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LIÇÃO Nº 9 – A ARCA DA ALIANÇA

A arca da aliança, a mais importante das peças do tabernáculo, é tipo de Cristo Jesus.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do tabernáculo, analisaremos a sua mais importante peça, a arca da aliança ou arca do concerto. 

– A arca da aliança, ou arca do concerto, é tipo de Cristo Jesus.  

I – A ARCA DA ALIANÇA OU ARCA DO CONCERTO E O PROPICIATÓRIO OU LUGAR DA MISERICÓRDIA  

– Na sequência sobre o estudo do tabernáculo, hoje nos debruçaremos sobre a arca da aliança, também chamada de arca do concerto, que é, sem dúvida, a mais importante peça do tabernáculo. 

– A importância da arca fica evidenciada porque, assim que Deus manda Moisés coletar os materiais junto ao povo para a construção do tabernáculo,

dizendo que ele teria de ser construído segundo o modelo que lhe seria mostrado, passa a ordenar que se construa a arca, ou seja, é a primeira peça que Deus revela a Moisés e que manda seja construída (Ex.25:10). 

– É o que próprio Deus quem denomina a peça de “arca”, a palavra hebraica “’ārôn” (ָארון), “substantivo comum que significa uma caixa, um cofre ou uma arca…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 727, p.1538).

Era, realmente, uma caixa, onde se guardariam tesouros preciosos, como um cofre, tesouros estes que o Senhor chama de “testemunho” (Ex.25:16), que é a palavra hebraica “’ēdhûth” (עָדה), “…substantivo feminino que significa testemunho, preceito, sinal de advertência.

Sempre usado em conexão com o testemunho de Deus e muitas vezes associado ao Tabernáculo (Ex.38:21; Nm.1:50,53).…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 5715, p.1829). 

– E aqui vemos um segundo motivo para a arca ser a peça mais importante do tabernáculo: ela conteria o “testemunho”, ou seja, as próprias “palavras” de Deus para o povo, seria o “testemunho de Deus” diante de Israel.

– A arca era de madeira de cetim, com comprimento de dois côvados e meio, largura de um côvado e meio, que também era a sua altura, o que corresponde, segundo a Nova Almeida Atualidade (NAA) a 1,10 m de comprimento, 66cm de largura e de altura. 

– A arca deveria ser revestida de ouro por dentro e por fora e teria uma coroa de ouro ao redor e nela deveria ser fundidas quatro argolas de ouro, a serem postas em seus quatro cantos, duas argolas de um lado e duas do outro,

tendo também duas varas de madeira igualmente revestidas de ouro, para que, quando houvesse a sua locomoção, fosse a arca carregada nos ombros dos incumbidos de tal tarefa, sem que fosse tocada.

As varas, aliás, deveriam ficar permanentemente nas argolas, o que não ocorria com nenhuma outra peça do tabernáculo, numa clara demonstração que jamais poderia ser ela tocada (Ex.25:11-15). 

– A arca, por ser de madeira e revestida de ouro, fala-nos, uma vez mais, da dupla natureza de Jesus Cristo, o Deus que Se fez homem (Jo.1:1-3,14), o mesmo sendo figurado pelas varas que permitiam a locomoção da arca.

Jesus, enquanto andou entre nós, neste mundo, era o Deus feito homem, jamais deixou de ser Deus, mas havia Se humanizado.

As quatro argolas de ouro demonstram a Sua divindade, mas uma divindade que ficou “inativa” enquanto esteve Ele entre nós, pois como homem deveria vencer o mundo e o pecado. 

– Mas a arca tinha uma tampa, que o Senhor denominou de “propiciatório”, a palavra hebraica “kapōreth” (ַכפֶרת), “substantivo que significa tampa, propiciação. Esta palavra se refere à tampa que cobria a Arca do Testemunho.

Ela era feita de ouro de decorada com dois querubins. Deus repousava acima deste propiciatório (Ex.25:17-22)…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 3727, p.1712). 

– A palavra “propiciação”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa “ação ou ritual com que se procura agradar uma divindade, uma força sobrenatural ou da natureza etc.,

para conseguir seu perdão, seu favor ou sua boa vontade; sacrifício ou oferenda que se faz para aplacar a ira dos deuses”.   

– Esta tampa, portanto, era o lugar onde o Senhor aplacaria a Sua ira em virtude dos pecados do povo, não sendo, pois, coincidência que se tratasse de uma palavra específica para a denominação deste local singular não só no tabernáculo mas em todo o mundo. 

– Esta singularidade fala-nos de que somente Cristo Jesus é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos mas pelos de todo o mundo (I Jo.2:2).

Foi Jesus quem pagou o preço pelos nossos pecados, satisfazendo a justiça divina.

Por isso, na cruz do Calvário, disse “Está consumado” (Jo.19:30), expressão que, no original grego, significa “está quitado”, “está pago”, afirmando, assim, que a dívida existente entre a humanidade e Deus por causa do pecado havia sido satisfeita. 

