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LIÇÃO Nº 6 – A REBELDIA DE SAUL E A REJEIÇÃO DE DEUS

INTRODUÇÃO

 – Na sequência do estudo dos livros de Samuel, veremos a rebeldia de Saul e a consequente rejeição de Deus. 

– Saul é o tipo daquele que apostatou da fé. 

I – O BOM COMEÇO DO REINADO DE SAUL

 – Terminamos a lição anterior com a confirmação de Saul como rei de Israel diante do povo. Embora escolhido por Deus, Saul teve o consentimento popular por causa de seus dotes físicos.  

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– No entanto, Saul era um novo homem, havia tido mudança de coração por parte do Senhor e recebera o Espírito Santo (I Sm.10:9),

tanto assim que o texto bíblico faz questão de dizer que recebeu a companhia dos homens de guerra que tinham sido tocados por Deus para acompanhá-lo a Gibeá (I Sm.10:26), enquanto que aqueles que o tinham desprezado são chamados de filhos de Belial (I Sm.10:27). 

– Temos aqui uma belíssima figura daquele que é salvo por Jesus Cristo, que tem um encontro com o Senhor e responde favoravelmente ao chamado divino para a salvação.

Assim como Saul, aquele que recebe a Cristo como Senhor e Salvador é mudado em um novo homem, nasce de novo (Jo.3:3; II Co.5:17) e passa a ser habitação do Espírito Santo (Jo.7:38,39; 14:17; Rm.8:9), ainda que, sabemos todos,

Saul não era habitação do Espírito Santo, já que ainda estávamos no tempo da lei, mas tinha sido visitado pelo Espírito e, por ter sido ungido como rei, teria sempre a possibilidade de receber tal visitação quando fosse necessário. 

– Notamos, portanto, que, da parte de Deus, nada havia faltado para bem capacitar espiritualmente o primeiro rei de Israel.

Saul era um ungido de Deus, havia sido escolhido por Ele para reinar sobre os israelitas e tinha todas as condições para bem realizar a sua missão.

Observemos que até de um exército foi Ele provido pelo Senhor, não tendo qualquer necessidade de convocar o povo e fazer valer sua autoridade para a formação desta força armada. 

– Estava Saul tranquilamente em sua cidade, Gibeá, quando o rei amonita Naás resolve guerrear contra a cidade de Jabes-Gileade, cidade pertencente à tribo de Gade.

Cercada, os habitantes de Jabes-Gileade resolveram se entregar a Naás, mas o rei amonita não aceitou a oferta, mostrando que desejava, mesmo, a destruição daqueles israelitas. 

– Diante desta posição, os habitantes de Jabes-Gileade pediram um prazo de sete dias aos amonitas e foram pedir socorro aos seus compatriotas, tendo chegado alguns mensageiros a Gibeá e, quando o povo soube desta notícia, lamentou e chorou. 

Saul, que estava no campo, ao saber da notícia, recebeu nova visitação do Espírito Santo, tomou um par de bois e os cortou em pedaços e os enviou a todos os termos de Israel pelas mãos de mensageiros, convocando o povo à guerra e dizendo, ainda,

que quem não saísse atrás dele, Saul, e de Samuel, assim se faria aos seus bois, o que causou o temor do Senhor sobre todo o povo que saiu como um só homem: 300 mil de Israel e 30 mil de Judá (I Sm.11:1-8).

– Saul, então, mandou dizer aos moradores de Jabes-Gileade que iria em socorro deles e teve grande vitória sobre os amonitas.

Diante desta vitória, alguns quiseram matar os que haviam sido opositores de Saul, tendo pedido a Samuel que os entregasse a eles, mas Saul não permitiu que isto fosse feito, pois era um dia em que Deus havia dado grande livramento, tendo, então, Samuel levado o povo a Gilgal,

onde o reino foi renovado, tendo ali sido oferecidos sacrifícios pacíficos ao Senhor e Saul se alegrou com todos os homens de Israel (I Sm.11:9-15).

Temos aqui a explicação de algo que parecia ser uma contradição no texto bíblico, porquanto Samuel havia dito a Saul que ele descesse a Gilgal onde seria feito rei (I Sm.10:8), quando, na verdade, foi apresentado como rei ao povo, que consentiu com sua escolha em Mispa (I Sm.10:17).

Mas, na verdade, a confirmação do reino a Saul somente ocorreu depois da vitória sobre os amonitas em Gilgal, como havia sido profetizado, quando, então,

não só houve um real consentimento da parte do povo, com a total perda de força da oposição, como também a oferta de sacrifícios pacíficos a Deus, ou seja, um verdadeiro culto de ação de graças, o reconhecimento da escolha divina, dos dotes espirituais dados ao monarca. 

– Foi preciso haver uma luta, uma guerra para que Saul fosse confirmado como rei em Israel.

As provações, em nossa vida espiritual, têm este papel de confirmação de nossa chamada, de nossa filiação divina.

Foi através desta guerra contra Amom que Israel pôde perceber que Saul era mais do que um homem belo, alto e de porte atlético, mas um homem escolhido por Deus para guerrear as suas guerras.

