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JOVENS – LIÇÃO 11 – PAULO RESPONDE QUESTÕES A RESPEITO DO CASAMENTO

Biblicamente, a família deve ser baseada tão somente no casamento, cujo regramento é também estabelecido pela Palavra de Deus.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da primeira epístola de Paulo aos coríntios, sob o prisma da problemática existente naquela igreja local, estudaremos, desta feita, os ensinos do apóstolo sobre o casamento, constantes dos capítulos 6 e 7 daquela epístola.

– Resultado da “carta anterior” que falava da associação com os que se prostituem, os ensinos de Paulo são respostas ao questionamento dos coríntios com relação à vida conjugal e suas implicações no relacionamento com Deus.

Devemos ter, também, a consciência de que a nossa vida familiar deve ser regrada de acordo com as Escrituras, para que a família não sirva de tropeço e impedimento para a nossa salvação.

I – O CORPO NÃO É PARA A PROSTITUIÇÃO

– Após ter tratado do partidarismo, da imoralidade e da litigiosidade existentes na igreja em Corinto, assuntos que lhe haviam sido levados a conhecimento por intermédio dos familiares de Cloé,

o apóstolo Paulo começa a tratar dos questionamentos trazidos por Estéfanas, Fortunato e Acaico (I Co.16:17,18), a pedido dos crentes de Corinto que, diante do teor da “carta anterior” (I Co.5:9), tinham apresentado dúvidas a respeito da vida conjugal.

– O apóstolo havia-lhes advertido, na “carta anterior”, que os crentes não poderiam se associar com os que se prostituem e, isto, em Corinto, como sabemos era algo muito forte, pois a cidade vivia imersa num ambiente de idolatria e sensualidade, diante dos cultos às “deusas do amor” (Afrodite e Ísis), com, no mínimo, mil prostitutas cultuais.

– Após ter falado da litigiosidade crescente entre os crentes de Corinto, o apóstolo passou a tratar do tema da prostituição, dentro do princípio básico da ética cristã que é o de “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (I Co.6:12).

– Retomando o ensino do Senhor Jesus no sermão do monte, Paulo nos mostra que o ideal de conduta de um cristão deve superar o limite imposto pelo mundo.

O Senhor Jesus ensinara os Seus discípulos de que a justiça deles deveria exceder a dos escribas e fariseus (Mt.5:20), querendo com isto afirmar que os servos do Senhor não podem se contentar em ter uma aparência de justiça, um comportamento exterior, mas devem servir a Deus de

coração, ter, no íntimo de seus seres, o desejo e o prazer em obedecer a Cristo e Lhe servir integralmente, a partir do âmago, a partir do espírito (I Ts.5:23).

– Agora, dirigindo-se aos gentios de Corinto, o apóstolo renova este compromisso que deve existir entre os que cristãos se dizem ser.

Não basta que façamos o que é certo, o que é lícito, mas, também, devemos fazer aquilo que é conveniente, aquilo que não traz embaraços ou riscos de virmos a cometer pecados.

Enquanto o mundo se contenta com o “lícito”, isto é, com o “permitido”, mas com aquilo que é “conveniente”, ou seja, que, além de “permitido”, é “adequado ao que é acordado entre as partes”, “está de acordo com o contratado, com o ajustado”.

– Ao se utilizar desta linguagem jurídica, o apóstolo Paulo, que fala para uma colônia romana, mostra aos crentes de Corinto, aproveitando-se do fato de que estava a falar sobre a litigiosidade dos crentes, de que o ideal do cristão não é fazer aquilo que é permitido, mas aquilo que traz vantagem no seu relacionamento com Deus e com o próximo.

Por isso, o critério que guia o crente é diferente do que anima as demais pessoas que não conhecem ao Senhor Jesus.

Enquanto todos se fundam no “direito”, naquilo que é “permitido”, o salvo está interessado em fazer aquilo que é “conveniente”, ou seja, aquilo que não represente risco na quebra dos compromissos que assumiu com o Senhor Jesus.

OBS: No Digesto de Justiniano, um compêndio da ciência jurídica que traz o resumo dos principais ensinamentos do direito romano, está dito que “os ministros do direito separam o que é équo do que é iníquo, o que é lícito do que é ilícito” (D.1.1.1). Os crentes devem ser muito mais profundos do que isto.

– Pois bem, um dos compromissos assumidos pelo homem, quando aceita a Cristo Jesus como seu Senhor e Salvador é o de servi-lO, de entregar-Se exclusivamente para Ele.

O apóstolo lembra os coríntios de que o objetivo do crente é de se tornar um com o Senhor (Jo.17:21), de renunciarmos a nós mesmos para que Cristo possa viver em nós (Gl.2:20). A mensagem da cruz faz-nos ver que Jesus Se entregou por nós, para que nós nos entreguemos a Ele.

– A propósito, nos dias hodiernos, quase que desapareceu entre nós a feliz expressão “entregar-se para Jesus”.

Nos apelos (quando os há, pois, por incrível que pareça, em muitas igrejas locais já não se fazem mais apelos para que as pessoas se convertam…), usa-se muito mais a expressão “aceitar a Jesus como Salvador” e não mais “entregar-se para Jesus”, como era costumeiro nos tempos dos pioneiros.

Entretanto, a expressão “entregar-se para Cristo” é extremamente apropriada, pois indica, precisamente, que passamos a pertencer a Cristo, que nos rendemos integralmente a Ele, assim como Ele Se entregou totalmente por nós na cruz do Calvário.

Ali, tanto o corpo (Jo.2:19-21), quanto a alma (Jo.12:27; At.2:27) , quanto o espírito (Jo.21:30) do Senhor feito homem foram entregues à morte por amor da humanidade.

– Como nós somos de Cristo (I Co.1:30), passamos a condição de “membros de Cristo” (I Co.6:15), de sorte que não temos mais vontade própria, mas devemos fazer aquilo que o Senhor Jesus deseja, sempre, em nossas atitudes, lembrando que tudo devemos fazer para manter os compromissos que assumimos com o nosso Senhor, lembrando que, assim como Ele Se entregou no Calvário por nós, temos, também, nos entregado a Ele. Como diz o

poeta sacro Francisco N. de Queiroz, “pra fazer a Tua vontade, quero de Ti mais poder, dá-me a Tua santidade, quero só pra Ti viver” (estribilho do hino 339 da Harpa Cristã).

– É dentro deste contexto que o apóstolo trata da questão da prostituição, que deve aqui ser entendida como toda e qualquer impureza sexual, visto que a palavra utilizada no original grego é “porneia” (πορνεία), cujo significado é bem mais amplo do que a venda do corpo, como parece indicar a palavra “prostituição” em língua portuguesa.

– Como o crente se entregou a Cristo e passou a ser do Senhor, não tendo mais vontade própria, passando a ser “membro de Cristo”, não pode, em absoluto, permitir que seu corpo sirva de instrumento para a prostituição.

O corpo do cristão passou a ser “templo do Espírito Santo” (I Co.6:19), ou seja, é morada do Espírito de Deus e, assim como o templo construído pelos judeus, deve estar com o seu interior e exterior totalmente voltados e dedicados ao serviço do Senhor, não podendo ser instrumento para a prática do pecado, mas para a manifestação da justiça e da glória de Deus (Rm.6:13).

– “O corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (I Co.6:13 “in fine”), disse o apóstolo, derrubando, assim, a teoria tão hoje em voga entre alguns que cristãos se dizem ser de que “o Senhor só quer o coração”, como se Deus fosse açougueiro…

Na verdade, Deus exige que todo o nosso ser pertença a Ele e o corpo deve servir de instrumento para a glória de Deus, para que a vontade divina se faça, não para que sejam satisfeitos os nossos desejos e paixões, não para que sejam saciados nossos instintos.