– Enquanto, porém, o Senhor Jesus não oferecia o Seu sacrifício perfeito, que, em uma única vez, tiraria o pecado do mundo (Hb.9:28; 10:10,12), necessário se fazia que, periodicamente,

mais precisamente uma vez ao ano, a ira de Deus fosse aplacada, e isto se dava mediante a “cobertura” de sangue nesta tampa, o propiciatório, quando o pecado da humanidade era expiado, ou seja, coberto, e adiada a punição, visto que o salário do pecado é a morte (Rm.6:23).

– Este propiciatório era de ouro puro, com comprimento de dois côvados e meio e largura de um côvado e meio, ou seja, era uma tampa perfeita para a arca, fechando-a por completo (Ex.25:17). 

– O fato de o propiciatório ser de ouro puro, ao contrário da arca que era de madeira revestida de ouro, falamos claramente que o propiciatório representava a figura divina, que exigia a reparação do pecado, cuja justiça impunha o pagamento de um preço pela redenção da humanidade.

 – Quem salva o homem é Deus. Deus revela aqui toda a Sua graça e a Sua misericórdia, tanto que o propiciatório era conhecido como sendo o “lugar da misericórdia”, nome pelo qual, aliás,

se traduz a palavra hebraica “kaporeth” em algumas versões como, por exemplo, a Versão do Rei Tiago (King James Version), que traduz o termo por “mercy seat”, ou seja, “o lugar ou assento da misericórdia”. 

– A tampa do propiciatório, além de ser, ela própria, uma “cobertura”, demonstra a própria essência da divindade, que é o amor.

Como bem ensina o apóstolo João, Deus é amor (I Jo.4:8,16) e este amor é sobremaneira ressaltado no propiciatório, onde a ira de Deus é aplacada, até que o Filho Unigênito viesse, em virtude deste amor, morrer em lugar da humanidade (Jo.3:16), o que fez por ter nos amado até o fim (Jo.13:1). 

– A tampa, além de ser de ouro puro, possuía também dois querubins de ouro, de ouro batido, nas duas extremidades do propiciatório, que formariam uma peça com a tampa.

Os querubins estenderiam as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório e as faces dos querubins ficaram uma defronte da outra, voltadas para o propiciatório (Ex.25:18-20). 

– Uma vez mais, surgem os querubins que, entretanto, ao invés de serem apenas retratados, como acontecia no véu da porta da tenda da congregação, das cortinas da primeira camada de cobertura do tabernáculo e do véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo, onde eram apenas retratados, aqui se constituíam em verdadeiras imagens esculpidas e de ouro. 

– O fato de os querubins serem de ouro, é mais uma demonstração de que o ouro está ligado à divindade e à glória divina.

Os querubins, como seria revelado posteriormente ao profeta Ezequiel, séculos mais tarde (praticamente um milênio depois), os querubins são seres celestiais que compartilham a glória de Deus (Ez.1,10). 

– O fato de serem retratados nas coberturas já mencionadas e, agora, estarem fazendo parte do propiciatório, é uma demonstração eloquente que o pecado destitui o homem da glória de Deus (Rm.3:23).

Foi o que ocorreu quando o primeiro casal foi expulso do jardim do Éden, ocasião em que o Senhor pôs querubins que impediram, a partir de então, a entrada do ser humano naquele local, que tinha sido formado pelo Senhor para ser o lugar da comunhão entre Deus e Sua principal criatura terrena (Gn.2:8,15;3:8,22-24). 

Os querubins, portanto, estavam ali para lembrar que o acesso a Deus estava interrompido por causa do pecado, que faz divisão entre Deus e a humanidade (Is.59:2) e que não se poderia compartilhar da glória divina e, ainda, carecer da graça e misericórdia de Deus para que não fôssemos tragados por causa do pecado. 

– É importante, ademais, embora já dito em outra oportunidade, que se aproveita a ocasião para se rechaçar argumento trazido por romanistas a respeito do uso de imagens.

Defende o romanismo o uso de imagens, algo, inclusive, que foi estabelecido no Segundo Concílio de Niceia, ocorrido em 787.

Um dos argumentos usados pelos romanistas é, precisamente, a existência destes querubins no tabernáculo, uma “prova” de que Deus permite e até determina o uso de imagens no culto. 

– Cabe observar, por primeiro, que estes querubins faziam parte do propiciatório, a tampa da arca, arca que NUNCA era vista pelo povo de Israel.

Ora, a arca ficava no lugar santíssimo, separado do lugar santo por um véu e que somente era frequentado pelo sumo sacerdote uma vez ao ano, o que impedia que a arca pudesse ser vista por alguém, o que, por si só, já desmonta a ideia do uso de imagens no culto, pois estas imagens nem sequer eram vistas pelas pessoas, que dirá ser veneradas ou honradas, como fazem os romanistas. 

– Mesmo na locomoção do tabernáculo, a ordem divina era de que, quando fosse o caso de partirem, Arão e seus filhos viriam e tirariam o véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo e com ele cobririam a arca da aliança (Nm.4:5), ou seja, ninguém teria sequer a oportunidade de ver tanto a arca quanto o propiciatório.

Em seguida, deveriam pôr a coberta de texugo, que era a quarta e mais externa das camadas da cobertura do tabernáculo e sobre ela estenderiam um pano todo azul e, assim, carregariam a arca com os varais que sempre estavam nas argolas (Nm.4:5,6) e isto seria feito pelos coatitas (Nm.4:4). Que objeto de culto é este que nem sequer é visto ou tocado? 

