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LIÇÃO Nº 8 – NAAMÃ É CURADO DA LEPRA

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, estudaremos os milagres do profeta Eliseu relacionados ao siro Naamã.

– O milagre da cura de Naamã traz-nos preciosas lições espirituais.

I – O REINADO DE JORÃO

– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, analisaremos os milagres do profeta Eliseu relacionados ao siro Naamã.

– Antes, porém, de fazer esta análise, oportuno lembrar que quem estava a reinar sobre Israel, o reino do norte, no início do ministério de Eliseu, era Jorão, filho de Acabe, que havia subido ao trono em lugar de seu irmão Acazias, que, conforme vaticinado por Elias, morreu em virtude de acidente em que caiu de um lugar alto no palácio real.

– Jorão, cujo nome significa “Javé e exaltado ou Javé é sublime”, foi o oitavo rei de Israel e o quarto da casa de Onri, o último, aliás, desta dinastia, mais um filho de Jezabel que chegava ao trono, tendo reinado doze anos (II Rs.3:1).

– Embora tenha mantido “os pecados de Jeroboão” e não tenha posto fim ao culto a Baal e Aserá, instituídos por sua mãe, demonstrou um certo temor, pois mandou tirar a estátua de Baal que seu pai fizera e que havia em Samaria, revelando, deste modo, que tinha entendido, ante os episódios que cercaram a morte de seu irmão, que Deus era realmente Senhor.

– Este gesto, se representou uma “evolução”, ainda era insuficiente, pois, com isto, o rei achou que poderia “aplacar a ira divina”, “agradar a Deus”, ainda dentro de uma mentalidade idolátrica, segundo a qual a divindade deve ser agradada, reage a demonstrações de simpatia, retribuindo concessões que sejam feitas pelos homens.

– Esta mentalidade é tipicamente a mentalidade religiosa, onde o ponto de partida do relacionamento entre o homem e Deus é o próprio homem, é ele quem dita as regras em que se dá esta ligação, esta “religação” (que é o que significa “religião”).

– Entretanto, esta postura está completamente equivocada, porquanto Deus é o Criador do homem, é o Senhor de todas as coisas, de modo que não se faz possível um relacionamento de igual para igual entre os homens e o Senhor, onde o homem tem condições de dizer o que agrada, ou não, a Deus, nem tampouco tem como exigir da parte da divindade uma certa conduta por causa do comportamento que se apresente a Ele.

– A Bíblia Sagrada é claríssima ao mostrar, desde os primórdios da história da humanidade, que uma tal conduta jamais agrada ao Senhor.

É o que vemos na rejeição da oferta de Caim, onde temos um culto feito segundo os ditames e os parâmetros do ser humano e que não reconhece a soberania divina, soberania que faz com que seja Deus Aquele que diz como deve ser adorado e cultuado, como se deve dar o relacionamento com Ele e não o contrário.

– A mentalidade religiosa não de desvencilha da mentira satânica que levou à queda do primeiro casal, qual seja, a de que podemos ser iguais a Deus (Gn.3:5).

Por isso, é impossível que qualquer religião, salvo a instituída pelo próprio Senhor, possa efetivamente trazer um relacionamento entre Deus e o homem.

– Jorão tirou a estátua de Baal que seu pai fizera para agradar a Deus, achando que, com isso, poderia ter um reinado sossegado, ao contrário do que acontecera com seu irmão Acazias, sem que, entretanto, tenha dado fim seja ao culto dos bezerros de ouro, seja ao próprio culto a Baal e a Aserá.

– Assim é que, ao tentar reconquistar Moabe, cujo rei havia se revoltado contra o domínio israelita logo que Acazias subira ao trono, e se vendo envolvido numa grande dificuldade quando estava com seu exército, e mais os exércitos de Judá e de Edom, que haviam se aliado a ele nessa guerra, no deserto, Jorão tenha demonstrado ressentimento com relação a Deus, dizendo que o Senhor queria a sua destruição, queria entregar os três exércitos nas mãos do rei de Moabe (II Rs.3:10).

– Jorão achou que Deus não lhe era favorável apesar de ele ter feito o “favor” de retirar a estátua de Baal.