Precisamos todos ser provados para sermos aprovados em Cristo, não nos esqueçamos disto, amados irmãos. 

– Ante a confirmação do reino pelo próprio Deus, Samuel entendeu que havia cessado a sua função como governante de Israel.

Cumprira-se cabalmente a profecia que dera a Saul e, portanto, era chegado o momento de sair de cena da vida político-administrativa de Israel. 

– Samuel, então, despediu-se do cargo de juiz de Israel, e o fez da forma mais sublime que pode fazer um ser humano.

Apresentou-se humildemente diante do povo e perguntou se, em algum momento, havia agido com desonestidade em sua judicatura, tendo recebido o testemunho de todo o povo a respeito de sua integridade (I Sm.12:1-5). 

– Samuel aqui dá duas importantíssimas lições para a liderança do povo de Deus.

A primeira é que é necessário saber a hora de retirada da frente do povo.

Neste mundo, tudo tem o seu tempo determinado (Ec.3:1) e Samuel entendeu que, com a confirmação do reino nas mãos de Saul, seu tempo havia chegado ao fim.

Lamentavelmente, em nossos dias, muitos não têm tido esta sensibilidade espiritual e têm permanecido à frente do povo de Deus fora do tempo, causando enormes prejuízos à Igreja. 

– A segunda lição dada por Samuel é que a integridade, a honestidade é elemento fundamental para que se tenha autoridade e credibilidade diante do povo.

Samuel manteve íntegro durante todos os anos em que serviu ao povo de Israel e, por isso, tinha o respeito e a autoridade de todos, inclusive do rei.

Seus filhos, ao contrário, não puderam sequer exercer o cargo que receberam de seu pai por terem justamente se corrompido.  

– Samuel renunciou à judicatura, mas não podia deixar de ser profeta e sacerdote.

Por isso, depois de ter uma vez mais advertido e repreendido o povo para que servissem a Deus fielmente, inclusive causando um milagre, que foi a ocorrência de uma chuva fora da estação das chuvas,

como prova de que o que falava era da parte de Deus, comprometeu-se a continuar a interceder pelo povo, dizendo mesmo que seria pecado de sua parte se deixasse de fazê-lo (I Sm.12:6-25). 

– Samuel tinha a consciência do que é ser líder diante do povo de Deus. A liderança servidora, que está pronta sempre a servir, que não pensa em posição e que não tem vaidade alguma.

Deixava de estar à frente do povo, não era mais juiz, mas tinha plena consciência de seu dever de interceder pelo povo, de continuar orando por ele e de providenciar sábias orientações para que eles não se perdessem.

Que os líderes tenham esta mesma consciência em nossos dias e que não queiram apenas estar à frente do povo, mas, sabendo ter terminado seu tempo, continuem intercedendo e orientando a nação santa, o rebanho do Senhor, sem que, para isto, tenham que estar no comando administrativo. 

II – O PRIMEIRO TESTE E FRACASSO DE SAUL 

– Saul escolheu para si três mil homens para fazer parte do corpo permanente do exército, estando dois mil com ele em Micmaás e na montanha de Betel, enquanto que, em Gibeá, manteve mil homens, sob o comando de seu filho Jônatas.

Vemos aqui, aliás, já um cuidado muito salutar de Saul, que era o, desde o início de seu reinado, preparar o seu filho Jônatas para a sua sucessão. 

– O texto bíblico diz que Jônatas, estando em Gibeá, atacou uma guarnição dos filisteus que lá havia, o que causou o furor dos filisteus, tendo, então, Saul convocado a todos para a guerra contra os filisteus em Gilgal.

O povo, ao perceber a movimentação dos filisteus, teve medo e se escondeu pelas cavernas, espinhais, penhascos, fortificações e covas (I Sm.13:1-7). Era o segundo ano do reinado de Saul. 

– É de se observar, por primeiro, que o gesto de Jônatas de atacar a guarnição dos filisteus era um ato aprovado pelo Senhor.

Com efeito, lembremos todos que, ao ser dado o reino a Saul, recebera ele uma missão: livrar o povo de Israel dos filisteus (I Sm.9:16). 

– Jônatas, sabedor desta situação, não se conformava em ver, bem próximo a sua cidade, nos termos dela, uma guarnição dos filisteus, como que uma cunha de inimigos no meio do povo e, tendo recebido o comando de mil soldados, tratou de eliminar esta “brecha” do inimigo.

Estava, portanto, a cumprir a vontade do Senhor. 

Saul convocou o povo e ficou a aguardar a Samuel para que este viesse oferecer sacrifícios ao Senhor antes que fossem para a batalha, como, aliás, já havia se tornado “tradicional” desde os dias em que Samuel havia levado o povo ao arrependimento, 20 anos após o desfazimento do tabernáculo. 

– Saul tinha aprendido a lição de que se deveria aguardar a invocação solene do Senhor antes da tomada de decisões.

Fora assim que ocorrera em Ramá, quando foi ungido por Samuel como rei em Israel. Foi assim que se deu em Gilgal, quando lhe foi confirmado o reino. 

– Saul esperou os sete dias, mas Samuel não havia ainda chegado a Gilgal e o povo, que estava temeroso com a movimentação dos filisteus, espalhava-se, indo fazer companhia aos que estavam escondidos em todos os lugares que já falamos. 

