Sem categoria

LIÇÃO Nº 5 – AMANDO E RESGATANDO A PESSOA DESGARRADA

(AS PARÁBOLAS DA OVELHA E DA DRACMA PERDIDAS – Lc. 15:1-10)   

Buscar os que se perdem é postura de quem tem o mesmo sentimento de Deus.

 INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo das parábolas de Jesus, estudaremos as parábolas da ovelha e da dracma perdidas.

 – Buscar os que se perdem é postura de quem tem o mesmo sentimento de Deus.

I – AS CIRCUNSTÂNCIAS DAS PARÁBOLAS E AS PARÁBOLAS PROPRIAMENTE DITAS

 – Na sequência do estudo das parábolas, estudaremos duas parábolas que o evangelista Lucas expõe num determinado contexto, qual seja, ao da crítica que Jesus estava a sofrer de fariseus e escribas quanto ao relacionamento social que o Senhor Jesus tinha para com os “pecadores”.

 – Como já temos observado neste trimestre, Lucas, que é o evangelista que mais parábolas de Jesus registra, tem, nesta sua exposição dos ensinos de Cristo, demonstrar que o Senhor é a sabedoria (Lc.11:49), algo importantíssimo para o público para quem dirige seu evangelho, que é o público grego, onde a sabedoria ocupa lugar de primazia (I Co.1:22).

 – Assim, na maior parte das vezes, as parábolas se apresentam como respostas a situações aos quais não só os costumes e doutrinas judaicos confrontam a Cristo, mas circunstâncias que, mesmo ante a cultura grecoromana, mostrariam ser o Senhor Jesus um homem diferente dos demais, alguém que poderia ser considerado, efetivamente, como o Salvador da humanidade.

 – A murmuração dos escribas e fariseus continha algo relevante para um público como o que se destinava o evangelho do médico amado.

Os judeus eram conhecidos de todos pelo seu sectarismo, pela sua zelosa e obstinada tentativa de evitar, a todo custo, a assimilação frente as demais nações.

Afinal de contas, Israel era a “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos” (Ex.19:5) e esta resistência de assimilação cultural acabaria por levar o próprio Império Romano, sempre tão tolerante com os povos conquistados, a ter um comportamento extremamente duro com os israelitas, a ponto de, primeiramente, no ano 70, destruir Jerusalém e o templo e, depois, expulsar definitivamente os judeus de Canaã, no ano 135.

 – Jesus, então, é apresentado como sendo alguém que não tinha esta linha sectarista tão característica dos israelitas, o que é fundamental para que se possa vê-l’O como o Salvador da humanidade,

como alguém que viera precisamente para promover a reconciliação entre Deus e os homens, algo que, à primeira vista, para um gentio soaria assaz estranho, dada a prevalência de uma conduta diametralmente oposta por parte dos “filhos de Abraão”.

 – Vemos, pois, que ambas as parábolas e, também, a parábola do filho pródigo, que se insere neste mesmo contexto, tem, por finalidade, explicar porque Jesus recebia os pecadores e como esta Sua conduta, e

não o sectarismo próprio dos escribas e fariseus, é o comportamento exigido de quem quer se considerar sábio, de quem quer ter amizade com o Senhor Jesus e, por conseguinte, com Deus.

 – Esta confusão entre santidade e sectarismo é um dos pilares da religiosidade farisaica e que se constitui em uma característica que sempre se observa nos “religiosos” e que faz com que eles se oponham a Jesus, cuja proposta é precisamente a da reconciliação entre Deus e o homem, e não da separação.

 – Jesus era acusado de “receber pecadores” e Ele não irá negar que o faz, mas, nas parábolas que estaremos a estudar, mostra como é esta a conduta que se espera de um discípulo Seu, pois é este o sentimento que existe no céu, pois há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende (Lc.15:10).

 – É oportuno também observar que a acusação que fazem a Cristo é a de que Ele “recebia pecadores e comia com eles”, não que pecasse.

