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LIÇÃO Nº 11 – MISSÕES E A IGREJA PERSEGUIDA

 

INTRODUÇÃO

-Na continuidade do estudo sobre as missões transculturais, abordaremos hoje o desafio da igreja perseguida.

-A realidade da perseguição cada vez maior é inescapável para a Igreja do tempo do final da dispensação da graça.

I– A PERSEGUIÇÃO É CARACTERÍSTICA DA IGREJA

-Lucas registra em Atos uma igreja que, apesar de triunfante, era severamente perseguida, a começar de Jerusalém até os confins da Terra. É este elemento que teremos a oportunidade de estudar nesta lição mais amiúde, sob a perspectiva das missões transculturais.

-A Igreja, dizem-nos as Escrituras, estava no plano de Deus ainda antes da fundação do mundo (Ef.3:9,10), mas tal propósito somente foi revelado por Jesus Cristo depois que o Pai revelou a Pedro que Jesus era o Filho do Deus vivo (Mt.16:16-18).

-Naquela ocasião, conhecida como a “declaração ou confissão de Cesareia” (pois os discípulos se encontravam com Jesus em Cesareia de Filipe, cidade ao norte de Israel, na Galileia, conhecida por ser um “nicho idólatra”), o Senhor Jesus já apontou quais seriam as três características singulares da Igreja.

-A primeira característica da Igreja é o fato de ser “de Jesus Cristo”. O Senhor Jesus foi bem claro ao dizer: “Edificarei a Minha Igreja”.

-A Igreja pertence a Jesus Cristo, é d’Ele. Por isso, quando Jesus Se apresenta a Saulo no caminho de Damasco, diz que Ele é quem está sendo perseguido, pois a Igreja é Sua propriedade.

-Nos dias de Jesus, máxime no mundo greco-romano, havia muitas “igrejas”, i.e., muitas “ekklesiai”, reuniões de pessoas que, fora de suas casas, normalmente em espaços para isso destinados na cidade. Entretanto, Jesus formaria a “Sua Igreja”, uma reunião de pessoas que seria tirada do mundo, que estaria liberta do poder do pecado (Jo.8:31-36).

-A segunda característica da Igreja é o fato de ser “edificada por Jesus Cristo”. A Igreja não é só de Jesus, mas é edificada, é construída pelo próprio Jesus, que é “a principal pedra de esquina” (Ef.2:20), o único fundamento (I Co.3:11).

-A Igreja, portanto, é sempre dinâmica, está sempre crescendo e crescendo para cima, almejando o céu. Não é uma “torre de Babel”, onde os homens buscam demonstrar sua independência em relação a Deus (Gn.11:4), mas uma edificação que, tendo a Cristo por base, depende de Cristo para sua contínua edificação.

-A terceira característica da Igreja é o fato de que, uma vez instituída, sofrerá ela a oposição do maligno. Disse Jesus: “Edificarei a Minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt.16:18).

-Ao mencionar a Igreja, Jesus não deixou de dizer que haveria um embate, uma luta constante entre esta Igreja e “as portas do inferno”, expressão cujo significado é discutido pelos estudiosos da Bíblia, mas que representa aqui o poder do maligno, a força do pecado, o que o próprio Jesus chamou de “serpentes, escorpiões e toda a força do inimigo” (Lc.10:19) e o apóstolo Paulo denominou de “principados, potestades, os príncipes das trevas deste século, as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” (Ef.6:12).

-Jesus, ao anunciar a Igreja, poderia ter dito que ela viveria eternamente com o Senhor, habitaria nas mansões celestiais, seria revestida de poder, curaria enfermos, expulsaria demônios, teria dons espirituais, mas o Senhor Jesus foi direto ao ponto, como se costuma dizer: a Igreja seria perseguida, enfrentaria feroz oposição do maligno e, portanto, a perseguição seria uma nota característica deste povo que Ele resgataria com o Seu precioso sangue vertido na cruz do Calvário.