– Saul, então, tomou uma deliberação: resolveu ele próprio oferecer sacrifícios a Deus, a fim de que não houvesse mais demora e acabasse ficando sozinho ou sem condições de ter uma força militar capaz de enfrentar os filisteus (I Sm.13:8,9). 

Mal terminou ele de oferecer o sacrifício, Samuel chegou e Saul foi encontrá-lo e saudá-lo, mas foi duramente repreendido pelo profeta, tendo, então, Saul procurado justificar a sua atitude, dizendo que, se não tivesse feito o sacrifício, ficaria sem soldados para guerrear.

Samuel, entretanto, não aceitou a justificativa e afirmou que Deus ia confirmar o reino de Israel para sempre a Saul, mas que, em virtude de sua atitude, o reino de Saul não subsistiria e que o Senhor buscaria outro rei, que fosse segundo o seu coração, para que fosse chefe sobre o Seu povo (I Sm.13:10-14). 

– Saul havia traspassado os limites do reino. Havia sido escolhido para reinar sobre Israel, mas o rei não tinha qualquer papel sacerdotal.

O sacerdócio continuava com os filhos de Arão, nada havia sido mudado a este respeito e Samuel, que fora inserido na linhagem sacerdotal, ante a total degeneração da casa de Eli, tinha a credibilidade e respeitabilidade para oferecer sacrifícios em favor do povo em momentos como da iminência de uma guerra.

– Saul não compreendera que, como rei, estava debaixo da lei do Senhor. Ele era o rei, governava o povo, mas Deus ainda tinha o controle de tudo. Não poderia ele simplesmente desobedecer à lei do Senhor, até porque era dever do rei observar os mandamentos (Dt.17:18-20). 

– Saul comportou-se como um rei gentio, achando-se acima do bem e do mal, considerando-se um verdadeiro deus, já que, se se pode desprezar a lei do Senhor, é porque se entende que se está no mesmo patamar de Deus.

Saul caiu no velho engodo de Satanás, que levou o primeiro casal a entender ilusoriamente que poderia ser “igual a Deus”, “sabendo o bem e o mal” (Gn.3:5). 

– Eis a gravidade da atitude de Saul: ele atentou contra a autoridade divina. Ele abusou de sua posição, ele se fez semelhante ao Senhor, com poder de dizer o que se deve e o que não se deve fazer.

E há algo que torna a sua atitude mais grave do que a dos reis gentios: é que ele quis, com o sacrifício, agradar a Deus, dizendo ao próprio Senhor o que Lhe agradaria ou não,

algo que os reis gentios, pelo menos, não faziam, já que não criam na existência de um único e verdadeiro Deus e sim de deuses que precisavam ser agradados para serem propícios. 

Além de querer se sobrepor ao próprio Senhor, Saul não deu mostra de qualquer arrependimento.

Ao ser repreendido por Samuel, procurou se justificar e, ante a sentença de que seu reino não subsistiria, não demonstrou qualquer vontade de mudar de atitude.

Simplesmente, prosseguiu os seus planos, contando o povo que estava com ele, apenas seiscentos homens, arrumando o exército para a batalha, como se nada tivesse acontecido (I Sm.13:15-23). 

– Estando em evidente desvantagem numérica, Saul resolveu não atacar os filisteus, que haviam se concentrado em Micmaás, onde Saul havia estabelecido, inicialmente, os seus homens. Mais uma vez, quem tomou a iniciativa da guerra foi Jônatas, que, acompanhado de seu moço, foi até a guarnição dos filisteus.

– Jônatas pediu um sinal a Deus, a de que os filisteus, quando o avistassem, chamassem-no para a batalha.

Foi o que os soldados fizeram e, então, Jônatas, acompanhado de seu moço, foi lutar contra os filisteus, tendo matado vinte homens, ocasião em que houve um grande tremor no arraial, vindo da parte de Deus,

o que causou um alvoroço que fez com que os filisteus fugissem e Saul, com seus homens, entrasse em ação, o que despertou até os israelitas que estavam escondidos, trazendo grande derrota aos filisteus (I Sm.14:1-22).

 – A vitória só não foi maior porque Saul havia determinado que o povo ficasse em jejum durante a batalha, o que lhes causou uma exaustão física que não lhes permitiu destruir totalmente o inimigo (I Sm.14:24).  

 – Esta determinação de Saul pôs em risco a própria vida de Jônatas, que não sabendo do voto de Saul, acabou por se alimentar e, não fosse o povo, Saul teria matado o seu próprio filho, a mostrar, então,

como já estava espiritualmente insensível, preso a um formalismo sem sentido, como sói ocorrer com aqueles que perdem a direção de Deus (I Sm.14:25-52). 

– Além de ter quase causado a morte de Jônatas, o voto impensado de Saul fez com que o povo se lançasse aos despojos da batalha contra os filisteus com tamanha fome,

que passou a comer os animais sem os devidos cuidados, degolando os animais no chão e comendo com sangue, em evidente desobediência à lei (I Sm.14:32-34), o que fez com que Saul permitisse o consumo de alimentos, mas dentro dos parâmetros da lei. 

