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LIÇÃO Nº 9 – A SUTILEZA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos ataques contra a Igreja de Cristo, veremos hoje o movimento dos desigrejados.

– O movimento dos desigrejados não tem o menor respaldo bíblico.

I – CONCEITOS DE IGREJA E SUA ORIGEM

– Após o pecado ter dominado a humanidade, Deus executou o plano já existente antes da fundação do mundo para propiciar a salvação do homem perdido, plano este que encontrou seu clímax na encarnação do Deus Filho, que morreu por nós na cruz do Calvário. Depois da morte e ressurreição de Cristo, revela-se o mistério de Cristo (Ef.3:1-6): a Igreja.

– A Igreja é o novo povo de Deus, o povo formado por judeus e gentios que, pelo sangue de Cristo, passam a ter comunhão com Deus, perdoados que estão dos seus pecados, um povo espiritual, assim como o seu Senhor, um povo destinado a se reunir aos santos do passado para povoar a Nova Jerusalém, a Jerusalém celeste, onde se reeditará a comunhão eterna e perfeita que havia entre Deus e a humanidade antes que o pecado entrasse no mundo (Ap.21:3).

– A Bíblia ensina-nos sobre a realidade da humanidade após a consumação da obra da salvação. As Escrituras revelam-nos que, com a vitória de Cristo sobre a morte e o inferno, forma-se um povo diferente, especial, zeloso e de boas obras, a saber, a Igreja.

– A palavra “igreja” surge, pela vez primeira, nas Escrituras, no evangelho segundo Mateus (Mt.16:18), quando é declarada pelo próprio Jesus que, assim, revela o “mistério de Cristo”, como o apóstolo Paulo chamou a “igreja” na epístola aos efésios. É a palavra grega “ekklesia” (εκκλησια), cujo significado é “reunidos para fora”, “chamados para fora”.

A palavra “ekklesia”, porém, já havia sido utilizada na Versão Grega do Antigo Testamento (a chamada Septuaginta) para traduzir a palavra hebraica “qahal”, que as nossas versões em língua portuguesa costumam registrar como “congregação”, nome pelo qual era conhecida a reunião do povo de Israel, principalmente no tempo da peregrinação no deserto, quando Moisés costumava chamar todo o povo para algumas reuniões solenes à frente do tabernáculo que, por isso mesmo, era denominada de “tenda da congregação” (Nm.10:1-3).

– Notamos, pois, de início, que a palavra “igreja” fala de uma “reunião”, ou seja, um grupo de pessoas. Igreja não é um indivíduo, não é uma pessoa solitária, mas, sim, um grupo de pessoas, um conjunto de pessoas.

Desta forma, ficamos sabendo, já pela etimologia da palavra, que a salvação proporcionada por Jesus Cristo cria um novo grupo de pessoas, um novo povo. Não se pode, pois, biblicamente falando, ser salvo e permanecer isolado, solitário na vida sobre a face da Terra.

Este novo povo, esta “igreja”, vem, portanto, realizar, concretizar aquilo que Israel, a “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos” (Ex.19:5,6) era apenas uma figura, um símbolo, uma sombra (Hb.10:1).

– Mas “igreja” não é apenas uma “reunião”, mas é o conjunto dos “reunidos para fora”, ou seja, daqueles que foram chamados, convocados, para sair do lugar onde estavam, da sua habitação, como, aliás, acontecia toda vez que Moisés tocava as duas trombetas de prata no deserto, sinal de que todo o povo deveria sair das suas habitações e comparecer até a frente do tabernáculo.

A “igreja”, pois, não é um povo que se formou por vontade própria, mas que foi resultado de um chamado, de uma ação divina. Por isso, Jesus diz que edificaria a Sua igreja e o apóstolo Paulo a denomina de “lavoura de Deus” e “edifício de Deus” (I Co.3:9).

A igreja não é uma criação humana, mas, sim, divina, é algo que se construiu pela vontade do Senhor. É uma “reunião” que não é obra de homem algum, mas do próprio Deus.

– A igreja não é uma reunião a esmo, sem propósito nem tampouco lugar. A igreja é o conjunto dos “reunidos para fora”, ou seja, é um povo que está “fora”, que se encontra em um lugar distinto e diferente do dos demais povos.

Ora, sabemos que a humanidade, por causa do pecado, encontra-se longe de Deus (Pv.15:29; Is.46:12; Mc.7:6), mas, quando aceita o chamado do Senhor, crendo em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, pelo sangue de Cristo deixa de ficar longe e passa a estar perto do Senhor (Dt.30:14; Sl.145:18; At.2:39; Ef.2:13,14).

Por isso, a igreja é formada por aqueles que estão “fora” do pecado, “fora” do mundo, “fora” das trevas. Há, portanto, uma verdadeira oposição entre a “igreja” e o “mundo”.

– Não é por outra razão que a “igreja” é denominada pelos estudiosos como a “agência do reino de Deus na Terra”, precisamente porque é se distinguindo dos demais homens, saindo para “fora do mundo” que se passa a pertencer a ela, o que nos faz lembrar as palavras de Jesus a Nicodemos a respeito do novo nascimento, sem o qual não se pode ver nem entrar no reino de Deus (Jo.3:3,5).

A igreja é um povo que se encontra na face da Terra mas que pertence a um reino que não é deste mundo (Jo.18:36 “in initio”).

– Este primeiro significado de “igreja” é o que se chama, também, de “igreja universal”, entendida esta como a reunião de todos os homens que creram em Cristo em todos os tempos, a partir da obra redentora na cruz do Calvário, a

“universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23a),

ao “corpo de Cristo” (I Co.12:27; Ef.4:12), a

“a geração eleita,

o sacerdócio real,

a nação santa, o

povo adquirido” (I Pe.2:9),

o conjunto de todos os que creram em Jesus Cristo ao longo da história e que se reunirá, pela vez primeira, quando do arrebatamento da Igreja, os quais serão apresentados ao Pai pelo Filho com as seguintes palavras:

“Eis-me aqui a mim e aos filhos que Deus me deu.”(Hb.2:13 “in fine”).

– Mas, além deste significado primeiro da palavra “igreja”, também encontramos um outro significado nas Escrituras, notadamente a partir do livro de Atos dos Apóstolos, quando nos deparamos com a chamada “igreja local”, ou seja, a igreja que se encontra em um determinado lugar, significado este que surge, pela vez primeira, em At.8:1, quando se fala na perseguição que se iniciou contra “a igreja que estava em Jerusalém”, para, logo em seguida, dizer que os membros desta igreja foram dispersos, com exceção dos apóstolos, passando a pregar a Cristo em todos os lugares, começando a narrativa por Samaria, para onde fora Filipe.

Neste significado, encontramos a palavra “igreja” no plural, como se lê, por exemplo, em At.9:31, que fala das “igrejas em toda Judéia, e Galileia, e Samaria”.

– A “igreja local” nada mais é que um conjunto de pessoas que dizem crer em Jesus Cristo e que professam a Sua doutrina e que se encontram numa determinada localidade.

É uma reunião de pessoas que, chamadas por Deus, passam a obedecer às Escrituras e aos ensinos do Senhor Jesus, e, por isso mesmo, pregam a Cristo e ensinam a Palavra de Deus a todos quantos vivem naquele determinado lugar. A “igreja local”, portanto, é um grupo social, uma reunião de pessoas, uma partícula da “igreja universal”, do “corpo de Cristo”.

– O crescimento da igreja, a evangelização, o cumprimento do “ide” de Jesus fez com que a igreja, o corpo de Cristo, passasse a ser maior do que a “igreja local”, que, era, então, restrita a Jerusalém (ainda que, em verdade, desde o dia de Pentecostes, que é o início da evangelização desta dispensação, já tenhamos pessoas que tenham aceitado a Cristo e não tenham ficado em Jerusalém, vez que estavam na cidade apenas para aquela festividade).

Passou a haver muitas “igrejas”, cada uma em um local, em um lugar, mas todas unidas espiritualmente pela comunhão com o único e verdadeiro Deus, pelo Espírito Santo que os mantinha em unidade com o Pai e o Filho.

– Tem-se, portanto, na Igreja, que é o Corpo de Cristo, a reprodução da própria dupla natureza que encontramos em Cristo Jesus e que já foi objeto de nosso estudo neste trimestre.

Assim como Jesus é homem e Deus simultaneamente, sendo uma unidade e uma diversidade a um só tempo, também o Seu corpo, isto é, a Igreja, por Ele edificada, é, ao mesmo tempo, uma unidade, vez que se trata de o corpo de Cristo, o povo adquirido, a nação santa, mas também é uma pluralidade, pois são várias as igrejas, cada uma em um determinado lugar, em um determinado local.

O único povo de Deus apresenta-Se sob muitas formas, demonstrando que o único Deus (Rm.16:27; I Tm.1:17; Jd.25) é, também, multiforme (Ef.3:10; Hb.1:1; I Pe.4:10).

– Deus, que criou o homem como um ser social (Gn.2:18), providenciou para que esta unidade espiritual desde já instaurada pelo perdão dos pecados e pela salvação em Cristo Jesus não se mantivesse apenas como uma nação espiritual, pois isto seria insuficiente para a obra da evangelização e do aperfeiçoamento dos santos, tratando de estabelecer que a vida espiritual sobre a face da Terra,

até a chamada individual de cada um para a eternidade, ou o arrebatamento da Igreja, com o término desta dispensação, se desse por meio da criação de um grupo social, onde os homens pudessem uns aos outros ajudar na dura e espinhosa jornada da fé: a “igreja universal” depende, pois, da “igreja local” para chegar, em bom termo, à sua “inauguração”, o que se dará no dia do arrebatamento da Igreja.

– Vistos estes dois conceitos de igreja, resta-nos ver o que a Bíblia tem a dizer sobre a origem da Igreja. Quando ela surgiu? Quando ela foi concebida? Pois bem, assim como a salvação estava prevista desde antes da fundação do mundo, de igual modo a igreja já estava estabelecida por Deus ainda antes que o mundo existisse.

A igreja foi o “…mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são coerdeiros e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho.” (Ef.3:4-6).

A igreja era o grande mistério de Cristo que só foi revelado pelo próprio Senhor quando fez a famosa “declaração de Cesareia”, quando afirmou que edificaria a Sua igreja e as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18).

– A igreja, portanto, é um projeto exclusivamente divino, concebido, executado e sustentado por Deus. É por isso que podemos ter a certeza, e a história tem demonstrado isto, que nada pode destruir a Igreja.

Durante estes quase dois mil anos em que a igreja tem participado da história da humanidade, muitos homens poderosos se levantaram contra a Igreja, tentaram destruí-la e não foram poucas as vezes em que se proclamou que a Igreja estava vencida.

No entanto, todos estes homens passaram, mas a Igreja se manteve de pé, vencedora, demonstrando que não se trata de obra humana, mas de algo que é divino e contra o qual todos os poderes das trevas não têm podido prevalecer.

OBS: Diante de tantos exemplos históricos, relatemos dois episódios elucidativos desta realidade. O imperador romano Juliano (331-363, imperador de 361 a 363) perseguiu impiedosamente os cristãos, depois que os cristãos já haviam sido reconhecidos por Roma, tendo ele mesmo abandonado o Cristianismo. Pouco antes de morrer, numa campanha militar em 363, é dito que exclamou em alta voz: “venceste, ó Galileu”.

Na China comunista, os cristãos foram impiedosamente perseguidos e toda obra missionária naquele país foi impedida totalmente.

Com a abertura do regime a partir de 1979, pensou-se que o Cristianismo estaria dizimado naquele país e, para surpresa de todos, o número de cristãos no período difícil do governo de Mão-Tsé-Tung (1947-1979), dobrou naquele país. Ninguém pode prevalecer contra a igreja do Senhor Jesus!

– Concebida ainda antes da fundação do mundo, como primeiro momento da congregação de tudo em Cristo Jesus (Ef.1:10), a Igreja foi revelada por Jesus na famosa “declaração de Cesareia”.

No entanto, somente teria existência própria a partir do instante em que Jesus subiu aos céus, assentando-Se à direita de Deus, visto que a igreja é “o corpo de Cristo”.

Enquanto Jesus não ascendeu aos céus, não poderia haver uma verdadeira “igreja”, visto que Jesus ainda estava com os discípulos.

A partir do instante, porém, em que ascendeu aos céus, passamos a ter a Igreja, Igreja que iniciaria a Sua missão evangelizadora a partir da descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, ato inicial da dispensação da graça e de apresentação da Igreja ao mundo.

Assim, podemos dizer que a Igreja começa efetivamente no dia de Pentecostes, visto que a Igreja nada mais é que “…a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe.2:9) e isto só se deu a partir do dia de Pentecostes.

OBS: O fato de o início da atividade da Igreja ter se dado no dia de Pentecostes, não quer dizer que ela tenha sido inaugurada neste dia, como bem atesta o pastor Osmar José da Silva, cujo pensamento ora transcrevemos:

“…A Igreja de Jesus Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem algum jamais poderá calcular.

Com certeza, a Igreja será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os santos que morreram desde o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo, que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo:

Hebreus 2.12:’…Eis-Me aqui, e aos filhos que Deus Me deu.’ Então haverá festa nos céus, todas as hostes celestiais se alegrarão juntamente com todos os seus servos.…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110).

– Precisamos, também, distinguir a Igreja atuante da Igreja triunfante. Nas palavras de nossa Declaração de Fé: “A Igreja atuante é aquela que ainda milita na terra, formada por todos aqueles que seguem a Cristo, lutam contra a carne, o mundo, o diabo, o pecado e a morte.

A Igreja triunfante é constituída dos irmãos que já partiram deste mundo, tendo vencido todos os seus inimigos e que agora estão com o Senhor Jesus. Ele e nós pertencemos à mesma Igreja: “do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef.3:15).

A Igreja atuante emprega armas espirituais no bom combate: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas” (II Co. 10:4). Ela permanece firme nessa batalha contra o mal, e isso vai durar até a vinda de Cristo.” (item 4 do Capítulo XI – da Igreja da Declaração de Fé da CGADB).

– Entretanto, ao contrário do que ensinam os romanistas, não há a mínima possibilidade de a “Igreja triunfante” interceder em favor da “Igreja atuante”, não sendo possível daí deduzir-se a intercessão e o subsequente culto aos santos, como ensinam romanistas, ortodoxos e anglicanos.

II – A ESTRUTURA DA IGREJA

– Jesus, ao revelar o Seu mistério, isto é, a Igreja, disse que a edificaria. Assim, logo após a revelação deste novo povo de Deus, Jesus nos indica que se tratava de algo que era organizado, ordenado, de algo que tinha uma estrutura, sem o que não se trataria de uma “edificação”.

A Igreja é o “edifício de Deus”, é a “lavoura de Deus”, o “corpo de Cristo”, “a coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3:15), a “nação santa”, expressões todas que indicam haver uma ordenação, uma estrutura, uma ordem nesta entidade criada pelo próprio Deus, que, como sabemos, é um Deus de ordem, não de confusão (I Co.14:33).

– A primeira coisa que observamos com relação à ordem, à estrutura da Igreja é de que o edificador é o próprio Jesus. “Edificarei a Minha Igreja”, disse o Senhor Jesus. Vemos, pois, que a igreja não é algo que deva ser estruturado e moldado segundo os caprichos, as habilidades, palpites, experiências ou sabedoria humanos, mas, sim, segundo o modelo traçado pelas Escrituras Sagradas.

Nos dias em que vivemos, onde tem tido grande avanço a ciência da administração, muitos têm sido tentados a implantar e criar “modelos”, “visões”, “estratégias” e tantas outras “inovações” para que se tenha uma igreja bem sucedida, exitosa e que sempre cresça. Tenhamos muito cuidado com tudo isto, pois a Bíblia nos ensina que a Igreja tem como edificador a Jesus Cristo e a Ele só.

Ele não disse que a igreja era d’Ele e de todos os Seus discípulos. Sua expressão é bem clara: “Edificarei a Minha igreja”.

Por isso, muito atual e oportuna a consideração feita pelo pastor Ariovaldo Ramos num artigo que deve ser lido por todos, onde afirma que muitos têm “tomado” a igreja de Jesus para si e que, por isso, o Senhor bem pode exclamar a tais líderes: “Devolvam a Minha igreja”.

OBS: “…Ouvi, certa feita, que um preletor, convidado para falar a pastores, começou sua pregação dizendo ter um recado diretamente de Cristo,

e que o recado era: Devolvam a minha Igreja! difícil julgar algo assim, teria mesmo o recado vindo do Senhor? Pode ser que não, porém, para mim, faz todo o sentido ter vindo dele, pois, é assim que eu sinto a igreja hoje, como usurpada de Cristo Jesus.

Talvez isso não tenha nada a ver com você, em princípio, mas pense na Igreja que está no Brasil como um todo. É a sua igreja.…” (RAMOS, Ariovaldo. Devolvam a Minha igreja.
Disponível em: http://www.invsc.org.br/Artigos/devolvam_minha_igreja.htm Acesso em 19 out. 2006).

– A segunda observação a ser feita é a de que, além de ser o Edificador, Jesus é o fundamento da Igreja.
Na própria “declaração de Cesareia”, Jesus nos mostra que Ele é o fundamento da Igreja, ao dizer que “sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt.16:18).

Quem é esta pedra? Esta pedra é o próprio Cristo, como nos indicam o texto, o contexto interno e a correlação com os demais textos bíblicos. Senão vejamos.

– O texto refere-se a um diálogo entre Jesus e Pedro, logo após Pedro ter dito que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo.

Diante desta declaração, Jesus disse que aquilo havia sido uma revelação do Pai a Pedro e, acrescentando a revelação, disse que Seu discípulo era Pedro, ou seja, o nome que Jesus havia dado a Pedro tinha como significado “pedra”, mas que sobre “esta” pedra, ou seja,

Jesus Se refere a Si próprio, pois usa o pronome demonstrativo “esta”, que indica a coisa ou a pessoa mais próxima da pessoa que fala (e a pessoa mais próxima de Jesus naquele instante, que era quem estava a falar, não era ninguém a não ser o próprio Jesus).

Assim, o próprio texto indica-nos que Jesus Se referia a Si mesmo quando indica qual seria a pedra fundamental da Igreja.

– Mas, fora a interpretação gramatical do versículo, temos o próprio contexto interno, ou seja, a relação com os demais versículos da passagem bíblica.

Toda a passagem gira em torno da identidade de Jesus. Jesus pergunta a Seus discípulos quem os homens dizem ser o Filho do homem. Depois dos relatos advindos da população contemporânea de Jesus, o Senhor quer saber a opinião dos discípulos e Pedro, então, declara que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo.

Jesus, então, adverte que aquilo não era algo que Pedro tivesse obtido pela sua própria inteligência, mas uma revelação divina e a complementa dizendo que o nome “Pedro” que

Ele mesmo havia dado ao Seu discípulo era também um símbolo, uma indicação, revelando, então, que a verdadeira pedra, que era Ele próprio, além de ser o Cristo, seria o fundamento de um novo povo, a Igreja, “o mistério de Cristo”.

O contexto fala-nos da identidade de Cristo e, portanto, esta pedra só pode ser o próprio Jesus, pois é este o assunto que está sendo tratado na passagem bíblica.

– Mas não bastassem estas evidências textuais, o fato é que as Escrituras, mesmo, em outros textos, mostram que o fundamento da Igreja é Jesus Cristo e nunca o apóstolo Pedro.

O primeiro a nos indicar isto é o próprio Pedro, que, por ser quem estava dialogando com Jesus, é o mais apropriado intérprete das palavras do Mestre. Pedro, bem ao contrário dos romanistas, tendo ouvido o que Jesus falou, ensinou, anos depois, que o fundamento da Igreja é Jesus:

“E chegando-vos para Ele — pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós, também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo…” (I Pe.2:4,5). Pedro, portanto, confirma que a pedra, o fundamento da Igreja é Jesus.

– O apóstolo Paulo também caminha no mesmo sentido, ao mostrar que o fundamento da Igreja é Jesus:
“Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” (I Co.3:11).

Dúvida alguma, pois, pode haver quanto ao verdadeiro fundamento da Igreja. A verdadeira Igreja, pois, não tem outro fundamento a não ser Jesus Cristo.

– Mas, além de fundamento, Jesus é, também, a cabeça da Igreja, ou seja, o Seu governante, o Seu rei, o Seu comandante (Ef.1:22; 5:23).

Jesus foi constituído Senhor sobre todas as coisas (Mt.28:18; Rm.14:9) e não deixaria de sê-lo com relação à Sua Igreja, que Ele comprou com o Seu próprio sangue (At.20:28).

Tendo criado a Igreja, nada mais natural que seja o seu Senhor, o seu Rei, o seu Governante. Por isso, todos os membros da Igreja, por maior autoridade que tenham, não passam de ministros de Jesus, ou seja, de Seus servidores (Mt.20:25-28; Mc.10:34-37; Jo.13:13-17;Ef.3:7).

OBS: As versões mais novas das Escrituras em língua portuguesa têm utilizado a expressão “o cabeça da Igreja” ao invés da expressão “a cabeça

da Igreja” que constava das versões mais antigas. Deploramos esta modificação, pois não corresponde a uma correta tradução.

A expressão “o cabeça” tem a conotação de “líder rebelde”, de “líder de revolta” e, evidentemente, não é este o significado que as Escrituras trazem a respeito de Jesus diante da Igreja. Ele é o líder legítimo e natural da Igreja.

Além do mais, a expressão “a cabeça” está em perfeita consonância com a figura da Igreja como “corpo”, que é encontradiça e predominante na epístola aos efésios, onde aparecem as duas referências de Cristo como “cabeça da Igreja”.

– Por ser a cabeça da Igreja, é nas mãos do Senhor Jesus que está o governo da Igreja, o comando, a palavra final. Por isso mesmo a Bíblia nos diz que é Ele quem constitui os ministros na Igreja (Ef.3:7; 4:11), sendo este, aliás, o sentido do ensinamento de que os ministros são “chamados por Deus”, constituídos por “vocação” e não por “formação acadêmica”, ensino este, aliás, que foi deturpado para um anti-intelectualismo que, durante muitos anos, foi o principal e equivocado “diferencial” entre os pentecostais e os evangélicos ditos tradicionais.

Evidentemente que não tem qualquer respaldo bíblico o ensino de que o ministro é fruto de uma formação acadêmica, de que os “seminários teológicos formam ministros”, mas, também, não há qualquer amparo bíblico para se dizer que o ministro não deve ter formação alguma, pois é um “chamado de Deus”.

Quando alguém tem chamada de Deus, é vocacionado para o ministério, deve, sim, aprimorar seus conhecimentos e melhor se preparar para exercer o ministério. Deus não só chamou como bem preparou Moisés e Paulo, por exemplo.

– Jesus não delegou a pessoa alguma a liderança da Igreja. Diz a Escritura que Ele é a cabeça da Igreja. Mandou-nos o Espírito Santo, Deus como Ele, para estar conosco e em nós, sendo esta Divina Pessoa responsável pela importante tarefa de não nos deixar esquecer o que foi anunciado pelo Senhor Jesus (Jo.16:13,14).

É, pois, na condição de Revelador de tudo quanto o Filho quer fazer na Sua Igreja, que o Espírito seleciona homens para o ministério (At.13:2) ou prescreve orientações para a Igreja (At.15:28). Assim, se nem a uma Pessoa Divina é dada autonomia para dirigir a Igreja do Filho do Deus vivo, como ousam alguns homens querer arrogar para si a liderança da Igreja?

OBS: Não falemos do Papado, que se arroga o direito de ser “a cabeça visível da Igreja”, como se fosse possível a Igreja ter mais de uma cabeça, ou dos Presidentes mórmons, que se arrogam o título de Profetas e detentores atuais do Sumo Sacerdócio, ou, ainda, do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.

Falemos dos “pastores-presidentes”, “apóstolos”, “querubins”, “anjos de fogo” e “bispos” que têm querido dominar o rebanho de Deus nos nossos dias, misturando suas vaidades, lascívias, ambições políticas e tantas outras coisas com a Palavra de Deus e buscando uma autoridade sobrenatural para impor suas sandices por sobre os servos do Senhor. Vigiemos, estamos nos últimos dias, onde proliferam estes falsos cristos, falsos apóstolos e falsos profetas a tentar nos levar com eles para o fogo do inferno.

– Jesus estabeleceu na Igreja um governo, de modo que a existência de um governo na igreja(e tal governo só pode ser na igreja local) não se constitui em invenção humana nem em distorção doutrinária, mas no estrito cumprimento do modelo bíblico prescrito pela cabeça da Igreja.

Por isso, se o “mandonismo humano” não tem respaldo das Escrituras, também não tem guarida na Palavra de Deus outras iniciativas dos nossos tempos de um verdadeiro “anarquismo cristão”, que defende um modelo de igreja onde não haja governo algum, onde “todos são iguais”, onde “não haja ministério” nem qualquer disciplina ou ordem de qualquer natureza.

Isto nada mais é que afronta à Palavra de Deus, verdadeira rebeldia, rebeldia esta que as Escrituras dizem ser do mesmo valor que o pecado de feitiçaria (I Sm.15:23).

OBS: Por isso, sem qualquer sentido o “localismo” defendido por Watchmann Nee, que tem angariado tantos adeptos na atualidade e cuja literatura perniciosa tem encontrado guarida em nossas livrarias e editoras. Também se encontram dentro desta distorção iniciativas como o gedozismo e suas variações no movimento celular.

– A Declaração de Fé das Assembleias de Deus é explícita neste tema, “in verbis”: “CREMOS, professamos e ensinamos que existe hierarquia no céu e na terra e também na Igreja, pois todos nós estamos sob autoridade; todos nós prestamos contas a alguém à autoridade.

O próprio Senhor Jesus Cristo disse: “Porque Eu desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou” (Jo.6:38).

A forma de governo da Igreja é bíblica e define quem exerce autoridade no que diz respeito ao serviço do culto coletivo e às questões doutrinárias e administrativas.…” (Início do Capítulo XIV – Sobre a forma de governo da Igreja da Declaração de Fé da CGADB).

– Neste governo, tem papel principal os apóstolos (Ef.4:11), que foram os “enviados” por Jesus para iniciar a pregação do Evangelho em todo o mundo, após o devido revestimento de poder. As Escrituras dão a estes homens uma posição de proeminência.

O apóstolo Paulo afirma que os crentes são edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra da esquina (Ef.2:20).

Na visão que teve da santa cidade, João revela que o muro da cidade tinha doze fundamentos e os nomes deles eram os doze apóstolos do Cordeiro (Ap.21:14). Em Atos, vemos que a igreja primitiva perseverava na doutrina dos apóstolos (At.2:42).

– Verificamos, portanto, que o papel dos apóstolos foi muito importante, porque foram eles quem transmitiram aos convertidos os ensinos de Jesus, quem ensinaram a Palavra (At.6:4), ensinos estes que acabaram, por inspiração do Espírito Santo, complementando as Escrituras, com o Novo Testamento.

Daí a sua proeminência na estrutura da Igreja e, ainda que entendamos que continuou a haver apóstolos ao longo da história da Igreja, o papel destes sempre foi o de ensinar a Palavra, expondo-a ao povo e de organizar as igrejas locais, tendo muito mais autoridade espiritual geral do que propriamente o governo das igrejas locais, o que bem difere estes homens dos “apóstolos” de hoje em dia, que são muito mais “administradores” e “empresários da fé” do que qualquer outra coisa.

– Além dos apóstolos, encontramos os profetas (Ef.4:11), que são servos do Senhor aquinhoados com o ministério profético, que é o de exposição da Palavra de Deus com unção e graça de Deus para a sua aplicação ao caso concreto.

Os profetas, assim como os apóstolos, não têm uma atuação circunscrita a uma igreja local ou a um conjunto de igrejas locais, mas são revestidos de uma autoridade espiritual, que transcende os limites das igrejas locais.

São porta-vozes do Senhor para o corpo de Cristo e que dão as devidas orientações e prescrições ao povo de Deus com vistas à sua edificação, consolação e exortação, como vemos, por exemplo, nos casos de Ágabo (At.11:28; 21:10) e das filhas de Filipe (At.21:9).

– Mas Jesus também constitui na Sua Igreja pastores (Ef.4:11), denominação que, em o Novo Testamento, equivale a de bispos, anciãos e presbíteros, que são, propriamente, aqueles que governam as igrejas locais,

“apascentando o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas, voluntariamente, nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto, nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (I Pe.5:2,3).

Os pastores têm o dom de presidência (Rm.12:8) e o de governos (I Co.12:28), devendo, pois, estar à frente das igrejas locais, cuidando do povo de Deus e não, como infelizmente hoje acontece, tão somente das finanças ou da própria sobrevivência, preferindo o ouro do templo ao templo, a oferta do altar ao altar (Mt.23:16-21).

– Os pastores, porém, não podem ficar solitários à frente da igreja.

Jesus constitui junto a eles mestres, para auxiliá-los no ensino da Palavra (Ef.4:11);

evangelistas, para auxiliá-los na pregação do Evangelho (Ef.4:11);

diáconos, para cuidar da assistência social e material na igreja local(At.6:1-3);

membros portadores de dons espirituais, para exortação, consolação e edificação da igreja(I Co.12,14);

músicos, para o louvor e adoração nas reuniões eclesiásticas(I Co.14:26;Cl.3:16);

membros portadores de dons assistenciais, para a ajuda material e espiritual aos necessitados(Rm.12:6-8).

A igreja é aquinhoada pelo seu Senhor com tudo o que é necessário tanto para a evangelização dos pecadores quanto para o aperfeiçoamento dos santos, pois a obra é d’Ele e não de cada um dos integrantes da igreja local.

É ele quem dá os talentos para que os Seus servos com ele negociem e possam ser achados fiéis e aptos a entrar no gozo do seu Senhor (Mt.25:14-30).

– “…Nossa estrutura constitui-se de pastores, evangelistas, presbíteros, diáconos e cooperadores; estes últimos identificados também como auxiliares ou trabalhadores de acordo com a região. O termo “obreiro” é genérico e usamos praticamente para todos os cargos e funções na Igreja.

Nosso modelo de governo de igreja tem por base as Escrituras Sagradas.” (Início do Capítulo XIV – Sobre a forma de governo na Igreja da Declaração de Fé da CGADB).

III – A FUNÇÃO DA IGREJA

– Após termos visto a estrutura da Igreja, é importante vermos para que serve a igreja, para que Deus constituiu a Igreja. Muito nos preocupa a realidade atual em que muitos têm perdido a noção do propósito de Deus ao constituir a Igreja.

– O apóstolo Paulo afirmou que o eterno propósito de Deus feito em Cristo Jesus nosso Senhor é o conhecimento da multiforme sabedoria de Deus pelos principados e potestades nos céus, anunciando entre os gentios, por meio do Evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef.3:8-11).

– A primeira razão de ser da Igreja, portanto, é a pregação do Evangelho aos judeus e aos gentios, ou seja, a anúncio da boa-nova, da boa notícia de que Deus enviou o Seu Filho ao mundo para que todo aquele que n’Ele crê não pereça mas tenha a vida eterna (Jo.3:16). Jesus deixou isto bem claro ao determinar aos discípulos que pregassem o Evangelho a toda a criatura por todo o mundo (Mc.16:15).

-A Igreja existe para pregar o Evangelho, para continuar a pregação de Jesus (Mc.1:14,15). Este, aliás, é um dos motivos pelos quais a Igreja é chamada de “o corpo de Cristo”, pois deve continuar a fazer o que Jesus fez.

Enquanto esteve em Seu ministério terreno, o Senhor ia por todas as partes de Israel pregando o Evangelho, mas, agora, já que os Seus não o receberam, mandou que a Igreja prosseguisse este Seu trabalho, continuando a pregar o Evangelho, só que agora a todas as nações, inclusive aos judeus.

– Igreja existe para pregar o Evangelho, mas, infelizmente, os nossos dias, dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12), o amor de muitos, de quase todos está a esfriar e, por isso, muitos são os integrantes das igrejas locais que não mais evangelizam, que não mais pregam o Evangelho.

A propósito, muitas igrejas locais têm hoje “departamentos de evangelismo”, o que é uma verdadeira aberração, pois não pode uma parte da igreja local se dispor a evangelizar. Isto não é tarefa de uma parte da igreja, mas de toda a igreja.

Igreja que não evangeliza é como hospital que não aceita doentes, escola que não tem professores nem alunos, uma completa inutilidade.

OBS: Os “departamentos de evangelismo” deveriam ser um grupo que ordenasse, organizasse a atividade evangelística de toda a igreja local e não, como hoje em dia, um grupo de abnegados que ainda está a cumprir o “ide” de Jesus.

– Quando os discípulos foram dispersos de Jerusalém, aonde quer que chegavam imediatamente passavam a pregar o Evangelho.

Não viam sentido algum em sua existência sem pregar a Cristo. Todo salvo é um integrante da Igreja e, portanto, tem o dever de pregar o Evangelho.

Verdade é que não são todos os que têm o dom da eloquência, da oratória, não é de todos a exposição da Palavra, mas todos devem viver de modo digno, honesto, sincero, não perdendo a oportunidade de com seus atos, gestos, palavras e atitudes levar os homens a glorificar a Deus.

Quantos não perdemos tempo em tantas atividades com as pessoas que estão à nossa volta sem nunca lhes falarmos do amor de Deus, sem nunca mostrarmos para eles que somos diferentes e felizes porque temos Jesus em nossas vidas?

Quantas vezes não gastamos horas e horas dando conselhos e opiniões a estas pessoas sem aproveitarmos a ocasião para convidá-las a ir a um culto em nossa igreja local?

– Mas a Igreja não serve apenas para pregar o Evangelho. Tem ela também uma tarefa importantíssima que é a do aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11-16).

O crescimento espiritual do salvo somente se dá na igreja local. Este é o modelo bíblico, de modo que sem qualquer respaldo nas Escrituras o falso ensino do “self-service”, tão em voga nos nossos dias, segundo o qual se pode servir a Deus “sozinho”, pois “antes só do que mal acompanhado”.

Muitos têm se decepcionado com escândalos, intrigas e injustiças nas igrejas locais, que, como todo grupo social de seres humanos, têm defeitos e problemas (que o digam as igrejas que receberam epístolas dos apóstolos…) e, em meio a estas decepções, não vigiam e se deixam enganar por esta doutrina demoníaca. Precisamos uns dos outros para crescermos espiritualmente, para perseverarmos na fé.

– A Bíblia ensina-nos que devemos nos amar uns aos outros (Jo.13:35),

preferirmo-nos em honra uns aos outros (Rm.12:10),

recebermo-nos uns aos outros (Rm.15:7),

saudarmo-nos uns aos outros (Rm.16:16),

servimo-nos uns aos outros pela caridade (Gl.5:13),

suportarmo-nos uns aos outros em amor (Ef.4:2; Cl.3:13),

perdoarmo-nos uns aos outros (Ef.4:32; Cl.3:13),

sujeitarmo-nos uns aos outros no temor de Deus (Ef.5:21),

ensinarmos e admoestarmo-nos uns aos outros (Cl.3:16; Hb.10:25),

não mentirmos uns aos outros (Cl.3:9),

consolarmo-nos uns aos outros (I Ts.4:18),

exortamo-nos e edificarmo-nos uns aos outros (I Ts.5:11; Hb.3:13),

considerarmo-nos uns aos outros para nos estimularmos à caridade e às obas obras (Hb.10:24),

confessarmos as culpas uns aos outros (Tg.5:16).

Diante de tantas recomendações bíblicas, como podemos crer na doutrina do “self-service”?

– A igreja local, portanto, deve ser o lugar onde os santos se aperfeiçoam. Ora, sabemos que o crescimento espiritual deve ser feito na graça e no conhecimento de Jesus Cristo (II Pe.3:18).

Desta maneira, a igreja local deve se estruturar de tal maneira que os seus integrantes venham a ter o mencionado crescimento espiritual, aumentando na graça e no conhecimento de Jesus.

Por isso, são atividades indispensáveis em uma igreja local a oração e o ensino da Palavra, precisamente o que tinha a prioridade na vida dos apóstolos (At.6:4).

– No entanto, é com tristeza que vemos, atualmente, nas igrejas locais, um sem-número de atividades, mas cada vez menos oração e ministério da Palavra.

As reuniões menos frequentadas são, precisamente, as de oração e de ensino (a frequência dos cultos de oração e doutrina, dos poucos cultos de vigília ainda existentes e da Escola Bíblica Dominical é cada vez mais menor).

As reuniões mais frequentadas, por sua vez, têm dado cada vez menos espaço à exposição da Palavra de Deus e à oração. Desta forma, as igrejas locais estão muito mais parecidos com clubes sociais, suas reuniões são muito mais confraternizações do que um instante de adoração a Deus e de louvor.

OBS: Recentemente, dois episódios chamaram-nos a atenção. Num deles, ficamos espantados porque chegamos a uma pequena igreja da periferia da Grande São Paulo e, faltando quinze minutos para o início do culto, encontramos praticamente todos os crentes orando.

O espanto que isto nos causou revela quão distantes estamos do modelo bíblico (nem é preciso dizer que o culto foi uma bênção…).

No outro, ficamos a saber que uma determinada igreja comemorou seu aniversário e foram tantas as atividades previstas, que, no final da reunião, como ainda havia a previsão de “comes e bebes” pelo aniversário, entendeu-se por bem dizer que, naquela reunião, não haveria ministração alguma da Palavra.

O culto terminou sem que nem sequer uma saudação tivesse sido feita. A igreja faz aniversário e, para comemorar, corta integralmente o tempo da Palavra! Triste realidade a que vivemos…

– Igreja existe para evangelizar os perdidos e aperfeiçoar os santos. Temos lembrado disto em nossas igrejas locais? Nossas igrejas locais têm levado pecadores ao encontro de Jesus? Nossos crentes têm crescido espiritualmente?

Ou as igrejas locais têm se voltado tão somente para si mesmas, transformando suas reuniões em encontros de confraternização, em momentos de emocionalismo, onde não há mais conversões nem demonstração do poder de Deus? Se esta é a realidade, então não estamos diante de uma genuína e autêntica igreja.

– Além da evangelização dos pecadores e do aperfeiçoamento dos santos, a Igreja também tem a função de ajudar os necessitados, tanto material como espiritualmente.

Jesus cuidava dos pobres, tinha uma bolsa especialmente para eles (Jo.12:6,8) e os Seus discípulos, desde os primórdios da Igreja, demonstraram ser este um importante negócio (At.6:1-3).

Por isso, a igreja local deve ter um serviço de assistência social, primeiramente voltado aos seus próprios integrantes, mas que também deve se estender a todos os demais (Gl.6:9,10).

No entanto, apesar de ser uma tarefa indispensável para a Igreja, pois é demonstração concreta de que possui o amor de Deus em seu coração (Tg.1:27; 2:14-17; I Jo.3:17,18), jamais permitamos que as igrejas locais se transformem tão somente em associações de benemerência, em entidades assistenciais, onde a assistência social toma o lugar da pregação do Evangelho e do aperfeiçoamento dos santos. Devemos, sempre, dar prioridade ao reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

OBS: Infelizmente, muitas igrejas locais têm se notabilizado na ação social, mas este ativismo social tem sufocado a evangelização e o aperfeiçoamento dos santos.

– Como a Igreja tem por finalidade o crescimento espiritual do cristão, temos que é sua tarefa a disciplina. Cabe à igreja local o julgamento dos seus integrantes, poder que lhe foi outorgado pelo próprio Senhor (I Co.5:12).

Na convivência que os integrantes da igreja local mantêm, temos, sim, condições, como vimos na lição sobre a doutrina da salvação, de verificarmos se alguém está, ou não, produzindo frutos dignos de arrependimento e, portanto, se mantém, ou não, a comunhão com o Senhor (Mt.7:15-20; Ap.2:2).

Por isso, como é sua tarefa promover a pregação do Evangelho, apregoar a salvação e propiciar o crescimento espiritual, a igreja tem o dever de disciplinar a todos quantos não estão de acordo com a sã doutrina, porquanto a correção é uma demonstração de amor (Hb.12:5-11).

– A finalidade da disciplina é a de “ganhar o irmão” (Mt.18:15; II Tm.2:25). A disciplina, embora cause tristeza de imediato, deve ser exercida de modo a levar o irmão em Cristo a se arrepender do seu pecado e a retornar à comunhão com Cristo e com a igreja.

Por isso, é antes de tudo uma demonstração de amor, não sendo disciplina qualquer atitude que não leve em conta a dignidade da pessoa humana, como, lamentavelmente, costuma ocorrer em muitos lugares.

– A disciplina é necessária porque a igreja local deve manter a santidade no seu meio, pois é um povo que está “fora do mundo”, faz parte de uma “nação santa”, de um povo que não está nas trevas, mas na luz do Senhor, onde, portanto, todas as obras são manifestas.

Ademais, cada integrante da igreja local é “templo do Espírito Santo”(I Co.6:19), “membro em particular do corpo de Cristo” (I Co.12:27).

Na verdadeira e autêntica igreja de Cristo, há uma real e concreta distinção entre os salvos e os ímpios (At.5:13). Sem santidade, sem obediência à Palavra do Senhor, não há a operação de sinais e maravilhas, que confirmem a pregação do Evangelho (At.5:15,16).

IV – A FALÁCIA DOS DESIGREJADOS

– Ora, diante de tudo o que observamos sobre a Igreja, podemos conceber que alguém possa alcançar e permanecer no caminho da salvação sem a Igreja? Evidentemente que não!

– Entretanto, nos últimos anos, vem crescendo assustadoramente entre os que cristãos se dizem ser o pensamento de que se pode servir a Deus sem que se esteja em comunidade, sem que se pertença a qualquer grupo social chamado igreja local.

– Muitos passaram a defender esta ideia por causa dos escândalos, ou seja, dos fatos que envolveram normalmente lideranças eclesiásticas que foram apanhadas cometendo atos completamente contrários à Palavra de Deus, demonstrando uma hipocrisia de vida, uma falsa religiosidade.

– Muitos começaram a dizer que as igrejas eram imperfeitas, eram estruturas que não poderiam existir e que, portanto, depois que Jesus veio ao mundo para salvar a humanidade, cada indivíduo poderia ter ligação direta com Deus, através de Cristo e que nenhuma estrutura social eclesiástica estava mais a valer, a ser necessária.

– A primeira meia-verdade dito por este movimento, chamado de “desigrejados’, porque defendem eles que não se precisa da igreja para alcançar a salvação, porque a salvação se dá pela fé em Jesus e é individual.

– Por primeiro, como dizer que alguém que crê, em Jesus não considere que a Igreja é o povo criado por Jesus? Foi Jesus quem disse que iria edificar a Sua Igreja. Como dizer que se crê em Jesus se não se crê que há uma Igreja fundada pelo próprio Jesus? Como se recusar a pertencer à Igreja, dizendo ser crente em Jesus, se Jesus é a cabeça da Igreja?

– Por segundo, não resta dúvida de que a salvação é individual. Mas, quando somos salvos, somos inseridos no corpo de Cristo, que é a Igreja. É o que nos diz o apóstolo Paulo que nos mostra que todos os crentes são batizados em um Espírito, formando um corpo (I Co.12:13).

– Assim, embora a salvação seja individual, cada um tenha de crer em Jesus para alcançar a salvação, esta pessoa, ao crer, é inserida em um povo, que é a Igreja, passa a ser membro em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27).

– Alguém pode dizer: pois então, quando se fala em “Igreja”, se está a falar do “corpo de Cristo”, este “corpo místico”, esta “igreja universal”, que é a “reunião dos salvos”, que não é nenhum grupo social, não é nenhuma denominação. Não podemos confundir a “Igreja”, de que todo salvo faz parte, com as “igrejas”, “criadas pelos homens” e “nunca previstas por Jesus”.

– Temos que tal pensamento não tem qualquer respaldo bíblico. As quase três mil pessoas que creram em Jesus no dia de Pentecostes passaram a se reunir num grupo social em Jerusalém (assim como os “forasteiros romanos” que se converteram em Roma).

– O texto bíblico diz que estas pessoas que se converteram, primeiro se batizaram nas águas e, depois, se agregaram (At.2:41), ou seja, passaram a fazer parte de um grupo, grupo este que passou a conviver, perseverando na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações, estando juntos e tendo tudo em comum (At.2:42,43).

– Notamos, portanto, que, por ação do Espírito Santo, os primeiros cristãos passaram a formar um grupo social bem definido (Cf. At.5:12,13), com características próprias, com práticas próprias e que passam a compartilhar as suas vidas uns com os outros.

– Aliás, o Senhor Jesus, em Suas últimas instruções, disse aos Seus discípulos que Seu mandamento era que eles se amassem uns aos outros como Ele os havia amado (Jo.13:34; 15:12), indicando, portanto, que somente se pode ser verdadeiramente um discípulo de Cristo se estiver a conviver com os demais discípulos.

– Embora a salvação seja individual, há uma dimensão social na salvação, pois o salvo passa a conviver com outros salvos, num grupo social bem definido e distinto dos demais grupos existentes na sociedade, precisamente porque marcado pelo amor de Deus que se torna amor fraternal entre aqueles que servem a Jesus Cristo, amor fraternal que deve ser mantido e desenvolvido (Rm.12:10; I Ts.4:9; Hb.13:1; I Pe.1:22; II Pe.1:7).

– Inclusive, a própria figura do “corpo” que dá à Igreja tem por finalidade fazer-nos compreender que a nossa vida cristã, a nossa vida espiritual sobre a face da Terra é feita enquanto “membros do corpo”, ou seja, dependendo, para a nossa própria sobrevivência, dos demais salvos para continuarmos vivendo, para continuarmos pertencendo à Igreja e caminhando para o céu.

– Não é por menos que o Senhor Jesus disse ao anjo da igreja de Laodiceia de que ele seria “vomitado” se não se arrependesse (Ap.3:16), ou seja, lançado fora do corpo, expelido do corpo, precisamente porque não estava tendo comunhão com o Senhor, havia-O posto para o lado de fora da igreja que estava em Laodiceia.

– A propósito, as cartas que o Senhor Jesus mandou às igrejas da Ásia Menor são uma prova bíblica de que, quando as Escrituras falam de “Igreja” não estão a se referir apenas à igreja universal, ao “corpo místico de Cristo”, formado tanto pela Igreja militante quanto pela Igreja triunfante, mas, também, a estes grupos sociais que existem sobre a face da Terra, as chamadas “igrejas locais”.

– Cristo sempre Se refere, em cada carta, “à igreja que está em tal lugar”, numa clara demonstração de que as igrejas locais fazem parte, sim, do seu plano, da estrutura que quis, como cabeça da Igreja, que Seu povo tivesse.

– É o que vemos em At.9:31, quando, após a dispersão dos crentes de Jerusalém, por causa da perseguição promovida por Saulo, foram formadas igrejas locais em toda a Judeia, Galileia e Samaria, tendo paz e sendo edificadas, multiplicando-se no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo.

– Portanto, sem qualquer fundamento bíblico dizer que a existência de grupos sociais que se constituem nas igrejas locais seja um “desvio doutrinário” ou algo não querido pelo Espírito Santo ou que não estivesse no propósito de Jesus ao edificar a Sua Igreja.

– Vemos, pois, que alguém que alcança a salvação na pessoa de Cristo Jesus e se recusa a fazer parte de uma igreja local, não aceita a existência destes grupos sociais de salvos é alguém que, tendo alcançado a salvação e, portanto, sido inserido pelo Espírito Santo no corpo, voluntária e solenemente abandona este ambiente em que foi colocado pelo Espírito Santo, está deliberadamente resistindo ao Espírito, o que significa abandonar a própria vida cristã.

– Não é possível servir a Deus a não ser do modo estabelecido por Deus. O Senhor não aceita uma adoração, um serviço que seja contrário ou fora dos princípios por Ele mesmo estabelecidos.

Assim, se Ele determinou que servíssemos a Ele, após termos aceitado a Cristo, numa igreja local, como se recusar a fazer parte de uma? Como agir em sentido contrário ao Espírito Santo? 

– Vemos aqui, portanto, toda a sutileza de Satanás ao propagar, incentivar e estimular o movimento dos desigrejados. Ele está simplesmente fazendo com que pessoas resistam à ação do Espírito Santo, recusem o modelo estabelecido pelo próprio Senhor Jesus.

– Entretanto, não é somente isto que ocorre com os desigrejados, o que já bastaria para vermos que caminham eles no sentido da perdição eterna.

– O fato é que, ao se recusarem a pertencer a uma igreja local, que é a dimensão concreta, palpável e onde se podem realizar as tarefas destinadas à Igreja sobre a face da Terra, o desigrejado se priva de receber a necessária ajuda para que tenha o seu crescimento espiritual.

– É na Igreja, no grupo social local, que Jesus põe os Seus ministros, que têm a incumbência, como já vimos, de promover o aperfeiçoamento dos santos.

O desigrejado não será aperfeiçoado e, como diz o texto já lido de Ef.4:11-16, será facilmente levado por ventos de doutrina, será tomado pela inconstância e será enganado por homens fraudulentos levantados pelo próprio inimigo.

– Qual o destino de um membro de nosso corpo quando se dissocia dos demais? A morte. Arranque um dedo de sua mão.

Em pouco tempo, ele estará morto e apodrecerá, porque se desligou do corpo, pois é na ligação com o corpo que ele tem vida. De igual forma, o discípulo de Cristo que se desligar do corpo, cuja realidade social e palpável é a igreja local, estará também fadado ao fracasso.

– Mas não é apenas o aperfeiçoamento dos santos que somente se pode fazer mediante a convivência com os demais irmãos, o que somente é possível numa igreja local. Também é na comunhão que se tem a manifestação dos dons espirituais, que são necessários para que se tenha a edificação, exortação e consolação dos salvos durante nossa peregrinação terrena.

– Os dons espirituais são distribuídos entre os salvos, são dados particularmente (I Co.12:4-11), precisamente para mostrar que dependendo uns dos outros, que é a convivência com o irmão que nos dará condições de, juntos, superarmos todas as adversidades e dificuldades da vida terrena, a fim de vencermos e chegarmos até as mansões celestiais.

– Neste ponto, aliás, a dimensão da necessidade que temos do próximo para nossa sobrevivência espiritual está bem descrita nas Escrituras pela expressão “uns aos outros”.

Por sermos membros, dependemos uns dos outros e temos de estar com o mesmo propósito, pois

devemos lavar os pés uns aos outros (Jo.13:14);

amar uns aos outros (Jo.13:34,35; 15:12,17; Rm.12:10; 13:8; I Ts.4:9; I Pe.1:22; I Jo.3:11,23; 4:7,11,12; II Jo.5); preferir em honra uns aos outros (Rm.12:10);

receber uns aos outros (Rm.15:7);

admoestar uns aos outros (Rm.15:14; Cl.3:16);

servir uns aos outros (Gl.5:13);

suportar uns aos outros em amor (Ef.4:2. Cl.3:13);

perdoar uns aos outros (Ef.4:32; Cl.3:13);

sujeitar-nos uns aos outros no temor de Deus (Ef.5:21; I Pe.5:5);

consolar uns aos outros (I Ts.4:18);

exortar uns aos outros (I Ts.5:11; Hb.3:13; 10:25);

considerar-nos uns aos outros (Hb.10:24);

confessar a culpa uns aos outros (Tg.5:16);

ser membros uns dos outros (Rm.12:5; Ef4:25);

levar as cargas uns dos outros (Gl.6:2) e

ter igual cuidado uns dos outros (I Co.12:25).

– Notemos, pois, como o aspecto da convivência num grupo social denominado igreja local é fundamental para podermos ter a necessária sobrevivência espiritual, o crescimento indispensável para que prossigamos até o fim e alcancemos a glorificação, último estágio de nossa salvação, que é o fim de nossa fé (I Pe.1:9).

– O Senhor fez o homem social e não é bom que ele esteja só (Gn.2:18). Assim, quem deliberadamente se recusa a conviver numa igreja local não terá como obter o seu aperfeiçoamento, não terá como desenvolver todos os aspectos que depende do outro e o resultado disse é um inevitável fracasso espiritual, a perda da salvação, a morte espiritual.

– Quando somos salvos, permanecemos neste mundo (Jo.17:11,15) e, portanto, precisamos estar juntos, convivendo, em comunhão para que cada um de nós e a Igreja como um todo cresça e se desenvolva, realizando a obra que lhe foi confiada pelo Senhor Jesus.

– A comunhão é representada nas Escrituras pelo “comer e beber”. Uma demonstração de que alguém convivia com a outra era participar, com ela, das refeições, “comer e beber”.

Não é por acaso que a ceia do Senhor, onde testificamos nossa comunhão com Deus e com a Igreja, seja um “comer e beber”.

– Ora, este “comer e beber” mostra que se faz necessária uma companhia, uma convivência, uma troca de experiências entre os irmãos, um contato interpessoal constante e que vise o crescimento espiritual e a pregação do Evangelho. Sem isto, não se terá a realização do propósito divino para a formação da Igreja.

– Ora é precisamente por isso que Satanás tem alardeado o movimento dos desigrejados, porque é uma forma muito fácil de fazer muitos perderem a comunhão com Cristo, perderem a própria vida espiritual. O diabo, como bem sabemos, é homicida desde o princípio (Jo.8:44).

– A igreja local não é perfeita, nem o pode ser. Estamos neste mundo e caminhamos para a estatura de varão perfeito (Ef.4:13), tanto que o Senhor Jesus, na igreja, providencia o aperfeiçoamento dos santos.

– Mesmo a igreja em Jerusalém possuía muitos problemas, como vemos no livro dos Atos dos Apóstolos: discriminação entre as viúvas (At.6:1), inveja e mentira como no caso de Ananias e Safira (At.5:1-10), desconfiança em relação a Paulo (At.9:26), dissensões entre Paulo e os judaizantes (At.15:1-6), comentários inverídicos a respeito de Paulo (At.21:21).

– Na primeira igreja gentílica, a igreja de Antioquia, também vemos a dissensão que houve entre Paulo e Barnabé (At.15:36-39); a dissensão entre Paulo e Pedro (Gl.2:11-14).

– Então, não podemos querer que uma igreja local seja perfeita e, encontrando nela imperfeições, resolvermos abandonar o convívio com os irmãos, querendo servir a Deus solitariamente.

As imperfeições mostram, precisamente, a necessidade que temos de fazer parte dela para nela sermos aperfeiçoados por meio do ministério; para nela sermos edificados, exortados e consolados por meio dos dons espirituais; para desenvolvermos todos os aspectos da vida cristã, nas tarefas cometidas na expressão “uns aos outros”.

– A atitude de abandono da igreja local por conta das imperfeições é, por primeiro, soberba, pois, assim agindo, estamos nos considerando superiores aos outros e este sentimento não é de um verdadeiro discípulo de Jesus (Fp.2:3-8), que é manso e humilde de coração (Mt.11:29), mas de alguém que está a imitar o diabo, o primeiro soberbo do universo (Is.14:14).

– Abandonar a igreja local nada mais é que acreditar na mentira satânica de que se pode viver independentemente de Deus (Gn.3:5), pois se o Senhor criou o ambiente da igreja local para nosso desenvolvimento espiritual, deixá-la é desprezar o que nos é dado por Cristo para nosso aperfeiçoamento, é simplesmente dizer que não se precisa do que foi posto por Jesus à nossa disposição para que sejamos verdadeiramente Seus discípulos.

– Por segundo, ao optarmos pelo isolamento e solidão, privamo-nos de todos os instrumentos pelos quais, pela convivência com os irmãos, obtemos o crescimento e a sobrevivência espirituais e, portanto, selamos a nossa inanição espiritual, a nossa própria morte e perdição, pois renunciamos a tudo quanto nos é dado para nosso aperfeiçoamento, para nossa santificação.

– Mas, nas igrejas locais, não temos apenas imperfeições, mas, também, verdadeiros agentes do inimigo que estão infiltrados, cujo papel é precisamente fomentar a heresia e a apostasia, notadamente nos dias em que estamos a viver (I Co.11:19; II Co.11:13,14; II Pe.2:1-4; Jd.4).

– As duas igrejas locais que não foram censuradas pelo Senhor Jesus no livro do Apocalipse, Esmirna e
Filadélfia, ambas tinham de conviver com a “sinagoga de Satanás” (Ap.2:9; 3:9).

– Destarte, devemos estar preparados não só para vermos imperfeições nas igrejas, mas a própria infiltração satânica, a existência de “joio” no meio do trigo, ali semeado pelo próprio inimigo (Mt.13:25), joio, aliás, que não será retirado pelo Senhor antes da colheita (Mt.13:29,30).

– Assim, quando verificarmos tais pessoas no meio de nós, não devemos abandonar a igreja local, mas olharmos para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, crendo em Suas promessas, entre as quais a de venceremos este tipo de gente e que não seremos atingidos por seus ardis.

– Para a igreja de Esmirna, Cristo prometeu que, após o sofrimento, eles receberiam a coroa da vida (Ap.2:9,10). Para a igreja de Filadélfia, o Senhor prometeu a vitória sobre os infiltrados e o livramento da hora da tentação que virá sobre a face da Terra (Ap.3:9,10).

– Muitos, lamentavelmente, têm se escandalizado com as imperfeições e com as heresias e medidas de apostasia da fé e, tropeçando por causa disto, acabam sendo iludidos pelo diabo, que os aconselha a se separarem das igrejas locais e, como resultado, eles morrem espiritualmente da mesma forma que os que são usados pelo diabo para serem meio de escândalo (Cf. Mt.18:7).

– Diante dos escândalos e das heresias, temos de nos manter sinceros, confiantes em Deus, obedientes à Sua Palavra, permanecendo na congregação onde fomos chamados e realizando a obra que o Senhor nos ordenou a fazer (Cf., Hb.10:25), estimulando-nos ao amor e às boas obras (Hb.10:24), retendo a graça, pela qual servimos a Deus agradavelmente com reverência e piedade (Hb.12:28).

– Quando somos salvos, o Senhor nos põe na Sua Igreja, passamos a fazer parte do Seu corpo, mas, como ainda estamos no mundo, Ele nos põe num determinado local, para ali servirmos a Ele e fazermos a Sua obra.

Estejamos sempre na direção do Senhor e obedientes ao que Ele nos manda fazer. Será sempre numa igreja local, em comunhão com os irmãos, nunca solitariamente, nunca isoladamente.

– A pandemia do COVID-19 trouxe um maior isolamento das pessoas e, como nunca, o inimigo trabalhou para incutir na mente das pessoas de que elas poderiam servir a Deus sozinhos, quando muito em ambiente familiar, participando de uma “igreja on line”.

A porcentagem de sedizentes cristãos que não voltaram a congregar depois da normalização das atividades pós-pandemia é assustadora. A falácia do desigrejamento alcançou ainda mais força e intensidade.

– A comunhão, a convivência exigem o contato interpessoal, não é possível participar de uma “igreja virtual”, de uma “igreja on line”, de servir a Deus no “metaverso”.

É, como vimos, “comer e beber”, “ter tudo em comum”, compartilhar a sua vida com o irmão. Tomemos cuidado com estes ardis satânicos, com estas armadilhas diabólicas, antes que seja tarde demais.

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7875-licao-9-a-sutileza-do-movimento-dos-desigrejados-i

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