São coisas extremamente distintas e que também, notadamente nos dias de apostasia espiritual em que vivemos, têm sido conveniente e cinicamente confundidas por muitos que querem justificar sua vida pecaminosa e tão hipócrita quanto a dos “religiosos murmuradores” que motivaram a proposição das parábolas.

 – Jesus, efetivamente, recebia e comia com os pecadores, mas isto não só não comprometia a Sua santidade, como se tratava de uma atitude que era aprovada pelos céus e as parábolas propostas tinham, por objetivo, demonstrar e ensinar tal aprovação.

 

– Os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen situam a proposição das parábolas em fevereiro de 28 d.C., pouco antes da ressurreição de Lázaro, ou seja, pouco menos de dois meses antes do término de Seu ministério público.

II – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA

(I): O PASTOR DAS OVELHAS

 – A primeira parábola proposta é a chamada “parábola da ovelha perdida” e tem como primeira personagem o “pastor de ovelhas”, que é apresentado como um “homem mediano”, tanto que o Senhor Jesus começa a parábola dizendo “que homem dentre vós”, a mostrar que este “pastor de ovelhas” é tido como uma pessoa normal, comum, o “homem médio”.

 – Este homem tem cem ovelhas, o que se constitui num rebanho considerável, numeroso, mas que, ao perder uma delas, deixa as noventa e nove no deserto e vai após a perdida até que a ache.

Tratava-se de uma atitude mais do que recomendável para qualquer pastor de ovelhas, que sempre era reconhecido por todos como alguém zeloso, cuidadoso, que não tolera o risco de vida para com as ovelhas de seu rebanho.

 – Este homem era, portanto, alguém responsável, que bem sabia o que era cuidar de ovelhas.

O cuidado com as ovelhas é fundamental na atividade do pastor das ovelhas. Ele existe para garantir que as ovelhas sobrevivam, que tenham condições para ter acesso à alimentação bem como sejam protegidas das feras do campo, devendo ser devidamente guiadas pelo pastor tanto ao local da pastagem, ao local das águas mas, também, para ficar em segurança seja durante o dia, seja durante a noite.

– Deve-se observar que, ao contrário da realidade que temos em nosso país, os locais de pastagem em Israel são poucos, pois há enormes regiões que são desérticas e insuscetíveis para a atividade pastoril, de modo que tais locais, e

inclusive os lugares onde devam as ovelhas ficar guardadas durante a noite, são compartilhados por diversos pastores, sem que cada pastor permita a confusão de seu rebanho com os dos outros colegas de profissão, tanto que o Senhor Jesus, ao Se comparar a um pastor, fez questão de lembrar esta circunstância, segundo a qual, cada ovelha conhece a voz de seu pastor e só a ele segue, mesmo havendo diversos rebanhos num local de pastagem, de águas ou de guarda dos animais.

 – Esta circunstância cultural explica, inclusive, porque havia diversos pastores quando os coros angelicais anunciaram o nascimento de Jesus em Belém (Lc.2:8).

Havia vários rebanhos juntos no lugar de guarda, no período noturno, como ocorria também com os rebanhos que, durante o dia, pastavam no mesmo local, sem que houvesse confusão entre os grupos existentes.

– Este cuidado dos pastores quanto às suas ovelhas era fato demasiadamente conhecido de todos os judeus, tanto que é dito a respeito de Davi que, quando foi levar suprimentos a seus irmãos e ao comandante deles que estavam em campanha militar,

teve o cuidado de deixar as ovelhas de seu pai aos cuidados de um guarda (I Sm.17:20), sendo certo que nunca mais voltou a pastorear as ovelhas de Jessé, deixando claro que é dever de todo pastor deixar sempre suas ovelhas protegidas.

– É isto, aliás, que faz o pastor das ovelhas da parábola. Ao perceber que faltava uma das ovelhas de seu rebanho, deixa as noventa e nove no deserto, isto é, devidamente protegidas, sob os cuidados de alguém, no lugar de guarda, onde estão também outras ovelhas de outros rebanhos, e começa a sua peregrinação em busca da ovelha perdida.

 – O pastor é diligente, porque, mesmo tendo cem ovelhas, não deixou despercebida a falta de uma e, como já dissemos, num ambiente em que havia ovelhas de outros rebanhos, não sendo demasiado pensar que o número de animais poderia superar o milhar.