-Mesmo antes de anunciar o mistério da Igreja, o Senhor Jesus, no sermão do monte, já comparara os Seus discípulos aos profetas que O haviam antecedido. Com efeito, disse que uma das nove características do discípulo de Jesus, uma das nove bem-aventuranças é a bem-aventurança da perseguição.

“Bem- aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus, porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt.5:12).

-Lucas, ao registrar o chamado “sermão da planície” (Lc.6:17), é ainda mais enfático, ao nos afirmar que o Senhor Jesus não só comparou os Seus discípulos aos profetas, como também afirmou que a falta de perseguição, a simpatia popular é um indício de que não se está bem na vida espiritual, pois somente os falsos profetas eram bem aceitos pelo povo (Lc.6:26).

-João, também, em seu evangelho, mostra-nos que o Senhor Jesus, nas Suas últimas instruções, foi bem claro ao afirmar aos discípulos que a Igreja seria, sempre, perseguida pelo mundo. Assim como o mundo havia aborrecido ao Senhor Jesus, também aborreceria aos Seus discípulos (Jo.15:18-25).

-Aliás, quando do primeiro anúncio da salvação do homem, feito pelo próprio Deus no Éden, foi dito claramente que o objetivo da redenção seria trazer inimizade entre a serpente e a humanidade (Gb.3:15) e, deste modo, não haveria, pois, como se ter outra reação do mundo, imerso no maligno (I Jo.5:19), em relação à nação santa que é a Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Pe.2:9,10).

-Não é, portanto, de se espantar que, ao longo da narrativa de Atos dos Apóstolos, o livro histórico do Novo Testamento, tenhamos relatos de perseguições à Igreja. O livro, inclusive, termina com o apóstolo Paulo, embora sem impedimento algum para pregar o Evangelho, morando numa casa alugada, em verdadeira prisão domiciliar, por causa do nome de Jesus.

-Segundo os estudiosos das Escrituras, ainda, Lucas escreveu os dois livros para Teófilo precisamente para, através do histórico do ministério terreno de Jesus e dos primeiros anos da Igreja, mitigar a perseguição sofrida pelos cristãos naquele instante, particularmente do próprio Paulo.

-Esta tônica da perseguição estará com a Igreja até o dia do arrebatamento. O Senhor Jesus, em Seu sermão escatológico, foi claríssimo ao mostrar que “o princípio das dores”, a fase de agonia que antecede o arrebatamento da Igreja, que são os nossos dias, seria caracterizado pela intensificação da perseguição à Igreja, que, em Lucas, é apresentado como um sinal que antecede a outros:

“Mas, antes de todas estas coisas [grandes terremotos, e fomes, e pestilências, haverá também coisas espantosas e grandes sinais do céu — observação nossa] lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do Meu nome” (Lc.21:12).

-Em 2010, o jornal alemão “Der Spiegel” apresentou extensa reportagem mostrando que os cristãos são o povo mais perseguido do planeta na atualidade:

“…Há 2,2 bilhões de cristãos em todo o mundo. A organização não-governamental Open Doors [Portas Abertas, observação nossa] calcula que 100 milhões de cristãos são ameaçados ou perseguidos. Eles não têm permissão para construir igrejas, comprar Bíblias ou conseguir empregos.

Esta é a forma menos ofensiva de discriminação e afeta a maioria desses 100 milhões de cristãos. A versão mais bruta inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até assassinato.…” (HOLOFOTE.NET. Der Spiegel: Vítimas do Islã radical – os mártires modernos do cristianismo. Disponível em: http://holofote.net/2010/03/02/der-spiegel-vitimas-do-isla-radical-os-martires-modernos-do-cristianismo/ Acesso em 04 jan. 2011).

