.A.A. Leitura do evangelho segundo Mateus. Trad. de Benôni Lemos, p.65).

 – “…A passagem que Jesus cita para explicar sua súbita reversão a parábolas (Isaías 6:9-10) fala da degradação espiritual dos israelitas, do orgulho e da teimosia de coração que tornaram impossível para eles continuar a ouvir e entender as palavras de Deus.

Jesus diz simplesmente que era uma profecia que tinha sido liberalmente cumprida em seus próprios ouvintes.

Toda a sabedoria que eles ouviram de sua boca e todas as maravilhas que viram de sua mão nada tinha significado porque ‘o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos, e fecharam os olhos;’ (Mateus 13:15).

As parábolas eram um abanador nas mãos do Filho de Deus, que limparia sua eira da palha enquanto purificava o trigo.

Elas eram uma penetrante espada de dois gumes para determinar se o coração de Seus ouvintes era orgulhoso ou humilde, teimoso ou contrito (Hebreus 4:12).

Esse é o significado de seu ‘Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado’ (Mateus 13:12).

Aqueles que possuíam humildade mental estavam destinados a ter um entendimento rico e verdadeiro do reino do céu, mas aqueles que não tinham nada, ou pouco desse espírito, estavam destinados a perder até o pouco entendimento que tinham.

O evangelho do reino está assim moldado para atrair e informar os humildes, enquanto afasta e confunde os orgulhosos.

Ouvir a palavra de Deus é uma experiência dinâmica. Seremos ou melhores ou piores por ela.

O mesmo sol que derrete a cera endurece a argila. Mas isso é a escolha que o estudante, não o mestre, faz.

As parábolas não tornarão orgulhoso um coração humilde, mas podem tornar humilde um coração orgulhoso, se estivermos dispostos a permiti-lo. Isso, certamente, é o desejo maior do Salvador dos homens.…” (EARNHART, Paul. Por que parábolas. http://www.estudosdabiblia.net/1999227.htm Acesso em 25 fev. 2005). OBS: “…O valor de tal método de ensino é duplo.

Primeiramente, torna muito mais fácil a assimilação da verdade, pois ‘a verdade contida numa história entra até em portas humildes’, e, em segundo lugar, a verdade assim aprendida fixa-se com mais facilidade na mente e na memória, pois, ao tirar as suas próprias deduções pelas ilustrações, o aprendiz em realidade está ensinando a si mesmo.…” (TASKER, R.V.G. Parábola. In: DOUGLAS, J.D.(org.). O Novo Dicionário da Bíblia, v.2, p.1200).

 – Ellen White, a principal sistematizadora da doutrina sabatista, entendeu que o uso de parábolas por Jesus estaria, também, relacionado com uma estratégia de sabedoria e de prudência do Senhor para que, diante da oposição crescente ao Seu ministério, não tivessem Seus adversários do que acusar o Senhor antes de ser chegada a Sua hora.

Como explica Margareth Bravo (op.cit.), ao citar White, “…Entre as multidões que O rodeavam, havia sacerdotes e rabinos, escribas e anciãos, herodianos e maiorais, amantes do mundo, beatos ambiciosos que desejavam, antes de tudo, achar alguma acusação contra Ele.

Espias seguiam-lhes os passos, dia a dia, para apanhá-lo nalguma palavra que Lhe causasse a condenação e fizesse silenciar para sempre Aquele que parecia atrair a Si o mundo todo.

O Salvador compreendia o caráter desses homens e apresentava a verdade de maneira tal, que nada podiam achar que lhes desse ensejo de levar Seu caso perante o Sinédrio.

Em parábolas, Ele censurava a hipocrisia e o procedimento ímpio daqueles que ocupavam altas posições, e, em linguagem figurada, vestia a verdade de tão penetrante caráter que, se as mesmas fossem apresentadas como acusações diretas, não dariam ouvidos às Suas palavras e teriam dado fim rápido ao Seu ministério.

Mas enquanto repelia os espias, expunha a Palavra tão claramente pelas obras da criação de Deus. Pela natureza e pelas experiências da vida, foram os homens ensinados a respeito de Deus…”. (Ellen G. White – Parábolas de Jesus, 22).