 – O pastor conhece as suas ovelhas, é alguém que não se deixa levar pela quantidade, pela imensidão numérica. Uma das características do pastor é, precisamente, o de ter amplo conhecimento da ovelha e viceversa, pois, como já dito, a ovelha também conhece o seu pastor (Jo.10:14,27).

 – Ao escolher a personagem do pastor de ovelhas para tratar da questão do recebimento e participação de refeição com os pecadores, o Senhor mostra que devemos agir, em relação aos pecadores, como pastores de ovelhas, é este o paradigma a ser seguido.

 

– Não é à toa que é este o modelo a ser tomado, pois o próprio Davi havia dito que o Senhor era o seu pastor (Sl.23:1).

Além de Deus ser tomado como um pastor, também não era desconhecido de todos que o primeiro justo mencionado no texto sagrado, Abel, também era um pastor de ovelhas (Gn.4:2), sendo esta, também a atividade desempenhada por todos os patriarcas da nação israelita, o próprio tronco originário do povo escolhido de Deus, dos “filhos de Abraão” (Gn.46:34).

 – Ora, os escribas e fariseus murmuravam contra a atitude de Jesus receber e comer com pecadores precisamente para enfatizar o caráter “santo” do povo de Israel, a necessidade de Israel se comportar como “povo santo”, mas é, precisamente, este “povo santo” formado por Deus forjado a partir de “pastores de ovelhas”, os homens justos são, a princípio, “pastores de ovelhas”, a demonstrar que é nesta atividade que se encontrarão os caracteres que agradam a Deus e não dos preceitos e fardos construídos pelos “religiosos”.

 – O “pastor de ovelhas”, portanto, não só simboliza o Senhor, que é o pastor de Israel, como também todos os “justos”, todos aqueles que estão de acordo com o plano divino, já que Israel foi formado a partir de pastores, uma vez que o primeiro justo foi um pastor de ovelhas.

 – Portanto, assim como Deus, o justo deve ser um “pastor de ovelhas” e, como tal, ser uma pessoa dedicada ao bem-estar da ovelha, alguém responsável e que deve conhecer as ovelhas do rebanho, deve providenciar o seu alimento, o seu acesso às águas bem como cuidar para a sua proteção, não se conformando, de modo algum, com a sua perda ou o seu desvio, a ponto de ter de deixar as noventa e nove ovelhas sob os cuidados de alguém e ir em busca da ovelha que se perdeu.

 III – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA

(II): A OVELHA PERDIDA

 – A segunda personagem da parábola é a ovelha perdida. Temos aqui algo que não é muito comum nas parábolas, ou seja, a presença de uma personagem que não é uma pessoa, mas um animal.

Entretanto, tal circunstância, de modo algum, desnatura esta narrativa como uma parábola, tornando-a uma fábula, que é, propriamente, a narrativa em que há a personificação de animais ou vegetais para se trazer ensinamentos, como é o caso da narrativa de Jotão que se encontra no livro de Juízes (Jz.9:7-20).

 – Isto se dá por dois motivos principais. Por primeiro, porque a ovelha nada fala, é apenas mencionada ao longo da narrativa, não sendo uma personagem ativa, mas exclusivamente passiva, o que descaracteriza a narrativa como uma fábula.

 – Por segundo, porque a consideração dos servos de Deus e, mais amiúde, dos israelitas como ovelhas era algo já profundamente arraigado na cultura judaica.

Assim, não apenas Davi se apresenta como uma ovelha do Senhor no Salmo 23, como, no Salmo 100, o salmista considera Israel como “ovelhas do pasto do Senhor” (Sl.100:3), de sorte que a presença de uma ovelha na parábola é perfeitamente entendida como representação de todo israelita, de todo indivíduo pertencente à “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos”.

Tem-se, assim, um termo que está tão relacionado aos seres humanos, que não se tem uma caracterização da parábola como fábula.

