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LIÇÃO Nº 8 – O EXÍLIO DE DAVI  

   

O antagonismo entre Davi e Saul prefigura a luta que os salvos empreendem neste mundo.

 INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos livros de Samuel, estudaremos hoje o antagonismo entre Saul e Davi.

 – O antagonismo entre Davi e Saul prefigura a luta que os salvos empreendem neste mundo.

 I – O CRESCIMENTO DE DAVI NA CORTE DE SAUL

– A vitória sobre Golias foi um divisor de águas na vida de Davi. Embora o rei Saul não tivesse cumprido a promessa de lhe dar a sua filha em casamento (I Sm.17:25; 18:19),

fez de Davi um dos comandantes do exército de Israel (I Sm.18:5) e nasce, então, o guerreiro, o maior de todos os conquistadores da história de Israel.

A vinculação de Davi com a guerra foi tanta que o próprio Deus não permitiu que Davi construísse o templo, precisamente para impedir que a ideia do sangue e da guerra fossem associadas ao nome do Senhor, que é o Deus da paz (I Cr.22:8). 

– Abner, o comandante do exército de Saul, trouxe Davi, após a vitória sobre o gigante, à presença do rei, tendo o jovem Davi trazido a cabeça do filisteu (I Sm.17:57).

Saul perguntou ao jovem de quem era ele filho, tendo Davi dito que era filho de Jessé, o belemita (I Sm.17:58).

Esta expressão bíblica, como dissemos na lição anterior, mostra que, apesar de Davi frequentar já a corte de Saul, periodicamente, a fim de expulsar o espírito maligno da presença de Saul e ser seu pajem de armas, não o fazia relevante na corte real,

sendo mais um dos muitos serviçais que eram convocados pelo rei, dentro das leis vigentes quanto ao reino, estatuídas quando do estabelecimento da monarquia (I Sm.8:11-21),

que ainda era incipiente e não possuía nenhuma infraestrutura burocrática, até porque nem capital Israel tinha naquela época. 

– Com a vitória sobre o gigante, porém, a situação mudava de figura. Davi se destacara e se tornara um verdadeiro “campeão” dos israelitas,

 de tal maneira que o rei Saul não mais deixou que retornasse para a casa de seu pai, requisitando seus serviços em caráter permanente (I Sm.18:2).

 – Assim que Davi foi levado ao rei Saul e determinado que se mantivesse servindo na corte, a Bíblia dá-nos conhecimento de que surgiu uma amizade à primeira vista entre Davi e Jônatas, filho de Saul, outro valoroso guerreiro de Israel e que, em teoria, era o herdeiro do trono. 

 – Jônatas, cujo nome significa “Deus nos deu” ou “dado por Deus”, era o filho primogênito de Saul (I Cr.9:39) e, como tal, naturalmente era o herdeiro da coroa de Israel.

Como se não bastasse isso, tratava-se de um valoroso guerreiro, que tinha sido o principal responsável pela vitória de Israel sobre os filisteus na primeira guerra que havia ocorrido entre estes povos sob o reinado de Saul,

vitória este que fez com que Jônatas se tornasse extremamente popular entre os soldados, a ponto de ter o exército se voltado contra o próprio Saul quando este, por um voto atrevido, condenou seu próprio filho à morte (I Sm.14). 

– Assim como ocorrera com o mancebo que havia anunciado a Saul a respeito de Davi quando o rei estava a procurar alguém que o pudesse livrar do mau espírito que o afligia, Jônatas, também,

que a Bíblia indica ter sido um homem fiel e temente a Deus, viu em Davi, logo no primeiro instante, um jovem que era valente, animoso, homem de guerra, sisudo de palavras, de gentil presença e com quem estava o Senhor (I Sm.16:18). 

– Vemos, mais uma vez, agora através das impressões de Jônatas, que a visão espiritual é reservada única e exclusivamente para aqueles que temem a Deus, para os Seus servos.

Assim como o jovem mancebo, Jônatas pôde ver em Davi muito mais que um “campeão”, mas alguém com quem Deus era, alguém escolhido pelo Senhor. Seus olhos eram espirituais, sua mente era espiritual.

 – Da mesma maneira, nós, que servimos a Deus e que temos o Espírito Santo, temos de ter a mente de Cristo (I Co.2:16), tudo discernindo espiritualmente (I Co.2:13-15).

Nos dias difíceis em que vivemos, onde até mesmo os escolhidos correm risco de ser enganados (Mt.24:24), torna-se indispensável que tenhamos sempre a iluminação provinda da luz do evangelho de Cristo (II Co.4:4).

A falta de comunhão com Deus, a prática do pecado e a carnalidade têm cegado a muitos, entretanto, que não conseguem ter a visão que Jônatas teve em relação a Davi. 

– O resultado desta visão espiritual que Jônatas teve em relação a Davi fez surgir entre eles um profundo amor (I Sm.18:1).

Este amor entre Davi e Jônatas é uma das mais eloquentes demonstrações bíblicas da sublimidade do amor de Deus sobre todo e qualquer outro sentimento humano a que denominamos de “amor”.  

– Jônatas tinha todos os motivos para odiar Davi e querer seu mal: o surgimento daquele jovem, que se tornara o “campeão” da segunda guerra entre filisteus e israelitas, que seria extremamente popular não só entre os soldados, mas também entre as mulheres,

que viria a se tornar o genro do rei, punha na corte um concorrente direto para o trono de Israel.

Se tinha alguém que deveria se levantar contra Davi na corte seria Jônatas, diretamente ameaçado de se tornar, como tudo indicava, de ser o segundo rei de Israel. 

– No entanto, ao longo da história, veremos em Jônatas alguém que sempre esteve disposto a defender Davi, inclusive sabendo que Deus o havia escolhido para suceder seu pai no trono.

Por incrível que possa parecer, será Saul quem perseguirá Davi e não, Jônatas, que, inclusive, se voltará contra Saul na sua defesa de Davi, algo que o rei jamais compreenderá (cf.  I Sm.20:30,31).

 – Jônatas tinha um amor completamente desinteressado com Davi, e foi correspondido neste sentimento, pois Davi, já no trono, beneficiará Mefibosete, precisamente por ser este filho de Jônatas (I Sm.9:1).

É este um verdadeiro tipo do amor de Deus que todos os filhos de Deus devem ter, visto que foi ele derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5),

o amor que levou Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo até a cruz do Calvário, para morrer em nosso lugar, quando nós ainda éramos pecadores (Rm.5:8), o amor que é tão esplendidamente descrito por Paulo em I Co.13. 

– Este sentimento que fez o Senhor nascer entre Jônatas e Davi era mais uma providência divina para que se pudesse prosseguir o plano divino não só para Davi mas para a humanidade,

 uma vez que a escolha de Davi para reinar sobre Israel não estava apenas relacionada com a aliança estabelecida no Sinai entre Deus e Israel, mas com a própria salvação na pessoa de Jesus Cristo,

que quis o Senhor fosse descendente de Davi, que tinha de dar início a uma dinastia para que o Cristo fosse, também, Rei de Israel e não somente Rei de Israel mas Rei dos reis e Senhor dos senhores. 

– O texto sagrado é bem claro ao mostrar que o amor existente entre Davi e Jônatas era de ordem espiritual, pois Jônatas ama a Davi como a sua própria alma (I Sm.18:1,3), ou seja,

não se trata de qualquer atração física ou de qualquer inclinação carnal, mas de um amor surgido da sua visão espiritual, que viu em Davi um homem segundo o coração de Deus, um escolhido de Deus. 

– Jônatas, diante desta visão espiritual que teve, fez uma aliança com Davi, o que será explicitado mais à frente na narrativa, como também se despojou de sua capa que trazia sobre si e a deu a Davi, como também seus vestidos, sua espada, seu arco e seu cinto (I Sm.18:3).

– Neste gesto, Jônatas demonstrou, claramente, que viu em Davi o ungido de Deus como era o herdeiro do trono, ao perceber que Deus era com Davi, de imediato, discerniu que Davi havia sido escolhido pelo Senhor para suceder Saul.

Como Jônatas poderia perceber isto? Por dois motivos: por primeiro, porque, como herdeiro do trono, certamente tinha conhecimento daquilo que Samuel havia dito a Saul, ou seja,

que o rei havia sido rejeitado e que o Senhor já havia escolhido alguém para sucedê-lo (I Sm.13:14; 15:28);

por segundo, por ser um homem temente a Deus, certamente sentiu da parte do Senhor que ali estava quem havia sido “o escolhido” de Deus mencionado por Samuel. 

– Dirá alguém que Jônatas não tinha o Espírito Santo, pois, naqueles dias, o Espírito era dado sob medida e, desta maneira, não tinha ele como ter o discernimento espiritual por não ser habitação do Espírito, como têm os salvos na atual dispensação.

No entanto, não podemos deixar de observar que, embora estivéssemos no tempo da lei, havia homens e mulheres fiéis ao Senhor e o Senhor jamais os deixaria à mercê de Seus planos e propósitos.

Deus falava por meio dos profetas e aqueles que criam n’Ele certamente criam no que diziam os profetas.

Jônatas teve conhecimento do que Samuel disse a Saul e, portanto, ao ver Davi vitorioso como o foi, em nome do Senhor, assim como aquele mancebo, percebeu nitidamente que Deus era com Davi. 

– Esta percepção de Jônatas e do mancebo mostra-nos, claramente, que, em todos os tempos, Deus sempre tem um remanescente que Lhe é fiel.

Sempre há aqueles que não dobram seus joelhos a Baal e que, a despeito de posição, classe social, riqueza, erudição, estão atentos ao Senhor e à Sua Palavra.

Tanto o mancebo anônimo que deu notícia da existência de Davi a Saul como o príncipe herdeiro Jônatas tiveram condições de ver em Davi a ação divina em prol de Seu povo.

Que sejamos como eles e, numa época em que este discernimento é muito mais amplo que no tempo da lei, possamos desfrutar da imensa bênção de possuirmos a mente de Cristo e sermos homens espirituais (I Co.2:13-16). 

– É triste ver, entretanto, que muitos, nos dias em que vivemos, estão como Saul e Abner, incapazes de saber quem era Davi e que se contentaram em saber quem Davi era tão somente do ponto-de-vista biológico e social, como o filho de Jessé.

Quantas vezes, somos levados a desconsiderar e a desconhecer vasos abençoados que o Senhor tem levantado no meio do Seu povo, por vermos neles só um jovem pastor e pajem de armas, não um ungido do Senhor. 

– O gesto de Jônatas mostra que o amor de Deus é sempre acompanhado tanto de desapego às coisas materiais quanto de atitudes e não apenas de palavras. Jônatas não foi elogiar Davi, como seria natural.

Como príncipe herdeiro, se assim procedesse, já seria uma grande honra àquele jovem pastor. 

– Entretanto, Jônatas não se contentou em apenas falar, mas, como era possuído do verdadeiro amor, do amor provindo da parte do Senhor, não ficou apenas em palavras, mas amou por obra e em verdade e,

na frente de todo o povo (ou, pelo menos, de forma a que todo povo tomasse conhecimento, pois não o fez secretamente), despojou-se de tudo aquilo que o distinguia diante de todo o povo.

Abriu mão de sua capa, de seus vestidos, até de sua espada (arma com a qual tivera retumbante vitória sobre os filisteus e que somente ele e Saul possuíam em Israel — I Sm.13:22; 14:13,14), de seu arco e de seu cinto, dando-os a Davi.

– Assim como Jônatas, um dia fomos ao encontro de Jesus e entendemos, pelos olhos da fé, que Ele é o Cristo, o Ungido de Deus. Será que fizemos como Jônatas?

Será que nós O amamos como a nossa própria alma? Se o fizemos, certamente não tivemos dificuldade em tudo entregar ao Senhor: a capa, os vestidos, a espada, o arco e o cinto.

Será que podemos cantar, do fundo da nossa alma e com sinceridade, o hino 295 do Cantor Cristão (hinário batista) “Tudo entregarei”, de autoria de Judson W. Van de Venter (1855-1939), traduzido por George Benjamim Nind (1860-1932) cuja primeira estrofe e refrão dizem:

“Tudo, ó Cristo, a Ti entrego, Tudo sim, por Ti darei! Resoluto, mas submisso, Sempre a Ti eu seguirei! Tudo entregarei! Tudo entregarei! Sim, por Ti, Jesus bendito, Tudo deixarei!”. 

– Embora tivesse Davi tido uma grande vitória que trouxera o reconhecimento pessoal tanto do rei Saul quanto do príncipe herdeiro Jônatas, em nada o jovem pastor modificou seu comportamento.

Diz-nos o texto sagrado que, incorporado ao exército do rei em caráter permanente, Davi saía aonde quer que Saul o enviava e se conduzia com prudência, tendo o rei posto o ex-pastor de ovelhas sobre a gente de guerra, sendo Davi aceito por todo o povo e até aos olhos dos servos de Saul (I Sm.18:5). 

– Que grande exemplo nos dá Davi, que, neste ponto, uma vez mais, tipifica o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Servo do Senhor por excelência (Is.42:1).

Apesar de todas as honrarias e do prestígio recebidos, Davi, em momento algum, deixou de ser submisso ao rei Saul. “Saía aonde quer que Saul o enviava”.

O ungido de Deus deve ser um exemplo de obediência a todos quantos estão à sua volta.

Afinal de contas, como podemos obedecer a Deus, a quem não vemos, se não obedecemos aos homens a quem vemos? 

– Dirá alguém, repetindo os ensinos do “anarquismo cristão”, notadamente o do escritor russo Leo Tolstói (1828-1910), que o salvo não pode servir aos homens, com base em I Co.7:23.

Todavia, este ensino não é correto, porquanto desconsidera o contexto em que o apóstolo Paulo disse esta palavra.

O ensino bíblico é que devemos, sim, reconhecer as relações sociais existentes, servindo àqueles que estão em eminência, as autoridades constituídas, visto que toda autoridade é constituída por Deus (Rm.13:1,2).  

– Pouco importa se aqueles a quem devemos obediência (governantes, pais, patrões, agentes públicos, chefes e encarregados nos locais de trabalho ou repartições, professores, diretores de estabelecimentos etc.) são, ou não, servos do Senhor.