– Como se isto fosse pouco, lembremos o episódio que envolveu Uzá, que ousou tocar na arca, que era levada, muito provavelmente coberta, de Quiriate-Jearim,

onde fora deixada depois de sua devolução pelos filisteus, ainda nos dias de Samuel, Uzá que foi imediatamente morto por Deus por causa daquela imprudência(( II Sm.6:7; I Cr.13:10), a palavra hebraica (ַשל), “…substantivo masculino que significa pecado, erro.(…)

Este substantivo é usado apenas uma vez no Antigo Testamento, em II Samuel 6:7, entretanto, por este uso podemos perceber que o erro descrito por esta palavra é grande e grave.

O contexto é o de Uzá, a quem Deus matou porque havia tocado a arca; este erro foi o motivo de sua morte.

Este vocábulo conota um grande pecado ou erro que merece a morte.” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n.7944, p.1967).

– Mesmo quando houve a construção do templo, Salomão fez dois querubins de madeira, que cobriu de ouro, e colocou no lugar santíssimo, mas tais querubins,

também, ficavam completamente fora da visão dos sacerdotes, pois eram de dez côvados de altura, quando o lugar santíssimo tinha vinte côvados de altura, e suas asas, de cada um dos querubins, ocupavam dez côvados de comprimento,

num total de vinte côvados, indo de parede a parede do lugar santíssimo, que tinha vinte côvados e era separado por um véu do lugar santo (I Rs.6:19-28),

o que, também, retira o argumento e que estes querubins, que não faziam parte da arca, podiam ser objeto de veneração, já que nem sequer eram vistos e apenas reforçaram o aspecto da simbologia da separação entre Deus e os homens por causa do pecado. 

– Esta simbologia, aliás, é mais um argumento contra o uso de imagens.

Com o sacrifício de Cristo, o véu foi rasgado de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45),

abrindo-se um novo e vivo caminho entre Deus e os homens por Cristo (Hb.10:19-24), de sorte que o que representavam os querubins não mais existe, pois o sacrifício único de Cristo tirou os nossos pecados (Hb.9:12,26,28) e, diante disto,

não há mais qualquer obstáculo entre nós e Deus. Por que, então, haveríamos de usar querubins ou quaisquer outras imagens, se temos livre acesso a Deus por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? (I Tm.2:5). 

– O fato de os querubins estarem voltados um defronte do outro, para o propiciatório e olhando para ele, é mais um reforço no sentido de que eles estavam ali única e exclusivamente para representar a divisão entre Deus e os homens por causa do pecado.

E o sangue era posto justamente ali, no propiciatório, para onde os querubins olhavam, para mostrar que Deus ali aplacava a Sua ira, mediante o derramamento do sangue, pois, sem derramamento de sangue, não há remissão (Hb.9:22).

No Sl.9:12, Davi, em um salmo que é um canto fúnebre, mostra que “Deus inquire do derramamento de sangue”, e a palavra hebraica traduzida por “inquire” é “dārāš” (ָדָרש),

“…(propriamente) pisar ou frequentar;

(usualmente) seguir (para perseguição ou busca);

(por implicação) buscar ou perguntar;

(especificamente) adorar:—perguntar, x de alguma maneira cuidar, ter cuidado, x diligentemente, inquirir,…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 1875, p.1599). 

– A parte externa da arca fala-nos do corpo de Cristo, o Deus que Se fez homem, que Se entregou por nós.

Jesus Se deu por nós (Jo.10:18), Seu corpo foi a oblação, a oferta pelos nossos pecados (Hb.10:5-10). 

– Esta propiciação pelo sangue de Cristo faz-nos ter acesso à glória de Deus e, por isso, pelo sangue de Jesus, podemos chegar ao trono da graça, podendo, assim, ser ajudados em tempo oportuno (Hb.4:16). 

– O fato de o propiciatório ser de ouro puro e a arca ser revestida de ouro por dentro e por fora, falamos, também da própria glorificação de Cristo, após o Seu sacrifício, sendo ressuscitado dos mortos em corpo glorioso, para nunca mais morrer,

glorificação que será seguida por todos quantos crerem n’Ele e forem lavados e remidos por este mesmo sangue (At.3:15; Rm.6:4; 10:9; Gl.1:1; Rm.8:30; I Co.15:51-54; Ap.22:14).

O fato de os querubins estarem com as asas voltadas para o propiciatório e, também, com suas faces voltadas para ele, revela uma posição de submissão, de reverência, assim como os serafins que cobriam seus rostos e seus pés com asas por estarem diante de Deus na visão do profeta Isaías (Is.6:2).  

– Isto mostra a necessidade da reverência diante da glória de Deus, mesma reverência que vemos em Ap.4:8-11, ocasião em que é explicitamente dito que o Senhor é digno de receber glória, e honra, e poder, pela Sua condição de Criador de todas as coisas.

Não é por outro motivo, aliás, que Salomão manda que guardemos nosso pé quando entrarmos na casa do Senhor (Ec.5:1).