 – É dito que o pastor perdeu a ovelha. É muito importante esta caracterização. Não foi a ovelha que tomou uma decisão de sair do rebanho, foi o pastor que a perdeu. Nem poderia ser diferente.

A ovelha é um animal dócil, carente de toda e qualquer iniciativa, que é extremamente dependente de seu pastor.

Assim, a perda não se deve a ela, mas, sim, ao pastor. Foi o homem que a perdeu, diz o texto, não a ovelha que se perdeu ou que tomou a decisão de se dissociar do rebanho.

 – A ovelha foi, por algum motivo ou razão não esclarecido ou explicado na parábola, perdida pelo pastor, que não deixou de ser diligente nesta perda.

Foi algo sem intenção, tanto da ovelha, quanto do pastor, tanto que o pastor, quando detectou a perda, de imediato foi em busca da ovelha perdida.

Tal atitude do pastor revela que não era seu o propósito da perda, como também que não era intenção da ovelha a saída do convívio com as suas pares.

– A ovelha, uma vez perdida, ficou sem rumo, não tinha se inserido em qualquer outro rebanho, porque estava fora do seu lugar, porque não queria ficar nesta situação. Perdida, teve de ser procurada pelo pastor, que, por fim, a achou. 

– A ovelha, enquanto esteve perdida, sofreu sobremaneira, a ponto de não poder sequer mais caminhar. Estava exausta, quem sabe até ferida, de forma que o pastor, quando a encontrou, não teve outra coisa a fazer senão pô-la em seus ombros e carregá-la até o redil.

 – A ovelha representa, assim, cada ser humano, não só os israelitas, que é “perdido” por Deus, em virtude de sua entrada no pecado, de sua natureza pecaminosa, mas que não é abandonado pelo Senhor que, assim que detecta a sua “perdição”,

 inicia a busca para “achá-lo” e, havendo o encontro, estar pronto a recolher este ser humano nos ombros e a levá-lo para o redil, onde nada faltará a esta ovelha, que será guiada mansamente a águas tranquilas e a fará deitar em verdes pastos (Sl.23:2).

 – O pastor assume a responsabilidade por ter “perdido” a ovelha e quer tão somente recolhê-la em seus ombros e leva-la até o redil, por isso, assim que detecta a sua “perdição”, já vai à sua busca, a fim de poder tomar atitudes concernentes à restauração do estado da ovelha.

 – O pastor demonstra, assim, compaixão pela ovelha, sente a sua miséria, a sua condição calamitosa e vai até onde ela se encontra para levá-la, novamente, para o lugar onde poderá desfrutar das benesses do cuidado do pastor.

 – Era bem o contrário do que estavam a fazer os escribas e fariseus que, apesar de contemplarem os pecadores, não iam ao seu encontro, não queriam que eles se arrependessem e mudassem de vida, mas evitavam todo e qualquer contato com eles, negando-lhes, inclusive, o próprio pão, já que jamais aceitariam comer com eles. Era um gesto totalmente contrário ao apontado, na parábola, para o homem, para o pastor de ovelhas.

 – O pastor demonstrou todo o seu amor e dedicação pelas suas ovelhas e não mediu esforços para resgatar a ovelha, ovelha que não tinha qualquer condição de, por si só, voltar ao redil, pois estava desorientada, sem saber como retornar ao convívio das demais ovelhas, como também sem condições sequer de caminhar, tanto que foi levada aos ombros pelo pastor.

 IV – DA INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA

(III): A FESTA DO PASTOR APÓS O ENCONTRO DA OVELHA

– O pastor, ao encontrar a ovelha perdida, toma-a nos ombros e a recebe gostoso, ou seja, tinha nítido prazer em encontrar a ovelha, havia saído em busca dela com este objetivo. O pastor queria encontrar a ovelha e quando o faz, fica satisfeito, atinge o propósito de sua ação.

 – O objetivo do pastor é encontrar a ovelha e levá-la ao redil. Foi para isso que foi ao seu encontro.

O objetivo de Jesus foi buscar e salvar o que se havia perdido (Lc.19:10). Como pode alguém que se diz salvo e, portanto, participante da natureza divina (II Pe.1:4), que forma u’a unidade com o Senhor (Jo.17:21-23), não ter este mesmo sentimento? Podem dois andar juntos se não estiverem de acordo (Am.3:3)?