OBS: É sintomático que na tradicional mensagem do Dia Mundial da Paz, o Papa Bento XVI, em 2011, tenha escolhido fazer, precisamente, um apelo para o respeito à liberdade religiosa (Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/peace/documents/hf_ben- xvi_mes_20101208_xliv-world-day-peace_po.html Acesso em 04 jan. 2011), prova de que nem a Igreja Romana está a conseguir impor-se ante a intensificação da perseguição ao cristianismo no mundo. Jesus está às portas, amados irmãos.

-A palavra “perseguir”, no texto do sermão escatológico em Lucas é o verbo grego “dióko” (διώκω), cujo significado é “pôr para correr de forma prolongada, contínua”, “ir atrás sem descanso, de modo persistente”.

O verbo, mesmo, é uma derivação para dar a ideia de ação prolongada e motivada. A “perseguição”, portanto, é uma ação sem trégua, continuada, uma articulação do inimigo de nossas almas, que não se cansa em acusar os servos do Senhor de dia e de noite (Ap.12:10).

-É este o mesmo sentido da palavra hebraica para “perseguir”, no texto sagrado, a saber, “radap” ou “radaf” (רדף), cujo significado é “andar detrás de um inimigo com a intenção de alcançá-lo e derrotá-lo”, como fez Abrão quando foi libertar seu sobrinho Ló (Gn.14:14).

-Assim, quando a Bíblia nos diz que “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja” está a dizer, claramente, que o maligno perseguirá a Igreja, andará atrás dela com o nítido objetivo de alcançá- la e derrotá-la, mas que isto não ocorrerá pela atuação de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que venceu o mundo (Jo.16:33), a morte e o inferno (Ap.1:18). Aleluia!

-Atos é bem claro, em sua narrativa, ao mostrar que a perseguição faz parte da vida da Igreja, é uma necessidade: “…por muitas tribulações nos importar entrar no reino de Deus” (At.14:22 “in fine”).

-Assim, completamente mentirosas as afirmações, cada vez mais frequentes, de que a Igreja alcançará lugar de destaque e proeminência na sociedade e que esta posição precederá o retorno de Cristo ao mundo. Não nos deixemos enganar com este discurso, que é o discurso justificador da apostasia que grassa atualmente entre os que cristãos se dizem ser.

II– O AUMENTO DA PERSEGUIÇÃO DA IGREJA

-No relatório de 2023 da Fundação de Direito Pontifício Ajuda a Igreja que sofre, uma espécie de “Missão Portas Abertas” da Igreja Romana, consta que a perseguição aumentou em 75% dos países entre os períodos de 2017/2019 e 2020/2021, ou seja, precisamente quando ocorreu a pandemia do COVID-19, que foi um fator habilmente explorado para aumentar a perseguição contra os cristãos.

-A perseguição tem assumido muitas facetas. Na África, por exemplo, há um aumento da violência genocida, ou seja, tribos, clãs e nações que demonstram conversões a Cristo têm sido alvo de extermínio, principalmente por parte de organizações terroristas não governamentais influenciadas pelo “jihadismo”, que é uma ideologia que privilegia, entre os muçulmanos, a “guerra santa” no sentido literal, de eliminação física dos “infiéis”.

-Já no Oriente Médio, os cristãos, cansados da perseguição desmedida e de situações de guerras e conflitos, têm migrado para outros lugares, de modo que a presença cristã em alguns países está em extinção, como no Iraque, na Síria e na Palestina.

-Em algumas regiões da Ásia, o “nacionalismo religioso” tem também aumentado a perseguição contra os cristãos, como é o caso do Afeganistão, onde o Talibã, grupo radical islâmico, reassumiu o controle do país, do Paquistão e da Índia.

-Na América Latina, não tem sido diferente. Alguns governos têm intensificado a perseguição aos cristãos, como Nicarágua, Bolívia e Colômbia (que é o país que mais persegue cristãos fora da janela 10/40 segundo a Lista Mundial da Perseguição da Missão Portas Abertas).