– O apóstolo Paulo faz questão de mostrar aos coríntios que “os manjares são para o ventre e o ventre para os manjares”, ou seja, que há uma série de necessidades e desejos que foram criados para o nosso ser, criados pelo próprio Deus, mas que acima dos desejos e necessidades, na vida de um cristão, está a soberania divina sobre as nossas vidas, pois tanto os manjares quanto o ventre serão aniquilados por Deus, que tem o controle sobre todas as coisas.

– Nos dias em que vivemos, onde impera o “hedonismo”, ou seja, a ideia de que o prazer é o bem supremo, admitir que Deus está no controle de todas as coisas, que vivemos para fazer a vontade do Senhor e que devemos subjugar todos nossos desejos e necessidades ao querer divino não é um caminho fácil e que seja compreendido inclusive por muitos que se dizem crentes.

Era esta, precisamente, a situação dos crentes em Corinto, mas o apóstolo Paulo foi bem claro ao mostrar que, sem uma tal atitude de submissão a Deus e de compreensão de que o Senhor está acima dos desejos e necessidades humanos, inclusive os criados por Deus (como o instinto sexual), não há como sermos verdadeiros e genuínos salvos.

– Paulo mostrou aos crentes de Corinto que eles precisavam morrer para o mundo, para as paixões humanas, para os desejos e necessidades naturais que, pela “carne” (i.e., a natureza pecaminosa que há em nós e que herdamos dos nossos pais – Gn.5:3) são amplificados e se tornam incontrolados, devendo ressuscitar para Cristo, em novidade de vida (I Co.6:14; Rm.6:4).

Enquanto não morrermos para o mundo e para o pecado, enquanto nos tornarmos verdadeiros “defuntos” para as coisas desta vida, não poderemos ser verdadeiramente “novas criaturas”, que é, efetivamente, o que importa na vida com Cristo (Gl.6:15).

Eis o motivo porque, na atualidade, muitos dos que se dizem ser crentes não o são, porque somente os que morreram para o mundo e nasceram para Deus podem ter esta novidade de vida e serem filhos de Deus (I Jo.3:9,10).

– Deus não fez o corpo para a prostituição e, portanto, não podemos, se somos realmente servos do Senhor, fazer com que o nosso corpo seja instrumento para a satisfação da lascívia própria ou alheia.

É muito triste vermos, na atualidade, os chamados “crentes modernos”, “crentes liberais”, “crentes pós-modernos” que rejeitam este ensino bíblico e dizem não ter problema algum em o corpo ser utilizado para a impureza sexual, seja através de relações sexuais ilícitas, seja através da pornografia, seja através da indecência no vestir (se é que certos costumes se possa chamar de “vestir”, já que o que se tem, mesmo, é pura nudez…), seja através do chamado “sexo virtual” ou “cibersexo”.

– O apóstolo Paulo deixa-nos bem claro que o corpo não é para a prostituição e, portanto, não podemos fazer com que o nosso corpo sirva de instrumento de iniquidade, de alimentação de desejos pecaminosos relacionados com o instinto sexual.

Não nos esqueçamos de que “prostituição”, na Bíblia, envolve todo o tipo de “impureza sexual” e, por isso, devemos todos “fugir da prostituição” (I Co.6:18).

– A prostituição é um pecado que atenta contra o nosso próprio corpo, é uma profanação do templo do Espírito Santo que somos nós e bem sabemos que o sacerdote que profana o templo ou o que nele contém é fulminado pelo Senhor, como foram os filhos de Arão, Nadabe e Abiú (Lv.120:1,2), ou o levita Uzá (II Sm.6:6,7; I Cr.13:9,10); é cortado dentre os viventes, como foi Belsazar (Dn.5:22-30).

Não se trata de uma morte física, como as aqui relatadas, mas que, como também era aquele templo figura do que havia de vir, ou seja, do corpo de Cristo, da Igreja, também tais mortes são figuras da morte espiritual, muito pior do que a morte física.

– O apóstolo lembra os coríntios que não pode alguém que se diz “membro de Cristo”, que se tenha tornado um com Cristo, ajuntar-se com uma meretriz, ou seja, com uma prostituta (I Co.6:16).

A prostituição cultual existente em Corinto era uma prática em que as pessoas mantinham relações sexuais com sacerdotisas das “deusas do amor” a fim de se tornarem agradáveis à divindade, a fim de entrarem em comunhão com aquela divindade e receber favores dela.

Como alguém poderia se ajuntar com uma meretriz e se dizer servo do Senhor Jesus? Como poderia fazer com que sua comunhão com Deus viesse a ser compartilhada com outra divindade?

– Quem se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito com o Senhor e, por isso, seu corpo se torna templo do Espírito Santo (I Co.6:17,19).

Se nos ajuntamos com o Senhor, somos dEle (I Co.6:19), tornamo-nos propriedade do Senhor Jesus, visto que por Ele fomos comprados por bom preço (I Co.6:20), preço superior a qualquer outro, o preço do Seu sangue vertido no Calvário (I Pe.1:18,19), de forma que não podemos, de forma alguma, vendermos nosso corpo por qualquer outro valor inferior, para uma meretriz.

– Dirá alguém que, quando nos ajuntamos com a meretriz, é ela quem vende o seu corpo e o seu “cliente” é mero comprador. No entanto, se somos servos de Jesus, não mais vivemos, não temos mais o poder de comprar ou vender, porque nos tornamos Sua propriedade.

Além do mais, quem se prostitui, se compra o corpo da prostituta, vende a sua dignidade, a sua santidade e, no caso do cristão,vende a sua primogenitura por um prato de lentilhas (Gn.25:30-34).

Foi, precisamente por uma atitude desta natureza, que Esaú foi tido por profano e fornicário, não tendo sequer alcançado lugar para arrependimento, ainda que com lágrimas o tenha buscado (Hb.12:16).

Quantos, na atualidade, não têm perdido não só a salvação, mas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3) por um manjar perecível e sem qualquer valor diante da eternidade que é jogada fora. Cometeremos também este erro, tão comum nos dias da apostasia em que vivemos? Deus nos guarde!

II – AS REGRAS BÍBLICAS DO CASAMENTO

– Dentro deste contexto relacionado com a prostituição é que o apóstolo Paulo responde às questões dos coríntios com relação ao casamento, questionamentos surgidos do ensino do apóstolo na “carta anterior” com respeito à associação com os que se prostituem.

– Quando o apóstolo Paulo disse que os crentes não poderiam se associar com os que se prostituíam, uma série de dúvidas surgiram entre os coríntios, pois eles perceberam que a vida conjugal do cristão tinha de ser diferente da dos incrédulos.

É importante entendermos que a moral sexual do crente tem de ser distinta e diferente da moral sexual dos gentios, daqueles que não servem a Deus.

– Vivemos dias muito difíceis, onde o mistério da injustiça (I Ts.2:7) tem trabalhado eficazmente para destruir todos os princípios e parâmetros bíblicos que tinham sido incorporados no direito e na moral do Ocidente ao longo da história da Igreja, ao longo dos séculos da chamada “Era Cristã”.

Lamentavelmente, temos visto que, de forma intensa e quase arrasadora, as legislações dos países ocidentais tem se distanciado do modelo bíblico e a própria moral e cultura dos países que outrora se denominavam cristãos (alguns preferem até já se dizer “pós-cristãos”) está muito mais parecida com os costumes e maneira de viver existentes entre os gentios dos dias do apóstolo Paulo.

– Muitos, inadvertidamente, dentro das igrejas locais, dizendo-se cristãos, estão a aceitar este “modus vivendi” mundano e pecaminoso, necessitando, assim, receber os mesmos ensinos que Paulo deu aos coríntios, que viviam num ambiente devasso e que muito se assemelha ao que vivemos na atualidade.

O que é mais triste é que, se os crentes de Corinto se despertaram para o problema, em virtude da “carta anterior”, muitos destes crentes da atualidade nem este despertamento tiveram, estando a “dormir em berço esplêndido”, como que anestesiados pelo mundanismo e licenciosidade reinantes. Acordemos, pois, a fim de que Cristo possa nos esclarecer como nos convém andar neste tema tão importante.

– O apóstolo Paulo, dentro de sua formação judaica, e os judeus, como povo de Deus, tinham uma conduta moral completamente distinta da licenciosidade que caracterizava a civilização greco-romana, apresenta um ideal de vida que seria o do celibato, ou seja, que o homem e a mulher se abstivessem de um relacionamento sexual (I Co.7:1).

– Este pensamento de Paulo é apresentado como uma hipótese que o apóstolo, dentro de seu rigor moral judaico, via como conveniente diante de tantos abusos existentes.

Diante de uma licenciosidade, de uma libertinagem dominante, o apóstolo conjecturara consigo mesmo e chegara à conclusão de que o ideal seria a abstinência sexual, o término da sexualidade na humanidade.

– Este pensamento de Paulo não é simplesmente uma opinião do apóstolo, mas revela o próprio plano de Deus ao homem com a redenção.

Conquanto o sexo não seja pecado, tenha sido criado pelo próprio Deus (Gn.1:26) e, portanto, algo muito bom (Gn.1:31), o certo é que, em virtude da entrada do pecado no mundo, tornou-se uma grande arma para a corrupção do gênero humano. Por isso, quando da glorificação, o homem se tornará assexuado, passando a ser, neste ponto, como os anjos (Mt.22:30).

– No entanto, apesar deste ideal, que somente será alcançado com a glorificação, o apóstolo foi enfático ao mostrar que, em virtude da prostituição, o desejável é que cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido.

O casamento surge, assim, como o remédio para a prostituição, como a forma pela qual se deve atender ao instinto sexual e se desenvolver a sexualidade do ser humano.

– Notemos que o apóstolo, em momento algum, afirmou que o ideal da vida fosse o celibato, como, infelizmente, a partir da sua afirmação em I Co.7:1, foi interpretado por muitos ao longo da história da Igreja, gerando-se não só o celibato clerical da Igreja Romana, como também os chamados “conselhos evangélicos”, ou seja, os votos de castidade, pobreza e obediência que foram impostos a todas as ordens monásticas que começaram a surgir a partir do século II.

– Há, mesmo, discussão entre os estudiosos da Bíblia a respeito do estado civil do apóstolo Paulo. Para que Paulo tivesse defendido o celibato, como o fez, dizem alguns, era necessário que fosse solteiro.

Outros, entretanto, dizendo que Paulo devia ter pertencido ao Sinédrio, pois, do contrário, enquanto fora perseguidor da Igreja, não poderia ter o poder que tinha para prender e matar crentes, com “carta branca” do sumo sacerdote, objetam seu solteirismo, dizendo que ele era casado e tenha, posteriormente, ficado viúvo, daí porque estar só quando do seu ministério, como se verifica de I Co.7:8.

– Bem ao contrário, o apóstolo mostra que, embora o ideal fosse o celibato, o fato é que, por causa da prostituição, devam as pessoas se casar, a fim de que não pecassem.

Temos, pois, que, embora haja um plano divino para a cessação da sexualidade, a se realizar quando da glorificação dos crentes, enquanto ela não chega, devem os servos do Senhor tratar da questão da sexualidade por intermédio do casamento.

– O apóstolo fala claramente que cada homem deve ter a sua mulher e cada mulher, o seu marido. Não nos esqueçamos de que Paulo está a escrever a uma colônia romana, que era a capital da província da Acaia, para uma igreja que estava, inclusive, mal-acostumada com a ida ao Fórum.

Assim, quando o apóstolo fala em “marido” e em “mulher”, está a falar em “casamento”, figura jurídica que, já no direito romano clássico, era bem distinta de outras “uniões”, como o “concubinato”.

– Por isso, vemos claramente que a lição bíblica é de que o sexo somente pode ser praticado no casamento e entre cônjuges. Não há base alguma para o dito popular “amigado com fé, casado é”, como se está a defender em muitos lugares na atualidade.

Também não se tem base bíblica alguma para se dizer que “Deus não exige casamento com papel passado, porque, inclusive, no Éden, não tinha cartório de registro civil”, como alguns chegam a dizer para tentar justificar a sua desobediência à lei divina.

– O casamento é a união entre um homem e uma mulher, que estabelece uma comunidade de vida, material e espiritual.

Casamento é o ato de se deixar pai e mãe e se unir a uma pessoa do sexo oposto com o objetivo de estabelecer, com esta pessoa, uma vida em comum. Esta definição de casamento está em Gn.2:24 e é a que deve ser seguida por todos os servos de Deus.

– Uma família, para se constituir legitimamente, diz-nos as Escrituras Sagradas, exige que haja casamento como seu ato de fundação.

É preciso que as pessoas que pretendem formar uma vida em comum demonstrem, de forma pública e notória, que estão assumindo um compromisso sério, diante de Deus, dos homens e do cônjuge.

Só assim se estará constituindo uma família legítima, uma família dentro dos padrões estabelecidos pela Palavra de Deus.

– Sabemos que, nos dias em que vivemos, este conceito de família legítima não mais vigora nas leis dos homens.

No Brasil, por exemplo, desde a Constituição de 1988, o casamento deixou de ser a única forma legítima de se constituir família.

A partir de então, para fins de proteção do Estado, as leis brasileiras têm admitido que a comunidade formada por uma pessoa e seus descendentes ou a união estável entre homem e mulher, mesmo sem casamento, devem ser consideradas como famílias (artigo 226 da Constituição da República).

OBS: É importante deixar aqui registrado que a Constituição não admite que seja reconhecido como família o grupo surgido de uma união homossexual, de forma que, para se permitir que tal união se torne família no Brasil, será necessária uma mudança na Constituição ou, então, um pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, o que, aliás, já está em curso.

– Entretanto, o fato de o direito brasileiro assim determinar, não muda em coisa alguma o conceito que os cristãos devem ter a respeito do que é a família, porquanto devemos nos prender ao que estabelece a Bíblia Sagrada, ao princípio, não nos prendendo a leis que surgem por causa da dureza dos corações dos homens (Mt.19:7,8).

Como servos de Deus, importa obedecermos mais a Deus do que aos homens (At.5:29). Deste modo, não há como um servo do Senhor, um verdadeiro salvo se recusar a estabelecer uma família a não ser por meio do casamento, entendido como casamento aquilo que a nossa lei assim denomina.

– Dizem alguns, de forma inadvertida, que o casamento é apenas um pedaço de papel, que, no jardim do Éden, não havia cartório de registro civil, nem a burocracia dos nossos dias e que, mesmo assim, Adão e Eva foram considerados casados diante de Deus, de forma que não se pode exigir “casamento de papel passado” para os crentes, que isto não passaria de um preconceito cultural, de uma doutrina meramente humana, que o que importaria é que tenha havido o compromisso sério entre as duas pessoas, já que “amigado com fé, casado é”.

Chegam, mesmo, a dizer que se está dando mais valor a uma lei feita por homens ímpios do que à Palavra de Deus.

