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Jovens – Lição 3 – O Temor a Deus é o caminho da santificação

O que é Temor do Senhor?

Temor do Senhor não É Ter Medo de Deus

Quando se fala em temer algo, a primeira coisa que vem em mente é de que esse algo provoca medo e assombro. No caso do temor do Senhor é diferente, pois ele não causa opressão, insegurança e perturbação; pelo contrário, esse temor está mais ligado ao amor do que ao medo. O cristão salvo teme desagradar ou entristecer a Deus e ao seu Espírito Santo por amor.

Afinal, como ter intimidade com alguém de quem você tem medo e pavor? Isso é impossível! Seria uma relação doentia e prejudicial.

Para exemplificar, quero contar uma experiência pessoal quando novo convertido. Eu tinha uma grande sede pelo estudo da Palavra desde cedo, em minha conversão. Certo dia, deparei-me com o texto do Salmo 40 e a expressão do versículo 6: “as minhas orelhas furaste”. Essa expressão chamou minha atenção.

Fiquei sem entender o que o salmista estava que­rendo dizer com isso. Aí fui pesquisar sobre e identifiquei que tinha uma referência à Lei e à cultura da época do salmista, conforme registrado em Deuteronômio 15.1-17. O judeu que tivesse outro judeu como escravo, pela Lei, deveria libertá-lo no sétimo ano de escravidão.

Se, no entanto, no sétimo ano esse escravo, que foi bem tratado e passou a amar o seu senhor e o local que habitava, mesmo podendo sair livre, poderia optar por ficar servindo ao seu senhor.

Assim, o seu senhor deveria tomar uma sovela e furar a orelha do seu escravo (Dt 15.16,17). Conhecendo o contexto, pude compreender que, quando o salmista estava dizendo “as minhas orelhas furaste”, na verdade ele queria dizer que servia a Deus por amor, e não por ter medo dEle. O salmista estava demonstrando que servia ao Senhor por gratidão por tudo o que havia feito em benefício dele.

Da mesma forma, o cristão não deve servir a Deus por ter medo dEle ou por medo de ir para o Inferno, mas por amor a Ele e por gratidão por ter enviado o seu próprio filho para resgate da humanidade.

Bevere (2014, p. 52) afirma: “O santo temor é manifesto pela nossa obediência incon­dicional a Ele, quer entendamos o que Ele está pretendendo ou não”.

O temor do Senhor, diferentemente do que a expressão pode sugerir, traz segurança e paz. Quem teme ao Senhor é diferente de quem tem medo dEle, que se esconde e esconde o pecado de Deus. Adão e Eva, depois de pecarem, esconderam-se de Deus por medo.

O temor do Senhor como forma de amor e reverência é o caminho para a santidade, o caminho da comunhão e intimidade com Ele.

O Temor Define a quem a Pessoa Serve

A pessoa serve a quem teme. Quem teme a Deus não tem nada a esconder dEle, não quer ficar longe dEle; pelo contrário, busca sempre a sua presença e proximidade, quer estar sempre com Ele. Por isso o Senhor convida-o a estar continuamente ao seu lado.

Além disso, está em constante autoexame para evitar fazer algo que desagrade a Ele, quer seja em pensamento, ato ou mesmo omissão.

Por isso, Davi, após a sua experiência relatada no capítulo anterior deste livro, estava constante­mente pedindo a Deus: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23,24).

Quem teme a Deus vive da sua própria realidade e não está preocu­pado de forma doentia com aquilo que deseja de si mesmo com vista a agradar outras pessoas ou receber aprovação delas.

Dentre os primeiros apóstolos, temos um exemplo que distingue bem como o temor que predomina na vida da pessoa acaba por definir os seus comportamentos.

O apóstolo Paulo faz registro de um fato que, talvez, muitos hoje classi­ficariam como uma atitude antipática e desnecessária, um conflito a ser evitado.

O próprio apóstolo, todavia, afirmou que não buscava agradar às pessoas com uma imagem projetada de acordo com os seus interesses.

Em Gálatas 1.10, ele afirma “Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo”.

Paulo registra em Gálatas 2.11-14 que, certo dia, quando estava ser­vindo a igreja em Antioquia, uma igreja inclusivista que acolhia tanto a judeus como a gentios convertidos ao cristianismo, todos comiam na mesa em harmonia, os irmãos judeus e gentios, inclusive o apóstolo Pedro.

No entanto, quando chegaram alguns irmãos da parte de Tiago, irmão de Jesus e líder da igreja em Jerusalém, Pedro, por medo, caute­losamente recuou e deixou o máximo de distância possível entre si e os seus amigos não judeus e ainda influenciou Barnabé e outros judeus a fazerem o mesmo.

Pedro temia os obreiros conservadores de Jerusalém, e isso o levou a um comportamento hipócrita. Logo ele, uma pessoa experiente do evangelho, justificada e santificada, mas que descuidou da sua santificação contínua e progressiva.

Com a chegada dos obreiros de Jerusalém, passou a comportar-se com a imagem projetada, esperada dele pelos obreiros conservadores. Paulo considerou a atitude de Pedro um mau exemplo para os irmãos gentios e desagradável a Deus.

Neste episódio, os apóstolos serviram a quem temiam: Paulo, a Deus, e Pedro, aos obreiros conservadores da igreja de Jerusalém.

O Temor do Senhor e a Intimidade com Deus

O salmista afirma que “a segredo do Senhor é para os que o temem; e ele lhes fará saber o seu concerto” (Sl 25.14). Bevere (2014, p. 56) asse­vera que somente quem coloca o Senhor em proeminência na vida é que pode ter intimidade com Ele.

Muitas pessoas estão enganadas quanto à verdade do Evangelho, influenciadas por mensagens que apresentam um Deus que faz barganha com os seus fiéis, um Deus rico e poderoso, que não se apresenta como Senhor e Juiz.

Os que foram justificados e nasceram de novo conhecem ao Senhor como Pai, mas também como Juiz de toda carne e que julgará o seu povo (Gl 4.6,7; Hb 10.30; 12.23).

A falta de conhecimento da seriedade de uma vida no temor do Senhor tem afastado muitas pessoas da intimidade com Ele.

Paulo fala sobre comportamentos que não deveriam ocorrer entre os membros da igreja (2 Tm 3.1-5). As palavras do apóstolo aparentemente parecem ser dirigidas a pessoas que não conhecem a Cristo, mas, na re­alidade, estão endereçadas à igreja.

Bevere (2015, p. 105) afirma que isso acontece por falta de equilíbrio de ensino entre a bondade e a severidade de Deus (Rm 11.22).

O cristão deve obedecer a Deus por amor, e não por medo. Caso contrário, ele não ama a Deus o suficiente para obedecer.

Como no exemplo de Davi, Deus perdoa o pecado, só que a pessoa que cometeu o delito deverá responder pelas consequências geradas. Isso pode trazer vários incômodos que poderiam ser evitados se fosse dado prioridade ao temor do Senhor e à intimidade com Ele.

Como assevera Subirá (2018, p. 321): “quem determina a colheita não é a bondade ou severidade de Deus, é a semente de nossas escolhas e atitudes”.

O autor de Hebreus recomenda servir ao Senhor “agradavelmente com reverência e santo temor” (Hb 12.28, ARA).

Quando você tem inti­midade com alguém, este dá conselhos e orienta-o quando vê que você está em perigo.

Essa é a função do Espírito Santo para a manutenção da comunhão com Deus. O Senhor corrige-nos “para sermos participantes da sua santidade” (Hb 12.9,10); portanto, não troque a sua intimidade com Deus por prazeres momentâneos e efêmeros: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós” (Tg 4.8).

O Livro de Eclesiastes e as Futilidades da Vida

Eclesiastes, um Livro Poético de Sabedoria

O livro de Eclesiastes faz parte de uma das classificações dos livros bíblicos chamada de livros poéticos. Os livros poéticos também têm a sua classificação própria: os livros hínicos (Salmos e Cânticos dos Cânticos) e os livros Sapienciais ou de Sabedoria (Jó, Provérbios e Eclesiastes).

Muitos não dão o devido valor aos livros dessa categoria por entenderem que não contêm questões teológicas com profundidade.

Todavia, os que se dedicam com esmero no estudo dessa coletânea de livros percebem que essa desconfiança não procede, pois esses livros contêm não somente temas teológicos profundos, como também orientações para uma vida cristã prática e em santidade.

O livro de Eclesiastes, também conhecido por Coelet/Qoheleth1, apresenta uma sabedoria simples e franca e tem como preocupação as fronteiras da vida.

O termo “Eclesiastes” foi emprestado ao livro pela Septuaginta e pela Vulgata e vem do grego ekklesia, que quer dizer “congregação”.

O autor condena as futilidades da vida e conduz o leitor a uma valorização do que realmente é importante: o abandono às vaidades e a valorização da sabedoria que destaca o tempo de Deus para todas as coisas (NEVES, 2011, p. 99, 100).

Por esse motivo, Kidner (2004, pp. 1-8) afirma que, dentre as mais variadas formas de inflexões do Antigo Testamento, como pregações dos profetas, poesias, leis, salmos, visões, dentre outras tão presentes nos livros poéticos, nenhuma se assemelha a de Eclesiastes. Ele também argumenta que Eclesiastes assemelha-se ao livro de Provérbios em certos momentos.

Ceresko (2004, pp. 100-106) defende uma autoria única e identifica o autor como uma pessoa “de grandes dons intelectuais e poéticos”.

Ele também afirma que o pessimismo e preocupação excessiva do autor com a morte chega a perturbar alguns dos seus leitores, porém reconhece que, acima de outros autores bíblicos, agrega condições de dirigir o ser humano ao conhecimento de Deus, o Senhor.

O autor emprega um estilo dialético: primeiro desconstrói para depois construir. Afirma e, em seguida, contesta ou relativiza o que é tradicional; faz perguntas que, na realidade, são questionamentos da própria rotina da vida do ser humano. A vida de santidade acontece na vida cotidiana do cristão, e não no extraordinário como muitos pensam.

O Temor do Senhor Conduz os Passos no Caminho da Santidade

O que Dá Sentido à Vida É o Temor do Senhor (Ec 12)

O autor de Eclesiastes conclui o livro com uma interessante alegoria para representar o envelhecimento do ser humano e demonstrar o que faz sentido na vida.

Uma mudança de direção dos discursos anteriores. O envelhecimento dos membros do corpo (vv. 2-5 — perda da vista, tre­medeira, perda da audição, perda da mobilidade, cansaço) e a chegada da morte (vv. 6,7) são descritos de forma alegórica.

Em seguida, há a advertência positiva para lembrarmo-nos do Criador como alguém que tem o controle de tudo, inclusive do tempo.

A alegoria do envelhecimento contribui para uma reflexão sobre o que realmente faz sentido na vida, ou seja, andar pelo caminho da santidade para manter um bom e íntimo relacionamento com Deus, o Senhor.

O reconhecimento das futilidades da vida conduz o leitor a uma valorização do que realmente é importante, o abandono às vaidades que conduzem à busca de coisas efêmeras, sabedoria para aguardar e identificar o tempo certo, o tempo de Deus.

Essas atitudes acarretam a uma tranquilidade diante da morte, principalmente atualmente em que estão bem claras a ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna com Deus.

As pressões sociais e econômicas produzem um colapso na vida das famílias tradicionais e tiram o sossego de pais e filhos. A busca desenfreada pelo poder a qualquer custo, o relaxamento moral, a inversão de valores e a falta de referências têm impactado na fé de muitos cristãos que não construíram uma boa base para a sua fé.

O autor não quer dizer que o cristão não pode desfrutar dos chamados prazeres da vida; os prazeres foram criados por Deus para serem desfrutados, porém dentro de um padrão moral recomendado pela Palavra de Deus.

Os desejos do cristão devem voltar-se para o que é permanente, e não ao que é transitório e efêmero (Lc 12.33; 1 Tm 6.18,19).

Caso contrário, a vida não terá sentido e não valerá a pena ser vivida. Por isso, o autor conclui o capítulo aconse­lhando a temer a Deus e obedecer aos seus mandamentos, ou seja, andar pelo caminho da santidade e, consequentemente, ter intimidade com Ele.

O Caminho da Santidade e o Tempo

Como já visto, o autor do livro de Eclesiastes foi uma pessoa que teve muitas oportunidades, mas que as aproveitou da maneira errada por muito tempo da sua vida.

Todavia, ao chegar à determinada idade já avançada, percebeu quanto tempo foi perdido com vaidades e vãs ilusões.

Ele não quer ir para o túmulo sem aconselhar os mais jovens para que não passem pelo que ele passou, mas que possam aproveitar melhor o tempo de vida, que é curto.

Por isso, o livro é considerado de sabedoria prática, pois fala do dia a dia, algo compreensível para todas as pessoas.

O jovem vê a vida diferente do adulto e do idoso. Para ele, a vida parece que não vai acabar, a sua vitalidade e disposição muitas vezes engana-o, como se fossem permanentes.

Mas aí o tempo passa, e as coisas mudam. Essa forma de ver a vida e o mundo influenciará nas suas tomadas de decisões, geralmente priorizando o imediatismo, o aqui e o agora.

Se perguntar para todas as pessoas adultas e idosas se elas fariam algo diferente na vida, garanto que a maioria esmagadora diria que sim, que fariam.

Elas diriam que gostariam de voltar no tempo com a mentalidade atual; tudo isso para agir com mais sensatez e mudar muitos resultados da vida presente.

O autor, já idoso, aconselha lembrar-se do Criador, temer o Senhor e guardar os seus mandamentos nos dias da mocidade, ou seja, fazer isso o quanto antes.

Se a pessoa seguir esses conselhos na sua adolescência ou juventude, desfrutará do bom resultado disso por mais tempo na vida e, provavelmente, não terá “dias perdidos”, correndo atrás do “prejuízo” causado por não saber usar o tempo ao seu favor.

Então, quanto antes o cristão dedicar-se a uma vida de santidade, andar por um caminho santo, separado, com vistas a agradar e fazer a vontade do Senhor, melhor será o resultado e mais frutos colherá para a sua vida e para o Reino de Deus.

O crente já justificado, como já visto, já foi santificado (santificação posicional ou inicial), mas agora ele precisa andar no caminho da santi­dade, neste período em que ela é progressiva e contínua. O cristão deve andar no temor do Senhor, no caminho da santidade, para preservar a sua salvação em Cristo Jesus.

Temer a Deus e Andar no Caminho da Santidade para não Ter Medo do Julgamento Divino (Ec 12.13,14)

O caminhar na santidade produz no cristão o desejo profundo de “ser diferente deste mundo”, e isso lhe dá segurança em relação à sua fé e fortalece a esperança para a salvação escatológica.

A Bíblia não deixa dúvidas; ela afirma claramente que ninguém verá a Deus sem santidade (Hb 12.14; Ef 5.27; Cl 1.22; Mt 7.21-23; Mt 24.31-46).

Caso alguém não queira andar no caminho da santidade, mesmo obedecendo aos preceitos religiosos e sociais, há um grande risco da falta de um arrependimento sincero que vimos em Davi (Sl 51); assim sendo, poderá comprometer a sua salvação, pois Deus é Juiz santo e perfeito.

Por isso, o alerta do autor de Eclesiastes (Ec 12.14): “Porque Deus há de trazer a juízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau”. A salvação é pela graça, mediante a fé na obra vicária de Cristo, só que isso não quer dizer que quem não aceita não tem a consequência de ter que se apresentar diante do juízo de Deus.

Kidner (2004, p. 94) afirma: “Temer a Deus é uma convocação que nos coloca no nosso devido lugar, e a todos os demais temores, esperanças e perplexidades nos seus devidos lugares”. A frase é um incentivo ao cristão de encontrar consigo mesmo e fazê-lo sair da apatia.

O fato de que todos os seres humanos de toda a história serão julgados por Deus está intimamente ligada à ideia da sua santidade. O Senhor, como juiz, julgará segundo as obras de cada um, isto é, segundo o seu padrão de santidade (Mt 7.21-23; Mt 12.36,37; Mt 25.31-46; Ap 22.12).

Deus conhece todas as intenções do coração e atos cometidos por todas as pessoas, e o seu julgamento, diferentemente do sistema jurídico hu­mano, não possui qualquer engano ou erro.

O julgamento de Deus tem como objetivo a vindicação da justiça e santidade do próprio Deus, pois não possui aspecto somente escatológico, mas também se manifesta ao longo da caminhada de cada pessoa.

No último caso, ainda em vida, tem a finalidade de levar o ser humano ao arrependimento, com vistas à mudança de comportamento e aperfeiçoamento no caminho da santidade (Rm 8.28; 1 Pe 5.10). O temor do Senhor impulsiona o cristão a livrar-se de todo o embaraço e pecado (Hb 12.1; 2 Tm 2.4).

Fazendo uma paráfrase, a mensagem de Eclesiastes 12 pode ser resu­mida no seguinte conselho: “Jovem, aproveite enquanto você tem bastante tempo de vida e ande pelo caminho da santidade por meio do temor do Senhor, para que, quando envelhecer, você não se arrependa da forma como viveu, pois no fim você terá que se apresentar diante de Deus, que é amor, mas que também é justo, e Ele julgará as suas obras segundo a sua Palavra e a sua santidade”.

Que Deus abençoe sua aula!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: NEVES, Natalino. Separados para Deus: Buscando a Santificação para Vermos o Senhor e Sermos Usados por Ele. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2023/01/11/licao-3-o-temor-a-deus-e-o-caminho-da-santificacao/

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