-Mesmo nos Estados Unidos da América, país conhecido por ser um “bastião da liberdade”, houve proibição de abertura de igrejas e até prisão de pessoas que foram a um culto, sob o pretexto do combate à pandemia do COVID-19, acontecimentos sem precedentes na história daquela nação.

-Na Europa, tanto na União Europeia quanto no Reino Unido, os casos de perseguição aos cristãos têm aumentado grandemente.

Leis têm sido aprovadas para cercear a pregação do Evangelho, que está sendo considerada um “discurso de ódio” aos que professam outras religiões ou aos que não professam nenhuma, como também uma crescente proibição de manifestações públicas de fé, como, por exemplo, a proibição de orações, mesmo silenciosas, próximas a clínicas de aborto, ou manifestações contra o homossexualismo.

-No Brasil, além do fechamento de templos e prisão de pessoas que estavam cultuando, em várias cidades durante a pandemia do COVID-19, não é de hoje que se intensifica a perseguição contra os cristãos, que, com cada vez maior frequência, têm sido acusados de “discurso de ódio” e cerceados em suas liberdades de expressão, de culto e de crença.

-Durante a pandemia do COVID-19, o Supremo Tribunal Federal proibiu a realização de missões transculturais às “tribos afastadas da Amazônia” e, recentemente, portaria da FUNAI proibiu que atividades religiosas no território yanomami, de modo que já temos, em nosso país, locais onde é expressamente pregar o Evangelho.

-Este quadro mostra nitidamente como tem avançado a perseguição contra os cristãos nos últimos tempos, gerando o que se passou a denominar de “cristofobia”, que é a aversão a Cristo e ao cristianismo, um verdadeiro ódio contra Nosso Senhor e Salvador, que, sabemos todos, é nada mais que submissão do homem ao maligno, a Satanás, que dá nascimento a este ódio que existe contra a Igreja, como, aliás, deixou claro o Senhor Jesus em Jo.15:18-20.

-A Missão Portas Abertas, organização criada em 1955 pelo “irmão André”, o “contrabandista de Bíblias”, que se notabilizou por ter iniciado o envio de Bíblias para os países da Cortina de Ferro, o grupo de países europeus que vivia em regimes comunistas sob o comando da União Soviética, após o final da Segunda Guerra Mundial, e que é hoje um dos grandes pilares da assistência à Igreja perseguida no mundo, considera perseguição religiosa “…toda hostilidade experimentada como resultado da identificação de uma pessoa com Cristo. Isso pode incluir atitudes hostis, palavras e ações contra cristãos…” (O que é cristofobia. 24 out. 2020. Disponível em: https://portasabertas.org.br/artigos/o-que-e-cristofobia Acesso em 25 ago. 2023).

-Segundo este mesmo texto,

“…A perseguição religiosa ocorre de várias formas. Quando não há direitos de liberdade religiosa garantidos ou quando a conversão ao cristianismo é proibida por ameaças do governo ou grupos extremistas. Além disso, também pode se dar quando cristãos são forçados a deixar suas casas ou empregos por medo da violência que pode alcançá-los.

Pode ocorrer ainda ao serem agredidos fisicamente, mortos por causa da fé, presos, interrogados e, por diversas vezes, torturados por se recusarem a negar a Jesus. A cada ano, a perseguição aos cristãos se intensifica no mundo todo.

Atualmente, mais de 260 milhões de pessoas no mundo enfrentam algum tipo de oposição como resultado de sua identificação com Jesus Cristo. Isso faz com que o número de cristãos com medo de ir à igreja ou que já não têm uma igreja aonde ir aumente, bem como daqueles que têm de escolher entre permanecer fiel a Deus ou manter os filhos seguros.…” (ibid.).

-“Irmão André” ainda pontua que “…”perseguição não se refere a casos individuais, mas a quando um sistema político ou religioso tira a liberdade dos cristãos ou seu acesso à Bíblia, restringe ou proíbe o evangelismo de jovens e crianças, atividades da igreja e de missões”…” (ibid.).