Assim pensam os religiosos: acham que eles têm mérito em relação a Deus por causa de suas obras, reduzem o relacionamento com Deus a um “toma-lá-dá-cá”, como se fossem bons. Jesus bem demonstrou este sentimento no seu diálogo com o mancebo de qualidade, onde já começou dizendo que só há um bom, que é Deus (Mt.19:16,17; Mc.10:17,18; Lc.18:18,19).

– A esta consideração do rei opôs-se o rei de Judá, Josafá, que era servo do Senhor, tendo esta oposição resultado na consulta a Eliseu que, então, se apresenta a Israel como sucessor de Elias, profetizando que os exércitos teriam água, mesmo sem ter chuva, e venceriam a guerra, o que ocorreu.

Eliseu, porém, não deixou de mostrar a Jorão de que ele não tinha comunhão com Deus e que somente tinha mensagem profética por causa da presença ali de Josafá (II Rs.3:11-19).

– Aliás, conforme o significado do seu nome, que o rei contrariava em suas atitudes, o Senhor iria lhe mostrar, durante o seu reinado, que Ele era exaltado, que Ele era sublime e que, portanto, o rei não poderia, em hipótese alguma, querer ter uma relação de igual para igual com o Senhor, querer “favorecer-lhe” com atitudes suas decorrentes de sua posição.

– De certa maneira, Jorão padecia do mesmo mal de seu irmão Acazias que achava que, como rei, poderia afrontar a Deus. Jorão não afrontava, mas também achava que sua posição lhe dava poder bastante para “negociar” com o Senhor. Quantos não pensam assim em nossos dias?

– Jorão será sempre confrontado com este poder maior de Deus e com a sua impotência como homem, ainda que rei, e o milagre ocorrido com Naamã é uma destas confrontações.

II – A CURA DE NAAMÃ

– No segundo livro dos Reis, depois deste episódio envolvendo a guerra de Israel contra Moabe, há uma sequência de narrativas de milagres do profeta Eliseu, a mostrar a porção dobrada que havia recebido quando do arrebatamento de Elias.

No capítulo 5, porém, vemos, novamente, o reaparecimento da figura do rei Jorão, em mais uma narrativa de milagre do profeta Eliseu.

– A perícope começa com a apresentação de Naamã, o chefe do exército do rei da Síria. A Síria era a principal inimiga do reino de Israel naquele tempo.

Em sua política de alianças e compromissos para manter a paz, Acabe não tinha conseguido êxito com relação à Síria, tendo havido algumas guerras entre eles, inclusive aquela em que Acabe morreu.

– Naamã era o chefe do exército do rei da Síria e, nesta condição, um algoz do povo de Israel, muito respeitado em seu país, pois o texto sagrado diz que, por ele, o Senhor dera livramento aos siros.

Com efeito, pelo que vemos da narrativa dos livros dos Reis, esta vantagem da Síria sobre Israel era mesmo uma determinação divina, já que Acabe não havia destruído os siros, como deveria ter feito (I Rs.20:38-43).

– Apesar de todo este valor e respeito que tinha em seu país, Naamã era leproso (II Rs.5:1).

– Temos aqui uma aplicação muito importante nesta descrição de Naamã, cujo nome significa “agradável, prazer, delícia”.

Naamã era um homem respeitado no seu país, verdadeiro herói nacional, tinha posição relevante na sociedade, pois era chefe do exército, tinha tido até a benevolência divina, mas era leproso.

Muito provavelmente, possuía lindas e caras vestes, muitos se inclinavam quando ele passava, mas por debaixo de tudo aquilo havia uma pele e um corpo que era enfermo e de uma das piores doenças, que era a lepra.

– Há aqui um retrato da condição do ser humano. Não podemos nos esquecer de que a lepra é símbolo do pecado, da maldição, tanto que os leprosos não poderiam conviver com os demais israelitas, tendo de viver à parte da sociedade e exemplos há nas Escrituras de lepras motivadas por pecados, como é o caso de Miriã (Nm.12:10) e do rei Uzias (II Cr.26:19).

– Assim como toda a posição, riqueza e respeito de Naamã não retiraram a sua condição de leproso, também nada deste mundo retira a condição de pecador de cada ser humano.

Dinheiro, poder, fama e respeito nada representam diante de Deus. Somente alcançamos a salvação na pessoa bendita de Cristo Jesus.