Como pessoas que buscam assemelhar-se a Cristo Jesus, que estão no caminho de chegar à Sua estatura (Ef.4:13), temos o dever de imitar Jesus (I Co.11:1), que, durante Seu ministério terreno, sempre foi sujeito a quem devia obediência (Lc.2:51; Mt.17:24-27; 22:21; Jo.19:11).

O limite da obediência é a Palavra de Deus (At.5:29; Ef.6:1), sendo, pois, este o sentido de I Co.7:23. 

– Davi sempre foi obediente a Saul, jamais desconsiderando a condição de ungido que o rei ostentava, ainda que, mais do que nenhuma outra pessoa, tivesse a ciência de que era o sucessor de Saul, que havia sido ungido em lugar de Saul, diante da rejeição divina ao primeiro rei israelita.

No entanto, como dava valor à própria unção, também levava em conta a unção de Saul, jamais deixando a sua condição de servo de Saul, condição, aliás, em que Deus o havia posto. 

– Como é belo vermos servos de Deus que têm o mesmo comportamento, obedecendo àqueles que foram postos à frente do rebanho. A Bíblia manda-nos obedecer aos pastores (Hb.13:17).

Logicamente que esta obediência é condicionada à obediência a Deus, mas jamais uma rebelião, que é pecado de feitiçaria (I Sm.15:23), será uma forma de obedecer ao Senhor.

Nossa obediência aos pastores é indispensável para que tenhamos um bom testemunho da parte de Deus.

Davi dá-nos o exemplo. Embora Saul tivesse sido rejeitado por Deus, ainda era o rei e, como tal, Davi devia obedecer-lhe. 

– Mas, além de obedecer a Saul, Davi, também, conduzia-se com prudência.

Como já tivemos ocasião de observar na lição anterior, Davi, como uma pessoa cheia do Espírito Santo, era prudente, tinha a sabedoria divina, algo que nos vem do alto (Tg.3:17),

algo que é resultado de um pedido que fazemos a Deus (Tg.1:5), qualidade que advém ao homem como consequência de seu temor ao Senhor (Sl.111:10a; Pv.9:10a). 

– Davi era prudente quando cuidava das ovelhas de seu pai, como também quando passou a cuidar das armas de Saul. Ao enfrentar o gigante, como vimos, também demonstrou prudência.

Agora que se encontrava “por cima”, gozando da estima do rei e do príncipe herdeiro, também se conduzia com prudência.

A prudência é uma qualidade que advém do nosso conhecimento de Deus (Pv.9:10b), independe das circunstâncias em que nos encontramos: se na tempestade ou na bonança.

Davi não se deixou empolgar, embora fosse jovem e estivesse desfrutando de um período de fama e de sucesso.

Que bom seria que os crentes, notadamente os mais jovens, que são mais afoitos e empolgados por natureza, também corressem aos pés de Jesus, nestes instantes de suas vidas, para que se mantenham prudentes e sábios, a fim de não serem enganados pelo inimigo de nossas almas.

 

– Neste passo, aliás, encontramos um comportamento que não tem respaldo bíblico em nosso meio. Por causa da mocidade e juventude de alguns homens e mulheres que Deus tem levantado,

muitos mais velhos logo tratam de enquadrar os jovens, de negar-lhes oportunidade, dizendo que estão a “prová-los”, a contribuir para que não venham a se ensoberbecer e, com isto, perderem a salvação, estribando-se em I Tm.3:6. 

– No entanto, quando vemos a Palavra de Deus, não encontramos base para esta “provação”, para este freio no ministério dos mancebos, que muito mais parece resultado de inveja do que preocupação com o futuro ministerial destes jovens.

É verdade que o apóstolo Paulo deu, como requisito para a separação ao ministério, que o candidato não seja neófito.

No entanto, “neófito” não significa “jovem”, mas, sim, “recémconvertido”, “plantado há pouco”, “pessoa que vai receber o batismo ou foi recentemente batizada”. 

– Está-se falando, pois, não de idade, mas, sim, de maturidade espiritual, de experiência com Deus, o que nem sempre está ausente na vida do jovem.

Aliás, Timóteo é um exemplo bíblico de um obreiro consagrado ainda jovem, a ponto de Paulo ter aludido a este fato, que era, pelo que se verifica, objeto de preconceito por parte dos crentes (I Tm.4:12).

 – Saul, percebendo o valor de Davi, apesar de sua pouca idade (cf. I Sm.17:33), ao ver que o jovem tinha habilidade e a bênção de Deus, não teve qualquer dúvida em pô-lo diante da gente de guerra (I Sm.18:5).

Como seria bom que muitos dirigentes, nos dias de hoje, tivessem esta mesma atitude, pondo jovens talentosos e que já revelaram ser chamados por Deus à frente de departamentos e atividades na igreja, trazendo o necessário dinamismo e vigor de que a igreja deste tempo do fim tanto carece.

– A prudência de Davi, por ser vinda do alto, fez com que aquele jovem, comandando a gente de guerra, tivesse um comportamento exemplar.

A sabedoria que do alto vem, diz-nos Tiago, é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia (Tg.3:17).

Por se conduzir desta maneira, Davi foi aceito aos olhos de todos, inclusive dos servos de Saul, ou seja, dos demais líderes militares e pessoas de responsabilidade na corte real. 

– O verdadeiro salvo na pessoa de Jesus Cristo tem uma conduta como a de Davi. Impelido pela sabedoria que vem do alto, é pessoa que produz o fruto do Espírito, praticando boas obras, contra as quais não há lei (Gl.5:23).

Será sempre uma pessoa que, com a pureza, é pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia. Uma pessoa assim faz bem a todos quantos o cercam, põe no ar o “bom cheiro de Cristo” (II Co.2:14,15).

 – Mas, se o crente produz estes frutos, por que, então, somos hostilizados pelo mundo?

Precisamente porque o bom cheiro de Cristo produz, para os que se salvam, cheiro de vida, mas, para os que se perdem, cheiro de morte.

Apesar de serem pessoas boas, cujo caráter é reconhecido por todos, não serão todos que irão se regozijar com tal conduta, o que levará o homem ou mulher de Deus a ser hostilizado por aqueles que rejeitam a Cristo.

Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro diz que devemos ser criticados e perseguidos pelo que fazemos de bom (I Pe.2:12). 

– Foi, precisamente, o que sucedeu a Davi. Apesar de aceito aos olhos de todo o povo, inclusive dos servos de Saul, o jovem comandante acabaria por despertar inveja e hostilidade por parte do próprio rei Saul.

 – Davi chefiava um grupo de assalto, ou seja, uma tropa que efetuava ataques repentinos aos inimigos e que trouxe a Davi uma grande popularidade entre o povo.

Mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando, e em danças, com adufes, com alegria, com instrumentos de música (I Sm.18:5,6).

Tais mulheres, em canto responsivo, passaram a dizer que Saul feriu os seus milhares, mas Davi, dez milhares (I Sm.18:7,8). Isto despertou a inveja do rei Saul, que se desgostou ao ouvir as mulheres dizerem que Saul matava milhares, mas Davi, dezenas de milhares (I Sm.18:7,8).

Tendo enfrentado, de início, a inveja de seu irmão primogênito, do qual facilmente pôde se desviar, Davi, agora, passava a enfrentar a inveja daquele a quem servindo estava, o próprio rei Saul. 

– Interessante observarmos que Davi não tinha culpa alguma do que ocorrera. Conduzia-se com prudência e era obediente a Saul, mas o povo, numa ocasião festiva, acabou por colocá-lo em má situação diante do rei.

Esta será a primeira de algumas vezes em que folguedos levados a efeito pelos israelitas e dos quais Davi participou lhe traria problemas em sua vida.

– Na vida da igreja hodierna, não tem sido diferente. O que mais encontramos nas igrejas locais, na atualidade, são folguedos, festividades despropositadas, ou seja, sem propósito de louvor a Deus, de salvação de almas, onde há um nítido desvio de foco, centrando-se na confraternização e no entretenimento.

As mulheres saíram ao encontro do rei Saul para celebrar as vitórias, mas, em vez de agradecerem a Deus por elas, aproveitarem a ocasião para renovarem um pacto com o Senhor, como se fez na vitória sobre os filisteus nos dias de Samuel (I Sm.7:12), quiseram fazer festanças, com danças e instrumentos de música. 

– Este tipo de reunião não faz bem aos servos de Deus. Por causa da inconsequência das mulheres, que dançavam, tocavam e faziam cantos responsivos (ou seja, um grupo cantava e outro respondia, algo similar aos repentistas do Nordeste brasileiro), acabou saindo o cântico desrespeitoso ao rei e que lhe inspirou a indignação e a inveja contra Davi.

 

– Dirão alguns que as mulheres não tinham culpa desta reação de Saul, que não podiam ser censuradas por isto.

Estavam apenas dizendo o que sentiam. Dizem e tem razão em dizê-lo. A indignação e inveja de Saul eram resultado de uma vida espiritual fracassada, de uma rebeldia contra o Senhor, que faziam de Saul um homem voltado para as coisas materiais e, pior do que isto, obcecado com a ideia de que perderia o reino a alguém que seria levantado por Deus, como havia dito o profeta Samuel.

No entanto, é inegável que as atitudes das mulheres eram inconvenientes e completamente dispensáveis.

Criou-se um clima de irreverência em que se começou a dizer o que não se tinha coragem, em que se começou a desconsiderar o monarca, um tipo de celebração que não correspondia à santidade que o povo de Deus deveria ter.

As mulheres deram ocasião a que surgissem maus intentos e é neste ponto que reside o mal que causaram. 

– Não é diferente nos dias de hoje. Os folguedos têm contribuído enormemente para que a irreverência e a carnalidade penetrem em nossas reuniões e em nosso povo.

Isto dá ocasião para que os sentimentos ocultos, as más intenções e os maus desígnios aflorem no meio dos crentes, em grande prejuízo à vida espiritual de todos.

Danças e músicas sensuais, que despertam a emoção, que levam ao balanço do corpo e à satisfação dos sentidos físicos são atividades que só trazem prejuízo espiritual, que em nada contribuem para a adoração e para o louvor, que levam à carnalidade e ao mundanismo.

Não deixemos que estes folguedos favoreçam a ação do inimigo e tragam problemas aos fiéis. 

II – DAVI SOB PERSEGUIÇÃO NA CORTE DE SAUL

– Davi passou, então, a ser duramente perseguido pelo rei Saul, que buscou, mais de uma vez, tirar-lhe a vida.

A perseguição implacável fez com que Davi tivesse de fugir e, assim, perder a sua função no reino, num instante em que, inclusive, já era genro do rei Saul, pois havia sido casado com Mical (I Sm.l8:27).

Saul passou a temer a Davi e a perceber que a unção de Deus estava sobre ele, constituindo-se, portanto, em nítida ameaça a seu reinado. 

– Como resultado daquela malfadada festa das mulheres, Davi passou a ser tido por Saul em suspeita (I Sm.18:9).

Saul começou a desconfiar que Davi era o homem que Deus havia escolhido para sucedê-lo, conforme a palavra que lhe fora pronunciada pelo profeta Samuel (I Sm.13:14; 15:28). 

– Esta suspeita, que nada mais era que inveja (tanto que a NVI traduz a palavra hebraica por “inveja”), era resultado do caráter maligno de Saul.

A inveja é propriedade dos maus (I Jo.3:12), daqueles que se recusam a servir a Deus, a começar de Caim.

Por isso, Asafe disse que, quando começou a sentir inveja dos homens ímpios, estava a ponto de se desviar dos caminhos do Senhor (Sl.73:2,3).

Ter inveja é se pôr nas mãos do inimigo, é começar a andar no caminho de Caim (Jd.11). Que Deus nos guarde da inveja! 

– Não demorou muito para que Saul, assim como Caim, tentasse, pela inveja, matar Davi.

Num dia em que se encontrava atormentado pelo espírito maligno que o afligia, no mesmo instante em que Davi, como sempre, tangia sua harpa, a fim de afugentar o demônio, tendo Saul uma lança na sua mão,

Saul atirou a lança que tinha em sua mão contra Davi, tentando-o encravar na parede por duas vezes, não tendo sido exitoso, porque Davi dele se desviou (I Sm.18:10,11).

– Este episódio é bem elucidativo. Por primeiro, vemos que Saul continuava sendo atormentado pelo espírito maligno e que, naquela ocasião, inclusive profetizava no meio da casa.

Devemos ter o discernimento espiritual para podermos distinguir os espíritos que são de Deus e os que não são (I Jo.4:1).

Quantos, na atualidade, ao verem alguém passear pelo meio da casa de Deus, já vão glorificando e aceitando tudo quanto se faz, sem saber que se trata de um espírito maligno que está ali para tumultuar e impedir que as pessoas sejam abençoadas. 

– A presença do espírito maligno deu ao rei a “coragem” para que matasse Davi. Aquilo que era acalentado há dias, quiçá meses, em seu coração, por causa da inveja, foi estimulado, incentivado pelo espírito maligno.

A possessão demoníaca, muitas vezes, tão somente intensifica algo que já está no coração do homem.

A situação espiritual de Saul era lamentável, pois ele havia sido rejeitado por Deus, havia perdido o Espírito Santo, mas não foi o demônio que instalou no coração de Saul o desejo de matar Davi.

O espírito maligno apenas o estimulou, apenas o aguçou. Não podemos pôr a culpa no diabo ou nos espíritos malignos pelo mal cometido por A, B ou C, ou por nós mesmos, pois tudo o que é mau não tem origem nos demônios ou no diabo, mas, sim, em nossos próprios corações (Mt.15:19; Mc.7:23). 

– Há uma tendência, atualmente, de se considerar o diabo culpado por tudo e por todos.

Não estamos aqui para ser “advogados do diabo”, mas esta “demonização” deve ser evitada pelos que servem a Deus.

Caso o diabo e seus anjos fossem culpados por tudo o que acontece, a humanidade jamais poderia ser responsabilizada pelos pecados e Deus teria de absolver a todos.

 

Aliás, é precisamente este o raciocínio enganoso decorrente desta “demonização”, que é mais uma artimanha do inimigo no engano de muitos.

No entanto, o homem peca porque não quer servir a Deus e, portanto, tem de se queixar não do diabo nem dos demônios, mas de seus próprios pecados (Lm.3:39). 

– Saul tinha uma lança na mão, enquanto Davi tangia sua harpa. Que diferença de ferramentas!