-O cardeal-arcebispo católico romano do Rio de Janeiro, D. Orani Tempesta bem descreve este cenário, “in verbis”:

“…Não existiram mártires só nos primeiros séculos, mas em todas as épocas e lugares temos muitos testemunhos de mártires.

A história da Igreja em todos os cantos do planeta é permeada pelo testemunho dos mártires, sementes de novos cristãos.

Porém, quando falamos de perseguição ao Cristianismo, nada pode se comparar ao século XX e a este início do século XXI. Só os mártires provenientes das grandes revoluções e regimes ditatoriais superam os de toda a história.  A Revolução Russa (1917), por exemplo, levou à morte cerca de 17 mil sacerdotes e 34 mil religiosos.

O Comunismo se espalhou pelo mundo e declarou a religião como subversiva e inimiga do Estado. Igrejas, conventos e seminários são fechados e destruídos. São incontáveis os números de mártires por diversos motivos em países como União Soviética, Lituânia, Romênia, China, Vietnã, Camboja e Cuba.

Mesmo em países tidos como cristãos, como Espanha e México, entre tantos outros, encontramos a perseguição e o martírio.…” (Tempos de mártires. 14 jan. 2016. Disponível em: https://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2016/01/14/tempos-de-martires.html Acesso em 25 ago. 2023).,

-Este triste quadro nada mais é cumprimento das profecias bíblicas. Verdade é a Igreja sempre foi perseguida, desde os seus primórdios, como se verifica ainda em Jerusalém, pela firme ação do Sinédrio contra os cristãos (então chamados de “nazarenos” – At.24:5), como se relata no livro de Atos, ou mesmo, pelo Império Romano, ainda nos tempos apostólicos, que presenciaram duas das dez grandes perseguições romanas contra os cristãos, as perseguições de Nero (64-68) e Domiciano (90-96).

-No entanto, como podemos observar nas cartas que o Senhor Jesus mandou escrever às igrejas da Ásia Menor e que, fazendo parte da revelação das “coisas que são” que o Senhor estava a dar ao apóstolo João na ilha de Patmos (Ap.1:19), dão um panorama do que seria a história da Igreja, após a segunda carta, dirigida ao anjo da Igreja de Esmirna, que é, precisamente, a igreja perseguida pelo Império Romano (o Senhor menciona inclusive a “tribulação de dez dias” em Ap.2:10, o que faz alusão às “dez grandes perseguições romanas”), onde se mostra um embate direito dos “que se dizem judeus mas não são” e do próprio diabo contra os salvos, há, na sequência, sempre a menção de grupos que, infiltrados entre os salvos, traziam malefícios e problemas para a vida espiritual de cada igreja.

-Tais observações feitas pelo Senhor Jesus demonstram, claramente, que a atuação do maligno, a partir de um certo instante, foi a de procurar mais a igreja do “lado de dentro”, pela infiltração de falsos ministros, que corrompessem a fé dos cristãos.

-A arma principal do diabo passou a ser, portanto, a apostasia, a disseminação de falsos ensinos, a fim de que se obtivesse a corrupção da fé sem o recurso à violência física, como se agiu nos primórdios da história da Igreja.

-Não era, aliás, a primeira vez que o diabo assim agia. Com Israel não foi diferente. Primeiro, no início da jornada, fez uso de um povo para tentar derrotar os israelitas da geração do êxodo pela força das armas, levantando Amaleque para guerrear contra Israel (Ex.17:8-14), mas, tendo havido a derrota, passou a se utilizar daquela mistura de gente que havia saído com os israelitas do Egito (Ex.12:38), do vulgo (Nm.11:4), e, por meio dele, conseguiu fazer com que o povo murmurasse, adorasse o bezerro de ouro e acabasse caindo na incredulidade, deixando, por causa disso, de entrar na Terra Prometida (Hb.3:19).