– Efetivamente, o casamento civil é uma instituição humana, relativa à lei dos homens e que o casamento feito no Éden não teve quaisquer das formalidades que são exigidas, e de forma diferente, em cada um dos mais de 180 países do mundo.

Não obstante, e isto também é fato, em todos os estes países, existe o casamento, ou seja, não é qualquer união entre um homem e uma mulher que se considera legítima, mas sempre se exige que se tomem algumas providências para que um homem e uma mulher demonstrem a seus semelhantes que estão deixando seu pai e mãe e estão se unindo para formar uma família. Paul B. Horton e Chester L. Hunt, grandes sociólogos americanos, afirmam que “…casamento é o padrão social aprovado para que duas ou mais pessoas estabeleçam uma família…” (Sociologia, p.167-8).

Assim sendo, para que uma sociedade considere que um homem e uma mulher estão formando um novo grupo familiar, faz-se preciso a tomada de algumas iniciativas, que demonstrem, de forma inequívoca, esta intenção, e esta forma é o casamento.

Ora, se o casamento é este modelo pelo qual as pessoas reconhecem que há um compromisso sério assumido entre homem e mulher, o que a Bíblia manda em Gn.2:24 é que haja este compromisso, que haja esta observância deste padrão, não importando como isto se dá em cada cultura, em cada sociedade.

Seja onde for, o servo de Deus, que deve cumprir o que manda a Bíblia, deve se submeter às exigências da sociedade para deixar bem claro que está assumindo um compromisso sério de ter uma vida em comum com aquele com que está se casando.

– Agora, perguntamos, alguém que, tendo pleno conhecimento do que é se casar, do que a sociedade considera casamento, por que se recusará a se submeter às providências que são consideradas como indispensáveis para que haja este casamento?

Só uma resposta é possível: porque não quer assumir os compromissos que a legislação e a sociedade impõem para o casamento e para os casados, porque não quer dar a esta união a seriedade que a lei dos homens dá a este tipo de união (exigências, via de regra, menores do que as constantes das Escrituras).

Então, se não há disposição de se assumir um compromisso sério e inequívoco diante dos homens, haverá disposição de fazê-lo diante de Deus?

É este o comportamento de um verdadeiro cristão, cujo falar deve ser sim, sim, não, não? Não seria este comportamento, como ensina Jesus, de procedência maligna? (Mt.5:37).

Por isso, não podemos aceitar que salvos se submetam a este tipo de união e se recusem a se casar conforme a lei civil.

– O casamento, neste contexto, como podemos perceber, é uma instituição divina, foi criado por Deus, mas Deus deixa ao arbítrio do homem a “forma” como ele se estabelece em cada sociedade.

Deus disse que o homem e a mulher devem deixar pai e mãe e se unir em uma nova família, dando a isto o nome de casamento, casamento este, aliás, que mandou que a Igreja, como Corpo de Cristo, venerasse, isto é, respeitasse, bem como cuidasse para que se estabelecesse dentro de uma pureza sexual (Hb.13:4).

O casamento, portanto, é uma instituição divina, mas que está circunscrita a este mundo, a esta vida, de modo que não é algo eterno, que transcenda esta nossa dimensão, como defendem erroneamente os mórmons, como também não se trata de algo intocável e que seja a própria ministração da graça divina, um “sacramento”, como defende, também, sem respaldo bíblico, a Igreja Católica Apostólica Romana.

Não há um rito pré-estabelecido para o casamento, nem é a Igreja quem o faz, mas, sim, os noivos que, com seu consentimento e observância das formalidades estabelecidas pelas mais diferentes sociedades, demonstram ter assumido o compromisso de formar uma família.  Voltaremos a este assunto e às suas conseqüências quando estudarmos a lição a respeito do divórcio.

– O casamento, uma vez efetuado, permite que marido e mulher mantenham, entre si, um relacionamento íntimo, um relacionamento sexual, até porque dois dos três objetivos da instituição familiar estão diretamente relacionados à atividade sexual: a procriação e a satisfação dos cônjuges.

Sem sexo, não há a possibilidade de perpetuação da espécie, nem que os cônjuges alcancem a complementaridade, o término da solidão, algo que é, em parte, suprido pela sexualidade. O sexo não é algo mau, não é algo proibido por Deus, longe disso, já que Deus fez o homem macho e fêmea, ou seja, sexuado.

Entretanto, é no casamento e entre os cônjuges que o sexo pode e deve ser praticado. Sexo antes ou fora do casamento é pecado, pois haverá aí a impureza sexual, a “porneia”, que a Versão Almeida Revista e Corrigida traduz por “prostituição”.

– A Bíblia Sagrada é bem clara no sentido de que os servos de Deus devem dar a devida honra ao casamento e que esta honra envolve a abstinência sexual fora do casamento.

O escritor aos Hebreus diz que devemos respeitar o casamento e que este deve ser constituído “sem mácula”, ou seja, sem mancha (Hb.13:4).

Qual seria a mancha deste casamento? O mesmo texto que nos manda respeitar o casamento responde: a prostituição, ou seja, a impureza sexual (que envolve toda e qualquer prática sexual antes do casamento) e o adultério (que é a prática sexual de um casado com quem não é seu cônjuge).

– A virgindade, que hoje é vendida pelo mundo perdido como uma vergonha, como um defeito, como uma ingenuidade, é, simplesmente, uma exigência bíblica, um mandamento bíblico, que não pode ser dispensado por quem quer que seja.

Homens e mulheres devem casar virgens, é o que manda a Palavra de Deus, pois, a falta de virgindade é considerada na Bíblia como uma loucura no meio do Seu povo (Dt.22:21).

Muitos atacam as disposições bíblicas a respeito da virgindade, dizendo que são fruto de um “machismo”, de uma “discriminação sexual”, porque o texto bíblico fala apenas na mulher virgem, esquecendo-se de que nunca a Bíblia abonou ou concordou com a falta de virgindade por parte do homem.

Se as penalidades são aplicadas apenas à mulher, isto se deve ao fato de que a virgindade só pode ser constatada, fisicamente, na mulher, jamais no homem, mas nunca Deus concordou com a impureza sexual do varão, tanto que, em Hb.13:4, a Bíblia não distingue entre homem e mulher, mandando que “todos” respeitem o casamento com pureza sexual.

– A Igreja, é preciso que confessemos, tem sido negligente na defesa deste valor de pureza sexual entre nossos jovens e adolescentes, não mostrando, com autoridade, o que a Palavra de Deus nos ensina a este respeito.

Parece-nos ver que as igrejas locais têm evitado o assunto, têm-no tangenciado, em nome de falsos pruridos morais e de um recato que, entretanto, só têm servido para contribuir com o alto índice de fornicação e de prostituição no meio da juventude e adolescência dita evangélica.

Devemos pregar a Palavra e dar conta aos jovens que um casamento que se inicie sem que haja pureza sexual é um casamento que terá grandes dificuldades para se estabelecer, não será um casamento, como costuma nos dizer um irmão em Cristo que, há décadas, não se conforma com este estado de coisas no nosso meio, mas, sim, um “encrencamento”, pois jovens sexualmente impuros jamais poderão construir e educar filhos dentro de princípios de pureza sexual.

Urge que zelemos pela abstinência e pureza sexual dos solteiros na igreja, para que venhamos a ter lares sólidos e com autoridade moral no futuro.

OBS: Aliás, para que sejamos justos, não é apenas entre jovens e adolescentes que vemos a disseminação da impureza sexual.

Entre adultos e, pasmem, até mesmo entre pessoas de terceira idade, no nosso meio, já há quem entenda que a impureza sexual não gera maiores consequências.

Certo irmão em Cristo, já de certa idade, viúvo, foi abordado, recentemente, por uma irmã, que disse estar interessada em casar-se com ele.

Como a diferença de idade entre eles era acentuada (apesar de a irmã já não ser uma jovenzinha…), o irmão lhe disse que não havia interesse no casamento, até porque não poderia ter um relacionamento íntimo com uma nova mulher.

A mulher, então, disse que não haveria qualquer problema, caso houvesse alguma falha por parte dela, “era só pedir perdão e tudo bem, que ela garantia que não haveria divórcio”. A que ponto chegamos !

– O casamento, sendo o único elemento legítimo fundante da família, institui todas as funções estabelecidas para a família.

Com o casamento, portanto:

a) regula-se o relacionamento sexual entre marido e mulher

b) dá a marido e mulher o estado civil de casados, com deveres e direitos daí decorrentes na legislação do país

c) torna possível a procriação, com a perpetuação da espécie humana, mediante o relacionamento íntimo entre homem e mulher

d) cria uma nova unidade econômica (hoje só que de consumo) na sociedade, com o início da formação de um patrimônio resultante do esforço comum de marido e mulher.

III – O EXERCÍCIO DA SEXUALIDADE NO CASAMENTO

– Entretanto, o apóstolo Paulo não tratou apenas de dizer que o casamento era importante e necessário para se evitar a prostituição, como também dissertou a respeito da relação que deve haver entre os cônjuges com relação a este importante aspecto do casamento.

– O sexo somente pode ser exercido no casamento, como já vimos, e, no casamento, somente pode ser exercido entre os cônjuges. É a fidelidade conjugal,que implica em que cada cônjuge somente mantenha relações sexuais com o seu cônjuge, que é único (I Co.7:2,3).

– Nos dias em que vivemos, já se defende uma “dissociação” entre “fidelidade” e “lealdade”. O que se exigiria entre casais seria apenas a “lealdade”, ou seja, a transparência, o “jogo limpo”, a “sinceridade”.

Assim, quando um cônjuge quisesse ter relacionamento com terceira pessoa, deveria contar tudo ao outro cônjuge, que de tudo deve ficar sabendo. É o chamado “casamento aberto”, mais uma das aberrações e invenções malignas dos dias hodiernos.

– A Bíblia Sagrada, porém, não aceita esta espécie de relacionamento, dizendo que marido e mulher devem manter com exclusividade relacionamento íntimo, sendo este relacionamento um dever de um cônjuge em relação ao outro, o que os juristas canonistas (os juristas da Igreja Romana) denominaram de “débito conjugal”. É um dever do cônjuge manter relações sexuais com o outro.

– As relações sexuais entre cônjuges devem ser contínuas entre marido e mulher, precisamente para que se possa satisfazer o instinto sexual e para que não haja a prostituição. Entretanto, no relacionamento conjugal, a sexualidade deve ser exercida de uma forma completamente diferente do que temos visto ser alardeado pelo mundo e pelo inimigo de nossas almas.

O exercício da sexualidade entre cônjuges é guiado pelo altruísmo, ou seja, pelo objetivo de satisfação do desejo sexual do cônjuge, não do próprio.

– O apóstolo Paulo foi claro ao mostrar que, uma vez casado, o homem perde o direito que tem sobre o próprio corpo, que passa a pertencer à sua mulher, assim como a mulher deixa de ter domínio sobre o próprio corpo, que passa a pertencer ao marido (I Co.7:4).

– É por este motivo que o casamento se apresenta, nas Escrituras, como uma figura do relacionamento seja entre Deus e Israel, seja entre Cristo e a Igreja.

Deus não procura Se satisfazer em Israel, mas quer satisfazer a Israel, quer-Lhe bem, assim como Cristo não buscou Se satisfazer na Igreja, mas quer agradar à Igreja.

Deus e Cristo querem bem aos homens, enquanto que os Seus servos querem agradar a Deus. O próprio apóstolo, certo dia, disse aos gálatas, em carta, que não buscava agradar aos homens, mas a Cristo Jesus (Gl.1:10).

– A sexualidade tem de ser exercida altruisticamente, ou seja, cada cônjuge deve buscar como finalidade a satisfação de seu cônjuge, o saciedade da pessoa amada, do instinto sexual do outro.

É precisamente neste ponto que vemos como a sexualidade conjugal caminha em direção e sentido contrários ao que é veiculado pelo mundo.

– O mundo tem defendido a satisfação própria da pessoa, que a sexualidade seja exercida de modo a que cada um encontre o seu prazer, o seu bem-estar.

O outro, quando existente, é tratado como um mero instrumento, um simples objeto em que se procura a satisfação.

Não surpreende, pois, que, muitas vezes, pouco importa se o “parceiro sexual” é uma pessoa ou um boneco, pois o que se busca é a satisfação própria, o que se tem é um “sexo egoístico”, exatamente o contrário do que ensinou o apóstolo Paulo.

– Em Corinto, as pessoas “usavam” as prostitutas cultuais visando o seu próprio bem-estar, procurando uma forma de serem propícios às “deusas do amor”, viam nas sacerdotisas meretrizes um instrumento para obter os “favores divinos” de Afrodite ou de Ísis.

Nos dias de hoje, não é diferente: as pessoas veem as outras como meros instrumentos para a satisfação de suas “fantasias sexuais”, de seus desejos perversos, pouco importando com o sentimento do outro ou da própria condição de pessoa do outro.

– No entanto, não é este o fim da atividade sexual. Os cônjuges devem, no exercício da sexualidade, ter como finalidade a satisfação do seu cônjuge, complementá-lo de tal maneira que ele se sinta bem e realizado, tendo uma companhia agradável e que lhe traga as condições de superar a solidão, que é o grande problema do homem (Gn.2:18).

– Quando falamos em sexualidade, é bom que esclareçamos que sexo não se resume à genitalidade, ou seja, às relações sexuais corporais, ao encontro de genitálias, que é tão somente um dos aspectos da sexualidade, que é muito mais ampla do que isso, pois envolve a própria complementaridade entre o homem e a mulher.

– Quando se entende o que é o sexo na perspectiva bíblica, muitas das questões que hoje causam várias dúvidas entre os cônjuges crentes simplesmente desaparecem. Questões relacionadas com os limites no relacionamento corporal entre os cônjuges, sobre a

frequência de cônjuges crentes a certos ambientes (motéis, por ex.), sobre o imaginário da intimidade do casal perdem completamente o sentido, na medida em que os cônjuges percebem que a atividade sexual não existe para a satisfação própria, mas para a saciedade do cônjuge.

Quando descobrimos que nosso corpo não nos pertence mais, mas, sim, ao nosso cônjuge, passamos a ter uma nova visão da realidade do exercício da sexualidade no casamento.

– Outro ensino que o apóstolo nos dá sobre a vida conjugal é que o relacionamento sexual deve ser contínuo, ou seja, não pode sofrer interrupção.

Costumamos afirmar que a regra do sexo bíblico é simples: “antes ou fora do casamento, nunca; no casamento, com o cônjuge, sempre”. Marido e mulher não podem interromper o relacionamento íntimo, precisamente porque não pode abrir brechas no seu relacionamento para que o inimigo venha a inserir a prostituição na intimidade conjugal.

– Muitos crentes, mal-informados e mal-formados doutrinariamente, veem a atividade sexual como negativa ou pecaminosa, o que, em absoluto, corresponde à verdade bíblica.

O sexo é o modo pelo qual o Senhor determinou a reprodução da espécie humana, o primeiro mandamento dado por Deus à humanidade (Gn.1:28), como também é a forma estabelecida pelo Senhor para que se tenha a complementaridade corporal entre homem e mulher e, dentro deste aspecto físico, a formação da vida em comum (Gn.2:24).

– Sem o exercício da sexualidade (que, repitamos, não se confunde com genitalidade), não há como homem e mulher se tornarem um, se completarem um ao outro e, assim, resolver ao problema da solidão. Por isso, não podem marido e mulher, simplesmente, interromper o relacionamento sexual, devendo continuamente exercê-lo, até o final do casamento, quando ocorrer a morte de um dos cônjuges (Rm.7:2,3; I Co.7:39).

– Paulo ensina-nos que marido e mulher somente podem interromper seu relacionamento sexual por algum tempo para se dedicarem à oração e, ainda assim, se houver consentimento mútuo.

Não pode marido ou mulher, unilateralmente, interromper tal relacionamento, sob qualquer outro pretexto, mesmo uma eventual e ilusória “consagração”.

Temos conhecimento de casos em que marido ou mulher assim procederam, achando terem um “nível elevado de santidade” e o resultado disto foi a destruição do casamento, com o adultério do cônjuge.

– O Senhor conhece a nossa estrutura (Sl.103:14) e, por isso, não haveria de exigir de nós coisas que não podemos fazer ou cumprir. Sabe que somos meros homens (Sl.9:20).

Assim, não poderia permitir que houvesse uma interrupção unilateral do relacionamento conjugal, até porque, dentro do altruísmo que determinou para o sexo, não há como nós mandarmos que o nosso cônjuge, sobre o qual temos domínio sobre o corpo, faça isto ou aquilo.

– Havendo consentimento mútuo do casal, pode haver esta interrupção, mas não por muito tempo, para que haja uma dedicação maior à oração (I Co.7:5).

Entende-se, pois, que, além de ambos decidirem interromper o relacionamento íntimo, devem estes momentos serem trocados pela oração conjunta, pela oração de ambos. Não se trata de ambos interromperem o sexo e de apenas um orar, enquanto o outro dorme ou fica com a mente desocupada,
sendo tentado pelo diabo.

Ambos devem se dedicar à oração, oração esta que, como toda oração de um crente, tem um propósito, uma finalidade, um objetivo.

– Manda, também, o apóstolo que esta interrupção não seja por muito tempo, para que, pela demora da regularização da atividade sexual, não venha um dos cônjuges (ou ambos) acabar sendo tentado e caia em prostituição, em adultério.

Esta interrupção, o apóstolo faz questão de afirmar, não é um mandamento, ou seja, não se pode exigir que um casal, para se dedicar mais à oração, cesse seu relacionamento íntimo, mas se trata de uma permissão, ou seja, é uma conduta lícita, não obrigatória.

– Devemos tomar muito cuidado com os “santarrões”, que vivem a tentar limitar ou restringir, além do que diz a Bíblia, o relacionamento íntimo de um casal.

Se, de um lado, não é verdade o que os libertinos têm defendido, de que, “entre quatro paredes, tudo é permitido entre marido e mulher”, algo diabólico e que esquece completamente que os verdadeiros crentes têm uma sexualidade totalmente distinta da dos ímpios e sabe manter o seu corpo em santificação e honra (I Ts.4:4,5),

também não se pode admitir que tudo seja proibido, pois são falsos mestres aqueles que “proíbem o casamento e ordenam a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis” (I Tm.4:3a).

Os cônjuges crentes, por serem salvos, produzem o fruto do Espírito e, portanto, tudo fazem com amor, benignidade e temperança (Gl.5:22).

IV – A QUESTÃO DO CELIBATO

– O apóstolo Paulo, ele próprio um solitário, não esqueceu de tratar a respeito do celibato, ou seja, do “estado de solteiro”.

Como já dissemos, o apóstolo entendia que este era o modelo ideal do servo do Senhor, o que, como vimos, somente se concretizará quando da glorificação do cristão.

– No entanto, o apóstolo não deixa de louvar o seu estado, convidando os outros a que o assumissem (I Co.7:8).

No entanto, o apóstolo deixa bem claro que se tratava de um dom divino, que lhe permitia permanecer naquele estado, mas que Deus não tinha dado este dom a todos, chamando uns para o celibato e outros, para o casamento (I Co.7:7).

– Assim, embora Deus tenha dito, ao criar o homem, que não era bom que ele estivesse só (Gn.2:18), o fato é que, diante do plano divino para a salvação, haveria um instante, o da glorificação, em que não mais haveria sexualidade entre os salvos, de sorte que pode o Senhor, dentro de Sua soberania, conceder a servos Seus o dom do celibato, assim como a outros, o dom do casamento.

O Senhor Jesus já havia falado a respeito, quando tratou a respeito da família, quando indagado pelos fariseus sobre o divórcio, quando disse que haveria aqueles que seriam “eunucos que se castraram a si mesmos pelo reino de Deus”, como também havia aqueles que “nasceram eunucos desde o ventre da mãe” (Mt.19:12).

– Deus, que é o Senhor e o Criador, faz com que tanto nasçam homens que não tenham qualquer desejo sexual (“os que nasceram eunucos desde o ventre da mãe”), como chama homens e mulheres para a Sua obra a fim de uma dedicação tal que não lhes seja possível a formação de famílias, devendo, por isso, ser celibatárias. Tanto num caso (o da natureza), quanto o outro (o da vocação), temos uma intervenção divina, dentro de Sua soberania, relacionado com indivíduos especificamente.

– O apóstolo mostra, claramente, que se tratava de um chamado especial do Senhor, que não seria a todos os Seus servos, nem tampouco a todos os Seus ministros.

A propósito, não devemos nos esquecer que Paulo não fora chamado para apascentar, mas, sim, para evangelizar.

Tratava-se, pois, de um evangelista, de um apóstolo, não de um ancião que deveria tratar com uma igreja local especificamente, chamado este que exige, como ensina o próprio apóstolo, o estado civil de casado, pois como se pode governar a casa de Deus se não se governa uma casa (I Tm.3:1-5)?

– Por isso, vemos que não tem qualquer razão o costume da Igreja Romana de não permitir que seus sacerdotes se casem, com suposta base doutrinária nesta passagem da primeira carta de Paulo aos coríntios.

Tanto não se tem base doutrinária que a própria Igreja Romana admite que o celibato é um costume da Igreja Romana e não, uma questão doutrinária.

Esta tradição do romanismo, porém, não é mero costume, mas uma daquelas tradições que contrariam as Escrituras (Mt.15:3,6), uma vez que não só a Bíblia exige que o pastor seja casado, como o próprio apóstolo Paulo afirma que, enquanto ministro, tinha o direito de se casar, como, aliás, era o caso de Pedro (I Co.9:5), que, a propósito, sendo casado, não poderia, segundo a própria doutrina romanista, ser o primeiro Papa…

OBS: O Papa Paulo VI (1963-1978) admitiu, em encíclica, que o celibato era um costume, não um ponto doutrinário, “in verbis”:

“…É certo, conforme declarou o Concílio Ecumênico Vaticano II, que a virgindade “não é requerida pela própria natureza do sacerdócio, como se conclui da prática da Igreja primitiva e da tradição das Igrejas Orientais”. (4)

Mas o mesmo Sagrado Concílio não hesitou em confirmar solenemente a antiga, sagrada e providencial lei vigente do celibato sacerdotal, expondo também os motivos que a justificam aos olhos de quem sabe apreciar com espírito de fé e com fervor íntimo e generoso os dons divinos. …” (Sacerdotis caelibatus, n.17. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_24061967_sacerdotalis_po.html Acesso em 01 abr. 2009).