– Entretanto, numa das guerras e escaramuças entre israelitas e siros, uma menina israelita foi levada cativa e acabou por ser mandada para servir na casa de Naamã, para ser criada da mulher do general.

– Esta menina israelita era o suprassumo da inferioridade.

Senão vejamos:

por primeiro, era mulher e as mulheres naquela época não tinham qualquer vez ou voz;

por segundo, era menina, ou seja, jovem e os jovens também não tinham qualquer credibilidade e ninguém lhes dava ouvido, já que tidos por inexperientes e ignorantes;

por terceiro, era israelita em terra sira, ou seja, era uma estrangeira de um país inimigo e em quem portanto não se podia confiar.

– Apesar de todas estas desvantagens, a menina se sobressaiu na casa de Naamã, a ponto de ter tido a coragem e dizer a sua senhora que se seu senhor fosse até o profeta que estava em Samaria, ele seria restaurado de sua lepra (II Rs.5:3).

– Esta afirmação da menina contém algumas lições.

A primeira é que ela não levou em conta a sua condição de inferioridade e a altíssima probabilidade de ser ignorada ou até de sua afirmação ocasionar-se dano, que poderia ser até a sua própria morte, já que os senhores tinham poder de vida e morte sobre seus escravos (lembremos que ela estava na Síria e não em Israel, onde tal direito não era reconhecido).

– Do mesmo modo que aquela menina não levou em conta a sua inferioridade, não podemos levar em conta a nossa fraqueza para deixar de anunciar o Evangelho.

 Verdade é que temos de ter um bom testemunho para que nossas palavras não gerem escândalo, mas não pensemos que nossa imperfeição ou até um progresso espiritual menor que o de outros nos descredencie para pregarmos o Evangelho a quem está a nossa volta.

– Aquela menina, apesar de todas as suas desvantagens, sabia que havia um profeta em Samaria, sabia que ele era homem de Deus e que Deus era poderoso para curar os leprosos. Era o suficiente para que ela fizesse o anúncio, já que sabia que seu senhor era leproso.

– Nós sabemos que Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará. Sabemos que Ele é o Salvador e é Todo-Poderoso. É o que basta para levarmos esta mensagem aos que nos cercam.

– A segunda lição é que ela bem sabia o que estava a falar. Ela havia sabido que seu senhor era leproso. Ela sabia que havia um profeta em Samaria.

Ela sabia que Deus cura leprosos. Por isso, tendo conhecimento de tudo isso, divulgou a mensagem a sua senhora.

– Faz-se preciso que tenhamos conhecimento do Evangelho para poder pregá-lo e conhecimento não é apenas o conhecimento intelectual, que é necessário e daí a importância do discipulado ao novo convertido, mas, sobretudo o conhecimento no sentido hebraico do termo, ou seja, a experiência com Deus, a comunhão com o Senhor, a intimidade com Cristo. Sabendo o que é ser salvo, podemos, sem dúvida, anunciar a salvação.

– A terceira lição é do testemunho. Aquela menina foi ouvida por sua senhora, e isto somente se deu porque tinha credibilidade e uma credibilidade decorrente de seu comportamento na casa de Naamã, credibilidade tamanha que lhe permitiu superar todas as desvantagens existentes.

– Precisamos, igualmente, ter esta credibilidade para anunciar o Evangelho. Nosso porte tem de denunciar que temos estado com Jesus, que somos “cristãos”, ou seja, “pequenos cristos”, “parecidos com Cristo”.

– A quarta lição é a fé demonstrada por aquela menina. Ela tinha plena convicção de que o profeta em Samaria faria o milagre. Não teve medo de que poderia ser morta se tudo desse errado. Ela confiava em Deus.

Sua fé era tanta que fez com que Naamã também tivesse fé e fosse até Israel para obter a cura, num comportamento que foi, inclusive, mencionado pelo Senhor Jesus (Lc.4:27).

– A quinta lição é o amor demonstrado por aquela menina. Humanamente falando, tinha ela todos os motivos para odiar e desejar o mal para Naamã.

Ele era o chefe do exército do povo que era, na época, o principal inimigo de Israel, que muitos males havia causado aos israelitas. Era ele o seu senhor e ela estava escravizada por causa dele. Ele era leproso e, na cultura israelita, o leproso era um maldito.