– Ali Saul edificou o seu primeiro altar ao Senhor (I Sm.14:35), em uma demonstração de que não estava mesmo a cuidar bem de sua vida espiritual, pois demorara dois anos para adorar ao Senhor.

Este descuido mostra-nos, com clareza, que não basta sermos salvos, termos mudança do nosso coração e sermos habitação do Espírito Santo, é extremamente necessário que estejamos constantemente diante do Senhor, para que não fracassemos espiritualmente.

Outra consequência da perda da direção divina de Saul foi o fato de que, em virtude disto, Saul não conseguiu livrar os israelitas dos filisteus, vivendo em guerra contra eles durante todo o seu reinado (I Sm.145:52).

Não há como atingir os objetivos traçados por Deus a nós se não formos fiéis a Ele. Pensemos nisto! 

III – O SEGUNDO TESTE E FRACASSO DE SAUL 

– O Senhor havia dito que o reino de Saul não subsistiria mais, que estaria a escolher alguém, segundo o Seu coração, para substituí-lo.

Saul fora reprovado como rei e sua família não permaneceria reinando sobre Israel. Era este o sentido da sentença divina ante a rebeldia demonstrada por Saul. 

– No entanto, Saul ainda não havia sido rejeitado como rei nem como pessoa.

O Senhor, como demonstrou claramente ao elencar as bênçãos e maldições ao povo de Israel no chamado pacto palestiniano (Lv.26; Dt.28), não traz os castigos de uma só vez, fá-lo em “conta-gotas”, querendo o arrependimento, pois não tem prazer na morte do ímpio, quer que todos os homens se salvem (Ez.18:23; 33:11; I Tm.2:4). 

– Assim, Saul ainda era o rei de Israel, aquele que o Senhor escolhera para reinar e, como tal, ainda não havia sido desamparado por Deus.

Não nos esqueçamos, ainda, que, apesar de seu grave pecado, Saul tinha a intercessão de Samuel a seu favor e Deus ouve as orações daqueles que O temem (Jo.9:31). 

– Por isso, Samuel vem até Saul, em data que a Bíblia não informa, mas que os cronologistas bíblicos Frank Klassen e Edward Reese dizem ter sido no décimo quinto ano do reinado de Saul, por volta de 1.050 a.C.,

a fim de determinar que ele destruísse os amalequitas, a fim de cumprir o desígnio divino já externado quando os amalequitas, traiçoeiramente, guerrearam contra Israel no início de sua jornada pelo deserto rumo a Canaã (Ex.17:8-14). 

Esta ordem dada por Deus a Saul é objeto de algum questionamento por alguns que veem neste trecho uma “crueldade” divina e, a partir deste pensamento, criticam as Escrituras e o Deus da Bíblia.

Tanto assim é que, por causa de passagens como estas, Marcião criou a sua heresia de que havia dois deuses:

um cruel e malvado, o Deus do Antigo Testamento e outro

bom e misericordioso, o Deus do Novo Testamento. 

– No entanto, nada disso é verdadeiro, há um único e verdadeiro Deus, que é bom (Sl.73:1; Jr.33:1; Lm.3:25; Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19),

bondade que se manifesta de forma sem igual para o Seu povo, para os limpos de coração, para os que se atêm a Ele, para a alma que O busca;

Deus, que é clemente e misericordioso (Ex.34:6; Dt.4:31; II Cr.30:9; Ne.9:31; Sl.78:38; Sl.103:8; 111:14; 112:4; Jl.2:13; Jn.4:2; Lc.6:36; Hb.8:12; Tg.5:11), para com todos aqueles que se arrependem de seus pecados e pedem perdão pelas suas faltas. 

– Este mesmo Deus, no entanto, também é justo e, na Sua justiça, retribui o mal cometido com o devido castigo, pois, se Sua bondade e misericórdia faz com que seja tardio em irar-Se,

dá tempo ao homem para se arrepender, o que o faz um Deus longânimo (Nm.14:18; Sl.103:8; Jn.4:2; II Pe.3:9), o fato é que chega o momento da ira ser derramada,

chega o instante em que o castigo deve ser aplicado ante a impenitência apresentada (Nm.11:1; Dt.29:23; Js.7:26; Jó 9:13; 21:17; Sl.30:5; 78:49,50; Is.5:25; Is.42:25; 66:15; Jr.3:5; Lm.2:1; Os.12:14; Na.1:6; Ap.6:17; 14:10; 16:19). 

– Foi exatamente o que ocorreu aqui. Como diz o próprio texto sagrado (I Sm.28:18), Deus resolvera aplicar Sua ira sobre Amaleque que, desde aquele episódio no deserto, não deixara de se opor a Israel, não deixara de querer mal ao povo de Deus, devendo, assim, ser devidamente castigado, e com a completa destruição. 

– A ordem de Deus transmitida a Saul por Samuel não deixava qualquer sombra de dúvida.

Ele deveria ferir a Amaleque e destruir totalmente esta nação, matando a todos os amalequitas e seus animais (I Sm.15:1-3).