“Guardar” é a palavra hebraica “šāmar” ( ), ָשַמר “…verbo que significa vigiar, guardar, preservar, proteger, ser vigilante, zelar, guardar cuidadosamente, acautelar-se(…) as coisas sagradas devem ser cuidadas zelosamente pelos sacerdotes (II Rs.22:14)…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 8104, p.1979). 

– Embora o povo não visse os querubins nesta atitude de reverência, sabia que o Senhor era o “Senhor que Se assenta, que habita, que está entronizado entre os querubins” (II Sm.6:2; II Rs.9:15; I Cr.13:6; Sl.80:1; 99:1),

de modo que todos tinham conhecimento de que os querubins, seres celestiais de primeira grandeza, reverenciam e adoram o Senhor, de modo que também devemos fazê-lo e ai dos que agem com irreverência, como foi o caso de Uzá. 

– Nós, também, ante todas as revelações que nos dão as Escrituras, não podemos ter outro comportamento diante do Senhor senão o da reverência, o da compreensão da magnitude da Sua glória,

de sorte que nos causa muita preocupação o nível de irreverência que temos contemplado, nos últimos tempos, entre os que cristãos se dizem ser, inclusive transformando os templos em locais de entretenimento. Que Deus nos guarde! 

– Mas por que os querubins estavam em atitude de reverência? Porque, ali, no propiciatório, era o lugar em que Deus viria para falar com Moisés, a fim de dar as devidas ordens aos filhos de Israel (Ex.26:22).

– O propiciatório era o lugar em que Deus vinha falar com Moisés, era o “lugar da Palavra”, o “lugar da ordem”, o “lugar do senhorio”, o “lugar da soberania divina” e, deste modo, não poderia ser outra a atitude dos querubins senão de reverência, para fazer lembrar aos filhos de Israel que Deus era o Senhor e eles, Seus servos. 

– O “lugar da Palavra” é o lugar da reverência, o lugar da submissão, o lugar da obediência.

Por isso mesmo, na continuidade da sua advertência para que guardássemos nosso pé quando entrássemos na casa do Senhor, Salomão complementa dizendo que devemos nos inclinar mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois estes não sabem que fazem mal (Ec.5:1). 

– Como é importante, para continuar a desfrutar da glória de Deus, graças ao perdão dos nossos pecados, estarmos atentos à Palavra de Deus.

Por isso, o Senhor Jesus disse que quem ouve e pratica as Suas palavras é como o homem sensato que edifica a sua casa sobre a rocha e, apesar das intempéries da vida, não sucumbe (Mt.7:24,25). 

– Por isso, a cada sete anos, por ocasião da Festa dos Tabernáculos, que já dissemos, na lição anterior, ser a festividade vinculada ao lugar santíssimo na tipologia bíblica, deveria todo o povo de Israel ouvir a lei, ouvir a Palavra de Deus (Dt.31:10-13). 

– Devemos estar todo ouvidos quando Deus fala com o Seu povo. Naquele tempo, o Senhor falava a Moisés, já que assim o povo havia escolhido e pedido (Ex.20:18-22), o que teve a aprovação divina em virtude da incredulidade deles (Dt.18:16,17).

Entretanto, agora, o Senhor tem falado pelo Filho, o profeta prometido desde aquele tempo (Hb.1:1; Dt.18:15,18,19).

Por isso, precisamos estar atentos à voz do Senhor, que é Cristo, cujos ditos nos são lembrados pelo Espírito Santo (Jo.14:26; 15:15; 16:13,14).

– Infelizmente, inclusive para cumprimento da Palavra, são muitos os que hoje não querer ouvir a voz do Senhor, antes estão a procurar doutores conforme as suas próprias concupiscências, tendo comichão nos ouvidos. Que não sejamos destes, amados irmãos! (II Tm.4:3,4). 

– Como ensina o pastor Gunnar Vingren, um dos missionários fundadores das Assembleias de Deus no Brasil:

“…Quanto ao significado dos querubins sobre o trono da graça, podemos nos referir aos Salmos 89.15: “Justiça e direito são o fundamento do seu trono; graça e verdade estão diante de sua presença”.

As palavras de Pedro nos remetem à posição curvada dos querubins voltados para o trono da graça, quando ele diz que a salvação em Cristo é a bem-aventurança, em que os anjos se curvam para perscrutar a salvação em toda sua profundidade.

“Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” (1 Pe 1.12).

O que os anjos contemplam na profundidade é a plenitude da graça, a verdade diante da presença de Deus, da mesma forma que o par de querubins contemplava o propiciatório.

 A expressão “a graça e a verdade” merece atenção especial por ter sido muito empregada no Antigo Testamento, principalmente nos Salmos. Apenas no Salmo 89, a expressão aparece sete vezes.

Essa expressão dupla pode ter constituído o elemento principal da revelação de Deus na antiga aliança e, provavelmente também na nova, quando entendemos que Cristo veio pleno de graça e verdade.

Através de Moisés vieram as leis, através do Cristo vieram a graça e a verdade (a graça e a verdade tão prometidas e cantadas pelo profeta).

A glória de Deus se revelava na tenda do testemunho, acima de tudo, sobre o propiciatório, assim como a glória de Deus se revela por meio do seu Filho cheio de graça e verdade.…” (O tabernáculo e suas lições. Trad. de Marta Nair Manhães de Andrade,  pp.70-1).  