Mesmo assim, ela quis o bem de seu senhor, ela queria vê-lo curado. Um amor desinteressado, benigno, ou seja, o amor que nada mais é que o amor de Deus que é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo quando cremos (Rm.5:5).

– Somente prega o Evangelho quem tem amor pelas almas perdidas, quem, a exemplo de Cristo, sente compaixão pelo destino de perdição que os homens estão trilhando em sua peregrinação terrena em seu desconhecimento de Jesus.

– Naamã creu na mensagem da menina e foi até o rei da Síria, notificando ao monarca o que lhe dissera sua escrava. O rei da Síria, então, autorizou Naamã a ir até Samaria, mandando uma carta.

Naamã, então, recebeu:

dez talentos de prata,

seis mil siclos de ouro e

dez mudas de vestes.

A carta do rei dizia ao rei de Israel que, em chegando Naamã, deveria ser ele restaurado da lepra (II Rs.5:3-6).

– Vemos aqui como a mensagem simples e direta da menina foi “burocratizada” pelo sistema político de então.

Em vez de mandar o general para o profeta, como dissera a menina, mandou-o para o rei por meio de uma carta e também mandou bens com os quais se pretendia pagar a benevolência.

– Precisamos ter o cuidado para que a mensagem simples do Evangelho seja igualmente desvirtuada pela “burocracia eclesiástica”, fazendo com que, a exemplo da carta mandada ao rei de Israel, inacessível às pessoas, objeto de apreciação somente por alguns e que se entenda que, de alguma forma, a salvação possa ser adquirida por bens materiais.

Não é exatamente isso que têm feito certos movimentos como o “movimento apostólico” ou a “teologia da prosperidade”. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Ao ler a carta do rei da Síria, Jorão, o rei de Israel, rasgou as suas vestes, dizendo que não era Deus para matar e para vivificar e que não tinha como restaurar alguém da sua lepra, tendo visto nisto uma artimanha do rei da Síria para iniciar nova guerra contra Israel (II Rs.5:7).

– Lembremos do que já dissemos a respeito da mentalidade religiosa de Jorão. A carta dizia que Jorão deveria restaurar a lepra a Naamã, mas não disse que era o rei quem deveria fazê-lo.

Na cabeça de Jorão, ele era o rei e, portanto, ao lhe encaminhar a carta, queria o rei siro que o próprio Jorão resolvesse o problema.

– Jorão tinha conhecimento de Eliseu, tanto ou até mais do que a menina criada de Naamã, pois havia visto o milagre feito pelo profeta na guerra contra Moabe e não sabemos se a menina tenha presenciado algum milagre de Eliseu, o que, aliás, era improvável.

– Se a menina, sem ter visto qualquer milagre, confiava em Deus e tinha convicção de que o profeta poderia restaurar a lepra de Naamã, o rei, que havia visto um tremendo milagre do profeta, nem sequer se lembrou do próprio Eliseu para que pudesse restaurar a lepra do general siro.

– A cegueira espiritual é terrível. Jorão, que quisera “agradar” a Deus tirando a estátua de Baal, agora nem sequer se lembrava que havia um profeta que operava milagres em seu país.

Tinha uma mente totalmente voltada para as coisas desta vida e não enxergava na carta senão uma ocasião para o início de uma nova guerra.

– O problema da “burocracia eclesiástica” é este:

reduz tudo ao aspecto terreno, à dimensão humana, desconsidera o poder de Deus, a presença do Senhor no meio do Seu povo. Trata as igrejas como meras organizações, como verdadeiras empresas…

O rei se desesperou, rasgou as suas vestes em sinal de desespero, não de humilhação, como havia feito seu pai Acabe anos antes (I Rs.21:27).

Todo o poder que Jorão gostava de ter, em que confiava, mostrou-se totalmente inútil diante do pedido do rei siro para que se restaurasse Naamã da lepra. Daí o desespero do monarca.

– Onde estamos a depositar a nossa esperança? Neste mundo ou em Deus? Pensemos nisto!

– Eliseu soube que o rei havia rasgado suas vestes, mandou um recado ao monarca, perguntando o porquê daquela atitude. Mandou que o general lhe fosse enviado e, então, o rei saberia que havia um profeta em Israel (II Rs.5:8).

– Jorão, então, encaminhou Naamã para a casa de Eliseu e o general foi, com toda a sua comitiva, para lá.

