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LIÇÃO Nº 12 – A REBELIÃO DE ABSALÃO   

A rebelião de Absalão foi a maior crise do reinado de Davi.

 INTRODUÇÃO

 – Na sequência do estudo dos livros de Samuel, veremos hoje a rebelião de Absalão.

 – A rebelião de Absalão foi a maior crise do reinado de Davi.

 I – A PÉSSIMA VIDA FAMILIAR DE DAVI: A ORIGEM DA REBELIÃO DE ABSALÃO

 – Na continuidade do estudo dos livros de Samuel, veremos hoje a rebelião de Absalão, a maior crise vivida por Davi em todo o seu reinado e que é uma das principais consequências de seus pecados revelados pelo profeta Natã.

 – Para bem entendermos esta rebelião comandada pelo filho que era, à época da revolta, o herdeiro presuntivo do trono de Israel, é preciso fazer uma análise da vida familiar de Davi que, apesar de ser um homem segundo o coração de Deus, jamais deve ser tido como exemplo de vida familiar, pois não foi nem bom pai, nem bom marido.

 – A principal falha de Davi narrada nas Escrituras diz respeito ao seu comportamento familiar. Davi não é um exemplo para se seguir em termos familiares, tanto na forma como se casou como também na forma como criou os seus filhos. Não é de se surpreender, portanto, que, quando da sentença divina sobre Davi, tenha sido a sua família a principal vítima (II Sm.7:10-12). 

– Pelo que observamos do texto sagrado, Davi foi criado num ambiente familiar que não o levava muito em conta.

Quando Samuel vai a casa de Jessé para ungir um dos filhos deste como novo rei de Israel, Davi, por ser “o menor”, nem sequer foi convidado para participar dos sacrifícios pacíficos oferecidos pelo velho profeta e sacerdote nem tampouco do banquete que se lhe seguiu (I Sm.16:5,11,12).

Vemos, pois, que Davi já teve uma criação de menosprezo durante sua infância e início de adolescência, o que, certamente, teve influência decisiva para o seu comportamento familiar no desenrolar de sua vida. 

– Davi foi menosprezado como filho em sua casa. Apesar de obediente a Jessé e zeloso em suas tarefas domésticas, era carente de afeto e de companhia, circunstância que muito explica seu comportamento ao longo de sua vida.

A psicologia mostra-nos que o ser humano forma o seu caráter nos três primeiros anos de vida e que tudo o que aprender e acrescer após este período é tão somente complemento daquele núcleo que permanece inalterado até o final da sua existência, salvo, obviamente, a alteração promovida pelo “novo nascimento”.

No entanto, quão poucas pessoas, na atualidade, preocupam-se com este dado e desprezam completamente a educação de suas crianças, deixando-as à mercê de uma doutrinação satânica.

 

– Nos dias hodiernos, é com tristeza que vemos como se mantém a mesma mentalidade dos discípulos de Cristo.

Há uma completa ausência de preocupação para com os pequeninos. Os pais omitem-se totalmente não só na educação doutrinária de seus filhos, achando que as Escolas Bíblicas Dominicais é que têm a obrigação de ensinar-lhes a Palavra de Deus, como também na própria educação secular, relegando a creches, escolas e tantas outras instituições o dever, que é dos pais, de educar e socializar os filhos.

Com a desculpa da necessidade de trabalharem, os pais limitam-se a dar o pão físico a seus filhos, não os instruindo em nada mais.

O resultado disto é a completa entrega dos filhos nas mãos do diabo e, o que é mais grave, o surgimento de uma geração despida de qualquer afeto ou sentimento familiar. 

– Davi, apesar de desprezado como filho, vivia num lar que, ao menos aparentemente, se conduzia de acordo com a sã doutrina.

Davi, pelo menos, era obediente e recebeu bons exemplos de seu pai, como, por exemplo, como já vimos em lições anteriores, o cuidado com o rebanho e o zelo em não se apresentar a homens de autoridade de qualquer maneira.

Por isso, apesar de seus fracassos na área familiar, pôde ter uma vida agradável ao Senhor. Mas, como seria Davi se não houvesse este respaldo doutrinário em sua casa?

Como seria Davi se, além do menosprezo sofrido em termos de afeto e solidariedade, também não tivesse tido qualquer instrução na Palavra de Deus e nos bons costumes sociais? 

– É triste dizer, mas Davi seria como são muitos, milhares de “filhos de crente” nos dias hodiernos.

As estatísticas mostram que, para tristeza e vergonha dos servos do Senhor no Brasil, a porcentagem de “filhos de crente” nos presídios e reformatórios é mais do que o dobro da porcentagem de evangélicos no país (e ainda se levando em conta as porcentagens mais amplas existentes a este respeito).

Como podemos admitir que sejam os servos de Deus os piores pais e educadores da nação? Simplesmente porque são eles, precisamente, os que mais negligenciam na vida familiar, os que abrem ao inimigo de nossas almas uma grande brecha neste campo e o diabo, que não perde oportunidade, encontrando lugar nos lares dos crentes, “faz a festa”, roubando, destruindo e matando (Jo.10:10).

 Que o estudo da vida de Davi sirva para conscientizar os pais da necessidade de assumir o dever que lhes é imposto pela Bíblia Sagrada, que é criar os filhos na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:4)! 

– A má formação familiar de Davi teve repercussão na vida deste homem de Deus. Quando vai ao encontro de seus irmãos durante a guerra contra os filisteus, vemos, na reação do irmão mais velho de Davi, Eliabe (I Sm.16:28,29),

a hostilidade que Davi sofria desde o instante em que havia sido ungido pelo profeta como rei de Israel.

Já não bastasse ter sido menosprezado em sua criação durante a infância e início da adolescência, depois de ter recebido a bênção da unção, Davi adquiriu a hostilidade dos de sua casa.

Teve de se respaldar em outros para saber qual era a oferta do rei Saul e para conseguir se apresentar ao monarca a fim de mostrar sua disposição para lutar contra o gigante, sem qualquer apoio familiar. 

– A hostilidade e a falta de apoio familiar é um fator que muitos problemas traz para a formação e para a tomada de decisões do ser humano.

O lar é um verdadeiro “ninho”, um lugar de proteção, onde o amor, o afeto, a experiência dos pais criam condições para que a pessoa possa adquirir uma estatura que a faça capaz de enfrentar o “mundo lá fora”. Jesus, em Seu lar humano, “cresceu em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc.2:52). 

– Quando não há, por parte dos pais, o cumprimento de seu dever de criar os filhos na doutrina e admoestação do Senhor, quando não há o necessário companheirismo e afeto, o resultado é que os filhos não crescem, tornam-se imaturos, verdadeiros “anões”, não tendo condições nem de ter uma vida espiritual nem uma vida social equilibradas.

Não conseguem tomar as decisões certas, porque não têm referencial (falta de sabedoria); não conseguem enfrentar a contento os problemas da vida, porque não foram ensinados como devem proceder (falta de estatura) e muitos menos não conseguem conviver com outras pessoas, respeitando-as dignamente (falta de graça).  

– Davi, ainda que de pouca idade, não se sentia bem em sua casa e o que mais lhe chamou a atenção nos comentários feitos em torno da batalha contra os filisteus, foi de que o rei daria sua filha em casamento a quem enfrentasse o gigante (I Sm.17:25,26,30).

Davi, que tinha já a promessa divina de se tornar rei de Israel, viu aí a sua grande oportunidade de ver concretizada a bênção da unção, tornando-se genro do rei.  

– O que mais chamou a atenção de Davi, pois, foi a oportunidade de constituir uma família, de pertencer à família do rei, prova de que não se sentia bem em sua própria família, pelos motivos que já dissemos: o menosprezo e a hostilidade.

Quantos não procedem assim ainda hoje: buscam constituir novas famílias somente para se livrar das famílias onde estão?