– A arca foi feita por Bezaleel (Ex.37:1) e esta afirmação bíblica bem revela a solenidade e a importância desta peça, visto que, pelo que se infere do texto, foi algo feito exclusivamente pelo principal dos artesãos, especificamente chamado pelo Senhor e capacitado por Ele para tal obra (Ex.35:30-33). 

– Somente alguém devidamente capacitado de forma sobrenatural poderia elaborar esta peça, que era réplica de uma arca que existe no céu, como se pode verificar de Ap.11:19.

Alguns entendem que esta arca vista por João seria a arca construída por Bezaleel, já que a arca desapareceu quando foi destruído o Primeiro Templo,

mas não nos parece ser esta a melhor interpretação, uma vez que o Senhor dissera a Moisés que o tabernáculo era um modelo, uma cópia de um santuário celestial,

de modo que tudo o que foi construído era réplica de algo que já existia nos céus e a arca vista por João parece ser a arca do tabernáculo celeste, não fazendo sentido que a arca construída aqui tivesse sido transportada para o céu. 

II – O TESTEMUNHO 

– Na arca, coberta pelo propiciatório, deveria ser posto o “Testemunho”, que, como já vimos, era uma espécie de “tesouro”, de preceito, sinal de advertência.

É interessante notar que, quando o Senhor manda a Moisés que deveria construir a arca, não diz a ele, de imediato, que “testemunho” ali seria posto (Ex.25:16). Era algo que seria revelado posteriormente. 

– Dentro da arca, portanto, deveria ser posto o “testemunho”, algo que serviria como “sinal de advertência” para o povo de Israel, algo que como que complementaria a simbologia tanto dos querubins quanto do sangue que deveria ser posto sobre o propiciatório uma vez ao ano para aplacar a ira de Deus.

– A existência de um “testemunho” na arca mostra-nos que, em nossa comunhão com o Senhor, que é estabelecida pelo sangue de Jesus, deve haver uma “vigilância”.

Por isso, o Senhor Jesus é sempre enfático ao dizer a Seus discípulos que eles deveriam vigiar para não entrar em tentação (Mt.26:41; Mc.14:38), vigiar para não perder a salvação (Mt.24:42; 25:13; Mc.13:33,35,37; Lc.21:36).

– Deus mandou que Moisés pusesse na arca o “testemunho”, que eram as duas tábuas de pedra em que o Senhor escrevera, pela segunda vez, as palavras que proferira no monte Sinai, os “dez mandamentos” (Ex.34:1,4,28,29; Dt.10:1-5). 

– Eram as “segundas tábuas da lei”, que se encontravam dentro da arca, como “testemunho”, como “sinal de advertência”, ou seja, o Senhor lembrava continuamente Israel do pacto que havia firmado com eles no Sinai,

sendo que a lei estava ali não para salvar o povo, mas, antes, para apontar o pecado do povo e mostrar a necessidade de alguém que viesse cumprir a lei e pagar o preço pelos pecados, apontados mas nunca tirados pela lei. 

– Estas “segundas tábuas da lei” são conhecidas como as “tábuas da misericórdia”, porque foi a demonstração de uma “segunda chance” dada por Deus aos filhos de Israel, pois, com o episódio do bezerro de ouro, a destruição do povo era certa, tanto que Moisés subiu ao monte para aplacar a ira de Deus contra os israelitas (Ex.32:30-32). 

– Quando o Senhor deu novas tábuas ao povo de Israel, revelou que não iria destruí-lo e, assim, permitir que os israelitas aguardassem o novo profeta que viria e que resolveria a problemática do pecado e traria a comunhão perfeita que a lei não poderia dar, ante a incredulidade dos israelitas. 

– Ao mandar que estas tábuas fossem inseridas dentro da arca, tinha-se a certeza de que Deus era misericordioso, grandioso em perdoar (Is.55:7) e que, apesar do pecado, havia esperança e o Senhor continuava querendo ter um relacionamento com Israel, que deveria, então, observar os mandamentos que lhe havia sido dado por Deus, esperando a vinda do profeta a quem eles deveriam ouvir. 

– As segundas tábuas foram talhadas por Moisés, embora, como as primeiras, tivessem sido escritas por Deus (Ex.34:1).

Isto mostra a existência de um esforço humano para o cumprimento da Palavra, um comprometimento que deve existir na vida daquele que quer servir a Deus.  

– A participação humana nas segundas tábuas representa o esforço humano na santificação progressiva, é o nosso amoldar à vontade de Deus, e, mais, demonstra a própria humanidade de Cristo, que, como homem, venceu o pecado e o mundo para nos dar a salvação.

Enquanto as primeiras tábuas eram fruto único e exclusivo de Deus, a tipificar a iniciativa humana no processo da salvação, as segundas tábuas revelam esta cumplicidade que passa o povo de Deus a ter com seu Senhor na continuidade da santificação até o dia da glorificação, glorificação que somente será possível precisamente porque os glorificados guardaram a Palavra do Senhor (Ap.3:10).  

– A presença das segundas tábuas da lei na arca, também, revela que a Palavra de Deus é extremamente necessária para que tenhamos a presença de Deus em nós, para que entremos em comunhão com o Senhor.