– Até mesmo entre os fariseus, havia aqueles que se dedicavam a buscar pessoas para inseri-los em seu grupo religioso (cf. Mt.23:15), ainda que, neste seu intento não tivessem o condão de leva-los à salvação, mas, como admitir a murmuração dos escribas e fariseus na busca pelos pecadores e na tentativa de levá-los ao arrependimento?

 – Infelizmente, é este o comportamento que vemos em muitos que cristãos se dizem ser nos dias hodiernos.

A exemplo destes murmuradores que levaram Jesus a propor esta parábola, também criticam os que vão ao encontro dos pecadores, preferem manter-se indiferentes aos que necessitam de salvação e estão sob o signo da perdição.

Não evangelizam, não demonstram qualquer compaixão pelas almas perdidas e ainda condenam aqueles que têm o mesmo sentimento compassivo e amoroso de Nosso Senhor e Salvador.

 – O pastor, ao chegar a casa, convocou os amigos e os vizinhos e quis com eles compartilhar a sua alegria porque ele achara a sua ovelha que se tinha perdido (Lc.15:5).

E o Senhor Jesus não titubeou em dar Ele próprio a interpretação desta parte final da parábola ao dizer que, de igual maneira, há alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Lc.15:6).

 – A festa convocada pelo pastor representa, como diz o Senhor, a alegria no céu por um pecador que se arrepende. Se há algo que motiva alegria no céu é o arrependimento de um pecador, ou seja, a salvação de um ser humano.

Se entendêssemos isto em toda a sua profundidade, jamais permitiríamos que terminasse um dia sem que se ganhasse uma alma para Cristo.

 – Quando o Senhor Se agradou de Noé por causa do sacrifício que o patriarca fez em gratidão por ter sido poupado, com sua família, do dilúvio,  Deus tomou a deliberação de nunca mais destruir a Terra com água, sem que houvesse qualquer pedido de Noé neste sentido, que bênçãos a humanidade não aufere quando todo o céu se alegra por causa de uma alma que se arrepende? Pensemos nisto!

 – O que alegra o céu é o que deve nos alegrar, pois, se somos salvos, temos de ter o mesmo sentimento de lá, pois, afinal de contas, é para lá que almejamos ir. Se não temos o mesmo sentimento dos céus, é, no mínimo, altamente duvidoso que estejamos nos dirigindo para lá. Pensemos nisto também!

 V – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA 

 – Mas o Senhor Jesus não Se contentou em propor apenas uma parábola para responder à murmuração dos escribas e fariseus.

Também propôs uma outra parábola, que é conhecida como a parábola da dracma perdida, que contém o mesmo ensinamento da primeira, mas que, unida a anterior, mostra a universalidade do amor de Deus e da própria salvação da humanidade.

 – Agora, a personagem não é mais um homem, que é pastor de ovelhas, mas, sim, uma mulher e, como tal, uma pessoa do lar, alguém que tinha a incumbência de cuidar de sua habitação.

 – Trata-se, também, de uma personagem demasiadamente conhecida de todos os ouvintes, uma típica figura feminina da sociedade judaica daquele tempo, uma mulher que cuidava de sua casa e que, como tal, tinha uma certa quantia em dinheiro para o suprimento de seu lar, até porque a mulher sábia é aquela em que o coração do marido está confiado e a quem não faltará nenhuma fazenda (Pv.31:11).

– Como uma mulher que se encontra perfeitamente dentro dos parâmetros sociais de Israel, é uma mulher diligente, cuidadosa, que, sendo assim, sabe muito bem guardar o dinheiro que lhe foi dado pelo marido, que nela confiou. É uma pessoa digna de confiança.

 

– Dentro desta diligência e zelo que a caracterizam, sabe muito bem o quanto de dinheiro que possui e, ao conferir, verifica que, em vez das dez dracmas que lhe foram confiadas, há apenas nove, uma se perdeu. Da mesma maneira que na parábola anterior, temos uma pessoa dedicada, zelosa, diligente mas que não impediu a perda de uma das dez dracmas.