Ou, o que é pior ainda, buscam substituir suas famílias por outros grupos sociais que lhes tragam um pouco de afeto, consideração e reconhecimento, que não têm em seus lares e, por isso, passam a frequentar gangues, quadrilhas, “tribos”, comunidades virtuais, redes sociais, torcidas organizadas de clubes de futebol, grupos vocais (inclusive nas igrejas locais) e tantos outros grupos, única e exclusivamente para ter aquilo que não encontraram em suas casas?

 – A falta de afeto e bem-estar nos lares leva os jovens e adolescentes a procurar “fugir de casa”, construindo relacionamentos substitutivos, o que não é bom, mormente quando se verifica que não tiveram uma boa formação que os possibilite tomar decisões.

Não é surpreendente, pois, que, nos dias hodiernos, tenhamos tantos jovens e adolescentes envolvidos na criminalidade, nas drogas e na prostituição, inclusive os “filhos de crente”, precisamente porque vão ao encontro do mundo buscando nele saciar aquilo que não têm em seus lares, muitos dos quais nunca foram, como deveriam ter sido, verdadeiros altares para a manifestação da glória do Senhor. 

– Davi estava buscando sair de sua família e, ao vencer o gigante, conseguiu seu intento, pois Saul não mais o deixou voltar para a casa de seu pai (I Sm.18:2).

Imediatamente, Davi começou a servir a Saul com todo o entusiasmo e com toda a dedicação, ainda que se conduzia sempre com prudência, comportamento este que é resultado não só da presença do Espírito Santo na sua vida, mas também de uma boa formação familiar quanto a este quesito, pois, como já dissemos, tudo nos indica que, apesar de falho em afeto e companheirismo, Jessé soube ensinar a sã doutrina a seus filhos. 

– Este entusiasmo com a sua posição no reino fê-lo esquecer, momentaneamente, do desejo de casar-se com a filha do rei, até porque já tinha um outro grupo onde buscasse afeto e sociabilidade.

No entanto, quando foi atacado por Saul e feito chefe de mil, tal desejo voltou a Davi, inclusive porque Saul renovou a proposta de casamento, ainda que não tenha entregado Merabe a Davi, uma vez que este não se entusiasmou com a oferta de sair desvairadamente com sua gente de guerra (I Sm.18:17-19). 

– No entanto, Davi percebeu que Mical, a outra filha de Saul, engraçava-se dele e, quando isto chegou ao conhecimento de Saul, tentou o rei fazer com que este sentimento fosse um laço para a vida do jovem que ameaçava o seu trono.

Apesar de, num primeiro instante, Davi manter-se equilibrado, ante a oferta para ser genro do rei, reconhecendo não ter posses para casar-se com a princesa, acabou sendo levado pela proposta de que bastariam cem prepúcios de filisteus para que pudesse ter a mão de Mical em casamento (I Sm.18:2026). 

– Notamos aqui como a má formação familiar de Davi o levou a uma decisão precipitada, interesseira e sem qualquer orientação divina. Davi necessitava de uma mulher, sabia que Mical estava apaixonada por ele e, certamente, também se apaixonou por Mical, pois, se assim não fosse, não teria obtido duzentos em vez de cem prepúcios de filisteus.

Um casamento nascido da atração física, da fama, do interesse, sem qualquer orientação divina, e isto por parte de um homem que tinha o Espírito Santo. Que tristeza!

Lamentavelmente, muitos agem assim ainda em nossos dias: são servos do Senhor, mas, na hora do casamento, não buscam a orientação divina, deixando-se levar por tudo, menos pela vontade do Senhor. 

– Davi entregou o dobro do dote supostamente querido por Saul (que, na verdade, queria a morte de Davi pela espada dos filisteus) e, desta maneira, casou-se com Mical. Um casamento movido por paixão e por interesses e que não poderia ter outro fim senão o desastre, o fracasso.

Davi alcançou a posição de genro do rei, mas vemos que o relacionamento dele com Mical não foi bom. Não se diz quantos anos ficaram casados, mas o fato é que Davi se dedicava intensamente a suas funções de chefe de mil, enquanto que Mical era relegada a um segundo plano, tanto que nem sequer filhos Davi teve com Mical, prova de que o relacionamento conjugal não era dos melhores. 

– Aliás, o que notamos, durante toda a vida de Davi, é seu desprezo para com suas mulheres. No lamento pela morte de Jônatas, Davi exclama que a amizade que tinha com o primogênito de Saul era maior que o “amor das mulheres” (II Sm.1:26).

Se é certo que esta declaração jamais pode ser interpretada como indício de homossexualismo de Davi, também é evidente que Davi via o seu relacionamento com suas mulheres num patamar de inferioridade.

– Apaixonado por Mical, quando do momento da grande perseguição sofrida por causa de Saul, Davi viu que um casamento com base na paixão e no interesse não tem condições de perdurar. Mical, tendo sabido de toda a armadilha de seu pai, comunicou tudo a Davi, mas não quis acompanhá-lo, preferindo a corte a seu marido (I Sm.19:12-17).

Como se isto não bastasse, Davi ainda fica sabendo que Mical fora dada a outrem como mulher (I Sm,.25:44), ou seja, Mical não fez qualquer objeção em mudar de marido, desde que mantivesse a sua posição na corte.

Um duro golpe para um marido: ser abandonado pela mulher em troca de posição e conforto. Menosprezado e hostilizado na casa de seu pai, Davi agora era desprezado por sua própria mulher.  

– No episódio que envolveu o judaíta Nabal, que negou víveres a Davi, Davi teve contato com a mulher deste, Abigail que, com sua sabedoria e excelência de conduta, salvou a sua casa de ser atacada por Davi e seus homens.

O próprio Deus providenciaria que Nabal morresse logo em seguida e, logo em seguida, atraído pela formosura e inteligência de Abigail, Davi resolve casar-se com Abigail, que, também atraída por Davi, apressadamente aceitou o convite (I Sm.25:39-42).

 – Neste segundo casamento de Davi, vemos praticamente os mesmos erros do primeiro. Senão vejamos.

Davi estava extremamente irado diante da recusa e do desprezo de Nabal, que tinha em seu intento não deixar ninguém da casa de Nabal com vida até o amanhecer (I Sm.25:34).

Abigail conseguiu apaziguá-lo com muita sabedoria, prostrando-se diante dele, chamando-se de serva e com víveres em relativa abundância.

Davi impressionou-se com as atitudes de Abigail e o ódio que estava a alimentar transformou-se em atração física, pois a Bíblia nos diz que se tratava de mulher de bom entendimento e formosa (I Sm.25:3).

OBS: A tradição judaica diz que Abigail foi uma das quatro mais formosas mulheres que já viveram sobre a face da Terra (KADARI, Tamar. Abigail: midrash and aggadah. Disponível em: http://jwa.org/encyclopedia/article/abigail-midrash-and-aggadah Acesso em 21 out. 2009).

 – Davi sentiu-se atraído seja por Abigail, seja por Ainoã e queria se mostrar firme diante de Israel mesmo depois do grande desrespeito sofrido com a perda de Mical, tendo, por isso, casado com duas mulheres, como que a dizer que, se Saul lhe havia tirado sua primeira mulher, agora tinha duas. 

– Nesta sua motivação totalmente equivocada e sem qualquer orientação divina, Davi ainda seguiu o costume da poligamia, uma das muitas manifestações culturais absorvidas pelo povo de Israel dentre as nações que estavam à sua volta e que haviam sido mantidas, inclusive na lei, por causa da dureza dos corações dos israelitas (Mt.19:4-8).

 – Apesar de ter duas mulheres, Davi não teve filhos enquanto não passou a reinar sobre a tribo de Judá em Hebrom, numa clara demonstração que não dava qualquer prioridade a seu relacionamento com suas mulheres, mas, sim, a suas campanhas militares.

Construiu, assim, muito mal a sua família, com a mesma falta de afeto e companheirismo que parecia ter sido a tônica de sua infância e adolescência em Belém. 

– Esta falta de afeto e de companheirismo fica bem demonstrada no episódio do saque amalequita contra Ziclague.