A arca tipifica Cristo, Cristo que está além do véu, o Cristo com quem convivemos com quem temos unidade uma vez nos arrependendo de nossos pecados e alcançando o perdão, a justificação, a regeneração, a conversão, a adoção de filhos e a santificação (Jo.17:20,21; Rm.8:16,17,29,30).

Quando guardamos a Palavra, tornamo-nos morada do Pai e do Filho (Jo.14:23) e, por isso, haveremos de morar eternamente com o Senhor na glória (Ap.3:10). 

– Ora, não há meio de santificação mais poderoso do que a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17).

As tábuas representam o papel indispensável que a Palavra de Deus tem em nossa comunhão com o Senhor, pois, para entrarmos no reino de Deus, temos de nascer da água (Jo.3:5) e esta água é a Palavra que nos limpa (Jo.15:3) e nos lava (Ef.5:26). Esta Palavra são as Escrituras, que testificam de Cristo (Jo.5:39). 

– Como ensina o pastor Abraão de Almeida: “…Como as tábuas da Lei representavam a vontade de Deus para com o povo de Israel, elas apontavam para Jesus, que tinha a vontade de Deus no seu coração…” (O tabernáculo e a Igreja, p.26).

Não só no Seu coração, mas o Senhor Jesus tinha em cumprir a vontade do Senhor a sua própria razão de ser, tanto que disse ser isto a Sua comida (Jo.4:34).

– O conteúdo da arca tipifica aqui o interior do próprio Cristo, a Sua alma e aqui vemos, na arca, uma vontade totalmente submissa à vontade do Pai, sendo esta a tipificação das tábuas da lei com relação ao interior de Cristo.

Por isso, herético é o ensino do monotelismo, ou seja, a ideia de que em Cristo havia apenas uma vontade, o que foi rejeitado no Terceiro Concílio de Constantinopla em 681.

Não, em Cristo havia duas vontades, tanto que o Senhor sacrifica, no Getsêmane, a Sua vontade para cumprir a vontade do Pai (Lc.22:42; Jo.6:38), o que devemos também fazer.

OBS: Eis o que se decidiu no referido Terceiro Concílio de Constantinopla:

“…Do mesmo modo, proclamamos nele [em Cristo, observação nossa], segundo o ensinamento dos santos Padres, duas vontades ou quereres naturais e duas operações naturais, sem divisão, sem mudanças, sem separação ou confusão.

E as duas vontade naturais não estão – longe disso! – em contraste entre si, como afirmam os ímpios hereges, mas a sua vontade humana segue sem oposição ou relutância, ou melhor, é submissa à sua vontade divina e onipotente.

Era necessário, de fato, que a vontade da carne fosse guiada e submissa à vontade divina, segundo o sapientíssimo Atanásio1.

Como, de fato, a sua carne é chamada a carne do Verbo de Deus e realmente o é, assim a vontade natural da sua carne é chamada, e é, vontade própria do Verbo de Deus, segundo o que ele mesmo afirma:

“Desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” [Jo 6,38], chamando sua a vontade da sua carne, já que a carne se tornara sua.

De fato, como a sua carne, toda santa, imaculada e animada, se bem que deificada, não foi cancelada, mas permaneceu no próprio estado e no próprio modo de ser, assim também a sua vontade humana, ainda que deificada, não foi anulada, mas antes salvaguardada, segundo o que diz Gregório, o Teólogo:

“De fato, o seu querer, considerado como o do Salvador, não é contrário a Deus, pois é totalmente divinizado”2.

Nós louvamos no mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, nosso verdadeiro Deus, duas operações naturais sem divisão, mudança, separação ou confusão:

isto é, uma operação divina e uma operação humana,…” (DENZIGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral da Igreja Católica. Trad. de José Marino Luz e Johan Konigs, pp.232-3). 

– As segundas tábuas da lei na arca são, também, tipo da orientação de Deus, da direção de Deus em nossas vidas.

É ela a regra pela qual devemos andar (II Co.10:15; Gl.6:26; Fp.3:16), sem o que não veremos a alva (Is.,8:20). 

– Temos aqui Cristo representado como o Servo do Senhor, o Servo Sofredor, Aquele que, para fazer a vontade do Pai, sacrificou-Se por nós, humilhou-Se até a morte e morte de cruz (Fp.2:5-8). 

– Além das segundas tábuas da lei, que sempre permaneceram no interior da arca (I Rs.8;9),

também o Senhor mandou que se pusesse dentro da arca a vara de Arão que florescera e frutificara, quando da prova que Deus mandou que se fizesse para que se calasse o questionamento quanto à autoridade espiritual de Arão, questionamento surgido com a rebelião de Coré, Datã e Abirão (Nm.16,17). 

– Logo após a cessação da praga que vitimou quatorze mil e setecentas pessoas depois da morte dos envolvidos diretamente com a rebelião,

o Senhor mandou que se tomasse uma vara para cada casa paterna de Israel e que se escrevesse o nome de Arão em vez de Levi na vara referente a esta tribo e que se deixassem as varas na tenda da congregação diante da arca e que, no dia seguinte, vindo o Senhor, a vara daquele a quem Ele escolhera floresceria e frutificaria.