 – Agora, pois, quem representa a figura divina bem como do servo de Deus que for justo é a mulher, uma figura feminina que, complementando a figura masculina correspondente da parábola anterior, ensinanos duas coisas importantes.

Primeiro, que Deus não é nem homem, nem mulher, mas um ser espiritual, tanto que pode ser simbolizado tanto por um quanto por outra na parábola.

 – Segundo, que a diligência e a exigência de se ter o mesmo sentimento que se tem da parte de Deus em relação ao próximo é algo que deve habitar tanto entre homens, quanto entre mulheres, pois “…nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28), em mais uma demonstração explícita de que as Escrituras não são sexistas, como muitos mal-intencionados e mal-informados costumam dizer por aí.

 – Esta mulher, ao perceber a falta de uma dracma, imediatamente foi à busca da dracma, para encontrá-la. Acendeu uma candeia, varreu a casa e buscou com diligência até encontrar a moeda.

 – Por primeiro, vê-se que a mulher tinha convicção de que a dracma se encontrava em casa, porque sempre cuidara com zelo da fazenda do seu lar.

 Assim, não havia como não se encontrar a moeda dentro de seu lar. Ela possuía pleno controle de sua casa, apesar da perda da dracma.

 – Estejamos certos de que o Senhor Deus tem o pleno controle de todas as coisas, apesar da perdição da esmagadora maioria da humanidade e Seu intento é que todos venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).

O desejo de Deus é a salvação dos perdidos e, por isso, vale a pena nos esforçarmos para levar a mensagem do Evangelho a toda criatura (Mc.16:15).

 – Por segundo, vê-se que a mulher acendeu a candeia. Não quer isto dizer que era noite, pois, como têm revelado as escavações feitas em Israel, as casas, comumente, eram carentes de janelas e, por isso, era natural que o interior das casas fosse escuro. Entretanto, a escuridão não foi obstáculo para que a mulher procurasse a dracma.

 – O mundo está em trevas (II Co.4:6; 6:14; Ef.5:11), mas a escuridão do mundo que está no maligno não impede que se acenda a luz do Evangelho de Cristo (II Co.4:4) e que, com tal iluminação, possam ser encontradas as “dracmas perdidas” que, como nós, também saiam das trevas e venham para a luz (Cl.1:13; I Ts.5:4,5; I Jo.1:6).

 – Por terceiro, tem-se que a mulher varreu a casa. Havia necessidade de se fazer limpeza, de se retirar a “sujeira” da casa para que se pudesse encontrar a moeda. Neste gesto da mulher, tem-se, uma vez mais, a demonstração de que não fora o desleixo da mulher que lhe fizera perder a moeda, mas que, para que a moeda pudesse ser achada, era preciso “mudar a situação”.

 – Ao dar o livre-arbítrio ao homem, Deus tornou possível a queda do ser humano, embora isto nada afete seja a soberania divina, seja o amor de Deus para com o homem.

No entanto, a salvação exige, da parte de Deus, uma “mudança de situação”. Foi o que o Senhor revelou ao primeiro casal no dia mesmo da queda:

seria necessário que a “semente da mulher” fosse ferida no calcanhar pela serpente para que a serpente tivesse esmagada sua cabeça e se restabelecesse a comunhão entre Deus e o homem (Gn.3:15).

– A moeda iria ser encontrada num ambiente que necessitava ser varrido. Assim como há, na parábola, a indicação que o mundo é um lugar tenebroso, também se tem a asserção de que o mundo é um lugar que necessita ser limpo, que precisa ser varrido.

A salvação é uma circunstância que nos separa do pecado, que nos purifica. Não há como alcançar a salvação sem que se tenha a santificação.

 – Assim como o pastor na primeira parábola, a mulher não descansa enquanto não encontra a moeda perdida. Há um esforço, uma dedicação, uma diligência incansável até que se encontre a moeda.

Deus sempre quer salvar o homem, não Se cansa em dar oportunidade a cada ser humano para que este alcance a salvação.