Eliseu, entretanto, nem sequer recebeu o general. Mandou tão somente um mensageiro avisar o siro de que ele deveria se banhar sete vezes no Jordão e a sua carne lhe tornaria e ficaria purificado (II Rs.5:9,10).

– Se Deus havia mostrado a Sua superioridade diante de Jorão, era o momento de mostrar o mesmo para Naamã.

O general, chefe do exército do rei da Síria, havia sido recebido com toda a pompa e circunstância pelo rei Jorão.

Agora, ao chegar, com toda a sua comitiva, na casa de Eliseu, que não devia ser uma morada vistosa, pois Eliseu não tinha posses, tudo havia deixado para servir a Deus, e que, certamente, era bem inferior ao palácio real, não foi nem sequer recepcionado.

– Naamã ficou indignado. Não estava acostumado a este tipo de “grosseria”. Era um homem respeitado, uma autoridade, como nem sequer ser atendido por alguém que morava em casa modesta?

– Naamã achava que seria necessário todo um ritual para a sua cura, em que o profeta sairia, iria até o general, por-se-ia em pé e invocaria o nome de Deus, passando a mão sobre o lugar e o restauraria da lepra.

– É assim que agem os religiosos. Eles procuram “enquadrar” Deus dentro de seus limites, de suas concepções.

Deus tem de agir do jeito deles, exatamente o que fez Caim, ao querer que Deus aceitasse a adoração feita do modo dele, sem levar em conta o senhorio, a soberania divina.

– Naamã não se apresentava como o necessitado, como o que precisava de Deus, mas como o chefe do exército que, pelo respeito humano, tinha de ser “tratado à altura” para ser curado.

– A indignação de Naamã foi tanta que ele desdenhou da mensagem do profeta. Disse que as águas dos rios de Damasco, Abana e Farpar, eram muito mais limpas que as do Jordão, que tinha uma água barrenta, resolvendo não atender à ordem de Eliseu e voltar para Damasco (II Rs.5:11,12).

– Diante de tal resolução, os servos de Naamã chegaram até ele e lhe aconselharam a atender à determinação do profeta, mostrando a Naamã que não lhe custaria nada banhar-se no rio Jordão e que o general tinha vindo disposto, inclusive, a pagar pela restauração da lepra, a despender vultosos recursos para tanto.

– Esta ação dos servos de Naamã mostra-nos que o general era pessoa acessível, não se tratava de uma pessoa totalmente soberba, tanto que os seus criados tiveram possibilidade de fazer-lhe mudar de ideia.

Naamã acabou ouvindo este conselho e deu seus sete mergulhos no rio Jordão, sendo curado.

– Uma circunstância que costuma ser negligenciada é que Naamã, para atender à ordem do profeta, teve de fazer uma viagem, pois Samaria fica longe do rio Jordão.

Se Eliseu estava em Samaria quando foi visitado por Naamã, como parece ser o caso pela palavra da menina, a distância foi de cerca de 170 km.

Se Eliseu estava em Gilgal, a distância foi de cerca de 40 km, mas depois de ter ido de Samaria a Gilgal, que distam uma da outra cerca de 115 km.

– A fé em Deus precisa ser demonstrada não somente no que se crê, mas também na maneira que se crê.

Não bastava Naamã ir até Israel para ser curado, mister se fazia que obedecesse ao que fora dito pelo profeta. Deus é soberano e é Ele quem diz o que deve ser feito, mas também como deve ser feito.

– Por vezes, achamos ter o direito de dizer a maneira como algo deve ser feito, achamos que está no livre-arbítrio humano o modo de servir ao Senhor, a maneira de se fazer alguma coisa, quando, na verdade, embora tenhamos o livre-arbítrio, é Deus quem deve determinar o modo das coisas.

– Naamã, curado, reconheceu que Deus era o Senhor, viu que havia profeta em Israel e retornou até a casa de Eliseu e, assim, em vez de achar que o homem de Deus é que tinha de ir ao seu encontro, fez exatamente o contrário, reconhecendo que a sua situação social e política não se confundia com a posição espiritual do profeta.

– Naamã, então, teve uma nova lição. Pediu ao profeta que recebesse uma bênção da sua parte, o que era assaz comum na religiosidade, o pagamento dos favores divinos recebidos.

Eliseu, entretanto, nada aceitou, tendo se recusado a receber qualquer dádiva por conta do benefício recebido.

– Com este gesto, Eliseu queria deixar bem claro a Naamã que quem o havia curado tinha sido Deus e que ele, profeta, apenas havia mandado a mensagem recebida. Ele havia recebido de graça a chamada profética, deveria, de graça, transmitir as mensagens.

A ideia de pagamento da bênção, de submissão das coisas espirituais a valores materiais era algo da “burocracia”, não da simplicidade do serviço a Deus.

– Hoje em dia, lamentavelmente, não temos apenas profetas recebendo bênçãos, mas, o que é pior, profetas que pedem antecipadamente a “bênção”, que cobram para realizar a obra de Deus.

Trata-se de comportamento completamente antibíblico, pois devemos dar de graça o que de graça recebemos (Mt.10:8 “in fine”).

– Vivemos dias de mercantilização da fé, dias em que temos não pastores, mas mercenários, que amam as riquezas e que, por conseguinte, não amam a Deus, pois, foi Jesus quem o disse, quem ama a Mamom não pode amar a Deus (Mt.6:24).

– É pecado, então, receber dádivas no exercício da obra de Deus? Não, não é pecado. Pecado é cobrar para fazer algo na obra de Deus, mas dar a alguém uma oferta que não tenha sido pedida, notadamente quando essa pessoa realiza a obra de Deus sem ter salário nem meio de subsistência é cumprir o mandamento de que digno é o obreiro de seu salário (Lc.10:7; I Tm.5:18).

– O ideal é que todo aquele que se dedica integralmente à obra de Deus tenha um salário, proveniente das contribuições dos membros de uma igreja local ou de uma entidade paraeclesiástica e não precise receber coisa alguma de ninguém, podendo recusar qualquer oferta como fez Eliseu.

– Entretanto, isto nem sempre acontece e, por isso, faz-se necessário que aquele que não tem garantido o seu sustento por uma igreja ou entidade receba algo pelos que foram beneficiados por sua dedicação a Deus, pois, como diz o apóstolo Paulo: “Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?” (I Co.9:11).

– Naamã pediu para levar uma carga de terra de um jugo de mulas para a Síria. Este seu gesto mostrava bem a sua mentalidade, qual seja, a de que havia um deus em cada terra, em cada nação.

Agora, ele era servo de Deus, havia se convertido ao Deus de Israel e achava, com isso, que deveria levar um pouco da terra de Israel para que Deus Se fizesse presente com ele ali.

– É evidente que este pedido do general refletia um conceito equivocado, decorrente de sua cultura, mas o profeta Eliseu não o impediu que o fizesse, pois sabia que o general não sabia ainda que Deus era o único Senhor, o que haveria de conhecer com o tempo.

Ademais, ele não iria adora a porção de terra, mas apenas tê-la como um testemunho de que o seu Deus era o Deus de Israel.

– Com Naamã, aprendemos como lidar com a cultura do novo convertido. A cultura é o modo pelo qual enxergamos o mundo, a maneira como nos inserimos na vida em sociedade e isto é difícil de ser modificado do dia para a noite, da noite para o dia.

Em vez de o profeta dar um “sermão” no general, tão somente aquiesceu com o pedido dele, sabendo que, com o tempo, ele bem entenderia a realidade das coisas espirituais.

– Precisamos, também, ter este discernimento que teve Eliseu e não espantar novos convertidos causando um confronto imediato com a sua cultura que não será bem compreendido e poderá ser utilizado pelo inimigo para impedir o prosseguimento do neoconverso na jornada de fé.

– Naamã ainda assegurou ao profeta Eliseu que nunca mais ofereceria sacrifícios ou holocaustos a nenhum outro deus a não ser ao Deus de Israel. Naamã, sem o saber, começava a cumprir o primeiro mandamento, que dizia que não se pode ter outros deuses além do Senhor (Ex.20:3; Dt.5:7).

– Temos aqui uma ilustração de que quando se crê em Deus, quando há fé, automaticamente passamos a cumprir os mandamentos divinos. A conversão traz a obediência e, por isso mesmo, quem é salvo cumpre a lei (Rm.13:10).