-Certo é que não foram poucos os casos em que, mesmo com a mudança de tática, o diabo fez uso da violência física para perseguir os cristãos genuínos, tachados, muitas vezes, de “hereges” pela cúpula eclesiástica apóstata que havia se formado ao longo dos séculos.

-Não é à toa, aliás, que a prostituta do capítulo 17 do livro de Apocalipse, que simboliza este cristianismo apóstata que foi forjado pelo inimigo e que se entremeteu entre os verdadeiros e genuínos discípulos de Cristo é descrita como sendo uma mulher “embriagada do sangue dos santos e do sangue das testemunhas de Jesus” (Ap.17:6), porque foi a responsável pela morte de milhares e milhares de pessoas que, por não aceitarem os desvios doutrinários implementados por esta falsa igreja, foram mortos pela fé em Cristo, não poucas vezes nas “fogueiras” reservadas aos “hereges”.

-Entretanto, apesar de todas estas circunstâncias adversas, a Igreja continuou seguindo a sua marcha, continuando a pregar o Evangelho e a vencer o mundo, que lhe é hostil, porque a Palavra de Deus é a Verdade e o Senhor Jesus já tinha dito que estaria com a Sua Igreja (Mt.28:20) e as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18), estando reservada para a Igreja, pois, a vitória (I Co.15:57).

-Isto tem aumentado o ódio e o furor do inimigo, que sabe que tem pouco tempo (Ap.12:12) e, deste modo, tem intensificado sobremaneira a perseguição contra a Igreja, o que faz com que se retorne à tática da violência.

-Cristo Jesus foi claro, em Seu sermão profético, que os dias finais da Igreja seriam dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12) e, portanto, ter-se-ia um aumento da maldade. Também disse que estes dias seriam como os dias de Noé (Mt.24:37) e, portanto, a terra se encheria de violência, de maldade e de corrupção (Gn.6:5,11).

-Não é surpresa, portanto, que estejamos num quadro de avanço da perseguição e nas suas formas mais cruéis e violentas, como dito supra.

-Se formos observar o quadro geopolítico mundial, notamos claramente que há em curso três projetos de poder, todos eles movidos por um sentimento anticristão.

De um lado, o movimento comunista, forjado no materialismo ateu, que tem à frente a China e a Rússia (que diz ter deixado de ser “comunista”, mas cujo líder principal foi chefe do serviço de informações que foi e continua sendo o maior disseminador da ideologia comunista no mundo).

-De outro, o movimento islâmico, cuja meta é precisamente “converter os infiéis”, eliminando todos os que se contrapõem à sua doutrina, em especial, “os povos do Livro” (judeus e cristãos).

-Por fim, o globalismo ocidental, capitaneado por proeminentes famílias que controlam a economia de boa parte do planeta e que consideram que os valores cristãos são um estorvo para o desenvolvimento da humanidade e de seus planos e que, por isso mesmo, querem a destruição de tudo quanto se refira a Cristo e ao cristianismo no mundo, não sendo por acaso que defendam pautas totalmente contrárias à Palavra de Deus, como o aborto, o homossexualismo, a ideologia de gênero e tantas coisas mais.

-Este último movimento é o que está a fomentar o que o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI, chamava de “martírio da ridicularização”: “…A perseguição ao Cristianismo não acontece somente pela prisão, tortura e morte de cristãos por todo o mundo. Existe um segundo tipo de perseguição que é incruento (sem

derramamento de sangue), no qual os que creem sofrem um “ataque” ideológico por parte do secularismo, da mídia anticristã e do ateísmo militante. É uma perseguição contra os valores e a moral cristã.…” (O martírio da ridicularização. 28 dez 2012. Disponível em: https://destrave.cancaonova.com/o-martirio-da- ridicularizacao/index.html Acesso em 25 ago. 2023).

OBS: “…Segundo o Papa Emérito Bento XVI: “hoje existe o martírio da ridicularização, ou seja, se você se denomina cristão no trabalho, na universidade ou coloca um crucifixo no peito, eles o ridicularizam. Vão chamá-lo de alienado, de fundamentalista, medieval.