Este é um pensamento provável, já que Jesus tinha, mesmo, de tomar todas as providências para que a Sua obra Se completasse, repudiando, assim, toda e qualquer cilada ou armadilha do adversário.…”

– No entanto, neste contexto, preferimos entender, como Russell Norman Champlin, que Jesus usou de parábolas durante todo o Seu ministério, ainda que, na última fase dele, possa ter se utilizado mais do expediente das parábolas, para que o povo de Israel não ficasse inescusável.

OBS: “…Neste terceiro grande trecho dos ensinos de Jesus, portanto, encontramos os principais ensinos acerca do reino dos céus e, dificilmente, podemos aceitar a ideia de que Jesus, de uma vez só, tenha proferido todas essas parábolas. Provavelmente apresentou uma de cada vez, quiçá com aplicações diferentes…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Parábola. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.59).

 – Ainda que se entenda que Jesus tenha, somente quando manifesta a oposição a Seu ministério, a, pelo menos, intensificar o uso de parábolas, é forçoso admitir que o Senhor, já desde antes,

demonstrara interesse em Se fazer compreendido pelos Seus ouvintes, inclusive usando de metáforas e de ilustrações parabólicas, como quando, ao chamar Seus discípulos, disse que lhes faria “pescadores de homens” ou que Seus discípulos seriam “luz do mundo” e “sal da terra”.

Como afirma Paulo Earnhart, “…Jesus certamente viveu mais cônscio do mundo no qual ele andava do que qualquer outro homem antes dele. E de tudo que o rodeava ele tirou ricas metáforas, que fizeram dele um tão irresistível ilustrador e mestre.

O Senhor começou cedo, nos seus discursos públicos, a falar com conhecimento de pescadores, agricultores, pastores e comerciantes. Ele tirou expressivas comparações do mundo dos reis e dos príncipes, dos servos e dos pobres, sacerdotes e publicanos, juízes e ladrões.

Ele encontrou lições na relva e nas flores, no vento e na rocha. Ele falou muito de vinhas e trigais, de joio, de espinhos e de cardos. Ele conhecia bem o lugar da raposa e o caminho dos lobos e das ovelhas.

E falou especialmente do lar, de sal e de lâmpadas, de cozinha e de limpeza, de festas e de casamentos, de pais e de filhos. E suas palavras eram maravilhosas, pelo modo como tornavam a vontade do céu tão real e clara.

Muito do que Jesus disse tão expressivamente não estava nas parábolas clássicas, mas em dizeres e ilustrações que eram semelhantes a elas…” (EARNHART, Paulo. Jesus tinha uma palavra para  isso. http://www.estudosdabiblia.net/2000139.htm Acesso em 25 fev. 2005).

OBS: “…Cristo era um agradável contador de histórias. Era um privilégio estar ao lado d’Ele. Ele era paciente e carismático na arte de ensinar. Cativava até Seus opositores. Expressava ensinamentos complexos com histórias simples.

Estava sempre contando uma história que pudesse atrair as pessoas e estimulá-las a pensar. Um mestre eficiente não apenas cativa a atenção dos seus alunos e não causa náuseas quando os ensina, mas os conduz a imergir no conhecimento que transmite.

Por isso, um mestre eficiente precisa ser mais do que eloquente, precisa ser um bom contador de histórias.

Como tal, Cristo estimulava o prazer de aprender, retirava os alunos da condição de espectadores passivos do conhecimentos para que se tornassem agentes ativos do processo educacional, do processo de transformação. Cristo não frequentou uma escola de pedagogia, porém possuía uma técnica excelente.

Ensinava de maneira interessante e atraente, contando histórias. Sua criatividade impressionava. Nas situações mais tensas, Ele não Se apertava, pois sempre achava um espaço para pensar e contar uma história interessante que envolvesse as pessoas que o cercavam.

Um bom contador de histórias é insubstituível e insuperável por qualquer técnica pedagógica, mesmo que use recursos da informática.…” (CURY, Augusto Jorge. Análise da inteligência de Cristo: o Mestre dos mestres. 3.ed., p.161-2).