Enquanto Saul, em sua casa, sem qualquer necessidade de estar armado, mantinha uma lança na mão, Davi, chamado que fora pelo fato de Saul estar perturbado, trazia sua harpa, que tangia, a fim de que o espírito maligno fosse afugentado.

Saul tinha, em sua mão, um instrumento de morte; Davi, um instrumento de música, de louvor.

As ações de Saul eram voltadas para a morte; as de Davi, para glorificar a Deus.  

– As mãos simbolizam as obras nas Escrituras. Como têm sido as nossas obras?

Temos produzido a morte, praticando as obras da carne, ou seja, tendo lanças em nossas mãos, ou, ao contrário, temos produzido boas obras,o fruto do Espírito, de modo a que não só glorifiquemos como levemos todos a glorificar ao Senhor (Mt.5:16). 

– Saul conseguiu atirar a lança contra Davi, enquanto Davi continuava a tocar para que o espírito maligno se afugentasse.

Esta experiência para Davi deve ter sido extremamente traumática.

Certamente, o jovem deve ter perguntado porque, ao tocar a harpa, o espírito não se afugentou de Saul e, mais do que isto, ainda Saul pôde, por duas vezes, tentar matá-lo. Teria Deus o abandonado? 

– Quantas vezes, o Senhor também permite que, nos embates com o maligno, o inimigo pareça ter alguma vantagem, enquanto nós, cheios do Espírito Santo, sem ter feito qualquer coisa que desagrade a Deus, pareça que estejamos derrotados.

O propósito de Deus é sempre para o nosso bem (Jr.29:11; Rm.8:28).

Portanto, mesmo quando parece que o mal está a vencer, não creiamos nesta possibilidade, mas, sim, que tudo ocorre para nosso fortalecimento diante do Senhor. 

– Davi quase foi encravado na parede por duas oportunidades, mas Deus permitiu que Saul intentasse duas vezes contra a vida de Saul para que ocorressem algumas coisas importantes, a saber:

  1. a) Davi precisava saber o que se passava no coração de Saul – até então Saul não havia revelado sua indignação nem sua inveja.

Sendo homem que se conduzia prudentemente, Davi precisava deste conhecimento e ninguém conhece o coração do homem senão Deus.

  1. b) Davi precisava ser retirado, para sua proteção, da presença constante diante de Saul, a fim de que pudesse continuar suas atividades sem correr o risco de uma desconfiança insana, pois teria de vigiar durante todo o tempo, se continuasse a servir a Saul e, como era obediente, não poderia simplesmente sair da corte sem que o rei o mandasse.

O episódio fez com que o próprio Saul o mandasse para fora de seu convívio.

  1. c) Davi deveria aprender a lição de que sua vida estava nas mãos do Senhor e que ninguém poderia atentar, com êxito, contra sua vida.

Esta experiência era necessária para que a fé e esperança de Davi não desfalecessem no futuro. 

– Vendo Saul que não conseguira matar Davi, apesar de ser grande guerreiro e de estar à sua mercê, compreendeu que Deus era com Davi e que não haveria como ele, um rejeitado do Senhor, lutar contra Davi.

Assim, “transferiu” Davi de posto, colocando-o como “chefe de mil”, função que o fez ficar fora do convívio de Saul em sua casa (I Sm.18:13).

– Mais uma vez vemos como Davi tinha o Espírito Santo. Com sua popularidade e tendo sido alvo de uma tentativa de homicídio, poderia ter intentado uma rebelião contra Saul.

Entretanto, como era um homem de Deus, desconsiderou por completo o ato criminoso do rei e, obedientemente, aceitou assumir a “chefia de mil” como lhe foi determinado.

Temos agido desta maneira, em particular, aqueles que, na obra do Senhor, são “transferidos”, inclusive por quem, em vão, tentou matá-los?

A obediência de Davi à ordem de Saul é mostrada no texto bíblico como mais uma demonstração de prudência de Davi e o fator que levou o Senhor a ser com ele em todos os seus caminhos (I Sm.18:14).

Quantos servos do Senhor têm perdido as bênçãos porque “não conseguem engolir os sapos” na obra de Deus.  Sejamos prudentes como Davi e, certamente, o Senhor será conosco.

OBS: Hoje, é muito mais fácil rebelar-se do que se submeter à ordem de transferência.

Quantas igrejolas não têm aparecido por aí por causa desta atitude completamente fora da vontade de Deus!

Quantas igrejas são “afundadas”, como diz querido irmão que conosco participa das reuniões de estudo das Lições Bíblicas com os professores da EBD.

Quantas mudanças de ministério, de denominação, de igreja local têm ocorrido por falta desta prudência que vemos na vida de Davi.

No entanto, tudo isto só tem contribuído para o escândalo do Evangelho e nada mais.

Em vez de terem a companhia do Senhor, como teve Davi, o que estas pessoas conseguem é tão somente o “ai de Jesus” constante de Mt.18:7. 

– O resultado de Davi ter se conduzido prudentemente, obedecendo a Saul e deixando tudo nas mãos do Senhor foi o fortalecimento de sua posição diante de Israel.

Ao obedecer a Saul, sendo chefe de mil, sem qualquer atitude de insubordinação, Davi fez com que o rei tivesse receio dele (I Sm.18:15).

Ao sair do convívio da casa do rei e passar a sair e entrar diante do povo, manteve e aumentou a estima do povo com relação a ele (I Sm.18:16). 

– Vendo Saul que não podia vencer Davi, tentou fazê-lo por meio dos inimigos do povo de Deus. Assim, em vez de matar Davi, quis criar circunstâncias pelas quais os filisteus pudessem matar Davi (I Sm.18:17).

Assim ainda opera o nosso adversário: não contente com um livramento advindo da parte de Deus, trata, incansavelmente, de armar outros estratagemas para tentar vencer os servos do Senhor.

Como, então, ainda haja crentes que querem ter uma vida espiritual desatenta, achando que o diabo não quer mais mexer com ele? 

– Assim, para aguçar a ganância de Davi, Saul rememorou-lhe a promessa que havia feito de fazê-lo casar com uma filha sua caso vencesse o gigante.

Tornou, pois, a dizer que daria sua filha Merabe em casamento, se Davi lhe fosse filho valoroso e guerreasse as guerras do Senhor.

Com esta promessa, sabendo que Davi tinha interesse em casar-se (mais uma prova de que não era, em absoluto, homossexual masculino),

criou uma situação para que Davi se mostrasse mais ousado na batalha, atrevido mesmo, a fim de que, com suas peripécias, pudesse se tornar genro do rei. 

– Devemos ter muito cuidado com os “estímulos” trazidos pelo inimigo quando bem nos conduzimos na presença do Senhor.

Hoje são muitos os que, vendo o nosso sucesso no “bom combate”, na luta contra o mal, querem nos incentivar a sermos “ousados”, “atrevidos”, em troca de vantagens na obra do Senhor, de projeção na igreja, no ministério e na mídia.

Saul tentou levar Davi à imprudência mediante o uso de legítimos desejos do jovem chefe de mil, ou seja, de sua coragem, de seu desejo de constituir família, de seu desejo de defender Israel dos inimigos para a glorificação do nome do Senhor.

– No entanto, Davi não se deixou levar pelos estímulos e incentivos de Saul.

Continuou a se conduzir prudentemente, não pondo em seu coração o desejo de se tornar genro do rei, ou seja, o desejo de poder, de posição, de riqueza, nem tampouco o desejo de satisfação dos instintos sexuais.

Como é belo quando o crente deixa de lado todas estas ofertas e continua a ter como objetivo servir e agradar a Deus! 

– Muitos têm começado bem a jornada rumo ao céu, mas, no meio do caminho, sucumbem diante destas ofertas do adversário.

Quanto não é o amor do dinheiro (I Tm.6:10), é a imoralidade sexual (I Ts.4:2-5);

quando não é nem um nem outra, é o desejo de fama e de projeção, a vaidade (Rm.11:20,21).

Não podemos nos prender por estas coisas, que podem sufocar a nossa fé (13:22), para que não venhamos a ser derrotados. O inimigo tem seus ardis e não podemos ignorá-los (II Co.2:11). 

– Davi continuou a se conduzir como antes nas suas guerras, nas suas operações militares.

Não se achou com “direito” de ser “genro do rei”. Manteve a sua posição de modéstia, reconhecendo suas origens, lembrando que, por sua vida e pela sua família, não tinha como se tornar genro do rei ( I Sm.18:18).

Davi sabia que estava a vencer as guerras do Senhor pela companhia do Senhor, não por seus méritos.

Sabia que tudo devia ao Senhor e que a Ele se deveria dar toda a glória. Como é bom quando o crente reconhece que sem Jesus nada pode fazer (Jo.15:5).

Quando, porém, o crente começa a achar que tem “direitos” diante de Deus, que pode “cobrá-l’O”, “exigir” algo ao Senhor, está a um passo de ser alvo dos ardis satânicos dos cuidados deste mundo e da sedução das riquezas. Tomemos cuidado, irmãos!  

– Saul, verificando que Davi não lhe dera ouvidos, ou seja, não deixara de agir prudentemente, como mais um estímulo a que abandonasse sua conduta agradável a Deus,

ao tempo determinado para que desse Merabe a Davi, deu-a a outrem, a Adriel, meolatita (I Sm.18:19).

– Davi tinha mais um motivo para deixar de servir a Saul. Havia sido obediente ao rei quando este o mandou para a chefia de mil, mesmo depois de ter sido vítima de uma tentativa de homicídio.

Sem que pedisse coisa alguma, Saul lhe prometera sua filha Merabe em casamento, renovando, aliás, a promessa já não cumprida de antes da vitória sobre Golias e, agora, o rei quebrava a sua palavra, dando Merabe a Adriel.

Não era hora de se rebelar contra o rei? Não era hora de enfrentá-lo, já que era o ungido de Deus e o povo estava ao seu lado? Não, não era!

Davi não se abalou e se manteve tanto quanto antes. Será que faríamos o que Davi fez?

Será que nos manteríamos em nossa posição apesar da quebra de promessa, da falta de hombridade de quem está a nos dirigir? 

– Mical, outra filha de Saul, estava afeiçoada a Davi, amava-o e o rei Saul percebeu esta circunstância.

Mas Davi, sabedor de sua condição, não ousava pedir-lha em casamento.

O rei, sabendo que a afeição era mútua, mais uma vez mal-intencionado, mandou que chegasse aos ouvidos de Davi que via com bons olhos seu casamento com Mical e que, como dote,

aceitaria que lhe trouxesse cem prepúcios de filisteus, como demonstração de vingança junto aos inimigos do rei. Com esta astúcia, Saul queria criar uma ocasião para que Davi iniciasse uma peleja contra os filisteus, por um motivo particular (e, portanto, sem condições de arregimentar todo o exército israelita) e fosse morto pelos filisteus em batalha.

Animado pela oferta real, pela possibilidade de se tornar genro do rei e casar-se com a mulher de quem estava afeiçoado, Davi estaria muito mais vulnerável e poderia ser morto (I Sm.18:21-26). 

– Davi, como já vimos, não tinha nenhuma ganância, não estava obcecado pela ideia de se tornar genro do rei.

No entanto, após muita insistência pelas “fofocas da corte”, e como estava gostando de Mical, diante da possibilidade de ser genro do rei sem que tivesse de dar um dote patrimonial,

visto que era pessoa pobre e que não vinha de família nobre, o jovem não resistiu e resolveu correr o risco a fim de se tornar genro do rei. 

– Este episódio traz-nos algumas lições importantes. A primeira é que Saul não teve coragem de fazer a proposta diretamente a Davi bem como que este assunto fosse tratado em segredo (I Sm.18:22).

Como é típico dos astuciosos, quis criar uma situação em que ficava encoberto, onde se têm apenas insinuações e mexericos. Sempre que estivermos diante de uma situação que tal, tenhamos redobrado cuidado, pois as coisas de Deus sempre são claras, objetivas e transparentes.

– Em segundo lugar, observemos que Davi, embora estivesse gostando de Mical e isto lhe fosse correspondido, sabia muito bem que não era da mesma classe social da princesa, bem como que não tinha condições de com ela se casar pela diferença existente entre ambos.

Davi não era um “apaixonado”, nem punha sua necessidade e vontade de casar acima da racionalidade e da vontade do Senhor.

Quantos, nos dias de hoje, pela pressa em ter uma vida sexual ativa, pela paixão momentânea e passageira, marcam casamentos sem o mínimo de condições de construírem uma vida a dois minimamente digna?

Davi sabia que um jugo desigual não era uma atitude de quem é ungido de Deus (I Sm.18:23).

Somente depois que pôde perceber, pela proposta de Saul, que teria condições de desposar Mical, é que Davi decidiu ir à luta para obter os prepúcios de filisteus necessários para o pedido em casamento. 

– Em que pese esta prudência de Davi, que é louvável, não podemos, porém, esquecer que a aceitação da oferta de Saul não deixou de representar um problema para Davi,

não como Saul intentava, de risco de morte para o jovem, mas, sim, para a própria vida privada do futuro rei.

Como haveremos ainda de estudar neste trimestre, a vida familiar de Davi foi um desastre, é um contraexemplo para os leitores das Escrituras.

Aqui, em que pese o cuidado de Davi para com a diferença de classe social e de condição financeira, não atentou ele para dois outros fatores importantíssimos:

o interesse de se tornar genro do rei como principal estímulo para a união e a desconsideração da proibição divina para casamento entre pessoas de tribos diferentes (Nm.36:6).

Estes dois fatores foram fundamentais no fracasso que foi a vida conjugal entre Davi e Mical.  

– Davi não feriu cem filisteus, para lhes arrancar os prepúcios, mas, sim, duzentos, ou seja, trouxe a Saul o dobro de prepúcios exigidos como dote. Esta circunstância deixou Saul sem ação, tendo ele de dar Mical a Davi, tornando-o genro do rei.

Saul, então, temeu muito mais a Davi, tendo mais uma demonstração de que Deus era com ele, tornando-se, assim, inimigo de Davi, pois teve certeza de que Davi era o homem que Deus havia escolhido para sucedê-lo no trono (I Sm.18:28-30). 

– Apesar deste gesto atrevido, movido pelo estímulo de Saul, Davi permaneceu se conduzindo prudentemente diante de Saul, não modificando a sua conduta, mesmo sendo agora genro do rei (I Sm.18:30).