Davi deixou a cidade desguarnecida quando foi, em companhia de Áquis, para a peleja contra Israel, tornando presa fácil do inimigo não só o seu lar, como também o de seus soldados.

Ao chegar a Ziclague, quase foi apedrejado, visto que seus soldados se revoltaram com ele diante daquela situação, mais um alerta divino para Davi dar o devido valor à família (I Sm.30:1-6). 

– Mesmo diante deste novo alerta divino, Davi persistiu em sua má vida familiar. Nem mesmo o risco de morte por parte de seus próprios homens foi um sinal suficiente para fazer Davi mudar de parecer com relação a sua família.

Ainda sem filhos, seguindo a orientação de Deus, após a morte de Saul, mudou-se, com suas duas mulheres, para Hebrom, onde foi ungido rei de Judá.

 – Já reinando sobre Judá, Davi percebeu que era necessário ter descendência. O fato de ter tido filhos somente quando se estabeleceu em Hebrom é menos um despertamento para a necessidade de dar o devido valor a seu relacionamento conjugal e muito mais um desencargo de suas obrigações reais, pois todo rei deve, numa monarquia, fazer sucessor, ou seja, ter filhos. Por isso, passa a ter esta preocupação e surge, então, a sua prole.

Ainoã lhe dá o primogênito: Amnom. O significado de “Amonom” é “fiel”, expressão que mostra que, neste instante, Davi estava grato a Deus por já estar a reinar sobre a sua tribo, na convicção de que a promessa divina para sua vida seria cumprida. 

– Em seguida, teve um filho com Abigail, Quileabe ou Daniel (II Sm.3:3; I Cr.3:1), cujo nome significa respectivamente “inteiramente pai” e “Deus é meu juiz”, expressões que demonstram que, neste momento, Davi, por ter filhos de ambas suas mulheres, considerou-se como pai no sentido pleno, bem como lembrando que Abigail lhe fora por esposa porque Deus o havia impedido de matar Nabal, fazendo justiça por ele. 

– Nestes nomes dados a seu segundo filho (que parece não ter vivido muito, pois dele não fala mais o texto sagrado), Davi mostra, muito bem, que sua preocupação em ter filhos era o de promover a sua sucessão.

Mais uma vez o lado familiar e afetivo era relegado ao segundo plano, algo que, infelizmente, temos visto na vida de muitos servos do Senhor, principalmente daqueles que são chamados para o ministério.

Que a vida conturbada de Davi por causa deste menosprezo à família sirva de exemplo para estes obreiros, antes que seja tarde demais! 

– O desprezo para com a vida familiar não pararia aí, entretanto. Já não bastasse ter aceitado a poligamia, Davi, também, adota o costume dos reis das outras nações de efetuar “casamentos políticos”, ou seja,

de firmar alianças com os outros povos mediante o casamento com integrantes das famílias reais dos países vizinhos, fazendo com que a paz política se traduzisse em alianças familiares entre as dinastias, tática que até hoje caracteriza grande parte da realeza ainda existente no mundo.

OBS: Oportuno verificar que a principal religião do mundo a admitir a poligamia, na atualidade, é o islamismo.

A admissão da poligamia pelos muçulmanos deve-se, precisamente, ao fato de que Maomé, o profeta do islamismo, ter estabelecido o seu império na Arábia principalmente por meio de alianças firmadas com base em casamentos políticos. 

– A Bíblia diz-nos que, uma vez em Hebrom, Davi casa-se pela terceira vez, desta feita com Maaca, filha de Talmai, que era o rei de Gesur (I Sm.3:3).

Gesur era um pequeno principado arameu a leste do rio Jordão e ao sul de Maacá, que fazia parte do território da tribo de Manassés e que não tinha sido até então conquistado pelos israelitas (Js.13:2,13),

contra quem Davi havia lutado, nos tempos em que servira a Áquis (I Sm.27:8) e com quem Davi, durante sua contenda com Isbosete, quis fazer paz, a fim de melhorar sua situação política. 

– Usar do casamento como instrumento para melhorar sua situação político-militar foi outro grande erro na vida de Davi e que, aliás, seria seguido por Salomão a um ponto tal que acabou por gerar a perda da unidade de Israel e quase que a salvação do terceiro rei de todo o Israel (I Rs.11:1-13). 

– Com Maaca, Davi teria, por primeiro, um filho a quem deu o nome de “Absalão”, nome cujo significado é “pai da paz”, a indicar que Davi pensava, com os casamentos políticos, obter a paz tão almejada com os povos vizinhos, como se a paz fosse produto apenas de estratagemas humanos.

A propósito, Absalão, em vez de “pai da paz”, seria o “filho da guerra”, precisamente por causa dos descuidos familiares de Davi. 

– Mas Davi não se limitou a se casar com Maaca. Em Hebrom, também, casou-se com Hagite, a mãe de Adonias (I Sm.3:4).

As Escrituras informação alguma dão sobre esta mulher, mas a tradição judaica diz ter sido uma “dançarina” que Davi teria tomado por mulher em mais de seus impulsos amorosos.

O nome “Hagite” significa “nascida em dia festivo”, “festiva”, talvez daí advindo esta tradição. De qualquer maneira, pelo fato de Davi jamais ter contrariado Adonias durante toda a sua vida (I Rs.1:6), pode-se daí deduzir que Hagite tinha alguma ascendência sobre Davi, algum poder sedutor sobre ele.

Mais um casamento feito com base na paixão, no impulso, sem qualquer orientação divina e que traria a Davi sérias consequências no futuro, pois Adonias, em uma grande desonra ao pai, tentou tomar-lhe o trono quando o rei já se encontrava bem envelhecido e próximo à morte.

 – O nome dado ao filho de Hagite, ou seja, “Adonias”, que significa “Jeová é Senhor”, mostra como Davi estava mesmo é ocupado de sua guerra com Isbosete e com a confirmação do reino de Israel em suas mãos.

Ao dar este nome ao filho de Hagite, notamos claramente que se estava naquele momento em que Davi percebia que Deus estava do seu lado e fortalecendo o seu partido em detrimento do de Isbosete ((II Sm.3:1) 

– Davi, também, casou-se com Abital, a mãe de seu quinto filho, Sefatias (II Sm.3:4), pessoa sobre a qual também a Bíblia silencia quanto a procedência ou às circunstâncias de seu casamento com o então rei de Judá.

O nome dado a este filho, “Sefatias”, cujo significado é “Jeová tem julgado”, percebemos que Davi continuava com a primazia de suas ocupações na vida político-militar, pois tudo indica que Davi está se referindo aos movimentos de Abner para constituí-lo rei sobre todo o Israel e, inclusive, sobre o retorno de Mical ao convívio com Davi (II Sm.3:12-19). 

– Ainda em Hebrom, Davi casou-se com Eglá, mãe de Itreão (II Sm.3:5). “Itreão” significa “fartura de gente” e isto nos indica, uma vez mais, que Davi tinha como objetivo, ao ter filhos com estas mulheres, tão somente assegurar a sua descendência dinástica.

 Via os casamentos, portanto, como mero instrumento para a sua segurança como rei de Judá partindo para ser rei de todo o Israel, num total e completo menosprezo a sua vida familiar. 

– Notemos que Davi teve um filho com cada mulher, a demonstrar que o relacionamento estabelecido com elas era meramente utilitário, visava tão somente fazer descendentes para garantir a continuidade dinástica.

Mesmo as duas mulheres que a Bíblia diz terem amado Davi, terem sido atraídas por ele (Mical e Abigail) tiveram este amor como secundário frente à amizade que Davi tinha com Jônatas, como já vimos.   

– Davi construiu uma família com “fartura de gente”, mas com total falta de orientação divina, afeto, companheirismo. Uma família desta natureza, que assim como Ziclague, havia sido deixada completamente à mercê do inimigo, seria o alvo fácil do adversário quando o rei sofresse as consequências de seus horrendos pecados cometidos no “caso de Urias, o heteu”.