IV – A INTERPRETAÇÃO DAS PARÁBOLAS

– Sendo de linguagem simbólica, as parábolas pertencem ao grupo de textos da Bíblia Sagrada cuja interpretação deve ser feita de forma cuidadosa e criteriosa, a fim de se evitarem distorções doutrinárias que, infelizmente, são cada vez mais comuns nos nossos dias. 

 – Querer entender as parábolas, como já temos visto, é um bom sinal, é sinal de que a pessoa está disposta a aprender as verdades espirituais, teve despertada a sua atenção para as “coisas de cima” (Cl.3:2), dá prioridade ao reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

Somente os discípulos do Senhor podem, mesmo, ter reveladas as verdades contidas nas parábolas (Mt.13:16,17). No entanto, tal compreensão deve ser dada da forma exposta na Palavra do Senhor.

 – Em primeiro lugar, devemos ter a mesma atitude que tiveram os discípulos. Ao perceberem que a linguagem usada por Jesus era simbólica, que se estava diante de uma parábola, os discípulos dúvida não tiveram de buscar a resposta com Jesus. Em Mt.13:10, é dito que os discípulos se acercaram do Senhor.

Para que compreendamos as parábolas, é necessário que nos aproximemos de Jesus. E como fazemos isto? Tendo uma vida de comunhão com Ele. Como se obtém comunhão com o Senhor? Separando-se do pecado e vivendo uma vida de oração e de meditação nas Escrituras.

– Em segundo lugar, quem Se aproxima de Jesus deve ter o desejo e estar disposto a ouvi-l’O. Antes de ser indagado pelos discípulos, Jesus determinou que quem tivesse ouvidos, ouvisse (Mt.13:9).

É preciso que tenham condições de ouvir a Jesus, de ouvir a Sua Palavra, pois são as Escrituras que testificam do Senhor (Jo.5:39). Não se poderá, pois, compreender corretamente uma parábola se não se partir das próprias Escrituras, pois quem interpreta a Bíblia é a própria Bíblia.

– Daí porque devemos verificar como Jesus interpretou algumas parábolas. Nestes casos, em que o próprio Jesus deu a interpretação para os discípulos, não há o que se discutir, nem o que inventar.

Estamos diante do que os estudiosos da ciência da interpretação (a chamada “hermenêutica”) chamam de “interpretação autêntica”, que é a interpretação feita pelo próprio autor do discurso que será interpretado. Jesus, algumas vezes, interpretou a parábola e, desta forma, nestes casos, basta-nos apenas meditar e apreender o que Jesus explicou.

 – Em terceiro lugar, quando não houver uma interpretação do próprio Jesus a respeito da parábola, deveremos agir como Jesus agiu na interpretação, ou seja, temos de seguir o mesmo método que Jesus usou na interpretação das parábolas que está registrada na Bíblia Sagrada. Devemos imitar Jesus (I Co.11:1), seguir as Suas pisadas (I Pe.2:21).

 – Quando observamos as interpretações que Jesus fez das Suas parábolas, percebemos algumas atitudes que devem sempre ser seguidas por nós na interpretação daquelas parábolas cuja interpretação não foi registrada na Bíblia, a saber:

a) Cada elemento ou personagem da parábola está associado a uma verdade espiritual. A parábola tem aplicação espiritual e esta associação é a prova disto.

Assim, por exemplo, na parábola do semeador, a semente é a Palavra de Deus; o semeado, o ouvinte; o semeador, o pregador.

OBS: “…ilusória é a tentativa de fazer que considerações éticas ou econômicas tenham importância na interpretação das parábolas, quanto tais considerações são de fato irrelevantes.

Por exemplo, a parábola do mordomo injusto (Lc.16:1-9) ensina que o futuro tem importância e que os homens devem preparar-se para o mesmo, porém, a questão da moralidade da ação levada a efeito pelo mordomo fictício não tem relação alguma com a lição principal da história…” (TASKER, R.V.G. op.cit., p.1201).

b) A parábola tem sempre uma lição central, uma verdade a ser transmitida, que é espiritual.

O importante da parábola, pois, é este sentido espiritual e não algum pormenor ou detalhe insignificante.

Assim, a semente que está à beira do caminho é o ouvinte que tem arrebatada a Palavra pelo maligno. Não é caso de ficarmos discutindo de que natureza é este caminho, os motivos pelos quais o semeador, ao semear, foi tão negligente ou qualquer outro ponto que não é o cerne do ensino.