A perseverança e constância de Davi, apesar das mudanças em sua vida, são um exemplo a ser seguido.

Temos, a exemplo de nosso Senhor, ser os mesmos ao longo de nossa jornada. 

– Não bastasse o fracasso do intento de os filisteus serem o instrumento para a morte de Davi, em nova guerra contra os filisteus, Davi novamente se destacou,

fazendo com que os príncipes dos filisteus não conseguissem adentrar nos termos de Israel, tendo Davi se sobressaído entre os comandantes israelitas, o que fez aumentar ainda mais sua popularidade (I Sm.18:30).

Isto foi demais para Saul, que se viu forçado, na sua mente maligna dominada pela inveja, a elaborar novo plano para dar cabo da vida de Davi.

Buscou, então, trazer para o seu intento aqueles que seriam, teoricamente, os maiores prejudicados por este sucesso de Davi, ou seja, os comandantes militares, em especial o príncipe herdeiro, Jônatas.  

– Percebemos, pois, como Deus é maravilhoso. Muito tempo antes de Saul tentar trazer Jônatas como seu comparsa na tentativa de matar Davi, Deus já havia criado entre Davi e Jônatas um amor divino, desinteressado e firmado no temor ao Senhor e no desejo de glorificá-l’O.

Quando Saul manda que Jônatas e seus servos mais próximos matassem Davi, em vez de encontrar em Jônatas o mais forte aliado, como pensava, viu em seu primogênito o principal obstáculo para a realização do seu desejo (I Sm.19:1). 

– Dada a ordem por Saul, certamente em segredo, para os seus principais assessores, para que matassem Davi, Jônatas não teve como deixar de contá-lo a Davi.

Dirá alguém que Jônatas estava a trair o seu próprio pai, que este não seria um comportamento de um servo de Deus, mas é aqui que vemos os limites da obediência a Deus e da obediência aos homens.

O servo de Deus jamais poderia cumprir uma ordem para matar alguém, pois isto contrariava a lei (Ex.20:13; Dt.5:17).

Além do mais, Jônatas já tinha compreendido que Deus era com Davi e, portanto, a unção estava tanto sobre Saul quanto sobre Davi, sendo certo que o servo do Senhor recusa afronta ao seu próximo, bem como despreza aquele que o Senhor reprova e honra aqueles que temem ao Senhor (Sl.15:3,4).

Aqui não se tinha traição a Saul, mas, pelo contrário, obediência a Deus.

– Jônatas anunciou a Davi a ordem de Saul para matá-lo e sugeriu a ele que se escondesse, enquanto ele, Jônatas, intercederia a seu favor diante do rei.

Assim foi feito, tendo Jônatas defendido Davi diante de Saul, argumentando com o rei que Davi só lhe havia feito benefícios até então, não só ao rei, mas a todo o povo, não havendo causa alguma para que fosse morto.

Saul, compreendendo que Jônatas não se sensibilizara com a “ameaça do trono”, voltou atrás e jurou que Davi não mais seria morto.

Davi, então, retornou, “tudo ficando como dantes no quartel de Abrantes” (I Sm.19:4-7). 

– Houve nova guerra contra os filisteus e Davi, uma vez mais, se destacou na peleja.

Uma nova vitória retumbante de Davi fez com que a inveja de Saul novamente voltasse à tona, como havia ocorrido antes da ordem que o rei dera para que matassem Davi (I Sm.19:8).  

– Uma vez mais, Saul, possuído pelo espírito maligno, com uma lança na mão, tentou encravar Davi contra a parede, Davi que, como da outra vez, estava com a harpa na mão a fim de afugentar o espírito maligno de seu sogro.

Saul, desta feita, tentou encravar Davi apenas uma vez contra a parede e Davi, de imediato, após desviar-se de Saul, fugiu e escapou (I Sm.19:9,10). 

– Saul, porém, não se deixou abater. Mandou mensageiros para a casa de Davi a fim de que fosse ele guardado e morto pela manhã.

Mical, porém, avisou Davi, pois o amava, tendo, então Davi descido pela janela de sua casa e fugido com a roupa do corpo, enquanto que a princesa tomou uma estátua e a deitou na sua cama, cobrindo-a com uma coberta e pondo peles de cabra à cabeceira.

Quando os mensageiros de Saul chegaram, Mical mentiu, dizendo que Davi estava doente (I Sm.19:12-14).  

– Ao saber da notícia, Saul, demonstrando toda a sua malignidade, mandou que trouxessem Davi na cama mesmo, para que ele o matasse, quando, então, foi descoberto que Davi já havia fugido e que apenas uma estátua estava em sua cama.

Saul demonstrou toda sua contrariedade com Mical que, uma vez mais, mentiu, dizendo ter sido ameaçada de morte por Davi.  

– Terminava o “estágio” de Davi na corte de Saul. Nos planos de Deus, não poderia Davi reinar apenas conhecendo o modo de governar de Saul.

Na corte, Davi havia se tornado um habilidoso guerreiro e conhecido o “ambiente palaciano”, o que era importante para que reinasse sobre Israel.

Mas para ser um rei aprovado por Deus, ao contrário de Saul, tinha de passar por outras escolas. Deus, assim, retira-lhe tudo que havia conquistado até então.

Este despojar de tudo quanto Davi possuía não deixa de ser uma figura do despojar de Cristo da glória de Deus para que pudesse ser o Salvador do mundo (Fp.2:5-7).

Estamos, também, dispostos a tudo perder para ganhar (cf. Mt.10:39; 16:25; Mc.8:35; Lc.9:24; 17:33; Jo.12:25)? 

– Davi, assim, fugia da presença de Saul, tendo, então terminado mais esta fase de sua vida.

Após estar tão perto do trono, na corte do Rei, já na condição de genro do rei e com o reconhecimento de sua chamada pelo herdeiro Jônatas, de uma hora para outra,

depois de só ter feito o bem, via-se sem família, sem casa, sem armas, sem soldados, só com a roupa do corpo. Era o início da “espera do tempo de Deus”. 

III – DAVI FOGE DE CASA E VÊ FRUSTRAREM-SE SUAS ESPERANÇAS DE TORNAR À CORTE DE SAUL 

– É interessante notar que, embora a narrativa nos mostre um Davi que sai apressadamente da janela da sua casa, o contexto não é de um homem desesperado e que não sabe o que fazer.

Davi tinha o Espírito Santo e as Escrituras nos revelam que, em sendo informado por Mical da trama de Saul, Davi não “perdeu a cabeça”, mas, sim, foi buscar a Deus e neste instante de adoração, foi elaborado o Salmo 59, quando clamou a proteção divina e pede que o Senhor lhe faça justiça.

Davi pede a Deus misericórdia e manifesta sua confiança em que, pela manhã, ainda louvaria ao Senhor.

Não temos, pois, como deixar de crer que a ideia de Mical para ludibriar os soldados e propiciar a fuga de Davi foi uma estratégia que representou a resposta de Deus ao clamor do salmista, que surgia ali, na hora da dificuldade. 

– Neste salmo, ademais, Davi se apresenta como profeta, porque o Salmo 59, como bem retrata o pastor Aldery Nelson Rocha, em sua Bíblia Revelada, é um salmo messiânico, ou seja,

um salmo que profetiza sobre o Messias, onde se antevê a oposição que o Senhor Jesus passaria, durante o Seu ministério terreno (particularmente no terceiro ano, o chamado “ano da oposição”, que é tipificado pela “fase da perseguição” na vida de Davi), por parte dos fariseus, saduceus, sacerdotes e anciãos de Israel. 

– Desde o início desta terrível fase da vida de Davi, pois, vemos o propósito divino de não apenas preparar um líder que tivesse condições de reinar sobre Israel segundo a vontade de Deus (algo que jamais Davi aprenderia com o dia-a-dia na corte de Saul),

como também começar a usar Davi como salmista e profeta, como um homem a ser usado pelo Espírito Santo para a continuidade da revelação da vontade divina à humanidade. 

– A provação divina, inexplicável aos nossos olhos, tem sublimes propósitos para o homem que serve a Deus.

Jó, mesmo, antes de ter virado o seu cativeiro, compreendeu que todo seu sofrimento o havia aproximado de Deus de modo singular (Jó 42:1-6) e, como o nosso Deus não muda, é este o Seu trabalhar na vida de cada um de nós (Jr.29:11; Rm.8:28,29).

O objetivo divino é nos preparar para a vida eterna, para o convívio sempiterno com o Senhor na cidade santa (Ap.21:3) e, para tanto, são necessárias as aflições para o nosso aprimoramento espiritual. 

– Por isso, profundamente maligna e satânica a pregação da teologia da prosperidade e da sua irmã, a confissão positiva, que tem invadido os nossos púlpitos nestes dias trabalhosos,

porque induzem o povo de Deus a rejeitar toda tribulação e aflição nesta vida, cuidando que isto seja falta de fé e de comunhão com Deus, quando, na verdade,

é um meio indispensável para o nosso amadurecimento e crescimento espirituais, através dos quais poderemos chegar aos céus. Fujamos destes paroleiros enganadores! 

– Saindo da sua casa pela janela, só com a roupa do corpo, casa que se situava em Gibeá de Saul, onde ficava a corte real (I Sm.15:34), Davi não teve outro lugar para ir senão para Ramá, onde ficava Samuel, que ainda vivia(I Sm.19:18).

 Gibeá e Ramá não eram distantes. Ramá ficava cerca de 9km ao sul de Jerusalém e Gibeá, 5km ao norte de Jerusalém.

Ao buscar a ajuda e orientação de Samuel, Davi mostra, uma vez mais, a sua qualidade de servo de Deus.

Davi não ousou se desesperar nem fazer coisa alguma antes de consultar o profeta, o homem de Deus.

Isto não significa que, em nossa dispensação, em que todos nós temos o Espírito Santo, devemos, nas dificuldades da vida, “consultar profetas”, como, lamentavelmente,

 muitos estão a fazer, inclusive “ex-videntes” que continuam com suas adivinhações, só que agora sob a roupagem de servos do Senhor, enganando os que cristãos se dizem ser.

Este gesto de Davi ensina-nos que, no meio das dificuldades, devemos correr aos pés de Jesus, o autor e consumador da nossa fé, que nos orientará como devemos agir. 

– A ida de Davi a Ramá e seu encontro com Samuel tem um grande significado espiritual.

Samuel, o homem de Deus, o profeta e juiz que havia dado a Israel a noção de consciência nacional, nunca mais seria visto por Saul (I Sm.15:35).

O fato de Davi poder ter ido ao seu encontro e de Saul nunca mais ter tido esta oportunidade é uma figura do acesso que o filho de Deus tem ao Senhor,

acesso este proporcionado pelo sacrifício de Cristo no Calvário (Hb.10:19-22), enquanto que é uma demonstração de que os pecadores não podem se aproximar do Senhor (Is.59:1,2).

Qual é o nosso estado: o de Davi, com pleno acesso ao Senhor, a quem o Senhor revela os Seus segredos (Am.3:7) ou o de Saul, que não pode sequer ver ao Senhor, porque não anda segundo a Palavra de Deus (Is.8:20)? Pensemos nisto! 

– Davi tudo contou a Samuel e Samuel levou Davi de Ramá para Naiote, onde ficava a “escola dos filhos dos profetas”, ou seja, um grupo de jovens que estudava a Palavra de Deus e se dedicava às coisas do Senhor, surgida nos dias de Samuel,

precisamente com o objetivo de impedir que o povo de Israel ficasse sem conhecer a Deus e retornasse ao período de instabilidade da época dos juízes (I Sm.19:20).

Naiote, segundo alguns estudiosos, era apenas um local em Ramá, um ponto da colina onde se localizava Ramá (o outeiro mencionado em I Sm.10:5), onde Samuel exercia as funções de presidente daquele grupo de estudo da Palavra do Senhor. 

– Como não faltavam os aduladores do rei, logo Saul soube que Davi havia ido até Ramá e se encontrava na companhia de Samuel.

Saul, então, mandou mensageiros para que prendessem Davi e referidos mensageiros, em vez de prenderem Davi, acabaram profetizando juntamente com os profetas.

Saul, ao saber disto, mandou outros mensageiros, tendo eles, também, profetizado.

Saul, então, decidiu ele mesmo ir até o local, mas, quando estava em Seco, ao perguntar sobre o paradeiro de Samuel e de Davi, o Espírito do Senhor também veio sobre ele e Saul começou a profetizar até chegar a Ramá, não tendo cessado de profetizar,

inclusive chegando a despir os seus vestidos, dando, mais uma vez, também ocasião para que se consolidasse o provérbio israelita:

 “Está também Saul entre os profetas?” (I Sm.19:19-24). 

– Muitos ficam surpresos com esta passagem bíblica, pois veem que mensageiros mandados por Saul e o próprio Saul, já rejeitado pelo Senhor, são tomados pelo Espírito Santo e profetizam, sem que tivessem condições espirituais para tanto.

Chegam, mesmo, a questionar o texto bíblico, como se pudéssemos desdizer aquilo que foi mandado escrever pelo Espírito Santo.

As profecias feitas pelos mensageiros e depois pelo rei Saul não tinham outro propósito senão o de livrar Davi das mãos do rei.

Foi uma intervenção sobrenatural de Deus para salvar e livrar o Seu ungido.

Foi uma demonstração da soberania divina, que não deve ser utilizada para que alguém defenda que ímpios possam ter o dom espiritual de profecia, por exemplo.

Deus ouviu o clamor de Davi no Salmo 59 e, diante da situação, para livrar tanto Davi quanto Samuel da fúria de Saul, usou de um estratagema que, aliás, era muito conhecido do rei, que também havia profetizado, quando retornava para sua casa, após ter sido ungido por Samuel (I Sm.10).

 – Saul desmoralizou-se diante de todos, pois, inclusive, chegou a despir os seus vestidos, tendo, ainda, demonstrado estar completamente inconsciente ao profetizar, visto que, estando Samuel presente, não notou a sua presença, pois, como havia sido dito, nunca mais veria o rosto de Samuel.

Tanto Samuel quanto Davi saíram de Naiote sem que fossem sequer percebidos por Saul.

Assim, a manifestação sobrenatural do Espírito Santo não tinha outro propósito senão o de livrar Davi e Samuel, nada mais do que isto, não podendo, pois, servir de parâmetro para quaisquer ilações com relação às manifestações sobrenaturais da Igreja. 