 II – OS ANTECEDENTES DA REBELIÃO DE ABSALÃO

 – Davi conquistou Jerusalém e, com este gesto, como já estudado neste trimestre, iniciou a expansão de seu reino, chegando às fronteiras prometidas por Deus a Abraão.

Se na vida “profissional”, a conquista de Jerusalém trouxe um impulso sem igual a Davi, a ponto de fazê-lo entender que havia confirmação divina para o seu reinado (II Sm.5:12), tornando-o o grande conquistador da história de Israel, representou, em termos de vida familiar, o aprofundamento das falhas cometidas na constituição de sua família.

 – Com efeito, logo em seguida à declaração bíblica de que Davi tivera o discernimento da confirmação do seu reino, o que teria de ter como contrapartida um maior cuidado na formação da “fartura de gente” que levara a Jerusalém, as Escrituras registram que Davi tomou mais concubinas e mulheres (II Sm.5:13).  

– Apesar da confirmação do reino, Davi não teve qualquer preocupação de estruturar a família cuja constituição se dera em Hebrom, mas, bem ao contrário, assumiu, de uma vez por todas, os costumes dos reis das nações, formando um verdadeiro “harém real”, não só com mais mulheres, mas também com concubinas.

Tomava, pois, a decisão de moldar a sua casa assim como os reis das demais nações, em nada se distinguindo dos monarcas de seu tempo.

 – Foram tantas as mulheres e concubinas tomadas por Davi que o texto sagrado apenas registra o nome dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém:

Samua, Sobabe, Natã, Salomão, Ibar, Elisua, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete (II Sm.5:14-16; I Cr.3:5-8), fora as filhas, que não foram explicitamente nomeadas e das quais conhecemos pelo menos uma, Tamar, irmã  germana de Absalão (II Sm.13:1; I Cr.3:9).

 – Não bastasse esta multiplicação de mulheres, algo que era vedado ao rei pela lei mosaica (Dt.17:17), a Bíblia diz-nos que Davi, também, teve mais filhos e filhas (II Sm.5:13).

Esta expressão do texto sagrado mostra-nos, claramente, que Davi era tão somente um “procriador”, alguém que estava interessado em suscitar descendentes para segurança da dinastia, mas que não se importava em criar seus filhos, como, aliás, muitos fazem nos dias hodiernos.  

– Durante o relato bíblico da vida de Davi, não o encontramos, salvo às vésperas da morte, conversando com qualquer filho ou estando na companhia de qualquer filho.

Jessé o chamava para que fosse ver seus irmãos (I Sm.17:17), Saul se fazia acompanhar de Jônatas nas batalhas (tanto que ambos morreram juntos) e costumava tomar as refeições com seu filho, num companheirismo, aliás, que foi declarado pelo próprio Davi (II Sm.1:23), mas Davi, durante todo o seu reinado, não é visto dando instruções a este ou aquele filho, fazendo-se acompanhar deste ou daquele filho nas batalhas, tomando refeição com qualquer filho.

Era um pai completamente ausente, que não tinha nenhuma participação na formação de sua descendência.  

– Este distanciamento de Davi em relação a seus filhos evidencia-se em alguns episódios bíblicos, um dos quais será fundamental para dar início à rebelião de Absalão. 

 – Amnom, o filho primogênito de Davi e herdeiro presuntivo do trono, apaixonou-se por Tamar, a sua meiairmã, pois, enquanto Amnom era filho de Ainoã, Tamar era filha de Maaca.

– Esta paixão, totalmente desconhecida de Davi, que não tinha um relacionamento próximo com filho algum, cresceu tanto que Amnom chegou mesmo a adoecer por causa dela, pois Tamar era virgem e, deste modo, era difícil ao príncipe herdeiro querer satisfazer seus desejos sexuais com ela.  

– Estando nesta situação, quem o acolheu e o aconselhou não foi Davi, mas, sim, seu primo Jonadabe (II Sm.13:3-5).

Amnom, embora fosse o primogênito e, portanto, o herdeiro do trono, a quem Davi, ainda que só por motivos políticos, devia ser mais próximo, não tinha qualquer intimidade com seu pai, a ponto de ter segredado seu amor por Tamar a um “amigo”, a Jonadabe, que, então, fazia as vezes de “pai”, dando, inclusive, péssimo conselho a Amnom.  

– A ausência de Davi era tanta e tão notória que Jonadabe disse a Amnom que se fingisse doente, pois Davi somente viria visitá-lo se Amnom apresentasse um quadro de doença.

Que situação lamentável: um pai que só se lembra de visitar e ver o filho, embora vivendo sob o mesmo teto, se o filho ficar de cama!

É esta precisamente a situação de muitos na atualidade: o filho só tem a companhia dos pais quando adoece, só recebe atenção dos filhos quando precisa de cuidados médicos, muitas vezes hospitalares.

Aliás, a psicologia e a medicina afirmam que muitas doenças se manifestam única e exclusivamente para que o filho tenha atenção que lhe tem sido negada.  

– Davi compareceu para ver seu filho ao saber que estava doente. Amnom, então, ao receber a visita do rei, pediu-lhe que Tamar lhe fosse preparar bolos, sendo atendido.

Mas, e aqui vemos como Davi era ausente, Davi não se deu ao trabalho sequer de chamar Tamar para lhe fazer este pedido, mandou apenas que Tamar fosse avisada para que fosse até onde estava Amnom (II Sm.13:7). Definitivamente, não havia qualquer diálogo entre Davi e seus filhos.  

– A omissão de Davi em relação a educação de seus filhos se evidencia ainda mais quando Amnom abusa de Tamar e a despede, numa cena humilhante, cena esta que é aumentada em sua publicidade pela reação de Tamar que rasgou a roupa de muitas cores que vestia e pôs cinza sobre sua cabeça, andando desta maneira à vista de todos (II Sm.13:8-19).

Diante de tamanho escândalo, Davi apenas “acendeu-se em ira” (II Sm.13:21), não tomando qualquer atitude seja em relação a Amnom, seja em relação a Tamar.

Era um pai completamente ausente, que não tinha qualquer comprometimento com o comportamento de seus filhos.  

– Aqui é oportuno observar que a omissão dos pais no que respeita à disciplina dos filhos é outra falha que tem causado muito dano às famílias na atualidade.

A psicologia moderna, baseada em princípios antibíblicos, tem defendido que os pais não podem castigar seus filhos.

Não estamos aqui a defender que os pais venham a espancar os filhos, pois isto é agressão, não, castigo.

Todavia, o que pretende esta linha de pensamento é destruir a imagem da autoridade dos pais em relação aos filhos, algo que não tem qualquer fundamentação bíblica e que deve ter o rechaço de todos quantos servem a Deus.  

– A correção é uma demonstração de amor (Pv.13:24), cujo resultado é o bem daquele que é corrigido(Hb.12:6-11).

As Escrituras contêm vários ensinamentos a respeito da necessidade de os pais corrigirem seus filhos a fim de lhes proporcionar um crescimento sadio e uma vida melhor, tanto no aspecto secular, quanto no aspecto espiritual (Pv.4:1; 5:23; 6:23; 22:15; 23:13,14; 29:15).  

– No entanto, para que haja correção, torna-se necessário que, antes, tenha havido ensino (II Tm.3:16).

Muitos pais não corrigem seus filhos, porque não os ensinaram e, desta maneira, não têm autoridade, não têm condições de impor aos filhos alguma espécie de correção, algum tipo de castigo.

Era esta, precisamente, a situação de Davi. O rei era ausente com relação aos filhos e, portanto, diante daquele escândalo, só podia “morder-se de raiva”, ficar irado, mas não tinha qualquer condição de efetuar qualquer repreensão seja a Amnom, seja a Tamar.  

– Diante da omissão paterna, Absalão, que era irmão de Tamar, resolveu fazer justiça com as suas próprias mãos.