Não é uma perseguição que vem com as armas, mas com a cultura”. Este é um dos tipos que no Ocidente, tido como cristão, mais tem vilipendiado a religião e ofendido os católicos que veem sua fé sendo ridicularizada em tantas situações.…” (TEMPESTA, Orani. 14 jan. 2016. Tempos de mártires. Disponível em: https://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2016/01/14/tempos-de-martires.html Acesso em 25 ago. 2023)

-Todos estes movimentos, embora disputem entre si, estão unidos na luta contra a Igreja e têm conseguido, passo a passo, controlar os governos dos países e a direcioná-los para a perseguição à Igreja, inicialmente de forma velada, mas, em seguida, através da violência.

-Todos eles defendem um governo mundial, e sabemos que este governo, que será a restauração do Império Romano, será evidentemente anticristão, tanto que será dirigido pelo Anticristo, esta personagem que se levantará contra tudo o que representa Deus (II Ts.2:3,4) e que destruirá a todos os santos do Altíssimo (Dn.7:24,25).

-Estamos caminhando celeremente para este governo, que, inclusive, já tem até o seu programa de governo em plena implementação, a chamada Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, agenda que silencia e acoberta esta grande perseguição que se está a fazer contra a Igreja.

III– COMO FAZER MISSÕES EM MEIO À PERSEGUIÇÃO

-Diante desta fúria do maligno, nós, como “bons soldados de Jesus Cristo” (II Tm.2:3), sabendo que a vitória nos está garantida, não podemos recuar, pois Deus não tem prazer em quem assim age (Hb.10:38,39), pois recuar, retroceder nada mais é senão retirar-se para a perdição e ter parte no lago de fogo e enxofre, a segunda morte, em virtude de sua timidez (Ap.21:8).

-Diante da perseguição, portanto, devemos continuar a pregar o Evangelho, pois “mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At.5:29), como, aliás, respondeu Pedro e os apóstolos ao Sinédrio, quando este que era a maior autoridade judaica da época questionou o fato de não terem sido obedecidos na ordem de proibição de pregação do Evangelho em Jerusalém.

-Quem nos mandou pregar o Evangelho foi o Senhor Jesus, a quem unicamente devemos obedecer. Assim, a perseguição não pode nos abalar e nos fazer parar de realizar a obra de Deus, pois não devemos temer quem pode matar o corpo e não pode matar a alma, mas, sim, antes temer aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo (Mt.10:28).

-Como nos mostra o primeiro mártir da Igreja, Estêvão, a morte física não nos pode impedir de sermos recebidos nos céus (At.7:54-60).

-A possibilidade do martírio não pode ser um elemento inibidor para o cristão, mas, antes, um estímulo, pois só demonstraremos ter o amor de Deus em nossos corações se estivermos dispostos a dar a nossa vida pelos nossos irmãos, em especial, o nosso irmão mais velho, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Jo.3:16), pois esta é a sublime demonstração de amor (Jo.15:13).

-Mas, para pregarmos eficazmente o Evangelho, numa situação de perseguição, devemos estar com Jesus, pois é Ele quem nos garante a vitória, a vitória é “por Nosso Senhor Jesus Cristo”, pois sem Ele nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”) e a Ele prometeu estar conosco nesta tarefa (Mt.28:20), como confirma o texto sagrado ao descrever o desempenho das missões nos tempos apostólicos (Mc.16:20).

-Mas para que Jesus esteja conosco, mister se faz que nós estejamos com Ele. Não há como termos êxito na pregação do Evangelho se não estivermos em comunhão com o Senhor, mantendo uma vida de oração, jejum, meditação nas Escrituras e de busca do poder de Deus.

-A perseguição à Igreja começou quando os apóstolos foram presos por ordem do Sinédrio em Jerusalém logo após a cura do coxo da porta Formosa (At.4:3).