– O celibato determinado pelo romanismo, por ser algo que está fora dos parâmetros bíblicos, sendo ensino que muito bem se enquadra em I Tm.4:3, acabou gerando inúmeros problemas para a própria Igreja Romana, como ao escândalo da pedofilia, que tem trazido seríssimas consequências para a Igreja Romana em todo o mundo, particularmente nos Estados Unidos, um dos principais fatores de enfraquecimento que vive a instituição, num dos mais claros sinais de que caminhamos a passos largos para a instauração da religião mundial anticristã, a ser comandada pelo Falso Profeta (Ap.13:15,16).

– Não é disto que o texto sagrado está a tratar. O apóstolo mostra aos coríntios, que estavam acostumados a uma religiosidade baseada na prostituição, em um sacerdócio vinculado à prática de relações sexuais, que o servo de Deus pode, ou não, se casar, dependendo da vontade de Deus.

– O apóstolo era celibatário, estava a servir a Deus em estado de solidão e achava que este estado, que era o seu, era bom e que os solteiros e viúvos deveriam ficar como ele, desde que o Senhor tivesse lhes dado este mesmo dom.

Uma das demonstrações mais efetivas de que Deus havia dado este dom aos crentes seria a capacidade de continência, de autocontrole do instinto sexual. Quem fosse chamado por Deus ao celibato, não podia “abrasar-se”, ou seja, tinha de ter a capacidade de controlar e dominar seu instinto sexual, tinha de ser feito por Deus um verdadeiro “eunuco” (I Co.7:9,37).

– A pessoa recebeu de Deus o dom de não ter qualquer instinto sexual, então pode ser celibatário. Caso contrário, não poderá assumir tal condição, devendo, pois, casar-se, a fim de que não venha a se prostituir.

– O celibato, segundo o apóstolo, traz como vantagem a ausência de cuidados para com a família. O celibatário não tem cônjuge e, deste modo, pode dedicar-se integralmente à obra do Senhor, não tendo que agradar ao cônjuge (I Co.7:32-34).

– Neste ponto, aliás, embora esteja a falar da condição do celibatário diante de Deus, o apóstolo Paulo mostra, claramente, que a vida familiar tem uma prioridade que, muitas vezes, é esquecida na igreja.

A vida conjugal, a vida familiar está num patamar que se encontra acima da Igreja. Com efeito, segundo o apóstolo, o cuidado do servo ou da serva do Senhor com sua família é tão importante que, muitas vezes, chega, mesmo, a rivalizar com o próprio relacionamento da pessoa com Deus.

– Como muitos poucos percebem esta verdade bíblica, a começar dos obreiros dos nossos dias, que, muitas vezes, se dedicam de corpo, alma e espírito às igrejas locais e se esquecem de seus familiares e o resultado disso é o fracasso ministerial, pois não há ministério que possa ter aprovação de Deus e dos homens diante de um lar destruído, diante de uma família destroçada.

– O apóstolo é claro ao mostrar que podia se dedicar integralmente à obra de Deus, porque só tinha de agradar a Deus, não tinha cônjuge para agradar, mas que, em havendo cônjuge, o casado, ou casada, deve, primeiramente, agradar ao cônjuge, para então cuidar das coisas pertinentes ao Senhor.  Temos feito isto? Temos reconhecido que o obreiro merece ter um dia exclusivo para a sua família?

– O cônjuge tem de agradar ao outro, devendo ter esta mesma preocupação mesmo diante do que faz na obra do Senhor.

A prioridade da família estabelece-se, pois, claramente no ensino do apóstolo, algo que, para os coríntios, era uma grande novidade, visto que o paganismo greco-romano valor algum dava à família, muito menos quando se estava a envolver questões religiosas, tidas como de interesse da cidade e de importância maior do que a vida particular.

– Paulo entende que a situação do celibatário é melhor que a do casado sob este aspecto do serviço a Deus, como também do ideal a ser atingido pela glorificação, mas jamais estabelece uma regra de maior santidade ou espiritualidade do celibatário em detrimento do casado, já que tanto um quanto outro são dons de Deus para o Seu povo. São estados diferentes, que devem ser reconhecidos e respeitados, ficando cada um na vocação em que foi chamado (I Co.7:20).

OBS: Nosso pai conta a história de um jovem crente que se gabava de dizer que seria “como o apóstolo Paulo”, ou seja, celibatário.

Apesar de sua muita insistência, não era esta a vocação com o que o Senhor o havia chamado e seus colegas de mocidade acabaram não só vendo seu casamento, mas uma numerosa prole, a ponto de até mesmo a Receita Federal ter ido investigá-lo, já que, a cada ano, aumenta o número de seus dependentes… Aguardemos a orientação do Senhor.

V – A QUESTÃO DO CONFLITO ENTRE A VIDA CONJUGAL E A VIDA ESPIRITUAL

– Em seguida, após apresentar os dois estados com que se pode servir a Deus (casado ou celibatário), o apóstolo Paulo enfrentou outro dilema vivido pelos crentes de Corinto, qual seja, o do conflito entre a vida conjugal e a vida espiritual.

– Como já temos dito ao longo do trimestre, Corinto era uma cidade devassa, que vivia da imoralidade. A conversão de gentios para Cristo suscitou, evidentemente, um choque cultural de grandes proporções.

Diante do ensino da “carta anterior” de que os crentes não deveriam se associar com os ímpios, surgiu, inevitavelmente, a questão a respeito dos casamentos em que um dos cônjuges havia se convertido e o outro, não. Deveria, então, haver a separação? Seria permitido, nestes casos, o divórcio que, aliás, era autorizado tanto na lei judaica, como na lei romana?

– É este o contexto que temos no capítulo 7 de Primeira aos Coríntios e, a fim de que não surjam ensinos equivocados, que não cessam de aparecer num período de apostasia como o atual, onde estamos a viver os dias de Noé, onde as pessoas “casavam e davam-se em casamento”(Lc.17:27), ou seja,

dias de menosprezo e desprezo pela instituição do casamento, deve-se logo observar que o apóstolo não está, com este ensino, a defender seja o casamento com incrédulos, seja a separação ou o divórcio.

– Por primeiro, observemos que o apóstolo está a falar de casais cujos cônjuges, quando se casaram, não eram crentes, mas onde um deles se converteu.

De pronto, pois, vemos que a questão não envolve qualquer permissão para o casamento de crente com incrédulo.

Este caso foi tratado pelo apóstolo na “carta anterior”, quando ensinou os crentes a que não deviam se associar com os que se prostituem (I Co.5:9), bem como seria tratado na segunda epístola, quando afirmou que não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14).

– Por segundo, verifiquemos que o apóstolo logo mostra que não deve o cônjuge crente, que se converteu, tomar a iniciativa da separação :

“…aos casados, mando eu, não o Senhor, que a mulher não se aparte do marido…” (I Co.7:10)

Mas aos outros, digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe (I Co.7:12,13)”.

Alguém dirá que isto é a palavra do apóstolo, que não é mandamento do Senhor. Sem dúvida, é o próprio apóstolo que o diz.

Mas, perguntemos: não era o apóstolo Paulo um homem de Deus (I Co.1:1; 7:40)? Não estava ele inspirado pelo Espírito Santo para escrever esta carta (II Pe.1:21)?  Este escrito não é para nosso ensino (Rm.15:4)?

Por que, então, dar menos valor a esta opinião e fazer prevalecer a vontade de alguém que, por conveniência e envolvimento em caso concreto, quer distorcer o sentido do que está escrito?