– A propósito, o que esta passagem nos ensina em termos de manifestações sobrenaturais na Igreja é que nada que Deus faça para edificação espiritual dos crentes (e é este o objetivo da manifestação dos dons espirituais – I Co.14:1-3) é “sem controle”, irracional ou confuso.

Saul profetizou e até chegou a ficar nu porque não havia propósito divino outro senão o livramento de Davi e Samuel.

Todas aquelas profecias e barulhos não trouxeram qualquer edificação aos seus participantes, porque seus participantes não eram vasos de Deus, mas, sim, homens despidos de qualquer compromisso com Deus.

Quaisquer manifestações sobrenaturais que carreguem este mesmo nível de irracionalidade e confusão são, portanto, próprias e adequadas para os que não têm acesso a Deus, para os “Sauis”, não para os “Davis”,

para aqueles que são chamados por Deus pelo Seu decreto. Saul nunca se confunde com os verdadeiros e genuínos profetas. Lembremos sempre disto! 

– Davi, então, deixa Naiote e vai ao encontro de Jônatas, o seu fiel amigo, a fim de tentar uma forma de aplacar a ira de Saul.

Não sabemos o que Samuel disse a Davi, mas, muito provavelmente, o velho profeta deve ter confirmado a Davi que ele sucederia a Saul no reino e que deveria perseverar em servir ao Senhor que, a Seu tempo, o poria no trono de Israel.

Davi, então, entra em contato com Jônatas, querendo saber qual era a sua culpa, visto que nada havia feito para merecer a morte (I Sm.20:1).

 – Jônatas, a princípio, não acreditou que Saul quisesse matar Davi, mas, ante as evidências apresentadas por este, aceitou mediar o conflito aberto entre Davi e Saul, inclusive verificando se, realmente, Saul queria matar Davi.

Assim, combinaram que Jônatas sentiria o coração do rei durante as solenidades da lua nova, ou seja, as cerimônias estabelecidas pela lei pelo início de cada mês (Nm.28:11-15), o chamado “Rosh Chodesh”.

OBS: “…A tradição emprestava ao Rosh Chodesh, assim como ao Sabath, uma grande dose de santidade.

Na era do Primeiro Templo, ele era celebrado com sacrifícios e orações especiais e com a interrupção de todo trabalho.

Sabemos que esse feriado era observado já na época do rei Saul, pois que ele é mencionado em I Samuel 20:18-24.…” (AUSUBEL, Nathan. Rosh Chodesh. In: A JUDAICA, v.6, p.731). 

– Saul, porém, tinha já arquitetado matar Davi durante esta solenidade, visto que não cria que fosse faltar a uma cerimônia religiosa, sabedor que era da fidelidade de Davi à lei.

No entanto, como Davi dissera a Jônatas, este pôde descobrir o que havia no interior do coração do rei.

Após ter ficado calado no primeiro dia, achando que Davi não estava ritualmente puro, no segundo dia, ao perguntar por Davi e ao receber a resposta de Jônatas de que o havia deixado ir a Belém para participar de uma cerimônia familiar (o que era mentira),

Saul se enfureceu e exigiu de Jônatas uma posição a favor da morte de Davi, até para assegurar a sucessão do trono para si.

Ao tentar defender Davi, Jônatas quase foi morto por Saul, que lhe atirou a lança, tendo, então, Jônatas compreendido que não havia mais qualquer chance de Davi retornar à corte (I Sm.20:25-34). 

– No dia seguinte, como combinado, Jônatas encontrou-se com Davi e ambos choraram muitos, pois ali se separaram, embora a amizade entre ambos tenha perdurado para além da vida de Jônatas.

Ambos prometeram ajudar-se mutuamente e cuidar da descendência de cada qual.

Aqui, mais uma vez, o texto bíblico mostra que o amor entre Jônatas e Davi era um amor sublime, um amor provindo da parte de Deus, um “amor de alma” (I Sm.20:17),

que nada tem a ver com a abominável blasfêmia propaladas nestes nossos dias que procura ver neste episódio um relacionamento homossexual masculino. 

– Davi chegava à conclusão de que não havia mais lugar para ele na corte do rei Saul.

Como entender isto, se  Deus o havia escolhido para reinar sobre Israel e ele era genro do rei? Não é na corte de Saul que aprenderemos a servir a Deus.

Não é com o poder deste mundo, com a fama deste mundo, com os recursos deste mundo que nos adestraremos para viver na Jerusalém celestial.

Para o ungido de Deus não há lugar na corte de Saul. Nunca nos esqueçamos disto! 

IV – DAVI TENTA MAS NÃO CONSEGUE APOIO SEJA ENTRE OS SACERDOTES, SEJA MESMO ENTRE OS FILISTEUS  

– Samuel e Jônatas não tinham podido apoiar e ajudar Davi. O jovem fugitivo, então, diante desta situação, resolve ir para Nobe, cidade sacerdotal da tribo de Benjamim, bem próxima de Jerusalém, onde se encontrava, na ocasião, parte dos utensílios sagrados do tabernáculo.

Ali buscou ajuda junto a Aimeleque, que, entendem os estudiosos, era o mesmo Aías de I Sm.14:3, ou seja, o sumo sacerdote daqueles dias, bisneto de Eli. 

– Bem notamos a inclinação piedosa de Davi. Após ter ido consultar-se com Samuel e de ter, sem êxito, retornado à corte real por meio da intervenção de Jônatas, Davi vai ao encontro do sumo sacerdote.

Era um homem disciplinado, que bem conhecia sua posição no meio do povo de Deus e as autoridades constituídas pelo Senhor sobre o Seu povo.

Busca os ungidos, não os rebeldes nem aqueles que lhe poderiam formar um exército para assumir o trono. Será que temos nos comportado desta maneira, submissos às autoridades, mesmo quando sabemos ter sido chamados para, no tempo de Deus, dirigirmos uma parcela da Igreja do Senhor? 

– Ao chegar a Nobe, Davi, entretanto, para conseguir alguma ajuda da parte do sumo sacerdote, mentiu, mentira esta que ocasionaria grande transtorno.

Ao ser indagado por Aimeleque porque estava sozinho, ele que era chefe de mil,  Davi disse que estava num serviço secreto da parte do rei e que se fazia acompanhar de poucos homens, que estavam, pela natureza da missão, espalhados.

Faminto, desarmado, Davi, então, pediu a Aimeleque cinco pães ou que se achasse para comer.

Que situação a de Davi: sozinho, fugitivo e faminto! Que situação para alguém a quem tinha sido prometido o trono de Israel! 

– Aimeleque disse que não tinha pão para Davi, a não ser os pães da proposição, que haveriam de ser trocados naquele dia, o que nos faz perceber que o dia deste encontro era um sábado, pois no sábado é que eram trocados os pães da proposição (Lv.24:5-9).

Tais pães só podiam ser consumidos pelos sacerdotes, mas, diante da história contada por Davi, o sacerdote aceitou fornecer-lhes cinco pães dentre os que seriam substituídos, desde que eles estivessem ritualmente puros, inclusive não tendo mantido relações sexuais (I Sm.21:5,6). 

– Após ter se alimentado, Davi pediu ao sacerdote que lhe desse alguma arma, tendo, então, Aimeleque lhe dado a espada de Golias, a única arma que ali estava, arma esta que Davi havia dedicado ao Senhor (I Sm.21:8,9).

Todo este movimento, porém, foi observado por Doegue, um edomita, o principal pastor de Saul (I Sm.21:7). 

– Na sua extrema necessidade, Davi mentiu e fez o sacerdote Aimeleque quebrar uma norma da lei de Moisés.

Sem dúvida, uma atitude indigna da parte de quem servia a Deus. Nem Davi poderia ter mentido, nem tampouco Aimeleque poderia ter dado os pães da proposição para Davi, que sacerdote não era.

Este episódio não poderia ficar sem a devida punição divina e o resultado é que Doegue contou a Saul o que havia ocorrido e o rei foi a Nobe, onde matou 85 sacerdotes,

como também quase toda a população da cidade, numa matança sem precedentes na história de Israel, e que serviu para mostrar a todo o povo a impiedade do seu rei, o monstro horrendo em que Saul havia se tornado (I Sm.22:6-19). 

– Saul acusou Aimeleque de ter consultado a Deus a pedido de Davi, como também de iniciar uma conspiração com Davi, sendo que o sumo sacerdote nem sabia que Davi havia caído em desgraça diante de Saul.

Saul não quis saber das justificativas de Aimeleque e exterminou sua casa, tendo escapado apenas Abiatar.

Apesar de toda a brutalidade de Saul, o fato é que o episódio acabou por trazer cumprimento a uma profecia de Samuel, a respeito da casa de Eli. 

– O fato, porém, é que a mentira de Davi e a quebra da lei da parte de Aimeleque deram ocasião para que Saul promovesse essa grande matança e complicasse ainda mais a situação de Davi, pois o ódio do rei tornou-se público, incompatibilizando, de uma vez por todas, Davi diante do povo de Israel.

Não bastasse sua situação de penúria, agora Davi era aborrecido pelo seu próprio povo, o povo que ele iria reinar. Como suportar uma circunstância tão adversa como esta, diante das promessas de Deus?

Não era fácil e Davi, antes mesmo desta matança, mas tendo observado que Doegue o vira, percebeu que o sumo sacerdote não o podia ajudar, até porque até para alimentá-lo teve de violar a lei, decidindo, então, Davi partir em direção a Gate, cidade dos filisteus, a fim de tentar a ajuda dos inimigos de Saul. 

– Vemos aqui uma fraqueza espiritual em Davi. A situação de aflição era tanta que Davi acabou por mentir ao sumo sacerdote, por se alimentar dos pães da proposição, violando a lei e decidir partir para Gate, cidade dos filisteus, dos incircuncisos que nenhum compromisso tinham com Deus.

Por isso, entraria em situação extremamente difícil, seja entre os filisteus, seja com o próprio povo de Deus.

Davi não procurou orientação divina. Nem sequer pediu que o sumo sacerdote consultasse a Deus por meio do éfode (Urim e Tumim), mas resolveu tudo fazer com base em sua experiência guerreira.

Tendo alimento e arma, achava que poderia se safar de Saul indo até a terra dos filisteus. 

– Quantas vezes também não agimos desta maneira? Quantas vezes, também, não comemos dos pães da proposição?

Não é um bom caminho este, qual seja, o da lógica humana e do “jeitinho próprio” para tentar se esquivar das aflições, perseguições e tribulações da vida.

Não é mentindo aos ministros do Senhor, deles conseguindo alguma vantagem ilícita, nem buscando as armas carnais que conseguiremos a vitória.

O que arrumaremos com uma atitude desta será tão somente a queda dos que tentarem nos ajudar, o aborrecimento do povo de Deus em relação a nós e situações extremamente difíceis em que só a mão de Deus poderá nos livrar das mãos do inimigo.

Não ajamos como Davi, mas, antes, busquemos a direção e orientação divinas, para que não venhamos a ser surpreendidos com as consequências de nossas precipitações.

 – Ao analisar este episódio, o Senhor Jesus não viu apenas a quebra da lei e um erro da parte de Davi, mas, também, mais um exercício da misericórdia divina.

Aimeleque deu os pães da proposição para Davi, mas não foi por isso que foi morto por ordem de Saul.

Se sua morte tivesse sido por este episódio, poder-se-ia dizer que ela teria sido legítima, mas, na verdade, Aimeleque foi morto por ter supostamente consultado a Deus em favor de Davi, o que não ocorreu.

Como sumo sacerdote, deveria, mesmo, ter feito esta consulta a Deus, deveria ter pedido a orientação divina para saber o que fazer.

O aspecto ritual foi deixado em segundo plano, e acertadamente, como nos ensina o Senhor Jesus.

A quebra da lei ali se fez por amor a alguém que se apresentava necessitado e faminto, foi um exercício de misericórdia, que triunfa sobre o juízo. Jesus disse que, neste episódio, vemos a grandeza do amor de Deus ao homem, que põe o homem, a pessoa humana acima até das normas da lei (Mt.12:1-8; Mc.2:23-28).

Assim como Deus havia feito profetizar homens ímpios para livrar Seu servo das mãos de Saul, também permitiu que comesse os pães da proposição e o sumo sacerdote não fosse punido por isso, para que se mantivesse com vida em meio a tamanha perseguição.

Será que temos a mesma misericórdia divina em relação aos que nos rodeiam? 

– Sem condições de ser ajudado pelo sumo sacerdote e com a espada de Golias, Davi resolve ir até Gate, a fim de ali tentar encontrar refúgio. Davi apresentava-se desorientado.

Como conseguir apoio no meio dos seus piores inimigos e ainda ostentando a maior prova de sua inimizade para com aquele povo, a espada do seu ex-campeão?

Parece incrível que Davi, já um guerreiro com certa experiência, cometesse tamanho erro de avaliação, achando que conseguiria proteção e guarida em Gate, num momento em que não havia ainda se tornado público o ódio de Saul em relação ao filho de Jessé. 

– Quando não buscamos a orientação de Deus, mesmo tendo o Espírito Santo, só fazemos tolices, só nos apresentamos como homens insensatos. Não podemos confiar em nossas habilidades e experiências pessoais, pois elas somente nos conduzirão para o pior dos mundos possíveis.

Assim como Davi, acabaremos tomando a pior decisão, entregar-nos-emos ao inimigo gratuitamente.

Como dizem os ditados populares, “entregar-nos-emos de bandeja, deixaremos o inimigo com a faca e o queijo na mão”.

Não podemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27) e, para não fazê-lo, não existe outro caminho senão o de sermos guiados pelo Espírito Santo (Rm.8:14; Gl.5:18), pois resistir ao diabo (Tg.4:7) é seguir a trilha dAquele que está a resistir neste mundo contra o mistério da injustiça (II Ts.2:7).

 – Ao chegar a Gate, com o objetivo de se apresentar ao rei Áquis, Davi é prontamente reconhecido pelos servos do rei como o “campeão dos israelitas”, aquele que matava os dez milhares, enquanto Saul, apenas os milhares.

Mais uma vez, vemos que o louvor surgido do folguedo irresponsável das mulheres iria perturbar a vida de Davi.

 – Davi voluntariamente entrara em Gate e se fizera prisioneiro de seus piores inimigos.

Estava no palácio de Áquis porque assim tinha querido e não tinha como fugir daquela situação.

Jesus nos promete que ninguém poderá nos arrebatar de Suas mãos poderosas (Jo.10:28,29), mas o Senhor nunca disse que estamos presos a Ele com grilhões inquebráveis.

Qualquer um que quiser deixá-l’O pode fazê-lo (Jo.6:66,67; II Tm.4:10)e não poderá depois reclamar se se encontrar totalmente cercado pelo inimigo, sem condições de se livrar.

 – Davi, ao verificar a estultícia que havia cometido, com os comentários nada agradáveis dos servos de Áquis, caiu em si e percebeu que estava fora da direção de Deus.

Neste instante, buscou ao Senhor e elaborou o Salmo 56, um “mictão”, palavra de sentido incerto, mas que alguns estudiosos acham estar relacionado com “expiação”.

Parece ser um salmo de expressão de arrependimento, onde Davi pede a misericórdia de Deus, pois sabe que está cercado de inimigos que estão prontos a devorá-lo.

Pede a Deus força para que possa temê-l’O, reconhecendo assim que estava agindo sem a direção divina, pedindo graça para que pudesse confiar no Senhor.

Mesmo sabendo que todos queriam o seu mal ali em Gate, sabia que nada lhe poderia fazer o homem se o Senhor não o quisesse.

Relembra-se das promessas de Deus para si e, renovado nelas, confia que, clamando a Deus, seus inimigos retrocederiam, pois, afinal de contas, Deus estava com Davi, que fora escolhido para suceder Saul no trono de Israel. 

 – Davi, então, é levado ao encontro do rei Áquis e, então, ainda movido pelo Espírito Santo que nele habitava, compõe o Salmo 34.

Neste salmo, Davi reafirma a sua disposição de louvar ao Senhor, bem como o de buscá-l’O para que o livrasse de todos os seus temores.

É interessante notar que Davi sentiu medo mas não quis ficar com medo, antes pediu a Deus que tirasse esse medo dele (Sl.34:4).

 – Davi admitiu que era um pobre diante do Senhor (Sl.34:6). Não porque só estava com a roupa do corpo, tinha se alimentado apenas de pães da proposição ou, ainda, tivesse como arma apenas a espada de Golias.

Mas porque aprendeu que tinha de pedir a orientação de Deus para bem se conduzir.

Encontrava-se em extremo aperto porque não havia buscado a presença do Senhor.

No Salmo 40, também, Davi se afirmará pobre e necessitado (Sl.40:17), embora tudo indique que, ao fazer este salmo, já estivesse no trono.

Não importa, rico ou pobre materialmente falando, o homem tem de reconhecer que sempre é pobre espiritualmente, pois dos tais é o reino dos céus (Mt.5:3).

Se não reconhecermos que dependemos inteiramente de Deus, jamais poderemos servi-l’O.

– Davi reconheceu que somente quem teme a Deus tem condições de se livrar das enrascadas da vida (Sl.34:7-11) e que a vida longa depende da guarda da nossa língua do mal e do engano dos lábios (Sl.34:12,13).

Davi reconhecia que se encontrava naquela situação difícil por causa da sua mentira e de um desejo de vingança, que o levara até os inimigos de Saul.

Deus, porém, não Se agradara daquilo que havia feito, pois Ele ama os justos, os santos, os tementes e é a eles que dá livramento (Sl.34:17-19,22), cabendo ao Senhor o “acerto de contas” (Sl.34:21).

OBS: Observemos, uma vez mais, que, neste salmo, temos mais um salmo messiânico, em que Davi prefigura o sofrimento de Jesus, mas o Seu livramento, a ponto de não se permitir que nenhum de Seus ossos fosse quebrado (Sl.34:20).

Tal prefiguração, aliás, representa a certeza da vitória sobre o mal, pois o corpo de Cristo não é quebrado, como demonstração que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Por que temer, então, Igreja?

 – No instante em que foi levado à presença de Áquis, Davi se fez de doido, deixando correr a saliva pela barba, esgravatava as portas do portal, a ponto de Áquis tê-lo considerado um louco e mandado que o mandasse fora da cidade (I Sm.21:10-15).

Davi havia, pois, sido livre dos filisteus.

OBS: É interessante notar que Davi não perdeu o juízo nesta ocasião por causa da extrema angústia.

O Salmo 34 é um salmo em ordem alfabética em hebraico, demonstração de composição elaborada e muito bem pensada, e este dado é importante pois, como dizem os rabinos judeus, este salmo é

“…para mostrar que devemos louvar a Deus com nossas faculdades e reconhecer que toda Sua criação é para o bem.” (FRIDLIN, Vitor; GORODOVITS, David e FRIDLIN, Jairo. Salmos: com tradução e transliteração, p.44).

Quão diferente é a realidade bíblica do que vemos atualmente em nossas igrejas locais, onde o irracionalismo e a tolice são considerados como demonstração do poder de Deus… 

V – DAVI É ABORRECIDO POR ISRAEL  

– Ao retornar de Gate, Davi resolveu ir para a caverna de Adulão, a fim de se esconder.

Muito se discute sobre a localização desta caverna, mas parece que ela se localizava no ermo montanhoso a oeste de Judá, na direção do mar Morto, a 16km a noroeste de Hebrom.

Estava só, desamparado, sem ter conseguido ajuda de quem quer que seja. O homem que Deus havia escolhido para reinar sobre Israel se encontrava numa caverna, escondido, sem qualquer amparo. 

– Nesta situação de extrema angústia e necessidade, Davi clama a Deus e lhe faz uma oração, que é o Salmo 142.

Davi abre seu coração para o Senhor, diz a Ele que, no caminho em que andava, haviam ocultado um laço e, na situação de aperto, havia olhado para a sua direita e visto que não havia quem o conhecesse, quem cuidasse de sua alma, em ninguém havia encontrado refúgio (a propósito, “Adulão” significa “refúgio”).

Esgotadas todas as fontes de livramento e salvação, Davi reconhece que só Deus é o seu refúgio, só Deus era a sua porção entre os viventes.

Pediu, então, que Deus o livrasse dos seus perseguidores, que eram mais fortes do que ele, que tirasse a sua alma da prisão para que, então, os justos pudessem cercá-lo e ele cantasse a todos que o Senhor lhe havia feito bem. 

– Este salmo é um “masquil”, palavra de sentido incerto, mas que parece significar “salmo de instrução”, “salmo eficaz”, “salmo habilidoso”, ou seja, um cântico inspirado que nos revela tanto o entendimento correto de quem o elaborou, como também um ensino para todos que o leiam ou cantem.

No Salmo 142, parece tratar-se de um instante em que Davi compreendeu que só Deus poderia ajudá-lo, que se tratava de uma provação divina, de um período em que Davi deveria aprender a depender única e exclusivamente de Deus.

É neste instante que Davi se conscientiza de que todas as adversidades eram queridas pelo Senhor e faziam parte de seu aprendizado para que assumisse o trono de Israel. 

– Como afirmou, em um dos seus discursos morais sobre as “cinco pedras da funda de Davi”, o padre Antonio Vieira, o maior orador sacro da língua portuguesa, é no instante que passamos a desejar somente a Deus, a esperar somente em Deus,

que adquirimos forças para perseverar até o fim em nossa caminhada rumo ao céu, pois é o momento em que adquirimos a esperança que nos faz purificarmos a nós mesmos (I Jo.3:3). 

OBS: Reproduzimos, aqui, por oportuno, o trecho do mencionado sermão de Vieira:

“…Qual é logo esta singularidade, pela qual diz Davi que foi singularmente sublimado na esperança: Singulariter in spe constituisti me (SI. 4, 10)?

 – Antes que ele o diga, o direi eu. Foi sublimado singularmente na esperança Davi, porque depois de subir por todos os graus da esperança, que temos visto, chegou a esperar tão pura e limpamente, que nem na terra nem no céu esperava de Deus mais que a Deus.

Agora diga-o ele mesmo: Quid mihi est in caelo? Et a te quid volui super terram, Deus cordis mei, et pars mea, Deus in aeternum[Que tenho eu no céu?

E, fora de ti, que desejei eu sobre a terra, Deus do meu coração, e minha porção, Deus, para sempre – Sl.73:25 e s.]?

 – A terra, diz Davi, para mim é nada, o céu outro nada; a terra um nada baixo, o céu um nada alto; porém, um e outro nada: tudo quanto pode dar ou negar a terra, tudo quanto pode dar e prometer o céu: Quid mihi?

 – Que é isso para mim: Quid mihi?

– Que Davi tenha por nada a terra, e não queira nada da terra, seja embora; porém, não só da terra, senão também do céu? Sim.

Agora entendereis por que disse Deus deste grande herói: Inveni virum secundum cor meum (At. 13, 22): Tenho achado um homem feito à medida do meu coração. – Notai: No princípio criou Deus o céu e a terra: In principio creavit Deus caelum et terram (Gên. 1, 1).

– E, antes do princípio, havia céu e terra? Não. E, antes de haver céu e terra, estava o coração de Deus tão contente, e era o mesmo Deus tão feliz como depois de haver céu e terra?

Sim: tão contente e tão feliz Deus com céu e terra, como sem céu nem terra. Pois, eis aqui por que o coração de Davi era como o coração de Deus: Quid mihi est in caelo, et a te quiri volui super terram?

– Ao meu contentamento e à minha felicidade, nenhuma coisa pode tirar ou acrescentar, nem toda a terra nem todo o céu.

E por quê? Pela mesma razão em Deus e em Davi: em Deus, porque Deus tinha toda a sua felicidade em si mesmo: e em Davi, porque Davi tinha toda a sua felicidade em Deus.

Não é razão minha, senão sua: Deus cordis mei, et pars mea, Deus, in aeternum.

– Nem para o tempo na terra, nem para a eternidade no céu, quer o meu coração outra coisa senão a Deus, e não a Deus enquanto Deus da terra e céu, senão enquanto Deus do meu coração: Deus cordis mei.

– Porque, se o meu coração é semelhante ao seu, assim como Deus sem terra nem céu tem toda a sua felicidade, assim eu, sem nada da terra nem do céu, tenho toda a minha: ele, porque eternamente tem tudo em si; eu, porque eternamente terei tudo nele: Et pars mea, Deus in aeternum.

Eis aqui, senhores, como há de ser o nosso coração, se queremos esperar fina e heroicamente: há de ser o nosso coração para com Deus como o coração de Deus para conosco. Que quer ou espera Deus de nós?

Nenhuma coisa, senão a nós mesmos: Te, et non tua – diz Santo Agostinho: Te, et non tua – diz S. Gregório; logo, se Deus não quer de mim mais que a mim, eu não devo querer de Deus mais que a ele.

 Assim como os que se combatem ou desafiam medem as espadas, assim nós, se queremos obrar generosamente, havemos de medir com Deus os corações: ele de uma parte com a sua soberania, e eu da outra com a minha esperança; este sim, que foi o maior duelo de Davi, e não o outro do gigante.

Entraram como em estacada de uma parte a esperança de Davi, e da outra a soberania de Deus, combatendo-se como de corpo a corpo, de generosidade a generosidade, e de independência a independência:

o cartel deste desafio é o princípio do Salmo décimo-quinto [Salmo 16 em nossa tradução, observação nossa]:

Conserva me, Domine, quoniam speravi in te[Guarda-me, Senhor, porque eu esperei em ti (SI. 16, 1)]: eis aqui a esperança de Davi; Dixi Domino: Deus meus es tu, quoniam bonorum meorum non eges[Eu disse ao Senhor: Tu és o meu Deus, porque não tens necessidade dos meus bens – Sl.16:2] – eis aqui a soberania e independência de Deus.

E por que opõe ou contrapõe Davi a sua esperança à soberania de Deus, e a sua independência à independência divina? Porque isto era o singular e heróico, o limpo e o limpíssimo da sua esperança.

A soberania de Deus, independente dos bens de Davi, porque os não há mister: quoniam bonorum meorum non eges; a esperança de Davi, independente dos bens de Deus, porque espera nele: quoniam speravi in te; como se dissera Davi:

Se Deus não quer os meus bens, porque os não há mister, eu não hei mister os seus, porque os não quero: a sua soberania é independente dos meus bens, porque tem tudo em si; e a minha esperança é independente dos seus, porque tenho tudo nele.

 Aquela é a maior felicidade da sua natureza; esta é a maior fineza da minha esperança.…” (VIEIRA, Antonio. Discurso V. In: As cinco pedras da funda de Davi em cinco discursos morais. Disponível em:  http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/arquivos/texto/0043-01951.html#_ftn135 Acesso em 15 set. 2009).  

  – O solitário Davi clama a Deus e Deus começa a lhe ouvir. Ao fugir para Adulão, isto chega aos ouvidos de seus familiares e eles, então, descem até lá, para que lhe servissem de companhia (I Sm.22:1).

Mas, ao mesmo tempo em que Davi recebe a companhia de seus entes queridos, que lhe traziam o necessário e indispensável afeto familiar, também vieram ao seu encontro um grupo de homens que jamais Davi imaginasse que lhe serviriam para companhia.

O Senhor encaminha ao seu encontro todo homem que se achava em aperto, todo homem endividado, todo homem de espírito desgostoso, cerca de quatrocentos homens, de quem Davi se fez chefe (I Sm.22:2).

Para um homem solitário, atribulado e angustiado, ter a companhia de quatrocentos homens que, psicológica e espiritualmente, estavam arrasados, era algo que não se podia conceber.

No entanto, era esta a vontade do Senhor e seria destes verdadeiros “farrapos humanos” que se formaria o grupo seleto dos “valentes de Davi”, conforme teremos ocasião de estudar na próxima lição, dedicada a este processo de formação da liderança de Davi (I Sm.22:2).

 – Davi compreendeu que era com este grupo de homens que deveria iniciar sua caminhada até o trono de Israel no caminho traçado pelo Senhor.

Sabia que Deus havia ouvido o seu clamor na caverna e, portanto, sai de lá e vai até Mizpá dos moabitas e pede ao rei dos moabitas que desse asilo aos seus familiares, sendo atendido.

Davi havia se posto nas mãos do Senhor e pediu proteção a seus familiares até que soubesse o que Deus havia de fazer dele (I Sm.22:3,4).