“…Não devemos, portanto, exagerar em pontos secundários das parábolas, pois estamos sujeitos a obscurecer o principal.…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.5, p.96).

As parábolas são um meio de expressão simbólica, não exigem nem podem ser consideradas como precisas e exatas imagens, pois se a exatidão e precisão fossem possíveis, Jesus não iria usar deste expediente para nos transmitir as verdades eternas.

OBS: “…Os pregadores cristãos de todos os séculos têm se esforçado, com propósitos homiléticos, por encontrar mais verdades dentro das parábolas de Jesus do que realmente era a Sua intenção.

Pequenos detalhes têm sido alegorizados para que ensinem verdades que, de forma alguma, são óbvias nas próprias histórias e irrelevantes para o contexto no qual se encontram.…” (TASKER, R.V.G. op.cit., p.1201).

c) “…Tanto a superelaboração como a supersimplificação devem ser evitadas na interpretação das parábolas, pois em poucas esferas da exegese do Evangelho é mais fácil para alguém ser tendencioso.…” (TASKER, R.V.G. op.cit., p.1201).

Não se pode, portanto, considerar que uma parábola dispense toda e qualquer doutrina que a Bíblia traga a respeito, como, por exemplo, considerar que a parábola do filho pródigo dispense a doutrina da expiação, sendo ‘o evangelho dos evangelhos’, como também considerar que as parábolas não são parte importante do ensino de Jesus, sendo meras ilustrações que só tiveram validade nos dias do Senhor.

OBS: “…Ao interpretarmos as parábolas de Jesus, devemos evitar os extremos: supercomplicação e supersimplificação. Em todas elas há uma lição central e é o que devemos valorizar mais.…” (SILVA, Osmar José da.  Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.5, p.97).

d) No estudo das parábolas, é indispensável que tenhamos conhecimento do ambiente cultural dos dias de Jesus, para que bem compreendamos o que Jesus quis transmitir aos Seus ouvintes daquela época, a fim de que façamos a devida contextualização, ou seja,

que tragamos a parábola para os nossos dias, pois, embora as verdades transmitidas sejam eternas, é fundamental que, assim como Jesus fez, tenhamos condições de, também, usarmos elementos do cotidiano, do dia-a-dia dos nossos ouvintes (ou de nós mesmos), para que bem apliquemos os ensinamentos do Senhor em nossas vidas.

Afinal de contas, o objetivo de Jesus não se dirigia apenas aos Seus contemporâneos, mas a todos quantos aceitam o Seu nome (Jo.17:20).

OBS: “…Ainda que apareçam recompiladas, as parábolas tem que ser situadas na vida de Jesus. Em realidade, não inculcam máximas ou princípios gerais. Não são histórias amenas que terminam com uma moral.

Não, cada parábola é pronunciada em uma situação concreta, que é preciso reinterpretar. Serve de justificação, de defesa, de ataque, de desafio. É, com frequência, uma arma de combate.

O problema é descobrir que quis dizer Jesus  naquele momento e, também, o que nos quer dizer hoje.…” (O segredo das parábolas de Jesus. http://www.google.com/search?q=cache:FnLFG4I-Tf0J:www.geocities.com/rociocatte/parab.htm+par%C3%A1bolas,+Jesus&hl=pt-BR Acesso em 25 fev. 2005).(tradução nossa de texto em espanhol).

e) As parábolas são ilustrações de verdades bíblicas, portanto não podem ser consideradas como elementos capazes de produzir doutrina.

“…Na interpretação das parábolas, o problema é saber quais os detalhes que têm significação e quais os incidentes sem sentido real na história apresentada.

Ordinariamente, a parábola tem por escopo mostrar um fato importante, dela não devem ser tiradas, à força, lições de cada pormenor, pois algumas partes são apenas complementos da história apresentada.

Nunca devemos nos esquecer: as parábolas não são para produzir doutrinas: seu objetivo é ilustrar as verdades que Jesus quis ensinar.…” (GRANGEIRO SOBRINHO, Antonio. Hermenêutica bíblica, p.60).  

 Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2878-licao-1-parabola-uma-licao-para-a-vida-i

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