Apesar de seu nome informar ser ele “o pai da paz”, Absalão não admitiu a inércia do pai, a sua indiferença e não perdoava a perda da dignidade de sua irmã por força do havia feito o seu meio-irmão primogênito.

Alimentava ele o desejo de vingança, era um verdadeiro “filho da guerra”.  

– Passados dois anos deste episódio, Absalão põe em ação o plano que começara a arquitetar quando dos fatos, quando foi acudir sua irmã Tamar (II Sm.13:20).

Mais uma vez a omissão de Davi permitiu que surgisse o rancor e o ódio entre os seus filhos, sem que Davi sequer percebesse, permitindo que se engendrasse um plano de vingança com lentidão e paciência.  

– Notamos, aqui, aliás, uma característica de Absalão. Ele era um “maquinador” de males”. Frio e calculista, sabia arquitetar o mal e executá-lo com calma e astúcia, uma atitude que, definitivamente, não pode ser de alguém que lidere o povo de Deus.  

– Absalão foi até a presença de Davi e o convidou para uma festa em Baal-Hazor, onde tinha tosquiadores, mas Davi, mais uma vez mostrando ser um pai ausente e desinteressado em manter uma vida familiar, não quis ir, tendo-o abençoado (II Sm.13:24-26).

Absalão pediu, então, que o rei autorizasse que Amnom fosse, tendo o rei aceitado que não só Amnom mas todos os filhos do rei acompanhassem Absalão nesta festa familiar.  

– Observamos como Davi não tinha em conta a sua vida em família. Não foi à festa, embora todos seus filhos tivessem ido.

Absalão sabia muito bem que Davi não o acompanharia nesta festança, prova de que Davi não comparecia a qualquer cerimônia festiva da família.

Era um completo ausente e, quando os filhos sabem que seus pais não acompanham os seus passos, começam a ser instados a arquitetar “festejos” que estão completamente fora de parâmetros.

As “festinhas” onde há sexo, drogas e tantas coisas danosas ocorrem sempre porque os pais são ausentes, não sabem quem são os “amigos” de seus filhos, nem quais são os seus “costumes”.

Muitos, na atualidade, querem controlar os filhos com celulares, GPS, como se isto gerasse efetivo controle.

O controle da situação vem de um acompanhamento diário dos filhos, de uma efetiva convivência, de um compartilhamento que gere confiança e união entre pais e filhos, não de instrumentos ou equipamentos trazidos pela tecnologia.  

– Como Davi era um pai ausente, Absalão pôde montar a sua “festinha” nas barbas do rei e, mais do que isto, com a própria “bênção” do pai e, na “festinha”, regada a muito vinho, acabou por matar Amnom. Davi colhia mais um fruto de sua vida familiar desastrosa (II Sm.13:27-36).  

– Após praticar o crime, Absalão fugiu e se foi a Talmai, seu avô, rei de Gesur, tendo ali ficado três anos.

Achou que Davi poderia tomar alguma atitude mais drástica diante da prática do homicídio, o que era mais do que compreensível, mas, na verdade, Davi jamais pensou em matálo. Diz o texto sagrado que sempre teve dó dele todos os dias, ou seja, chorava por ele, manifestando um sentimento agora que nunca antes havia manifestado (II Sm.13:37).  

– Davi teve saudades de Absalão, uma vez consolado pela perda de Amnom, mas foi incapaz de externar tal sentimento.

Era um pai distante, ausente e que não conseguia demonstrar seu afeto por seus filhos. Não façamos isto. Pais, demonstrem seu afeto para com seus filhos!

Afinal de contas, ser pai é demonstrar amor. Por que Deus é chamado de “Pai nosso”? Precisamente porque demonstrou Seu amor para conosco de forma visível e palpável, não ficou apenas tendo dó de nós e sentindo saudades em Seu trono de glória sem nenhuma medida efetiva.

Os pais são aqueles que externam seus sentimentos aos filhos, que sabem dar boas dádivas a eles, ainda que sejam maus, como nos ensinou o Senhor Jesus (Mt.7:11; Lc.11:13).  

– Entretanto, Davi se fechou, não externou seu sentimento. Joabe, seu comandante do exército, porém, notou esta circunstância e usou de um estratagema para fazer com que Davi trouxesse do exílio a Absalão, fazendo com que Davi efetuasse um julgamento em que se condenava por não permitir o retorno de seu filho (II Sm.14:1-22).

Davi, então, após ser assim “descoberto” em seus intentos, autorizou que Joabe trouxesse Absalão de volta a Jerusalém, mas não quis vê-lo nem falar com ele (II Sm.14:23,24).

– Davi mostrou-se extremamente soberbo e insensível. Embora tivesse dó e saudades de Absalão, não quis, de forma alguma, mostrar isto a seu filho, o que lhe custaria muito caro.

Deixou que Absalão retornasse para Jerusalém, mas não permitiu sequer que fosse vê-lo. Que diferença com o que José fez com seus irmãos, que, mesmo tendo sido seus algozes, não só foi visto como José teve prazer de com eles se alimentar, mesmo não se dando a conhecer num primeiro momento (Gn.43:15-17).

Quantos não fazem como Davi: não veem seus familiares, não falam com eles, guardam mágoas e ressentimentos anos a fio, apesar de ter dó e saudades deles.

– Davi, com este comportamento, apenas promoveu um maior distanciamento de Absalão. Em Jerusalém, Absalão ficou mais distante de seu pai do que quando estava em Gesur, um distanciamento emocional que transformou o amor em ódio e que levou Absalão ao gesto mais extremo que um filho pode ter em relação ao pai: a rebelião. Tomemos cuidado!  

– Durante dois anos, Absalão não viu a face do rei, somando um total de cinco anos de completa falta de contato.

Para ser visto pelo rei, Absalão precisou criar constrangimentos para Joabe. Absalão apresentouse a Davi e Davi apenas o beijou, cena que não deve ser confundida pelo leitor da Bíblia.

O encontro entre ambos foi meramente protocolar: Absalão se prostrou diante do rei e o rei o beijou (II Sm.14:33).

Nenhuma troca de palavras, nenhuma manifestação de afeto. Um encontro gélido, despido de qualquer afetividade, que teve como consequência apenas a consolidação do ódio no coração de Absalão e o início da execução do seu plano de revolta.  

– Davi, tão cioso de seu reinado a ponto de desprezar a vida familiar, sem saber, por causa de seu desprezo para com sua família, punha em risco o seu próprio governo.

O formalismo demonstrado para com Absalão, hipócrita, pois Davi muito amava Absalão; a recusa em derramar lágrimas, em mostrar a afeição que tinha por seu filho foi o elemento que faltava para que Absalão iniciasse a sua vingança e levasse Davi para uma grande provação. 

 III – A REBELIÃO DE ABSALÃO

 – Absalão era uma pessoa rancorosa. Não perdoara seu pai por não ter punido Amnom pelo estupro de sua irmã Tamar, mas também não admitia que Davi lhe fosse indiferente e não mantivesse qualquer relacionamento com ele desde quando havia voltado para Israel.

 – Embora fosse o herdeiro presuntivo do trono, pois era o filho mais velho de Davi, não se contentou em saber que, naturalmente, haveria de reinar quando seu pai morresse. Isto era pouco para ele. Seu desejo era vingar-se do pai, subindo ao trono o quanto antes, tomando o lugar de Davi.

– Sentindo-se desprezado e desconsiderado pelo pai, que tanto amava o reino, Absalão via na tomada do trono a vingança perfeita.

E, para tanto, assim como havia feito para matar Amnom, elaborou um plano para conquistar o coração do povo e, deste modo, conseguir o seu intento.  

– A primeira providência que tomou foi arrumar para si uma guarda de cinquenta homens, os seus “valentes”, homens de confiança com quem pudesse contar.

Era preciso cercar´se de “valentes” como o seu pai, para poder não só se proteger, como também obter informações, tanto que tais homens tinham carros e cavalos, precisamente para poderem se locomover com rapidez sempre que necessário.

– Como costuma afirmar o pastor Ailton Muniz de Carvalho, o maior sistema de informações do universo são os demônios a serviço de Satanás, precisamente o maior líder rebelde de todos os tempos.

Quem tem maus intentos acha que todos são igualmente possuidores de maus pensamentos e, por isso mesmo, é sedento de informações, quer ter o controle de tudo e de todos, a fim de evitar ser surpreendido e prejudicado em seus projetos, quase sempre secretos, já que repletos de malignidade.  

– Por isso mesmo, devemos ter muito cuidado com pessoas que queiram sempre fomentar uma rede de informações, ou participar de algo similar, criando-se uma rede de intrigas, fofocas, mexericos ou coisas similares, pois não pode haver mexeriqueiro no meio do povo de Deus (Lv.19:16).  

– A segunda providência tomada por Absalão foi ficar “à beira do caminho”. Levantava-se de manhã e parava a uma banda do caminho da porta (II Sm.15:2).

Estrategicamente ficava perto da entrada do palácio, onde as pessoas vinham para ser atendidas pelo rei para que fossem julgadas as suas causas.  

– Absalão ficava na espreita, quase que na clandestinidade, para poder chamar a pessoa que estava para entrar no palácio, para uma conversa particular, para um comentário à meia voz, uma atitude muito semelhante ao sistema de informações.

 As coisas malignas sempre são feitas às escondidas: “Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas, mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo.3:20,21).  

– Absalão chamava os israelitas que se chegavam até a porta do palácio e, à beira do caminho, inteirava-se do caso que seria levado ao rei e, depois disso, dizia que a pessoa não tinham quem pudesse atendê-lo ali no palácio, embora se tratasse de alguém que tinha seus negócios bons e retos.  

– Absalão, então, fomentava a semente da revolta contra Davi, mentindo, desanimando as pessoas com respeito ao sentimento de justiça do rei, fazendo as pessoas crerem que era necessária a mudança do governante.

Absalão, então, dizia que se fosse ele o juiz da terra, ele prontamente faria justiça, ao contrário do seu pai (II Sm.15:2).  

– Absalão, então, trabalhava com duas ferramentas que jamais podem estar nas mãos de um líder, máxime de quem lidera sobre o povo de Deus: a mentira e o sentimento faccioso.

 

– A mentira é a “criação” do diabo. O Senhor Jesus diz claramente que Satanás é o pai da mentira e que quando ele mente, faz algo que é propriamente a sua natureza (Jo.8:44).

Absalão usou da mentira para conquistar o poder, algo extremamente abominável aos olhos do Senhor e que já prova qual era a sua inspiração, quem influenciava suas atitudes.

Davi, com seu mau comportamento familiar, havia dado lugar ao diabo e agora o inimigo incitava Absalão para tentar deter o plano divino da salvação, que passava pela família real israelita.

 – Além da mentira, Absalão fazia uso do “sentimento faccioso”, ou seja, do partidarismo, incentivando e estimulando as pessoas a detestarem Davi e a desejarem Absalão como rei de Israel. É o incentivo da parcialidade, do favoritismo, a injusta divisão entre “heróis” e “vilões”, que é mais uma distorção da verdade, mais uma mentira.

– O sentimento faccioso tem origem pecaminosa, não provém de Deus. Tiago informa que tal sentimento é fruto da “sabedoria terrena, animal e diabólica”, pois o sentimento faccioso somente subsiste onde há perturbação e toda obra perversa (Tg.3:14-16).  

– O sentimento nutrido por Absalão e que ele espalhava por todo Israel era, pois, um sentimento de origem maligna.

Era a pura revolta, a rebelião, que nada mais é que o pecado de feitiçaria (I Sm.15:23). Absalão repetia os erros de Saul, pois, embora estivesse aparentemente se rebelando contra Davi, na verdade se rebelava contra Deus, pois, afinal de contas, fora Deus quem pusera Davi no trono de Israel.

– Tomemos cuidado com esta “mentalidade revolucionária”. Todo rebelde infama e difama o que existe, prometendo algo que ainda virá. Como diz o filósofo Olavo de Carvalho:

‘Mentalidade revolucionária’ é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao ‘tribunal da História’.

Mas o tribunal da História é, por definição, a própria sociedade futura que esse indivíduo ou grupo diz representar no presente; e,

como essa sociedade não pode testemunhar ou julgar senão através desse seu mesmo representante, é claro que este se torna assim não apenas o único juiz soberano de seus próprios atos, mas o juiz de toda a humanidade, passada, presente ou futura.

Habilitado a acusar e condenar todas as leis, instituições, crenças, valores, costumes, ações e obras de todas as épocas sem poder ser por sua vez julgado por nenhuma delas, ele está tão acima da humanidade histórica que não é inexato chamá-lo de Super-Homem.…” (A mentalidade revolucionária. Disponível em: http://olavodecarvalho.org/a-mentalidade-revolucionaria/ Acesso em 17 ago. 2019).  

– Ora, o rebelde põe-se no lugar de Deus. Pensa estar acima do bem e do mal, definindo o que é certo, aquilo que ele diz que fará no futuro, e o errado, o que atualmente existe.

Trata-se, portanto, de uma suposta defesa do poder de manipulação das coisas de forma a tornar o presente, que é ruim, num futuro, que é bom, como se não estivéssemos debaixo do controle do Senhor, que é um ser essencialmente bom.  

– O rebelde atenta contra a autoridade divina, não aceita o senhorio do Criador e, como tal, está repetindo as ações do adversário, o primeiro rebelde da história.

Não há, portanto, como achar que se estando do lado de um rebelde estaremos agradando a Deus. Pensemos nisso!

 –  Outra arma utilizada por Absalão era a adulação, a falsa lisonja. Absalão, quando alguém se chegava a ele e se inclinava em sinal de reverência, por ser ele um príncipe, Absalão estendia a sua mão, pegava dele e o beijava (II Sm.15:5).

Assim, Absalão fingia honrar a pessoa, punha-se no mesmo nível dos súditos, querendo, com isso, dizer que era “igual” aos demais israelitas e que os trataria melhor do que seu pai.

 – Tratava-se de um fingimento, de querer agradar as pessoas com a intenção de enganá-las e é isto, aliás, que significa “adulação”, que é “ a festa, a demonstração de alegria que os cães fazem, abanando a cauda, ao ver seus donos”, ou seja, uma demonstração de alegria e de submissão, na verdade, um exagero, um louvor exagerado visando a obtenção de vantagens.

 – A lisonja ou adulação, por ter um componente de engano e de falsidade, é algo que deve ser sempre evitado pelo servo de Deus, é atitude que não é aprovada pelo Senhor, que não usa de lisonjas para com o homem (Jó 32:21). 

 – Com a lisonja, Absalão passou a agradar ao povo e, assim, furtou o coração dos homens de Israel (II Sm.15:6).

Como afirma o escritor Gene Edwards (1932- ), em seu livro “Perfil de três reis”, Absalão prometia mudança e liberdade, algo que, entretanto, se fosse bem analisado, jamais seria alcançado.

OBS: Eis o pensamento do referido escritor: “…Noutra reunião ele falou das maravilhosas visões que tinha do reino de Deus, das grandes realizações de que o povo era capaz.

Por outro lado, falou de muitas mudanças que ele introduziria quanto à maneira de governar o reino. Embora pareça que ele não notou, mas ele fez duas proposições irreconciliáveis.

Muitas mudanças, mais liberdade. — Sim, deveras, ele me traz à lembrança muitos outros homens com quem me tenho encontrado no decorrer do tempo. — Sábio, creio que entendo o que o senhor disse, mas não tenho certeza de onde deseja chegar. — Absalão sonha. Sonha com o que devia acontecer, com o que será. Ele disse:”Isto é o que farei.”

Mas, para realizar os seus sonhos, ele precisa da cooperação do povo. Ah! É isso o que os homens passam por alto.