E, no dia seguinte, quando Moisés entrou na tenda da congregação, a vara de Arão tinha florescido, e dado amêndoas, e isto foi mostrado ao povo, como prova de que o Senhor escolhera Arão para o sacerdócio.

Foi, então, mandado que esta vara fosse colocada dentro da arca (Nm.17:10). A vara seria como “sinal para os filhos rebeldes”, o que poria fim às murmurações e o povo não morreria por causa disso. 

– A vara de Arão, prova de sua chamada sacerdotal, tipifica Cristo como o Sumo Sacerdote, Aquele que ofereceu o único e perfeito sacrifício que tirou o pecado do mundo.

O sacerdócio que floresceu e frutificou e fez surgir um povo santo, especial e zeloso de boas obras, o grão de trigo que morreu e, por ter morrido, frutificou (Jo.12:24). 

– Mas, também, a vara de Arão representa a autoridade de Deus, pois, com ela, o Senhor mostrou que tinha o poder de escolher quem Ele quisesse para exercer o sacerdócio e que ninguém poderia questionar a Sua soberania.

Vara fala de autoridade, tanto que o Senhor Jesus é apresentado como aquele que terá a vara e regerá as nações durante o Seu reino milenial (Ap.2:27; 19:15).  

– Nossa comunhão com Deus só é possível diante da mediação de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os homens (I Tm.2:5). Não há outro meio pelo qual possamos nos chegar a Deus (Jo.14:6).

– A vara de Arão já não mais estava na arca quando da inauguração do templo, como uma demonstração:

primeiro, que o povo havia deixado de lado esta advertência para não murmurar, deixando de lado a própria autoridade divina, tanto que haviam pedido um rei, não querendo mais que o Senhor reinasse sobre eles (I Sm.8:7);

segundo, porque o sacerdócio levítico, ressaltado nesta vara, não era permanente, haveria de terminar e dar lugar ao sacerdócio de Cristo, este, sim, o sacerdócio perfeito e eterno (Hb.8). 

– Dentro da arca, também, foi determinado que se pusesse uma porção de maná (Ex.16:33), que deveria servir de guarda para as gerações, ou seja, como uma lembrança de que Deus os havia sustentado com maná durante a peregrinação no deserto (Dt.8:3,16). 

– Aqui temos a tipificação de Cristo como o pão da vida, como o Deus da provisão, como o próprio Jesus haveria de explanar em um discurso dirigido aos judeus na sinagoga de Cafarnaum (Jo.6:22-59). 

– Não há como mantermos a comunhão com o Senhor se d’Ele não nos alimentarmos, se não comermos da Sua carne e bebermos do Seu sangue, como o próprio Senhor Jesus nos ensina na passagem já aludida do evangelho segundo João.

Comer da Sua carne e beber do Seu sangue não é apenas participar da ceia do Senhor, como ensinam os romanistas, que, a propósito,

procuram extrair dessa passagem respaldo para sua equivocada doutrina da transubstanciação, mas, sim, uma vida de união com o Senhor, de renúncia de si mesmo e de prática da vontade de Deus,

o que o apóstolo Paulo chama de viver para Deus, de não mais viver mas Cristo viver em nós (Rm.6: 1-11; Gl.2:20; Fp1:21).  

– O maná também não estava na arca quando da inauguração do templo, porque o maná foi temporário, não era o verdadeiro pão do céu, algo que cessou (Js.5:12)

e que foi substituído pelo fruto da terra, igualmente dado pelo Senhor (Sl.65), mas cuja abundância dependeria da fidelidade do povo ao Senhor (Dt.28; Ml.3:812).

Mas, Cristo, o pão da vida, o verdadeiro pão do céu, o maná escondido, para sempre nos alimentará, dando-nos do maná escondido (Ap.2:17). Aleluia! 

III – PECULIARIDADES SOBRE A ARCA DA ALIANÇA OU ARCA DO CONCERTO 

– Não resta dúvida, como já vimos, da grande importância da arca da aliança ou arca do concerto para o tabernáculo. 

– Sua importância era tal que a sua retirada do tabernáculo, nos dias de Eli, para que fosse levada ao campo de batalha na guerra contra os filisteus representou a própria destruição do tabernáculo de Siló. 

– Nos terríveis dias de Eli, os israelitas desvirtuaram o papel da arca da aliança, passando a considera-la um amuleto.

Assim, acharam que a simples presença dela no campo de batalha garantiria a vitória de Israel sobre os filisteus (I Sm.4:3-10). 

– “…Uma arca era uma mobília religiosa comum naquela época no Oriente Médio, mas essa arca era diferente. Na maioria das religiões pagãs, o baú continha uma estátua da divindade sendo adorada.

Neste caso, a arca continha três itens que mostravam como Deus se relacionava com o seu povo:

as tábuas com os dez mandamentos (a orientação de Deus),

a vara de Arão (a autoridade de Deus) e uma

jarra de maná (a provisão de Deus para necessidades diárias do Seu povo).…” (AQUINO, Hugo. Tabernáculo, lugar de adoração. Disponível em: https://www.slideshare.net/392766/tabernculo-64413086  Slide 66. Acesso em 18 fev. 2019).  

– Como nos mostra Hugo Aquino, os israelitas achavam que a arca poderia ser o próprio Deus atuando em favor deles no campo de batalha, diminuindo, assim, o Senhor a apenas uma peça que O representava.

No entanto, apesar de toda a festa que fizeram no arraial, os israelitas foram fragorosamente derrotados, porque haviam tornado a glória do Deus incorruptível em algo criado.

– Não só os israelitas foram derrotados, como a arca foi tomada e os filisteus, dentro da mesma mentalidade dos israelitas, acharam que haviam “conquistado” o Deus de Israel.

Aprenderam, também, que Deus é maior do que a arca e tiveram de reconhecer a soberania divina (I Sm.5:1-6:12). 

– Devolveram a arca a Israel mas, a partir daí, a arca nunca mais voltou a Siló, que deixou de ser a sede do tabernáculo, por expressa vontade do Senhor,

como até sinal da Sua desaprovação para com a atitude tomada pelos anciãos em relação a arca, que foi o ponto culminante de toda uma série de transgressões e desobediências (Sl.78:56-60), ficando, deste modo, como sinal de advertência para futuras rebeldias (Jr.7:12,14; 26:6,9). 

– Quando a arca retornou a Israel, por causa da irreverência com que a acolheram, foram mortos cinquenta mil e setenta homens, pois os israelitas foram ver o que havia dentro da arca (I Sm.6:19), onde, provavelmente,

foram tirados da arca a varão de Arão e o pote de maná, motivo por que foi ela levada a Quiriate-Jearim, onde foi posta na casa de Abinadabe, onde ficou até os dias de Davi (I Sm.7:1; I Cr.13:1-3).   

– Nos dias de Davi, a arca foi levada até Jerusalém (II Sm.6:12; 7:2), onde ficou numa tenda até a construção do templo por Salomão, quando foi levada para o lugar santíssimo do templo, tendo, então, apenas as tábuas da lei (I Rs.8:4-9). 

– Pelo que se verifica, até pelo temor de ser a arca tomada quando havia alguma guerra ou invasão estrangeira em Jerusalém, a arca era removida do lugar santíssimo nessas ocasiões, tendo o rei Josias dito que não teriam mais que se preocupar com isso (II Cr.35:3). 

– Entretanto, não se sabe se neste suposto costume de remoção da arca quando dos sítios dos inimigos na cidade, ou por Providência Divina,

o fato é que, apesar do minucioso relato dos escritores sagrados sobre o que foi levado pelos babilônios para sua terra quando da destruição do templo, a arca, a peça mais importante, não é sequer mencionada (II Rs.25:13-17; II Cr.36:19; Ed.1:9-11; Dn.5:3). 

– A arca desapareceu, não se sabendo o seu paradeiro. Quando da construção do Segundo Templo, não foi feita nova arca, de forma que o Segundo Templo não a possuiu.

E por que não teve o Segundo Templo uma arca? Porque a glória da segunda casa seria maior do que a primeira (Ag.2:9) e este templo não veria a arca, tipo de Cristo, mas o próprio Cristo, o próprio antítipo.

Jesus esteve no templo e se pôde ver a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo.1:14),

Aquele que, ao morrer, fez rasgar o véu de alto a baixo, abrindo um novo e vivo caminho para Deus, permitindo a entrada ao santíssimo de todos os que cressem n’Ele, tornando cada um de Seus servos morada de Deus no Espírito (Ef.2:22). 

– Por isso, é abominável aos olhos do Senhor o que se tem visto nos últimos tempos, com vários que cristãos se dizem ser reproduzirem a arca da aliança e, mais do que isto, colocarem a arca no centro do culto a Deus.

Trata-se de uma atitude assaz preocupante, de substituir Cristo por um tipo que, inclusive, deixou de ser utilizado desde o início do Segundo Templo, há cerca de 2.500 anos atrás. 

– Observemos, ademais, que, em Jr.3:16, o profeta diz que, quando viesse o tempo em que o Senhor daria “pastor segundo o Seu coração que apascentassem Israel com ciência e com inteligência”, ou seja,

quando viesse o “novo concerto” (Cf. Jr.31:31-34), “nunca mais se diria: a arca do concerto do Senhor! Nem lhes virá ao coração, nem dela se lembrarão, nem a visitarão, isso não se fará mais”.

Ou seja, o texto sagrado é explícito ao dizer da desnecessidade da arca do Senhor na nova aliança estatuída pelo sangue de Cristo. 

– Tornar a fazer a arca do concerto, transformá-la em objeto de culto é nada mais nada menos do que uma forma de estar perigosamente muito próximo de pisar o Filho de Deus e ter por profano o sangue do testamento com foi santificado e fazer agravo ao Espírito da graça,

conduta que é praticamente uma blasfêmia contra o Espírito Santo, o pecado voluntário que está além do perdão, como nos indica o escritor aos hebreus (Hb.10:26-31).

– Não podemos, em absoluto, utilizar da arca da aliança como objeto de culto ou como referência ao nosso culto.

Temos o antítipo da arca, Cristo Jesus, que mora em nós e que vive em nós. Tomemos, pois, muito cuidado com isso, amados irmãos! 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4032-licao-9-a-arca-da-alianca-i

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