Só não é salvo quem não quiser sê-lo, como ficará bem claro quando virmos os ímpios serem condenados no juízo do trono branco nos momentos finais da história deste mundo.

 – Assim como ocorreu na parábola da ovelha perdida, uma vez encontrada a moeda, a mulher convoca suas amigas e vizinhas para que se alegrassem com ela pelo encontro da dracma perdida, repetindo o Senhor que há alegria diante dos anjos de Deus quando um pecador se arrepende (Lc.15:10).

VI – OS ENSINAMENTOS DA PARÁBOLA

 – Ambas as parábolas propostas pelo Senhor Jesus explicam o porquê de Jesus Se deixar acercar de publicanos e pecadores e de, inclusive, recebê-los e comer com eles, o que era fruto da censura dos fariseus e escribas, censura esta que foi respondida com estas duas parábolas, como também a do filho pródigo.

 – Jesus mostra que a Sua postura é a postura querida por Deus. Aliás, Jesus, sendo Deus, não poderia ter outro comportamento senão o de ir em busca dos pecadores, de procurar obter deles o arrependimento, a fim de que alcançassem a salvação. É esta a Sua missão, missão esta que é continuada pela Igreja, que é o Seu corpo.

 – Não podemos ter outra conduta senão a de ir em busca dos pecadores e, de forma incansável e diligente, trazê-los para o “redil do Senhor”, ou, como fez a mulher, retirar a moeda das trevas e da impureza. 

 – Ambas as parábolas mostram claramente que os seres humanos estão em estado de perdição e precisam ser resgatados, retirados do mundo onde se encontram e que Deus, o único que pode fazê-lo, está disposto, sim, a ir em busca dos pecadores.

 – A salvação é um processo que tem início em Deus, depende da vontade divina, que é a de salvar todos os homens (I Tm.2:4).

Tanto a ovelha como a dracma perdidas foram encontradas, não tinham condição de, por si só, retornarem ao estado anterior. Simbolizam elas o homem que não pode ser salvo com suas próprias forças, mas depende da graça de Deus, do favor imerecido.

 – Jesus exige, pois, que nós, também, como integrantes do Seu corpo e continuadores da Sua obra, tenham esta mesma proatividade, que tenhamos uma conduta que não seja “repelente” aos pecadores, que sejamos, como Ele, pessoas que permitam a aproximação dos pecadores, para que eles tenham condições de se arrepender.

 – Não podemos ser indiferentes àqueles que estão perdidos, precisamos ter uma conduta que os faça aproximar de nós e, assim, possam ouvir a mensagem do Evangelho e descubram que há um Deus que está indo ao encontro deles para lhes tirar das trevas e da impureza em que se encontram, um Deus que não mede esforços para resgatar estas vidas, a fim de levá-las para a luz e para a santidade.

– Há alegria nos céus quando um pecador se arrepende e devemos, por isso mesmo, nos esforçarmos para que os céus sempre se alegrem com a nossa atitude de compaixão para com os perdidos, pelo nosso amor genuíno ao próximo, que faça com que as pessoas se aproximem de Cristo e obtenham a salvação, permitindo que Ele os conduza para o Seu redil.

 – Ambas as parábolas mostram a profundidade e a extrema necessidade de sermos ganhadores de almas e de termos a humildade necessária para nos dispormos a ter uma vida dedicada a levar as pessoas ao arrependimento.

 – O Senhor Jesus quer que sejamos como os “amigos e vizinhos”, seja do pastor de ovelhas, seja da mulher, que, convocados por eles, igualmente se alegraram pelo encontro da ovelha ou da moeda.

– Qual tem sido a nossa reação diante do resgate de uma alma? Temos murmurado como os escribas e fariseus que motivaram a proposição destas duas parábolas? Temos reagido como o filho mais velho da parábola do filho pródigo? Pensemos nisto e que Deus nos guarde de sermos meros religiosos quando o Senhor nos convoca a amarmos os perdidos como Ele amou.

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3013-licao-5-amando-e-resgatando-a-pessoa-desgarrada-i

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Iesus Kyrios

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading