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LIÇÃO Nº 3 – A CHAMADA PROFÉTICA DE SAMUEL  

 Samuel, “o ouvido por Deus”, aprendeu a também ouvir a Deus.  

INTRODUÇÃO 

– Na sequência do estudo dos livros de Samuel, analisaremos hoje a chamada profética de Samuel.  

– Samuel, “o ouvido por Deus”, aprendeu a também ouvir a Deus.  

I – SAMUEL EM SILÓ  

– Na lição anterior, vimos que Samuel foi deixado, em tenra idade, no tabernáculo em Siló, onde, segundo o texto sagrado, ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli (I Sm.2:11), ministrando perante o Senhor, sendo ainda jovem, vestido com um éfode de linho (I Sm.2:18).  

– Desde a mais tenra idade, doado que havia sido ao Senhor, Samuel foi inserido na linhagem sacerdotal, como o demonstram as suas vestimentas, aprendendo a ministrar na casa do Senhor.  

– Sua pouca mas decisiva formação que teve com sua mãe até o desmame (I Sm.1:22,23), sem falar nos encontros anuais que tinha com seus pais (I Sm.2:19), deram uma suficiente formação familiar ao menino que, encontrou em Siló um ambiente espiritualmente adverso.  

– Conforme haveremos de estudar na próxima lição, os filhos de Eli, Hofni e Fineias, eram filhos de Belial, não conheciam o Senhor e estavam levando ao limite da paciência divina a impiedade, inclusive no tocante ao serviço do tabernáculo (I Sm.2:12). Entretanto, Samuel não se deixou contaminar por este ambiente.  

– É sabido que a instrução dada até o terceiro ano de vida de uma pessoa é fundamental para a formação de seu caráter.

Daí a grande preocupação que o inimigo de nossas almas tem de desvirtuar os pequenos o quanto antes, fazendo-lhes perder a inocência e ter toda a sorte de más orientações e influências.

Casos como os de Samuel e de Moisés, por exemplo, mostram que uma formação cuidadosa nos princípios divinos nos primeiros anos de vida propiciam o surgimento de um ambiente plenamente favorável à piedade.

Não é à toa que Salomão tenha dito para instruirmos a criança no caminho em que deva andar pois, quando envelhecer, não se esquecerá dele (Pv.22:6).  

– Por isso, é preocupante a desatenção que se tem verificado nos lares dos que se dizem cristãos ser com a formação doutrinária de seus filhos.

Os pais mais dedicados limitam-se a levar seus filhos à Escola Bíblica Dominical, o que é importante, mas que, por si só, é quase que insignificante,

pois como pretender que nossos filhos tenham uma sólida formação que os impeça de ser levados pelo mundo, com no máximo duas horas de instrução bíblica por semana,

enquanto ficam sob o alvo e o ataque de inúmeros ensinamentos malignos, seja na mídia, seja no sistema educacional, que se tem tornado um dos principais pilares de perversão e de corrupção de nossas crianças, jovens e adolescentes?  

– De igual maneira, não se compreende a inércia de nossas lideranças que, ante a retumbante vitória que se teve no Supremo Tribunal Federal para que se permitisse o ensino religioso confessional nas escolas públicas,

nada fizeram de concreto até agora para ocupar este espaço e fazer com que haja uma formação doutrinária para os filhos de nossos irmãos durante a semana e não apenas aos domingos.  

– Como se isto fosse pouco, raríssimos são os lares em que há uma formação doutrinária dos pais para os filhos, o que urge começar a ocorrer o quanto antes, sem o que se ampliará o que já temos visto e observado nas igrejas brasileiras, ou seja,

o rápido envelhecimento de nossa membresia e a perda das crianças, jovens e adolescentes para o mundo, num processo que já se estabeleceu na Europa e Estados Unidos e que explica, inclusive, o contínuo e diário fechamento de igrejas naquelas duas partes do globo terrestre. Acordemos enquanto é tempo!  

– Além da formação familiar, temos outro fator que foi decisivo para o progresso espiritual de Samuel: a dedicação ao trabalho, ao serviço do Senhor.

Enquanto é dito que os filhos de Eli não conheciam o Senhor (I Sm.2:12), é dito que, desde a sua mais tenra idade, Samuel servia ao Senhor (I Sm.2:11), ministrava perante o Senhor (I Sm.2:18).  

– Samuel ocupava o seu tempo no serviço a Deus, sempre procurando o que fazer na obra de Deus, não se envolvendo com os disparates e desvios cometidos pelos filhos de Eli.

O trabalho é, sem dúvida, uma grande ferramenta para não nos deixarmos envolver pelo maligno. Já dizia um adágio popular que “mente desocupada é oficina do diabo”.

A prontidão de Samuel para o serviço era notória, tanto que, mesmo durante a noite, estava ele sempre pronto a servir (I Sm.3:3-5).  

– Este contínuo serviço a Deus não era apenas o exercício das atividades que lhe mandavam fazer.

Era algo mais profundo. Samuel buscava saber o que estava fazendo, envolver-se com as coisas de Deus, era dedicado, fazia de boa vontade e queria ser agradável ao Senhor.  

– O texto sagrado diz que “o jovem Samuel crescia diante do Senhor” (I Sm.1:21), ou seja, Samuel procurava manter uma vida próxima a Deus, o que nos faz, inclusive,

lembrar a notação bíblica a respeito do crescimento de Nosso Senhor e Salvador, quando é dito que Ele cresceu em sabedoria e em estatura diante de Deus e dos homens (Lc.2:52).

Tanto assim é que as Escrituras dizem que “o jovem Samuel ia crescendo e fazia-se agradável, assim para com o Senhor como também para com os homens” (I Sm.2:26).

– Samuel não só crescia física e emocionalmente, como também espiritualmente.

Não trajava apenas um éfode de linho, mas procurava ter um homem interior piedoso e dedicado a Deus.  

– O mesmo texto sagrado que narra as atrocidades dos filhos de Eli e como muitos os seguiam em suas dissoluções, mostram o mancebo Samuel diante do Senhor, servindo a Deus, crescendo diante de Deus.

Se tivermos o cuidado de mantermos nossos filhos nesta mesma posição, certamente o futuro deles será como foi o de Samuel e eles não serão envolvidos pela malignidade e perversidade deste mundo. Pena não estarmos a ter este cuidado.  

II – A CHAMADA DE SAMUEL

– Este sadio desenvolvimento de Samuel não era em vão. O Senhor o estava preparando para a tarefa singular que teria na história de Israel , na transição do regime teocrático para o regime monárquico, como também do protagonismo sacerdotal para o protagonismo profético.  

– O texto sagrado, provavelmente escrito pelo próprio Samuel, diz que, naqueles dias, a Palavra do Senhor era de muita valia e não havia visão manifesta (I Sm.3:1), ou seja,

se a Palavra do Senhor era de muita valia, era porque ela era rara, ou seja, embora houvesse profetas em Israel, eles eram em número reduzidíssimo, sendo, também, raríssimas as visões.  

– Isto se dava porque o povo estava completamente alheio às coisas de Deus, imersos numa mistura com os gentios que estavam à sua volta, completamente ignorantes das coisas relacionadas com o Senhor.

– Não era de se admirar que a situação estivesse assim, pois, como afirma o proverbista, quando não profecia, o povo se corrompe (Pv.24:18) e a corrupção era evidente nos dias de Samuel.  

– O protagonismo nas coisas relativas a Deus era no tabernáculo, em Siló, mas, como haveremos de ver na próxima lição, a liderança sacerdotal estava toda comprometida, ante a inércia de Eli e a impiedade de seus filhos, que eram os que realmente estavam a dirigir as coisas, diante da idade avançada de seu pai.  

– Triste o grupo de pessoas que serve a Deus que tem raridade da Palavra e que não tem visões frequentes da parte do Senhor.

Lamentavelmente, os dias em que estamos a viver, o chamado “princípio de dores” (Mt.24:8), também se caracterizam por uma raridade da Palavra de Deus e pela ausência da manifestação dos dons espirituais.

Isto tudo porque há um avanço da iniquidade, que provoca um esfriamento espiritual (Mt.24:12). Vivemos um tempo de apostasia (I Tm.4:1) e precisamos, urgentemente, vigiar para que não sejamos surpreendidos pelo arrebatamento da Igreja.  

– A profecia era rara, mas um profeta veio até Eli para lançar-lhe um juízo da parte de Deus (I Sm.2:27-36) e este episódio, certamente, foi presenciado ou, pelo menos, chegou ao conhecimento de Samuel.  

– No entanto, este absenteísmo profético, que caracterizara o período dos juízes, estava chegando ao fim.

O Senhor estava para levantar um profeta que, como disse Russell Norman Champlin (1933-2018), daria início a uma linhagem profética que somente terminaria com João Batista (Mt.11:13; Lc.16:16),

um período, com exceção do chamado período intertestamentário, entre Malaquias e João Batista, em que sempre o Senhor levantaria profetas para trazer mensagens ao Seu povo.  

– À noite, quando Eli já se recolhera a seus aposentos, assim como o próprio Samuel, o Senhor chamou a Samuel e o jovem, prontamente, disse ao chamado: Eis-me aqui (I Sm.3:4).  

– É interessante observar que Eli, apesar de sua idade avançada, já quase não enxergando, estava deitado, mas ainda não estava dormindo.

Muitos poderão dizer que isto é decorrência da sua idade, pois aos anciãos costuma faltar o sono (Ec.12:5), mas entendemos que não seja só por causa disto, mas também pelo próprio cuidado que o sacerdote tinha com a casa do Senhor, até porque, diz o texto, que a lâmpada de Deus ainda não havia se apagado no tabernáculo (I Sm.3:3).  

– É importante observar que, segundo o comentarista Matthew Henry, algumas lâmpadas do candelabro eram apagadas perto da meia-noite, sendo certo que a lâmpada principal nunca era apagada.

Assim, tem-se que Eli, apesar de sua idade avançada e de estar meio inerte, tinha um cuidado para com o dia-a-dia do tabernáculo.

OBS: “…Samuel também havia se deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse, v. 3.

Parece que ele dormia em algum lugar tão próximo do lugar santo que ia para cama com o auxílio dessa luz, antes que as lâmpadas das canas do candelabro se apagassem (porque a lâmpada principal nunca se apagava), o que, provavelmente, era próximo da meia-noite.

Até àquela hora, Samuel estava ativo em alguma boa disciplina, lendo e orando ou, talvez, limpando ou arrumando o lugar santo; então ia silenciosamente para a cama.

Podemos esperar a visita graciosa de Deus quando somos constantes e diligentes em nosso dever.…”(HENRY, Matthew. Trad. de Waldemar Kroker et alii. Comentário Bíblico: Antigo Testamento – Josué a Ester. Edição completa, p.228).

– Mas não era apenas Eli que estava acordado. O mancebo Samuel também, embora estivesse deitado, não estava dormindo e, certamente, a idade não era o motivo, pois, bem ao contrário, normalmente os adolescentes costumam dormir bastante, sem dizer que ele havia tido um dia inteiro de intenso labor.

OBS: Segundo Flávio Josefo, Samuel tinha doze anos quando ocorreu a sua chamada:

“…Quando Samuel completou doze anos, começou a profetizar; certa noite, quando dormia, Deus chamou-o pelo nome.…” (Antiguidades Judaicas V, cap.11,  n.215. In: JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.123).  

– No entanto, Samuel sabia de suas responsabilidades, sabia que tinha de atender ao sacerdote Eli quando fosse necessário e que o velho sacerdote não costumava dormir enquanto não se apagasse a lâmpada do Senhor. Era, portanto, diligente no seu dever.

– Tanto Eli quanto Samuel estavam vigilantes, mesmo sendo tarde da noite, concentrados em bem servir ao Senhor e, por isso mesmo, o Senhor veio falar a Samuel e Eli pôde, inclusive, orientá-lo a respeito deste chamado.  

– O Senhor sempre procura pessoas que estejam trabalhando, jamais se encontrou algum episódio nas Escrituras em que Deus tenha ido atrás de alguém ocioso.

O trabalho é um dos elementos que nos faz semelhantes a Deus, que é um Deus trabalhador (Jo.5:17).  

– Esta vigilância de Eli e de Samuel prefigura a vigilância que os servos do Senhor devem ter, esperando o arrebatamento da Igreja, consoante orientação do próprio Cristo (Mt.24:42; 25:13; Mc.13:33,35; Lc.21:36).

Observemos que, segundo os estudiosos, o Senhor falou a Samuel perto da meia-noite, precisamente o horário que o Senhor aponta como sendo o da chegada do noivo na parábola das dez virgens (Mt.25:6),

 sendo certo que nosso Senhor e Salvador foi peremptório ao dizer que bem-aventurado é aquele servo fiel e prudente que estiver servindo quando o Senhor vier (Mt.24:46).  

– Samuel era fiel e prudente. Era leal ao sacerdote Eli, sempre servindo a ele, mas também era fiel ao Senhor, sempre ministrando perante o Senhor.

Também era prudente, pois, além de executar todas as tarefas que lhe eram confiadas, avisadamente evitava participar das abominações praticadas pelos filhos de Eli, não se envolvendo com elas, desviando-se do mal (Pv.14:16; 16:6,17; 22:3; 27:12).

– O Senhor chamou a Samuel e o mancebo, que nunca havia ouvido a voz do Senhor anteriormente, achou que o sacerdote Eli o havia chamado e, prontamente, correu até Eli, pondo-se à sua disposição. Eli disse que não o havia chamado e o dispensou.

– O episódio repetiu-se por mais duas vezes. Ante esta repetição por três vezes, Eli, então, entendeu que era o Senhor que estava a chamar a Samuel.

Alguém pode dizer que isto seria um sinal de que Eli, realmente, estaria fora da direção do Senhor, estava já extremamente idoso, seriam, pois, sinais da decadência do sacerdote.  

– Não resta dúvida, como haveremos de ver na próxima lição, que Eli se encontrava numa fase de decadência em seu ministério, pois lhe faltava autoridade espiritual para enfrentar os desmandos de seus filhos, numa conivência que contribuiu sobremaneira para a derrocada do tabernáculo em Siló.

Também não resta dúvida de que sua própria condição física, diante da sua idade bem avançada, era um outro fator que prejudicava sobremaneira o exercício de suas funções.  

– Todavia, não podemos deixar de observar que a palavra de Deus era rara naqueles dias, que não havia visão manifesta e que, portanto, não teria mesmo Eli como identificar que seria o Senhor a falar com Samuel.

Eli não poderia raciocinar pelo improvável, pelo raro, ainda mais quando se sabia que se estava diante de um jovem inexperiente, ainda que prestativo e piedoso.  

– No entanto, como o episódio se repetiu por três vezes, Eli, então, pôde perceber que se tratava de um chamado divino.

O sacerdote, apesar de tudo, ainda cria na manifestação divina, sabia que Deus falava, tanto que, não muito antes, havia sido alvo de uma dura mensagem da parte de um profeta.  

– Aqui temos um belo exemplo da complementariedade que há os idosos e os jovens, gerações que precisam, sim, se comunicar e trocar qualidades e virtudes.

Eli era experiente e, não fosse a sua experiência, sabidamente posta em ação pelo Senhor, jamais Samuel poderia iniciar o seu ministério, pois jamais saberia que quem lhe falava era o Senhor.

Samuel tinha o vigor físico, a disposição em servir ao velho sacerdote, podendo ir de um lado para o outro, o que já o ancião não tinha condições de fazer. Como diz provérbio português de origem árabe:

“se o velho pudesse e o jovem soubesse, não haveria no mundo o que não se fizesse”.  

– Eli, então, percebendo que era Deus quem queria falar com Samuel, orientou o mancebo para que, ao ouvir uma vez mais o chamado, dissesse: “Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve” (I Sm.3:9).

– A orientação de Eli traz-nos preciosas e ricas lições. Por primeiro, o sacerdote ensina Samuel de que o Senhor é Senhor e nós somos servos. Há uma assimetria no relacionamento entre Deus e o homem e jamais podemos esquecer disto.   

– Por isso mesmo, se Deus desejava falar a Samuel, não cabia outra alternativa a Samuel senão ouvir o Senhor. Deus quer falar?

Estejamos prontos para ouvir. Entretanto, não são poucos os que querem ter um relacionamento com Deus sem nem sequer saber o que Deus pretende fazer.  

– Samuel, cujo nome significa “ouvido por Deus”, deveria aprender a ouvir a Deus.

E, ao longo do ministério deste profeta, vemos quase sempre sua ação depois de ter ouvido a voz do Senhor, sendo certo que seu grande erro se deveu precisamente por ter tomado uma atitude sem que tivesse antes ouvido a Deus.  

– Fala-se sempre que o profeta é o porta-voz de Deus, o mensageiro de Deus, aquele que tem algo a nos dizer da parte do Senhor.

E isto é verdade, é o próprio significado da palavra “profeta”, “aquele que fala em nome de outrem” (Cf. Ex.7:1).  

– No entanto, poucos se dão conta de que, para alguém ser mensageiro de outrem, para alguém a palavra de um terceiro, é necessário que ouça o que este terceiro, este outro quer transmitir, quer comunicar, quer falar. Um profeta é, antes de tudo, um ouvinte.

Hoje temos muitos profetas que falam demais, possuem excelentes palavrórios, mas não conhecem sequer a voz do Senhor, não têm a mínima habilidade para ouvir. São, portanto, evidentemente, falsos profetas.  

– Por segundo, como servos devemos estar prontos para realizar a vontade do Senhor, cumprir a tarefa que Ele nos confiou.

O Senhor queria falar: Samuel tinha de ouvir. O desejo de Deus era comunicar algo. Samuel deveria receber aquilo que seria comunicado.  

– Por terceiro, o servo deve estar à disposição do Senhor. Eli ensinou Samuel a se pôr à disposição, como, aliás, ele fazia em relação ao velho sacerdote.

Temos de estar prontos, à disposição para atuar. Aqueles que põem empecilhos para atender ao que Deus quer evidentemente não serve, não assume a condição de servo, como aqueles que criaram desculpas ao chamado de Cristo Jesus (Lc.9:59-62).  

– Por quarto, o servo deve estar vigilante. É interessante notar que Eli orientou Samuel a que fosse se deitar e SE o Senhor o chamasse novamente, que ele dissesse que estava à Sua disposição.

A vigilância que Samuel tinha em relação a Eli deveria também estar presente no chamado do Senhor. Samuel deveria estar atento a um novo chamado, não poderia se distrair ou dormir.

– Samuel foi se deitar e obedeceu fielmente ao que lhe disse o velho sacerdote. Não sabemos quanto tempo demorou para que o Senhor, uma vez mais, chamasse Samuel, mas o certo é que o mancebo estava vigilante e respondeu como fora ensinado.  

– Deus chamou Samuel pelo seu nome: “Samuel, Samuel”. Deus chama as pessoas pelo nome, a revelar que reconhece a dignidade de cada pessoa, contempla a identidade de cada um,

trata a cada um de modo especial, até porque não há dois seres humanos iguais sobre a face da Terra, como estão a indicar todos os sinais identificadores (digitais, íris do olho, entre outras).  

– Se Deus, que é onisciente, onipotente e onipresente, toma esta atitude, por que pobres homens mortais deixam de fazê-lo em relação ao seu próximo?

Porque não chamamos as pessoas pelos seus nomes, muitas vezes nos utilizando de apelidos discriminatórios e constrangedores, para não dizer que simplesmente nem as nomeamos?

Pensemos neste comportamento que, por diametralmente oposto ao do Senhor, evidentemente não é uma conduta que se espera de quem se diz filho de Deus.  

– O Senhor, então, disse a Samuel que iria fazer uma coisa em Israel que deixaria todos espantados e que iria realizaria o mal que já havia dito faria contra a casa de Eli em um só dia, pois Eli era consciente da iniquidade que seus filhos cometiam e nada havia feito para repreendê-los e que não havia expiação possível para a casa de Eli (I Sm.3:11-14).  

– Deus confirmava, portanto, a mensagem profética que havia sido proferida a Eli tempos antes e da qual, como já dissemos, muito provavelmente Samuel tinha presenciado ou, ao menos, tomado conhecimento.  

– Era uma mensagem duríssima contra o sacerdote Eli que, desta vez, era pessoalmente responsabilizado pela omissão, o que não havia acontecido na mensagem anterior.

Era repetido que o mal que sobreviria sobre a casa de Eli se daria no mesmo dia e, como se isso fosse pouco, o Senhor dizia que não haveria mais oportunidade para perdão, havia se chegado ao limite da paciência de Deus.  

– Esta mensagem do Senhor a Samuel revela-nos algumas lições que vale a pena destrincharmos.  