Sonhos como esse fundamentam-se inteiramente povo de Deus estará com o novo chefe, e que na premissa de que o todos verão as coisas como ele as vê. Tais homens não podem imaginar problemas no seu reino futuro.

É possível que o povo o siga, e é possível que não. — Quando muito — continuou o sábio — o povo do Senhor seguirá um chefe por alguns dias apenas.

Jamais está com alguém por muito tempo. Em geral, o povo faz o que lhe agrada. As pessoas podem ser persuadidas a fazer a vontade de outros por algum tempo, mas não por muito tempo. As pessoas não se esforçarão muito no trabalho, ainda que estejam seguindo a Deus.

— Que fará Absalão quando o povo deixar de segui-lo voluntariamente? Ah! Aqui está o problema! — Percebe você, não há reino sem discórdias. O próprio Deus teve os seus críticos no céu, você sabe.

Todos os reinos seguem uma trajetória irregular. E o povo, principalmente o povo de Deus, nunca segue o mesmo sonho em uníssono.

Não, para realizar tudo o que ele disse esta noite, levará tempo. Nem todos estarão dispostos a acompanhá-lo.

Estará ele ainda decidido a pôr em prática tudo o que sonhou? Se for esse o caso, então Absalão terá só um recurso: a ditadura.

Ou recorre a ela, ou verá poucos — se é que algum — dos seus grandes sonhos realizados. Se se transformar em ditador, garanto-lhe que num futuro não muito distante surgirão os descontentes com ele, exatamente como acontece com o rei atual.

Sim, se Absalão vier a reinar, logo você verá novas reuniões como a que acabamos de assistir esta noite…

só que com novos rostos, novos sonhos e planos para uma nova rebelião, desta vez contra Absalão! então, logo que Absalão tomar conhecimento de tais reuniões e debates acerca de uma rebelião, terá uma única saída.

— Sábio, o que o senhor pensa que ele fará? — Os rebeldes que chegam ao poder mediante a rebelião não têm paciência com outros revolucionários e suas revoluções. Quando Absalão se vir desafiado por uma revolução, tornar-se-á um tirano.

Sua perversidade será dez vezes maior do a que ele vê no rei atual. Reprimirá a revolta com mão de ferro e… mediante o terror.

Eliminará toda a oposição. Este é o estágio final das rebeliões altissonantes. Tal será o caminho de Absalão, se destronar a Davi.… (Perfil de três reis. Trad. de Jorge César Mota. São Paulo: Vida, 1987, pp.37/38).  

– Quando Absalão completou quarenta anos de idade, pediu autorização a Davi para ir a Hebrom para pagar um voto que supostamente havia feito, tendo, então, ido para a cidade que fora a capital do reino até a conquista de Jerusalém e,

usando de seu sistema de informações, mandou espias para todo o Israel e anunciou que estava a reinar, que se proclamara rei e, como havia bem planejado, obteve o apoio maciço da população, chamando para si a companhia de Aitofel, conselheiro de Davi e que a tradição judaica diz ser o pai de Bate-Seba (II Sm.15:7-12).  

– Ao saber disso, Davi percebeu que não tinha mais condições de manter o reino e, por isso, resolveu fugir de Jerusalém, pois todo o povo seguia a Absalão, mantendo apenas o apoio de sua guarda pessoal bem como dos dois sacerdotes, Abiatar e Zadoque, o que assaz insuficiente para conseguir resistir.

– Davi demonstra aqui, uma vez mais, ser um homem segundo o coração de Deus. Notara o apoio popular recebido por Absalão e tinha consciência de que isto era mais uma consequência de seu pecado.

Assim, entendeu que resistir contra o seu filho era algo praticamente inútil, além do que não faria sentido empreender uma guerra que poderia dizimar o povo, que não era seu mas de Deus, como também colocar em risco a própria integridade de Jerusalém, cidade que ele tornara a capital do reino e que tornara uma referência.  

– Este sentimento notamos quando os sacerdotes quiseram seguir Davi, levando consigo a arca da aliança.

Davi mandou que os sacerdotes continuassem em Jerusalém, assim como a arca e que se aguardasse a vontade de Deus pois, se Deus o quisesse, Davi retornaria a Jerusalém e, uma vez mais, poderia cultuar a Deus onde estava a arca (II Sm.15:24,25).  

– Davi revela aqui um desprendimento ao trono, sabendo que ali estava por determinação divina e que, portanto, não fazia sentido lutar por uma posição se não fosse esta a vontade do Senhor.

As lideranças do povo de Deus devem ter consciência que o respaldo, a base de sua posição está em Deus e que não devemos nos apegar a circunstâncias se não for este o desígnio divino.

 – Quantos, na atualidade, fazem exatamente o contrário. Lançam o povo de Deus a uma luta fratricida, geram danos, prejuízos e mortes, porque querem manter as suas posições, mesmo sem saber se esta é a vontade de Deus.

Davi poupou vidas e a cidade de Jerusalém, já que perdera o apoio popular e não tinha consciência se as consequências de seu pecado o levariam até a perda do trono (II Sm.15:14).

 – Absalão, ao chegar a Jerusalém, encontrou a cidade abandonada por Davi e estava livre para assumir o trono. Imediatamente, pediu o conselho de Aitofel, cujas palavras eram tão sábias e prudentes que se equiparavam à própria Palavra de Deus naqueles dias (II Sm.16:23).  

– Davi, acompanhado de sua guarda pessoal, atravessou o ribeiro de Cedrom e partiu com direção a Maanaim, uma cidade na área de Jabes-Gileade, cidade levítica e que era um local, segundo os estudiosos bíblicos, sempre relacionado à santidade.

Ali Davi buscaria refúgio e uma organização das suas forças, bem como buscaria a presença de Deus para saber qual era a vontade do Senhor no episódio.  

– Ao atravessar o Cedrom, Davi subiu o monte das Oliveiras e foi buscar a presença de Deus, em nítida atitude de humilhação, assim ele como os que estavam com ele, tanto que estavam de cabeça coberta e de pés descalços.

Davi, ao saber que Aitofel se aliara a Absalão, pediu ao Senhor que transtornasse o conselho de Aitofel.  

– Além de buscar a Deus, Davi também tomou algumas providências de ordem prática. Pediu que os sacerdotes lhe mandassem notícias sobre o que estaria a ocorrer e que Husai, outro de seus conselheiros, se infiltrasse na corte de Absalão e transtornasse o conselho de Aitofel.

– Vemos aqui a habilidade de Davi e que como deve proceder todo homem segundo o coração de Deus.

Deve ser alguém que, com prioridade, busque a presença do Senhor para saber qual é a vontade d’Ele, mas que, ao mesmo tempo, deve tomar as providências que estiverem ao seu alcance, sem pecado, para tentar superar a dificuldade em que se encontra.  

– Absalão, ao chegar a Jerusalém, abusa publicamente das dez concubinas que Davi havia deixado no palácio, atendendo, assim, ao conselho de Aitofel, para mostrar ao povo que estava definitivamente rompido com seu pai e que a rebelião era irreversível.

Cumpria-se, assim, mais uma parte da profecia de Natã quando da revelação do pecado do negócio de Urias, o heteu.  

– Em seguida, Absalão indaga a Aitofel o que deveria fazer e Aitofel, então, sabiamente, disse que o rei deveria perseguir Davi e seus soldados e aproveitar que, antes que ele se recompusesse, desde logo o destruísse e assim confirmaria o reino nas suas mãos.

Absalão, então, resolveu ouvir Husai, a quem recebera na corte depois que ele dissera ter preferido ficar ao seu lado, e Husai, imediatamente, deu um conselho contrário, dizendo que Absalão deveria reunir todo Israel e, então, fosse atrás de Davi e tivesse uma vitória retumbante.

– Absalão era vítima da sua própria armadilha. A vitória retumbante que lhe foi demonstrada por Husai lhe pareceu melhor do que a perseguição rápida e sem ostentação proposta por Aitofel.