– O cônjuge crente, salvo e lavado no sangue do Cordeiro, é luz do mundo (Mt.5:14) e sal da terra (Mt.5:13), tem de ostentar uma justiça superior a dos escribas e fariseus (Mt.5:20), produz o fruto do Espírito (Jo.15:16), reflete a glória de Deus na sua vida (II Co.3:18), é participante da natureza divina (II Pe.1:4) e segue as pisadas de Cristo, que não cometeu pecado; nem se achou engano em Sua boca; que, injuriado, não injuriava; padecendo, não ameaçava, mas Se entregava Àquele que julga justamente (I Pe.2:21-23).

Por que, então, deve tomar a iniciativa de uma separação? Por que, então, deve, por diferença de credo, tomar a dianteira do desprezo, da incompatibilidade, da insuportabilidade, da impaciência?

É este, por acaso, o testemunho que se espera de alguém que se tornou um com Cristo Jesus, Aquele que não recusou o mais vil pecador? Certamente que não!

– Hoje em dia, uma simples “cara feia” do cônjuge incrédulo já é motivo para que o cônjuge crente se separe.

“O apóstolo apenas deu uma opinião, não há proibição bíblica para a separação”, dizem os teólogos e entendidos, animando e estimulando o cônjuge neoconverso a “se livrar” do “agente do diabo”, do “impedimento da sua vida”, que é o cônjuge incrédulo.

Entretanto, na história da Igreja, não é este o comportamento que vemos. Pelo contrário, quantos testemunhos não temos de mulheres que, num período de grande machismo, sofriam terrivelmente porque haviam se convertido, mas se mantinham casadas, não se apartavam nem do seu Senhor, muito menos de seus maridos e o Senhor honrou tal atitude com a salvação de seus esposos. Será que Deus mudou?

Será que o que está no ensino de Paulo era tão fraco assim para que Deus honrasse tal ensino tantos séculos depois?

– Agora, não podemos esquecer que não se trata de um mandamento do Senhor. Por que Deus não deu esta ordem?

Porque há circunstâncias em que será irrazoável exigir-se do cônjuge crente a espera da iniciativa do outro no apartamento.

Não nos esqueçamos de que, em algumas oportunidades, o Senhor Jesus saiu do meio de Seus algozes, porque ainda não era chegada a Sua hora (Lc.4:29,30; Jo.8:59; 10:31,39).

Situações haverá, pois, que, por ordem do Senhor, tenha o cônjuge de tomar a iniciativa de sair, o que não representará violação da Bíblia, visto que não há mandamento divino em sentido contrário.

Lembremos, porém, que não é esta a regra geral e que a saída por iniciativa do cônjuge é tal que não dará margem a escândalo algum, pois ai daqueles por quem vem o escândalo (Mt.18:7).

Como bem ensinaram os juristas, “ad impossibilia nemo tenetur”, ou seja, ninguém pode ser compelido a fazer coisas impossíveis, brocardo jurídico que tem respaldo bíblico que diz que as coisas impossíveis são para Deus (Lc.1:37).

– Evidentemente que a salvação é individual e, portanto, o apóstolo não poderia ensinar outra coisa senão a de que, se o cônjuge incrédulo se apartasse do cônjuge crente, por causa do Evangelho, não deveria o cônjuge crente ser obrigado a abandonar a Jesus, “ainda que temporariamente”, para seguir o destino de seu cônjuge.

Se houver uma incompatibilidade tal que o cônjuge incrédulo resolva deixar o lar conjugal, diz o apóstolo, que isto seja permitido ao cônjuge incrédulo.

O cônjuge crente não pode tomar a iniciativa da separação, mas deve ter consciência de que se o cônjuge incrédulo se aparta, pois exige uma renúncia a Cristo para a manutenção do casamento, mais importante é a salvação do que o casamento (I Co.7:11).

– Por terceiro, o cônjuge crente que se vir separado por iniciativa do cônjuge incrédulo não pode casar novamente. Não é este um caso bíblico de divórcio, devendo, pois, manter-se separado, sem que possa casar de novo (I Co.7:11).

Ou se aguarde a morte do cônjuge incrédulo (I Co.7:39), ou, então, que ocorra a prostituição (Mt.19:9), ou se reconcilie com o cônjuge que se separou (I Co.7:11).

– Ao contrário do que afirmam alguns, não se tem qualquer autorização bíblica para o divórcio nos casos em que há um “jugo desigual superveniente”, ou seja, nos casos em que um dos cônjuges se converte e o outro, não, sendo antes ambos incrédulos, criando-se um conflito insuperável por causa do Evangelho.

Se o cônjuge incrédulo se separar, a separação não é imputável ao cônjuge crente, que deve, porém, ficar sem casar, buscando ou a reconciliação com o cônjuge descrente, ou aguardando a morte física do mesmo, quando, então, ficará livre para se casar de novo.

– Quando se fala em reconciliação com o cônjuge descrente que se apartou, é bom que se esclareça que não há qualquer autorização bíblica para uma vida sexual esporádica entre estes cônjuges separados.

Muitos, por não se conterem (e isto é mais do que compreensível, pois são pessoas que não foram chamadas ao celibato), acabam arrumando um “jeitinho”, qual seja, o de promover encontros casuais com o cônjuge separado, com o objetivo de saciar sua libido.

Tal comportamento não tem aprovação bíblica, porquanto o que se tem é apenas uma atividade sexual egoística, desprendida de toda a honra e veneração que deve ter o casamento, que não se resume a simples atos sexuais, ainda mais quando não ocorre a coabitação.

– O cônjuge crente deve entender que o cônjuge incrédulo tem no testemunho do cônjuge, a pessoa com quem mais intimidade tem na face da Terra, o principal instrumento para a verificação do poder transformador do Evangelho.

O cônjuge deve ter consciência que o Senhor o constituiu como a Sua principal testemunha diante do cônjuge incrédulo, mesmo ele se apartando do lar conjugal, de sorte que todo cuidado ainda será pouco.

O cônjuge crente deve pedir graça a Deus para que possa honrar este testemunho, a fim de que o cônjuge, mesmo separado, veja em suas obras a glória de Deus e a filiação divina (I Co.7:16).

– Este ensino do apóstolo, ainda que restrito ao caso do conflito entre a vida conjugal e a vida espiritual, pode, também ser aplicado, por analogia, a outros casos em que a vida em comum se torne insuportável ou onde haja grave risco de o cônjuge crente vier a desobedecer ao Senhor? Muito se discute a respeito.

A Igreja Romana, ao longo dos séculos, construiu um ensino no sentido afirmativo, o que gerou a figura do “desquite”, casos em que se permitia a separação do casal sem que se permitisse um novo casamento, tais como o adultério, a tentativa de morte, a sevícia ou injúria grave, o abandono voluntário do lar conjugal durante um ano contínuo (que é a hipótese tratada por Paulo mas com uma definição de prazo), a condenação por crime infamante e a conduta desonrosa, hipóteses que, aliás, se encontram no artigo 1.573 do Código Civil Brasileiro.

– Não resta dúvidas que o ensino do apóstolo nos mostra a dificuldade de convivência com pessoas que não servem ao Senhor e que criam situações em que a manutenção da vida em comum colocam em risco a própria obediência ao Senhor.

Nestas hipóteses, entendemos que não haja qualquer impedimento para que ocorra a separação dentro dos ditames tratados por Paulo, mas com uma profunda compreensão do papel espiritual do cônjuge crente nesta separação, seja como principal testemunha para a conversão do cônjuge, seja como potencial instrumento de escândalo.

Tomadas estas precauções, que também se dessumem do ensino do apóstolo, não vemos obstáculo para uma interpretação ampliativa.

Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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