– Naamã, então, pede ao Senhor que lhe perdoasse quando entrasse na casa de Rimom, que era deus adorado pelos siros, o “deus do trovão” e tivesse de se encurvar à imagem daquele deus, já que sua posição como chefe do exército do rei da Síria o obrigava a participar de tais cerimônias (II Rs.5:18).

– Eliseu, mais uma vez, demonstra toda a compreensão que se deve ter ao neoconverso, dizendo ao general que ele fosse em paz, pois o Senhor compreenderia esta posição e não lhe imputaria pecado nesta sua conduta, até porque não se teria ali uma adoração, mas apenas um gesto protocolar (II Rs.5:19).

– Temos aqui também uma demonstração que o que o Senhor busca é a adoração em espírito e em verdade, a adoração vinda do coração.

Naamã não mais ofereceria sacrifícios a outros deuses, não mais considerava existentes outros deuses, mas somente ao Senhor e, portanto, aquele encurvar-se era meramente exterior, pois seu coração estava, doravante, firme em Deus.

– Em contrapartida, enquanto Deus tolerava o curvar-se de Naamã, considerava abomináveis os sacrifícios feitos pelos judaítas em Jerusalém no tempo do profeta Isaías (Is.1:10-17), porque, neste caso, toda a adoração a Deus é que era meramente protocolar e exterior.

III – GEAZI E A LEPRA DE NAAMÃ

– Naamã já estava de partida de volta para a Síria, mas a ação divina não se circunscreveria à cura do general siro. Havia uma outra pessoa que deveria ser tratada: Geazi, o moço do profeta Eliseu.

– Naamã tinha ido até a casa de Eliseu e ali parado com toda a sua comitiva, trazendo dez talentos de prata (ou seja, 350 kg de prata, algo que, em 5 de maio de 2021, equivalia a R$ 1.580.000,00), seis mil siclos de ouro (72.000 g de ouro, algo que, em 5 de maio de 2021, equivalia a R$ 22.163.760,00) e dez mudas de vestidos (II Rs.5:5).

– Geazi a tudo viu, pois estava sempre com Eliseu. O texto não nos permite dizer que foi Geazi o mensageiro que Eliseu mandou a Naamã, e é bem provável que não tivesse sido, já que o texto bíblico sempre nomeia Geazi e a indignação do general sírio em não ter sido recebido pode muito bem ter se dado não só por Eliseu não o ter atendido, mas também por nem sequer seu principal servo tê-lo feito.

– O fato é que Geazi, ao presenciar toda aquela comitiva e o aparente desprezo do homem de Deus, passou a “negar” a sua visão espiritual. Geazi deixou de ter uma “visão espiritual”, para passar a ter uma “visão puramente material”, desejando aqueles bens que tinham sido trazidos por Naamã.

– Geazi observou a recusa do profeta Eliseu e receber algo como pagamento pela cura de Naamã e não se conformou com aquela atitude do profeta. Foi tomado pelo sentimento de independência e pelo desejo de “fazer a vida”, criando uma alternativa para deixar de ser “um simples moço do profeta”.

– Geazi, então, resolveu ir atrás de Naamã e “tomar dele alguma coisa” (II Rs.5:20). Geazi deixara-se tomar pelo “espírito mercenário” que, lamentavelmente, está a dominar muitos corações dos que cristãos se dizem ser na atualidade.

Passara a amar o dinheiro, que é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10), ingressando num caminho de desvio da fé. Que tristeza! Alguém que estava sendo preparado para dar continuidade ao combate à apostasia espiritual, agora passava, por causa do dinheiro, a trilhar a mesma vereda da casa de Acabe…

– Hoje em dia não é diferente. Muitos, ao verem que os genuínos homens de Deus recusam ofertas para mercadorizar os seus ministérios, para se tornarem negociantes da fé, não resistem à tentação do vil metal e negam seus princípios e valores, negam a visão espiritual que Deus lhe deu, e correm atrás dos abençoados por Deus para deles “tomar alguma coisa”. Que Deus nos guarde, amados irmãos!

– Como é triste vermos hoje muitas pessoas atrás das “bênçãos”, ou seja, atrás de vantagens pecuniárias obtidas junto àqueles que, como Naamã, extremamente agradecidos a Deus, são facilmente envolvidos por estes mercenários e acabam por entregar polpudas quantias a eles, achando que, com isso, estão agradando a Deus.