 

– Tornando a Adulão, porém, Davi recebe a visita do profeta Gade, que lhe manda entrar na terra de Judá, não ficando no lugar forte.

Não era tempo de ficar na caverna, mas, sim, de sair com seus homens, mesmo em meio à perseguição. Davi, seguindo a orientação do profeta, foi, então, para o bosque de Herete (I Sm.22:5).  

– Lá, Davi é informado da matança dos sacerdotes em Nobe por Abiatar, filho de Aimeleque, que havia escapado e trazido o éfode, passando, então, a compor o grupo de Davi.

Davi percebe, então, que o Senhor é com ele, visto que o sumo sacerdote está fazendo parte de seu grupo.

No entanto, a confiança de Davi era tanta que disse a Abiatar para que ficasse com ele pois com ele, estaria salvo (I Sm.22:23).

Davi sabia que Deus era com ele e até o sumo sacerdote estaria protegido se se mantivesse com ele.

– Esta sua confiança está bem retratada no Salmo 52, outro “masquil” de Davi, elaborado quando recebe ele a notícia de que Doegue havia anunciado a Saul sua ida a Nobe, que redundou naquele morticínio.

Neste seu cântico, apesar da tragédia ocorrida, Davi deixa nas mãos do Senhor a realização da justiça, mantendo sua confiança na bondade divina (Sl.52:1).

Confirma que os que procedem impiamente prestarão contas diante do Senhor e que os prejudicados devem esperar somente em Deus (Sl.52:2-9).  

– No bosque de Herete, Davi é informado de que os filisteus estavam saqueando as eiras de Queila.

Davi, então, consultou ao Senhor se devia ir ao encontro dos filisteus e, ante a resposta afirmativa, obtida mediante Abiatar, em consulta ao Urim e Tumim, pois o éfode estava com Abiatar (I Sm.23:6).

O éfode era uma das vestimentas do sumo sacerdote, em que eram postas as pedras em que se consultava ao Senhor – Ex.28:414), foi à luta, tendo vencido os filisteus e livrado a cidade (I Sm.23:1-6).  

– Uma vitória militar em meio à perseguição. Davi, talvez, tenha pressentido que estava terminando o período da prova. Havia vencido novamente, tinha novos soldados, havia livrado uma cidade do ataque dos filisteus.

Saul foi avisado disto e resolveu ir ao encontro de Davi, achando que, por estar Davi em uma cidade, seria mais fácil de matá-lo.

Davi, ao saber das maquinações de Saul, consultou a Deus e perguntou ao Senhor se o povo de Queila teria coragem de entregá-lo a Saul depois de tamanha beneficência e, para sua surpresa,

Deus lhe respondeu que eles o trairiam, o que fez com que Davi, mesmo contra todas as evidências humanas, abandonasse, para seu bem, Queila e se refugiasse em lugares fortes no deserto de Zife (I Sm.23:7-13).  

– Davi sente, então, o amargor da ingratidão. Como poderia a cidade de Queila entregá-lo a Saul depois de a ter livrado?

Entretanto, para os moradores de Queila era melhor agradar ao rei do que demonstrar sua gratidão a um benfeitor que não tinha poder nem posição.

Davi viu que era aborrecido pelo povo de Israel, que ainda não era o tempo de reinar sobre o povo de Deus.

Saul, embora rejeitado por Deus, ainda não o era pelo povo. Neste momento, Davi prefigura o Messias que foi, também, rejeitado pelos seus irmãos de Israel (Jo.1:11).

 

– Nós, servos do Senhor, temos de saber que somos, também, rejeitados pelo mundo.

O mundo que aborreceu Jesus não pode mesmo acolher os cristãos (Jo.15:18-21), embora sejam os coerdeiros de Cristo a luz do mundo e o sal da terra, o motivo de este mundo ainda não ter se deteriorado de vez (Mt.5:13,14).

Saibamos que, neste mundo, ungidos pelo Espírito Santo, devemos fazer o bem às pessoas, curar todos os oprimidos do diabo (At.10:38) e recebermos, como recompensa, o “Crucifica-o”, assim como Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Estamos prontos para fazer bem e sermos rejeitados? Estamos preparados para suportar a cruz e desprezar a afronta pelo gozo que nos está proposto (Hb.12:2)?

Como a realidade espiritual é bem diferente do que andam pregando por aí, dos que, embora se digam crentes, amam muito mais a glória dos homens mundo do que a de Deus (Jo.12:42,43), preferem agradar aos homens do que ser servos de Cristo (Gl.1:10).  

– Depois de ter livrado uma cidade e demonstrado seu valor militar em prol de seu povo, Davi é obrigado, com seus homens, a voltar para o deserto e ali permanecer.

Pior do que isto é que, no deserto, Davi não tinha descanso, pois Saul o buscava todos os dias, mas Deus não o entregou na mão do rei (I Sm.23:14).  

– Assim acontece com os filhos de Deus. Todos os dias o inimigo nos busca, anda em nosso derredor, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8). O diabo não se cansa, noite e dia está a nos acusar (Ap.12:10).

Eis a verdadeira batalha espiritual sofrida pelos servos do Senhor, eis o motivo pelo qual não podemos deixar de vigiar durante todo o tempo. Não é à toa que o próprio Jesus nos mandou vigiar (Mt.26:41; Mc.13:33,35,37; Mc.14:38; Lc.21:36), o que foi, posteriormente, repetido pelos apóstolos (I Co.15:34; 16:13; I Pe.4:7; 5:8; I Jo.2:8).  

– Embora o inimigo não se canse de tentar tragar os servos do Senhor, Deus não permite que nós lhe sejamos entregues.

Como já dissemos, ninguém pode arrebatar-nos das mãos de Jesus, mas o Senhor, em momento algum, nos agrilhoa para que permaneçamos no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente (Sl.91:1).

Se nos distanciarmos do Senhor, se deixarmos de vigiar, certamente seremos atingidos pelo inimigo, que não está longe e que não perde oportunidades, nem deixa passar ocasiões.

Como nos lembra conhecido dito popular, a ocasião faz o ladrão e o diabo é o ladrão por excelência (Jo.10:10). Tomemos cuidado!

 – Como prova de que Deus era quem guardava Davi, a Bíblia nos relata que Jônatas se encontrou com Davi num bosque em que estava no deserto de Zife, enquanto que Saul não conseguia localizá-lo (I Sm.23:16-18).

Neste encontro, Jônatas e Davi renovaram a aliança que haviam feito, tendo Jônatas, posteriormente, voltado para sua casa.

 – Jônatas, nesta ocasião, renova a promessa divina na vida de Davi. Com efeito, diz a Davi que o sucessor de Saul seria ele, o filho de Jessé, e não Jônatas, que se contentava em ser o segundo no reino.

Davi recebia, com esta declaração de Jônatas, mais um estímulo para prosseguir na direção de Deus.

Jônatas não mais seria obstáculo para sua subida ao trono. Ele mesmo reconhecia a unção divina sobre Davi.

Isto, certamente, era novo alento para o perseguido Davi, que agora tinha de seu lado tanto o novo sumo sacerdote como o príncipe herdeiro.

 Mas, apesar de tudo isto, Davi continuava no deserto de Zife, liderando cerca de quatrocentos homens, algo bem diferente do que Deus lhe havia prometido.

 – Os zifeus, sabendo que Davi se encontrava naquela região, foram até Gibeá e o anunciaram a Saul, dizendo, inclusive, que Davi se encontrava no outeiro de Haquila, num bosque.

Diante de tamanha e precisa informação, Saul foi ao encontro de Davi, não sem antes pedir aos zifeus que apurassem ainda mais a informação a respeito de Davi, para que não viajasse em vão.

Com efeito, as informações obtidas pelos zifeus foram precisas e Saul conseguiu cercar Davi.

No instante mesmo em que iria dominá-lo, teve de abandonar a empresa, pois os filisteus, aproveitando-se de que Saul deslocara-se no encalço de Davi, invadiram Israel.

Deus usava, desta feita, os próprios filisteus para livrar Davi. O local ficou, inclusive, conhecido como Sela-Hamalecote, ou seja, “rocha de divisões ou da fuga”.

Davi, apesar do livramento, resolveu deixar a região, vez que seus moradores lhe eram hostis, preferindo ir para os lugares fortes de EnGedi (I Sm.23:19-29).

 – Que triste situação a de Davi. Os zifeus eram da tribo de Judá, ou seja, irmãos de tribo de Davi e agiam contra ele em favor de um rei que era de outra tribo, a tribo de Benjamim.

 Nem mesmo a sua tribo o apoiava. Davi tinha alento e estímulo somente da parte de Deus, caminhava unicamente pela fé. Se fosse verificar o quadro político, veria que chance alguma teria de reinar sobre Israel, rejeitado que era pelos de sua própria tribo, de seu próprio povo, liderando um grupo de renegados da sociedade.

No entanto, Davi prosseguia na orientação divina. O crente deve agir do mesmo modo: andar por fé, não por vista (II Co.5:7).

 – Entretanto, quando Davi fica sabendo que os zifeus lhe haviam dado o paradeiro, Davi recorre ao Senhor. É nesta circunstância que é feito o Salmo 54, um outro “masquil” do futuro rei.

Davi pede a Deus que o livre, que o salve das mãos de Saul. Pede a Deus socorro e deixa nas mãos do Senhor o destino daqueles que o perseguem, demonstrando, assim, não ser movido da vingança nem de qualquer sentimento inadequado para quem serve a Deus.

Sabe que está em situação de aflição, mas clama a Deus, o seu Ajudador. Promete oferecer sacrifícios a Deus voluntariamente e louvar a Deus porque o tem livrado dos inimigos.

Vemos, assim, que este grande livramento proporcionado por Deus a Davi era resposta de sua oração. Confiemos em Deus assim como Davi, queridos irmãos!  

– Mudou-se Davi para a região de En-Gedi, mas não era o novo local que dava ânimo e confiança ao futuro rei.

Ali, no deserto de Judá, Davi compôs o Salmo 63, onde reafirma que o Senhor é seu Deus e que sua alma tinha sede de Deus, que somente no Senhor a sua alma se fartaria.

Nas asas do Senhor é que Davi se sentia refugiado, pois sua alma seguia a Deus de perto e sabia que todos os seus inimigos cairiam à espada, seriam uma ração para a raposa.

Davi agora já compreendia que seu refúgio era o Senhor e que n’Ele alcançaria a vitória sobre toda esta perseguição.

 – De nada adiantou, porém, Davi mudar-se para a região de En-Gedi, perto do mar Morto. Isto foi anunciado a Saul que, então, tomou três mil homens escolhidos dentre todo o Israel e foi à busca de Davi (I Sm,.24).

Davi era perseguido pela elite do exército do país que haveria de reinar.

Como fazer isto sentido na mente humana? No entanto, é o que estava a ocorrer e, para complicar ainda mais a situação, Saul resolve entrar em uma caverna para fazer as suas necessidades fisiológicas.

Que caverna Saul escolhe? Precisamente aquela em que Davi havia se escondido (I Sm.24:3).  

– Neste instante, os homens de Davi, ao perceberem que o rei se encontrava sozinho, em situação de completa vulnerabilidade, incita Davi a matar Saul. Era este o momento em que Deus havia entregado o inimigo em suas mãos: era hora de atacar.

Saul seria morto e Davi reinaria, ainda mais que Jônatas já havia aceitado o senhorio de Davi.

Que tentação! Mas Davi já tinha aprendido a se guiar pelo Espírito Santo e não pelas circunstâncias da vida.  

– Davi, então, mansamente, cortou a orla do vestido de Saul, que estava à parte e, ao fazê-lo, se arrependeu de o ter feito.

Em seguida, não permitiu que nenhum dos seus homens ferisse ou matasse Saul, mantendo-se dentro da caverna.

Depois que Saul saiu da caverna, Davi também o fez e gritou para Saul, mostrando que tinha cortado a orla do manto real e que, se quisesse, poderia ter matado o rei.

Com este gesto, Davi esperava dissuadir todos os boatos e notícias que podiam ter posto Saul contra ele, mal sabendo, porém, que o mal era querido pelo próprio Saul, de seu próprio coração e não de alguma trama ou conspiração de quem quer que seja.

Davi reafirmou que não se vingaria de Saul e que tudo havia deixado nas mãos do Senhor. Saul, ao ouvir a voz de Davi e seu dito, chorou, reconhecendo que havia sido recompensado com bem pelo mal que havia causado a Davi.

Confessou, então, saber que Davi era o seu sucessor e pediu a Davi que jurasse que não desfaria a semente de Saul, o que Davi fez (I Sm.24:5-22).

 – Davi manteve-se fiel à lei divina. Sabia que havia sido pago um alto preço por ter quebrado a lei ao comer os pães da proposição e não poderia matar o rei de Israel impunemente.

Rejeitado, ou não, por Deus, Saul havia sido ungido e a sua morte, naquelas circunstâncias, era violação de um dos dez mandamentos. Como ficaria impune o assassino de um ungido do Senhor?

Davi tudo havia deixado nas mãos do Senhor, como dissera nos salmos compostos neste período de tribulação e deveria fazer aquilo que havia cantado.  

– Nos dias hodiernos, não é diferente. Não podemos ser homicidas dos ungidos do Senhor, ou seja, não podemos deixar de amar aqueles que foram salvos pelo Senhor Jesus e que são, agora, templo do Espírito Santo (I Jo.3:15).

Este episódio é muito citado para nos estimular à obediência aos pastores, mas sua aplicação não se restringe aos pastores. Ungidos do Senhor são todos os salvos, não apenas aqueles que foram separados por imposição de mãos.

Todos os crentes são ungidos, todos os crentes são sacerdotes (I Pe.2:9; Ap.1:6).

Portanto, tanto quem afronta o pastor, como quem desampara aquele irmãozinho humilde que se senta no último banco da igreja está a praticar um homicídio segundo a lei de Deus e, por causa disto, ficará do lado de fora da cidade santa (Ap.22:15).  

– Tanto Davi estava cheio do Espírito Santo no instante em que poupou a vida de Saul que, ao sair da caverna, compôs o Salmo 57, onde pediu, novamente, misericórdia a Deus e reafirmou sua confiança em Deus.

Disse que Deus era o seu auxílio e refúgio, apesar de todos estarem querendo tirar-lhe a vida e que seus inimigos caíram na própria cova que haviam aberto. A Davi restaria apenas louvar a Deus e exaltá-lo sobre todos os povos.  