– Saul, então, convocou o povo, formou um exército com duzentos e dez mil homens, indo até Amaleque, tendo, antes,

tido o cuidado de avisar os queneus que se retirassem dali, tendo, então, os queneus, que eram os descendentes do sogro de Moisés, saído do meio dos amalequitas e garantido a sua sobrevivência. 

– Saul, então, atacou os amalequitas e os destruiu, poupando, porém, a família real, tendo também poupado ao melhor dos animais (I Sm.15:4-9). 

– O Senhor, então, trouxe uma palavra a Samuel, dizendo ter Se arrependido de haver posto a Saul como rei, porque ele deixara de segui-l’O e não executara as Suas palavras. Samuel, então, contristou-se e toda a noite clamou ao Senhor (I Sm.15:10,11). 

– Esta passagem traz-nos importantes lições.

A primeira é que Saul estava no campo de batalha, em Amaleque, mas Deus tudo estava vendo e, quando verificou a desobediência do rei, foi falar a Samuel, que, muito provavelmente, estava em Ramá, a respeito do acontecido e de isto desagradara a Deus.

– Deus é onisciente, onipresente e onipotente. Não há como escaparmos d’Ele, de modo que Ele está bem presente quando, longe da igreja e longe dos irmãos, pecamos contra Ele, desobedecemos-Lhe.

Grande tolice é tentar esconder um pecado, pois, sendo o pecado algo entre nós e Deus, assim que o cometemos, Deus já está ciente de sua prática e só nos resta, portanto, confessá-lo e deixá-lo para alcançarmos a Sua misericórdia (Pv.28:13).

Esconder o pecado das outras pessoas é tarefa inútil, pois pecado é assunto nosso com Deus e o Senhor, se o quiser, tudo revelará a Seu tempo (Mt.10:26). 

Deus não só viu o pecado praticado por Saul e pelo povo como também tudo revelou a Samuel, o homem de Deus daquele tempo, que intercedia pela nação e que havia sido o instrumento divino para que houvesse a destruição de Amaleque.

 – Deus não muda e não permitirá que os Seus profetas não saibam os Seus segredos, a fim de que o povo do Senhor não venha a ser prejudicado com as desobediências das lideranças (Am.3:7).

Não é à toa que muitos líderes, na atualidade, persigam tanto os profetas que há na casa de Deus… 

– A segunda lição é a de que Deus está pronto a falar com aqueles que têm uma vida devocional.

Deus falou com Samuel porque ele estava em oração, buscando a Sua face, muito provavelmente à noite, de madrugada, já que o texto diz que o profeta clamou toda a noite ao Senhor depois de ter recebido esta mensagem. 

– Samuel era um homem já de idade avançada, que estava “aposentado” das tarefas administrativas, mas que continuava a ter uma vida de oração e de busca da face do Senhor.

Que exemplo a ser seguido! Porque tinha uma vida devocional, Deus continuava a falar com ele. 

– É lastimável vermos que hoje muitos, a esmagadora maioria dos que cristãos se dizem ser não tenham qualquer vida devocional.

Correm de um lado para outro, gastam seu tempo com tantas coisas, mas desprezam completamente seu relacionamento com Deus, não oram, não meditam nas Escrituras e, mal e mal, vão ao culto,

e uma vez por semana, normalmente domingo à noite (quando não há ceia do Senhor no sábado à noite, porque, então, acham demasiado ir à igreja no dia seguinte…). 

Não é por outro motivo que temos hoje igrejas que estão espiritualmente frágeis, cuja membresia não sente a presença de Deus, nem tem um comportamento que os distinga dos incrédulos.

São pessoas totalmente influenciáveis, que cedem às tentações, aos modismos, aos ventos de doutrina e que se enganam, achando que, vivendo desta maneira, têm garantida a salvação. Tomemos cuidado, amados irmãos! 

– Samuel era um homem que tinha uma vida de intimidade com Deus, era, por isso mesmo, o baluarte da nação, embora já tivesse deixado de julgar a Israel, e com quem o Senhor podia contar, a ponto de lhe contar o Seu sentimento a respeito de Saul.

– A terceira lição é a de que o “arrependimento” de Deus é uma expressão que procura nos fazer compreender, com conotações humanas, a ação divina de retribuição a uma atitude humana reprovável diante do Senhor.

Deus não muda (Ml.3:6), n’Ele não há sombra de variação (Tg.1:17) e, por isso mesmo, quando o homem muda o seu comportamento diante do Senhor, Deus necessariamente terá de retribuir esta modificação, para Se manter o mesmo, para mostrar ser imutável como o é.

– Assim, se Deus havia escolhido Saul para reinar sobre Israel, havia lhe dado às devidas condições para exercer esta função, a partir do momento que Saul se rebelava contra o Senhor, insistia em desobedecer-Lhe, haveria de ser desamparado, deixado à própria sorte por Deus, precisamente porque não tinha mais comunhão com Deus.

Deus, assim, não estava mudando de atitude, que é o significado de “arrepender-se”, mas, ante a mudança de atitude do homem, deixando de lhe ser favorável, para agora passar a desfavorece-lo, como retribuição ao seu pecado e impenitência. 