– Por primeiro, Samuel fica a saber que se está num tempo de mudança em Israel.

O Senhor estava executando juízo sobre a casa de Eli, juízo sem misericórdia, a indicar que não seria mais pela linhagem sacerdotal que passaria a comunicar com o povo, já ficando subentendido que Samuel havia sido escolhido para ser o porta-voz do Senhor doravante.  

– Por segundo, o Senhor confirmava o Seu desagrado para com a conduta dos filhos de Eli e, agora, do próprio Eli, pela sua omissão.

Esta circunstância faz-nos lembrar daquilo que disse o Senhor Jesus, ou seja, de que nosso amor a Ele não pode ser suplantado pelo amor aos nossos familiares (Mt. 10:37).  

– Eli deveria ter impedido que seus filhos desvirtuassem o sacerdócio, mas, por temor familiar, não tomou qualquer atitude, limitando-se a demonstrar um inconformismo que não se traduziu em ações, ficou nas meras palavras (I Sm.2:22-25).  

– Ainda que o sacerdócio fosse hereditário, Eli não poderia consentir com o que era feito de errado por seus filhos, mas nada fez, tornando-se tão culpado quanto os que faziam o que não se devia (Rm.1:32).  

– Em nossos dias, não tem sido diferente. Apesar de não haver qualquer hereditariedade no exercício do ministério, o que torna o temor familiar ainda mais reprovável atualmente do que nos dias de Eli,

o fato é que há uma disseminação de complacência e leniência para com os familiares dos ministros, que, aliás, muitas das vezes, sem qualquer vocação, são também tornados ministros. 

– A omissão de muitas lideranças tem permitido o alastramento do pecado e da iniquidade nos ambientes eclesiásticos, causando seríssimos prejuízos ao povo de Deus, com sucessão de escândalos e de um estado que aprofunda a apostasia espiritual que já é característica de nosso tempo.  

– Esta mensagem de Deus a Samuel, a primeira recebida pelo profeta, revela-nos um Deus que não tolera o pecado por omissão.

Muitos procuram se esconder em sofismas, dizendo que o Espírito Santo é o encarregado de tomar as devidas atitudes, que Ele zela pela Igreja e coisas assim, quando, na verdade, ainda que estejamos na dispensação da graça, a responsabilidade dos líderes é muito similar, senão idêntica a de Eli naqueles dias.  

– As Escrituras dizem claramente que a autoridade na igreja local é o pastor, aquele que preside

sobre o povo (Rm.12:8; I Ts.5:12),

aquele que cuida do rebanho do Senhor (I Pe.5:2),

devendo velar e dar contas das almas postas sob sua guarda (Hb.13:17),

devendo ser o exemplo dos fiéis (I Tm.4:12; Hb.13:7).

Tanto é assim que se deve prestar a eles obediência. Como, então, podem eles se omitir quando há a prática do pecado no meio do povo de Deus e, mais, quando isto se dá por meio de seus familiares?  

– Samuel, embora fosse ainda jovem, bem sabia de que o Senhor estava dizendo, pois, certamente, presenciava diariamente esta omissão de Eli com relação às nefastas práticas de seus filhos.

– Eli deveria ter repreendido os seus filhos porque eles praticavam a iniquidade e, a tal ponto, que haviam se tornado execráveis.

Aqui a palavra hebraica utilizada é “qālal” (ָקַלל), “…verbo que significa ser leve, trivial, rápido.

Esta palavra é usada de muitas maneiras diferentes, mas a maioria dos usos remonta à sua ideia básica, que é leveza.

(…)Em muitos casos, é usada para descrever fala leviana a respeito de outrem ou fala para amaldiçoar(…) Deus amaldiçoando pessoas (Gn.12:3; I Sm.2:30; Sl.37:22)” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 7043, p.1905).  

– Notemos que a expressão utilizada pelo Senhor põe os filhos de Eli no mesmo patamar daqueles que se insurgissem contra Abrão, ou seja, eles haviam se tornado inimigos do próprio povo de Deus, É isto que são todos aqueles que começam a praticar a iniquidade e se valem de suas posições eclesiásticas para tanto, que se servem da casa do Senhor para obrar o mal.  

– A mensagem dada por Deus a Samuel é um exemplo daquilo que o Senhor Jesus ensinaria, ou seja, de quem não ajunta com Ele, espalha, ou seja, que quem não é por Ele, é contra Ele (Mt.12:30; Lc.11:23).

 

– Inexiste neutralidade na dimensão espiritual. Ou estamos contribuindo para o bem da obra de Deus, fazendo a vontade do Senhor, cerrando fileiras ao lado d’Ele ou, então,

seremos agentes do adversário, os mercenários de que fala o texto de Jo.10:10, que vêm para matar, roubar e destruir que, no fundo, é o objetivo de Satanás em toda esta operação.

– Eli, ao se omitir, uniu-se aos pecados de seus filhos e foi também responsável pelo estado de degradação que chegara a liderança sacerdotal em Israel, a ponto de Deus ter decidido pôr um fim no tabernáculo em Siló.  

– Estamos em uma contínua batalha espiritual contra as hostes espirituais da maldade, contra o pecado e contra o mundo.

Não podemos titubear, nem achar que é possível estabelecer uma trégua. Ou lutamos contra o mal, ou seremos seus agentes. Pensemos nisso!

– Por terceiro, a mensagem de Deus a Samuel mostra-nos que a longanimidade de Deus é grande (Nm.14:18; Sl.103:8; Jn.4:2), mas não é infinita. Demora em irar-Se, mas Se ira (Ex.34:6; Ne.9:17; Jl.2:13; Na.1:3).

 

– Há um momento em que cessa a longanimidade divina e, então advém o juízo, o castigo, a justa retribuição pelos males cometidos.

Os desatinos cometidos pela liderança sacerdotal, que haviam sido sobremaneira amplificados com os filhos de Eli, não poderiam ficar impunes e o Senhor diz a Samuel que agora não havia mais chance de perdão: “nunca jamais será expiada a iniquidade da casa de Eli com sacrifício nem com oferta de manjares” (I Sm.3:14).  

– A iniquidade havia tanto se apossado da vida daqueles dois sacerdotes que eles já estavam a praticar o pecado voluntário, o pecado à mão levantada, aquele que não admitia perdão (Nm.15:30,31).

Advertidos, não se arrependeram, desprezaram a Palavra do Senhor, anularam os Seus mandamentos e, por isso, seriam destruídos num só momento.  

– Hofni e Fineias prefiguram tantos quantos se mantêm insensíveis às advertências divinas para o arrependimento, que se servem da própria estrutura de adoração a Deus para pecar e obter suas mesquinhas vantagens.

Estes serão destruídos num momento, não ficarão impunes diante de sua insensibilidade espiritual e dos males que produzem no meio do povo de Deus. Tomemos cuidado, amados irmãos!  

III – SAMUEL TRANSMITE A MENSAGEM A ELI

– Samuel nada disse, apenas ouviu, conforme havia sido orientado pelo sacerdote Eli.

Que exemplo a seguirmos! Deus não havia lhe falado coisa alguma sobre o que fazer, a não ser ouvir e foi o que Samuel fez: ouviu.  

– De manhã, Samuel se levantou como costumava fazer todos os dias, e abriu as portas da casa do Senhor (I Sm.3:15).

O fato de ter ouvido a voz de Deus pela primeira vez, de ter tido a convicção de que o Senhor lhe chamara para o ofício profético, não o fez mudar no seu dia-a-dia. Retomou a rotina como se nada tivesse acontecido.  

– O texto diz que Samuel ficou deitado até pela manhã, e achamos que o mancebo não tenha conseguido dormir, pois, para um jovem como ele, não seria mesmo algo fácil conseguir dormir depois de ter ouvido, pela vez primeira, a Palavra do Senhor e ainda diante do teor da mensagem que recebera.  

– Não há como ficarmos indiferentes à ação direta de Deus em nossas vidas. Ficamos muito ressabiados com pessoas que tratam uma intervenção divina como algo normal, rotineiro ou casual.

Tal comportamento apenas parece nos indicar de que não foi Deus quem falou com a pessoa, que tudo não passa de charlatanice.

Nenhum contato de Deus com um mero mortal pode se dar de modo trivial e rotineiro, não havendo mesmo sequer a possibilidade de se criar um hábito neste relacionamento com o Senhor.  

– Não há no texto sagrado qualquer registro de trivialidade no contato de Deus com os Seus servos, mesmo aqueles com quem o Senhor frequentemente Se comunicava, como Moisés, por exemplo.

Cada experiência, cada contato era marcante para o líder de Israel, aquele com quem Deus, aliás, disse ter tido um contato singular, que não se repetiria com qualquer outro profeta (Nm.12:6-8).

– No entanto, Samuel, apesar de sua tenra idade, comportou-se como uma pessoa madura, ao não mudar sua rotina só porque havia sido escolhido para o Senhor para o ofício profético.

Comportou-se como aquele jovem a serviço da casa do Senhor, nada modificando de seu cotidiano.

– Precisamos aprender esta lição. Há pessoas que, depois que recebem mensagens da parte do Senhor dando-lhes conta de seu chamado, no dia seguinte, sem qualquer ordem divina, querem abandonar seus empregos, mudar de casa, obter uma posição eclesiástica, passar a “viver da obra”, só porque Deus a escolheu.

Não se pode duvidar da escolha divina, mas é de se esperar que tudo ocorra no momento certo, prosseguindo-se na vida como ela se desenvolvia antes deste anúncio da parte do Senhor.  

– Samuel havia tanto retomado a rotina que foi preciso que Eli o chamasse e o interpelasse sobre a mensagem recebida da parte de Deus.

O sacerdote tinha a convicção de que Deus falaria com o mancebo.  

– Eli, então, mandou que Samuel contasse a ele tudo o que Deus havia falado, nada encobrindo, sob pena de recair sobre ele tudo o que fosse encoberto.

Nesta expressão do sacerdote já percebemos que Eli tinha uma ideia de que a mensagem era de juízo, de que se tratava de mais uma dura mensagem da parte do Senhor contra a sua casa.  

– Não fosse assim, ele não iria usar daquela expressão para com Samuel, pois, se se tratasse de alguma mensagem benfazeja, o que fosse encoberto traria benefício a Samuel e não maldição.  

– Samuel, obediente e fiel, mesmo sabendo o duro teor da mensagem, contou-lha toda, nada encobriu e Eli, que já desconfiava deste teor da mensagem, resignadamente disse que deveria o Senhor fazer como bem parecesse aos Seus olhos.  

– Samuel permaneceu servindo a Eli, mesmo sabendo da sua rejeição e do juízo que o Senhor já havia determinado fazer-lhe e que não teria chance alguma de retrocesso.

Não se revoltou contra Eli nem tampouco contra seus filhos. Manteve-se na posição que tinha no tabernáculo.  

– Em nossos dias, não são poucos os que, sendo sabedores de juízos divinos sobre lideranças já rejeitadas, aproveitam a oportunidade para tentarem tirar proveito da situação,

seja forçando uma substituição de liderança, seja causando divisões ou tantas outras coisas, sempre se justificando em cima do pecado cometido pelos líderes rejeitados.

– Entretanto, tal procedimento não é o correto. Samuel nada fez contra Eli ou seus filhos, pois não era de sua alçada fazê-lo. Continuou servindo a Deus com fidelidade, bem como servindo a Eli que, bem ou mal, mal ou bem, era o sacerdote. Deus disse que haveria de removê-lo, não era tarefa de Samuel.

– Samuel cresceu  e o Senhor começou a usá-lo no ministério profético. Deus lhe mandava mensagens e todas as palavras que ele dizia se cumpriam e, assim, todo o Israel soube que ele era profeta (I Sm.3:20), pois quando as palavras de um profeta se confirmavam, este era o sinal de que se tratava de um legítimo mensageiro do Senhor (Dt.18:21,22).

– Samuel continuou a fazer o que lhe era determinado no tabernáculo, mas, após a sua chamada, o Senhor começou a engrandece-lo diante do povo, sem que ele precisasse se insurgir contra Eli ou seus filhos, sem que ele precisa fazer propaganda de que havia ouvido a voz de Deus.

– Dia após dia, paulatinamente, Deus começou a enviar mensagens a Samuel, Samuel começou a ser usado pelo Senhor e todo o Israel reconheceu que estava diante de um profeta do Senhor. Agora a Palavra não era mais rara, agora as visões eram frequentes. Havia surgido um profeta em Israel.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4530-licao-3-a-chamada-profetica-de-samuel-i

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