– Nesse meio tempo, Samuel faleceu (I Sm.25:1) e Davi, sempre prudente, decidiu mudar-se, indo, agora, para o deserto de Parã.

Ali chegando, pediu que alguns de seus homens fossem pedir suprimento para um senhor da tribo de Judá, um próspero pecuarista, chamado Nabal, a cujos pastores os homens de Davi haviam ajudado quando eles se encontravam no Carmelo, onde levavam os rebanhos para pastar.

 – No entanto, Nabal recusou-se a ajudar Davi e, não só se recusou a ajudá-lo como também o desdenhou. Davi, então, sentindo-se ultrajado e necessitando de víveres para sustento de seus homens, não viu outro caminho senão o de obter por luta o que precisava.

Foi impedido em seu intento pela sábia e formosa mulher de Nabal, Abigail, que, ao saber da disposição de Davi, foi ao seu encontro levando víveres (I Sm.25:10-35).

Abigail foi usada por Deus para livrar Davi de um ato ilícito, movido pela inveja e pelo orgulho pessoal.

 Davi deu ouvidos a Abigail e, assim, não pecou. Muitas vezes, em nossa obstinação, Deus levanta homens e mulheres de Deus para nos advertir e devemos ser sensíveis à voz do Espírito Santo.

O fato de Davi ter ouvido Abigail foi, aos olhos humanos, um contrassenso, pois jamais um homem que chefiava um bando, como Davi, poderia escutar uma mulher, e, ainda mais, uma mulher casada que desafiava seu próprio marido.

Mas Davi estava aprendendo a não andar segundo as circunstâncias, mas segundo a orientação do Espírito Santo.

 – Deus confirmou o gesto de Davi pelo fato de Nabal ter morrido logo em seguida.

Davi, então, tomou Abigail como sua mulher, um outro gesto familiar de Davi que deve ser recriminado.

Davi foi levado a casar-se com Abigail pela sua formosura e pela sua beleza, sem qualquer indagação a respeito da vontade de Deus quanto a este ponto.

O fato de Abigail ter sido usada por Deus para aplacar a sua ira e para impedi-lo de pecar não implicava necessariamente em que Abigail seria uma boa mulher e uma boa rainha para Israel.

Esta constituição de uma vida familiar ao largo da vontade de Deus, como teremos ocasião de ainda estudar neste trimestre, trouxe enormes dissabores e problemas para Davi (I Sm.25:36-44).  

– É importante salientar, ademais, que Davi desposou Abigail porque estava sem mulher, já que Mical havia sido dada por Saul a Palti, filho de Laís (I Sm.25:44).

Não vemos, assim, ainda, neste momento, um Davi envolvido com a poligamia. Este fato, aliás, comprova que Davi tomou Abigail movido pela autoestima ferida, pelo fato de ter sido desonrado por Saul, que dera sua mulher para outrem, mais um sentimento totalmente impróprio para a constituição de uma família.

Logo em seguida, porém, cedeu à poligamia, tomando também por mulher a Ainoã, de Jizreel, inserindo este mau costume, visto que agindo por carnalidade, entre os reis de Israel e de Judá (I Sm.25:45).

 – Davi retornou para o deserto de Zife, para o bosque do outeiro de Haquila, certamente confiante que, após os episódios que o haviam envolvido com o rei Saul, os zifeus não ousariam denunciá-lo de novo a Saul ou o rei Saul não ousaria vir à sua busca novamente.

Ledo engano, porém. Os zifeus, ao saberem da chegada de Saul, uma vez mais foram anunciá-lo a Saul que, esquecido do benefício que lhe fora feito por Davi, resolveu ir ao encalço do filho de Jessé novamente.

Desta feita, Davi não deixou que Saul viesse às cavernas e, antes que ele ali chegasse, acampou-se no deserto com seus homens, assim como Saul estava acampado com seus homens, inclusive na companhia de Abner, comandante do exército de Israel.  

– Davi, então, acompanhado de Abisai e de Aimeleque, o heteu, desceu até o arraial do exército de Israele os encontrou dormindo.

Abisai estimulou Davi a que permitisse que ele, Abisai, matasse Saul (Abisai é um dos três primos de Davi, filhos de Zeruia, que tantos males causariam a Davi…).

Mas Davi se manteve fiel à lei e aos mandamentos do Senhor, não permitindo que Abisai se levantasse contra o ungido do Senhor.

Davi tomou a lança e a bilha de água, que estavam na cabeceira de Saul e passaram para a outra banda, sem que ninguém acordasse, pois Deus dera profundo sono a todos eles.

 

– Davi, então, clamou e chamou Abner à responsabilidade, pois falhara em proteger Saul.

Uma vez mais mostrava que, se quisesse, poderia ter matado Saul e proclamou sua inocência novamente diante do rei. Saul reconheceu que estava a pecar ao perseguir Davi daquela maneira e ainda devolveu a lança do rei.

Davi, então, disse que esperava que assim como havia poupado a vida de Saul, Deus poupasse a sua própria e que o livrasse de toda a tribulação. Saul abençoou Davi e cada um foi para o seu lado (I Sm.26:14-25).

 – Nesta segunda oportunidade em que Davi poupa a vida a Saul, vemos a situação espiritual bem diversa de ambos.

Enquanto Saul sabia estar pecando, mas não se arrependia, pois continuava a pecar, Davi não se iludia mais com relação a Saul.

Não pediu a Saul qualquer gesto, qualquer juramento para que não mais o perseguisse.

Davi pôs-se unicamente nas mãos do Senhor, pois vira que Saul chegara a um estado espiritual de completa insensibilidade espiritual, nada mais se podendo esperar dele.

 – Devemos ter este mesmo discernimento espiritual de Davi. Não adianta querermos que as coisas melhorem para nós mediante uma mudança de atitude por parte dos homens.

Muitos, como Saul, estão rejeitados e com suas consciências completamente cauterizadas, nada se podendo esperar deles.

Temos de esperar única e exclusivamente em Deus. Ele é o nosso Ajudador, o nosso Redentor, Aquele que nos levará para o céu!

 VI – DAVI A SERVIÇO DOS FILISTEUS

– Tendo chegado à conclusão de que tanto Israel quanto Saul o aborreciam, Davi resolve ir para a terra dos filisteus.

Era aborrecido em Israel e, do jeito que as coisas iam, entendeu que não faltaria oportunidade para que Saul o prendesse e matasse. Ir para a terra dos filisteus seria a solução, pois o rei perderia a esperança de buscá-lo (I Sm.27:1).  

– Davi, então, foi, novamente, a Gate, oferecer seus serviços a Áquis. Sua situação, agora, era bem diferente da primeira.

Por primeiro, não estava sem direção divina, como antes; por segundo, era público e notório o aborrecimento de Israel e de Saul para com Davi, de modo que não havia qualquer receio de que Davi fosse guerrear contra os filisteus tendo o exército de Israel como seu aliado.

 – Àquela altura, Davi tinha já seiscentos homens, ou seja, seu “bando” crescera 50% durante todo o período de perseguição e tribulação, numa demonstração da eficiência de sua liderança, o que estudaremos na próxima lição.

Como Davi havia imaginado, Saul, ao saber que Davi fora para a terra dos filisteus, desistiu de persegui-lo.  

– Áquis o acolheu e ainda lhe deu uma cidade, como Davi havia pedido, a cidade de Ziclague, que, por causa disto, passou a pertencer à família de Davi a partir de então, apesar de ficar na terra dos filisteus.

Davi ficou um ano e quatro meses a serviço dos filisteus. É importante observar que esta é a única menção temporal do texto sagrado de toda a fase da perseguição de Davi, cuja duração nos é desconhecida.  

– Esta omissão bíblica é o que chamamos de “silêncio eloquente”, ou seja, de um silêncio que fala muito.

Este período durou o tempo que Deus quis, não um tempo cronológico.

Na fase da perseguição de Davi, Deus mostra-nos que não devemos contar os dias aguardando as promessas, impacientando-nos ou perdendo a nossa esperança (pois a sensação de demora enfraquece a esperança – Pv.13:12), mas, sim, entender que,

como nos está reservada a eternidade, devemos, desde já, aprender a viver o “tempo de Deus”, ou seja, a desfrutar da presença do Senhor e aumentar nossa fé e esperança independentemente dos dias.

Neste sentido, aliás, é que devemos compreender a expressão de Moisés no Salmo 90, quando pede ao Senhor que aprendamos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios (Sl.90:12).

O “tempo de Deus” é “hoje” e, a cada dia, a cada momento, a cada instante, precisamos confiar em Deus e descansar em Suas mãos.

Davi aprendeu isto, quando, ao se encontrar com Saul, deixar tudo nas mãos do Senhor, pouco se importando pelos anos que já havia passado fugindo de Saul e sem se importar com o quadro político cada vez mais adverso a uma tomada de poder por ele, Davi, em Israel.

OBS: “Kairos (καιρός) é uma antiga palavra grega que significa ‘o momento certo’ ou ‘oportuno’.

Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairos. Enquanto o primeiro refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, esse último é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece.

É usada também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, o ‘tempo de Deus’, enquanto chronos é de natureza quantitativa, o ‘tempo dos homens’.

Na teologia cristã, em síntese pode-se dizer que chronos, o tempo humano (medido), é descrito em anos, dias, horas e suas divisões.

Enquanto o termo kairos, que descreve ‘o tempo de Deus’, não pode ser medido, pois ‘para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia.’ (2 Pe 3:8).” (WIKIPEDIA. Kairos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Kairos Acesso em 15 set. 2009).  

– Davi, então, passou a atacar os moradores de Canaã, com exceção dos israelitas, matando a todos que atacava e trazendo os bens para o rei de Gate.

Davi não deixava qualquer testemunha e o rei de Gate gostou do seu trabalho pois, diante do aborrecimento que havia entre Davi e Israel, achava que as circunstâncias político-militares levavam Davi a não ter outra saída senão a de servir os filisteus para sempre (I Sm.27).  

– No entanto, o que Áquis havia imaginado, não era o que Deus havia planejado. Um ano e quatro meses depois que Davi estava a serviço do rei de Gate, há uma nova guerra entre israelitas e filisteus.

Davi encontrava-se entre os filisteus e deveria, pela primeira vez na sua vida, guerrear contra o seu próprio povo. No entanto, Deus não iria permiti-lo.

Na verdade, quando Davi já estava preparado para a batalha, os demais príncipes dos filisteus, ao saber que Davi se encontrava acompanhando o rei de Gate, não permitiram que ele saísse à peleja, pois não confiavam em Davi.

Assim, Davi foi dispensado por Áquis e retornou para Ziclague. Eram os filisteus, uma vez mais, sendo usados por Deus para impedir que Davi pecasse ou fizesse algo que não fosse do agrado do Senhor e que o incompatibilizasse com o trono de Israel (I Sm.29).

– No retorno de Davi a Ziclague, Davi, que já estava chateado com esta nova discriminação e oposição surgida contra ele, tem uma notícia terrível.

Enquanto estivera a acompanhar Áquis, Ziclague havia sido saqueada pelos amalequitas e todas as mulheres e filhos haviam sido levados cativos, assim como todos os bens móveis roubados.

O transtorno causado foi de tal ordem que chegou a haver até mesmo uma rebelião interna entre os soldados de Davi, que, por pouco, Davi não foi apedrejado por eles (I Sm.30:1-6).

– Davi parecia ver um “videotape” em sua vida. Como ocorrera anos antes, de um só golpe, Davi perdera sua família, sua posição e seus bens.

Assim como saíra de sua casa na corte de Saul com a roupa do corpo, só com a roupa do corpo estava agora em Ziclague e, o que é mais grave, sem poder pedir ajuda a Áquis, que se preparava para a guerra contra os israelitas, e com sua tropa dividida.

Tudo porque Davi não se esforçara em deixar de se envolver na guerra contra os israelitas. Agira, uma vez mais, movido pelo ressentimento, pela mágoa, pela vingança.

Não só Deus o privara de guerrear contra Israel como ainda permitira que sua cidade fosse saqueada na sua indevida ausência.

 – Apesar destas dificuldades severas, Davi não repetiu o erro do passado. Se saiu da corte de Saul sem direção, agora nada faria sem recorrer ao Senhor.

Apesar de sua angústia, esforçou-se no Senhor seu Deus ( I Sm.30:6) e consultou ao Senhor, através do sacerdote Abiatar (I Sm.30:7,8).

Deus mandou que fosse ao encalço dos amalequitas, pois tudo recuperaria e, só após esta orientação divina, iniciou a caminhada para a batalha.  

– No entanto, ao chegar ao ribeiro de Besor, duzentos dos seiscentos homens pararam, sem condições de prosseguir.

Além de dividido, o bando de Davi estava esgotado física e psicologicamente.

Mesmo assim, Davi prosseguiu sua caminhada, deixando os duzentos guardando a bagagem.

No caminho, avistou um homem meio-morto, um servo egípcio de um amalequita, que havia sido abandonado doente. Como era pessoa bondosa, parou para dele cuidar e neste cuidado se encontrava a chave de sua vitória.

O moço, recuperado, disse onde estava o inimigo, que foi surpreendido enquanto celebrava sua vitória.  

– Davi tudo recuperou, matou a quase todos os inimigos, salvo quatrocentos que conseguiram fugir sobre camelos, recuperando a todos, inclusive seus familiares, bem como a todo o patrimônio e ainda conseguindo grande despojo.

Nesta ocasião, Davi estabeleceu a lei da presa, algo que estudaremos mais amiúde na próxima lição, pois é assunto que diz respeito à formação da liderança de Davi. (I Sm.30:7-31).   

– Ao chegar a Ziclague, Davi manda parte do despojo aos anciãos de Judá, iniciando uma aproximação política que seria fundamental para a mudança das circunstâncias que lhe eram desfavoráveis no quadro da sucessão de Saul.  

– Veio a guerra e nela os israelitas foram vencidos, sendo mortos tanto Saul quanto Jônatas (I Sm.31), notícia que logo chegou a Davi em Ziclague (II Sm.1).

O caminho começava a se abrir para Davi se tornar rei de Israel, chegava o momento oportuno para Davi subir ao trono.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4629-licao-8-o-exilio-de-davi-i

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