– A quarta lição é a de que o servo de Deus é amoroso e misericordioso. Ao saber da mensagem divina, Samuel não passou a odiar Saul, nem a lhe querer mal, mas, imediatamente, passou a clamar a Deus durante toda a noite, intercedendo por Saul.

Devemos ter o mesmo sentimento divino já mencionado acima, qual seja, o de não ter prazer na morte do ímpio e querer que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade.

OBS: Oportuno registrar o que Flávio Josefo fala desta intercessão de Samuel por Saul:

“…Esta aversão de Deus por Saul feriu tão vivamente o profeta, com uma dor tão forte, que lhe rogou durante toda a noite que lhe perdoasse;

não pôde obter perdão, porém, pois Deus não achou justo perdoar tão grande ofensa, em vista do intercessor, porque, aqueles que, pela afetação de uma falsa glória de clemência, deixam crimes impunes, são causa de que estes se multipliquem.

Assim, Samuel vendo que não conseguia aplacar a Deus, com suas orações, foi, ao despontar do dia, encontrar-se com Saul em Gilgal.…” (Antiguidades Judaicas VI, cap.8, n. 232. In: JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.134).

– Samuel, depois de ter clamado ao Senhor, logo de madrugada, foi ao encontro de Saul, sabendo que ele já estava no monte Carmelo, indo em direção a Gilgal, precisamente o lugar onde tivera confirmado o seu reino (I Sm.15:12-16). 

– Samuel encontra-se com Saul e pergunta a respeito do balido de ovelhas que ouvia, tendo Saul, então, da forma mais natural possível, dito que eram as ovelhas que tinha trazido de Amaleque, com o fim de oferecê-las e às vacas ao Senhor em sacrifício, sendo que o restante havia sido totalmente destruído. 

– Uma vez mais vemos Saul procurando justificar o seu pecado. Tinha plena consciência de que esta não tinha sido a ordem divina, tanto que faz questão de dizer que, tirando a família real, as ovelhas e as vacas, tudo o mais havia sido destruído, omitindo, obviamente, que o “restante” era composto de “toa coisa vil e desprezível” (I Sm.15:9). 

– Samuel, então, diante desta atitude de Saul, que revelava impenitência, pede ao rei que recebesse uma mensagem da parte do Senhor, mensagem que Samuel entrega apenas a Saul, de forma privada (I Sm.15:16). 

– Samuel mostra aqui como deve ser prudente o servo do Senhor. Havia recebido, em sua intimidade para com Deus, uma mensagem a respeito de Saul e entregou tal mensagem apenas a Saul.

Não quis criar alvoroço, não quis desestabilizar o povo de Deus. Tratava-se de um assunto entre Deus e Saul, e, portanto, somente Saul dele deveria tomar conhecimento. 

– Nos dias hodiernos, são poucos os que preservam a intimidade das pessoas, e isto é fundamental para que se tenha a devida dignidade.

Vivemos dias de intensa publicização da vida privada das pessoas, até diante do fenômeno das redes sociais e de uma certa falta de vigilância da parte de alguns, mas, como servos de Deus, ainda que as pessoas não sejam tão cuidadosas com a sua própria privacidade, jamais podemos expor o próximo.

Samuel não o fez, apesar de o assunto envolver o próprio reino de Israel.

– A mensagem de Deus para Saul iniciava lembrando que Saul, sendo pequeno em Israel, havia sido escolhido para reinar.

Vindo da menor das famílias da menor das tribos de Israel, era, agora, ele o principal israelita.

No entanto, tinha esquecido da sua pequenez, achava-se maior do que Deus, a ponto de entender poder desobedecer ao Senhor, fazer o que bem quisesse e ter ainda a “compreensão” divina, já que Lhe ofereceria sacrifícios, como se Deus pudesse ser comprado ou agradado com dádivas humanas. 

– O Senhor, então, relembrou a Saul qual tinha sido a Sua ordem, ou seja, a completa destruição de Amaleque, mas, ao contrário, havia recolhido despojos, o que era mal aos olhos do Senhor.

Devemos cumprir a vontade do Senhor, fazer aquilo que Ele nos manda. Não existe “jeitinho”, não existe “meia obediência”. Ou fazemos o que Ele nos manda, ou não. Pensemos nisto

– Ante esta repreensão, Saul mostra toda a sua impenitência. O rei quis “discutir” com Deus, “debater” com Ele, convencê-l’O.

Disse que havia, sim, cumprido a ordem de Deus, mas que havia poupado Agague, o rei dos amalequitas, e sua família e que o povo havia tomado o despojo das ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao Senhor em Gilgal. 

Saul, por primeiro, mente, pois diz ter cumprido o que Deus havia mandado, quando não o fizera.

Quando nos distanciamos de Deus, a mentira sempre exsurge, ainda que sob a forma de uma “meia verdade”, até porque a “meia verdade” é uma mentira inteira. 

– Por segundo, Saul não justifica porque havia poupado a família real amalequita.

Se, para as ovelhas e bois, tinha a desculpa do oferecimento de sacrifício, como justificar a manutenção com vida do rei Agague.

A omissão dolosa, ou seja, intencional, é outra característica do distanciamento a Deus.

Esconde-se sempre aquilo que é mau, aquilo que está em desacordo com a Palavra de Deus.

Por isso, aliás, o Senhor disse que quem ama as trevas não vem para a luz para que as suas obras não se manifestem (Jo.3:19-21). 

– Por terceiro, Saul recorre a um velho artifício: pôr a culpa no outro. Atribuiu ao povo a ideia de poupar o melhor dos despojos para oferta de sacrifícios, como se ele não fosse o rei e tivesse autoridade para impedir que o povo o fizesse.

Verdade é que, no episódio envolvendo Jônatas, Saul já tinha cedido ao povo e demonstrado uma certa perda de autoridade, mas o fato é que, aqui, estava ele a agir sob ordem expressa de Deus, o que era bem diferente daquela outra situação, decorrente de um voto impensado de sua parte. 

– Ademais, desde o primeiro instante de seu reinado, Saul havia feito prevalecer sua vontade por meio da força, como quando empreendeu a guerra contra os amonitas e, portanto, como ocorrera daquela vez, certamente uma voz contrária sua a esta poupança de animais teria sido acatada pelo povo.

E tudo não passava de desculpa, pois o texto sagrado é claríssimo ao dizer que isto acontecera porque Saul e o povo assim o tinham querido (I Sm.15:9). 

– Ante esta argumentação de Saul, o profeta traz uma resposta divina ao rei, a nos mostrar como Deus considera o ser humano.

O profeta diz a Saul que Deus não tem tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios como em obediência e que o obedecer era melhor que o sacrificar e o atender, melhor que a gordura de carneiros.

Também afirmou que a rebelião é como o pecado de feitiçaria e que o porfiar, como iniquidade e idolatria e que, por ter Saul rejeitado a Palavra do Senhor, também era rejeitado pelo Senhor para que não fosse rei (I Sm.15:22,23).

– A afirmação do profeta não era novidade, pois Deus não muda e Sua palavra não passa (Mt.24:35; Lc.21:33). Já na lei, estava estatuído que a obediência era o que Deus mais queria de Seu povo (Dt.10:12,13).

E somente pode obedecer ao Senhor quem O amar sobre todas as coisas, que é o primeiro e grande mandamento da lei (Mt.22:36-38). 

– No entanto, Saul, sendo o rei de Israel, achava que podia “comprar” o Senhor com sacrifícios, tinha a possibilidade de também “comandar” a Deus, como se fosse um outro deus ou um semideus, a exemplo do que se arrogavam os monarcas das demais nações. 

– Não havia dúvida que a gordura era do Senhor (Lv.3:16; 7:23,25), mas também nós somos do Senhor (Sl.24:1) e Israel era do Senhor (Ex.19:5), de modo que, antes de sacrifícios, o Senhor requeria deles a obediência, a submissão.

– O Senhor mostrava claramente a Saul que ele havia sido rebelde ao Senhor, ou seja, havia atentado contra a Sua autoridade. Havia decidido o que fazer, a despeito de Deus lhe ter dado uma ordem.

E a rebelião, disse o Senhor, era como o pecado de feitiçaria, uma vez que o rebelde acha que pode manipular a Deus, fazer-se favorável ao Senhor através de suas atitudes e ações, como se Deus pudesse ser manipulado, assim como feiticeiro tenta manipular as forças sobrenaturais para delas tirar o resultado que almeja. 

– Saul achava que podia lutar contra Deus, que poderia fazer prevalecer a sua vontade em detrimento da vontade de Deus, que poderia “convencer” Deus a fazer a sua vontade e não a d’Ele.

Se é verdade que se Deus for por nós, ninguém será contra nós (Rm.8:31), que ocorrerá se formos contra Deus? Que, porventura, poderá ser por nós? Isto é o que o rebelde, como Saul, não consegue enxergar. Se não estivermos fazendo a vontade de Deus, não haverá como subsistirmos. 

– Diante desta duríssima mensagem, qual foi a reação de Saul?

Arrependimento, contrição? De forma alguma! Saul, mostrando como estava espiritualmente insensível, confessou o seu pecado, admitiu que havia traspassado o dito do Senhor e as Suas palavras,

porque havia temido o povo e dado ouvidos à sua voz, pediu perdão a Samuel e pediu que o profeta voltasse com ele a Gilgal e ali adorasse a Deus com ele (I Sm.15:24,25). 

– Saul confessa o pecado, mas não se arrepende dele. É uma das confissões sem arrependimento que encontramos nas Escrituras Sagradas e que foram muito bem analisadas pelo príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) no seu sermão “Confissão de pecados – um sermão com sete textos” (Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/chspurgeon/confissao_pecado_spurgeon.htm Acesso em 13 ago. 2019). 

– Spurgeon considera que Saul é o “homem insincero”, um homem “…que não tem nenhum ponto proeminente em seu caráter, mas que é sempre modelado pelas circunstâncias que passam pela sua cabeça. Saul era assim. Samuel o reprovou e ele disse: “eu pequei”.

Mas ele não queria realmente dizer aquilo, porque se você ler o verso inteiro, vai vê-lo dizendo:

“porque eu temi o povo”, o que era uma desculpa mentirosa. Saul nunca temeu ninguém; ele sempre estava bastante pronto para fazer sua própria vontade; ele era um déspota.…”(ibid.). 

– Saul queria manter as aparências. Embora rejeitado por Deus, queria se fazer passar por um monarca piedoso e, por isso, queria que Samuel o acompanhasse até Gilgal e ali adorasse com ele ao Senhor, para dar a impressão de que era um rei obediente e fiel ao Senhor. 

– Confessou o seu pecado, não totalmente, pois continuava a culpar o povo, mas tão somente para comover o profeta e fazê-lo ir até o culto que já havia preparado e que o próprio Deus disse que não queria que ocorresse, que não teria prazer em sua realização. 

– Trata-se de uma confissão oportunista, como diz Spurgeon, uma confissão sem arrependimento, que não traz qualquer perdão divino, pois a confissão deve ser acompanhada do abandono do pecado para que se alcance a misericórdia (Pv.28:13). 

– Samuel, homem de Deus como era, recusou acompanhar Saul para este culto abominável (I Sm.15:26) e Saul, usando de violência, tentou segurar Samuel à força, rasgando a capa do profeta.

Samuel, então, disse que, assim como a sua capa havia sido rasgada, também Deus havia rasgado de Saul o reino e dado a um próximo, melhor do que ele e que tal deliberação não voltaria atrás, porque Deus não muda (I Sm.15:27-29). 

– Saul, então, uma vez mais, confessa ter pecado, mas pedia a Samuel que ele o honrasse, indo com ele diante dos anciãos de Israel, para que as aparências fossem mantidas e, assim ele pudesse adorar ao Deus de Samuel.

Observemos que Saul chama a Deus de “Deus de Samuel”, como que a tentar comover o profeta, mas também como que confessando que já não mais servia ao Senhor (I Sm.15:30). 

Samuel, porém, manteve a sua posição e não seguiu com Saul, que, sozinho, participou daquele culto abominável, “adorando ao Senhor” (I Sm.15:31). 

Samuel, porém, não foi para Ramá. Bem ao contrário, usando de sua autoridade como homem de Deus, mandou que lhe trouxessem Agague, o rei dos amalequitas,

e o matou em Gilgal, cumprindo, assim, em parte, o desígnio divino que não fora atendido por Saul e deixando bem claro ao povo o desagrado de Deus para com a atitude que eles haviam tomado, sem que, para isto, tivesse de desautorizar publicamente a Saul (I Sm.15:32-34).

– Samuel apenas matou a Agague, mas a família do rei, que havia sido poupada, manteve-se viva e, séculos depois, seria a responsável pelo quase extermínio do povo judeu, pois, nos dias da dominação persa, seria um descendente desta família, Hamã, o arquiteto de uma destruição do povo judeu (Et.3:1-6). 

Após ter matado Agague, Samuel voltou para Ramá e nunca mais viu a Saul (I Sm.15:35), embora não cessasse de interceder por ele (I Sm.16:1).

 – Saul estava rejeitado agora pessoalmente, tinha mantido sua rebelião contra Deus, não havia se arrependido e, por isso, perdido a sua posição diante de Deus, embora mantivesse a sua posição diante dos homens.

 – Saul constitui-se, assim, como um tipo dos que apostatam da fé. Aqueles que são alvo da graça divina, têm mudado os seus corações, recebem o Espírito Santo, mas, na jornada da fé, vão se descuidando, sem ter uma vida de intimidade e de adoração ao Senhor, e, por fim,

acabam se rebelando contra o Senhor, não Lhe obedecendo, de tal modo que se tornam espiritualmente insensíveis, a ponto de acabarem sendo rejeitados por Deus e não se arrependerem de seus pecados, como fez Saul.

Saul tanto se apartou de Deus que acabou perdendo a Sua benignidade, que dele se apartou (II Sm.7:15).

– Saul, por fim, é um exemplo claro de que se pode, sim, perder a salvação, de que não existe predestinação incondicional.

Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:

“…Rejeitamos a afirmação segundo a qual ‘uma vez salvo, salvo para sempre’, pois entendemos à luz das Sagradas Escrituras que, depois de experimentar o milagre do novo nascimento, o crente tem a responsabilidade de zelar pela manutenção da salvação a ele oferecida gratuitamente:

‘Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo’ (Hb.3:12).

Não há dúvidas quanto à possibilidade do salvo perder a salvação, seja temporariamente [Lc.15:32] ou eternamente [Jo.17:2].

Mediante o mau uso do livre arbítrio, o crente pode apostatar da fé, perdendo, então, a sua salvação:

‘Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá?

De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá’ (Ez.18:24).

Finalmente temos a advertência de Paulo aos coríntios: ‘Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia’ (I Co.10:12). Aqui temos mencionada a real possibilidade de uma queda da graça [II Pe.2:20-22].

 Assim, cremos que, embora a salvação seja oferecida gratuitamente a todos os homens, uma vez adquirida, deve ser zelada e confirmada.” (Cap´. X, p.114). 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4588-licao-6-a-rebeldia-de-saul-e-a-rejeicao-de-deus-i-e-apendice-n-1-saul-consulta-a-feiticeira

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