Absalão deixou-se levar pela soberba, pela vanglória, consequências diretas de seu desejo de vingança e, assim, devidamente adulado por Husai, abandonou o bom conselho de Aitofel, dando tempo a que Davi se recompusesse.  

– Enquanto isso acontecia, Davi era enganado por Ziba, servo de Mefibosete que, mentindo, dissera que seu senhor havia abandonado Davi com a perspectiva de poder se tornar rei, já que era neto de Saul, o que o fez, precipitadamente, confiscar todos os bens de Mefibosete e dá-los a Ziba.

Também, no caminho para Maanaim, Davi teve de encontrar com outro parente de Saul, Simei, que o apedrejou e o difamou publicamente, tendo Davi ficado quieto, apesar da indignação de Abisai, irmão de Joabe, resignando-se com a situação (II Sm.16:1-12).  

– Vemos aqui como a lei da ceifa se cumpria tanto na vida de Absalão quanto da de Davi, mas como Absalão confiava em si e na força de sua popularidade, enquanto que Davi confiava em Deus.

Esta confiança de Davi em Deus é ainda reforçada quando vemos que, segundo os cronologistas bíblicos Frank Klassen e Edward Reese, foi este um período de intensa produção de salmos por parte de Davi, numa clara indicação de como Davi viveu um período de intensa busca da presença do Senhor, para saber o rumo a tomar.

OBS: Segundo Frank Klassen e Edward Reese, neste período, Davi teria composto os seguintes salmos: 4, 42, 43, 55, 71, 28, 143, 40, 27, 69, 120, 121 e, muito possivelmente, 62 e 144.

 

– Enquanto Absalão confiava em si mesmo e na força do seu braço, a ponto de, inclusive, ter desprezado o conselho de Aitofel, Davi buscava a presença de Deus e queria saber qual era a Sua vontade.

Dois comportamentos diametralmente opostos em meio à crise. Que comportamento temos em momentos delicados de nossa vida? Pensemos nisso!

– Ao esperar o tempo para reunir todo o Israel e ter uma vitória retumbante e que agradava ao seu ego, Absalão deu oportunidade a que Davi se recompusesse, pudesse chegar a Maanaim, até porque foi avisado por Jônatas e Aimaás, enviados pelos sacerdotes Abiatar e Zadoque, a respeito do que decidira Absalão.  

– Aitofel, ao ver que seu conselho fora abandonado e que isto representaria a ruína de Absalão, entendendo que não seria poupado por Davi com sua traição, suicidou-se.

Mais um suicídio narrado nas Escrituras a demonstrar que tal conduta é inadmissível para quem confia em Deus.

Aitofel havia seguido o rebelde Absalão e, como vimos, isto já era a conduta de quem não estava a servir ao Senhor.

Agora, não crendo que Davi poderia perdoá-lo (o que teria acontecido, já que Davi perdoou a todos que o prejudicaram neste episódio e nem sequer queria a morte de Absalão), resolve dar cabo a sua vida, mostrando ser uma pessoa que não cria mais em Deus.

O suicida é, antes de tudo, alguém que não mais crê no Senhor e reside aí a gravidade de tal pecado.

IV – A VITÓRIA DE DAVI SOBRE ABSALÃO

– Ao seguir o conselho de Husai, Absalão deu tempo a Davi para que se recompusesse, tanto espiritual quanto materialmente.

Não só seus homens puderam se organizar para enfrentar o exército de Absalão, como Davi teve uma aproximação com o Senhor, uma espécie de renovação espiritual, que lhe fez ter a noção e consciência de que retornaria ao trono de Israel.  

– Em Maanaim, Davi foi recebido por aliados que tomaram camas e bacias, vasilhas de barro, trigo, cevada, farinha, grão de torrado, favas, lentilhas, toradas, mel, manteiga, ovelhas e queijos de vacas, uma farta alimentação para recompor a fome e sede que eles estavam tendo no deserto.  

– Depois desta recomposição que podemos dizer biológica, Davi reorganizou as suas tropas, dividindo seu pessoal em três partes, entregando um terço ao comando de Joabe; um terço, ao comando de Abisai, irmão de Joabe e um terço ao comando de Itai, que era o chefe de sua guarda pessoal, de seus “valentes”, além de ter escolhido os capitães de cem (II Sm.18:1,2)..

 – Davi, ao organizar assim o seu exército, mostra que a recomposição deve ser feita não só na “cabeça”, mas, também, na base. Escolheu não só os comandantes de cada terço do exército, mas, também, os “capitães de cem”. 

Isto nos traz um grande ensinamento: devemos cuidar não só das grandes coisas, mas das pequenas coisas, também, quando estamos em uma fase de recomposição, de reorganização.

Como afirma o profeta Zacarias, não podemos desprezar o dia das coisas pequenas (Zc.4:10), ou seja, tudo deve ser levado em conta. Uma renovação espiritual deve envolver as mínimas coisas de nossa vida.

– Mas, além de uma recomposição militar ou biológica, houve, também, uma recomposição espiritual.

Como já dissemos, segundo os cronologistas bíblicos, Davi produziu diversos salmos, resultado desta sua busca incessante da presença do Senhor, e a maior demonstração disso foi a ordem dada a seus comandantes para que não fizessem mal a Absalão. Davi revelava ter perdoado o seu filho, apesar da traição sofrida.  

– A batalha entre as duas forças militares se deu no bosque de Efraim e a vitória foi de Davi, não por conta até de sua recomposição de forças, mas por obra de Deus, pois o texto sagrado revela que foram mais os consumidos pelo bosque, ou seja, por ação sobrenatural, do que os que foram atingidos pela espada dos soldados de Davi (II Sm.18:6-8).  

– Absalão encontrou-se com os servos de Davi, montado num mulo, tendo enroscado a sua cabeleira, que era cuidadosamente cuidada por ele, uma demonstração de sua vaidade e de seu egocentrismo, em um carvalho, ficando pendurado entre o céu e a terra e isto foi dito a Joabe que, então, matou Absalão, apesar das ordens expressas de Davi para que não o fizesse.

 – O egocentrismo de Absalão fora a causa de sua própria morte. Tal egocentrismo, a propósito, é também denunciado pelo fato de ter ele levantado para si uma coluna para memória do seu nome, o chamado Pilar de Absalão, a mostrar que a força do ego era muito grande neste príncipe.

– Joabe determinou que se cessasse a luta contra Israel, ao noticiar a morte de Absalão e os israelitas foram para a sua tenda, em fuga.  

– Davi, ao saber da morte de Absalão, ficou extremamente triste e começou a lamentar publicamente a morte de mais um filho, a ponto de Joabe o ter repreendido e o obrigar a que tratasse seus soldados com gratidão e consideração, já que parecia querer amar mais o seu filho do que seus próprios homens.  

– De qualquer forma, este lamento de Davi por Absalão, de certa forma, encorajou os israelitas a confiarem na misericórdia do rei e a proporem que ele voltasse a reinar sobre Israel, aceitando, uma vez mais, o seu governo. Davi, então, retorna a Jerusalém e supera esta que foi a maior crise de seu reino.  

– Davi não pôde perdoar Absalão, mas perdoou todos os demais que o prejudicaram. Simei, Ziba e os anciãos de Israel são perdoados, Davi não pune pessoa alguma pela rebelião.

 

– Verdade é que certa oposição ainda existirá, tanto que haverá, ainda, uma rebelião comandada por Seba, que a Bíblia diz que era um filho de Belial, mas que será também sufocada por Davi (II Sm.20).  

– Davi retorna ao reino, não antes de ter colhido mais um pouco do que semeara no seu pecado do negócio de Urias, o heteu. Absalão é derrotado e colhe a desonra que fizera com o seu pai e, mais precisamente, contra o próprio Deus.  

– Absalão, a exemplo de Saul, quis construir uma liderança contrariando o próprio Senhor, Aquele que efetivamente reinava sobre Israel, e, como Saul, não obteve sucesso, pois quando somos contra Deus, jamais poderemos ter êxito. Lembremos disso!

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

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