Não deixemos, irmãos, de alertar os incautos para não serem ludibriados por estes verdadeiros estelionatários da fé!

– Geazi iniciou a sua corrida até Naamã, corrida que também o levaria ao abismo, ao fracasso ministerial. Naamã, ao notar a aproximação do moço do profeta, que certamente vira e conhecera quando de seu retorno até a casa de Eliseu, prontamente atendeu ao mercenário.

Geazi, então, revelando que estava, mesmo, a ser, agora, um “negador” de toda a sua espiritualidade, mente desavergonhadamente ao general, dizendo que Eliseu havia acabado de receber alguns mancebos dos filhos dos profetas da montanha de Efraim e pedia que Naamã desse um talento de prata e duas mudas de vestidos para eles (II Rs.5:20-22).

– A cegueira espiritual dos amantes do dinheiro é tanta que eles se contentam com pouco. São notórios os mercadores da fé que amealham milhões e milhões de reais com suas atividades ilícitas, mas o fato é que há muitos “mercenários de trocados”, que se contentam em tão somente “tomar alguma coisa”.

Eis a que ponto o inimigo de nossas almas joga os que abandonam seus ministérios por causa do vil metal…

– A mentira de Geazi era tanta que, inclusive, dissimulou uma falsa resistência, quando o general quis dar-lhe dois talentos de prata em vez do um talento que havia sido pedido.

Naamã mandou que os dois talentos e as duas mudas fossem postas em dois sacos sobre dois de seus moços e que eles a levassem até a casa de Eliseu. Geazi, então, despediu aqueles moços e voltou a servir o profeta.

– Eliseu, então, perguntou a Geazi de onde tinha vindo. Era uma oportunidade que se dava ao moço do profeta para que confessasse o seu pecado e obtivesse o seu perdão.

No entanto, Geazi preferiu mentir ao profeta, mesmo sabendo que ele era um homem de Deus, dizendo que não havia saído para lugar algum. Tinha-se tornado um mentiroso e, como tal, alguém que tinha o diabo como pai (Jo.8:44). Era a negação de toda a sua espiritualidade, era o fim de um ministério.

– Eliseu, então, mostra a Geazi que de tudo sabia, que Deus lhe revelara tudo quanto acontecera, como que fazendo o profeta estar presente quando Naamã descera do carro para atender a Geazi e como ele mentira para obter os talentos de prata e as mudas de vestido, indagando ao moço se era aquela uma ocasião para “tomar alguma coisa” de Naamã (II Rs.5:26).

– Eliseu, então, certamente com dor no coração, deu a sentença para o seu moço. Em razão daquela atitude, do amor do dinheiro, da negação da sua espiritualidade, a lepra de Naamã se lhe pegaria e a toda a sua descendência para sempre e, desde aquele momento, Geazi ficou leproso (II Rs.5:27).

Era o fracasso de um ministério, era o fim da carreira do moço do profeta, que assim tinha toda a sua expectativa frustrada. Não seria nem sucessor de Eliseu nem tampouco desfrutaria do que havia amealhado de Naamã, uma vez que, como leproso, teria de ficar à margem da sociedade.

– A lepra, como sabemos, é uma figura do pecado. Ao se tornar leproso, Geazi apenas revelava aquilo que já estava no íntimo de seu coração, ou seja, que havia deixado de servir a Deus e passado a querer as coisas desta vida, havia se tornado alguém que não tinha mais visão espiritual.

– Do mesmo modo, muitos são os que, nos dias de apostasia que vivemos, notadamente por causa do amor do dinheiro, têm se tornado leprosos, têm deixado os caminhos do Senhor e, após algum tempo, revelado toda a sua pecaminosidade, toda a sua apostasia, assim como Geazi passou a ostentar diante de todos os israelitas, que ficaram a saber que o outrora moço do profeta agora não passava de mais um maldito entre o povo de Israel.

Que Deus nos guarde, amados irmãos, de perdermos a visão do reino de Deus, que têm todos os nascidos de novo em Cristo Jesus (Jo.3:3) e nos tornemos homens e mulheres alijados da “congregação dos justos”, verdadeiros leprosos, por causa do amor do dinheiro.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/6660-licao-8-naama-e-curado-da-lepra-i

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