-Assim que os apóstolos foram soltos pelo Sinédrio após a cura do coxo da porta Formosa, e orientados, a não mais pregar o Evangelho, o que fizeram eles?

Foram se reunir com a igreja e contar o que se sucedera e, então, todos, unanimemente, oraram ao Senhor, pedindo ousadia para que tivessem condições de suportar a perseguição, reconhecendo, no texto sagrado (o Espírito Santo os fez lembrar do Salmo 2), o que estava acontecendo.

-Oração e pedido de ousadia foram as providências primeiras tomadas pelos discípulos para enfrentarem a perseguição e é isto que devemos fazer. As tribulações virão, o sofrimento será grande, mas, quando estamos fortalecidos pela graça de Deus levamos a cabo o que é necessário fazer, mesmo diante da perseguição.

-Qual foi o resultado desta oração? O Senhor demonstrou ter ouvido e atendido ao pedido de ousadia, tanto que houve até movimento do lugar onde estavam e todos os crentes que ainda não tinham sido revestidos de poder o foram por conta desta disposição de enfrentamento à perseguição (At.4:31).

-Esta comunhão é tão indispensável que o próprio Senhor Jesus disse que, quando formos levados à presença das autoridades, não devemos nos preocupar com o que havemos de falar, pois o Senhor Jesus Se compromete a dar boca e sabedoria a Seus servos, de modo que os inimigos da obra de Deus não terão como resistir ou contradizer (Lc.21:15). Como poderemos assim agir se não estivermos em íntima comunhão com o Senhor?

-Mas, além de enfrentarmos nós mesmos a perseguição, temos de ajudar àqueles que também são perseguidos e, muitas vezes, de forma muito mais severa e extrema do que nós.

-Os países comunistas, islâmicos e os “nacionalistas religiosos” são particularmente hostis à pregação do Evangelho, estando boa parte deles na janela 10/40.

Ali, a pregação do Evangelho e a própria vida de acordo com o Evangelho são extremamente atacados e precisam da manifestação do amor fraternal dos demais irmãos em Cristo ao redor do mundo, para que possam exercer a sua fé diante de tamanha situação opressiva.

-Neste ponto, organizações como a Missão Portas Abertas têm sido fundamentais para dar um alento e um apoio a estes nossos irmãos. Devemos ajudar tais iniciativas, que têm permitido o sustento de obreiros nesses países, como também o suprimento de recursos para o exercício da fé, como o envio, muitas vezes de modo clandestino, de Bíblias e literatura para os cristãos nesses lugares, bem como visitas de voluntários para admoestação e ensino da Palavra à membresia daquelas igrejas.

-Neste ponto, aliás, muito feliz foi a iniciativa do “irmão André” de transformar o primeiro domingo depois da festa cristã de Pentecostes (ou seja, oito domingos depois do Domingo de Páscoa) no “Domingo da Igreja Perseguida”, dedicando este dia para que cada igreja local reflita sobre esta realidade da perseguição em todo o mundo e se disponha a fazer missões juntamente com ela, orando, contribuindo e até indo ao campo missionário. Como diz a própria missão “Portas Abertas”, trata-se de “…um movimento nacional de oração em favor dos cristãos perseguidos…”.

-Precisamos, diante da realidade da Igreja Perseguida, unirmo-nos a estes irmãos. Temos de fornecer a eles recursos espirituais (por meio da nossa intercessão, com oração e jejum), materiais (mediante o envio não só de contribuições financeiras, mas de Bíblias, literatura) e humanos (mediante o envio de missionários ou de irmãos que se disponham a cooperar na obra, ainda que esporádica e episodicamente), a fim de que eles

possam continuar a pregar o Evangelho e abrir os olhos de seus concidadãos e das trevas os converter à luz e do poder de Satanás a Deus (Cf. At.26:18). Estamos dispostos a fazer isto?

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10016-licao-11-missoes-e-a-igreja-perseguida-i

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